A Última Rosa -- Capítulo 48

Maicon reduziu a velocidade e parou o carro na beira da estrada. Fez sinal para um homem em um trator e se aproximou sorrindo. 

-- Como chego à Prince 22? -- perguntou Maicon.

-- Siga para o Norte por cinco milhas. Não tem como errar. É uma mansão à beira mar, um lugar lindo.

-- O senhor conhece os moradores? -- Foi difícil segurar a curiosidade.

--Tem negócios com a dona Jessica? -- indagou o homem, notando a aparência desleixada do rapaz. Ele achou melhor não comentar mais nada

já que não tinha certeza se podia confiar. 

-- Não com a Jessica. Tenho negócios a tratar com a Maya.

-- Hum, não conheço essa Maya -- naquele momento a curiosidade passou para o agricultor, que o observou com maior atenção -- Tem muita gente naquela casa, mas nenhuma Maya.

Maicon tirou uma foto amarrotada do bolso da camisa e entregou ao homem.

-- E essa mulher?

O agricultor olhou para ele desconfiado. Depois, olhou para a foto.

-- Não sei dizer. Tem tanta mulher morando com a dona Jessica que fica difícil da gente dar essa informação.

Frustrado, Maicon enfiou a foto no bolso e suspirou bem fundo. Alguma coisa lhe dizia que o homem estava mentindo.

-- Mesmo assim, obrigado pela atenção -- ele disse e voltou para o Creta Hyundai branco -- Caipira dos infernos!

Pepe e Wancleyson caminhavam a passos largos em direção às grandes portas do posto de combustível.

-- Porque a chefe mandou a gente aqui?

-- Porque quase todo mundo em uma cidade pequena acaba indo pelo menos uma vez ao posto para abastecer o carro.

Wancleyson empurrou a porta giratória de vidro e a segurou para que Pepe entrasse, também. 

Um rapaz calvo sentado atrás de um balcão comprido levantou a cabeça assim que eles entraram.

-- Esse deve ser o cara que a Jessica disse para procurarmos -- Pepe foi na direção do rapaz, e sorriu quando ele parou o que estava fazendo e se levantou, solicito.

-- Posso ajudá-los?

-- Sim, estamos procurando por Marcos.

-- Sou eu mesmo.

-- Muito prazer, sou o Pepe e esse é o... meu segurança.

-- Muito prazer. A Jéssica disse que viriam.

-- Então, imagino que ela já falou para você desse cara. Viu ele por aqui? -- assim dizendo, pegou uma foto do bolso de trás da calça e mostrou para o rapaz. Marcos analisou por um segundo, franzindo a testa em concentração. 

-- Não, talvez. Sim, sim, acho que ele pode ter estado aqui.

-- Você não faz ideia de como ajudou a gente Marcos -- ironizou Pepe.

-- Ah, eu tenho as gravações da câmera de segurança, não sei se o cara aparece nas imagens, mas podem levar -- ele colocou a mão nas costas de Pepe, e o conduziu para a porta e para a rua -- Lamento não poder ajudar mais -- disse Marcos, entregando um Pen drive com a cópia das imagens da câmera. 

-- O que faremos agora? -- perguntou Wancleyson, enquanto caminhavam em direção à praça.

-- Sugiro darmos uma volta pela cidade, procurando por ele, e talvez parar para perguntar se alguma pessoa o viu. Se nada acontecer, poderemos voltar para a frente da prefeitura e esperar pela Jessica.

Jessica sentia o estômago apertado e não conseguia parar de se mexer no assento. 

-- Acha mesmo que a Augusta pode estar morta?

Nilson balançou a cabeça exageradamente.

-- Estamos trabalhando com todas as  possibilidades. 

-- Caramba, essa cidade está mais violenta que Nova Iorque.

-- Não exagera. Estamos lidando com um visitante indigesto, um bandido perigoso que está na cidade com um objetivo definido. O povo daqui é pacifico. 

Jessica engoliu em seco. Nisso ele tinha razão.

-- Alguma pista?

-- Sobre o criminoso? Ainda não.

-- E sobre a Augusta? -- Nilson entregou-lhe uma caneca de café bem forte e quente.

-- Encontramos o carro dela abandonado na praia do Mamão, em uma ruazinha de terra, atrás do hotel Fresno.

-- Hum, sinistro.

-- Muito sinistro -- Nilson tomou um grande gole do café e recostou-se em sua cadeira -- Pelo menos nesse mês o governo mandou um café melhor.

-- Me sinto bem mais animada com isso, delegado.

-- Não seja tão mau humorada, Jessica. Pelo menos o seu caso está parado. O detetive está em busca de novas evidências. E agora que a principal testemunha está desaparecida, o caso ficou ainda mais complicado.

 

 

Pepe e Wancleyson ficaram percorrendo o centro da cidade na meia hora seguinte, subindo e descendo cada rua, e procurando por qualquer pista que levasse à Maicon. Pararam diversas vezes para olhar de perto os homens que viam nas calçadas, e mais ainda para entrar em pequenas lojas, a fim de exibir a foto dele e perguntar se alguém o viu recentemente. A frustração começou a dominá-los, porém Pepe lutou contra a sensação, lembrando-se de que encontrar o criminoso era a única forma de inocentar Jessica.

-- Vamos sentar no banco da praça e descansar um pouquinho.

Pepe sentou-se ao lado de uma moça.

-- Oi.

A moça levantou a cabeça, desconfiada. 

-- Oi. 

-- Eu sou o Pepe. Vem sempre aqui?

-- Quase sempre -- ela respondeu.

-- Qual é o seu nome, linda?

-- Olivia.

-- Que legal, então, pode me chamar de Pepeye. Kkkk, essa foi boa, né Olivia?

Olivia permaneceu séria.

-- Então tá! Olha, estou fazendo uma pesquisa. Vou criar um grupo no Whats e quero ideias para o nome. Mas tem algumas regras.

-- Quais?

-- O mínimo de sugestões é um e o máximo é mil.

-- Ah tá.

-- Meu grupo por enquanto tem seis participantes -- Pepe se aproximou e cochichou ao ouvido dela -- É fechado, secretíssimo. 

-- Eu tenho alguns nomes.

-- Legal! Anota aí...ajudante -- pediu Pepe. 

-- Como é o nome dele?

-- Não vou falar o nome dele pra não ser desrespeitoso com você, porque, minha querida, é um palavrão -- respondeu cruzando as pernas -- Eu tenho um amigo que se chama Ulisses Santos Barbosa, ele entrou para o exército e agora todos o chamam de Cabo USB.

-- Posso falar? -- perguntou Olivia.

-- Fala.

-- Orquídea selvagem e seus cavaleiros, os quatro cavaleiros do apocalipse, trio calafrio, ou Dartanhã e três mosquitos, os Panquecas!

-- Gostei desse nome, orquídea e os cavaleiros de quatro.

-- Eu não gostei.

Pepe se levantou.

-- Você não acha nada -- ele se virou para Olivia -- Obrigada linda, suas sugestões estão anotadas. Vamos Wan.

Pepe deu alguns passos e se virou para Wancleyson.

-- Eu conheço um cara que se chama Deyde.

-- Esse nome é legal.

-- Deyde Costa. 

Quando Jessica chegou na praça os rapazes já a esperavam.

-- Então, conseguiram algo?

-- Sim, chefe.

-- Hoje de manhã o cara alugou outro carro, um Creta Hyundai branco PLR3D97.

-- Bom trabalho rapazes!

-- E tem mais, dona Jessica. Encontramos esse recibo de compra no porta luvas do outro carro usado por ele.

Jessica pegou o papel e leu-o rapidamente.

-- Lanchonete Pan, aqui diz que essa lanchonete fica na Praia do Mamão! -- Jessica vibrou, tudo começava a se encaixar -- Assim que o Pepe voltar, vamos atrás do marginal -- ela olhou a hora no visor do celular e suspirou fundo -- Onde esses dois se meteram. Porque o Pepe não responde as minhas mensagens?

Pepe viu três moças sentadas em um banco próximo ao chafariz e caminhou até elas.

-- Oi.

-- Oi -- elas responderam.

-- Me chamo Pepe e estou fazendo uma pesquisa. Vou criar um grupo no Whats e quero ideias para o nome. Vocês podem me ajudar?

-- Sim, claro -- elas responderam.

-- Com licença -- Pepe sentou-se entre elas -- Como se chamam?

-- Eu sou a patty-321.

-- Menina! Eu já conheci gente que identifica o filho como número um; número dois; número três..., mas de 321 é a primeira vez, amiga -- Pepe deu um tapinha no joelho dela -- Mas me diga a sua sugestão.

-- Os indomáveis.

-- Hum, que forte! E você, como se chama?

-- NovaAqui.

-- Sério? Que bom, seja bem vinda à Hills, mas como se chama?

-- Já disse, NovaAqui.

Pepe olhou para Wancleyson que sacudiu os ombros.

-- Sei lá, depois que eu conheci a Diva Ginaberta, não duvido de mais nada.

-- A minha sugestão é os capangas.

-- Ah, é legal, mas não combina com a minha beleza, com o meu charme e a minha gostosura. Tem que ser algo que falou, pá, já lembrou do Pepe. 

-- Pepezudo!

-- O que você falou, baixinha?

-- O meu nome é Mille, acho que Pepezudo combina com a sua arrogância.

-- Aí simmmm... Magnífico! Pepezudo!!! Que dezzz...

-- Acho que a dona Jessica vai odiar.

-- O grupo é meu, eu que criei e sou o único administrador, portanto, vai ser Pepezudo e ponto final. Falando nisso, vou mandar um Whats agora mesmo para ela -- ele disse, levantando-se e começando a criar o grupo -- Obrigado lindas, a gente se vê por aí -- ele se virou para Wancleyson -- Simpáticas, né.

-- Muito.

 

O aviso de mensagem tocou nos celulares quase ao mesmo tempo.

-- Convite para um grupo.

-- Deve ser o Pepe -- disse Capone.

-- Grupo Pepezudo? Mas que abusado! -- logo em seguida ela digitou: Volta logo para o carro, temos uma boa pista sobre o paradeiro do Maicon.

Maicon parou o carro na esquina. Ele desceu e, disfarçadamente, olhou em volta, como se quisesse estudar o local. Checou sua arma e encostou-se contra a porta do carro. Não podia entrar na propriedade de qualquer jeito, não sabia ao certo quantas pessoas estavam na mansão. 

-- Não tem problema, Maya. Tenho todo o tempo do mundo, uma hora você vai ter que sair da sua toca.

Jessica examinava a área, virando a cabeça de um lado para o outro, quando algo chamou sua atenção.

-- Pare o carro! 

Capone pisou no freio, e só depois que o carro parou com um som estridente, Jessica olhou pela janela.

-- O que foi? -- perguntou Pepe -- O que você viu?

-- Não tenho certeza, mas -- ela olhou para Capone -- Acho que a lanchonete Pan fica naquela rua.

-- Vamos voltar -- disse o rapaz. 

A lanchonete ficava a dois quarteirões do hotel. À medida que se aproximavam e paravam em uma área reservada junto à calçada, Jessica ficava mais apreensiva.

Assim que Capone desligou o motor, ela se desprendeu do cinto de segurança e desceu às pressas.

-- Jacaré vem comigo, os demais fiquem aqui.

-- Porque ela nunca me chama para ir com ela? -- perguntou Wancleyson, assim que Jessica desceu do carro.

-- Com certeza por causa do seu nome -- respondeu Pepe -- Você acha que ela vai dizer: Wancleyson venha comigo. Claro que não.

Michelle foi até a janela, abrindo um pouco a cortina e olhando para fora, piscando os olhos frente ao brilho do sol. Precisava sair um pouco. Não podia passar o dia inteiro enfurnada dentro de casa. Acabaria doente.

Perdida em divagações, abriu o imenso guarda-roupa e correu os olhos, distraída, por entre os vários biquínis.

Tentou concentrar-se no que estava fazendo e, finalmente, escolheu um que lhe assentava muito bem e realçava a cor de seus olhos. Ela estava consciente de que precisava tomar cuidado e ficar em alerta, porém, acreditava que a possibilidade de Maicon estar em Prince, era muito pequena.

-- Onde pensa que vai?

Michelle levou um susto, e colocou a mão no peito.

-- Jesus!

-- Não envolva Jesus nisso. A Jéssica pediu que você só saísse de casa com ela ou com um dos rapazes.

-- Não se preocupe, Val. Eu sei do perigo que estou correndo -- Michelle pegou o biquíni e entrou no banheiro -- Vou ficar na piscina.

-- Hum, menos mal.

-- Porque não vem comigo? -- Michelle saiu do banheiro vestida com uma bermuda jeans e uma camiseta por cima do biquíni -- Vamos, o dia está lindo.

A chef pensou um pouco enquanto atravessava o quarto para abrir a porta.

-- Tá bom, sua doida. Vai indo, daqui a pouco te encontro lá.

 

 

Fim do capítulo