Quadragésimo quarto
Lana a levou até a cozinha, deixando que se servisse primeiro e verificando se Kael conseguiu fazer o chocolate quente sem problemas antes de começar o tour pela casa. Mostrou os cômodos inferiores, apresentando-a as famílias para que se sentisse confortável. Mostrou o jardim na parte detrás da casa, coberto em neve. Passaram pelo escritório de Iori, voltaram pela sala de jantar e subiram as escadas lado a lado, onde Lana mostrou o quarto de Kael, o seu e o que Daphne tinha ficado naquela semana.
—E aqui é o quarto de Mahina e Paco. Tivemos que reorganizar tudo para abrigar Paco, mas acho que está completo. — Ela andou pelo lugar, desviando dos brinquedos no chão. — Desculpa a bagunça, hoje não tivemos tempo de deixar tudo arrumado aqui em cima. Foi uma correria nessas últimas semanas, você não tem noção. Colocar os enfeites, fazer as compras, e ainda lidar com a adoção.
—Um quarto desarrumado foi o último dos seus problemas, eu entendi. — Madson riu, observando a mobília. — Mas ficou adorável, Lana. Vocês fizeram um lugar realmente aconchegante, consigo ver a cara de vocês em cada canto.
—Obrigada. Eu sei que fizemos a casa enquanto estávamos separadas de Laura, mas esse quarto fizemos questão que ela ajudasse a decorar. Ela é ótima com os arranjos infantis, eu nunca teria deixado tão bom assim sem a ajuda dela.
—Eu posso imaginar. Você nunca realmente decorou o quarto de Daph até ela crescer e começar a pedir as coisas.
—Sim, isso é verdade. Mesmo agora. Eu a deixo trazer o que quiser para o quarto de hóspedes para que ela se sinta à vontade quando vier passar as férias.
—Estou feliz que tenham recuperado o contato. Odiaria que Kristin tivesse conseguido estragar a relação de vocês.
—Eu tive esse medo também. Daphne mudou tanto e passou por tantas coisas que eu gostaria de ter evitado.
—Eu amo aquela garota também, eu queria que ela não tivesse passado por tanto nessa idade.
—O preço que pagamos pelas loucuras de Kristin. Eu só espero que dessa vez ela tenha aprendido e sossegado para dar o melhor a Daphne.
—Ao menos agora Daph parecia feliz quando nos falamos.
—Sim, ela parece mais feliz agora, mais leve. Ainda assim me culpo por não ter tomado a guarda dela desde o início para evitar que tudo isso acontecesse.
—Não tínhamos como imaginar que ela resolveria levar Daph embora no meio da noite.
—Não é como se eu não tivesse imaginado. Eu imaginei que no dia que eu perdesse a linha da paciência ela cometeria uma loucura assim.
—Não se coloque tanto peso nas costas. Já passou, e não é de você ficar se cobrando por algo que já foi.
—Sim, você tem razão. — Ela respirou fundo, cruzando os braços. — Sobre o que você queria falar, afinal? Ou era só uma desculpa para fugir do questionário do meu pai?
—Um pouco dos dois? — Ela riu constrangida. — Nunca me imaginei falando com seu pai, mas mesmo se tivesse feito isso, nunca imaginaria seu pai dessa forma. Tão... diferente da sua mãe.
—Eu também fiquei surpresa quando o encontrei. Mas eu me acostumei a ideia, com o jeito dele. Não vou dizer que estou completamente confortável, mas um dia de cada vez.
—Você está lidando com tudo muito melhor do que eu lidaria. Eu sei que você não gosta de guardar rancor, mesmo em nossas brigas você era sempre a primeira a deixar tudo para trás se eu concordasse que tínhamos aprendido com o que dissemos uma à outra. Mas perdoar o velho depois de desaparecer uma vida inteira?
—Eu cansei de julgá-lo. Eu não terei o pai que precisei durante toda a minha vida. Ele construiu uma vida longe de mim, e eu construí uma vida sem pai, sem mãe. Ele está arrependido, está morrendo, e eu não queria mais ter esse rancor dentro de mim sem ao menos tentar conviver com ele nos últimos dias.
—Ele está morrendo? — Madson estreitou os olhos. — Como assim? Ele está com alguma doença?
—Sim, está com tumor, tem pouco tempo.
—Oh... eu sinto muito Lana. Eu nem sei o que dizer.
—Não diga nada. Eu ainda estou absorvendo o fato de que terei pouco tempo no fim com ele. Não há nada que possamos fazer para mudar os fatos.
—Eu nem sei o que dizer agora, é algo tão terrível de se conviver. E eu passei todo aquele tempo achando que teria o tumor nas mamas, tirei as duas...
—Você só quis se precaver, e está tudo bem. Não tínhamos como imaginar. E mesmo assim, você tinha seus motivos. Estou feliz que você não tenha desenvolvido nada.
—Sim, eu também. Eu sempre achei que você não iria me olhar da mesma forma depois que tirei os seios, mas você não saiu de perto de mim nem por um dia.
—Morávamos na mesma casa, não tinha como isso acontecer.
—Idiota. — Madson revirou os olhos, ouvindo o riso dela em resposta.
—Qual é, você era minha esposa e eu sabia que precisava do meu apoio. Você fez tanto por mim quando eu me sentia a mulher mais horrível do mundo. O mínimo que eu podia fazer era mostrar que podia contar comigo para tudo.
—Sim, você tem razão, eu sempre soube disso. Sinto muito por ter tornado sua vida mais difícil nesses últimos anos. Eu não estava sendo eu mesma e sei disso.
—E o que vai fazer agora? — Lana a olhou, suspirando. — Já tivemos conversas semelhantes a essa e logo em seguida estamos nos odiando de novo.
—Eu sei. Mas sinceramente? Eu estou cansada, de toda a confusão, das discussões. De você. — Ela sorriu. — Eu sei que não vai querer ouvir isso, mas o tempo que estive com Laura me ajudou a enxergar as coisas de outra forma, e eu já não me sinto da mesma forma.
—Eu sei que vou me arrepender de perguntar, mas como ficar com minha mulher te ajudou?
—Não era sua mulher na época, vocês a afastaram, lembra? Éramos somente duas mulheres solteiras.
—Eu não quero saber dos detalhes, Madson, vocês não eram simples mulheres solteiras, vocês eram minhas ex’s mulheres, e isso deveria ter significado um limite para vocês. Não por mim, mas por vocês mesmas.
—Ainda assim significou algo bom meu relacionamento com Laura.
—Então foi mais que sex* afinal.
—Nunca foi só sex*.
—Madson, o que você quer? Estragar meu dia? — Perguntou com impaciência. — Por que trazer seu caso com ela à tona?
—Porque estar com Laura me fez olhar para frente, Lana, fez com que eu visse que você não era a única mulher na minha vida, que eu tinha outras oportunidades e não precisava mais me manter presa a ideia de ser a sua esposa. E eu sei que Laura percebeu a mesma coisa, ela não precisava mais de você ou de Iori. Por isso continuamos nos encontrando Lana, não seja ingênua.
—Acho que fui ingênua em achar que você viria aqui sem achar uma forma de provocar. — Lana respirou fundo, massageando a ponte do nariz.
—Eu sei que te incomoda ouvir isso, assim como eu sempre me incomodei de te ver ao lado delas. Mas entenda uma coisa, Lana. Eu escolhi seguir adiante. Mas não Laura. Essa visão de que não precisava de vocês e que poderia ter a qualquer uma, inclusive a mim, não a confortou da mesma forma. Pelo contrário.
—Laura sempre foi galinha, Madson. — Iori falou da porta, recostada no batente com os braços cruzados, surpreendendo a ambas. — Pode ter sido novidade para você a descoberta de que pode ter qualquer mulher se jogar as cartas certas, mas não para Laura. Ela sempre soube, sempre teve várias. Mesmo quando começamos a morar juntas, ela continuou tendo outras mulheres, mas não era mais da mesma forma, porque ela escolheu estar comigo, e as outras eram somente uma diversão que compartilhávamos.
—Sim, ela me falou a mesma coisa. — Madson suspirou, voltando a olhar para Lana. — Quando ela foi na academia naquela noite, para pedir que eu não criasse nenhuma situação desagradável, eu entendi que ela não queria todas as outras porque ela queria recuperar a família. E agora eu entendo o motivo. É reconfortante voltar para casa e ter alguém lá, cultivar os frutos de tudo que construiu. — Ela olhou para os berços. — Então não seja idiota em morrer de rancor ou de ciúmes pelo caso que tivemos, porque isso a fez acordar para a realidade que se não fosse atrás de vocês, ela nunca poderia estar nesse lugar. — Seus olhos vasculharam o rosto de Lana, que aguardavam, com paciência, que continuasse.
—Se esse é um raciocínio maluco seu para nos fazer te agradecer por ter aberto as pernas para Laura, eu acho que você enlouqueceu de vez, Madson. — Iori falou.
—Eu não estou dizendo isso.
—Não é o que parece.
—Eu só quero que entendam que Laura escolheu vocês mesmo que vocês tenham afastado ela de tudo isso aqui. Ela engoliu o orgulho e buscou mudar por causa de vocês, então espero que valorizem isso.
—Claro que valorizo, Madson. — Lana prendeu os dedos na cintura, olhando-a mais seriamente. — Laura teve toda a paciência e a coragem de vir aqui e tentar de novo, e todas nós estamos tentando acertar o que erramos da outra vez. Eu não quero Laura em outro lugar que não em nossa casa, em meus braços.
—Estou contente em saber disso. Laura é uma pessoa especial, vocês têm sorte de ter os sentimentos dela tão leais a vocês. — Ela sorriu e olhou para baixo. — Tudo isso me fez ver que eu estava só perdendo tempo esperando por alguém para começar uma família. Mas eu corrigi meu erro. Eu reduzi meu trabalho e fiz inseminação artificial para começar minha família.
—Você... Você está grávida? — Lana se surpreendeu, olhando sua barriga.
—Sim, eu recebi o resultado essa semana. Por isso queria mais tempo com Kael, eu queria que ele estivesse comigo quando eu recebesse o resultado. Ele tem estado tão animado com a chance de ter um sobrinho. — Ela riu, sentindo lágrimas nos olhos. — Mais um, não é?
—Oh, Madson. Parabéns! — Lana avançou e a abraçou sem hesitar, acariciando suas costas. — Você está sendo tão corajosa em fazer isso.
—Eu sei. E um pouco louca também. Digo... eu não vou poder amamentar, mas já estive me informando sobre isso, e tem doação de leite materno. — Ela se afastou para a olhar nos olhos. — Estive fazendo diversos exames, mas estou bem, e fértil. Agora é só cuidar dessa gravidez e desse bebê.
—Estou feliz por você, eu realmente estou. Qualquer coisa que você precisar é só me dizer. Por experiência própria, uma criança vai trazer diversos problemas na sua vida e uma carga imensa de responsabilidades, mas no fim do dia vale a pena todo o esforço quando você o vê seguro e contente.
—Nisso nós concordamos. — Iori entrou no quarto e parou ao lado delas. — Parabéns pelo bebê, mamãe. Eu reitero as palavras de Lana. Se precisar de algo eu esquecerei todo o passado e te ajudarei.
—Obrigada. — Ela pousou a mão sobre a barriga. — Ainda é uma coisa minúscula, mas eu já tenho tanta vontade de o conhecer fora da minha barriga.
—Eu sei como é. — Lana riu. — Quando você perceber, já vai estar com ele nos braços. O tempo passa rápido enquanto você aproveitar bem.
—E eu vou aproveitar cada momento. Mas foi pensando nisso que eu queria te fazer uma proposta.
—Não sendo para criarem esse filho juntas. — Iori falou com um pequeno sorriso.
—Não, não é isso. Mas você nunca foi na academia para encerrar o contrato com a Infinity, teoricamente você continua sendo minha sócia.
—Droga... eu nem pensei nisso. — Lana se surpreendeu.
—Bem, eu pensei. E eu sei, antes que diga, de novo, que não quer trabalhar comigo. Tudo bem. Podemos romper a sociedade e cada uma segue sua vida, você não precisará se preocupar com nada.
—Ou?
—Ou você continua sendo minha sócia, sem necessariamente precisar trabalhar diretamente comigo.
—E o que eu faria? Daria aulas?
—Não. Mas o fato é que preciso de você lá. Faz pouco tempo que fechamos o contrato com os espanhóis, eles te adoraram não importa o que você diga, e você sabe o quão delicado foi esse negócio. Preciso que continue em contato com eles, porque com eles pode vir mais pessoas interessadas em se associarem a academia.
—Você quer que ela lide com o patrocínio e a marca, que atraia mais público. — Iori definiu.
—Sim, Lana é boa nisso, ela trouxe muitos projetos para a Infinity, patrocínio e visibilidade. Eu posso oferecer estabilidade e liberdade para você criar o que quiser lá.
—Parece uma boa proposta. Você podia ter feito ela antes de eu decidir me desligar da Infinity, durante a reunião com Leon. — Lana falou ao inclinar a cabeça.
—Sim, eu poderia. Eu não tinha pensado nessa possibilidade naquela altura, mas eu tive para pensar depois que você simplesmente saiu e eu tive que lidar com suas turmas perguntando de você, os espanhóis atrás de você, e os professores principalmente. Eu tive que reorganizar tudo às pressas, buscando uma forma de equilibrar tudo. Tentei até achar alguém para contratar e ocupar suas funções, mas é tão difícil.
—Eu não queria ter saído daquele jeito, mas sabemos que eu não vou colocar os pés de novo lá, Madson. Eu queria poder te ajudar de alguma forma, a proposta teria sido ótima há alguns meses. Mas eu tenho outros planos agora. — Ela envolveu os ombros de Iori, acariciando seu braço. — Demos entrada num imóvel. Iori vai reformar, e eu vou começar minha academia de dança.
—Podemos continuar sócias na Infinity e você terá sua própria academia sem qualquer problema.
—Você está com medo de ter Lana como concorrência, não é? — Iori sorriu para ela, seguindo o raciocínio. — Sabe que ela tem influência nessa área e saberá como levantar o nome do próprio negócio.
—Sim, ela realmente tem esse conhecimento, não me culpe por querer manter alguém como Lana associada a Infinity.
—Eu não posso administrar dois lugares Madson. — Lana suspirou. — Eu já me esgotei na Infinity, estou há anos lá e nunca imaginei que sairia pelo mesmo motivo que entrei. Como você acha que nossa parceria daria certo depois de tudo?
—É diferente agora. Eu só quero que você fique na Infinity por causa do seu trabalho. E você sabe que não é simples colocar outra pessoa no seu lugar. Você e Leon são cabeças fundamentais na Infinity. Eu não vou conseguir diminuir o ritmo para passar por essa gravidez sem você lá. Só... pense nisso.
—Se eu aceitasse sua proposta e só cuidasse dessa parte dos negócios, como ficaria a relação da Infinity com a minha academia?
—Teríamos uma parceria é claro. Eu te patrocinaria, não é difícil imaginar, você sabe meus contatos, podíamos passar alunos entre nós. Eu te recomendaria a outros patrocinadores.
—E se ela não aceitar? — Iori ponderou.
—Ainda podíamos tentar uma parceria. Iria complicar minha vida na Infinity, mas é o mínimo que posso oferecer depois do seu trabalho nesses anos lá.
—Você sabe que se continuar deixando a Infinity no meu nome e algo acontecer comigo tudo vai para Sasaki, não é? — Lana questionou.
—Deus, Lana, mas que coisa horrível de se pensar.
—Estou sendo realista.
—Eu não me incomodo com Iori, está bem? Mas Deus, não diga isso de novo. Você sabe que é a única pessoa que eu confiaria Infinity, que saberia o que fazer com ela, ou acha que Leon saberia lidar com os negócios lá por muito tempo?
—Deus, não, não faça isso. Você jogaria tudo no lixo.
—Então estamos de acordo. — Ela riu, o clima pairando mais leve. — Nós duas temos filhos pequenos, pais velhos, ninguém para deixar os negócios. Você ao menos é casada. Stela infelizmente morreu. Você ainda é minha herdeira mais próxima até Kael completar a maioridade.
—Tudo bem. Eu não posso te dar uma resposta agora, de qualquer forma, preciso pensar mais, falar com Laura. — Ela virou o rosto para Iori, beijando sua testa. — Contigo. Então depois da passagem do ano eu te dou uma resposta, pode ser?
—Claro, parece justo.
—Ótimo. Vamos descer então, Laura deve estar enlouquecendo tendo que lidar com todos sozinha lá embaixo.
—Eu preciso te mostrar algo primeiro. — Iori falou ao segurar sua mão, ainda a olhá-la.
—Eu vou na frente então. — Madson disse, afastando-se para sair do quarto.
—Mostrar o que? Os presentes são depois da meia noite. — Lana perguntou, confusa.
—Você sempre foi ingênua assim? — Iori sorriu, prendendo os dedos na sua nuca e saltando para envolver as pernas na cintura dela. — Eu queria uns minutos a sós contigo.
—Sasaki... — Ela fechou os olhos quando sentiu o primeiro beijo no seu pescoço. — Estamos no quarto das crianças. É quase um pecado fazer isso aqui.
—Então acho que colocarei um pecado a mais na minha lista. — Iori selou seus lábios, mordendo e puxando o inferior. — Não vale a pena?
—Oh? Ir para o inferno porque satisfiz os desejos da minha esposa nas vésperas do natal? Claro que vale a pena. — Ela riu, conduzindo seus corpos até pressionar as costas de Iori na parede ao lado da porta. — Não me diga que você jogou jokenpô com Laura para subir atrás de mim. — Dessa vez foi ela a morder o lábio inferior dela e puxar, mas Iori prendeu os dedos em seus cabelos, direcionando sua cabeça para o seu pescoço.
—Você está falando demais. Eu devia ir atrás de Laura, ela fala menos e age mais.
—É assim? Você vai se arrepender de me provocar, sra. Sasaki.
—O que você-
Lana não deixou que continuasse falando, investiu em a manter ocupada enquanto trabalhava em seu corpo, deixando espaço somente para que pedisse por mais.
Mais tarde, Laura voltou da cidade trazendo junto não somente Daphne, mas Kristin e seu filho, Tony. Lana ficou chocada quando viu Kristin entrando na sala, carregando o filho adormecido nos braços. Ela a conduziu em direção as escadas para se afastarem do som das conversas das famílias, não querendo que a criança acordasse.
Kristin tinha os cabelos soltos e mais compridos, o rosto mais maduro e o corpo com maior volume, suas roupas não perdendo a elegância que Lana se lembrava de possuir. Ela olhava para Lana com alguma emoção, os olhos molhados com as lágrimas que já caiam, enquanto ela a olhava com algum receio, sem saber como reagir. Daphne olhou entre elas, estranhando o silêncio, enquanto Laura e Iori esperavam que dissessem algo.
—Eu quis fazer uma surpresa. — Daphne começou a se explicar. — Minha mãe queria ver você de novo, mas não sabíamos se você concordaria, então eu disse para virmos hoje porque toda a família estaria reunida, e no fundo nós ainda somos uma família, não é?
—Eu achei que éramos. — Lana falou sem tirar os olhos de Kristin. — Até você me ameaçar de ir presa se chegasse perto de novo. Foi o que veio fazer agora, Kristin?
—Não, claro que não. — Kristin falou com voz trêmula, recuando um passo. — Foi um erro vir aqui. Eu não devia ter vindo. — Ela se virou, mas Daphne a impediu de se afastar, colocando-se a sua frente. — Desculpa, querida, mas eu não consigo.
—Você me prometeu que ao menos tentaria conversar. — Daphne falou com súplica nos olhos. — Por favor mãe.
—Não é tão simples assim, Daph.
—Você só está sendo covarde de me enfrentar porque sabe que errou. — Lana falou do mesmo lugar. — Você me tirou a garota que eu dediquei a vida a cuidar. Que você falhou em cuidar. — Ela estreitou os olhos quando Kristin a olhou diante das acusações. — Meses sem saber o que realmente se passava com ela. Você me agrediu e quis que eu fosse presa por ter me defendido. Eu nunca vou te perdoar por isso Kristin. Você colocou o cara que conheceu por semanas na frente de nossa amizade e parceria e fugiu de casa como uma adolescente no meio da noite.
—Lana... — Laura a chamou uma vez, tocando seu ombro. — Se acalme, hoje não é dia para discussões. — Ela olhou para Daphne. — Eu disse que você devia ter falado com ela primeiro e não simplesmente aparecido. E não hoje.
—Eu não a trouxe aqui para vocês discutirem. — Daphne se colocou entre elas. — Eu queria que vocês voltassem a se falar. Vocês estão sempre perguntando uma sobre a outra para mim, eu achei que quisessem se resolver depois de tanto tempo. Qual é Lana, você não é capaz de tentar esquecer o que houve?
—Esquecer? — Lana estreitou os olhos para ela.
—Deixar para trás ao menos. Não vamos poder mudar o que aconteceu discutindo aqui. É natal! Devíamos reunir a família, e eu não poderia passar o natal longe de minha mãe, então achei que devia ao menos tentar fazer vocês se acertarem para podermos passar o natal juntas de novo.
—Por que não sentamos primeiro para conversar? — Iori sugeriu. — Kristin, colocamos as crianças para dormir agora pouco, você pode subir e deixar seu filho dormindo junto. Então vocês podem conversar. — Ela se virou para Lana quando percebeu que Kristin ainda olhava para ela, à espera de sua palavra final. — Lana? — Ela segurou seu rosto, acariciando suas bochechas para ter sua atenção. — Meu amor, Daphne e Laura tem razão, é natal, não é dia para discutir. Está começando a tempestade, temos espaço para todos aqui, temos comida para todos. Dê uma chance ao menos para essa conversa acontecer.
—Sasaki... — Ela respirou fundo, mirando a cor cinzenta dos seus olhos, incapaz de negar seu pedido, de forma que se viu movendo a cabeça de maneira positiva. — Tudo bem. Eu não vou mandar ninguém embora. — Ela levantou os olhos para Kristin. — Laura vai te mostrar o quarto, você pode usar o que precisar.
—Obrigada. — Kristin falou com sinceridade.
—E você fica aqui. — Lana falou para Daphne. — Teremos uma conversa.
Laura gesticulou para que Kristin a seguisse, ajudando com a bolsa do bebê e a mala dela enquanto subia a escada. Lana foi para a cozinha, ocupando-se por alguns minutos em checar a comida, ainda que soubesse que estava tudo pronto, sabia que precisava se acalmar primeiro. Quando Iori segurou sua mão, sentiu-se pacificar, olhando para ela em busca de suporte e o encontrando sem que precisassem falar nada.
—Olhe, eu admiro sua coragem de ter planejado tudo sem sabermos de nada, e aprecio seu desejo de manter a paz e harmonia entre nós. — Lana começou a falar, olhando para Daphne, que estava de braços cruzados apoiada na pia. — Mas a minha relação com a sua mãe está além dos seus poderes. Não depende do que você quer que aconteça aqui. Não, você não vai falar até eu terminar. — Ela pontuou quando a viu abrir a boca para protestar, esperando até que desistisse. — Você não devia ter trazido Kristin e seu irmão aqui sem me consultar primeiro. Eu quero que se sinta à vontade nessa casa, que saiba que pode convidar quem quiser quando estiver aqui, mas você passou dos limites quando achou que forçando essa conversa com a sua mãe resolveria as coisas.
—Kristin fez muita coisa que não deveria ter feito, Daph. — Iori falou em seguida. — Lana falou muito o que não deveria ter dito, especialmente por sua mãe estar grávida na época e não poder se estressar. Elas passaram dos limites na relação entre elas. Forçar um encontro após tanto tempo não iria garantir que elas se entendessem após tudo o que aconteceu.
—E eu sinto muito por te colocar na posição de achar que você quem deveria resolver esse problema. Sinto muito que tenha deixado chegar nesse ponto. — Lana se aproximou dela e segurou seu rosto, acariciando suas bochechas. — Você é especial para mim, Daphne. Eu quero o melhor para você. Quero sua felicidade acima de tudo.
—Você ao menos vai conversar com ela? — Perguntou mais baixo, afetada pelas palavras dela.
—Sim. Eu vou falar e vou escutar o que ela tem para dizer. Mas não prometo que isso vai resolver as coisas. Entenda que nada nunca será como antes.
—Sim... eu percebi isso. Eu só queria que ao menos vocês deixassem de se odiar. Você não odeia a tia Madson mesmo depois de tudo, não é?
—Não, não odeio. É diferente. Mas eu entendo seu ponto. Eu farei o possível, está bem? Te deixará feliz?
—Sim, é melhor que nada.
—Tudo bem.
Lana a abraçou e acariciou entre seus cabelos, momento que Kristin entrou na cozinha junto a Laura. Ela suspirou, soltando Daphne.
—Podem ir, nós conversaremos sozinhas.
—Na cozinha? — Laura questionou.
—Eu não vou matar ninguém no natal. — Falou na defensiva.
—Não soou nada convincente. Eu não quero energia carregada no meio da comida que iremos todos comer. Vão conversar na sala de jantar.
—Conversar, ouviu? — Iori pontuou, atraindo a expressão indignada de Lana. — Eu não quero saber de discussões hoje, então trate de se controlar. Pode fazer isso por mim?
—Está bem. — Lana suspirou, ainda que contrariada, antes de se voltar a Daphne. — Viu como é a vida de casada? Elas mandam na minha vida! Nunca se case, Daphne, nunca!
—Achei que eu quem estivesse no trono do drama. — Laura riu baixo, cruzando a cozinha e ficando atrás de Lana, pressionando as mãos nos seus ombros e a guiando para fora da cozinha. — Ande, resolva isso logo que eu vou esquentar a comida.
—Claro, claro. O que vocês não me pedem sorrindo que eu não faço chorando?
Laura somente voltou a rir, dando um tapa na sua bunda antes de se afastar, deixando que ela conduzisse Kristin para fora da cozinha, momento que Iori a abraçou, beijando seu queixo.
—Você tem o botão para acalmá-la. — Comentou, olhando em seus olhos cinzentos. — Não quer compartilhar o segredo?
—Eu já compartilho minha esposa, e você quer os segredos também? Não, não, trabalhe para conseguir.
—Está bem, posso trabalhar em algumas ideias...
—Eu estou bem aqui! — Daphne protestou, atraindo a risada de ambas.
—Adolescentes, se incomodam tão rápido com demonstração de afeto.
—Não é afeto, isso é ensaio para outras coisas! — Falou em tom acusativo.
—Ande, pare de reclamar e me ajude a organizar os pratos para servir. Ou ninguém terá ceia nesse natal!
Fim do capítulo
Já dá para odiar menos a Madson? hahahah
o próximo é o último :D
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Dolly Loca
Em: 22/07/2021
Não estou sabendo lidar com esse prenúncio do fim.
Tenho sentimentos ambíguos em relação à Madson, mas até que dá para passar a tolerá-la kkk
Sentindo falta de uma interação maior entre a Iori e a Laura, mas amando ver que elas e a Lana estão realmente conseguindo superar os problemas e viverem bem de novo.
Beijos
Resposta do autor:
Muitos capítulos e de repente tá no fim não é? Eu te entendo ahahah dá uma vontade de fazer a parte 2 kkkkk
Mas que bom que dá para tolerar a pobre Madson, momento de rendição :D
Corrido as coisas nesse natal, não é? Não tem tido tempo de ficarem essas duas juntas hehe
Obrigada por comentar :D
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