Não cultivará a guerra entre seu povo, mas lutará por sua família
O inverno ainda não tinha chego em Tieres, mas naquela manhã tinha começado a cair a chuva que antecedia a neve. Veegan não estava mais na cama quando acordei, mesmo sendo cedo demais, mas tinha sido assim desde que aceitou o desafio de Alinü durante a festa com sua família. Ela passava o dia inteiro treinando e se exercitando, desafiando qualquer um dos seus irmãos para testar seu progresso, mas sua habilidade era inquestionável, tinha anos de experiência, e mesmo que tenha passado os meses de gravidez sem praticar, era evidente que continuava excelente no que fazia. Mas não era o suficiente. Ela sabia que era sua chance de conquistar a liderança e tomar o lugar da família principal. Ter perdido isso a tinha custado mais que deixava transparecer.
Eu me vesti e amamentei Vramiër, que copiava a expressão autoritária da mãe mesmo sendo alimentada. Então acordei os garotos, esperei por eles no andar debaixo para o desjejum. A casa ficava mais animada com eles.
—O que vocês farão hoje? — Perguntei, mordendo um pedaço de pão doce.
—Ficaremos em casa. — Lino, que agora era Greentur, respondeu primeiro, mas não pareceu gostar da ideia.
—Por que? Não era dia de Vaanë buscar vocês?
—Sim, mas a mãe disse que ficaremos em casa.
—E ela falou o motivo?
—Eu perguntei, ela só disse que meus tios estão bravos com ela.
—Eu também estaria. — Noiër falou lentamente, hesitando, mas gesticulei que falasse. — Athen falou que ela proibiu todos de irem na festa de Volinüs.
—O que? — Isso me surpreendeu. Eu tinha saído da casa de Vonü antes que ela voltasse com Volinüs naquele dia, mas Veegan não tinha me dito nada quando a encontrei. — Você tem certeza disso?
—Sim. Trínia veio falar com a gente ontem à tarde para dizer que seu pai não iria nos buscar hoje. — Suiër explicou, parando de comer. — Então ela disse o que aconteceu. Ninguém foi na festa.
Veegan estava provocando uma guerra e não parecia estar se importando com isso. Ela tinha levado vergonha a família de Vonü durante essa união, deixando claro que não concordava com a união. Vonü e Volinüs não deixariam isso sem uma retaliação, e os irmãos de Veegan já deixavam claro seu descontento com a situação. Eu tinha que fazer alguma coisa.
Primeiro encontrei Veegan, deixando as crianças brincando na varanda, enquanto Vramiër estava num cercadinho com alguns brinquedos. Ela estava molhada em suor e seus cabelos estavam um caos, ela não cheirava bem e estava suja com grama e sangue, porque treinava contra guerreiros grandes e experientes, mas ainda era a mulher que amava, e eu tinha que ajudá-la.
—Deixem-me falar a sós com minha mulher. — Falei aos guerreiros, que pararam a luta e olharam para Veegan em busca de confirmação, ela me olhou e suspirou, movendo a cabeça para concordar. Eles foram embora e ela guardou Lágrima de Sangue na bainha, sua nova espada, e se aproximou de mim.
—Bom dia. — Ela forçou um sorriso, mas estava exausta. — Você está linda essa manhã.
—Eu gostaria de dizer o mesmo. — Aproximo-me do seu corpo e beijo seus lábios. — Mas você continua sendo galanteadora.
—E eu suponho que não tenha vindo aqui somente para me ver.
—Te ver sempre é meu primeiro motivo.
—E o segundo motivo de hoje?
Respiro fundo, fazendo-a largar a espada e a levando para a beira da casa, para longe da chuva, onde a fiz sentar ao meu lado no banco para curar seus ferimentos. Ela beijou meus dedos em agradecimento quando terminei, e esperou que eu falasse.
—As crianças me disseram o que fez sobre a união de sua irmã. — Digo devagar, e ela estreita os olhos. — Vee, o que está querendo para o seu futuro? Para o futuro da nossa família? Você sabe que essas atitudes só farão sua família te odiar.
—Eles já me odeiam. — Disse com frustração. — Mas estão adorando Vonü. E ela nem sequer era da família.
—Mas passou a vida toda achando que era. Ela te considerava irmã até há alguns dias, Vee.
—Então descobriu sua origem e me odeia também.
—Não é tarde demais para mudar isso. — Ela me olhou como se eu tivesse falado algum absurdo, mas mantive a paciência. — Pense comigo. Você envergonhou a união de Vonü com sua irmã.
—Eu não iria nessa festa se elas eram incapazes de aceitarem nossa união.
—Eu te disse, mais de uma vez, que não me importava de não ir. Elas tinham todo o direito de vetarem minha presença lá uma vez que já fui a mulher de Vonü, e quebrei meus votos com ela. — Ela abriu a boca para protestar, mas pressionei um dedo em seus lábios. — Você está sendo orgulhosa e negligente. Seus irmãos estão se recusando a ensinar nosso filho. Vonü pode ter seguido com a palavra dela e não contado que quebrei meus votos, mas ela não tem qualquer motivo para manter isso um segredo se você a continuar desafiando. Você quer que Greentur e Vramiër cresçam com uma mãe que foi desonrada de sua família?
—O que acha que estou fazendo, Seanë? Estou treinando todos os dias para merecer a liderança.
—E quem vai te seguir se você não está respeitando o princípio mais fundamental de Graah, que é honrar sua família? — Isso a fez desviar o olhar em claro desconforto. — Por favor, Veegan. Pare de ser tão orgulhosa. Você vai levar nossa família a desonra.
—O que eu deveria fazer, Seanë?
—Não tomar decisões sem falar comigo, ainda mais quando são decisões que envolvam nossa família. Mas agora isso é passado, e temos que lidar com as consequências.
—O que sugere? — Ela me olhou com puro cansaço.
—Nós vamos até a casa de Vonü, e você dará sua palavra para ela e sua irmã de que não tentará confrontá-las ou provocá-las. Vonü é a família principal, isso não tem discussão. Se não aceitar esse fato e tentar criar paz com ela e sua irmã, nós não teremos paz. — Ela não respondeu, eu acariciei seu rosto, inclinando-me em sua direção. — Estamos unidas, Vee, como sempre quisemos. Eu sei que você quer a liderança de volta, mas você precisa enfrentar a realidade de que não conseguirá isso sozinha.
—Tudo bem. Não será uma tarefa fácil, mas você tem razão. Irei a casa dela. — Ela beijou meus lábios e encostou a testa na minha. — Vou me lavar e trocar de roupa.
—A chuva está diminuindo. Irei preparar as crianças enquanto isso.
Ela me beijou mais uma vez, expressando sua gratidão, então entrou em casa e eu respirei aliviada, na esperança de que consertaríamos as coisas. Coloquei roupas formais nas crianças, até mesmo em Vramiër, e aguardei Veegan. Todos estavam inquietos e nervosos na sala, mesmo que eu tivesse explicado que seria somente uma conversa, eles esperavam uma luta, pois era o que tinham visto durante o fracasso da festa de Vonü.
Veegan apareceu vestida com um traje todo em preto, mas o tecido era rico e os botões eram de ouro. Ela queria parecer neutra sem demonstrar desrespeito ou presunção. A casa de Vonü ficava na costa leste de Tieres, então tivemos que cruzar todo o norte da ilha, tendo o trabalho de impedir que as crianças se sujassem nas possas de água e lama que se formaram pela chuva. Quando chegamos, pedi que um dos serviçais dela fossem chamá-la junto a Volinüs, sua nova companheira.
Vonü estava em trajes casuais, e pela mancha abaixo dos olhos pensei que tivesse passado a noite em claro. Sua mulher não estava em melhor estado, com olhos inchados e rosto amassado, ainda que compensasse o cansaço com um caríssimo vestido preto e as tranças presas sobre o ombro direito. Se ela não fosse tão desagradável, eu a acharia bonita.
—Assumo que é uma surpresa encontrar vocês aqui em plena manhã. — Vonü falou primeiro, aproximando-se para ficar de frente para Veegan, ainda que tenha desviado o olhar para as crianças. — Aconteceu alguma coisa?
—Eu vim com minha família em sinal de paz. — Veegan respondeu em tom controlado, e eu vi seus olhos mudarem para a irmã. — Eu vim pedir desculpa pelas minhas últimas atitudes.
—Não é como se fosse mudar o que você fez diante de Graah. — Volinüs a cortou antes que pudesse continuar, mas continuou mais atrás, desconfortável. — Você me envergonhou e tentou impedir que cumprisse o acordo que nossos pais fizeram com a família de Vonü.
—Eu sei, e sinto muito por isso. Estou arrependida do que fiz, e gostaria de ter uma forma de compensar meu erro, mas sei que é tarde. — Veegan se mexeu desconfortável no lugar. Era um grande esforço para ela, e um passo maior ainda que estava dando, mas sabia que era necessário e por isso continuou. — Você é minha irmã e eu fui egoísta.
—Ela é sua irmã e você não pensou duas vezes em envergonhá-la para me atingir, Veegan. — O tom de Vonü foi ainda mais cortante. — Você tem repetido isso uma vez atrás da outra, o que está querendo provar com isso?
—Não temos uma boa relação, eu admito. — De algum modo ela se controlou. — Mas estou aqui para iniciar uma nova relação com você, Vonü. Independentemente do resultado da luta com sua filha. É hora de reconstruir a paz e a estabilidade em nossas famílias.
—E como quer fazer isso? Como posso acreditar em suas palavras depois de tudo?
Eu entendia Vonü. Ela se sentia traída em mais de uma forma em relação a Veegan, e não a culpava. Ela tinha escondido sobre sua origem desde que chegamos a Tamber, e ainda pensando que eram irmãs, assistiu nossa traição debaixo do seu teto. Ainda assim, ela não entendia que Veegan se sentia na obrigação de protegê-la da verdade que não havia mais nenhuma família para ela, além de que queria prepará-la para ser líder, mas Vonü nunca quis esse cargo ao contrário de todas as expectativas que tinham sobre ela. Mas lá estava ela, exercendo a liderança como se sempre tivesse sido seu destino fazê-lo. Talvez estivesse no seu sangue.
Hoje eu entendia porque Vonü e Veegan eram tão diferentes. Além de serem de famílias com histórias tão únicas, tinham temperamentos opostos. Veegan era impulsiva e lidava com os conflitos de maneira firme e autoritária, impunha seus desejos e não esperava o destino lhe fornecer os frutos, cavava até tê-los, além de ser intensa e objetiva. Vonü era mais racional e paciente, buscava entender as motivações antes de tomar uma decisão, mas quando a tomava, tinha toda a certeza de não voltar atrás. Apesar de tudo, ela sabia demonstrar seus sentimentos de maneira controlada e precisa, tinha um senso de honra maior que o orgulho, e por isso, pensei, tinha sido tão difícil encontrar um caminho para ficarmos juntas. Vonü não era uma pessoa fácil de deduzir ao contrário de Veegan, que era transparente no que queria, para entendê-la era necessário paciência e tempo, que ela confiasse e dissesse o que pensava, e ganhar sua confiança já tinha sido tão difícil.
Elas eram tão diferentes que eu entendia a dificuldade em entrar num acordo. Eu interviria no que pudesse para mantê-las longe de uma discussão, mas duvidava de Volinüs colaboraria para isso.
—Eu gostaria de oferecer uma festa em nome de sua união com minha irmã em minha casa. — Veegan respondeu, seus olhos vagando entre o casal. — Eu sei que isso não vai apagar o que fiz, nada apagará, Graah sabe disso, mas eu quero demonstrar que estou disposta a fazer o necessário para unir nossas famílias.
Vonü olhou para a sua companheira, que moveu a cabeça de maneira positiva, talvez concordando com a ideia, eu esperava que sim.
—Nós aceitamos sua oferta. — Falou por fim, para o meu alivio, mas pela postura rígida de Veegan, suspeitei que não tinha acabado ainda. — Mas você deve entender que suas ações tem consequências.
—Sim, e por isso eu ofereço minha filha, quando tiver idade, aos seus cuidados, para aprender os costumes da família principal e segui-los como se tivesse seu nome.
Eu parei no lugar, como se tivesse escutado um absurdo. Vonü e sua companheira pareceram tão perplexas quanto eu devia parecer. O que Veegan estava esperando com isso? Era um preço alto demais. Greentur avançou diante de Veegan e pressionou suas mãos na sua barriga para atrair sua atenção.
—Não! Você devia me oferecer. Eu já tenho idade. — Ele protestou com raiva e frustrado, querendo provar seu valor. — Me escolha e não a um bebê!
—Você é meu filho, mas Vramiër tem meu sangue. — Era a realidade, mas não significa que não tivesse machucado o garoto da mesma forma. Veegan amava seus filhos, mas todos eram diferentes, e não podíamos ignorar o fato. — O que me diz Vonü?
—Você tem certeza disso? — Vonü não parecia duvidar da oferta, mas queria se assegurar de que ela não mudaria de ideia.
—Sim. Seanë me ajudou a enxergar a gravidade de minhas ações e eu não vou menosprezar as consequências. Eu quero que meus filhos cresçam sabendo que suas ações tem consequências, e que sua mãe cumpriu com elas. — Veegan não tinha dúvida no olhar, e eu me perguntava quando foi que tinha tido essa ideia. — Você é uma pessoa honrada, sei que ensinará os valores graahkinianos a ela, ao lado de minha irmã.
Outra vez Vonü olhou para Volinüs, e dessa vez ela se aproximou antes de responder, olhando para a irmã e então parando a minha frente, estendendo os braços para que eu entregasse a filha de Veegan. Eu o fiz com cuidado, porque nunca a tinha visto segurar um bebê, mas ela pareceu manejar a criança melhor do que esperava, e voltou ao lado de Vonü, que parecia olhar a menina pela primeira vez.
—Diante de Graah, nós ensinaremos sua filha. — Volinüs falou com seriedade, ela levava os costumes a sério, eu não podia contrariar isso.
—E honraremos sua escolha. — Vonü falou em seguida. — Sua atitude não será esquecida.
Veegan pegou a filha nos braços, então apertou a mão de ambas de maneira formal, para finalizar o acordo. Volinüs envolveu o braço de Vonü até suas mãos se unirem, parecia tão natural que me senti incomodada, imaginando como elas teriam se acertado de maneira tão rápida. Eu não imaginava Vonü com uma mulher tão rude e esnobe como Volinüs.
—Toda sua família está convidada. — Veegan falou. — Prometo um clima amistoso.
—Todos nós iremos. — Vonü garantiu.
Volinüs percebeu que estava olhando para elas, e talvez não devesse estar encarando com um desconforto tão visível, porque ela sorriu com desdém e inclinou a cabeça para Vonü.
—Está esfriando, querida. — Ela falou, e Vonü passou o braço sobre seus ombros.
—Desculpa, Lin. — Sorriu, beijando sua testa antes de se virar para Veegan. — Há algo a mais que queira discutir, Veegan? Não quero deixar minha mulher doente.
Minha mulher? Então elas já tinham esse grau de intimidade? Como Vonü conseguia?
—Não, nós já falamos tudo o que viemos falar. — Veegan respondeu, e segurou minha mão, tirando-me do transe. — Tenham um bom dia.
Nos viramos e seguimos o caminho de volta para casa em um silêncio estranho, porque as crianças estavam tensas e Greentur estava frustrado. Ele era o mais velho e tinha sido recusado de fazer parte de um acordo entre famílias importantes. Mas ele acabaria entendendo, cedo ou tarde. Quando chegamos em casa, cada um foi para o seu quarto e eu segui Veegan para o nosso quarto, sentando na cama enquanto ela ninava a filha para dormir.
—O que foi aquilo? — Ela perguntou com voz áspera, o que me intrigou, sem ter certeza do que ela se referia.
—Eu quem devia te perguntar. Você realmente quer entregar sua filha aos cuidados de Vonü?
—Sim, porque eu sei que o preço seria mais alto se não sugerisse Vramiër. Eu poderia perder o respeito de minha família e nossos filhos cairiam em desgraça. — Ela deitou a filha no berço e contornou a cama até ficar a minha frente, e eu tive que inclinar a cabeça para olhá-la, percebendo a irritação crescente em sua face. — O que estou querendo entender, é porque deixou tão claro que está com ciúmes de Vonü com minha irmã.
—Ciúmes? — Eu me forço a rir, levantando-me para desviar sua atenção, mas ela se move para bloquear meu caminho. — Eu não tenho ciúmes de Vonü.
—Não minta em minha face, Seanë. Eu vi. Voli viu. Você está tentando esconder que ainda tem sentimentos por Vonü?
—Ela é mãe do meu filho, claro que tenho sentimentos por ela, mas não da mesma forma que tenho por você.
—Isso não te impediu de demonstrar desconforto com a união delas hoje. — Ela suspirou, impaciente, fechou os olhos por alguns instantes e então segurou meu rosto, fazendo-me olhá-la de perto. — Eu sei que se gostasse dela de verdade não teria se unido a mim. Então somente assuma.
—Não foi ciúmes, Vee. É só... não faz qualquer sentido a relação entre elas. Volinüs não faz o tipo que faria Vonü feliz de verdade. E, no entanto-
—Elas estavam bem. — Eu bufei, frustrada, e ela sorriu, beijando meus lábios antes de se afastar, sentando na cama. Quando foi que Veegan se tornou tão compreensiva? — Você não conhece Voli.
—O que há para conhecer dela? — Viro-me para ela e me sento de frente. — Ela é arrogante com as pessoas, agindo como se fosse melhor que os outros. Você devia tê-la visto depois da guerra, cuspindo em cadáveres. Ela nunca se reúne com outros graahkinianos que não tenham nomes conhecidos, pura soberba. E sempre me olha como se eu fosse menos que lixo.
—Tudo isso é verdade. — Eu a olhei com indignação, mas ela ergueu as mãos. — Menos a última parte, é claro. — Reviro os olhos mesmo assim, ela riu, mas segurou minhas mãos com carinho. — Você não a entende, eu não te culpo. Voli não confia em ninguém que não siga a essência dos costumes. Mas ela também é fiel ao que acredita e se empenha consideravelmente em desvendar nosso passado e não deixar que os costumes se percam, então é normal ela cobre todos pelo mesmo esforço.
—Não justifica ela se achar melhor por isso. Todos são graahkinianos.
—Nós nascemos quando todos os graahkinianos seguiam os costumes antigos. Agora a maioria são jovens que nasceram depois da grande onda, e não fazem ideia como foi morar em Tieres. Cresceram no meio dos costumes de cristãos, ou de politeístas. Podiam aprender nossos costumes, mas não o exerciam porque não podíamos chamar a atenção. — Ela fez uma pausa, eu absorvi os fatos, movendo a cabeça positivamente. — Voli quer que eles aprendam a ser verdadeiros graahkinianos como nossos pais foram, como morreram fazendo, então não a culpe por odiar o povo do mar. Ela era a mais jovem quando a grande onda nos atingiu. Ela endureceu rápido demais entre nós, e foi a que mais buscou nossos costumes.
—Vocês são mesmo próximas. — Observo, porque nunca a vi defender um dos seus irmãos dessa forma. Ela sorriu um sorriso triste e melancólico antes de desviar o olhar.
—Éramos, sim. Então Vonü chegou em Tamber e Voli começou a insistir que eu contasse a verdade. Mas eu não podia jogar isso em Vonü sem saber o que ela tinha se tornado. A situação foi se arrastando até eu perceber outra intenção na insistência dela. — Ela voltou a me olhar, respirando fundo antes de continuar. — Ela já estava guardando sentimentos por Vonü muito antes de mencionarem esse acordo de união entre as famílias. Então se juntar esse conjunto de características de Voli com o que você conhece de Vonü, não fica tão difícil imaginar porque elas estão se adaptando rápido nessa união.
E tinha ficado fácil mesmo. Se Volinüs era tão apegada aos costumes, não era de se admirar que tenha se encantado pelo senso de honra de Vonü. Eu só facilitei a aproximação, afinal. Eu e Veegan. Eu a olhei, sorrindo quando me inclinei e a fiz repousar no colchão enquanto me deitava sobre seu corpo, beijando seus lábios com paixão.
—De certa forma nós colaboramos para que elas ficassem juntas de verdade, assim sendo. — Digo contra os seus lábios, ela riu, abraçando minha cintura. — Espero que sejam felizes.
—Eu também. — Suas palavras soaram genuínas.
—Estou orgulhosa de sua postura hoje, Vee. — Pontuo, olhando em seus olhos. — Você trouxe paz ao nosso lar.
—Era minha obrigação.
—E você o fez melhor que qualquer um faria. — Isso a fez sorrir outra vez, eu acariciei seu rosto, apreciando a visão. — Eu vou começar a te ajudar com os treinos amanhã.
—Você não tem que fazer isso.
—Vee, eu já lutei com Alinü. Eu ganhei. Não foi de maneira limpa, mas eu sei como ela luta.
—E acha que elas não pensaram nisso?
—Sim, mas é melhor do que você não ter qualquer ideia sobre sua oponente quando ela sabe tanto de você. — Ergo as sobrancelhas, ela suspira, porque sabia que eu tinha razão. — Amanhã de manhã. Nós duas faremos isso juntas, porque sei que você é mais do que capaz de vencê-la.
Veegan tinha experiência com uma espada em mãos, sabia manejar com ambas as mãos, e mesmo que Alinü também soubesse, eu duvidava que seria capaz de derrotá-la com sua inexperiência. Vonü faria tudo que tivesse ao seu alcance para mudar a forma como a filha tinha lutado comigo, mas eu não achava que seria suficiente. Veegan venceria e seria líder outra vez.
Fim do capítulo
:) Achei bom colocar um pouco da visão da Seul/Seanë nesse ponto da história.
Que tal uma postagem dupla de capítulos em plena terça?
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Lea
Em: 14/08/2021
Não sei de qual lado ficar nessa luta. Será até a morte??
Alex,a Vonü pode passar seus poderes a quantas pessoas ela quiser???
Resposta do autor:
Teoricamente sim, até a morte a menos que façam acordos.
E não, há um limite, caso contrário ela quem enfraquece e pode morrer ;)
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