Quadragésimo
—Como ele pode me procurar porque está morrendo após todo esse tempo? — Lana questionou com indignação. — Eu preferia que ele nunca tivesse me procurado.
—Eu sei que parece ruim agora e que você está magoada com ele, mas ainda é seu pai. — Laura buscou remediar a situação. — E ele estar buscando saber de você é algo positivo. E eu não estou dizendo para esquecer ou perdoar o abandono dele, mas ao menos você pode colocar um ponto final nessa história e decidir o que fazer de agora em diante.
—Eu sei que você tem razão...
—Mas você precisa de tempo para digerir tudo, não é? — Ela sorriu e beijou sua testa. — Não se preocupe, você não precisa fazer nada agora. Você já deu o passo mais importante e deixou que ele se explicasse, estou orgulhosa de você por isso.
—E olha quão bem eu me sai com isso. Ele deve achar que sou instável.
—Você não é instável. — Iori beijou seu ombro e ofereceu a xícara de chá que segurava. — Vai te ajudar a se acalmar.
Lana não reclamou, pegou a xícara e sentou no colo de Laura no sofá, sua cintura sendo envolvida. Iori sentou ao lado delas, sorrindo para Mahina quando correu em sua direção, pedindo colo.
—Ela parece melhor. — Lana comentou, recostando a cabeça sobre a de Laura. — De manhã estava tão derrubada e mole, achei que ficaria de cama o dia todo.
—Nossa filha é forte como um touro, e teimosa como vocês duas, nenhuma doença a derruba por muito tempo. — Laura sorriu com o olhar cortante que recebeu de Iori. — E Chieko a levou logo ao hospital. Mah foi muito bem amparada.
—Sua mãe deve estar irritada comigo por eu ter reclamado por ter demorado para ligar. — Lana mordeu o interior das bochechas. — Espero que ela ainda nos queira para o jantar lá.
—Ela sabia que fomos encontrar seu pai, eu expliquei para ela que não correu muito bem. — Laura moveu a mão em suas costas. — Nada para se preocupar. Já estamos na hora de ir?
—Sim. — Iori olhou o relógio no celular. — Vocês estão bem em jantar fora? Ainda posso ligar para a minha mãe e cancelar, ela vai entender, sem qualquer problema se quiserem continuar em casa.
—E desperdiçar a comida? Não, não. — Laura beijou o braço de Lana. — É o primeiro aniversário de vocês, se animem um pouco. Deixem os problemas para depois e comemorem. Vocês sobreviveram ao primeiro ano de casamento.
—E sobreviveremos a todos os que vierem. — Iori olhou para Lana. — Deixe-me colocar um sorriso nesse seu rosto, sim?
—Sasaki... — Lana bebeu mais um gole a do chá, analisando seu rosto antes de pousar a xícara na mesinha. — Eu te disse para não comprar nada.
—E eu ignorei a ideia maluca de não presentear minha esposa por ter sido tão maravilhosa comigo nesse ano. — Ela baixou os olhos para a filha no colo. — Você me deu o maior dos presentes, deixou que eu fosse mãe ao seu lado. E você continua do meu lado, sendo minha companheira para todos os momentos, pode me culpar por querer te agradar um pouco?
—Significa que eu serei obrigada a dar meu presente agora e não depois do jantar. — Lana sorriu, segurando seu rosto entre as mãos e se inclinando para a beijar. — Como se eu não soubesse que você teria algo planejado, eu resolvi me anteceder. Fique aqui.
Iori assentiu, vendo-a se levantar e então se afastar, subindo as escadas. Voltou a atenção para Laura, que sorriu sem dizer nada, inclinando-se e a beijando, afastando suas preocupações.
—Não se preocupe comigo. Eu tive um longo período para aceitar seu casamento, e estou feliz por vocês agora.
—Então não está nem um pouco chateada por eu ter casado com Lana e não com você após dez anos de nossa história?
—Por que você casaria comigo, Iori? Eu não era estável, eu sei disso agora. Quando comecei a morar sozinha, eu vi o quanto me apoiei na sua estabilidade e controle, vi o quanto deixei de depender de mim. — Ela deslizou os dedos pelos seus cabelos curtos, mantendo a atenção nos seus olhos cinzentos. — Você nunca me viu como esposa porque nunca agi como uma. E Lana nunca te deu qualquer dúvida, eu sei disso. Ela te dá suporte, vocês agem juntas sem precisarem falar nada.
—E não éramos assim também, Lau?
—Não. Vivíamos brigando no começo, tentando ter razão. Você e Lana sempre foram estáveis. Lana já foi casada, ela sabe o que esperar disso, então esteja alerta. Não fique acomodada como eu fiquei contigo. Ou eu roubarei sua esposa.
—Ameaças no meu aniversário de casamento? Controle-se. — Iori sorriu por um breve momento, levando a sério suas palavras. — Não seja uma idiota com ela. Ela precisa de você agora mais que nunca, eu preciso também. Então vamos tentar ser uma família primeiro, que tal?
—Acho um bom plano.
—Ruflem os tambores. — Lana falou enquanto descia as escadas. — Estou chegando!
Laura se inclinou na beira do sofá e bateu as mãos na mesinha de madeira ao lado do sofá, enquanto Lana se aproximava e pulava o sofá com uma embalagem colorida em mãos.
—Então meu presente já é perfeito. — Iori falou, tocando seu rosto e acariciando com maior afeição, vendo-a corar.
—É? Então eu nem vou te dar. — Ela a provocou.
—Abra logo, eu quero ver! — Laura pegou a filha no colo.
—Você só quer me fazer pedir. — Iori riu. — Eu quero seu presente. Mostre.
—Já que insiste. Eu comprei há um mês. — Lana retirou uma caixa quadrada de dentro da sacola. — Quando eu vi eu soube que seria teu.
—Foi o que pensei quando conheci você, então você está provavelmente certa.
Lana riu, abrindo a caixa. Dentro havia um porta-retrato com a foto do casamento, ambas se olhando de perto e colocando as alianças. A moldura era de ouro com relevos nas bordas, que faziam curvas como chamas dançando numa vela.
—Esse foi um acréscimo, porque queria que saboreasse as coisas que mais gosta.
Ela retirou o quadro, e logo abaixo havia uma garrafa menor de saquê ao lado de vários doces gourmet internacionais. Iori moveu o dedo pela foto no retrato, relembrando o momento marcado ali, sorriu contente e emocionada, inclinando-se para apoiar a testa na dela.
—Eu te amo. — Falou mais baixo, não sem menor intensidade.
—E eu me casaria contigo de novo e de novo. Você me deu uma família, algo pelo que acordar todos os dias. E eu não trocaria o que temos por nada.
—Nem eu.
Iori a beijou, aprofundando o beijo por alguns meros segundos para selar o momento e expressar o quanto tinha gostado antes de se afastar, sorrindo quando viu Laura colocar a cabeça no ombro de Lana para olhar os presentes.
—Eu gostei da foto, mas eu vou poder comer um? — Ela sorriu abertamente, fazendo ambas rirem.
—Claro, claro que vai. — Iori estendeu a caixa. — Mas o saquê é meu.
—E qual a novidade? Ao menos eu sei qual o presente que vai dar a Lana.
—Você sabe? — Lana ergueu as sobrancelhas em surpresa. — Isso não é justo.
—Eu precisei da ajuda dela para finalizar seu presente, então tecnicamente é nosso presente. — Iori retirou uma caixinha menor do bolso da jaqueta, abrindo em frente ao rosto de Lana. — Você tirou essa foto nossa há pouco tempo, lembra?
—Claro que sim. Foi a primeira foto juntas desde que Laura voltou. — Ela sorriu, movendo o dedo pelo relicário aberto, que mostrava a foto de Laura e Iori beijando cada lado da bochecha de Mahina, que sorria. — É tão lindo, Sasaki.
—Para que você saiba que estaremos contigo onde quer que esteja. Então quando não se sentisse bem ou precise de algo para animar seu dia... Você saiba exatamente para onde voltar.
O relicário era um coração verdadeiro, com ventrículos e músculos marcados pela prata escurecida. Laura colocou o colar no pescoço de Lana, oferecendo um beijo sobre sua veia enquanto envolvia sua cintura e pressionava seus corpos.
—Vocês são a minha família. — Iori falou. — E eu amo vocês três.
—Eu sabia que esse era o lugar que eu tinha que estar. — Laura falou. — O lugar que não quero sair nunca mais.
—Eu gosto do som disso. — Lana apoiou o corpo no dela, estendendo a mão para trás e envolvendo os dedos nos seus cabelos. — Eu não te quero indo a lugar algum.
—Então estamos de acordo. — Iori concordou. — Podemos ir agora?
Elas foram para a garagem e Iori conduziu o carro, buscando por Alex primeiro antes de seguirem para a casa de Chieko. Comemoraram as bodas de papel com a comida tradicional japonesa e com uma batalha de karaokê em seguida.
Após alguns dias Iori acordou cedo para levar a filha ao médico em uma consulta regular, seguindo com a rotina matinal, agradecendo quando desceu e viu Lana com o café da manhã pronto a sua espera.
—Vá se trocar, não quero chegar atrasada por causa do trânsito. — Falou enquanto comia e servia a filha ao lado na cadeira alta.
—Tudo bem se eu não for contigo? — Lana indagou, sentada ao lado da filha e acariciando seus cabelos.
—Por que? Não está se sentindo bem? — Estranhou, virando o rosto para a olhar.
—Estou bem. Mahina está bem, se recuperou bem. Você não deve precisar de mim lá.
—Não é questão de precisar, mas você nunca quis perder uma consulta dela. Você tem algum outro compromisso?
—Não, amor, não tenho. — Ela a olhou de volta. — É um problema se eu não for? Se ela estivesse doente ou fosse período de vacinas claro que iria.
—Não há qualquer problema. Você já foi sozinha algumas vezes também. — Ela voltou a comer. — Quer tentar outra chance com Laura sozinha? — Perguntou lentamente.
—O que? Não.
—Eu entenderia se fosse por isso. Ela disse que você ficou frustrada por ter sido recusada.
—Fiquei, não é usual de Laura recusar sex*, mas acho que várias coisas mudaram em relação a ela nesse ano. De qualquer forma não é por isso, foi uma surpresa desagradável, e eu não tentaria de novo. — Ela se levantou e acariciou a nuca de Iori. — Tudo bem se não quer ir sozinha. Eu vou me trocar rápido e já te encontro de novo, tudo bem?
—Eu posso ir sozinha, só é estranho que queira ficar.
—Não se preocupe. Irei contigo. — Ela beijou sua cabeça e se afastou. — Já volto.
—Não, espere. — Iori saiu da cadeira e segurou seu braço, colocando-se a sua frente e segurando seu rosto em mãos, analisando-a com mais calma. — Você não dormiu muito essa noite, não é?
—E quando dormi sonhei que eu batia o carro de novo. Depois não consegui mais fechar os olhos.
—Você sonhou com isso mais vezes?
—Algumas. É como se revivesse meu acidente de novo e de novo. — Ela suspirou, conformada. — Não se preocupe. Laura disse que estou fazendo tudo certo. A análise, o remédio, os exercícios também ajudam. Em algum momento surtirá efeito.
—Você não sente nada diferente fazendo tudo isso? Alguma melhora?
—Eu não sei. Não sou a melhor paciente falando sobre minha mãe e essa parte do meu passado. August diz que tenho muita resistência para abordar o assunto, e eu sei que é a parte mais importante para falar, mas as palavras não saem quando estou lá. Sinto que estou me boicotando sempre que saio de lá.
—Não é sua culpa.
—Eu sei, só... As vezes sinto que é minha culpa. O acidente, minha mãe nunca ter me perdoado.
—Você era jovem, meu amor, e sua mãe não deveria ter castigado você por uma vida inteira por causa de um erro. Não carregue esse peso pelo resto da vida como ela.
—Estou tentando.
—E estou orgulhosa de você por isso. — Ela sorriu e envolveu os dedos em sua nuca. — Fique em casa e tente dormir um pouco. Quando voltar quero dar uma volta contigo e Mahina.
—Uma volta?
—Sim. Vamos ao centro comercial, almoçar fora, respirar um pouco.
—Podemos fazer um piquenique no parque também.
—Não, eu quero que relaxe e não passe seu tempo cozinhando. Iremos caminhar, o táxi nos deixa perto, então não ficaremos tanto tempo no carro. — Ela selou seus lábios, contente em não receber recusas. — Eu sei que está desconfortável em andar dentro de um carro, então tudo bem não ir na consulta de Mahina.
—Está tão óbvio?
—Eu te conheço. Vi que ficou inquieta quando fomos a casa de minha mãe no nosso aniversário. Não precisa ter vergonha de me falar essas coisas, eu vou entender.
—Só é desconfortável, meu amor. Eu não gosto de relembrar coisas desagradáveis quando queria que focássemos em nosso momento.
—Você pode me dizer qualquer coisa quando precisar. Eu não quero que esteja desconfortável em qualquer compromisso que tivermos.
—Tudo bem, eu vou tentar ser mais direta quando essas coisas estiverem acontecendo.
—É tudo o que peço. Agora tente descansar um pouco, e me ligue se precisar de qualquer coisa.
—Eu vou tentar. Obrigada por ter paciência.
—Não precisa me agradecer, que tipo de esposa eu seria se não buscasse entender pelo que está passando?
Lana sorriu, abraçando sua cintura e a beijando, aprofundando o beijo e movendo sua língua sem pressa, buscando mostrar sua afeição. Iori aproveitou o momento, então distribuiu alguns beijos pelo seu rosto, contente em ver seu sorriso mais leve.
—Eu vou colocar Mahina no carro para você, está bem?
—Obrigada. Eu vou pegar as bolsas.
Lana limpou a filha e a levou para a garagem, fazendo sons com a boca para a manter distraída enquanto a prendia na cadeirinha. Colocou um brinquedo em suas mãos, vendo-a se entreter enquanto colocava a cadeirinha no bagageiro. Iori colocou a bolsa em frente ao banco no chão, então se despediu de Lana e foi embora.
Lana suspirou quando entrou de volta na casa, sem sentir sono o suficiente que a encorajasse a dormir de novo. Sabia que Laura iria acordar logo, então reuniu mais alimentos e colocou na bandeja, indo ao jardim e pegando uma flor, colocando no centro da bandeja. Subiu as escadas sem pressa, equilibrando a bandeja e então entrando no quarto com cuidado. Deixou a bandeja na calçadeira, então engatinhou pelo colchão e sorriu para o rosto adormecido de Laura, afastando seus cabelos e acariciando sua bochecha. Inclinou-se e beijou seus lábios, movendo a boca para traçar beijos pelo seu maxilar e sua bochecha.
Laura sorriu quando abriu os olhos e a reconheceu, espreguiçando-se ao esticar os braços e esfregar os olhos. Lana acariciou seu rosto outra vez, esperando que ela despertasse em definitivo.
—Bom dia, cariño. — Laura falou num sussurro em espanhol.
—Bom dia. — Lana retribuiu ao idioma. — Dormiu bem?
—Sim, me sinto bem disposta agora. E você?
—Não muito, tive o mesmo sonho e não consegui fechar os olhos de novo. Mas está tudo bem, dormi por mais tempo que ontem.
—Sinto muito, queria que fizesse efeito mais rápido, mas vai depender do seu organismo agora.
—Não se preocupe, eu sei.
—Que horas são? Eu perdi o alarme?
—Não. Você não o colocou ontem, e como eu levantaria antes por causa da consulta de Mahina, achei melhor ser eu a te acordar que o celular.
—Oh, definitivamente melhor. — Ela sorriu e inclinou o rosto para beijar sua mão, então se sentou na cama, voltando a se alongar. — Você não vai se atrasar para a consulta?
—Não, Iori foi sozinha. É só uma consulta de rotina, então decidi ficar. — Ela suspirou. — E ficar longe do carro, não ia ser de muita ajuda para Iori em ficar ansiosa por causa do carro. Ela entendeu, mas eu odeio perder uma consulta de Hina.
—Te incomoda muito ficar no carro mesmo sem estar na direção?
—Sim, eu me sinto mal por não ter o controle do volante, porque continuo prestando atenção no trânsito e não posso fazer nada. Mas não quero falar sobe isso agora. — Ela se virou e indicou a bandeja, inclinando-se para pegar a flor que tinha colhido e dar a ela. — Eu trouxe para você.
—Oh... café na cama? — Sorriu, surpresa, aspirando o cheiro da flor.
—Sim. Achei que pudesse aproveitar para comer contigo mais cedo, sem pressa ou a correria de cuidar de Mahina.
—Não deveria ser eu a tentar te agradar depois de ontem?
—O que? Não. — Lana a olhou. — Está tudo bem. Desculpa por reagir como uma criança. Eu só quero passar um tempo contigo antes de você ir trabalhar, se estiver tudo bem.
—Claro que está tudo bem. Obrigada, cariño. Eu só vou no banheiro jogar água na cara e já volto.
—Tudo bem, não demore ou vai esfriar.
Laura beijou sua bochecha e saiu da cama, indo para o banheiro. Lana pegou a bandeja e colocou sobre o colchão, esperando Laura voltar e colocando em seu colo, mais desperta e com maior disposição
—Você chegou exausta ontem, não foi?
—Sim, eu tentei esperar acordada por vocês, mas acabei pegando no sono, desculpa.
—Não se preocupe. É bom que descanse. Eu acabei atendendo seu celular. Você esqueceu de tirar do silencioso e eu vi que era Fernando. Achei que pudesse ser importante, desculpa.
—Está tudo bem, você pode atender. Ele disse o que queria?
—Não. Falou que não era nada com seus pais e que Cláudia estava bem. Mas pediu que você ligasse quando pudesse porque tinha algo para te pedir. Eu acho que ele está na cidade. — Ela suspirou. — Tinha pessoas ao redor e falavam inglês.
—Eu ligarei para ele quando estiver indo trabalhar. Espero que esteja tudo bem.
—Ele só parecia meio aflito. Perguntou se tínhamos voltado mesmo e quis saber de Mahina.
—Oh, então vocês conversaram. Como ele reagiu quando disse que estávamos juntas?
—Não reagiu, porque eu não disse que estávamos. — Seus ombros caíram quando Laura lhe ergueu as sobrancelhas. — Eu não sabia até que ponto você queria falar para a sua família sobre nós, e eu não queria discutir com o seu irmão outra vez. Então só disse que você tinha pego no sono enquanto brincava com Mahina.
—Tudo bem. Todos já sabem porque eu disse a Cláudia, e sei que ela espalhou a notícia. Não se preocupe com eles.
—É a sua família, queria que após todo esse tempo tivessem superado as diferenças. — Ela suspirou, limpando os cantos dos lábios de Laura após ela terminar de comer uma torrada. — Eles nunca conheceram Mahina afinal, não queria que ela crescesse com as famílias divididas.
—Eu também não. Mas eu só deixarei que conheçam Mah quando disserem de verdade que aceitam nossa união e que mostrem respeito por vocês duas. Eu os amo, mas vocês são minha família agora, e não estamos fazendo nada de errado.
—E nós achamos que seria a família de Sasaki quem criaria problemas com nosso relacionamento.
—Eles te adotaram. — Laura sorriu, pausando para beber café. — O mínimo que vocês merecem é o respeito da minha família, porque eu amo vocês. E fico feliz que Chieko tenha sido tão amistosa contigo.
—Eu também. — Sorriu, bebendo um pouco do suco. — Mahina sempre será a primeira neta, então sempre terá aquela admiração a mais.
—Não, acho que é além disso. Chieko realmente preza por você e iria admirar qualquer criança que você concebesse. Eu queria que minha mãe fosse assim, mas no fundo eu sei que é como as coisas devem ser. Não depende só de mim agora.
—Bem... sua mãe está deixando de lado a melhor filha que poderia ter.
—Não deixe Cláudia te ouvir falando isso.
—Estou falando a verdade. Você nunca fez nada de tão grave para merecer esse afastamento dela. De nenhum deles.
—Eles sabem que machuquei Iori. Isso não conta ao meu favor.
—Isso foi a sua pior idiotice, mas você se redimiu por isso. E sei que não deixará acontecer de novo.
—Não, não deixarei.
—Eu sei. — Sorriu, inclinando-se e selando seus lábios. — Todas aprendemos uma lição, e eu me sinto melhor por você estar aqui outra vez.
—Eu também. — Laura acariciou seu rosto e a beijou outra vez. — Estive pensando em deixar meu apartamento para alugar. Mudar minha correspondência para cá de uma vez.
—Sério? Isso seria maravilhoso, Laura. Finalmente te ter morando aqui de maneira definitiva.
—É mais longe do meu trabalho, mas é mais perto de nossa filha, de vocês. E eu não quero deixar qualquer dúvida na cabeça de vocês sobre eu estar inteira aqui.
—Estou feliz por você ter chego nessa conclusão. Sasaki também ficará feliz quando souber.
—Então eu atingi meu objetivo.
—Você pode usar o carro para ir ao trabalho, ao invés de ficar pedindo por táxi toda vez.
—Eu não sei. Fica mais prático em caso de vocês precisarem ir a algum lugar.
—Isso não é um problema. Chieko mora perto, antes de Sasaki comprar esse carro ela vinha nos socorrer. E você economiza o dinheiro da gasolina e do motorista. Seria mais seguro também já que você dirige tão bem.
—Está bem! — Laura riu e afastou a bandeja, puxando-a pela cintura e a obtendo perto, sentindo-a subir em seu colo e retribuir ao abraço. — Se fizerem questão e se não for um problema, tudo bem por mim. Eu... — Sorriu, afundando o rosto no pescoço de Lana, que acariciava seus cabelos. — Eu não achei que tinha grandes chances com vocês, mesmo quando me deram a chance e eu passei a dormir aqui. Achei que fosse mudar de ideia a qualquer instante.
—Eu?
—Sim. Iori conseguia falar comigo normalmente por todo esse tempo que estivemos separadas mesmo que eu a tenha machucado. Mas não você. Eu te magoei porque machuquei Iori, eu tinha certeza de que você nunca iria me perdoar, porque eu nunca pensei duas vezes em afastar todos que fizeram mal a Iori.
—Talvez tenha razão. Eu não achava que conseguiria voltar a te ver como antes porque algo em mim se quebrou quando vi aquela marca em Iori, quando vi a dor dela. — Ela respirou fundo, afundando os dedos nas mechas dela. — E eu nunca vou te ver da mesma forma, porque as coisas mudaram, você mudou. Chieko me fez entender que eu não deveria tentar recuperar o que tinha sido perdido, mas que deveria buscar construir algo novo. Só assim me senti livre para tentar de verdade. E eu acabei me surpreendendo porque é tão bom estar perto de você outra vez. Tem um gosto diferente agora.
—Estou feliz que goste de estar perto de mim sem medo que vá fazer algo para te machucar. Ou que ache que me deixando perto vai me fazer machucar Iori outra vez. Eu só tenho minha palavra-
—E para mim basta. — Lana sorriu, beijando o topo de sua cabeça. — Eu confio em você. — Ela segurou o rosto dela e olhou em seus olhos. — Vá tomar banho e eu pego suas roupas. Não quero que se atrase para o trabalho.
—Agora que eu queria ficar bem aqui?
—Sim, ou vai se atrasar.
Lana saiu do seu colo e a olhou enquanto retirava as roupas e jogava em sua direção, piscando-lhe o olho antes de entrar no banheiro. Escolheu as roupas que Laura tinha deixado no closet, então a ajudou a se vestir quando terminou o banho. Fechou o zíper da calça de sarja preta, fechou os botões da camisa social branca e ajeitou o colarinho antes de colocar o casaco longo.
—Obrigada. — Laura falou, olhando em seus olhos enquanto Lana passava maquiagem em seu rosto.
—Por nada.
—Não, eu falo sério. Obrigada por tudo isso, o café, a conversa, as roupas. Eu realmente gostei de passar esse tempo contigo.
—Que bom que gostou. Senti falta de estar esse tempo a sós contigo.
—Então não há nenhum ressentimento sobre ontem?
—Por que está insistindo nisso? Você não queria trans*r de manhã comigo. E foi só isso.
—Talvez porque eu tenha te visto realmente chateada sobre isso.
—Porque não foi a primeira vez que me recusou. Então cheguei à conclusão de que é melhor não tomar nenhuma iniciativa contigo da próxima vez.
—Não diga isso.
—Está tudo bem se simplesmente me disser que não me acha mais atrativa como antes. Podemos lidar com isso. Mas eu não vou lidar com a próxima recusa tão cedo. Não faz nada bem para a minha autoestima.
—Ei, pare. — Laura segurou seus pulsos e a olhou mais séria.
—Você vai se atrasar, logo o carro chega e eu não terminei seu rosto.
—Temos algum tempo. E eu não quero minha mulher achando que não é atraente porque eu sou uma idiota.
—Você não é idiota. As coisas só não são como antes, e tudo bem.
—Não porque não te acho atraente.
—Então por que nunca recusou Sasaki? Eu não me importo que tenham o momento de vocês, você sabe disso. Mas me incomoda que não tenhamos mais nenhum momento a sós nesse sentido.
—Eu sinto muito por isso, cariño.
—Eu também. — Ela suspirou, tendo os braços libertos, então voltou a tarefa de a maquiar.
—Você é linda, Lana. É sexy, sensual, gostosa. Atrai atenção onde quer que vá. E eu me sinto sortuda por ter você e Iori na minha cama. É a verdade. — Afirmou quando a viu estreitar os olhos. — Sim, seu corpo mudou após ter um bebê, mas isso não te torna menos atraente, pelo contrário. Te deixou mais madura e decidida na cama, você sabe exatamente o que quer e como quer, e eu te admiro por isso.
—Então o que há de errado? Ou estive escalando as coisas e não há nada acontecendo?
—Você não está escalando, porque o erro foi meu por não ter sido mais clara contigo.
—Clara sobre o que? Você se aposentou Dra. Caliente? — Ela sorriu para a provocar, Laura soltou um risinho.
—Não, não me aposentei. Mas confesso que diminui meu ritmo, e contigo é diferente a forma como eu me sinto. Você é a mãe de minha filha, e eu quero cuidar de você como você merece.
—Então agora você é baunilha comigo porque eu dei à luz a nossa filha?
—Eu devia ter cuidado melhor de você durante a gravidez, é o que estou querendo dizer. Agora eu posso cuidar.
—Eu não estou grávida, Laura.
—Mas eu quero cuidar de você mesmo assim. Eu não quero sex* rápido ou em lugares exóticos contigo. Eu quero realmente aproveitar isso. Mas eu sei que com Mahina não teremos muito tempo ou disposição como antes.
—Então com Sasaki você consegue ter o sex* rápido e ousado, mas está me punindo por ter ficado grávida?
—Eu não estou te punindo, não diga isso. Jamais faria isso para te magoar.
—Mas é como eu me sinto agora. Você não consegue trans*r comigo porque sou mãe, porque estive grávida. Eu não sou nenhuma santa por causa disso, Laura, e não vou quebrar se você me tocar. Já fizemos tantas loucuras juntas, eu não quero que isso sejam só lembranças.
—Não podemos mais fazer essas loucuras, você sabe disso. Temos Mahina, os trabalhos. E logo você engravidará de novo, pode me culpar por ter cautela?
—Você não pensa em ter cautela com Sasaki quando escuto vocês pela casa.
—Pare de se comparar com Iori. São situações diferentes.
Lana suspirou, pegando o batom na tonalidade da cor da pele de Laura e passando em seus lábios, buscando manter a calma diante do silêncio tenso no ambiente. Afastou-se sem falar nada, guardando a maquiagem e entregando o batom para Laura, que segurou sua cintura, puxando-a gentilmente para si até que ela se sentasse no seu colo na beira da cama.
—Sinto que estamos voltando ao mesmo impasse que tivemos durante a gravidez. — Lana falou mais baixo, apoiando as mãos nos ombros dela.
—É diferente.
—Nem tanto, se você não consegue ser íntima comigo mais.
—Isso não é verdade. Eu só quero ter mais cuidado contigo, quero te dar mais atenção. Você merece isso mais que um sex* rápido antes do trabalho. Podemos concordar que é melhor o resultado, não acha?
—Sim, claro que é. — Sorriu, apoiando suas testas. — Mas vamos concordar que você não tem a mesma oferta de horas vagas como eu estou esbanjando agora.
—Eu vou dar um jeito nisso tudo bem? Estive pegando horas extras no hospital para mobiliar o apartamento, mas vou parar com elas. Hoje eu volto para casa no horário regular, então terei mais tempo para você.
—Não vai te prejudicar no hospital parar com as horas extras?
—Não. Eu posso fazer ainda, mas não todo dia ou aos finais de semana. Então estarei mais disponível para vocês. — Ela selou seus lábios. — Para você.
—Tudo bem, fico aliviada em saber o que esteve havendo na sua cabeça. — Ela suspirou quando ouviu a buzina do lado de fora. — Eu vou ser mais paciente, você me deixou mal-acostumada em sempre ter sex* contigo. Vou esperar pelos seus sinais.
—Eu gosto quando você tem a iniciativa, não pare com isso.
—É?
—Claro. Enche meu ego que esteja procurando a mim e não a sua esposa.
—Sua idiota. — Lana riu, apertando sua costela e a fazendo rir também, só então saindo do seu colo. — Eu te levo até a porta, antes que o motorista desista de você.
Laura pegou sua bolsa e seguiu Lana pela casa enquanto segurava sua mão, deixando que abrisse a porta e a levasse até a porta do táxi. Então segurou seu rosto e a encheu de beijos, ouvindo seu riso enquanto tinha a pele toda marcada com o seu batom.
—Tente descansar um pouco, sim? — Pediu a olhar o azul dos seus olhos.
—Eu vou tentar. Tenha um bom dia de trabalho.
—Obrigada. Até mais tarde.
Lana selou seus lábios e abriu a porta do táxi, acenando quando o motorista a levou, suspirando quando se viu sozinha em casa. Colocou a louça para lavar na máquina e deitou no sofá, cobrindo-se e ligando a lareira, deixando a TV ligada num documentário sobre a selva, distraindo-a o suficiente até dormir.
Fim do capítulo
Voltei com mais um capítulo (menor) :) faltam mais 5 capítulos :D
Sobre essa cena com a Laura, quero dizer que foi uma das que mais gostei de escrever de toda a história, se não a que mais gostei. Eu sei que a maioria de vocês gostam da Laura e da relação dela com a Lana, mas eu já tinha a história pronta quando comecei a postar, haha então não tenho as mesmas preferências, mas é uma cena que achei necessária no processo de escrever. Então espero que aproveitem e aprofundem-se nesse momento.
E até o próximo o não esqueçam de deixar sua marca nos comentários nos últimos capítulos :)
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