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O Destino de Vonü por Alex Mills

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Palavras: 5308
Acessos: 677   |  Postado em: 29/06/2021

Cultivar a paz acima da guerra não gera perdedores

Eu devo ter dormido com os garotos, porque acordei com Athen balançando meu ombro com cuidado. Gaeloar e Ambür ainda dormiam em minha cama, então cuidadosamente eu sai do quarto junto a minha irmã, que me abraçou com força antes de qualquer coisa. Sorrio, imaginando que ela já devia saber o que tinha acontecido, envolvi seus cachos escuros e me permitindo aquecer em sua pele tão suave.

—Sinto muito, minha irmã. — Ela falou no meu ouvido, afastando-se um pouco e segurando meu rosto. — Você não merecia uma desonra assim. Meus sobrinhos não mereciam essa tristeza. Mas você fez o certo em tirá-la daqui. As crianças vão perceber isso quando crescerem.

Ela tinha crescido tanto. Literalmente. Ela tinha mais altura que eu, tinha mais força que eu, e tinha a voz mais firme, mas tinha uma alma gentil e uma compreensão da vida e das escolhas melhor que qualquer pessoa que eu conhecia. Eu a amava como uma irmã de sangue, assim como amava Enuvië e os gêmeos. Mas Athen era diferente. Tínhamos um laço mais estreito, fazia muito mais tempo que tínhamos começado essa relação, numa época em que eu precisava desesperadamente me sentir útil e queria, acima de tudo, ser uma graahkiniana. Athen foi quem me ajudou a ser uma pessoa melhor para inspirá-la a crescer em nossos costumes.

—Obrigada, Athen. — Falo com sinceridade. — Estava difícil encontrar uma escolha certa sem que os garotos sofressem.

—Você foi a mãe deles, você os ensinou o caminho certo em nossos costumes. Não há escolha fácil, e você foi firme como tinha que ser. — Sorrio, encostando nossas testas.

—E você? O que encontrou no mar?

—Venha comigo. Veegan te espera lá embaixo.

Eu não esperava boas notícias, então desci os degraus ao seu lado e encontrei com Veegan em meu sofá, ao lado de minha mãe, enquanto seus gêmeos, Tiramir e Volënír, ocupavam as poltronas do lado. Eu sentei com Athen no sofá em frente, bebendo um copo de água que estava na mesinha de centro. Os gêmeos tinham puxado os traços de minha mãe, eram altos e ruivos, com os símbolos de Graah espalhados pelo corpo com maior predominância que nos demais de nossa família. Tiramir tinha barba rala, os olhos castanhos de Voli, os cabelos longos presos num rabo e com diversas tranças. Volënír tinha os cabelos curtos e raspados nas laterais e atrás, olhos verdes como de Vonü, mas de serpente como os de Voli, o corpo longo e esguio, o busto avantajado dela também.

—Então? O que vocês encontraram? — Falei para ninguém em especifico, mirando a mesinha de centro, onde coloquei o copo.

—Os marientz estão vindo do sul. — Volënír falou logo em seguida. — Centenas deles. E não estão fazendo questão de se esconder. Avistamos alguns grupos pelo caminho, estão montando acampamentos a oeste daqui, perto dos Montes Gelados, a cidade dos magos.

—Há um novo líder entre eles. — Veegan continuou. — Greentur está infiltrado entre eles para descobrir informações do que planejam fazer.

—Então já temos certeza de que eles planejam nos atacar por terra. — Constato, suspirando. — Vamos manter os portões fechados. Mandarei Tendrür alertar os magos.

—Mas eles também estão vindo por mar. — Athen falou ao meu lado, e eu a olhei com preocupação. — A agitação no mar revela os planos deles de tentarem repetir a onda. Estão alterando o movimento do mar, eu pude sentir.

—Você viu barcos? — Olho para Vonü, que moveu a cabeça para confirmar. — Quantos?

—Duas dezenas. Barcos cheios. — Ela me respondeu em tom cansado, como se esperasse por isso. — Metade está nadando, realizando a alteração no mar, mas pararam de se mover. Pelo menos durante o tempo que fiquei observando.

—Querem nos esmagar aqui dentro. — Tiramir alegou, e eu movo a cabeça para concordar, porque tinha pensado a mesma coisa.

—Athen, você acha que consegue controlar o movimento do mar? — Pergunto para ela, que pensa por alguns instantes primeiro.

—Não sozinha. Eu posso tentar com os outros marientz, mas se eles realmente planejam lançar uma onda, não seremos o suficiente para conter os efeitos no mar por muito tempo. — Ela baixou os olhos castanhos, alguns cachos caindo sobre o ombro. — Mas conseguiremos atrasar a onda. Eles precisam ter uma constância nos efeitos que causam no mar.

—Ótimo. Veegan, a que distância estão de Tieres?

—Meio dia a cavalo. Mas estão montando acampamento, então ainda estão esperando o resto do exército chegar. — Ela falou, e eu esperei, porque eu via as engrenagens funcionando atrás dos seus olhos, então devia estar pensando em algum plano. — Eu posso levar o exército para a plantação a norte. A mata é alta nessa época do ano, esconderia todos. Então quando viessem para bater nos muros, atacaríamos por trás.

—E Tendrür chegará com os magos para reforçar. — Acrescento, e ela move a cabeça para concordar. Então olho para a minha mãe. — Então nós destruímos os barcos.

—Se atacarão por ar, então Seanë pode ajudar. — Veegan falou em tom sério, e eu suspirei, estreitando os olhos em sua direção. Sua mulher não fazia parte do exército e ela sabia disso melhor que ninguém. — Não temos muitos reforços por ar, e tenho certeza de que precisarão de reforços.

—E você acha que ela está apta para fazer algo assim?

Seanë tinha dito, quando Enuvië ainda era uma criança, que não faria parte do exército graahkiniano porque não merecia fazer parte dele. O motivo, eu soube anos mais tarde, era que Seanë tinha quebrado os votos antes de passar pelo ritual diante de Graah. Eu só soube disso porque ela contou a Enuvië quando ele tinha idade para entender, como forma de o ensinar, então abdicou de um lugar no exército, mesmo que tenha passado grande parte da vida atrás dos poderes de minha mãe. Com tantos poderes, e sem lugar para usá-los. Minha mãe nunca quis dizer o que houve realmente, eu imaginava a vergonha que ela sentia diante do assunto, e isso explicava porque passou tantos anos controlando a convivência de Seanë com o filho. Ela devia entender o que eu tinha passado com Trínia, mas eu não saberia ser tão pacífica quanto ela.

—Sim. Ela tem praticado diariamente, mesmo que não queira mais lutar. — Veegan respondeu após um longo momento.

—E vai querer lutar agora por que? Vocês têm filhos pequenos, é melhor que ela fique fora disso.

—Teríamos filhos pequenos com mães desonradas se não defendermos nosso lar. — Ela falou em tom firme, eu somente a olhei, porque parecia haver algum clima entre minha mãe e ela em relação a esse assunto. — Seanë lutará por nossos filhos e nosso lar.

Somente balanço a cabeça, ainda duvidando que sua mulher fosse participar dessa luta, mas não digo nada para não piorar o clima tenso na minha casa. Então discutimos mais planos até o anoitecer, e eu dispensar todos para que descansassem.

—Posso falar com você a sós por um instante? — Veegan me perguntou antes de sair de minha casa. — Por favor?

Eu a levo para o jardim na parte detrás da casa, porque precisava respirar ar fresco e porque era a parte mais afastada dos demais. Veegan ainda se demorou para começar a falar, cruzando os braços e andando pelo gramado desconfortavelmente, eu sequer imaginava o motivo, então somente andei ao seu lado, esperando impacientemente que ela falasse logo.

—Então... — Ela começou, sem me olhar. — Eu passei em casa antes de vir aqui, Vaanë estava lá, com Trínia. — Ah, então era sobre isso, afinal. — Eu esperava mais dela, confesso. Achei que estavam indo bem, após tanto tempo.

—Onde está querendo chegar? — Pergunto em tom cansado, não queria me alongar no assunto quando fazia tão pouco tempo que descobri.

—Eu odeio que o nome de minha família esteja ficando tão desonrado dessa forma. Não era para ser desse jeito. — Ela falou com visível desgosto do fato. — Sei que não somos amigas, mas cultivamos uma relação respeitável. — Balanço a cabeça para concordar, porque desde a nossa luta na beira da praia que me deixou manca, tínhamos mantido uma relação respeitável entre as famílias. — E eu quero manter nossas famílias unidas.

—Trínia não voltará, e você sabe disso. Então o que está oferecendo? — Eu a olho, suspirando. — Quem está oferecendo?

—Minha filha.

—Vramiër? Ela cresceu debaixo desse teto. Eu a vi crescer. — Torço meu nariz com a ideia. — Ela é jovem demais.

—Ela cresceu em sua casa, aprendeu e segue os costumes que sua mãe ensinou. Mas a garota tem desejos fortes. — Ela sorriu de maneira triste. — Sua mãe a ensinou. — Ela repetiu, então me olhou e parou de andar. — Não você. Você manteve distância e não se aproximou mais que o necessário de minha filha.

—Porque ela é sua filha, e eu já tinha coisas demais para me importar.

—Minha filha te admira, Alinü. Ela tem sentimentos por você.

—Ela é jovem demais. Mesmo se me unir a ela, pode acontecer a mesma coisa que Trínia, afinal.

—Ela está determinada. Ela implorou para falar com você, mas eu preferi fazer isso eu mesma. Só pense sobre isso, Alinü. Dê a resposta depois da guerra.

—Você vai mesmo insistir nisso, certo?

—Não somente eu. Vramiër está decidida, afinal. — Ela balançou a cabeça de maneira negativa, mas parecia conformada. — Ela é jovem, concordo, preferiria que ela esperasse mais antes de querer formar laços a longo prazo com alguém. Ainda mais com alguém que já tem filhos. Com alguém que já se uniu com um membro de nossa família. Mas eu estaria sendo hipócrita se dissesse que ela não deveria seguir os instintos dela.

—Como você seguiu os seus. — Estreitos os olhos, e ela confirma sem hesitar.

—Dê um tempo. Absorva a separação. Dedique um pouco do seu tempo para conhecer a mulher que ela se tornou. Você não será obrigada a aceitar nada. Não depois que Trínia envergonhou nossa família.

—Está bem. Tem minha palavra de que pensarei sobre isso. E de que falarei com ela.

—É só o que peço agora.

Ela foi embora dizendo que daria ordem aos guerreiros de se prepararem e começarem a juntar o necessário para ficarem alguns dias fora. Comida começou a ser separada, as pessoas mudaram suas rotinas na certeza da guerra batendo em nossos portões. Os jovens que não puderam participar da primeira guerra para retomar Tieres agora estavam animados para se provarem verdadeiros guerreiros que podiam defender seus lares. Eu esperava que pudessem. Os muros da cidade tinham sido erguidos ainda mais, se os marientz quisessem invadir nossos portões, teriam que escalar nossos muros em escadas e enfrentar jovens raivosos que os jogariam para o poço que foi inundado no início do verão. Então seriam esmagados pelos guerreiros experientes que Veegan lideraria pela retaguarda.

Minha única verdadeira preocupação era o mar. Vonü mantinha a atenção se mais barcos eram enviados ou se estavam se escondendo mais a oeste, em ilhas selvagens como já fomos. Athen e os marientz que se dedicaram aos ensinamentos de Graah agora estavam se revezando na praia, os pés no mar, trabalhando em o manter calmo e nos ganhar tempo.

Eu não achava que os marientz do outro lado do mar tinham alguma tática especial para nos ganhar dessa vez, além de atacarem de ambos os lados ou tentarem nos cercar de ambos os lados. As laterais de Tieres também eram cercadas pelo mar, mas a costa inteira foi cercada por muros feitos de blocos de pedras, firmes e vigiados sempre. Eles encontrariam nosso povo preparado.

Quando os marientz chegaram em nossos muros, eu vi centenas de guerreiros preparados para se vingarem. Era uma noite escura, sem lua, um momento curioso que escolheram para atacar. Achavam que não estávamos preparados? Os barcos finalmente chegaram a ponto de serem visto de nossas torres, Athen e os demais se juntaram todos no litoral para intensificar os esforços.

O líder atual dos marientz se apresentou como Tutankér, um homem alto, robusto e com um grande machado preso nas costas. Estava com uma armadura reluzente que o fazia parecer mais alto e forte do que realmente era. Ao seu lado estavam duas mulheres guerreiras, Akerí e Ruenír, com armaduras tão incríveis quanto a de Tutankér.

—Sou Alinü Vondelür, líder dos Graahkinianos. Essa é minha cidade, sempre foi. Então o que vocês querem aqui? — Pergunto em sua língua, e Tutankér se surpreende momentaneamente por eu saber seu idioma.

—Tieres era o lar de dezenas do meu povo por mais anos que você tem, garota. — Tutankér falou em sua voz grossa e cortante. — Você matou crianças, velhos e nossos anciões. Destruiu nossa história-

—Vocês mataram centenas de crianças e jovens em suas camas. — Eu o cortei, sentindo a raiva borbulhar em meu sangue, mas controlei meu tom. — Afogaram nossa história de séculos, achando que iriam nos calar. Mas Graah nos trouxe de volta para o nosso lar, que há muito ela conquistou. Então eu volto a perguntar, por que vocês estão aqui?

—Meu povo não procurou essa guerra. — Foi Akerí quem falou, aproximando-se um passo, tirando o elmo de águia da cabeça, revelando as longas e grossas tranças escuras presas num rabo no alto, a pele escura pintada de vermelho em duas faixas vermelhas nas bochechas e sobre os olhos, além dos lábios grossos. — Os graahkinianos mataram nossos trabalhadores quando havia paz entre os povos. Vocês não respeitaram o acordo territorial no mar, foram adiante porque vocês se acham importantes e superiores.

—Foi um acidente. — Digo em tom mais suave do que pretendia, pega de surpresa pela sua beleza. Eu não esperava que ela fosse tirar seu elmo, Athen me disse que os lideres costumavam manter os rostos protegidos da cobiça do inimigo. Era isso? Eu estava cobiçando minha inimiga? — Eles não quiseram matar seus trabalhadores, mas vocês sabem melhor que ninguém que naquela noite houve uma tempestade. As redes de pesca foram levadas. Quando foram buscá-las, seus trabalhadores estavam presos nelas.

Ficamos nos olhando, em um silêncio pesado, mas penetrante. Seus olhos escuros eram selvagens e intensos, como se houvesse uma luta dentro deles, um desejo avassalador e uma raiva ancestral.

—É guerra a única coisa que vai parar esse ódio entre nossos povos? — Pergunto a ela, mas deixando que Tutankér e Ruenír escutassem.

—Guerra trará paz aos vitoriosos. — Ela respondeu com voz firme.

—E ódio aos perdedores, que buscarão vingança. — Indico seu exército logo atrás, longe de nossa conversa. — É assim que vamos viver?

—O que está sugerindo? — Tutankér questionou com desconfiança. — Que nos viremos e desistimos de lutar?

—Temos jovens e temos guerreiros experientes. Por que perder todos e ferir ainda mais? Tieres sempre foi o lar dos graahkinianos, desde a história mais antiga. Se o seu povo quer paz e um espaço nessas terras, podemos fazer um novo acordo e escrever nossa história sem sangue.

—Para vocês nos atacarem enquanto dormimos nesse solo? — Ruenír perguntou com raiva.

—Estaríamos nos arriscando tanto quanto vocês. — Digo com sinceridade, olhando entre eles até parar nos olhos de Akerí. — Não estamos aqui buscando paz? Por que não dar um passo para que isso ocorra sem mais mortes sendo escritas?

—Que garantia teríamos? — Akerí perguntou.

Eu pausei, pensando por alguns instantes. O que eu estava fazendo era certo? Meu povo me olharia com desconfiança e desonra se eu continuasse a tentar fazer paz com nossos inimigos? Eu tinha que arriscar. Algo em mim me dizia para continuar, e talvez fosse Graah me dizendo as palavras que saíram de minha boca.

—A garantia que teriam é uma ligação entre nossos povos. — Meus olhos se mantiveram fixos em Akerí. — Entre você e eu.

Seus olhos se esbugalharam em surpresa, mas ela sequer teve a chance de me responder ou de considerar minhas palavras, seu braço foi puxado por Ruenír, talvez, eu não tive tempo de perceber pois tive que desviar do machado de Tutankér, que avançou com raiva e impulsividade.

—Ela é minha mulher, sua maldita. — Ele vociferou, gingando seu machado pesado com força em direção ao meu crânio por cima, mas eu joguei meu corpo para trás e desviei do seu ataque, chutando o metal em sua barriga para o afastar. — Você só tem mentira em suas veias, eu não farei acordos com sua raça inconsequente! — Ele falava mais rápido que os seus movimentos.

—Sua mulher? E por que ela tirou o elmo para mim? — Eu não devia provocá-lo, mas ele estava atacando sem pensar nos seus movimentos, só estava querendo lavar sua honra diante do seu povo.

Ele urrou com raiva e atacou com maior ferocidade, isso o tornava perigoso, mas também tornava Sopro da Morte uma arma mais letal e silenciosa diante de todo o barulho que ele fazia. Ele sequer sabia que eu segurava minha espada e desviava seus golpes com sutis manejos.

—Então basta você morrer para ela ser minha.

Eu me abaixei e ele golpeou com o machado para partir meu crânio, apoiei meu corpo num joelho e numa perna dobrada para trás, e a usei para me impulsionar para frente enquanto segurava a espada em frente ao peito, perfurando a armadura de Tutankér e rasgando sua carne até partir seu coração em dois. Seu machado acertou meu ombro, mas ele já não tinha força ou vida para finalizar seu golpe, porque Sopro da Morte tinha sugado sua vida, e agora estava alimentada com seu sangue.

Olhei seu rosto, sua boca aberta num último espanto e pingando sangue no meu rosto, os olhos arregalados. Ergui meu corpo e o empurrei pelo ombro, a espada deslizando sutilmente de sua carne, viva e vermelha, satisfeita com sua primeira morte naquela noite. Segurei o machado de Tutankér e a ergui em direção aos marientz distantes, sabendo que eles tinham visto seu líder falecer, mas incerta se iriam me escutar, então me dirigi as duas mulheres, paradas e me olhando com raiva. Ao menos uma delas tinha raiva.

—Seu líder me atacou e sofreu as consequências. — Joguei o machado, que caiu perto dos seus pés ecoando um grande baque pelo seu peso. — Vocês querem deixar seu povo sofrer as mesmas consequências? Vocês querem ter o mesmo destino quando ofereci paz?

—Você quer nos fazer ajoelhar aos seus pés! — Ruenír me acusou.

—Eu não quero mais derramar sangue! — Aquilo era verdade, e ela se calou, porque não podia me acusar de mentir. — Se é o que vocês querem, se querem mesmo cobrir esse chão com sangue e corpos ao invés de preservar o futuro dos nossos povos, que seja. — Eu me posicionei para receber o próximo ataque, preparada para a batalha mais que há um minuto atrás. — Voltem e digam ao seu povo que escolheram derramar o sangue deles. Eu direi ao meu que tentei fazer paz e vocês recusaram.

Ruenír pegou o machado de seu líder morto, apontou para mim, mas Akerí segurou seu braço e a fez baixar.

—Falaremos com nosso povo. — Ela alegou, mantendo os olhos nos meus. — Decidiremos o que fazer e pela manhã você saberá a resposta.

Movo a cabeça para concordar, guardando Sopro da Morte na bainha em sinal de paz. Ela me olhou por mais um instante, então se virou e puxou o braço de Ruenír para segui-la. Eu abri minhas asas e voei para as muralhas, vendo que eventualmente dois guerreiros vieram pegar o corpo do seu líder. No muro, eu tive que lidar com o questionário de minha mãe, além de sua queixa sobre eu ter sido inconsequente quando falei o que tinha realmente acontecido.

—Ninguém vai aceitar uma união dessa. — Ela me falou, e talvez tivesse razão, mas eu não me importava.

—Eu a quero. — Falo com certeza. — E os graahkinianos vão aceitar, porque seus filhos não vão morrer nessa guerra.

—Você não está pensando como uma graahkiniana, Alinü! — Ela segurou meus ombros, mirando meus olhos com intensidade. — Você está deixando seus desejos falarem acima do seu dever como líder. Isso é inadmissível, Ali. Você sequer conhece essa mulher, você sequer pode oferecer garantias da paz para o nosso povo com esse acordo.

—Eles não podem nos ganhar, mãe. Eles querem nosso lar, mas não tem força o suficiente para nos derrotar, e sabem disso. — Falo com calma, segurando seu rosto preocupado em minhas mãos. — Confie em mim mais uma vez, mãe. Eu sei o que estou fazendo. Graah deseja isso tanto quanto eu.

—Você não está pensando. Como será essa união, Ali? Ela nunca cederá que seus filhos sejam criados em nossos costumes.

—Eu já tenho filhos graahkinianos, mãe. Se ela quiser filhos, ele aprenderá ambos os costumes. Seguirá aqueles que quiser. É assim que criamos filhos entre as duas famílias graahkinianas, não é?

—Sim. Resta saber se ela realmente quer o mesmo, e se você não está enganada.

Eu a abracei, olhando para o horizonte escuro, fazendo uma prece a Graah, pedindo que minha escolha tivesse sido sábia e trouxesse o melhor para os graahkinianos.

Mandei Tendrür avisar Veegan sobre as novidades. Me arrependi quando começou a amanhecer, e Vramiër veio exigir explicações de minha tentativa de paz com os marientz. Eu sequer tinha paciência de escutá-la, agindo como se eu a devesse lealdade sendo que sequer falei com ela desde minha conversa com Veegan.

—Você prefere se unir a nosso inimigo do que com alguém de seu próprio povo? O que eu fiz para você?

—Nada. — Digo com sinceridade. — O que aconteceu entre Trínia e eu não tem nada relacionado a você. Não significa que eu deva me sentir na obrigação de retribuir seus sentimentos. — Ergo a mão quando ela começa a elaborar um argumento, e ela se cala. — Eu sou líder, meu dever é escolher o que é melhor para todos. Se eu desisto de me unir em prol da paz para ceder aos nossos costumes de nos unirmos entre nossas famílias, eu estaria sendo egoísta sobre os corpos daqueles que morreriam nessa guerra. É o que você faria? Não abriria mão de mim se pudesse prevenir uma guerra?

—É só por isso que está propondo essa união? — Perguntou com desconfiança.

—Não importa se eles não aceitarem, não é mesmo?

Voltei meus olhos para além da muralha, suspirando em expectativa. Eu podia ver que tinham montado uma barraca no meio do exército, o que significava que tinham feito um conselho com os marientz importantes para decidirem o destino daquela batalha. Seriam mais orgulhosos que os graahkinianos? Usariam a união para algum benefício próprio?

Akerí voltou no meio da manhã, escoltada por uma dúzia de guerreiros bem armados e outras duas mulheres com roupas comuns, o que pensei que poderiam ser somente acompanhantes. Volinüs tinha me dito que as mulheres casadas mantinham ao menos uma acompanhante, que normalmente era uma amiga próxima, para manterem um laço com sua vida de solteira.

Eu desci para recebê-los depois do poço inundado junto de Tendrür, Vonü e Verg, que estava representando os Trhonttiër e faria o papel do comandante do exército. Não queria que pensassem que o exército não estava dentro dos portões de Tieres. E Athen estava ao meu lado, porque eu queria que vissem que poupamos sua vida na última batalha.

—Nos encontramos novamente, Akerí. — Falo em sua língua, dando um passo em sua direção em sinal de manter o clima amigável. Então falei na língua comum. — Espero que tenham aproveitado o tempo para chegarem numa conclusão sábia e indolor ao nosso povo.

—Estou contente que nosso reencontro seja em condições mais favoráveis. — Ela respondeu, também se aproximando e parando a minha frente. Ela voltou a usar o elmo, então só via parcialmente seu rosto e seus olhos. — Não vai me apresentar seus acompanhantes?

—Claro. Essa é minha mãe e também chefe da guarda oficial de Tieres, Vonü. — Gesticulo para ela, que somente moveu a cabeça. — Esse é meu filho mais velho, Tendrür, segundo comandante do exército. Ao lado é Verg Del Trhonttier, líder do exército. E essa é Athen, minha irmã.

—Irmã? — Ela franziu o cenho em confusão, então se dirigiu a Athen em sua língua. — Desde quando você está sob a custódia deles?

—Eu sou uma mulher livre, akkenia. — Akkenia é um jeito formal de mostrar respeito na língua dos marientz, no mesmo sentido que os serviçais nos chamavam de senhoras em casa. — Vonü cuidou de mim igual cuidou dos demais filhos. Alinü me ensinou tudo que sei.

—Vimos outros marientz no litoral. Eles são escravos?

—Não. Eles foram poupados e adotados depois da guerra. Crescemos e escolhemos ser graahkinianos. Somos todos livres em Tieres, akkenia. — Minha irmã falou com seriedade sem abrir espaço para dúvidas de suas palavras. — Todos tem cargos importantes na cidade.

—E o que você faz? — Perguntou em tom duvidoso.

—Eu sou a primeira conselheira da líder. — Ela me olhou e eu toquei sua mão, piscando um olho para ela.

—Agora sei como aprendeu nossa língua, Alinü Vondelür. — Akerí voltou a falar na língua comum, com um forte sotaque indicando que não o praticava.

—Eu gosto de saber a língua dos povos que manterei relações. Resta saber se nossa relação será amigável ou se enfrentaremos conflitos antes de eu ter a chance de te conhecer.

Eu vi minha mãe se remexer desconfortável mais atrás, eu imaginava que fosse difícil para ela se manter ali na espera de alguma emboscada em que eu poderia morrer. Mas ao invés disso Akerí se aproximou mais e inclinou a cabeça, observando-me dentro do meu espaço pessoal. Ela era alta e forte, uma guerreira que eu não iria subestimar, e sua proximidade indicava perigo, uma busca para me intimidar, mas não permito, olhando em seus olhos sem hesitar.

—Como você sabia que eu era a líder dos marientz? — Ela me questionou, eu devo ter parecido confusa o suficiente, porque ela sorriu com entendimento. — Você matou meu primeiro marido. Ele era rico e vários guerreiros o seguiam, então o casamento foi óbvio.

—Ele se apresentou como líder. — Pontuo. — Por que se escondeu atrás dele?

—Queria ver o que você queria dessa guerra. Tutankér não é conhecido por sua paciência, não havia nada que eu pudesse fazer se ele decidiu te desafiar.

—Eu não me importo. Só estou surpresa que os marientz aceitem sua liderança.

Os marientz não aceitavam mulheres para a liderança pois a consideravam mais úteis no exército ou em outras funções. Akerí era uma guerreira, no entanto, também era líder, algo surpreendente. Era de família influente para ser permitida treinar e guerrear, e manteve laços com aqueles que aumentassem seu poder e seu exército.

—Eu me provei melhor que o antigo líder. — Falou como se fosse óbvio, mas foi só o que se limitou a falar sobre o assunto. — E você se provou uma líder melhor que os anteriores se está disposta a se unir com a líder dos seus inimigos. Líder... — Ela balançou a cabeça e sorriu. — Eu sou uma rainha. — Ela se corrigiu, eu somente ergui a sobrancelha. — Não aceitarei ser tratada como menos que isso.

—Você será tratada com o respeito que depositar em meu povo. Sua palavra será ouvida como a minha é ouvida. Mas não espere que alguém se ajoelhe aos seus pés, minha rainha. — Sorrio, buscando manter a seriedade nas minhas palavras. — Mais algum requisito?

—Essas são as minhas acompanhantes. — Ela se afastou, gesticulando para que as mulheres se aproximassem. — Não são guerreiras, mas são minhas amigas desde que eu era uma krish. — Krish era o mesmo que uma criança. — Essas são Akku e Ireie. Elas vão sempre estar comigo.

—Fico honrada em conhecê-las. — Eu me aproximei e estendi a mão para elas, mas talvez tivesse feito algo errado, porque os guerreiros logo atrás sacaram suas espadas e apontaram para mim.

—Você não pode tocar as acompanhantes da rainha. — Athen me alertou em minha língua, baixando meu braço estendido e me afastando delas enquanto Akerí mandava seus guerreiros baixarem as armas. — É visto como um ato de desrespeito com a rainha e com as acompanhantes. — Explicou, ainda segurando meu pulso, e eu movo a cabeça para concordar, soltando um suspiro. — Devo acrescentar que a regra também serve para a rainha, mas em condições ainda piores para punições.

—Você poderia ter me dito isso há tanto tempo antes. — Movo a cabeça de maneira negativa para reprová-la, então me volto para Akerí. — Peço desculpa por minha ignorância. Não cometerei o mesmo erro.

—Assim espero. — Akerí falou em tom suave, um sorriso de lado, talvez se divertindo com meu erro. — Esses são meus guerreiros mais fiéis e experientes. Estarão comigo, como você deve imaginar.

—Não causando nenhum conflito na cidade, não me oponho. — Embora eu soubesse que serviriam para fiscalizar as defesas da cidade e estudar meus guerreiros. Mas essa informação seria inútil se não tentassem romper com a paz. — Mas vou requisitar que se tiverem família, que as tragam junto. Nenhum guerreiro deveria viver longe de sua família.

—Por que, afinal? Eles terão casas para as suas famílias?

—Claro. E suas famílias terão trabalho. — Assim eu diminuiria as desconfianças e eles poderiam se estabilizar na cidade.

Mas eu não estava realmente me importando se o exército do povo do mar soubesse de nossas defesas, porque eles conheciam a cidade. Agora sabiam que tínhamos jovens marientz leais a Graah, e seu ataque por mar seria fracassado. Só os restariam um combate frente a frente, assim como para nós.

—Tudo bem. Suas famílias serão requisitadas, uma vez que conviveremos com as famílias dos seus guerreiros. — Akerí falou.

—E Ruenír? — Resolvo indagar, e ela estreita os olhos. — Eu sei que seu povo tem o costume de permitir mais de uma união ao mesmo tempo.

—E sei que seu povo não tem o mesmo costume. Não se preocupe. Reunír era somente uma guerreira fiel.

—E por que ela não está entre esses? — Aponto os demais.

—Porque ela vai cuidar do exército em minha ausência.

—Está bem. — Ao menos ela não estaria perto, cantando desconfianças no ouvido de sua rainha. — Então oficialmente, vocês aceitaram nossa união para acabar com a guerra?

—Eu aceitei. — Mas havia algo enigmático em seus olhos, algo que estava deixando de falar. — A cerimônia será realizada quando meu povo tiver um lar.

—Os vilarejos ao sul estão desocupados. Vocês podem ficar lá. Enquanto isso, mande seus barcos atracarem. Eu não os quero a vista rodeando Tieres.

—Como desejar. Em alguns dias mandarei uma de minhas acompanhantes vir te dizer o dia da cerimônia e o que você deve vestir para nossa ligação em nosso novo lar.

—A cerimônia será no sul?

—Com os meus costumes? Sim, será entre meu povo.

—Tudo bem, não me oponho, se você não se opor a se unir em minha tradição também.

—Talvez não. Veremos. Esteja preparada para a cerimônia.

—Estarei, e digo o mesmo a você.

Ela sorriu, então foi embora. O exército também a seguiu, e eles foram para o sul. Depois disso eu tive que fazer uma reunião com todos os representantes de Tieres e explicar meus planos para todos com essa união. Nem todos concordaram, a maioria não concordou, mas aqueles que concordaram e me apoiaram, tinham a experiência da outra guerra e queriam poupar os jovens do sangue. Mas todos estavam hesitantes, porque todos imaginavam que eu correria perigo no momento que trouxesse Akerí para a minha casa.

Fim do capítulo


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Comentários para 29 - Cultivar a paz acima da guerra não gera perdedores:
Lea
Lea

Em: 14/08/2021

Agora estou querendo uma história inteira da Alinü,apartir desta união! Que guerreira maravilhosa ela se tornou!!


Resposta do autor:

Te falar que já pensei em fazer exatamente isso, mas não conta para ninguém xD

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