Um passo a frente, dois atrás
—Não estava te esperando aqui tão cedo. — Mara falou enquanto andava pela sala. — Você comeu?
—No caminho até aqui, sim.
—Ah, por favor. Coma algo decente. Fiz algumas coisas na cozinha.
—Não vou demorar. Preciso que me diga o que exatamente essa maldição faz com você, Mara.
Ela parou no meio do passo, virando-se, estreitando os olhos por um momento antes de massagear a ponte do nariz.
—Se veio aqui para me questionar sobre isso, é melhor ir embora, Emeril.
—Não. Henri Mullivan me atacou ontem. Eu preciso saber sobre essa maldição, e o que aconteceu entre vocês.
—Ele o que?
—Ele tentou me matar. Então espero que me ajude a saber como lidar com ele, Mara, porque você sabe que vai ser bom para você se eu acabar com ele.
—Devagar, garota. O que exatamente aconteceu?
—Você me diz. Por que Henri te amaldiçoou? Por que ele te odeia?
—Você é direta demais.
—Você enrola demais. Me responda, porque já não envolve apenas você.
—Eu tive um caso com a mãe dele. — Falou num suspiro. — Quando as coisas ficaram sérias, Frejha se separou de Juden. Mas Henri nunca superou, então me amaldiçoou. Como eu destruí a família dele, ele me proibiu de formar uma.
—Como?
—Eu não sinto mais nada com alguém na cama. Sequer sou capaz de me apaixonar.
—Isso é horrível. Então Frejha...
—Ela foi embora, assim como minha filha. A diferença é que não precisei de uma maldição para afastá-la.
—Sinto muito por tudo isso, Mara. Henri vai pagar pelo que fez.
—Você não quer mexer com ele.
—Eu já mexi. Agora vou terminar com isso. Vou quebrar sua maldição, de um jeito ou de outro.
—Não é tão simples, garota. Acha que já não tentei matar aquele garoto? Ele tem mais truques do que você pensa.
—Eu sei mais feitiços do que ele imagina.
—Não perca seu tempo comigo, garota. Você tem seus próprios problemas para resolver, e só deixaria Liora irritada comigo.
—Aposto que ela concordaria comigo. Não se preocupe, eu não vou agir sozinha.
—Emeril... Você não sabe com quem vai estar lidando se quebrar essa maldição.
—Só vou descobrir quando quebrar. É só questão de tempo.
Mara balançou a cabeça em negação, sem saber mais o que dizer para impedir que ela fizesse algo. Emeril beijou sua bochecha antes de sair de sua casa, indo direto para a loja de sua mãe.
Na primeira hora não tiveram tempo de conversar, ambas se revezando para atender aos clientes. No primeiro instante que Emeril teve de folga, Liora a abraçou, acariciando seus cabelos e beijando todo seu rosto, o riso alegre dela sendo abafado pelos seus toques.
—Mãe... Para o que é tudo isso?
—Selen esteve aqui pouco antes de você, então... Eu sei de tudo.
—Não precisa me agradecer, mãe, se é o que está fazendo. — Emeril sorriu, beijando sua bochecha. — Só fiz o que achei certo.
—Estou feliz, querida, apenas isso. É muito bom, porque finalmente não haverá mais brigas entre vocês por minha causa.
—Nunca foi por sua causa. Então não tem com o que se preocupar, mãe. Está tudo bem.
—Estou feliz mesmo assim. Selen estava agoniada querendo isso desde o começo.
—O que? A festa?
—Também. Mas não teria sentido festejar nossa união sem você junto.
—Não só estarei junto, como ajudarei a organizar os detalhes. Se você deixar eu cozinhar alguma carne.
—Emeril, você sabe que odeio carnes.
—Você não precisa comer. Apenas um prato, mãe, a festa vai durar o dia todo, vamos precisar de muitos pratos.
—Está bem, apenas um. E que não seja o principal da noite.
—Trato feito. Vocês marcaram uma data?
—Bem... Se você concordar. — Ela prendeu os cabelos num rabo alto, deixando que a filha visse a marca maior em seu pescoço. — Pensamos em fazer um dia antes do ritual.
—E quando isso vai ser? Você ainda não...
—Não, ainda não consigo ver a sua. O que é ruim, mas não se preocupe. Vai acontecer.
Emeril ofereceu um pequeno sorriso, tocando a figura que se formava em seu pescoço.
—Duas semanas, eu suponho. — Falou devagar. — Até lá deve acontecer. Já está crescendo.
—Tempo suficiente. Então, enquanto isso, venha comigo, eu disse que queria te mostrar algo.
—Mas a loja, mãe.
—Não importa agora. Vamos.
Emeril assentiu, tendo a mão segurada enquanto Liora trancava a loja e a levava para o jardim na parte detrás, movendo uma mão no ar para elaborar um telhado sobre o gramado, então moveu um pedaço de madeira para servir de assento para ambas. Sentou-se e gesticulou para que Emeril fizesse o mesmo, ambas cruzando as pernas e ficando de frente uma à outra.
—Vai me ensinar a meditar?
—Não. Embora seja uma boa técnica para aperfeiçoar seu foco.
—Então?
—Eu quero te ensinar o último feitiço do livro. Para isso, vou te dar um pouco de minha energia.
—Como me deu naquele dia no deserto?
—Sim. Mas agora você deve se sentir mais disposta com uma carga de energia a mais.
—E precisa de tanto assim para aquele feitiço? Eu descansei o suficiente durante a noite.
—Você vai ver.
Liora tocou o rosto da filha, deslizando os dedos pelo seu pescoço e ombros, voltando a subir, sua luz escura brilhando na pele negra de Emeril, que fechou os olhos, sentindo a energia entrar em seu corpo, um sorriso alegre se abrindo. Quando Liora afastou as mãos, Emeril voltou a olhá-la, balançando as mãos em frente ao corpo ao sentir a nova energia vibrar em seu interior.
—É bom, não é?
—Muito!
—Quer mais?
—Claro que não. Você vai enfraquecer.
—Eu só te dei uma pequena carga de toda a minha energia, querida. Lembra? Tenho minha energia e a de minha mãe.
—Parece muito.
—Sim. Você acaba se acostumando. Mas enfim, vamos focar. Sabe como cheguei no barco para te ajudar?
—Voando?
—Muito longe para chegar tão rápido.
—Como você viajaria de pontos tão distantes tão rápido?
—É o que vou te ensinar. Mas vamos tentar distâncias pequenas.
—Achei que só bruxos pudessem se locomover dessa forma.
—E bruxos são os únicos que podem tirar uma maldição, e, no entanto, você quer tirar a maldição de Mara com suas mãos.
—Faz sentido. Então se você criou um feitiço para se locomover como um bruxo, eu tenho chance de quebrar a maldição.
—Claro que sim. Você é capaz de tudo que se dispuser a fazer, querida, mas não significa que seja fácil.
—Mover seu corpo para outro lugar também é difícil, mas você conseguiu. Então me mostre como faz.
Liora sorriu, contente com o interesse da filha em aprender.
—Você precisa focar em sua energia. Em toda ela.
—Afinal, é para meditar.
—Foco.
Emeril sorriu, respirou fundo e deixou de piscar alguns segundos enquanto se concentrava, sentindo a energia de sua mãe primeiro, misturando-se a sua com o passar dos segundos até que quase não fosse possível diferenciá-las.
—Estou dormente. — Falou, olhos vidrados em concentração que sequer reparou no sorriso de Liora.
—Isso é bom. Significa que consegue movimentar a energia. O segundo passo é você mover essa energia para além de você.
—Lançar a energia?
—Não. Movê-la. Você precisa entender que sua energia não é somente um instrumento de batalha. É uma parte de você, como um membro que você precisa exercitar, mas que pode movê-lo para onde desejar. Assim como move suas asas, seus braços, seu quadril. Sempre tem um motivo.
—Então para mover minha energia, eu preciso de um motivo?
—Basicamente. Tente movê-la para perto.
Emeril franziu o cenho em concentração, as mãos tremendo conforme ela tentava movimentar sua própria energia. Liora somente observou, esperando. O tremor percorreu o resto do corpo, Emeril não se sentia mover, sentia-se somente dormente em meio a toda sua energia.
—Não sinto meu corpo. Como eu conseguiria me mover?
—Sua energia vai mover seu corpo. Você está quase conseguindo.
Liora esperou, pacientemente, sem dizer nada pela próxima hora, assistindo a concentração de Emeril se manter intacta, variando somente a intensidade de sua energia. Reconheceu a luz negra brilhar em sua pele, momento que Ilis abriu a porta da loja, olhando entre ambas. Liora somente gesticulou para que ela fizesse silêncio, ambas assistindo o corpo de Emeril ser percorrido por uma luz escura.
—Mãe...
—Deixe fluir.
Com a energia pulsando em seu interior, Emeril desapareceu, e reapareceu segundos depois, alguns metros à frente, em pé. Ela cambaleou, atordoada, Liora se levantou rapidamente, segurando-a pelos ombros. Emeril sorriu após um momento, registrando o que tinha acabado de acontecer, sua mãe também sorriu e a abraçou, seu corpo saindo do estado de dormência.
—Você conseguiu, querida. — Falou contra seus cabelos. — Você terminou o livro.
—Finalmente. Nem acredito que esse dia chegou. — Disse animada, erguendo o rosto e vendo a marca de sua mãe crescer mais, quase completando a figura da ave que também já possuía completa. — Parece que nosso tempo diminuiu até o ritual.
—Uhn?
—Sua marca cresceu.
—Oh...
Liora tocou a própria marca, fechando os olhos por um momento para a sentir, quando os abriu, procurou pela marca no pescoço da filha, mas ainda era incapaz de ver.
—Vai ficar tudo bem. — Emeril beijou sua bochecha antes de se afastar.
—Eu sei. Estou orgulhosa de você.
—Eu... Eu entendi o que quis me mostrar hoje, mãe. Mas... eu não estou pronta ainda.
—Tudo bem. Eu só queria que visse. Agora devia dar atenção a loba atrás de você. Amanhã praticamos mais.
Emeril se virou, sorrindo animada ao ver Ilis, que abriu os braços, não precisando de mais para que ela corresse em sua direção, pulando em seus braços. Ilis a ergueu ao segurá-la abaixo das nádegas, girando-a no lugar.
—Você terminou o livro. — A loba falou num sorriso.
—Você estava lá quando comecei. Sabia que estaria aqui quando o terminasse.
—Sempre estarei.
Ilis se inclinou e capturou os lábios da feiticeira, que lentamente foi colocada no chão. Selen também apareceu no jardim, estranhando o ar festivo que encontrou.
—O que aconteceu? Teria trazido bebidas se soubesse que tinha festa.
—Emeril terminou o livro. — Liora anunciou.
—Oh. Posso entrar na fila dos abraços?
Emeril riu e se afastou de Ilis, abraçando a cintura da elfo por um instante até receber cócegas em suas costelas e se afastar rindo mais.
—Parabéns selvagem. Um passo mais perto do ritual.
—Fui de bastarda para selvagem. Não me parece bom.
—Quem foi a idiota que inventou esses apelidos? — Liora tocou o ombro da elfo.
—Você me assusta quando faz isso. — Selen reclamou, pegando sua mão e oferecendo um beijo.
—Pare com esses apelidos. Não há nada errado com minha filha.
—Pelo contrário. Ela vai se tornar uma adulta em alguns dias. Devíamos comemorar.
—Que tal almoçarmos juntas? Seria divertido.
—Tudo bem para você, loba? — Emeril perguntou a Ilis, abraçando sua cintura.
—Eu vim fazer esse mesmo convite. Se estiver bom para você.
—Nem notei o tempo passar aqui. Será bom.
—Nos esperem lá fora. Já estamos indo. — Selen falou. — A chuva deu uma pausa.
—Claro. Não demorem.
Selen esperou que elas entrassem antes voltar a olhar para Liora, que suspirou, afastando-se alguns passos, as mãos passando nervosamente nos cabelos.
—O que aconteceu? — Selen perguntou.
—Nada.
—E o que devia ter acontecido?
—Algo. Mas mesmo avançando com Emeril e há alguns dias do ritual... Eu não vejo uma mancha da marca.
—Ei... Você é a mulher quem sabe mais sobre o ritual. O que pode estar impedindo isso de acontecer?
—Eu não sei. Emeril quer muito que eu veja desde o começo. Nos aproximamos nesses dias. É como se algo estivesse faltando. Uma peça que não se encaixa.
—Como se uma informação não tivesse sido revelada?
Selen se colocou à sua frente, tocando seu rosto e oferecendo uma carícia sutil para desfazer a confusão que se formou.
—Você sabe como Emeril é, e ela vem mudando diante dos olhos de todos. Mas ela sabe como você era antes dela vir atrás de você?
—Onde está querendo chegar Selen? Eu não estou escondendo nada dela.
—Minha mãe comentou que você mudou muito. Não acha que deveria dizer a Emeril como era antes? Ela não tem qualquer conhecimento do que fez depois que matou seu pai, ou ouviu de você o que aconteceu nessa época. Afinal... Todos só souberam que estava viva no último ano.
Ilis balançou a cabeça e ergueu o queixo de Emeril, colando seus lábios, surpreendendo-a com o súbito contato. Acabou sorrindo em meio ao beijo, envolvendo o pescoço da loba.
—Que jeito sutil de pedir atenção, meu amor.
—Pare de ouvir as conversas de sua mãe.
—Ouvi meu nome então...
Ilis balançou a cabeça, abraçando a cintura dela e a mantendo perto.
—Se pediram para esperarmos aqui, era para que não escutássemos.
—Tudo bem, você tem razão. Então... Você está mesmo linda nessa produção toda, querida.
Seus olhos deslizaram pelo corpo de Ilis, que estava com botas, uma calça justa, uma camisa de botão com colete por cima e um casaco que ia até o chão. Emeril ajeitou o colarinho da camisa e voltou a beijá-la, acariciando seu rosto.
—Está com frio?
—Males de perder um lobo na alcateia.
—Te deixa mais fraca?
—Não. Só estou me sentindo mais desanimada para usar minhas habilidades.
—Oh... Sinto muito. Kenny era incrível. Sinto muito por ter perdido sua amiga.
—Eu também. Só... Estou feliz que tenha você aqui. Estaria pior se você não me distraísse.
—Você quer que eu te distraia?
—Eu preciso. Afinal... Foi um belo show que deu lá dentro.
—Desse você gostou?
—Eu gosto de todos seus shows particulares. Ainda mais quando dança.
—É melhor quando você dança junto.
—Eu não chamaria aquilo de dança, mas se você quer chamar assim em público, eu aceito.
Emeril acabou rindo, prendendo os dedos no seu colarinho e selando seus lábios.
—Mas dessa vez, você fez bom uso da sua vaidade.
—Como? Eu estava concentrada no feitiço, sequer vi você chegar. Achei que tinham passado minutos.
—Você queria impressionar sua mãe, e conseguiu executar o feitiço muito bem.
—Você percebeu?
—Eu sinto você, meu amor. Me ajuda a entender você melhor.
—Estou aprendendo isso também. Ainda assim, minha mãe não está feliz com a proximidade do ritual. Ela está mais preocupada que tudo, e a culpa deve ser minha. Coloquei pressão demais nela sobre a marca.
—Não é sua culpa.
—Ainda assim... Ah... Você está bem na presença de Selen? Fiz as pazes com ela hoje cedo.
—Fico feliz em saber disso, você não estava bem com as brigas recentes.
—Não é sua culpa.
—Nem sua. As coisas vão se encaixar. Você vai ver.
Emeril assentiu, deitando a cabeça no seu peito, fechando os olhos para escutar seus batimentos.
Logo Selen saiu ao lado de Liora, e ambos os casais seguiram pelas ruas movimentadas em pleno horário de almoço em busca de um restaurante.
—Esses são pratos típicos dos magos. — Liora explicou quando seus pedidos chegaram, todos pedidos por ela.
Estavam num restaurante com assentos espalhados pelo cômodo, uma sutil música tocando no fundo. Elas estavam numa mesa retangular, sentadas em duplas num estofado rebaixado, de forma que todas cruzaram as pernas.
—Você pediu todos que não tinham carne? — Emeril provocou.
—Eu deixo você sozinha por cinco minutos, e você vira uma carnívora insaciável.
—Por que você não come carne afinal?
—Não gosto. Eu costumava comer na sua época, mas nunca me satisfez de verdade. Não tenho um grande apetite como você, não sei de onde você puxou isso.
—Sou apenas filha sua. — Sorriu, despejando um molho branco sobre as verduras no seu prato.
—E eu sou feliz por isso. Aprecie a comida.
—Estou apreciando a companhia. — Selen sorriu, selando os lábios da mulher ao seu lado.
—Pare de flertar com minha mãe, elfo. Não é como se tivesse que conquistá-la.
—Está errada. É agora que tenho que conquistá-la mais.
—De qualquer forma... — Pausou para mastigar, tocando a perna de Ilis e oferecendo uma carícia. — Como isso aconteceu? Foram dois dias.
—Bem... — Liora trocou um olhar com Selen antes de se voltar para a filha. — Foi bem simples.
—O que? Não foi nada simples. — Selen ergueu uma sobrancelha na sua direção. — Ela só passou a confiar em mim depois que você acordou.
—Fez bem, mãe. Não se deixe levar pela bela face dela.
—Ei. — Selen tentou se defender, mas Liora acabou rindo.
—Mas sério, como isso aconteceu? Vocês se olharam e viram alguma coisa?
—Não. Não foi como você e Ilis.
—Não foi tão simples. — A loba falou num suspiro, encarando Selen. — Deve ser algo de família.
—Selen foi se provando durante aqueles dois dias. — Liora se pronunciou, buscando pela mão da elfo. — Eu não queria mais viver aventuras, e ela se mostrou alguém sólida para isso, ainda mais quando sabia que estaria enfrentando sua aprovação para seguirmos adiante.
—Minha aprovação? — Emeril franziu o cenho.
—Sua amizade sempre foi importante para mim, Emeril. Eu não queria escolher entre isso e minha relação com Liora. — Selen explicou, voltando a comer.
—Eu nunca impediria vocês. Nunca foi minha intenção.
—Nós sabemos, querida. Mas nunca faria sentido seguir adiante sem você estando junto de nós dessa forma. Como hoje. — Liora sorriu, inclinando-se na mesa para tocar seu braço.
—Então estou feliz que Selen tenha agido certo com você desde o começo. Você merece isso. — Seu sorriso se abriu, então olhou para a elfo. — Vocês duas.
Ilis retribuiu a carícia na perna da feiticeira, que selou seus lábios antes de voltar a comer.
—Posso pedir a sobremesa? — Liora perguntou quando todas tinham terminado de comer.
—Claro. — Emeril sorriu. — Assim aumento minha lista de pratos para a festa de vocês.
—Vocês estarão bem servidas. — Ilis falou. — Tudo que Emeril cozinhou até hoje é maravilhoso. Nunca passarei mal em nossa casa.
—Apenas se você caçar os ingredientes. — Sorriu mais, abraçando sua cintura e se apoiando no seu corpo.
—Então estaremos bem.
—Vocês já estão pensando em se mudar? — Liora estreitou os olhos para ambas. — Algo está faltando para vocês em minha casa?
—Claro que não, mãe. Eu já tinha meu espaço antes de vir para cá. Só vamos começar a montar um espaço nosso agora que temos nosso bebê a caminho.
—Mas eu acabei de ter você perto de mim, querida. Por que a pressa?
Ilis envolveu os ombros de Emeril, beijando sua cabeça enquanto olhava para Liora, que esperava uma explicação.
—Mãe... Não há nada errado. Não vamos sair da cidade. Vou continuar trabalhando com você. Vamos continuar perto.
—Não é a mesma coisa.
—Nossa casa sempre estará aberta para te receber, Liora. — Ilis falou devagar. — Eu duvido que Emeril se manteria longe de você.
—Claro que não. Não ficaria longe de você logo agora que estamos juntas, mãe. Foi o que sempre quis.
—Claro, claro. — Liora abriu um pequeno sorriso. — Estou sendo uma tola. Vocês só me pegaram de surpresa. Mas não se preocupe. Vou ao banheiro e já volto.
Ela se levantou, seguindo para fora da mesa sem deixar espaço para que mais alguém falasse.
—Selen, eu estou errada? — Emeril perguntou, olhando o caminho que sua mãe tinha feito.
—Não, só... — Selen suspirou. — Ela está sensível. Vamos concordar que está acontecendo tudo muito rápido.
—Sim. Mas eu nunca a deixaria.
—Eu sei. Eu vou falar com ela, não se preocupe.
—Deixa eu fazer isso.
—Fale com ela em casa. É melhor.
—Ela ficou assim por minha causa. Sou eu quem devia falar com ela.
—Confie em mim. Só espere alguns minutos. Vão pedindo nossa sobremesa enquanto isso.
Emeril quis protestar, mas Ilis acariciou sua perna, em busca de acalmá-la. Então assentiu, e Selen saiu da mesa, buscando por Liora. Ilis abraçou a feiticeira, acariciando seus cabelos.
—Sinto muito, meu amor. Não devia ter comentado nada.
—Não sabíamos que ela reagiria assim. Não foi sua culpa.
—Então mantenha a calma, está bem? As coisas vão se esclarecer.
—Eu a amo, as coisas não deviam ser tão complicadas assim.
—Veja isso como testes para a relação de vocês se tornar mais forte. Assim como foi a nossa.
—Foi? Acho que enfrentamos isso a cada momento.
—E continuamos juntas. Agora, venha aqui.
Emeril inclinou a cabeça, tendo seus lábios capturados pela loba, a tensão em seus ombros diminuindo com seus toques. Ilis sorriu, contente, acariciando entre seus cabelos enquanto a mantinha perto.
—Não vou nem perguntar se vocês pediram a sobremesa. — Liora falou num pequeno sorriso alguns minutos depois, sentando de volta no seu lugar.
—Mãe. — Emeril sorriu ao vê-la, esticando a mão sobre a mesa para segurar a dela. —Tudo bem?
—Não se preocupe. Falamos sobre isso depois. — Liora beijou sua mão. — Pronta para a sobremesa ou já tiveram doce suficiente?
—Você se sente satisfeita já? — Selen sentou ao seu lado, beijando sua bochecha.
—Vou me reservar ao direito de não te responder agora, querida.
—Bem pensado. Eu quero bolo com calda.
—De novo?
—Está bem. Cookies com calda?
—Está viciada em calda?
—Então que tal aquele bolo de sorvete com frutas secas e nozes?
—Vê? Você consegue inovar.
—Quantas vezes já vieram aqui? Decoraram o cardápio? — Emeril olhou entre ambas com as sobrancelhas erguidas.
—Você não disse a ela? — Selen riu, mas Liora balançou a cabeça. — Diga a ela.
—Ela me trouxe aqui na primeira vez que saímos juntas. Queria me impressionar com comida de magos. No fim, quando ela quis pagar a conta, descobriu que não era minha primeira vez aqui, porque Ramir, o cozinheiro chefe, veio me cumprimentar.
—Foi quando eu descobri que ela não só era conhecida aqui, como também é a dona.
—O que? — Emeril se sentiu perplexa. — Você é dona daqui?
—Por herança sim. Sua vó era dona de uma rede de restaurantes, em várias cidades.
—Agora você é dona de todos eles?
—Eu vendi todos. Mas mantive esse e o primeiro, por questão de memórias. Ela sempre me levava para comer nesses restaurantes quando eu tinha sua idade e ainda antes. Não podia me desfazer deles.
—Nunca imaginaria isso.
—Eu sei, por isso trouxe você aqui.
—O que aconteceu com todos os Arin? — Ilis perguntou.
—Eu matei meu pai. Os demais acabaram mortos por não aceitar a mudança, pelos elfos.
—Sua mãe também?
—Posso fazer os pedidos? — Selen falou sobre a pergunta da loba, olhando para Emeril. — Você vai adorar as caldas que eles fazem aqui.
—Claro. Estou aberta para experiências.
Liora ainda encarava Ilis, até Selen beijar sua bochecha, tirando sua atenção do assunto.
—Tudo bem para você, meu amor? — Emeril perguntou a loba, que balançou a cabeça.
—Acho que vou pular a sobremesa. Estou me sentindo enjoada, querida. — Ilis falou a olhá-la.
—Então é melhor irmos para casa. Tem um chá que vai ajudar a acalmar seu corpo.
—Apenas preciso de você.
—Claro, não precisa pedir duas vezes. — Emeril beijou seus lábios antes de se virar para o casal. — Nós já vamos indo. Mas a comida estava deliciosa, mãe.
—Tem certeza? Posso ajudar em algo? — Liora olhou entre ambas.
—Não, está tudo bem. Aproveitem a sobremesa.
Elas se levantaram e seguiram para a saída, onde Emeril criou uma capa para a loba e outra para si, abrigando-as da chuva que voltou a cair.
—Você esperou a chuva voltar para pedir para irmos. — A feiticeira observou enquanto envolvia sua cintura.
—É o único jeito que conheço para que ninguém escute nossa conversa. O som da chuva dificulta que entendam nossas palavras.
—Você não costuma inventar mentiras, Ilis.
—Eu não mentiria para você.
—Por que mentiu para elas então?
—Seu coração nem disparou para confirmar minha mentira.
—Porque confio nas suas escolhas.
—Confia nas escolhas de sua mãe?
—Eu não sei. Estou tentando, mas ela continua escondendo as coisas de mim.
—Então você ouviu também.
—Sobre minha avó? Claro. Eu não entendo por que ela fica mais à vontade em contar as coisas para Selen. Não é com ela que ela vai fazer o ritual.
—Mas foi com ela que sua mãe passou esses dois meses. Com ela que decidiu estreitar a relação.
—Não comigo.
Ilis envolveu seus ombros e beijou o topo de sua cabeça sobre a capa, apoiando a bochecha na região.
—Você aceitou a festa para agradá-la.
—Também. Quero o melhor para ela, e Selen representa isso.
—Você está fazendo mais papel de mãe que ela. Será a gravidez?
—Eu já me sinto responsável pela nossa semente. Eu já penso que tipo de mãe eu quero ser para o nosso filho.
—Estamos no mesmo ritmo então. Só... seja cuidadosa com Liora. Posso ver que ela gosta mesmo de você. Talvez ela só esteja perdida em como demonstrar isso.
—Não... Ela está escondendo coisas de mim, e não são coisas boas.
—Talvez seja o que aconteceu antes de você vir aqui.
—Mara me falou a mesma coisa. Disse que não devia confiar tão abertamente em minha mãe.
—O que você acha?
—Ilis... Se também está desconfiando de minha mãe, por que aceitou o almoço?
Ilis abriu um pequeno sorriso, entrando num beco entre duas casas, protegendo-as da chuva. Baixou a touca da feiticeira e acariciou seu rosto.
—Eu queria saber até onde ia as intenções dela de se aproximar de você. Mas agora está claro que ela não percebeu que não vai ter uma filha completa se não for uma mãe transparente.
Emeril suspirou, abraçando a cintura da loba e escondendo o rosto em seu pescoço.
—Espero que ela descubra isso antes do ritual.
—Ou você deveria fazer com que ela veja. Afinal... É seu ritual. E eu sei que você não gosta de esperar que as coisas aconteçam.
—Você está certa.
—Talvez. De qualquer forma... O que te faria sentir melhor agora?
—Eu quem devia te perguntar. Continuo preocupada com você.
—Estou bem. Só estou administrando a falta dela. Mas tenho dois lobos. Tenho você e tenho nosso filhote. Não quero mais nada.
—Nem Zeen?
Ilis riu, afastando o rosto para olhá-la.
—Quer procurar um lugar para construir a casa?
—Quero. Então você me fala o tamanho e quantos cômodos vamos precisar.
—Vamos então.
Fim do capítulo
Liora, Liora, por onde andastes nesses anos sem paçoca? kkkkkk
Motivos para não escrever poemas ahahaha
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Marta Andrade dos Santos
Em: 30/07/2021
Mistério!
Resposta do autor:
Não é mulher? O que será que acontenceu? :O
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