Quadragésimo primeiro
Iori chegou algum tempo depois, sorrindo quando viu Lana dormindo, então pegou um lanche na cozinha e subiu para o estúdio dela, dividindo o lanche com a filha. Ligou uma música e começou a se alongar, decidida a relembrar alguns passos. Ficou algum tempo a mover o corpo enquanto relembrava partes de coreografias, improvisando quando não sabia o resto. Entretida o suficiente para não notar o olhar de Lana em si por algum tempo. Lana se aproximou dela e a abraçou pelas costas, tomando-a em seus braços e dançando com ela pela pista, ouvindo o riso da filha, que dançava em seus próprios movimentos.
Ficaram dançando entre risos, aproveitando o passar das músicas e criando seus passos, divertindo-se com os gestos que faziam até a melodia se abrandar e elas dançarem juntas.
—Senti falta disso. — Iori falou, a cabeça deitada no peito de Lana, seus corpos movendo devagar. — Ficar perto de você, aproveitar nosso momento. Dançar contigo como fazíamos na academia.
—Eu adoro esses momentos. Temos o estúdio, vamos fazer isso mais vezes. Se não aqui, vamos jantar fora e dançar. Não quero deixar o tempo passar e me descuidar de você.
—Você não se descuidou um dia nesse ano. Mas eu concordo, devíamos fazer disso um hábito. — Sorriu quando a olhou. — Você é a melhor esposa que eu poderia ter.
—Eu posso dizer o mesmo.
—Melhor que Madson?
—Ela é a minha ex, lembra? E você não tem comparação, então não se compare a ela ou a ninguém. Você é única, e eu me casei contigo.
—Continue falando assim, e eu coloco outro bebê na sua barriga.
—Seria perfeito. Eu quero tanto te dar outro filho.
—E eu acompanharei cada etapa bem de perto dessa vez. — Sorriu. — Não quero perder nada.
—Eu sei, você sabe que não teve culpa em ter viajado na gravidez de Mahina. E ainda assim você esteve presente de todas as maneiras que conseguiu.
—Mas é diferente do que tocar, sentir sua barriga crescendo, te ajudar em tudo. E acima de tudo, estar contigo na hora do parto. Nenhum projeto e nenhum dinheiro comprariam esse momento.
—Eu sei que estará lá dessa vez. — Ela selou seus lábios e se afastou um pouco. — Enquanto isso você devia voltar ao trabalho. Se ocupar. Eu vou procurar trabalho assim que terminar esse ano e passar as festas.
—Mas eu quero estar aqui quando você precisar. Não quero que passe pelo tratamento sem apoio.
—E você está me apoiando, você acredita em mim e sei que estará comigo quando precisar. E você trabalha em casa, querida. Não vai estar tão longe.
—Tem certeza?
—Sim. Não íamos almoçar fora?
—Quase me esqueci. Vá se arrumar. Eu vou trocar Mahina.
Elas se prepararam para sair, revezando-se no banho e trocando de roupa até entrarem no táxi e seguirem para o centro comercial perto de casa. Almoçaram juntas e decidiram caminhar pelas ruas, Lana empurrava o carrinho de Mahina, enquanto Iori apontava os detalhes que gostava e odiava nos prédios.
—Estão vendendo. — Iori apontou um estúdio de ioga pelo qual passavam. — Não parece um lugar ruim. Tem boa localização. Uma reforma cairia muito bem.
—Amor, você não pode consertar todos os prédios que passarmos.
—Não todos. Só o que escolher.
—Eu?
—Sim. Eu disse que iria montar um lugar para você. Se não gostar do prédio posso começar do início.
—E como vou pagar pelos seus serviços?
—Você é minha esposa. Você já faz tudo por mim. Por que eu iria te cobrar?
—É seu trabalho, meu amor, custa seu tempo e seu dinheiro. E eu sei que um lugar desse iria custar muito. Então você não fará nada se não me deixar te pagar pelo seu trabalho.
—Bem... veja como um pagamento por todas as aulas particulares que me deu sem me cobrar nada. — Ela parou de andar para olhar o estúdio com maior atenção.
—É diferente, Sasaki. Era divertido e eu sempre via como um passatempo em comum para ficarmos juntas.
—Acha que não será divertido para mim te dar algo assim? É seu trabalho e sei que ama fazer isso. Eu não quero que fique infeliz em casa por causa de algo bobo.
—Não é bobo.
—Você conhece outra arquiteta que faria algo que realmente gostasse para poder trabalhar? — Ela se virou e sorriu de maneira convencida. — Qual é, deixe com que eu te dê um presente.
—Não é um simples presente.
—Qual é... Se você não pode me deixar te ajudar está me pedindo para te deixar infeliz.
—Apenas me escute. Estive pensando nisso. — Lana esperou que ela se aproximasse, então segurou sua mão e acariciou. — Eu quero que tenha seu nome. Quero que seja a minha sócia.
—Sua sócia? — Surpreendeu-se.
—Sua família ainda não tem negócios na dança, agora terá. Seria uma honra ter o nome da sua família em uma academia de dança. O que você acha?
—Claro, é claro que sim. Será uma honra para mim ser sua sócia.
Iori a abraçou por um longo instante, beijando sua bochecha em plena felicidade.
—Então eu confio em você para escolher um lugar. — Lana sorriu e beijou sua mão. — Eu ajudo com a parte interna e organização. Mas a localização eu não entendo nada.
—Deixa comigo essa parte então. Encontrarei um bom lugar perto de casa e deixaremos perfeito.
—Confio em você para isso.
—Será nossa academia, terá nosso nome.
—Filha? — Elas se viraram e se surpreenderam ao encontrar com Christian ao lado de Michael, lado a lado mais à frente. — Quem diria que eu te encontraria aqui de todos os lugares?
—Pai? O que faz aqui? — Sua desconfiança ficou clara.
—Acabamos de sair do hospital, decidimos esticar as pernas. — Michael quem respondeu. — Quem é essa criatura doce no carrinho? Não sabia que tinham uma filha!
—Eu sou avô? — Christian perguntou, emocionado enquanto olhava o carrinho.
—Tecnicamente sim. — Lana suspirou e avançou para impedir que Michael tocasse sua filha. — Ela está dormindo. Não a acorde.
—Abra uma exceção! É uma ocasião especial. Você não quer que seu pai conheça a neta?
—Hora conveniente para lembrar que tem uma filha e da possibilidade de ter uma neta. — Lana encarou ambos com seriedade, então focou no pai. — Achei que tivesse sido clara sobre não querer ver você. Não ache que forçando um encontro vai me fazer mudar de ideia.
—Como eu saberia que está nessa rua? Nesse exato momento? — Christian estreitou os olhos para ela, contrariado quando viu Iori baixar o visor da cadeirinha para cobrir o rosto da filha. — É minha neta, eu tenho o direito de a conhecer.
—Antes de ser sua neta ela é nossa filha. — Iori falou mais séria. — No seu lugar eu estaria mais preocupado em conhecer a própria filha antes de tentar chegar perto de minha filha.
—E como eu farei isso se você sequer responde minhas mensagens? — Christian encarou Lana. — Eu larguei tudo em Londres para te encontrar aqui.
—Eu não pedi que fizesse isso. Você veio porque quis. — Lana falou na defensiva. — E o que espera de mim afinal? Faz mais de vinte anos que era para ter me procurado. Não venha me falar de direitos porque você não tem nenhum.
—Ele ainda é o seu pai e você o deve respeito. — Michael pontuou.
—Então respeitem minha privacidade e minha família. Você conhecerá minha filha quando e onde eu decidir isso. Aqui não é o lugar para isso.
—Está tudo bem, ela tem razão Mich. — Christian tocou o ombro do parceiro, que o olhou com indignação. — Ela é mãe, só está protegendo a filha. Não vamos causar tumulto por isso. Não é como quero minha neta me conhecendo.
—Tudo bem. — Suspirou, colocando as mãos nos bolsos, encarando o casal com seriedade. — Mesmo não concordando.
—Não precisamos que concorde com nada. — Iori falou em tom mais seco. — No que diz respeito à minha filha eu não preciso que aceitem ou concordem, mas que tenham o mínimo de respeito. Christian, minha esposa tem os próprios problemas para lidar, espero que não se torne mais um com essa abordagem inapropriada.
—Abordagem inapropriada? Quem você acha que é para falar com ele assim? — Michael questionou enraivecido.
—Minha esposa. — Lana o encarou mais de perto. — Ela tem autoridade o suficiente para falar aqui por mim, mais que vocês. Então sugiro que se contenha e baixe o tom.
—Michael. — Christian segurou sua mão e o afastou. — Vamos embora. Já atraímos atenção demais, não é desse jeito que vamos resolver as coisas. Desculpe por tudo isso. — Ele se dirigiu ao casal, então encarou Lana. — Vamos embora na próxima semana, preparar a casa para o Natal. Me avise se quiser se encontrar comigo para conversarmos. Sabe meu número agora.
—Eu te deixarei saber. — Lana limitou-se a responder. — Até logo.
—Até breve, filha.
Elas voltaram para casa logo em seguida, Lana levou a filha para o quarto e a deixou dormindo no berço. Encontrou Iori no quarto, retirando as roupas no closet enquanto uma música instrumental ecoava mais baixo no ambiente. Retirou as próprias roupas e impediu que ela colocasse as dela, sem dizer nada escolheu as roupas dela e passou a vesti-la, ouvindo seu riso contente.
—Eu não sou sua filha, mas eu agradeço o gesto. Ainda que eu goste mais quando está tirando minha roupa, você faz o movimento reverso ser tão sexy igual.
—É? — Sorriu, sentando no seu colo e colocando o lenço em seu pescoço. — Laura também gostou de manhã.
—Agora você coloca as roupas ao invés de tirar? — Iori riu, cruzando os dedos em suas costas. — Eu não sei se aprovo essa mudança.
—Não me entenda errado. Estou colocando as roupas para vocês lembrarem que eu sou a única a conhecer cada parte do corpo de vocês e que pode tirar e colocar suas roupas sempre que quiserem. E eu gosto da sensação de vocês usarem o que eu faço vocês vestirem.
—Tão controladora. — Inclinou-se e beijou seu pescoço, apertando suas nádegas com um sorriso de lado. — Eu gosto quando fica possessiva mesmo sem qualquer necessidade. Eu tenho tudo o que preciso bem aqui. Não há nada com o que deva se preocupar.
—Eu sempre vou me preocupar. Não sou idiota a ponto de te tomar como garantida o resto da vida. Eu quero te conquistar todas as vezes que forem necessárias.
—E eu te conquisto do mesmo jeito? Porque você já é tudo o que quero, minha família. E eu não quero ser negligente contigo.
—Você é a minha família. E não se preocupe, eu te direi se não estiver contente com algo. — Ela envolveu os dedos em sua nuca, massageando seu couro.
—Então está feliz com Laura aqui?
—Sim, estou. Só está sendo mais difícil me adaptar com as mudanças dela, mas acho que faz parte. Estou entendendo melhor o que mudou nela e por que.
—Ela não mudou tanto assim. — Seus beijos subiram pelo pescoço dela e foram para o outro lado. — Está mais séria e responsável. Mas no fundo é a mesma. Está até mais divertida na cama.
—Isso eu não posso dizer. — Ela suspirou e fez Iori inclinar a cabeça, beijando seus lábios. — Ela está mais... cuidadosa comigo.
—Te deixar na mão não é ser cuidadosa.
—Acho que ela está com medo, eu não sei. Quer mostrar que não é a mesma e confesso que está com maior senso de responsabilidade. Antes ela fazia as coisas sem pensar, eu gostava disso nela. Me dava um ânimo e um tesão a mais.
—Eu não acho que isso tenha sumido. Ela tem sido mais ousada comigo da forma que eu a via ser contigo. Mas vamos concordar que essa impulsividade dela para sex* tenha sido o que mais te feriu no fim, não foi?
—Você acha que é por causa de Madson?
—Podemos dizer que seria no mínimo revoltante se víssemos Laura de mãos dadas com Madson vindo buscar Mahina aos finais de semana, não acha?
—Que visão do inferno.
—Você foi casada com Madson, esteve tempo suficiente com Laura, acha que isso não tinha chances de acontecer se tivéssemos recusado Laura?
—O que isso tem a ver comigo e Laura afinal? — Ela fez uma careta em pleno desgosto, saindo do colo dela e voltando ao closet, buscando roupas para si.
—Estou dizendo que Laura está evitando seguir o mesmo rumo de antes mesmo que não faça sentido o método. E acho que devíamos dar mais crédito aos esforços dela de melhorar nossa relação, porque também corremos o risco de Madson querer outra rodada com Lau.
—Laura te falou alguma coisa sobre Madson ir atrás dela?
—E precisa?
—Onde você quer chegar com isso? Não faz sentido nenhum colocar Madson no meio de minha relação com Laura. Estamos bem! — Falou com impaciência, nervosa com a recordação do envolvimento de Madson. — Eu só estou tentando entender como lidar com esse novo comportamento de Laura comigo. Só isso.
—E eu estou dizendo para ir com calma e não a cobrar tanto por causa de sex*. Não é como se eu deixasse te faltar qualquer coisa.
—Não me falta nada Iori. Por que está sendo tão idiota sobre isso?
—Idiota? — Iori se levantou e foi até o closet. — Você sabe que seria pior se não pensássemos nisso.
—Você pensa em Madson quando está com Laura?
—Claro que não.
—Então não espere que eu passe mais tempo pensando em Madson. Ou acha que me desliguei da academia por prazer?
—Você se desligou porque não aguentava lembrar que sua ex abriu as pernas para Laura uma dúzia de vezes.
—Você tinha que ser baixa a ponto de colocar as coisas assim.
—Diga que não é verdade então. Diz que não ia para a academia e lembrava exatamente disso quando via Madson.
—Qual o seu problema Iori? Está incomodada que saí da academia?
—Pelo contrário. Você sempre reclamou de Madson, o caso dela com Laura foi só o ápice que te fez sair de lá.
Lana a encarou com raiva, mas se esforçou para respirar fundo e focou em colocar as roupas a fim de ocupar as mãos.
—Sim, encarar Madson sabendo do caso delas dentro da academia foi demais para mim. — Falou com impaciência. — Como eu iria trabalhar lá sabendo disso? Acha que os professores da academia não sabiam? Eu fiz papel de idiota o tempo inteiro. Não tinha como ser profissional lá.
—E você não acha no mínimo estranho que seja contigo que Laura esteja estranha sobre sex*?
—Ah, claro. É totalmente minha culpa. Eu a incentivei a trans*r com minha ex mulher. Eu não a devia ter afastado de Mahina ou de você. Eu a empurrei para o meio das pernas de Madson.
—É o que você acha? — Iori se colocou à sua frente e a encarou de perto com indignação. — Você preferia ter casado com Laura e não comigo?
—Eu preferia que vocês nunca tivessem me feito me separar de uma de vocês! Eu devia ter ido embora com Mahina e deixado vocês se resolverem. Não foi o que acabou acontecendo?
—O que?! Acha que foi simples assim?
—Você sempre esperou que ela viesse atrás de você porque foi assim que sempre aconteceu. Mas eu a afastei e estraguei seus planos, não foi?
—Você enlouqueceu? — Seu corpo tensionou, afetada com as acusações.
—Estou maluca? Porque vocês sempre estiveram em boas relações apesar de tudo desde o início. E eu fui a maluca que afastou vocês.
—Eu não disse isso.
—Mas foi o que aconteceu. Eu sou a culpada. Eu sabia que devia ter me afastado. Não devia ter aceitado tudo isso. — Ela se afastou quando ouviu Mahina chorar pelo eletrônico ao lado da cama, mas Iori segurou seu braço e a manteve perto.
—Você se arrependeu de ter se casado comigo? Eu ter aceitado Laura de volta te incomoda agora? Porque é você quem está incomodada com a distância dela enquanto é a mim que ela procura.
—Por que se separou dela então?
—Eu não sei! Pareceu o certo a se fazer naquela época. Assim como é certo ter ela aqui agora.
—Eu que fui a idiota de ter aceito tudo. Eu nunca devia ter deixado vocês se afastarem e ter ficado com você quando sabia lá no fundo que vocês iriam voltar. Eu devia ter ido embora.
—Eu escolhi você Lana.
—Você me escolheu porque ela te deixou e você sabia que eu não ficaria com ela depois de ela ter te machucado. Como eu fui idiota.
—Isso não é verdade.
—Você é a culpada disso tudo. Você me tortura pensando que Madson teve um caso com Laura, mas é tudo sua culpa.
—Minha culpa? Eu não a empurrei para Madson.
—E eu fiz isso quando a afastei de nós não foi? Mas eu fiz isso depois que você a humilhou tanto que ela reagiu. E você não suportou isso. Você a fez vir atrás de você no fim. E para que Iori? Eu não vou ficar aqui e esperar tudo acontecer de novo. Não vou deixar você fazer isso comigo e com Laura.
—Onde você vai? — Sua voz tremulou com o nó que sentiu entalar e apertar sua garganta.
—Acalmar Mahina. Não venha atrás de mim. — Ela se afastou em direção à porta e parou quando a abriu. — Vou passar a noite fora daqui. Vai ser melhor assim.
—O que? Onde você vai? Enlouqueceu? Você não vai a lugar algum e não vai levar Mahina se for.
—Eu não vou ficar aqui essa noite e não vou sem Mahina. Eu aviso quando chegar lá.
Iori tentou impedir que fosse, protestou a todo momento até o táxi chegar e ela ser obrigada a ver Lana levar a filha embora. Não conseguiu aguentar mais as lágrimas e a frustação dar espaço a mágoa. Só conseguia chorar e ao mesmo tempo se culpar e ter raiva. Raiva de Lana em a ter acusado e acertado onde mais lhe doía, além de ter levado a filha para longe. E raiva de si mesma, por ter começado tudo aquilo e não impedido que fossem embora.
Laura chegou mais cedo naquela noite, e estranhou ao ver a casa em silêncio. Achou que tivessem saído conforme avançava os cômodos e não via ninguém. Checou o celular em busca de mensagens, mas também não havia nada. Não viu a filha no quarto e suspirou quando percebeu que a bolsa também não estava lá, tendo a certeza de que tinham saído. Ligou para Lana, mas ela não atendeu. Tentou Iori enquanto caminhava para o quarto, ouvindo a música tocar tão logo abriu a porta, encontrando-a deitada na cama.
—Querida? Está acordada? — Perguntou enquanto tirava o casaco e colocava na calçadeira junto à sua bolsa.
—Sim. — Sussurrou, fungando em seguida.
—Está gripada? — Estranhou, retirando as meias e desabotoando a camisa, olhando-a sobre o ombro. — Precisa que eu compre remédio?
—Não.
—Está tudo bem? — Ela estreitou os olhos quando a viu se encolher. — Iori? Aconteceu alguma coisa? Lana e Mah não estão em casa.
—Ela quis me humilhar indo para a casa de minha mãe.
—Lana a levou lá? Por que isso seria para te humilhar? Elas são próximas, Chieko deve ter pedido para ver Mah. — Ela retirou a camisa, então puxou a calça para baixo, respirando aliviada. — Ou aconteceu outra coisa?
—Não haja como se não soubesse. Claro que ela te ligou. Agora deve estar planejando o divórcio com minha mãe. Ela vai me deserdar agora.
—O que está falando? Eu não falo com Lana desde a hora do almoço. O que houve para achar que ela pediria divórcio?
Laura suspirou com a falta de resposta, mas resolveu esperar, colocando as roupas no cesto e buscando por outras mais quentes e confortáveis no closet. Tomou banho e se vestiu, Iori entrou no banheiro nesse meio tempo, limpando o rosto e prendendo os cabelos num coque de samurai. Laura a abraçou pelas costas e beijou sua bochecha, vendo seus olhos inchados e avermelhados pelo reflexo no espelho.
—Vamos buscá-las. — Falou mais baixo. — Eu não sei o que disseram a ponto de ela sair de casa, mas não é tarde para consertar. Vocês estavam bem, ela não vai pedir divórcio por causa de uma briga.
—Não foi assim que você se separou de mim?
—Não foi só uma briga. Mas o que disse a ela de tão grave?
—Não foi bem o que eu disse. Eu só... deixei que acreditasse que era culpa dela você estar distante da cama dela. Que ela te afastou por nada e você acabou na cama de Madson.
—Você me usou para a deixar insegura? — Ela se afastou e suspirou. — Por que você iria usar meu caso com a ex dela? O que estava pensando? Agora que eu estou conseguindo me aproximar dela, você faz isso?
—Ela me disse que devia ter ido embora com Mahina e nos deixado juntas. Que eu te queria e não a ela. Eu não podia aceitar isso.
—Então simplesmente a afasta? Você sabe que ela tinha razão. Você veio atrás de mim quando nos separamos, ela sabe disso.
—É diferente do que ouvir ela falando. É como se ela fosse se separar porque deixei que acreditasse que você não a queria mais, e sim a mim.
—Você é tão orgulhosa de aceitar que eu te recusei naquela época a ponto de usar o fato que pedi para voltar contra sua esposa?
—Ela não estava sendo justa. — Ela se virou e segurou o rosto de Laura. — Ela disse que é minha culpa que tenhamos nos separado. Que você está sendo idiota em a recusar.
—Quando vocês decidem discutir de verdade, vocês me usam como ataque?
—Eu usei. Desculpa. Ela só estava te defendendo no fim e eu queria ter razão. Ela me falou um monte de loucuras, eu tinha que me defender.
—Usando Madson?
—Não foi a melhor ideia.
—Lana saiu de casa com nossa filha, ruim ainda é eufemismo para a sua ideia.
—Eu não preciso de você para me julgar agora.
—Está bem, desculpa. — Ela suspirou e a abraçou, beijando sua cabeça. — Só... Não faça mais isso. Ela precisa do seu apoio. Eu já estou tendo dificuldade o suficiente de ficar bem com ela em todos os sentidos, não tente criar dúvidas sobre minha relação com ela porque você está insegura com nossa aproximação. Não é por causa dela que estou indo devagar, é por sua causa.
—Minha? — Ela franziu o cenho em confusão.
—Você sempre criou problemas para a minha aproximação com Lana. Eu não quero que você surte por eu estar próxima a ela de novo, especialmente porque vocês se casaram.
—Não faça isso por minha causa. Ela vai me odiar ainda mais. — Iori inclinou a cabeça e olhou em seus olhos castanhos. — Vocês acabaram se afastando por minha causa antes, sequer considere se segurar perto dela por mim. Ela até considerou se não teria sido melhor ter se casado contigo-
—Pare com isso. É passado. Vocês estavam nervosas. Podia ter sido pior, considerando que vocês têm uma criatividade para elevar o nível da discussão.
—Você tem razão. Eu devia ter me controlado. — Ela suspirou e se afastou, pressionando os dedos na cintura. — Minha mãe vai reclamar sobre eu ter deixado minha mulher sair de casa sem fazer nada para impedir.
—Você sentou e esperou Lana sair?
—Claro que não. Mas ela estava decidida a sair. Se eu a forçasse a ficar imaginei que fosse ser pior.
—Provavelmente. Mas ela já deve ter esfriado a cabeça. Podemos buscá-las e pedir uma pizza pelo caminho.
—Ela me mandou não ir atrás dela.
—É quando você vai mesmo assim.
—Não. Eu a conheço. Ela não vai querer falar comigo. É melhor deixar para amanhã.
—Isso ou você não quer enfrentar sua mãe indo buscar Lana. — Ela sorriu quando Iori a encarou. — É a verdade, mas não estou te julgando. Eu evito minha mãe há mais de um ano.
—Sinto muito.
—Não se preocupe. Eu vou ligar para Lana primeiro para saber como ela está. Tudo bem?
—Sim. Obrigada. — Ela se aproximou mais aliviada e selou seus lábios. — Farei uma massa rápida para o jantar.
Laura assentiu, esperando que ela saísse do quarto antes de ligar para Lana, sorrindo quando viu sobre a cama o porta-retrato que Lana tinha dado a Iori pelas bodas de papel. Lana não demorou muito para atender e isso a deixou aliviada.
—Cariño... Eu já sinto sua falta. Diz que vem se eu for te buscar agora mesmo.
—Consegui acalmar Mahina agora. Eu não vou acordá-la por nada, desculpa.
—Está tudo bem. Não custava tentar. Mas vou te buscar pela manhã.
—Não precisa se incomodar. Você trabalha amanhã. O motorista de Chieko me leva de volta mais tarde.
—Lana... — Ela suspirou, descontente. — O que ela te disse de tão grave para você sair de casa?
—Ela não te falou?
—Eu quero ouvir de você. Eu sou a psicóloga lembra? Preciso ouvir seu lado.
Lana suspirou, caminhou pelo quarto até a janela e abriu uma fresta, deixando o ar gelado entrar enquanto apreciava a vista da fonte no jardim de Chieko.
—Por que você não a aceitou de volta logo depois que nos separamos? — Perguntou em tom mais leve. — Você não teria ficado longe de Mahina por tanto tempo e não teria que passar por tudo para ela te aceitar de volta.
—Você teria casado com ela se eu tivesse aceitado voltar? E não, não foi por isso. Eu pensei em Mahina também, mas que tipo de mãe eu estaria sendo se eu não assumisse as consequências das minhas ações?
—Ela te queria mesmo depois da marca. Você não precisava ter pago nenhum preço que te impus.
—Mas você não me queria. E você estava certa em não querer. Eu cruzei um limite, errei muito. E graças a você pude amadurecer. Se tivesse voltado quando Iori pediu eu continuaria sendo a mesma inconsequente e despreocupada que você conheceu, e eu sentia que não podia mais ser assim.
—Você mudou realmente.
—Nem tanto. Eu continuo te querendo com a mesma intensidade desde que acordei ao seu lado pela primeira vez. A diferença é que sei o gosto amargo de te perder, e Iori não. Então não vamos dar esse gosto a ela, ela não suportaria.
—Ela tem a você agora.
—Ela me tinha por todos esses anos também, mas precisávamos de você para estarmos completas.
—E ainda precisam? Vocês estão juntas, conectadas como nunca deixaram de estar. Talvez devesse ter sido eu que deveria ter se afastado.
—É o que você quer? Quer se afastar de mim? — Seus olhos fecharam, temendo a resposta.
—Iori disse que foi minha culpa que você teve um caso com Madson, porque te afastei dela e de Mahina.
—Isso não é verdade.
—Então por que me sinto tão culpada assim mesmo? Se eu não tivesse te obrigado a ficar tão longe talvez você nunca tivesse olhado para ela. — Sua voz tremulou no fim, sem conseguir conter as lágrimas de caírem.
—Pare. Sequer considere em se achar culpada pelos meus erros. Iori é uma idiota por te fazer pensar nisso, eu não vou permitir que continue. Eu estou indo aí. Me espere.
—O que? Não. Eu não voltarei agora Laura.
—Então eu não voltarei também. Não vou ficar aqui te ouvindo chorar sem fazer nada. Eu irei aí. Você voltando ou não. Com Iori ou sem.
—Mas Laura-
—Me espere. Estou indo.
Ela desligou e caminhou para fora do quarto, descendo as escadas e encontrando Iori na cozinha, pegando ingredientes na geladeira.
—Eu estou indo até lá. Você foi longe demais em colocar a culpa nela sobre Madson.
—O que? — Iori se virou, surpresa com a súbita aparição. — Você vai lá atrás dela agora? Ela te pediu?
—Pelo contrário. Mas eu não me importo. Eu vou até lá porque não vou deixá-la achando que tem qualquer parcela de culpa pelo que fiz. E é bom que você escolha vir comigo ou aí sim vai dar motivos para a sua mãe te deserdar.
—Você não sabe o que está dizendo. Lana não me quer lá. — Ela se voltou a geladeira, tentando ignorar a própria frustração.
—E você vai sentar aqui e não fazer nada para trazer nossa mulher e nossa filha para casa? — Perguntou com impaciência. — É como vai cuidar de sua família? Afastar ambas para longe com medo de um olhar feio de Chieko?
—Minha mãe defende Lana com unhas e dentes. — Falou com ressentimento, voltando a olhar para ela, surpresa quando a viu pegar as chaves do carro e caminhar para o corredor que ligava a garagem. — Laura! Você não está pensando.
—E eu preciso pensar para buscar minha mulher e minha filha?
—Ela não vai me ouvir! — Protestou, indo atrás dela.
—Se você não tentar com certeza não. — Ela ligou as luzes na garagem e contornou o veículo, olhando para Iori do outro lado. — Olha, eu entendo que esteja magoada com o que ela te disse também. Desde que você voltou daquela viagem ao Japão eu sabia que você tinha mudado e que Lana era a escolhida para se casar. Você vai desistir de tudo por causa de uma briga? Tudo tem conserto, Iori, basta achar todos os pedaços para juntar. Então? Você vem ou não?
Fim do capítulo
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