Capitulo 47
A Última Rosa -- Capítulo 47
Achou que poderia realmente controlar o destino? Que importância tinha ser herdeira de um império? Sua trajetória lutadora fez com que acreditasse ter o dom de controlar tudo. Precisou da morte de Marcela para lembrar-se de que dinheiro nenhum do mundo protege uma pessoa de seu destino. Tomada pela enorme frustração, Jessica sentou-se na cama. Desânimo, sentimento nada familiar ou bem-vindo, a invadiu.
Amaldiçoando a própria fraqueza, fechou os olhos e pressionou os dedos ao longo do nariz, como se pudesse conter o sofrimento.
Tia Inês nunca se deixava abater. Ela era a força, a rocha em que se amparam. Se ela partisse, tudo iria por água abaixo.
-- O que está acontecendo Mi? Depois da morte da Marcela parece que o universo está de complô contra todos os nossos planos.
-- Se tudo que vem fazendo tem dado errado? Por que não tenta o oposto? Parece óbvio, mas se as coisas estão dando errado é porque você não optou pelo rumo certo. Que tal começar sendo mais positiva?!
-- Como posso ser positiva se tudo está ruim?
-- Não percebe que suas energias depressivas acabam atraindo sempre o pior. Esse sentimento de vingança, de ódio, de descrença, está atraindo espíritos ruins.
-- Não tenho culpa se não acredito em Espíritos.
-- Não estou pedindo que acredite, estou pedindo que consulte sua consciência, pois é através dela que Deus fala diretamente contigo, e certamente te chegará às respostas que tanto necessita para sair dessa fase ruim -- Michelle suspirou fundo, decidiu que não insistiria mais com Jessica. Certas coisas se sentem com o coração, encontrar Deus é uma questão de consciência de que ele está perto e em algum momento Jessica vai perceber isso. Então, mudou de assunto -- Eu penso que a fdp da Augusta pode ter fugido.
-- Porque? -- Jessica cruzou os braços.
Michelle sentou-se ao lado dela e a estudou por um momento, antes de falar devagar:
-- Tenho de contar-lhe uma coisa muito séria sobre a Marcela.
Pepe parou diante do primeiro homem da fila e olhou-o de cima a baixo.
-- Hum, que músculos! Qual o seu nome querido?
-- Pablo -- respondeu o rapaz.
-- Que lindo! Pabllo Vittar?
-- Não! Pablo Escobar.
Pepe fez uma careta.
-- Sem graça! -- seguiu para o próximo -- E você, gatão. Qual o seu nome?
-- Capone.
-- Porque todo jagunço tem que ter nome de bandido? Ah, cansei! Não quero mais saber o nome de ninguém -- surtou -- Tem algum Jack Estripador aí? Não? Menos mal. Não quero que o Capone e o Pablo amanheçam picadinhos.
-- Ei, meu nome é Wancleyson -- disse o rapaz do final da fila.
Pepe revirou os olhos.
-- Vamos pular essa etapa.
-- Não gostou do meu nome?
-- Não é isso, meu amor. Minha preocupação é estar em uma situação de vida ou morte e ter que gritar: Socorro Wancleyson!
Como se estivesse em transe, com os olhos fixos na parede branca, Jessica não disse uma palavra sequer. Ouviu tudo o que Michelle falava com uma expressão de abatimento e frustração.
-- Sinto muito, amor -- Michelle encerrou a narrativa, com o corpo tenso ao relembrar os momentos de terror que passou por causa de Marcela e Augusta.
-- Você devia ter me contado -- disse Jessica, depois de algum tempo.
-- Eu sei, mas como podia imaginar que tudo isso aconteceria? As coisas foram acontecendo como uma avalanche que foi arrastando tudo pela frente sem tempo para nada.
-- Fala a verdade, foi você quem deu um sumiço na doutora -- brincou Jessica.
Elas riram.
-- Não diga isso nem brincando. Estou tentando lembrar se não falei alguma coisa comprometedora perto da secretária. Aquela secretária do capeta pode muito bem querer colocar no meu.
-- Vamos ser otimistas -- Jessica se levantou e foi até a janela -- Não é isso que você está pregando ultimamente?
-- É assim que se fala, amor -- Michelle se aproximou sorrindo e abraçou-a por trás -- O que você tanto olha?
-- Veja você mesma -- Jessica apontou para o jardim.
-- O que aqueles homens fazem correndo ao redor do jardim?
-- Não sei porque eu ainda delego trabalhos ao Pepe. Eu só pedi para ele receber os rapazes.
-- Coitados, agora estão fazendo abdominais.
Com um balançar de cabeça, Jessica se afastou. Sua mente voltou a se encher com as revelações feitas por Michelle.
-- Como pude ser enganada por tanto tempo? Me sinto uma boboca -- lamentou inconformada -- Provavelmente a Marcela e a Augusta se divertiram muito às minhas custas.
-- Olha meu amor, acho bem provável -- Michelle aproximou-se da noiva com um sorriso reconfortante -- Mas, não se sinta mal por isso, veja onde Marcela está agora.
Michelle não viu que uma mulher, no canto do quarto a observava com ódio.
-- Você jamais será feliz com a Jessica. Eu não permitirei. Jessica me pertence, ela é minha, só minha.
Michelle sentiu uma leve tontura.
-- Eu hem, do nada fiquei tonta -- ela sentou-se na cama.
Jessica aproximou-se dela com um sorriso ansioso.
-- Ai meu Deus! Não me assuste, Mi.
Michelle sorriu.
-- Não se preocupe. Só preciso comer alguma coisa.
-- Eu vou até a cozinha e peço para a Valquíria preparar algo para você comer. Não quero mais ninguém ficando doente nessa casa -- ela assoprou um beijo e saiu.
Michelle balançou a cabeça, sorrindo. Jessica parecia bem melhor, voltou a sorrir, a fazer brincadeiras. Isso era muito animador. Feliz, ela pegou o celular e foi sentar-se na poltrona próxima à janela. Lá fora, Pepe continuava a comandar os exercícios.
-- Esse cara não existe.
O espírito aproximou-se dela, dizendo ao seu ouvido:
-- Você não pode me ver, mas eu estou aqui. Você não vai ser feliz com a Jessica, eu não a deixarei em paz.
Michelle sentiu um arrepio percorrer seu corpo, do topo da cabeça aos dedos dos pés.
-- Ui, que coisa estranha! -- ficando de pé, Michelle abraçou o próprio corpo, como se estivesse se defendendo de algo ruim. A porta do quarto foi aberta e Valquíria entrou carregando uma bandeja.
-- A Jéssica pediu que eu trouxesse um lanche bem reforçado, então, trouxe patê, torrada, pãozinho, suco de laranja e café.
-- Que exagero. Só queria um suco.
Valquíria colocou a bandeja sobre a mesinha e sentou-se na cama.
-- Come logo e não reclame.
-- Fazer o que! -- ela arrastou a poltrona para perto da mesa e sentou-se -- Soube o que aconteceu com a doutora?
-- Menina, que loucura! Ainda bem que ninguém ouviu a sua conversa com ela.
-- Estava com tanta raiva naquele dia que nem lembro o que falei pra ela -- Michelle pegou um pedaço de pão e o colocou na boca -- Mas sabe o que eu acho?
Valquíria se inclinou para frente, muito interessada.
-- O que?
-- Aquela safada fugiu para não ter que mudar o depoimento.
-- Será?
-- É a minha opinião -- tomou um gole do suco de laranja e olhou demoradamente para a amiga -- Você acredita em vida após a morte?
Valquíria fez um trejeito com a boca.
-- Diante de certos fatos, muitas vezes me perguntei o que há depois da morte. Será o fim de tudo, ou a vida continua em outra dimensão do universo?
-- Encontrou alguma resposta?
-- Às vezes penso que morrer é o fim de tudo, outras vezes que não. Sei lá, sou muito inconstante no que penso.
-- O que está acontecendo com a gente me dá a sensação de que devo estudar mais a fundo esse assunto.
-- Você está se referindo aos espíritos?
-- Sim, eu nunca acreditei na comunicação dos espíritos, mas a dona Inês refere-se a eles com tanta naturalidade que estou disposta a pesquisar.
-- Dona Inês é muito sensível. Ela tem mediunidade.
-- Eu já disse isso a Jéssica, mas ela não acredita.
-- O que não é de se estranhar, esse assunto é muito controverso.
-- É -- Michelle olhou pela janela aberta e admirou o céu. Era uma pena ficar trancada em casa, com um dia lindo daqueles -- O que você acha de darmos uma volta pela praia?
-- Não acho uma boa ideia, Mi. E se esse louco estiver pelas redondezas, só a espera de uma oportunidade?
-- Você está certa -- disse Michelle, deixando o passeio de lado -- Vamos jogar canastra.
Valquíria esperneou.
-- Pelo amor de Deus, Michelle. Que programa horrível!
-- Vamos sim, e não reclama.
Jessica apoiou a xícara no pires e levantou-se. Com a coluna ereta e os ombros aprumados, era o próprio perfil da poderosa chefona ao apanhar a chave do carro.
Michelle e Valquíria acompanharam ela até o carro.
--Toma cuidado Jess.
O conselho carinhoso acalmou o coração de Jessica que deu um beijo apaixonado na boca da noiva antes de entrar no carro.
-- Tomarei, meu amor.
Pepe juntou-se a elas quando o carro de Jéssica sumiu no portão.
-- Bem, agora é a nossa vez.
-- Cuidem dela, a Jessica às vezes é muito impulsiva e pode meter os pés pelas mãos.
-- Não se preocupem meninas. Está com o Pepe, está seguro.
A vaidade do rapaz provocou um sorriso forçado em Michelle.
-- Você precisa ser menos arrogante -- ela colocou a mão no cotovelo dele.
-- As pessoas sempre dizem que sou arrogante, que me acho muito, mas esse é o preço que se paga por ser foda demais.
A resposta risonha dele disse tudo.
-- Você sempre tem uma resposta na ponta da língua.
-- Vocês lésbicas também poderiam ter respostas na ponta da língua, se não ficassem usando-a para safadezas.
-- Pepe! -- ela ralhou -- Vão logo.
-- Tá, tá.
-- Escuta -- ela acariciou a bochecha dele -- Prometa que vai cuidar dela.
-- Serei um modelo de mano mais velho -- ele contornou a picape e entrou no carro -- Vamos meninos -- deu a partida e saiu acelerando pela propriedade até chegar na avenida.
Michelle fechou os olhos enquanto Valquíria massageava os ombros tensos dela.
-- Mais um dia de emoções fortes.
Elas entraram.
-- Parece até um filme de suspense.
-- Não diga isso. Nos filmes, quase sempre as governantas e os mordomos morrem e eu sou muito jovem para morrer -- afirmou Vitória, em tom de diversão.
Jessica estacionou o carro diante da praça da prefeitura e saiu para esticar as pernas.
Mas Jessica não estava só. O espírito de Marcela veio com ela, observava tudo com raiva e frustração. Ela estava o tempo inteiro ao seu lado, chamando a atenção, querendo ser notada, mas Jessica não a percebeu.
Alguma coisa havia mudado. Porque não tinha força para chegar até ela? Marcela não se conformava com isso. Você não vai ser feliz com aquela desengonçada, eu não vou desistir. Falava próximo ao ouvido da ex esposa.
Jessica, alheia às tentativas frustradas do espírito de Marcela, afastou-se para que Pepe estacionasse a picape ao lado de seu carro.
-- Até que enfim! -- disse, mal humorada -- Pensei que já tinha tomado outro rumo.
-- Hum, deu até vontade, com esse carro cheio de gostosuras e travessuras!
-- Aff, me poupe -- Jessica cruzou os braços e lançou um olhar na direção dos quatro rapazes que desciam da picape -- Então, vocês são os caras que o Pedrão enviou para trabalhar comigo.
-- Vou apresentar eles -- disse Pepe -- Esse é o Pablo Escobar, aquele o Capone, o de mão no bolso é o Jacaré e o menorzinho é o Wancleyson.
-- Wancleyson?
-- É, chefe. Nome estranho né.
-- Muito -- Jessica balançou a cabeça -- Mas vamos ao que interessa. Vocês estão com a foto do cara, quero que deem um aperto no dono da locadora e arranquem dele mais informações. E não esqueçam de dar uma geral no carro, talvez ele tenha deixado algo no porta luvas, ou no porta malas. Pepe, você e o Wanderson...
-- Wancleyson, chefe.
-- Esse mesmo. Vocês podem ir no posto de combustível do Marcos e pegar a gravação da câmera de segurança. Eu já falei com ele.
-- Certo.
-- Eu vou até a delegacia falar com o delegado. Mais tarde nos encontramos aqui -- Jessica deu um passo e se virou -- Qualquer problema, me envie um WhatsApp.
-- Chefe -- chamou Pepe.
-- Hum?
-- Posso criar um grupo?
Jessica pensou um momento antes de responder.
-- Tudo bem, pode criar.
Estou precisando de ajuda para o nome do grupo de WhatsApp do Pepe. Quem tiver uma ideia, me manda nos comentários. Obrigada.
Vandinha
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
olivia
Em: 05/07/2021
Olá Vandinha,Grupo (Orquídea selvagem e seus cavaleiros) ou os quatro cavaleiros do apocalipse,trio calafrio,ou Dartanhã e três mosquitos,os Panquecas!! Parabéns autora você está cada mais e mais criativa! Manda a Marcela para os quintos do inferno!!! ??????????‘???’?????
Resposta do autor:
Obrigada Olivia!
Beijão.
HelOliveira
Em: 03/07/2021
Bom que a Marcela não pode chegar até a Jess, espero que agora as coisas comecem a se resolver...
Vamos ver o que o Pepe consegue com o Wancleyson kkkkkk
Gostei do capítulo e não tem como não rir...
Bjos
Resposta do autor:
Valeu HelOliveira.
Beijão.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 02/07/2021
Esse Pepe é uma onda.
Resposta do autor:
Beijos Marta. Até mais.
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