Tanta Saudade! por keique
Terceira parte
Capitulo 3
Clarice
Pela décima vez saía de uma homenagem antes que terminasse, eu não suportava mais ter que me mostrar feliz. Fui premiada no Sony World Photographer e meu único desejo era estar com Júlia. Um ano sem notícias e ainda me pego ansiosa esperando por nada. Numa tarde passeando pelo parque quase pude tocá-la quando fechei os olhos e me lembrei de quando nos conhecemos em sua cidade.
- Quanta gente misturada! O que vocês são, não consegui entender, pensei que era um circo, mas não vi bichos, depois pensei que era teatro... ela sorria para mim, linda, simples, um raio de sol atrás do balcão daquele armazém onde escolhemos ficar e relaxar– Viemos filmar um documentário sobre as minas de ouro, vamos ficar um bom tempo por aqui. Ela curiosa, eu encantada!
Dois meses depois já estávamos muito próximas, envolvidas, algo inusitado, enquanto escondíamos nossa coisa efervescente da cidade e principalmente do marido.
– Eu nunca pensei poder fazer essas coisas ou me sentir do jeito que sinto, se eu pudesse fugiria com você. Mas meu marido me tirou da miséria, foi a única pessoa que me ajudou na vida, ele gosta de mim, seria um desgosto muito grande! Você vive em outro mundo, pode ter quem quiser, quando se for não vai mais lembrar de mim... – Eu jamais me esqueceria de você!
Gravações encerradas fui embora, um mês depois estava de volta e assim ficamos durante um ano e pouco até percebermos a loucura daquilo, os riscos e as desculpas terminando. Tive que lavar a mão de algumas pessoas, fiz amizade com outras até que desmoronei de angústia pela falta de perspectiva.
– Eu não posso mais me esconder, me sinto envergonhada o tempo todo, na última vez você implorou para não lhe deixar, disse que criaria coragem de se separar, mas estamos aqui novamente e tudo permanece igual. Sejamos realistas, nós nos amamos, mas não ficaremos juntas. Parti com a certeza do fim.
Sem controlar a saudade, ela passou a vir quando conseguia, uma vez ao ano pelo menos e sempre na última noite juntas num jantar, falávamos do nosso futuro improvável e tentávamos guardar aqueles instantes sabendo que poderia ser o último.
– Você é o meu sonho virando realidade pelo menos por um instante, você é o meu encanto, minha alegria, meu alento. Te amar é o que me faz enfrentar a tristeza dos meus dias! Ela me dizia sempre e eu via em seus olhos o quanto era verdade. Porém nunca bastou e ainda não basta, não me permito mais viver de sobras, eu não poderia mais perder anos à espera de alguém que não era forte o suficiente para buscar a própria felicidade!
Júlia
Andava de um lado para o outro da sala de casa esperando para me despedir do meu marido, o medo de magoá-lo ainda me assolava, mas eu não tinha mais como adiar, principalmente agora que tive a certeza da gravidez. Se eu fraquejasse mais uma vez, nunca mais sairia dessa vida e se ele soubesse do bebê jamais me deixaria ir.
- Já fez as malas, você vai realmente me abandonar? Me assustou o seu tom - O que foi que eu fiz para merecer isso? Colocou a cabeça nas mãos ao sentar e suspirando me olhou – Eu nunca tive o seu amor, não é? Mesmo depois de tudo o que eu fiz para você, é a mulher mais ingrata que eu conheci, minha mãe sempre teve razão ao dizer que eu perderia meu tempo com você, que só me traria desgosto, você não me merece! – Eu sinto muito, a última coisa que eu queria era lhe magoar. Serei eternamente grata por você ter me dado um lar, ter me tirado daquele abrigo triste e juro que tentei do fundo do meu coração te amar como você merece, mas eu não consegui e hoje somos dois infelizes sob o mesmo teto. Sua mãe tem razão e é por isso que eu estou saindo da sua vida! Chorava nervosa – Eu nunca mais quero olhar na tua cara, saia daqui!
Juntei todas as economias que podia pensando neste dia e tudo o que era meu cabia em duas malas, agora dentro desse trem eu começo a me questionar se Clarice ainda vai me querer, se o amor que ela sempre me disse sentir é verdadeiro. Eu não poderei culpá-la se já estiver com alguém seguindo com a vida e jamais aceitarei que ela fique comigo por pena. Eu tremia pelo frio, pela insegurança e pelo medo de ser tarde demais!
Fiquei no mesmo hotelzinho da última vez e aguentei a agonia da espera. Deixei vários recados em seu trabalho e nada do meu amor aparecer, três dias é muito tempo para alguém decidir se quer ou não rever quem nunca foi corajosa o suficiente! Para piorar a situação desagua uma tempestade e a luz acaba. Agoniada saio até a portaria em busca de uma vela – Por favor, eu posso ficar com uma vela dessas, no quarto não tem nada. Apontei a caixa no balcão – Oh desculpe senhorita, fomos pegos de surpresa com essa tempestade, deixe-me acendê-la para você. Voltando ao quarto segurando a vela com uma mão e protegendo com outra, escutei o mesmo porteiro cumprimentar alguém no instante em que a porta abria trazendo uma lufada de frio e chuva – Boa noite, eu não vim me hospedar, queria apenas deixar esse envelope.
Era Clarice, meu Deus ela veio...girei o corpo e a vi com o casaco, o cabelo, as mãos, tudo encharcado segurando uma sombrinha. Mesmo molhada ela estava linda, mas alguma coisa em sua postura me fez parar no escuro sem deixar que me visse enquanto ouvia – Você pode por favor entregar para a hóspede Júlia Medeiros? – Claro, mas ela se encontra no hotel, quer que a chame? – Oh...não se incomode, estou com pressa, tem alguém me esperando, obrigada! Meus olhos cheios não me impediram de ver o seu suspiro antes de sair apressada em direção à tempestade e me deixar estática me sentindo a pior pessoa do mundo.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Alex Mills
Em: 29/06/2021
Que isso dona Keique, não mata a gente do coração não. O QUE TEM NESSE ENVELOPE? ahahaha
Nada curiosa, magina. Está a cada capítulo melhor :D
Agora quero o próximo! À espera ;)
Resposta do autor:
Ei Alex.
Que bom que gostou!
Adoro o suspense! kkk
Obrigada pelo carinho!
Bora tentar terminar...
Abraço
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]