Os laços se estreitam se há confiança
—Eu gostei do que fez hoje. — Digo a Lin, entregando uma xicara de chá para ela, que se sentou num banco de frente para mim, tomando um gole. — Achei que não fosse aceitar a oferta.
—Por que não?
—Porque ensinar uma criança não é uma tarefa fácil. — Digo devagar, colocando um casaco sobre seus ombros e movendo as mãos em seus braços.
—E eu disse que não queria engravidar, e você acha que não levo jeito para crianças. — Ela completou meu raciocínio, e eu movo a cabeça para concordar, porque era exatamente o que tinha pensado.
—Mas você segurou a filha de Veegan de maneira exemplar, então... Não vou mentir e dizer que não tive ideias ao te ver com uma criança no colo.
—Você pode ter ideias. Eu disse que não engravidarei, não que não teria filhos.
—Oh, então como resolveremos essa equação, minha senhora? — Sorrio, subindo uma mão em seu rosto e acariciando, afastando as mechas dos seus ombros. — Eu não te vejo pegando um bebê de outra família.
—Então você me conhece melhor que conhecia há uma semana. — Ela trouxe a mão livre para a minha cintura, então moveu até estar sobre minha barriga. — Eu tenho meus métodos, ki aterkinë.
—Então estou curiosa para conhecê-los.
Eu me inclinei em sua direção e selei seus lábios, mas ela segurou meu rosto e aprofundou o beijo, sua língua encontrando a minha com intimidade. Não a recusei, faziam dois dias que ela estava dormindo em minha casa, e desde então não tinha insistido numa aproximação para não a pressionar. Mas estava feliz que ela tenha decidido mudar isso. Aproveitei o beijo enquanto durou, até me afastar, indicando que bebesse o chá. Ela riu, balançando a cabeça.
—Eu não estava com frio de verdade, você sabe disso, não sabe?
—E eu não posso aproveitar a situação e te recompensar?
—Então você reparou nos olhares da mãe do seu filho.
—Eu reparei que isso te incomodou. — Sorrio, mas ela não tenta disfarçar o fato, para o meu deleite.
—Bem... ela perdeu você porque quis. Eu só estava deixando isso claro.
—Eu aprecio o fato. — E apreciava mesmo, significava mais do que permitíamos dizer.
—Então... você vai dormir comigo hoje?
—Se é o seu desejo, sim, irei.
Ela pareceu contente com a resposta, voltando a beber o chá. Nós dormimos juntas naquela noite, nossa primeira noite, e foi maravilhoso adormecer sentindo seu corpo quente junto ao meu.
A festa de Veegan foi na semana seguinte, no meio do outono. Ela mostrou que não queria economizar em sua compensação, sua casa estava toda enfeitada e ela oferecia um banquete em homenagem a minha união com sua irmã. Com isso ela queria deixar as portas de sua casa abertas para a minha família, e nada mais justo que eu oferecesse o mesmo em troca. Toda a família de Volinüs estava lá, e dessa vez ela festejou o dia inteiro, esquecendo toda a tristeza que sentiu no dia de nossa união. Ganhou mais presentes e dançou mesmo quando reclamava de dores nos pés. Nossos problemas com Veegan não tinham sido esquecidos, mas estávamos dispostas a dar uma chance de recomeçar.
Observando que minha mulher gostava de festas, ofereci uma comemoração para o ano que tínhamos passado, e saudávamos o ano que chegava. Nos divertimos juntas a noite inteira, ela fez questão de se manter perto, apresentou seus amigos uma segunda vez, apresentou até mesmo o garoto que estava envolvida antes de nos unirmos, e ele não se intimidou em mostrar desprazer com minha presença. Isso não nos parou, e aproveitamos até o dia começar a nascer.
Seanë tinha ficado com Veegan em sua casa, e eu permiti que ficasse com Enuviër naquela noite. Alinü ficou com Athen, estava levando a sério sua função de ensinar a irmã. No primeiro dia do ano, eu encontrei um espaço abrigado dos ventos do oceano no jardim, usando minhas asas para proteger o corpo da neve que caia.
Tinha sido um ano repleto de acontecimentos. Há um ano eu estava nessa casa, casada com Seul, que estava grávida de um filho meu. Eu permiti que continuasse a amizade com aquela que considerava minha irmã, desejando que não ficasse sozinha enquanto eu exercia meu papel de líder, preparando o exército para algum ataque vingativo do povo do mar, e inovando as defesas da cidade. Enquanto isso eu permiti que Veegan encantasse os ouvidos de minha esposa, abri as portas de minha casa para a sua traição, e no sétimo dia do nascimento do meu filho, elas não hesitaram em quebrar os votos do meu casamento com Seul, diante de meu filho.
Meu filho, que tinha nascido morto, sufocado pelo cordão umbilical, mas que lutou para viver e agora estava mais forte. Enuviër, meu filho prometido, havia tanto que eu queria ensinar a ele.
Alinü estava provando que podia mudar e amadurecer com a promessa de ser líder dos graahkinianos, mas acima de tudo, porque queria ensinar a nova irmã, Athen, que poupamos durante a guerra com o povo do mar, e recebeu meu nome.
Meu verdadeiro nome, que foi revelado por Volinüs. Vondelür, minha origem. Eu fazia parte da família principal, que tinha morrido na primeira guerra, na primeira grande onda. Então eu era a única Vondelür sobrevivente, cresci achando ser uma Trhonttier, seguindo seus costumes, e quando Veegan foi incapaz de me contar a verdade, foi Volinüs quem intercedeu por mim.
Veegan perdeu a liderança e agora lutaria com minha filha mais velha para tentar recuperar seu antigo posto, mas sua reputação estava abalada, seria difícil sua família aceitar seu posto, mesmo que tenha dado um passo para recompensar o dano causado.
Então havia Volinüs, a melhor surpresa desse ano. Ela é uma mulher decidida e firme no que quer, no que é e no que gosta. Era fato que não se envolvia com as famílias mais jovens ou que não tinham um nome honrado, mas eu não a condenava por isso. Ter um nome honrado era uma batalha difícil, e ela valorizava os resultados, valorizava a história de sua família e não aceitava diminuir esse valor e o orgulho. Eu a admirava.
Ela me achou no jardim no fim da tarde, não falou nada, eu abri as asas e ofereci espaço para ela se juntar a mim, e ela se sentou a minha frente, no meu colo, e repousou a cabeça no meu ombro. Envolvi as asas ao nosso redor, ela produziu um som para concordar, aconchegando-se em meu corpo.
Eu tinha me acostumado a gostar de ficar perto dela e aproveitar o silêncio, momentos que eram frequentes, principalmente quando ela não se mostrava incomodada quando ia em seu escritório, vê-la escrever.
Acabamos adormecendo depois de uma noite em claro. Acordamos quando já tinha escurecido, mas ela não fez qualquer menção de se levantar, ao invés disso ela me beijou, seus dedos acariciando a parte detrás de minha cabeça. Aproveitei o contato, acariciando seu rosto, sem me importar com a passagem do tempo, ou em levar aquilo adiante, somente ficamos ali, aproveitando, trocando caricias e estimulando maiores contatos.
—Sabe... — Digo contra os seus lábios, ainda de olhos fechados. — Estar aqui, com você, parece tão certo. Como se não houvesse outro lugar que devesse estar, e Graah e o destino me quisessem aqui, com você.
Ela inclinou o rosto e olhou meus olhos, tantas coisas passando por trás do castanho esverdeado, eu queria ser capaz de ler tudo, mas ainda não era capaz, e me sentia paciente para desvendar cada runa de seus pensamentos.
—Você é o livro que mais estou amando escrever, Vonü. Em todas as suas formas, páginas, parágrafos e capítulos. — Ela sorriu, minhas asas estreitaram ao seu redor por reflexo e afeição. — Eu estou amando você.
—Oh. — Sorrio, desfrutando de suas palavras. — Também estou amando você, Lin. A cada detalhe que descubro de você, mais isso cresce.
—Então vamos plantar a semente do que estamos sentindo. — Senti sua mão pressionar em minha barriga, o pedido que tinha feito no outono agora se repetindo com maior seriedade. — Me dê um filho do seu ventre, Vonü.
—E se o gene de voulcan for mais forte?
—Não será, porque somos graahkinianas, e Graah nos concederá essa vitória.
—E se tiver a forma de voulcan? — Insisto.
—Então será o desejo de Graah, e ele continuará sendo nosso filho.
—Então eu concordo. Eu vou te dar um filho.
Ela não hesitou. Me fez avisar Alinü que iríamos para a sua casa, então fomos direto para lá, jantamos, e ela me levou para o seu quarto. Eu me deitei nua em sua cama, e esperei por ela, que tinha ido buscar algo em seu escritório. Quando chegou, sorriu enquanto via meu corpo antes de fechar a porta, tirando os trajes e deixando cair no chão antes de deitar sobre mim, beijando meus lábios. Então mostrou um pequeno frasco transparente com líquido vermelho dentro, media somente metade de seu dedo.
—Esse é seu segredo?
—Eu criei isso, não foi uma tarefa fácil. Os livros antigos não eram específicos com os ingredientes. Mas, objetivamente, um gole modifica meu órgão sexual por um limite de tempo.
—Só o órgão ou...?
—É pouco tempo e não é uma dose forte. Só altera isso.
—Então você já usou isso antes. — Assumo, e ela sorri, concordando. Peguei o frasco de sua mão, observando. — Tem dois goles.
—Um, se quer que dure mais tempo.
Então era esse o plano dela. Confesso que pensar nela dessa forma me fez hesitar, relembrando quando Teniê forçou o ritual e forçou um filho em mim. Volinüs ficou me olhando, esperando por minha decisão, mas pareceu ler o que estava pensando.
—Beba meia dose. — Falou, mas eu não o fiz, e ela prosseguiu, com paciência. — Então você verá como isso funciona. Mas se tomar, eu direi como você deve fazer.
—Tem certeza?
—Sim. Beba.
Eu bebi meio gole, então ela me beijou, e eu senti meu corpo se modificar. Pressionei minhas mãos em suas nádegas, sentindo seu corpo roçar no meu e sua pele me provocar um arrepio bom. Ela me deixou explorar sua pele e provocar reações em forma de gemidos, e eu adorava ouvi-la.
—Se sentindo animada? — Ela perguntou, então olhou para baixo, e eu vi meu membro rijo, não podia dizer que estava surpresa.
—Olhe o presente que tenho em cima de mim. Não posso resistir. — Digo, ouvindo minha voz mais rouca.
—Deixa eu te mostrar algo irresistível.
Ela se posicionou acima de mim, suas pernas em minha cintura, então ela segurou meu membro e acariciou a superfície, masturbando e me fazendo gem*r, deixando a região sensível. Havia um sorriso diabólico nos seus lábios quando ela penetrou o membro dentro de si, meus olhos se apertaram para continuar olhando a imagem, a sensação era prazerosa demais, sentir seu interior quente e úmido ao meu redor.
—Graah te escondeu de mim por tempo demais. — Subo os olhos pelo seu corpo sensual lentamente até parar em seus olhos. — Diga o que você quer.
—Que você dure já seria um bom começo.
Ela começou a mover o quadril, meu membro roçou dentro dela, eu vibrei em desejo, mas me esforcei para manter o foco, e mantive minhas mãos ocupadas, acariciando seus seios e arranhando seu abdômen. Era maravilhoso senti-la tão intensa e entregue daquela forma. Seu corpo se movia de forma coordenada e seus olhos não saiam dos meus, procurando sinais de que não seguiria seus comandos, mas eu segui, eu segui cada passo que ela ditava, e tive o prazer em assistir o suor escorrer entre seus seios quando seu interior se contraiu ao redor do meu membro, e ela chegou ao êxtase.
Ela continuou em cima de mim, recuperando o fôlego, então sorriu, inclinando-se para beijar meus lábios.
—Você conseguiu, por que não estou surpresa? — Ela falou contra os meus lábios.
—Porque eu nunca te deixei decepcionada. — Digo num pequeno riso. — Mas talvez o efeito esteja acabando.
—Não comece a me decepcionar agora, Vonü.
Ela voltou a se movimentar, eu esperei, tocando meu membro para estimulá-lo enquanto Lin se deitava ao meu lado, virada, e me olhou sobre o ombro, movendo o rosto para que eu avançasse. Eu quase não acreditei no que ela estava sugerindo. Olhei suas costas se desenhando a minha frente em curvas viciantes, as marcas de Graah em um círculo cheio de runas no centro de suas costas. Sorrio. Ela é linda. Beijei seu ombro antes de posicionar meu corpo em suas costas, lentamente colocando meu membro entre suas nádegas, penetrando-a com cuidado, seu quadril se inclinando para o contato. Ela estendeu o braço para trás e pressionou os dedos entre meus cabelos, sua cabeça inclinando, eu capturei seus lábios quando comecei a mover o quadril, estocando dentro dela. Não tive pressa, aproveitei o momento, acariciando seu corpo, descendo a mão até entre suas pernas, movendo os dedos no órgão inchado.
Ao contrário da sensação anterior, seu interior era mais estreito e roçava em meu membro inteiro. Era maravilhoso. Ela chegou ao clímax e eu me permiti chegar também, gem*ndo em seu ouvido. O efeito do frasco tinha acabado logo em seguida, Lin se virou para mim e bebeu o resto do liquido, e começou a trabalhar em meu corpo, eu não a impedi, eu queria que ela me sentisse da mesma forma que a senti, então abri minhas pernas e puxei seu rosto para o meu.
—Com pressa agora? — Ela riu, mas não parecia reclamar de verdade.
—Estou te dando a chance de aproveitar mais tempo.
Ela me penetrou e começou a estocar, eu a recebi com prazer, sentindo seu membro rígido dentro de mim. Ela mostrou sua experiência, mantendo o ritmo firme e preciso como imaginei que ela faria, era sua assinatura. Ela chegou ao êxtase dentro de mim, eu me permiti chegar também.
Eu percebi que o efeito ainda permanecia, então troquei nossas posições e montei em cima dela, que riu, pressionando os dedos na minha cintura. Eu masturbei seu membro, ela acariciou meus seios.
—Quem diria, Vonü. — Ela falou, mordendo o lábio inferior. — Você herdou o fôlego de Graah.
—Repita isso da próxima vez. Agora me mostre sua experiência, ki aterkinë.
Ela continuou, seu membro se tornou rígido outra vez e eu montei nele, adorando a sensação de a ter dentro de mim, era diferente de outras experiências, e nem de longe se comparava a sensação sufocante de Tenië e sua possessividade. Volinüs era firme, mas também era carinhosa e zelosa. Ela cuidava de meu prazer ao mesmo tempo que me deixava satisfazê-la. Estar com ela era como encontrar um encaixe que eu nem sabia que existia a necessidade de possuir. Eu quis dar esse filho a ela, mas acima de tudo, eu queria marcar nossa história como algo contínuo e forte, capaz de derrotar as barreiras.
Repetimos nosso pequeno ritual naquele inverno rigoroso mais algumas vezes até termos a certeza de que tinha dado certo, e eu estava grávida. Mas não contamos para ninguém, queríamos esperar a luta tão aguardada entre Alinü e Veegan, assim saberíamos que curso Tieres iria seguir e em que rumo nosso filho nasceria.
—Eu seguirei seus treinos o resto do inverno. — Volinüs anunciou numa manhã.
Eu tinha transferido nossa zona de treino para o salão de festas dentro de casa dado a neve do lado de fora. Tinha mandado retirar todos os móveis do centro para que tivéssemos caminho livre. Alinü e eu estávamos esticando nossos músculos quando Volinüs adentrou o cômodo, a mão presa no cabo de sua espada na cintura.
—Você vai? — Alinü sorriu, olhando para mim. — Você se uniu a minha mãe, mas você é uma Trhonttier, e eu lutarei com sua irmã.
—Eu sou uma Trhonttier, mas me uni a sua mãe. — E eu estava grávida, e essa era a forma dela impedir que nosso filho corresse um risco. — E meu senso de justiça me diz que você deve vencer essa luta.
—Senso de justiça? E sua honra pela sua família?
—Eu honro minha família. Mas não serei cega pelas atitudes de minha irmã mais velha.
—Vai ser bom aprender algo novo, Ali. — Digo a olhá-la, buscando encorajá-la. — Volinüs lutou bem durante a guerra, tenho certeza de que há algo que você achará útil aprender.
—Se você acha que sim, então farei isso sem problemas, mãe. — Ela pegou Sopro da Morte da bainha, ou eu achava que sim, era impossível enxergar a lâmina ou o cabo, e várias vezes ela usava disso para fingir que estava com a espada quando tinha as mãos vazias. — Venha me pegar, se puder. — Ela sorriu e piscou para Volinüs, instigando-a a atacar.
Volinüs gesticulou para que eu me afastasse, e eu cruzei o cômodo até uma cadeira na lateral, retirando a bainha de Tormenta e deixando no chão antes de me sentar. A luta já tinha começado. Volinüs avançou com rapidez, ainda desarmada, deixando-se vulnerável para o ataque de Alinü, que não veio, porque ela leu a intenção de sua oponente, e se afastou, movendo as pernas habilmente. Volinüs a convidou para o primeiro ataque porque assim poderia executar um ataque rápido em sua guarda aberta.
Volinüs sacou Anoitecer enquanto minha filha se afastava e continuou avançando, mas não tentou atacar até as costas de Alinü encostarem na parede do outro lado do cômodo, quando posicionou o corpo a esquerda e aplicou o golpe a direita, impedindo que ela saísse do seu ataque. Mas nessa proximidade, Alinü segurou seu pulso e impulsionou o joelho, acertando sua barriga, usando outra mão para socar seu rosto uma, duas, três vezes, revelando que não segurava Sopro da Morte. Eu quase protestei por sua selvageria. Mas Volinüs disfarçou seu atordoamento ao girar a espada no espaço entre elas e desferir um corte profundo no braço de espada de minha filha, que gem*u com dor, sangue escorrendo do seu ferimento e do rosto de minha mulher. E a luta só tinha começado.
—Vocês sabem que isso deveria ser um treino, e não uma luta para vocês tentarem se matar. — Digo de onde estou, na esperança de que diminuíssem o ritmo.
—Veegan não vai pegar leve com esse bebê. — Volinüs me respondeu.
E isso fez Alinü atacar. Eu descobri que Sopro da Morte não estava em sua bainha porque ouvi a lâmina rasgar o ar pelo cômodo em direção às costas de Volinüs. Ela não iria perceber o som, iria? Eu me levantei e lancei Tormenta, fazendo-a desaparecer e reaparecer a cortar o percurso de Sopro da Morte no meio do destino, ambas as espadas caindo no chão e tilintando o impacto, mas somente minha espada era visível. Volinüs se virou e olhou minha espada antes de me olhar, em busca de explicação.
—Você estava tentando matá-la? — Pergunto a Alinü, que bufou, com raiva, pressionando a mão no ferimento do braço para parar o sangramento. — As regras do combate são claras. Nada além da espada.
—Eu não iria feri-la. — Ela se defendeu, afastando-se e pegando sua espada no chão. — Eu só queria pegar a espada.
—Você não pode usar nada que não seja seu corpo e sua espada. — Volinüs a repreendeu, limpando o sangue do seu lábio com as costas da mão.
—É mais difícil do que você pensa. — Murmurou, tentando se afastar, mas eu avancei e agarrei seu braço com força.
—Você fica a um passo de perder tudo sempre que deixa seu temperamento ditar o que você faz. — Digo de maneira dura.
—Meu temperamento não teve nada com isso.
—Não minta na minha cara, filha. Eu vi seus olhos. Controle isso. — Estreito os olhos, esperando o entendimento passar em seus olhos, mas eu encontrei culpa. — Por mais difícil que seja, você será líder de graahkinianos, e você precisa aprender como é se sentir graahkiniana, e não deixar seu sangue voulcan tomar conta.
—E o que é ser graahkiniana, mãe? Eu vou lutar contra uma mulher que deveria inspirar confiança, e não contra uma mulher que tenho nojo e que desejo matar. — Eu não respondi de imediato, ela soltou meu aperto com alguma mágoa pela minha repreensão. — Eu te vi lutar minha vida inteira com dezenas de guerreiros que queriam ter a honra de cortar sua cabeça. Você é invencível. Não eu.
—Ser graahkiniana é colocar sua honra acima dos seus problemas. — Foi Lin quem respondeu, colocando-se perto de nós. — É lutar cada batalha independente se vai ganhar. É relembrar seus ancestrais e reconhecer seus atos, honrar suas memórias. Mas principalmente, é respeitar seu oponente e lutar pelo seu sangue.
—Pelo sangue graahkiniano. — Ela me olhou, provavelmente porque eu mantinha a forma graahkiniana.
—Você é graahkiniana também, Ali. Vai depender de você escolher qual sangue vai vencer essa batalha. — Digo num tom mais íntimo, e toco seu rosto.
—O seu sangue, mãe. Claro que o seu. — Ela sequer pensou para responder, e isso me fez sorrir.
—Então vamos trabalhar nisso, porque sua batalha está próxima. — Ela sorriu por um breve momento, então olhou para Volinüs.
—Mais uma vez?
—Claro, bebê. Vamos ver se seu sangue ferve. — Lin respondeu num sorriso de lado.
—Só tente não desfigurar minha mulher. — Digo em tom de humor, mas falava a verdade, então segurei o rosto de Lin e movi os dedos pelos seus ferimentos para cicatrizá-los, mas ela ficou com uma cicatriz no lábio inferior. — Eu quero olhar para o seu belo rosto o resto dos meus dias.
—Está tentando me distrair antes da batalha, ki aterkinë? — Ela riu e se afastou, mas a nova cicatriz a tinha deixado com um toque a mais de sensualidade.
Eu peguei Tormenta e voltei para a minha cadeira, assistindo a luta recomeçar. Alinü já tinha praticado tanto com Sopro da Morte que sabia localizá-la no ambiente como se a estivesse vendo. Talvez a espada sempre tivesse sido para ela afinal. Veegan tinha criado a espada para a sua oponente.
Tormenta era diferente. Era transparente como vidro e havia água dentro, movendo-se como uma tempestade, com raios circulando a lâmina. Espadas elementais eram incríveis, possuíam um poder imenso, e isso aumentava quando sabia usar.
E Volinüs sabia usar Anoitecer, uma lâmina escura que queimava ao contato. Ela girava a lâmina e movia o corpo como se fossem uma só arma, os movimentos eram coordenados e ela deferia os golpes sem hesitar, com firmeza. Ela era rápida, mas havia certo cálculo nos seus movimentos, ela sabia como devia atacar para causar uma reação em minha filha, de forma que tivesse vantagem nos ataques.
Alinü não se deixava vencer. Se Volinüs atacava de modo premeditado, minha filha contra atacava de maneira inesperada para quebrar o ritmo que minha mulher impunha. Volinüs estocava, deixando a guarda aberta, mas Alinü golpeava a lâmina debaixo para cima, quebrando as intenções dela. Alinü voltou a socar o rosto de Volinüs e usou a distração para investir Sopro da Morte, posicionando em seu pescoço, mas Lin tinha o punhal que Athen lhe deu pressionada na sua barriga. Elas se olharam por um longo momento e se afastaram, decidindo que ninguém tinha ganhado.
Athen entrou na sala enquanto elas recuperavam o fôlego, trazendo Enuvië no colo e me entregando. Ela estendeu a mamadeira e sentou ao meu lado.
—Por que você não está lutando? — Ela me perguntou, olhando para a luta que elas tinham retomado.
—Alinü precisava de uma tática nova e Volinüs queria ajudar.
Aconcheguei meu filho nos braços e acariciei seu rosto, fazendo gracejos, mas ele começou a chorar irritado, e eu suspirei, pacientemente colocando o bico da mamadeira em seus lábios, após alguns instantes ele sugou. Olhei para a luta, para os movimentos rápidos de minha mulher e o reflexo afiado de minha filha, mas Enuvië puxou uma mecha do meu cabelo e eu o olhei, pacientemente segurando seu braço e impedindo que puxasse, mas permitindo que segurasse.
—Eu não entendo. Por que ela quer que Alinü ganhe? É a irmã dela que vai lutar.
—Estamos unidas, ela acha que deve ajudar a família principal continuar nesse posto.
—Então ela está pensando nela mesma.
Eu a olhei, estreitando os olhos. Se Volinüs escutou não interrompeu a luta, e eu esperei que a garota explicasse o que pensava.
—Você mesma disse. Ela está preferindo nossa família do que a dela própria, porque vocês se uniram.
—Não existe só minha família e a dela. Nós somos uma família. Eu me uni a ela para nossas famílias se unirem.
—Mas não se uniram se Alinü vai lutar com Veegan.
—É uma luta simbólica. — Olho para a luta, o som das lâminas preenchendo o ambiente. — Para decidir a liderança do nosso povo. Lin só quer o melhor para o povo.
—Você devia continuar na liderança.
—Por que?
—Porque eu gosto de ser filha da líder.
—Você será mais que filha ou irmã de uma líder. Você criará seu próprio título, Athen.
—Mesmo não tendo seu sangue? Terei o mesmo valor que Alinü ou Enuvië?
—Você tem o mesmo valor que eles para mim, porque vocês são todos meus filhos e eu farei tudo para proteger vocês. — Eu a olhei com seriedade, não querendo que tivesse dúvidas.
—Mas Veegan te ofereceu a filha de sangue, e não Greentur.
—Veegan é uma idiota. Mas ela queria ter mais tempo com os filhos e ofereceu a mais jovem para poupar os mais velhos.
—Você teria me oferecido?
—Você iria querer aprender os costumes dela sabendo de minha relação com ela? Sabendo que passaria a morar com ela e a seguir tudo que ela diz?
—Se fosse para honrar sua palavra, sim, eu o faria. — Ela tinha certeza nos olhos, e para isso eu sorri, o orgulho queimando em mim.
—Então você seria escolhida, porque eu saberia que no fundo, você honraria meu nome.
Ela sorriu e me abraçou de lado, eu beijei o topo de sua cabeça e nós voltamos a assistir a luta. Minha atenção se voltou a Enuvië. Seus traços tinham puxado os de sua mãe, e isso não me agradava. Havia cabelos loiros nascendo e seus olhos azuis me encaravam com curiosidade. Havia nascido outra marca de Graah, esse em seu pescoço, o que era curioso. As linhas do quadrado eram escritas rúnicas, que diziam “todo guerreiro sabe sobreviver na cegueira de seus sentimentos e enxergar a razão no seu destino.” Eu não sabia ainda o que significava, mas ficava feliz que ele tinha herdado as duas primeiras marcas que eu também tinha em minha pele, isso era algo que Seanë não podia dar a ele.
Eu me perguntava como meu filho com Volinüs seria quando nascesse. Se teria seus traços ou os meus. Se seria calmo e paciente como eu, ou firme e preciso como Volinüs. Seria genioso como ela ou maleável como eu?
—Estou rezando pelos seus pensamentos, ki aterkinë.
Levanto a cabeça e minha mulher está a minha frente, largando a espada no chão e sentando no meu colo quando posiciono Enuvië contra meu peito. Ela tinha os cabelos organizados num coque, tinha secado o suor, mas havia ferimentos em seu rosto e em seu corpo que minha filha tinha feito.
—Você está com a cabeça longe. O que está tirando sua atenção da sua mulher? — Ela sorriu, a nova cicatriz tornando seu sorriso mais provocante, então selei seus lábios, deslizando uma mão pelo seu rosto para cicatrizar seus novos ferimentos.
—Não é algo ruim, eu garanto. — Olho para o lado, e Athen entende meu pedido, levantando e indo atrás da irmã. Então volto minha atenção para Volinüs. — Estava imaginando como será nosso filho. — Digo mais baixo.
—Oh. — Isso atraiu sua atenção, seus dedos pressionando em meus ombros para se manter equilibrada no meu colo. — Dado a ordem dos seus irmãos, é provável que você tenha outro garoto.
—Meus irmãos? Bem, possivelmente. Os quatro primeiros foram garotos, então só veio uma garota depois de mim.
—Então digamos que será um garoto. — Ela disse, mantendo o tom confidencial. — O que mais pensou?
—Eu quero que tenha seus olhos, seu olhar. — E queria mesmo, porque aqueles olhos tinham a capacidade de me virar ao avesso e encontrar as verdades que procuravam.
—Oh. Isso é uma surpresa. Meus olhos são comuns.
—Seus olhos são tudo, menos comuns.
—Vonü, você está buscando me deixar corada hoje.
—Eu disse que te faria feliz, não disse?
—E está conseguindo. — Ela selou meus lábios, uma de suas mãos acariciando a cabeça de Enuvië. — Se formos pensar, Alinü quebrou a sequência de garotos da sua família, então talvez teremos outra menina.
—Você prefere que seja menina?
—Imagine só, todos seus filhos são garotas, e apenas Enuvië entre elas.
—Ele terá um difícil trabalho em se destacar entre elas. Mas encontrará a própria força. — Deslizo a mão por um de seus braços, fechando os cortes abertos.
—Eu prefiro que seja garota. Os meninos costumam demorar para usar a cabeça certa para pensar. E sendo uma produção nossa, não espero menos que uma menina.
—Mais um motivo para ter seus olhos. Tenho certeza de que vai herdar seu temperamento.
—Espero que não. Ou vamos ter um trabalho imenso em controlar os desejos dessa criança.
—Eu não tenho problema nenhum com seus desejos.
—Claro que não, você os adora quando envolvem você. — Isso era verdade, mas nunca a tinha impedido de realizar os demais desde nossa união, mesmo que um deles tenha sido continuar transitando entre nossas casas. — Mas você está abrigando nosso filho, então sinta-se privilegiada, porque realizarei todos seus desejos.
—Você irá? Então virá morar aqui? — Sorrio, porque no fundo queria minha mulher morando comigo.
—Quando você precisar de mim, estarei aqui. — Ela não desistiria da ideia, afinal, nem pelo nosso filho. — Eu não me acostumo com rotinas. Não fui feita para isso, minha querida. E eu gosto de dormir no silêncio de minha casa, às vezes.
—Numa cama solitária. — Digo com ressentimento.
—Não é ruim ficar sozinha, Vonü. Não significa que eu não goste da movimentação de sua casa. É cheio de vida aqui, com tantas crianças. Com a nossa a caminho. — Suspiro, desistindo de insistir no assunto.
—Está bem, eu prometi não te obrigar a nada. — Mantenho os olhos nos dela para indicar que a promessa continuava valendo. — Mesmo que não goste da ideia. Mas respeitarei suas vontades.
—Mesmo não gostando? — Ela estava me testando, mas eu me deixei ser testada, porque não a obrigaria a morar comigo se valorizava sua liberdade em sua casa. — Eu realmente conquistei sua confiança, Vonü. Qualquer outro graahkiniano usaria isso contra mim.
—Qualquer outro graahkiniano cresceu com outros graahkinianos ensinados a nossa cultura, mas convivendo com cristãos. — Digo com paciência, desgostando de sua comparação. — Eu vivi em vários lugares. Cresci com um povo selvagem, mas não me tornei um deles.
—Você não precisa ser rude. Eu estava tentando te elogiar. — Ela franziu o cenho, incomodada.
—Eu cresci vendo a privação de liberdade de um povo que só sabe lutar entre si. Eu não seguirei esses costumes. — Eu fiz menção de levantar, tocando sua cintura para sinalizar, e ela saiu do meu colo, olhando-me irritada. — E não tente me elogiar ao me comparar com os outros, aterkinë. Faça isso diretamente.
—Você é tão enigmática as vezes, Vonü, não é como se pudesse ser sempre direta com você sem explorar suas barreiras. — Falou na defensiva.
—Então você encontrou uma, não foi uma discussão inútil afinal.
—Com licença? — Seanë parou ao nosso lado, eu nem a vi entrar, e ela olhou entre nós. — Estou interrompendo a briga?
—Que direito você acha que tem em interromper? — Volinüs a questionou com maior impaciência, e eu previ que aquilo não acabaria bem.
—Com meu filho no meio? Eu tenho todo o direito.
—Você não está com muita credibilidade para nos questionar, Seanë. — Digo de maneira fria. — E não devemos satisfação a você. Não volte a interromper.
—Não desconte em mim se sua mulher é uma criatura insuportável.
—Eu? — Volinüs tinha os olhos estreitos, mas forçou um sorriso. — Talvez para você. Vonü tem a confiança de que não deitarei com qualquer um por puro capricho. Mas o que podíamos esperar de uma bastarda cristã?
—Chega, vocês duas. — Intervenho em tom cortante. — Eu não vou tolerar que vocês criem uma guerra debaixo desse teto.
—É simples! Mande-a embora. Estávamos em paz até ela chegar.
—Não posso e você sabe disso. Ela é mãe de Enuvië. — E isso era verdade. Eu não poderia simplesmente mandá-la embora.
—Então eu vou embora. Em minha casa eu não preciso me preocupar em aturar uma criatura que se veste de graahkiniana, mas esconde uma cruz embaixo das vestes.
Eu somente a encarei, porque ela sabia que não era a favor dessa ideia ridícula, mas não digo nada, e a assisto pegar Anoitecer e sair do cômodo a passos pesados. Há poucos minutos havia paz e estávamos bem, imaginando como nosso filho seria, e agora ela estava usando algo que sabia que eu desgostava porque não realizava um de seus desejos.
—Mãe, tudo bem? — Alinü perguntou de onde estava, parando de ensinar uns movimentos para Athen.
—Não. — Suspiro, mantendo os olhos em Seanë. — Você devia ter se mantido no seu lugar e não interrompido nossa conversa. Eu já interrompi alguma coisa entre você e sua mulher?
—Não. Mas eu também não podia ficar parada esperando.
—Esperando o que? Eu não te devo nada. Nosso filho estava bem. Não arranje desculpa para se intrometer em minha relação com Volinüs.
Eu não esperei por resposta. Eu estava com raiva demais. Eu sai da sala sem falar mais nada, mas ela me seguiu.
Fim do capítulo
Se preparem para a treta no próximo capítulo :D
Temos mais 4 capítulos pessoal :) Querem que eu termine logo e poste dois no sábado e na próxima terça? Deixem-me saber ;)
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Lea
Em: 14/08/2021
Não confio na Volinüs totalmente!!! Certa vez ela perguntou para Vonü se ela pudesse desistiria de seus poderes,de sua forma atual. Pensando na porção que ela fez para "mudar" seus órgãos,seria ela capaz de formular uma porção para mudar a forma de Vonü,e de certa forma a obriga-la a testar a porção??
Será possível que a Seanë esteja amando a Veegan e a Vonü com intensidade diferente,mas mesmo assim amando??
Alinü está mostrando que está mudando de verdade!!
Gosto desta pequena da Vonü,ela realmente ama a mãe e a admira!!
O pequeno terá alguma deficiência???
Resposta do autor:
É porque a Voli é ardilosa xD brincadeira
A poção é específica para essa brincadeirinha dela na cama, não é capaz de mudar a forma por um todo e nem é a intenção dela mudar a Vonü ;)
A Seanë ama a Veegan como uma parceira amorosa para a vida, uma companheira, enquanto a Vonü era um amor mesclado com respeito e admiração.
Alinü realmente mudando, e nem foi para pior!
A filha mais nova é um amor não é mesmo?
E não, o filho mais novo não terá nada ;)
Marta Andrade dos Santos
Em: 22/06/2021
Vixe Van? está ferrada com essa duas.
Resposta do autor:
ahahah acho que a Vonü tá sempre ferrada :D
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