Quadragésimo terceiro
—Fernando, você pode me explicar por que tem um bebê aqui? — Laura questionou pela terceira vez, enquanto o irmão tentava inutilmente fazer o bebê parar de chorar. — Por Santa Guadalupe, me dê ele aqui. Você só o está deixando agitado.
Ela o tirou dos seus braços com cautela, ajeitando-o em seus braços, movendo o corpo a fim de acalmá-lo. Colocou um dedo em sua boca, ele sugou em resposta e ela encarou o irmão com olhos estreitos.
—Cadê a mãe dele? Ele está com fome.
—Ele não tem mãe.
—Não me venha com essa. Todos temos uma mãe e um pai, mesmo que os pais fujam quando descobrem o que fizeram.
—Não é esse o caso, claro que ele teve uma mãe, mas ela... Ela morreu no parto.
—O que? — Laura o encarou perplexa, desviando o olhar somente quando o bebê começou a chorar e ela caminhou em direção a cozinha do seu apartamento. — E por que você tem um bebê sem mãe? Como conseguiu essa criança, Fernando? Você pode ser mais claro? E não fique aí parado, me ajude a fazer a mamadeira dele. Eu ainda devo ter uma mamadeira de Mahina aqui e um leite fechado na dispensa.
Fernando se moveu para ajudar, agilmente esquentando o leite na mamadeira em banho maria e checando a temperatura, só então Laura foi para a sala e o ninou enquanto bebia o leite com fome. O bebê aparentava ter poucas semanas de vida, tinha a pele na mesma tonalidade que a dela e os olhos castanhos claros. Tinha um punhado de cabelos encaracolados na cabeça no tom mais escuro que os olhos, para esse detalhe ela encarou o irmão, olhando entre ambos enquanto raciocinava.
—Me diga que não é o que estou pensando. Diga que não traiu Paulina e que esse não é seu filho com a sua amante.
—Então eu estaria mentindo.
—Eu não acredito nisso, Fernando. Você teve um filho com outra mulher? — Questionou com aparente desgosto da ideia. — Pela Virgem Guadalupe, nossa mãe vai te matar antes de passar mal se descobrir o que você fez. Como você foi capaz de desgraçar sua família por causa de prazer fora do casamento?
—Eu fui um idiota, Laura, eu sei disso. Paulina tinha falado sobre divórcio, eu fiquei devastado. Saí de casa por uma semana e fiz de tudo, por Deus, eu jurava que ela tinha outro, então pensei, por que não dar o troco? — Ele desviou o olhar, angustiado com a recordação. — Mas ela pediu para voltar, disse que era um erro estragar nossa família.
—Mas você já tinha feito a besteira de engravidar essa mulher. — Constatou, buscando manter o tom baixo para não assustar o bebê. — Quem era essa mulher, Fernando? Ao menos sabe se o filho é seu?
—Claro que é meu Laura, é minha cópia completa, você sabe disso da mesma forma que eu. É só olhar para ele.
—Você é um completo idiota, Fernando. Você sabe que vai ter que contar a Paulina. Se não contar, eu contarei. Você não pode enganar sua mulher.
—Eu contei que tive um caso, Laura, que tipo de homem você acha que eu sou?
—O que se enfiou no primeiro par de pernas que encontrou. E o que Paulina falou?
—Ela não quer ver esse bebê perto. Falou que ou eu dava para a adoção ou iria se separar de mim.
—Ela devia se separar de você da mesma forma. Bastou uma semana para você engravidar outra mulher, você é um canalha, Fernando.
—Você pode parar de me julgar por um minuto? Eu não planejei as coisas assim. Eu ia assumir a criança, ia pagar a pensão a mãe, mas eu não contava que ela morreria no parto. Eu não posso leva-lo para casa, Laura. Paulina iria me matar.
—E o que espera de mim? Eu não conheço ninguém que esteja querendo adotar uma criança.
—Tem que ter alguém, Laura. Você conhece tanta gente. Sua mulher... Suas duas mulheres conhecem muita gente. Alguém tem que querer um bebê.
—Eu não posso descobrir algo assim de um dia para o outro, Fernando. Quanto tempo vai ficar na cidade?
—Eu tenho que voltar hoje, Laura. Não posso continuar faltando no trabalho, vou acabar sendo demitido e você sabe que as coisas não estão boas no México para ficar sem trabalho.
—Você não está pensando em deixar seu filho aqui.
—Se eu levar de volta vou ter que jogar o garoto na Igreja ou no orfanato e eu não quero isso para ele.
—É sua responsabilidade, Fernando! Você é o pai.
—E eu estou fazendo o melhor para ele, Laura. Essa criança não tem futuro comigo, eu não vou abrir mão da minha família por causa de um erro que cometi.
—Você não pode estar falando sério. É seu filho assim como os outros, não um erro. É uma criança, Fernando! Você não pode jogá-lo como se fosse uma arte que não deu certo, como uma travessura que foi longe demais.
—E o que você quer que eu faça, Laura? — Ele se aproximou e a olhou de perto, nervoso. — Paulina é a mulher que amo, eu quero passar o resto dos meus dias com ela. Essa criança não pode estragar isso. Ele pode ter outra família, Paulina está sendo boa demais para mim para me perdoar pelo meu erro, eu não posso fazer com que ela conviva com essa criança para lembra-la todos os dias do meu erro.
—Não coloque a culpa dessa criança ter nascido nela, mas sim em você e nessa mulher. Vocês foram dois irresponsáveis.
—O que está feito está feito. Eu não posso ficar com essa criança. Não vou acabar meu casamento e destruir minha família para cuidar de um único filho.
—Como você é egoísta, Fernando.
—Eu? Eu estou buscando dar a melhor chance para esse garoto. Eu duvido que não tenha um casal como vocês que não esteja louco procurando um filho assim, com saúde e forte.
—Você quer simplesmente jogar o garoto nos braços de um casal e isentar toda a sua responsabilidade nisso.
—Acredite em mim, ele estará melhor longe de mim. Eu sequer posso olhar para ele e pensar que posso perder minha família só de continuar aqui.
—Você está sendo tão mesquinho. E Paulina está sendo uma megera por concordar com o que você está fazendo. Ele é só uma criança, Fernando. Ele é inocente, diferente de vocês. — Ela suspirou, afastando a mamadeira e o posicionando em seu ombro, colocando um pano sobre a camisa enquanto movia a mão em suas costas, beijando sua cabeça. — Você não pode simplesmente abrir mão do garoto assim. É seu filho, meu sobrinho, neto de nossos pais.
—Se está tão preocupada com ele assim, por que não o adota você?
—Você enlouqueceu?
—Suas mulheres tem dinheiro, não tem? Vocês são em três, só tem uma filha. Por que não mais um? O garoto até já gostou de você.
—Eu não posso simplesmente decidir algo assim sozinha. — Ela estreitou os olhos na sua direção. — E não ache que eu farei isso para livrar a sua cara. Eu direi aos nossos pais. Você assumirá suas responsabilidades como pai. Não é porque teve um filho fora do casamento que vai deixar essa criança desamparada, eu não vou deixar que faça isso.
—Nossos pais não podem sequer pensar nisso, Paulina não contará nada a ninguém contanto que essa criança não chegue perto dela e de nossos filhos. Nossa mãe tem problemas com pressão alta, Laura! — Argumentou, alterado. — Uma notícia dessa iria causar tanto estrago em nossa família.
—Não tente usar a doença de nossa mãe como desculpa para se safar.
—Eu não estou me safando. Se eu não estivesse assumindo a responsabilidade por essa criança eu já a teria jogado no orfanato ou sequer tirado ele do hospital.
—Você o registrou?
—Claro que sim. — Ele pegou a mochila sobre o sofá e buscou pelo papel, desdobrando e indicando a certidão de nascimento dele. — Está em meu nome, mas tão logo tiver outra família, eu não terei qualquer problema em abrir mão disso.
—Não é simples assim. — Ela suspirou, pegando o papel e se afastando, tentando manter a calma. — Paco García.
—Era o nome do nosso avô. — Ele foi se sentar no sofá, respirando fundo. — Laura, eu queria poder dizer que posso ficar com a criança, mas eu não posso. Eu cometi muitos erros, eu sei. Como eu disse, eu assumiria essa criança como assumi o nome, mas eu não posso cuidar dele. Ele seria infeliz comigo se eu também estivesse infeliz sem minha família. Eu quero que ele tenha uma família, mas eu não posso oferecer isso a ele. Só... fique com ele esses dias e eu volto aqui para entrega-lo a adoção. Eu realmente não posso mais faltar ao trabalho, tenho que voltar hoje e não tenho com quem deixar.
—Você podia ter deixado com Cláudia.
—E ela correria para dizer a nossa mãe. Eu só posso contar com você, Laura.
—Eu ficarei com ele esses dias, falarei com Iori e Lana e tentarei achar uma boa família para ele. — Falou devagar, virando-se para ele. — Mas não pense que ficará tudo bem após isso, Fernando. Estou muito decepcionada com a sua atitude e a de Paulina. Espero não ver vocês tão cedo depois disso tudo se resolver.
Fernando suspirou, magoado com a fala da irmã. Pegou a mochila e se levantou, deixando os pertences do garoto sobre o balcão e prendendo a certidão com a mamadeira vazia para não voar. Parou em frente a Laura e pressionou os dedos em seu ombro, olhando em seus olhos com intensidade.
—Eu faria tudo para proteger minha família e sei que você faria o mesmo no meu lugar.
—Eu nunca abandonaria um filho, Fernando. Eu tive toda a chance de abandonar minha filha quando elas me quiseram longe, mas eu insisti e me mantive perto de minha filha. Você é um fraco que está desonrando o nome de nossa família. Espero que a família que tiver esse garoto o eduque para não ser como você quando crescer.
Fernando olhou mais uma vez para o filho, então foi embora. Laura sabia que ele não voltaria, porque percebeu que o registro era falso e de baixa qualidade, mas concluiu que se o irmão tinha recorrido a meios ilegais para registrar o filho nesse país, ele estava decidido a não ficar com a criança. Sem saber o que fazer sobre a criança, Laura o embrulhou nos últimos pertences que ainda tinha de Mahina em seu apartamento após o limpar e ninar, colocando na cadeirinha e indo para o carro. Se ela não sabia o que fazer, sabia que encontraria ajuda em casa.
—Oh não, não me diga que você engravidou alguém nesse tempo que ficamos separadas. — Lana falou tão logo a viu entrar com a criança no suporte da cadeirinha.
—Fale baixo, ele está dormindo. — Laura estreitou os olhos na sua direção, parando no meio da sala. — Se eu tivesse a capacidade de engravidar alguém já teríamos uma meia dúzia de crianças nessa casa.
—E com mais um a caminho. — Concordou, aproximando-se dela e envolvendo sua cintura, beijando seu maxilar. — Tenho certeza de que saiu daqui sem uma criança nos braços. E não lembro de Paulina estar grávida. Estavam distribuindo crianças pelo caminho, meu amor?
—Algo assim, cariño. E agora não sei o que fazer com ele. Onde está Iori? — Ela perguntou mais baixo, inclinando a cabeça para apoiar suas testas, sentindo-se relaxar com o clima leve que Lana esbanjava.
—Na cozinha com Mahina. Eu ouvi o som do carro e vim ver como você estava. — Sorriu quando percebeu o bebê se movimentar no suporte. — Ele tem os seus olhos, amor, é adorável.
—Oh. — Ela inclinou o rosto, erguendo o suporte, vendo-o acordar mais animado. — É verdade, eu não tinha reparado.
—Vem aqui, meu príncipe. — Lana falou em tom mais infantil, cuidadosamente pegando-o no colo e o fazendo deitar em seus braços, movendo os dedos pela sua bochecha. — Você tem cara de galanteador, não é mesmo? Quantos corações você vai conquistar com um sorriso desse? — Ela sorriu quando ele mostrou os primeiros dentinhos. — Olha esses dentes, você é tão pequeno para ter dentes assim.
—Dentes? Mas ele parece um recém-nascido. — Laura estreitou os olhos, então tateou os bolsos até pegar a certidão dele. — Aquele idiota... Ele tem 9 meses.
—Ele não foi bem alimentado então, mas continua forte o suficiente para ter esses dentinhos, não é meu amor? — Lana apertou sua bochecha, ouvindo sons saírem de sua boca. — A mãe dele não tinha leite?
—Ela morreu no parto. E Fernando não o quer. A certidão é falsa.
—Está tudo bem, hottie. — Ela inclinou o rosto para a olhar e beijou seus lábios. — Vá tomar um banho, você está precisando relaxar. Eu cuido dessa miniatura de Laura enquanto isso.
—Lana...
—Vá tomar o banho e nós pensamos depois. Você fez bem em o trazer aqui.
—Tem certeza?
—É só uma criança, meu amor, eu sei lidar com isso. Vá, a comida logo ficará pronta.
—Obrigada. Eu não sei o que faria sem você.
Laura selou seus lábios demoradamente, acariciou os cabelos do garoto e subiu as escadas. Lana teve que subir pouco tempo depois para trocar sua fralda e colocar uma roupa mais quente nele, agradecendo que tinha guardado as vestes que já não serviam em Mahina. Iori estranhou a ausência de ambas no andar inferior e subiu até os quartos com a filha no colo, parando na porta do quarto dela quando viu Lana a fazer gracejos em outra criança enquanto o vestia, ouvindo os risos dele enquanto os braços e as pernas sacudiam em animação.
—A cegonha veio de carro, amor? — Perguntou ao se aproximar, olhando com curiosidade para o bebê.
—E tem os olhos de Laura, não é adorável? Aposto que quando crescer os cabelos vão clarear e cachear que nem os dela.
—Lana... De quem é esse bebê?
—Fernando. — Laura parou na entrada, vendo a filha se sacudir animada no colo de Iori até ela a pegar e a abraçar. — Mas ele é um idiota.
—Paulina?
—Não, amante. Segundo ele a mulher morreu no parto. E eu não sei que tipo de cuidado esse bebê teve, porque ele é menor do que o esperado para a idade dele.
—Como alguém não iria querer essa criatura tão doce? Ele só precisa ser melhor alimentado e preenchido com amor, vai ficar forte que nem Laura, não vai? — Lana sorria contente, fazendo cócegas na barriga do garoto com a boca.
—Lana, não podemos simplesmente pegar uma criança e chamar de filho. — Iori se aproximou dela e virou seu rosto para olhar em seus olhos. — Não seja precipitada, Laura sequer nos explicou o que está acontecendo.
—Eu já sei o suficiente. — Ela sorriu e se voltou ao garoto. — Olhe para ele, meu amor. Ele é perfeito. Sempre que imaginava um filho com Laura era exatamente assim. Com a covinha na bochecha, ele até tem uma pinta no ombro como ela.
—Lana, não podemos ser inconsequentes e impulsivas, estamos falando de uma criança, uma vida. Tem todo o parâmetro legal que precisaríamos tratar antes de considerarmos tê-lo aqui.
—Então passaremos por tudo isso, eu não vou manda-lo embora.
—Não é mandar embora, Lana, é achar uma família para ele. — Laura interveio. — Basta buscarmos entre nossos amigos quem está querendo ter um filho.
—Por que nos daríamos ao trabalho? Tínhamos mais uma criança planejada, que diferença faz a forma que essa criança chegou até nós? — Ela se virou para olhar ambas com maior seriedade. — Fernando não o quer, a mãe está morta. Qual é, Sasaki, você tem contatos, podemos ficar com essa criança. Olhem para ele. Tem o sangue de Laura, os olhos dela. É a única chance que temos de ter um filho de Laura.
—Cariño... — Laura se aproximou e a abraçou ainda com a filha no colo. — Ele não é meu filho, é meu sobrinho. Como criaríamos uma criança sabendo que a família de Fernando nunca poderia ter contato com ele?
—Fernando escolheu abrir mão do próprio filho, então ele que se mantenha distante. Qual é, Lau... — Ela inclinou o rosto para olhar em seus olhos. — É a chance mais próxima de ter um filho seu. Que garantia teríamos que outra pessoa cuidaria dele tão bem quanto nós?
—Não podemos decidir isso assim, cariño. Eu quero o melhor para ele e por isso temos que considerar que podemos não ser o que ele precisa.
—Como não seríamos o que ele precisa, Laura? Somos uma família! Você pode dizer que não damos todo o amor e carinho de que Mahina precisa? Ela tem tudo o que precisa aqui conosco.
—Você quer mesmo o garoto, Lana? — Iori suspirou com a teimosia dela.
—Não é questão de querer. — Ela o vestiu e o pegou no colo. — De certa forma ele já faz parte da família. Nós temos condições de ter uma criança e ele precisa de cuidados. Sinto que devemos ficar com ele. E eu sei que posso estar sendo apressada e inconsequente, mas é o que sinto agora e lidarei com as consequências depois. Mas não deixarei que ele vá a lugar algum assim como quero Mahina exatamente aqui.
—Então você não quer mais engravidar? — Iori a abraçou pelas costas, apoiando o queixo em seu ombro.
—Quero. Teremos tempo para isso, meu amor, você não precisa se preocupar.
—Serão três crianças, Lana. Você tem certeza de que conseguirá lidar com isso? — Laura tocou seu rosto com a seriedade que o momento requeria.
—Temos nossas famílias e eu tenho vocês. Vamos lidar com os problemas quando eles vierem.
—Tudo bem. Então eu farei de tudo para que nada falte nem para ele, nem para Mahina ou para vocês duas.
—Basta continuar aqui, e nós teremos tudo.
Laura sorriu, Lana acabou rindo e a puxando para perto, beijando seus lábios.
—Eu nunca mais vou deixar Laura sair sozinha de casa, imagina se ela volta com mais crianças? Nós iremos a falência. — Iori reclamou enquanto se afastava, o que somente fez ambas rirem. — Aqui, deixe-me vê-lo de perto.
Lana entregou o garoto para ela, vendo-a o analisar. Iori sorriu para ele, movendo os dedos pelos seus cabelos. Sabia que Lana estava sendo impulsiva em simplesmente decidir ficar com uma criança que tinha acabado de colocar os olhos, mas podia entender seu ímpeto de querer proteger o garoto de passar a pertencer ao sistema. Pensando mais racionalmente, elas tinham tudo para receber mais uma criança, ainda que não fosse o bebê que tinha planejado colocar na barriga de Lana, não conseguia negar o quanto ele era uma graça.
—Você é o laço que representa a volta de Laura para a nossa casa. — Falou ao garoto em japonês. — Você vai ter um longo caminho para se provar, muitos irão contra você, mas você não os enfrentará sozinho. Você terá sua força e sua honra como companheiros, e nada nem ninguém vai tirar isso de você.
—Não é o que diz a Mah, é? Eu reconheço algumas palavras, mas é diferente. — Laura questionou, sentindo-se confusa.
—É diferente para cada criança. — Iori explicou, sorrindo para o garoto antes de se virar para elas. — Difere se é menino ou menina, primeiro filho ou segundo. O mais importante é a criança ser lembrada da honra e se sentir importante. Ao menos foi o que minha mãe me disse. Acontece na minha família há tantas gerações que se tornou automático.
—E o que ela dizia a você quando era pequena? — Lana se aproximou dela.
—Eu não lembro. Só é falado quando estamos nos primeiros anos e eu nunca perguntei a minha mãe. Quem sabe ela me conte quando souber que tem mais um neto?
—Ela vai gostar da notícia? — Laura não escondeu o receio na pergunta. — Ele não é igual Mahina. Não tem o sangue dela e não veio de Lana.
—Acha que Chieko não vai reconhecer um neto por causa da origem dele? — Lana estreitou os olhos.
—Desculpa, mas sim. Esse sempre foi o meu medo quando pensava em ter um filho com Iori. — Ela desviou o olhar quando Mahina apertou suas bochechas, fazendo-a sorrir.
—Não se preocupe com isso, minha família aceitará o garoto, porque é nosso filho agora. — Iori garantiu. — E eu não deixaria ninguém perto de um filho nosso que não oferecesse um mínimo de respeito.
—E Chieko vai amá-lo como neto, assim como Mahina. Confie em mim. — Lana sorriu para afastar seus receios.
—E o garoto tem nome. — Ela pontuou, olhando entre elas e então para o bebê. — Fernando o registrou de maneira ilegal, mas se concordarem, quero o manter como Paco.
—O nome do seu avô? — Iori o olhou, analisando o nome. — Paco. Eu gostei.
—Eu gostei também. — Lana garantiu.
—Então está decidido, seu nome é Paco. — Ela sorriu contente.
—Vamos celebrar, que tal? — Iori sugeriu. — Amanhã eu cuidarei da parte legal de o registrar e dar início ao processo de adoção, mas hoje nós celebramos mais um filho.
—Você não podia ter dado melhor ideia, meu amor. — Lana acariciou seu rosto e beijou seus lábios. — Eu vou abrir a garrafa de saquê.
—Palavras mágicas as suas.
Elas passaram a noite a celebrar a chegada repentina de mais um filho, contentes em poderem cuidar de mais uma criança. Mahina se manteve curiosa com a presença de outra criança, enquanto Paco se mostrou mais arredio com a presença delas tão próximas, ficando mais choroso e se mostrando desconfiado. Ainda assim elas não se deixaram desanimar ainda que a preocupação tenha aumentado, decidiram que ele já tinha passado por muita coisa em pouco tempo de vida e que precisava de maior atenção e paciência para se adaptar e se sentir seguro.
Iori utilizou seus contatos e contou com a influência de sua família para encaminhar o processo de adoção. Ela conseguiu a guarda provisória que a garantia a tutela de Paco, de forma que a assistência social continuaria a supervisão para analisar seu caso. Com o fim do ano tão próximo, o processo teria prosseguimento após as festas, enquanto isso ela pode continuar com a criança em casa.
Quando o natal chegou, as três tinham a casa preparada para receber toda a família. Lana encomendou uma mesa maior, redonda e de madeira, de forma que pudesse caber a todos que tinha em mente que confirmaram a presença. Cada parte da família traria um prato, enquanto elas se responsabilizaram pelo prato principal e um acompanhamento.
Chieko, Ichiro e as filhas foram os primeiros a chegarem no meio da tarde. Lana os recebeu, obtendo um abraço mais apertado da sogra, fazendo-a rir ao fim.
—Obrigada por nos convidar a passar o natal em sua casa. — Ela falou, segurando seu rosto pelo queixo e acariciando. — Espero que não esteja te dando trabalho a mais.
—Trabalho algum! Eu estou tão animada por ter a família inteira aqui hoje. Ao menos eu espero que esteja. Onde estão Kenjiro e a nova noiva?
—Eles estavam vindo logo atrás de nós. — Ichiro falou.
—Em outras palavras não aguentávamos mais Kenji repetir “minha querida Hiromi” o dia inteiro. — Kanon falou ao revirar os olhos.
—Por que? Hiromi não é querida? Estou tão curiosa para conhece-la! Kenji não quis me mostrar nenhuma foto até hoje. — Lana reclamou.
—Ele queria fazer uma surpresa. — Eiko justificou. — Apesar do meu irmão ser um chato, Hiromi é uma mulher surpreendente, se levar em consideração que ela queria ter um casamento arranjado, você pensaria em todo um perfil de esposa recatada e do lar.
—E ela é de outra forma? Estou surpresa. — Suas sobrancelhas ergueram.
—Você verá.
—Mãe, pai, pirralhas. — Iori se aproximou deles, sorrindo de forma conspiratória para as irmãs. — Sejam bem-vindos. Sintam-se à vontade. Se estiverem com fome ou sede fizemos alguns pequenos lanches e sucos, estão na sala de jantar.
—Eu vou aceitar. — Kanon falou, seguindo mais timidamente em direção ao outro cômodo.
—Venham, entrem. Mahina e Paco estão na sala brincando com Laura e Alex. — Iori gesticulou para que a seguissem.
—Meus netos. — Chieko a seguiu com ânimo, os demais também indo pelo mesmo caminho. — Oh, ela está tão radiante hoje. — Falou tão logo viu o vestido vermelho que Mahina utilizava. — E olha só para ele, tão animado. — Ela se abaixou entre eles, movendo os dedos nos cabelos de Paco. — Ele já ganhou bastante massa desde que vim aqui semana passada.
—A pediatra passou uma dieta especial para ele. — Laura falou. — Tem sido mais trabalhoso fazer comidas separadas para os dois, dado as intolerâncias de Mah, mas tem mostrado resultado.
—Eu posso perceber. Aposto que eles não reclamam do seu tempero.
—Eles adoram, lambem até o prato. — Lana falou com um sorriso de lado. — Quase me dá vontade de comer também.
—Eu posso imaginar. Laura é uma cozinheira muito talentosa.
—Eu agradeço o elogio, sra. Sasaki. — Laura sorriu, suas bochechas corando. — Espero que nossa ceia esteja do agrado de todos hoje.
—Não se preocupe com isso. Todos estarão satisfeitos.
—O importante será nossa união nesse dia. — Ichiro acrescentou. — Quero falar, em nome de minha família, que é uma grande felicidade estar aqui e ver que o nome Sasaki continua sendo passado adiante, renovando nossos votos por mais uma geração.
—Oh, pai. — Iori sorriu para ele, abraçando-o quando o viu emocionado. — É uma honra para mim poder dar netos a você e colocar o nome de nossa família em meus filhos.
A campainha voltou a tocar, Lana se afastou para ir atender, contente quando viu Kenjiro ao lado de sua noiva, Hiromi. Ela estava bem maquiada e com roupas modernas, seus cabelos escuros eram curtos acima dos ombros com uma franja na diagonal, mostrando um aspecto mais despojado.
—Lana, quero que conheça minha querida Hiromi. — Kenjiro apresentou em japonês. — Hiromi, essa é Lana, esposa de minha irmã.
—É um prazer te conhecer, Hiromi-chan. — Lana se curvou em cumprimento. — Seja muito bem-vinda ao meu lar, e que você se sinta muito acolhida nessa família.
—Eu agradeço sua hospitalidade, Lana-chan. — Hiromi também se curvou. — Estou muito feliz de conhecer a família de Kenjiro, todos tem sido muito receptivos desde que cheguei.
—É uma chegada muito aguardada realmente, Kenjiro tem falado muito sobre você nas últimas semanas. Estou feliz que tenha chegado. — Lana gesticulou para que entrassem, esperando que tirassem os sapatos e os casacos. — Hoje é uma data que espero que todos aproveitem por igual.
—O primeiro natal que passaremos juntos de muitos outros, querida. — Kenjiro falou a noiva, sorrindo apaixonado para ela. — Lana é uma grande amiga, espero que possam ter uma boa relação.
—Eu busco cultivar boas relações dentro da família uma vez que estou entrando para ela em breve. — Ela se aproximou de Lana e segurou suas mãos, passando a falar em inglês. — Soube que você já tem dois filhos, fiquei impressionada. Deve estar muito atarefada agora.
—Oh, estou, mas sinceramente eu gosto. Laura e Iori tem sido bastante maleáveis na rotina e não me deixam sozinha para lidar com eles.
—Você tem duas mulheres mesmo. — Ela sorriu com curiosidade. — Como é isso? Quando Kenji me disse isso, eu pesquisei, achei tantas coisas interessantes! Você deve ser bastante criativa na cama para conseguir dar conta das duas.
—Oh. — Lana riu, surpresa, olhando para Kenjiro, que somente sorriu, passando um braço pelos ombros da noiva. — Garanto que fomos bastante criativas nesse tempo que estivemos juntas. Atualmente temos maior conhecimento do que cada uma gosta, é mais fácil, mas estamos sempre abertas para descobrir mais coisas.
—E vocês já tiveram uma quarta pessoa na cama?
—Uma quarta? Não, não. Não tivemos essa ideia ainda.
—Ainda? — Laura se aproximou, abraçando-a pela cintura. — Estamos procurando diversão, cariño?
—Quem sabe? — Ela a olhou, sorrindo de lado. — Babe, essa é Hiromi.
—Um prazer conhecer. Sou Laura. — Ela estendeu a mão, ao qual Hiromi apertou com leveza. — Você é mais bonita do que Kenjiro merece. Tem certeza do que está fazendo?
—Ei, não tente roubar minha noiva. — Kenjiro apontou para elas. — Eu sei o que estão fazendo. E não vão conseguir. Minha querida Hiromi vai continuar do meu lado e logo estaremos casados.
—Kenjiro é um bom homem. Tem a mente aberta e é engraçado. — Hiromi o abraçou, movendo uma mão pelo seu rosto. — Eu quero ser a melhor esposa para ele, porque sei que ele vai respeitar meus desejos e minhas vontades.
—Oh, eles são fofos. — Lana riu baixinho. — Espero que sejam felizes no casamento. Kenjiro tem se aplicado para ser um bom marido. Chieko e Ichiro o ensinaram muito bem. Em comparação aos homens que já conheci, Kenjiro tem sido exemplar, espero que não esqueça isso nos próximos anos, Kenji, ou farei sua mãe puxar sua orelha.
—Tão próximas do jeito que vocês são, é capaz que você mesma venha puxar minha orelha.
—Kenji disse que você e Chieko são muito próximas. Qual o segredo? Eu quero poder ser próxima a minha sogra também.
—São esses olhos, eles enfeitiçam todos para conseguir o que quer. — Laura segurou o queixo de Lana, balançando seu rosto sutilmente para os lados. — Ela hipnotiza e quando você se dá conta, fez exatamente o que ela queria.
—Ela só diz isso porque trocou as fraldas antes de vocês chegarem. — Lana sorriu ao se virar para ela, selando seus lábios.
—Porque você pediu muito bem, e nem era a minha vez.
—Você é uma boa esposa, é só por isso. — Ela voltou a selar seus lábios, ouvindo a campainha tocar mais uma vez. — Oh. Quem será agora?
—Deixa que eu abro agora. Apresente nossos filhos a Hiromi.
—Está bem. Venham, estão todos na sala.
Lana os guiou para a sala, então Laura foi até a porta, abrindo-a, sorrindo quando viu Cláudia e o marido, segurando Juán no colo.
—Vocês vieram! — Ela falou animada em espanhol, abraçando cada um e fazendo brincando com Juán no colo do pai. — Eu estava achando que não viriam conhecer Paco.
—E perder a chance de conhecer meu mais novo sobrinho? Nunca! — Cláudia a abraçou outra vez. — Mas não viemos sozinhos.
—Oh? — Ela olhou sobre seu ombro, perplexa quando viu os pais.
—Nós demos uma carona para eles. Acharam melhor chegarmos juntos. — Ángel falou. — Para não dá azar.
—Mãe? Pai? O... Por que vieram aqui? Aconteceu alguma coisa? — Laura se aproximou deles, olhando entre ambos.
—Se aconteceu alguma coisa? — Maria lançou os braços para cima. — Eu tenho dois netos que não conheci!
—O que? Você sabe que podia conhecer meus filhos a qualquer momento, contanto que respeitasse minhas mulheres e mães deles. Vocês dois que permaneceram sendo orgulhosos por todo esse tempo porque eram incapazes de aceitar minha relação com elas.
—Eu ainda acho que você está cometendo uma loucura, Laura. Duas mulheres!
—Então não devia ter se dado ao trabalho de vir aqui. Eu não vou deixar que ninguém desrespeite minha família. — Ela cruzou os braços, suspirando.
—Eu acho que é uma loucura, mas você é minha filha! — Maria segurou seu rosto entre as mãos. — Eu te coloquei nesse mundo, eu te carreguei na minha barriga por nove meses e cuidei de você até que você soubesse se cuidar sozinha.
—E então me afastou e não olhou mais na minha cara porque eu formei uma família que você é incapaz de respeitar.
—E estou disposta a pagar pelos meus erros diante de Deus quando chegar a minha hora, mas eu não quero mais ficar longe de você e dos meus netos, Laura.
—Então sabe que para isso acontecer vai ter que conviver com as outras duas mães dos seus netos, não é? — Ela olhou para o pai. — Vocês dois.
—Você se tornou uma mãe de família, filha, assumiu as responsabilidades e defende aquelas que você teve filhos. — Ele falou. — Não digo que é fácil vir e dizer isso, mas eu errei com você. Errei como pai. Eu devia estar te apoiando desde o começo e não te deixado fazer tudo sozinha. Mas se me der a chance de conhecer meus netos, eu me esforçarei para respeitar suas esposas assim como respeito você por ter lutado por sua família, indo contra seus velhos pais cabeça dura.
—Você fala sério pai? — Laura tinha lágrimas nos olhos.
—Claro que sim. Eu sei que fui injusto com você, que sempre nos deu orgulho. A primeira a se formar numa faculdade e que sempre ajudou com as contas de casa.
—Eu só cheguei até aqui porque sempre tive o apoio de vocês e dos meus irmãos. Sem isso eu não teria sido nada.
—E você se tornou uma mulher tão madura e decidida, Laura. — Maria falou enquanto acariciava o rosto da filha. — Miguel está certo dessa vez. Estivemos sendo injustos contigo quando você sempre foi a mais responsável.
—Eu vou fingir que vocês não disseram que sou irresponsável. — Cláudia falou logo atrás, revirando os olhos.
—Casar as pressas porque engravidou não conta a seu favor, Cláudia. — Miguel pontuou, fazendo-a bufar. — E então filha? Podemos conhecer nossos netos?
—Claro, claro que sim. Era tudo o que eu queria. — Laura os abraçou com força, deixando que a saudade que sentia fosse exteriorizada após tanto tempo se contendo.
—Laura! Que bom te encontrar aqui. — Christian falou quando entrou no quintal, acompanhado de Michael e Antony, atraindo a atenção de todos. — Você acredita que eu esqueci o caminho e fiquei dando voltas? Mas não diga nada a Lana! Ela provavelmente vai dizer “eu te falei para me ligar!”
—Mas ele é tão orgulhoso que quis achar o caminho sozinho como se estivéssemos fazendo uma trilha na floresta. — Michael o olhou, balançando a cabeça. — Mas chegamos ainda esse ano porque eu tive o bom senso de mandar mensagem para Lana pedindo o endereço.
—Você não fez isso!
—Claro que fiz, você é orgulhoso demais.
—Pais, vocês estão me envergonhando. — Antony reclamou, olhando entre eles. — Não estamos em casa, controlem-se.
—Agora é assim. Nós criamos os filhos para nos darem ordens! — Christian reclamou.
—Não se preocupem com isso. — Laura riu. — Mãe, pai, esse é o pai de Lana, o marido dele e o filho.
—Que educação a minha! — Christian se aproximou e estendeu a mão. — Eu sou Christian, esse é meu marido Michael e meu filho, Antony.
—Olá. — Miguel apertou sua mão. — Eu sou Miguel. Essa é minha ex-esposa Maria, minha filha Cláudia e o marido dela, Àngel.
—A família de Lana! — Cláudia se animou, abraçando cada um. — Estou feliz em conhecer vocês. Laura me contou tudo!
—Cláudia! — Laura a repreendeu.
—O que foi? Eu sinto muito pela sua doença, Christian, mas o mais importante é estarmos todos aqui reunidos. A festa nem começou e eu já estou animada!
—Eu concordo com você, a coisa mais importante que me aconteceu após adotarmos Antony, foi receber o perdão de minha filha e conhecer minha neta. — Christian sorriu para ela. — Agora estou curioso em conhecer meu neto.
—Todos já conhecem meus netos, menos eu! — Maria falou em tom dramático. — Que tipo de avó sou eu?
—Laura, por que está deixando todo mundo aqui fora nesse frio? — Lana perguntou da porta com as mãos na cintura. — Não fiquem congelando ai fora! Entrem!
—É assim que é agora, ela sempre reclama de mim. — Laura falou em tom dramático. — Mas dessa vez ela tem razão. Que cabeça a minha. Entrem, aqui fora está um gelo!
—Sejam todos bem-vindos! — Lana falou enquanto abria mais a porta para os deixar entrar. — Sintam-se à vontade. Tem lanches na sala de jantar e bebidas também para se esquentarem.
—E a comida? — Cláudia indicou a sacola que segurava.
—Na cozinha.
—Os presentes? — Ela indicou a outra sacola.
—Na árvore de natal, é claro. — Ela riu. — Iori está lá dentro, ela vai mostrar tudo, não se preocupe.
Ela trocou um longo olhar cúmplice com Maria e Miguel quando eles entraram, trocando um abraço apertado com o pai e cumprimentando mais rapidamente Michael, que estava mais interessado em achar as crianças.
—É um prazer finalmente te conhecer, Lana. — Antony falou ao parar em frente a ela, na entrada. — Eles têm falado muito de você nos últimos anos.
—Eu sinto muito que as condições não tenham sido as melhores, mas ao menos podemos estar todos aqui hoje. Estou feliz em te conhecer, saber que de certa forma também somos irmãos.
—Sim! Eu sempre quis ter uma irmã. — Antony sorriu. — Espero que possamos manter contato, você sabe, depois das festas.
—Claro, por que não? Quem sabe não planejamos uma viagem para Londres para nos encontrarmos de novo? — Ela sorriu para Laura.
—Sim, ainda estamos planejando nossa lua de mel, e Londres não está fora da lista. — Laura concordou.
—Eu ainda estou terminando a faculdade, então por enquanto estou no país. Será mais fácil marcar algo. Digo, se não se importar em ter um hóspede de vez em quando.
—Claro que não, será um prazer. — Lana tocou seu ombro, apertando de maneira mais carinhosa enquanto olhava em seus olhos castanhos. — Christian falou sobre o quanto você estudou e se esforçou para conseguir a bolsa de estudos, é muito bom quando estamos estudando algo que gostamos, não é?
—Sim! Com certeza. Eles me apoiaram muito.
—Eu sei como é. — Laura sorriu de lado. — A família é muito importante nesse momento. Eu nunca teria chego até o fim da minha graduação se não fosse pelo incentivo deles.
—Sim, é assim mesmo! — Ele sorriu mais animado.
Lana se mexeu desconfortável no lugar, sentindo-se perturbada com a menção de terem tido uma família desde sempre. Ela sabia que não era culpa de Antony a ausência do seu pai, mas seu eu mais egoísta o invejava por ter tido a segurança de uma família que sempre o apoiou. Buscou nele alguma justificativa, algo que se destacasse que o fizesse melhor filho para o seu pai que ela. Mas não havia nada espetacular em Antony. Era um rapaz comum, com roupas sociais, a pele escura e dreads nos cabelos, porte magro e baixo. Ainda assim se sentia ameaçada por ele, uma vez que foi ele quem teve um pai, e não ela.
—Mas se sinta à vontade, Antony, tem salgadinhos na sala de jantar. Se quiser conhecer as crianças vai ter que entrar na fila. — Laura sorriu para ele, indicando seus pais e os pais dele cercando o sofá em que seus filhos estavam, onde Iori e Alex buscavam manter o controle para não assustar as crianças.
—Eu vou esperar enquanto como os salgadinhos então. Vejo vocês daqui a pouco. — Antony se afastou, alheio ao incomodo de Lana.
—Ei, cariño, eu sinto muito. — Laura fechou a porta e a abraçou, movendo os braços em suas costas. — Eu não devia ter falado sobre ter uma família sempre ali, mas é tão natural para mim.
—Devia ser natural para todos, eu sei disso. — Lana afundou o rosto em seu pescoço, onde depositou um beijo, aspirando seu cheiro amadeirado. — Só é difícil ver Antony e imaginar que podia ter sido eu. Digo... uma vida inteira, Lau...
—E você só está com ele no fim. — Definiu, ouvindo-a concordar. — Não se preocupe, não é sua culpa. Você já está sendo maravilhosa por ter reunido todos aqui, você já deu um grande passo, agora é só aproveitar o momento e não pensar no antes ou no depois.
—No agora? — Ela sorriu, inclinando a cabeça para cima, subindo as mãos pelas tranças que tinha feito no cabelo. — Agora parece muito bom para mim.
—Para mim também. Nossas famílias estão aqui. Eu não sei o que você fez para fazer meus pais mudarem de ideia, mas eu quero que saiba que você acabou de me dar um dos maiores presentes que alguém poderia ter me dado. E eu te amo e te admiro ainda mais por isso, cariño, eu nunca deixarei de ser grata a você por isso.
—Oh, não me agradeça tanto, eu só fiz um vídeo para mostrar as crianças, Cláudia fez o intermédio. — Ela sorriu. — Na verdade eu só estava tramando tudo para conseguir esse sorriso feliz dos seus lábios o tempo todo.
—Oh, era esse o seu plano? — Ela riu baixo. — Só você para conseguir algo assim, Lana.
—Por você não há nada que eu não faria. — Ela selou seus lábios. — E é natal, não seria completo sem sua família aqui.
—Obrigada, cariño. Esse já é o melhor natal que tive em toda a minha vida.
—O primeiro, meu amor, é somente o primeiro de todos os outros natais incríveis que teremos.
Laura finalizou o espaço entre seus corpos e a beijou, selando toda a sua gratidão e seu amor naquele momento, incapaz de conter toda a felicidade e o conforto que sentia nos braços dela. Lana apoiou a testa na sua após algum tempo, respirando o mesmo ar que ela enquanto aproveitava a proximidade e o calor que emanava dela.
—Daph já não deveria ter voltado? — Laura questionou.
—Ela foi encontrar uma amiga, disse que volta antes do anoitecer.
—Espero que volte, porque a neve vai ficar mais alta e deixar as pistas escorregadias. Talvez fosse melhor eu busca-la.
—É melhor ligar e pedir que ela venha logo, não é? As pistas são perigosas nesse período.
—Sim. Eu posso busca-la e garantir que chegue em segurança.
—Eu vou ligar primeiro, então... — Ela pausou quando a campainha tocou outra vez.
—Talvez seja ela.
—Não, ela tem a chave. Quem falta chegar?
—Só Kael.
—Ah, deve ser ele então.
Laura se afastou e abriu a porta, estreitando os olhos quando viu Madson, que também se mexeu desconfortável no próprio lugar. Elas ficaram se encarando, sem dizer nada, Kael olhou entre elas, confuso, até Lana se colocar ao lado de Laura e suspirar em entendimento.
—Boa tarde Madson, como vai? Que bom que conseguiram chegar sem virar um boneco de neve. — Ela sorriu, percebendo alguma neve em seus casacos.
—Podemos fazer um boneco de neve? — Kael sugeriu, animado.
—Claro, amanhã podemos fazer se a tempestade não se intensificar.
—Tem lanche na mesa de jantar, garoto, se quiser aproveitar. — Laura o incentivou com um sorriso de lado.
—Eu iria adorar. — Ele inclinou a cabeça, olhando entre Madson e Lana. — Tia Lana, ela pode ficar para o jantar?
—Kael, eu te falei para não dizer nada. — Madson o repreendeu. — Não liguem para ele. Vá para dentro se divertir. — Ela falou para ele, tocando seu rosto. — Depois nós conversamos e você me conta como foi seu natal.
—Mas tia-
—Está tudo bem, não se preocupe. Eu só quero que se divirta com Lana, aposto que ela preparou um monte de coisas para fazerem juntos.
—Mas e você?
—Eu vou ficar bem.
—Querido, por que você não entra e prepara um chocolate quente para a tia Madson? — Lana o olhou, atraindo seus olhos em expectativas. — Pede ajuda a Alex, ela deve estar pela cozinha.
—Claro! Eu já volto.
—Não esqueça de tirar os sapatos. Enquanto isso... — Ela esperou que ele entrasse, vendo-o correr para a cozinha. — Entre, vamos conversar.
—Não, não é necessário. — Madson cruzou os braços. — Não aconteceu nada, eu só vim trazê-lo como combinado.
—O combinado era no começo da semana, você disse que precisava de mais alguns dias, e tudo bem, eu não vi problemas. Achei que fosse passar o natal na casa dos seus pais.
—Os aeroportos estão fechados em Nova York.
—E onde você vai passar o natal, Madson?
—Em casa, Lana, vendo série. Tenho comida, está tudo bem, você não precisa sentir pena de mim por isso.
—Pena? Madson, que tipo de cretina acha que sou? Anda, entre logo antes que congele.
—Você enlouqueceu?
—Ah, por favor. Kael vai passar o feriado todo preocupado contigo. Tem comida o suficiente para mais um aqui. Eu só vou pedir para você não fazer nenhum comentário estúpido e não tentar agarrar Laura, porque as famílias não sabem do caso de vocês e eu prefiro manter dessa forma.
—Lana, você tem certeza? — Laura questionou, tocando sua nuca.
—Você ficaria desconfortável? — Lana inclinou a cabeça para a olhar. — Em tê-la aqui para o natal.
—Não estou preocupada comigo, e sim com você. — Ela inclinou o rosto quando voltou a olhar para Madson. — Você pode ficar se quiser, Madson. É natal. Não vamos criar nenhum problema.
—Contanto que você não crie nenhum. — Lana sorriu, abrindo mais a porta. — Então? Você vem?
—Bem... — Madson suspirou e entrou, olhando entre elas. — Eu não quero criar problema nenhum.
—Ótimo, então estamos de acordo. Fique à vontade.
—Não que eu não agradeça seu espírito natalino, você sempre distribuía sopa para os desabrigados no natal em Nova York, mas depois de tudo... achei que você não fosse nunca mais olhar na minha cara.
—Eu ainda estou magoada com você, sim. Depois de tantos anos juntas e você usa Laura para me atingir. Mas... — Ela respirou fundo, segurando a mão de Laura, que envolveu seus dedos. — Eu cheguei à conclusão que não faz bem a ninguém manter rancor das pessoas, isso só pesa dentro de nós e eu não tenho espaço para isso. — Ela indicou as famílias que circulavam pela casa. — E eu ganhei muita coisa em troca por isso. Não estou arrependida.
—Você tem razão. Eu agradeço pelo convite, Lana, prometo não criar confusão. Aproveitando isso, será que podemos conversar um pouco?
—Claro. Deixe os sapatos e o casaco aí, eu te apresento a casa.
—Eu ligo para Daph então. — Laura se prontificou, inclinando-se para selar seus lábios, então olhou entre elas. — Me chame se precisar de algo.
—Não se preocupe. Eu volto logo.
Fim do capítulo
Faltam 2 :D
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