Capitulo 34
--Peço desculpas por parecer uma esfomeada, mas é quase isso. Não como há muitas horas... - Elena tentou desculpar-se enquanto deliciava-se com um pouco mais do prato preparado por Paloma.
Todos riram.
--Tu és uma princesa diante do comportamento de glutão do meu filho.
Gargalhadas.
--E olha que ele comeu há menos de uma hora, mas meus pratos costumam mesmo fazer muito sucesso. - Adiantou Paloma.
--Uma delicia! A comida do avião era intragável e eu estava ansiosa e...
Elena olhou para Joy que a observava com o sorriso mais acolhedor e lindo que já vira na vida.
--Ninguém me disse nada...Madia?
--Joy, eu apenas fui informada que tua amiga viria, que ficarias muito feliz e que era para manter segredo.
--E um pedido do teu filho...
--Ah Joyanne, até parece que não estás a soltar fogos de artificio aí dentro desse coração gelado. - Interrompeu Thomas.
Gargalhadas.
--Elena, Paloma, esses são meus dois filhos. Adultos, mas apenas quando não se encontram no mesmo ambiente.
Gargalhadas.
--Teus filhos são adoráveis!
Elena retribuiu o sorriso que Joy mantinha cravado nela.
--Elena, ficas aqui connosco? - Madia perguntou com voz suave.
--Claro, mãe! - Joy respondeu de rompante.
--A minha questão era se ela ficava aqui em casa ou se iam para o teu apartamento.
--Eu fico em qualquer lugar, mas se hoje eu pudesse apenas tomar um banho quente e dormir algumas horas...
--Meu Deus, acho que fui rude...
--Não, nada a ver. Calma mãe, não precisa de cerimónia. A Elena é tranquila e não é estranha.
--Madia, se não tiveres imunidade, amanhã já estarás a morrer de amores pela grega, como a tua filha.
--Idiota!
--Só pela melhoria no semblante da tua irmã, eu já gostei da grega...da Elena, desculpa. - Madia olhou para baixo.
Elena sorriu e sentiu-se muito bem. Imediatamente comparou aquela mulher à sua mãe. Tão diferentes e ao mesmo tempo tão mães...
--Elena, não leve em consideração esse momento. Minha mãe não está acostumada a receber amigas minhas tão especiais aqui em casa...
--Nem especiais e nem de nenhuma outra espécie. Elena, a Joy só é simpática nessa versão que conheceste em Nova York e mesmo assim, acho que apenas em algumas situações.
Gargalhadas.
--Não concordo, Thomas. A Joy é maravilhosa...
--Ah, mas tu também conheceste a melhor versão dela. Eu já sofri tanto como irmão mais novo.
Gargalhadas.
--Tu não tens vergonha nessa cara? - Joy fingiu-se indignada.
Thomas pulou do seu lugar e encheu-a de beijos e abraços.
--Sai, estás todo molhado. Sai!
Elena riu muito, sentindo-se mais calma. Não sabia muito bem o que encontrar naquela família quando decidira aventurar-se por Londres. Conhecia Thomas, mas muito superficialmente e Joy quase nunca falava dos pais. Na realidade, falara muito por alto da relação com o pai, sempre deixando transparecer que não era o melhor dos mundos. Não tinha sido...os filhos não aparentavam muita tristeza pela perda recente. A mãe de Joy era bem diferente dos filhos, recatada, muito discreta e de olhar quase triste. Talvez para ela a perda fosse mais dura, afinal, ela convivia diariamente com o marido e provavelmente a relação tivesse outros ingredientes.
Elena percebeu um olhar quase aflito da senhora sobre si e imediatamente esboçou um sorriso sincero. Joy e Thomas conversavam de forma bastante acesa e Paloma fartava-se de rir.
--Eu juro que até hoje à tarde essa casa parecia um templo, e agora isso. Dei uma excelente educação a essas crianças, mas quando se juntam...
Elena sorriu ao perceber que a senhora se desculpava pelo momento de alegria. Ela, pelo contrário, congratulava-se. Tinha tanto medo de ser tudo tão diferente...
--Eu estou bem! - Elena sorriu.
--Já estás satisfeita? - Seguia com a voz pausada.
--Plenamente! Obrigada!
--Ah, o mérito dessa refeição maravilhosa é todo da Paloma. Mas vais poder experimentar os meus dotes da culinária árabe.
--Com todo o gosto. - Elena sorriu com mais à vontade.
--Acho que precisas de um banho, tirar essas roupas molhadas...
--Não se preocupe...
--Vou levar-te para o quarto. Precisas descansar e eu sei que mal saias desse ambiente, a Joy e o Thomas sossegam. Ele ainda vai arrumar as malas para a viagem...
Elena seguiu a orientação da senhora e piscou para Joy que mesmo conversando com o irmão, não tirava os olhos dela.
Pelo caminho, ela pôde observar alguns detalhes daquela casa. Tudo de muito bom gosto, mas com detalhes bastante austeros. Não conseguia imaginar nem Joy e muito menos Thomas a crescer num ambiente assim. Eles irradiavam luz...
O quarto tinha outra atmosfera, mais vida.
--A Joy insistiu...
--Sim, eu posso ficar aqui sem qualquer problema.
--Há outros quartos e não seria problema...
--Eu fico bem aqui, muito obrigada.
--Tens tudo aqui - ela olhava à volta com muito cuidado - na casa de banho tem toalhas limpas, roupão. Acho que está tudo bem. Ainda bem que o Thomas me avisou a tempo...
--Dona Madia, eu estou muito bem e não demora nada, vai perceber que sou parecida com os seus filhos... - Foi a forma educada que Elena encontrou para acalmar a senhora.
--Peço desculpas. Eu tenho essa mania de...desculpa. Fique à vontade e qualquer coisa que precisar não hesite em me chamar. Estou muito contente com a tua presença. De repente, o ambiente ganhou um pouco de alegria. Essa é a essência dos meus filhos...
Ela sorriu e deixou o quarto como uma pluma ao vento.
Elena percorreu o quarto com os olhos e sorriu. Era estranho estar ali, parecia quase irreal. Mais estranha era a sensação de leveza na alma. Apesar do ar cerimonioso da dona da casa, ela, ainda assim, sentia-se quase em casa. Talvez faltasse a rabugice de Mykonos...
Sorriu e dirigiu-se à casa de banho.
*****
Vencida pelo cansaço, Elena demorou-se no banho. A água quente na pele era uma verdadeira anestesia para o corpo massacrado pelas horas de voo num avião lotado. Ainda sentia-se um pouco fora de orbita e não era apenas pela diferença horária. Estava bem, muito bem, mas parecia-lhe irreal. Estava ali, em Londres. Na realidade de Joy e numa circunstância bastante peculiar. Mas estava ali. Ousara, e agora não tinha mais como recuar.
--E nem quero! - Assumiu.
Prendeu os cabelos no alto da cabeça e com a costa do braço limpou o espelho embaçado pelo vapor. Sorriu. Sentiu-se plena. Corajosa. Dona se si.
De olhos fechados, apertou o roupão na cintura. Por essa altura, o coração batia naquela velocidade que já conhecia. Era quando a coragem gritava por ação. Esticou os braços e os pelos estavam todos eriçados. Sorriu. Riu alto.
--Calma, Elena...calma.
De volta ao quarto, foi arrebatada por um abraço que lhe acariciou a alma, despertando o corpo. De olhos fechados e cabeça pendida para trás, sorriu. Riu com aquela sensação de estar no lugar certo...
Olharam-se. Silêncio. Elena fez menção de dizer alguma coisa, mas teve a sua boca tapada com uma mão suave...quente...por essa altura, os corações batiam por todos os lados. Em simultâneo, os olhares desceram para as bocas que avidamente se buscaram. Que encontro. Estavam sedentas do gosto, do toque...sedentas uma da outra. De intempestivo e lascivo, o beijo foi ganhando contornos mais suaves, ao contrário do abraço. Parecia que uma temia que a outra fugisse, escapasse, afinal, poderia não passar de uma ilusão...
--Estás mesmo aqui? - Perguntou Joy com a boca colada na de Elena.
Buscando ar, ela assentiu. Apertou as nádegas de Joy e puxou-lhe mais para si. Riram. Elena sempre agia assim quando estava com muitas saudades...quase sempre.
--Eu entendi que a inglesa queria a minha presença...
--Ahhhhh...
--Mesmo com muita vergonha e algum receio, eu vim...
--Receio? Vergonha?
--Sim, da tua mãe...ah, estou fora do meu eixo...
--Onde eu já estive várias vezes e sobrevivi.
Risos.
--Mas tu és a Joy, vivida...do mundo...eu sou...
--A mulher mais maravilhosa desse mundo e minha namorada. Vês a minha sorte?
Gargalhadas.
--Joy, eu já estou morta de vergonha da tua mãe e ainda vamos rir às gargalhadas?
--A minha mãe é bem diferente da tua, mas ela é tranquila. Garanto-te que ela prefere as nossas risadas ao ambiente quase fúnebre que reinou até bem pouco tempo.
--Ela foi tão simpática...
--Eu diria que ela foi hábil.
--Hmmm?
--Sim, simpática também, mas acima de tudo muito hábil. Ela percebeu que fiquei nervosa...
--Tu? Com a minha chegada?
--Sim...mas não por estares aqui, afinal, era tudo que eu queria. Mas ela percebeu que de repente eu não sabia como agir.
--Não sabias?
--Fiquei nervosa, desorientada. Com uma vontade de te beijar, abraçar, cheirar, me perder em ti como faço quando regresso de uma viagem.
Elena sorriu e beijou a face de Joy.
--Eu não sei o que o Thomas disse, mas ela sabia que vinhas...
--Sim, sabia. Disse isso algumas vezes aqui no quarto...
--São muitas novidades para a cabecinha da minha mãe. Preciso ter alguma cautela...
--Estás a falar de nós? Meu bem, podes ficar tranquila, eu...
--O quê? Vais ser minha amiga que veio de Nova York para me consolar?
Elena bateu os ombros e mordeu o canto da boca.
--Por alguns dias...
--Amanhã falamos sobre esses detalhes. Agora eu preciso cuidar de ti.
--Não deveria ser o contrário?
--Meu bem, essa viagem é desgastante e eu sei que não descansaste antes de subir no avião...
--Bem, tu me conheces...
Risos com beijos.
--Estou tão feliz...é uma mistura tão doida de sentimentos aqui dentro. Tu és o meu lugar de calmaria. Só precisas chegar e tudo passa a fazer sentido...e se eu estiver muito lamecha, foda-se.
Elena riu muito e rodopiou com Joy pelo quarto.
Algum tempo depois, na cama:
--Amanhã vamos para o meu apartamento.
--Hmmm?
--Estás acordada?
--Levemente...
Risos.
--Eu disse que amanhã, vamos para o meu apartamento. Acho que ficas mais relaxada...
Elena ergueu a cabeça que estava aninhada no colo de Joy e procurou os olhos dela.
--A minha chegada causou algum desconforto?
--Não! Claro que não. Tu ainda vais entender uma faceta minha que talvez não tenha ficado muito explicita em Nova York. Só estou a pensar em ti...
--Eu estou bem aqui, ou parece que sim...
Joy riu e beijou o queixo de Elena.
--Só não quero que te prives de nada e nem eu vou me privar de nada.
--Meu bem, pareces um bocado confusa...
--E estou! Como eu disse, há um mundo de emoções aqui dentro e todas em conflito...ainda bem que vieste para cá. Céus, ainda bem que vieste.
Elena sorriu e num movimento sutil, ficou por cima de Joy. Ela gem*u e acolheu-a com o corpo quente.
--Acho que precisamos acalmar essa mente...
--Sim...isso mesmo...
Elena recomeçou uma trilha de beijos pelo corpo de Joy.
--E a perfeição existe...- Joy delirou.
*****
Andando na ponta dos pés, Joy certificou-se pela décima vez que tinha anotado tudo na nota que deixava para Elena. Ela dormia profundamente e não queria sob hipótese alguma acordá-la. Tinham dormido muito tarde e ela estava exausta da viagem e de algum stress emocional. Joy sabia que aquela chegada de surpresa não tinha sido fácil para ela. Elena tinha algumas inseguranças que de certa forma se justificavam, e, apesar de disfarçar muito bem, sabia que estar ali, não era de todo uma situação tranquila. Para deixá-la mais tranquila, iriam para o seu apartamento. Queria que os dias em Londres fossem perfeitos para a sua grega. Ela já tinha feito tanto, só lhe restava retribuir da melhor forma. Precisava agir depressa, comprar mantimentos, verificar se o apartamento estava em ordem e isso tudo, antes que ela acordasse. Suspirou ao acreditar que não conseguiria, mas com um sorriso no rosto, decidiu que valeria a pena tentar.
Perto da cama onde Elena seguia no seu sono profundo, pegou o pedaço de papel e leu em silêncio.
"Meu bem, tomara que meu timing seja perfeito e não leias esse bilhete, mas em caso de falha...bom dia! Precisei correr para resolver uma questão vital para o nosso bem-estar, mas não demoro a ponto de morreres de saudades. Convencimento? Não, reflexo do que passa aqui, aqui nesse coração. Dormes na minha cama e eu estou com saudades de te ver sorrir...preciso ir antes que derrame a alma nesse pedaço de papel. Se acordares antes do meu regresso, a casa é tua. Por favor, sinta-se à vontade. Volto já."
Colocou o pedaço de papel em cima da almofada que tinha usado. Beijou as costas de Elena, aspirando o cheiro único dela. Quase ficou por ali, mas precisava agir. Precisava resolver várias questões, mas a principal era o bem-estar de Elena.
*****
--Mãe? O que fazes aqui? - Joy olhou admirada para a mãe que arrumava almofadas no seu sofá.
--Ai Joyanne, meu coração...
--Desculpa, Madia, mas me assustei. Não entro aqui há tanto tempo e...
--Eu sempre venho cá. Sabes da minha mania de cuidar...
--Sim, o Thomas já me tinha dito. Não precisava...
--Ah, mas claro que precisava. O teu apartamento não está perfeito?
Joy sorriu. De mãos na cintura, girou os olhos pelos cantos e suspirou.
--Está perfeito. Obrigada! Confesso que me sinto um pouco estranha aqui dentro...
--Lembranças...
--Quase nunca estava em casa...hoje em dia, eu gosto tanto do aconchego do meu pequeno apartamento de Nova York.
Subtilmente, Madia puxou Joy pelas mãos e ambas sentaram no sofá.
--Vim verificar se estava tudo bem para receberes a tua amiga. É claro que não vão querer ficar lá em casa...
--Não quero perturbar a tua rotina, afinal é mais uma pessoa...uma estranha...
--Estranha? Ela é tua amiga, Joy. Se veio de Nova York até aqui, num momento tão delicado, é porque gosta de ti.
--Ela não é estranha, e sim, é muito especial. Eu só não queria incomodar-te...
--Achas mesmo que eu me sinto incomodada com a presença dos meus filhos?
Joy não conseguiu dizer nada. Não estava acostumada a aprofundar-se nas conversas com a mãe. Mas, naquele instante, algum detalhe no olhar de Madia, capturou a sua atenção. O olhar dela era doce, acolhedor...
Os olhos de Joy encheram-se de lágrimas e não teve vontade de disfarçar.
Madia, pegou-lhe pelas mãos e em silêncio andaram pelo apartamento.
--Está à altura da moça especial?
--Mãe... - Joy chorou. - Não precisavas ter tido esse trabalho, mas muito obrigada.
--Desde que foste embora, eu venho cá duas vezes por mês. Deixaste tanta coisa...às vezes parecia que ainda estavas por aqui...
Entre lágrimas e risos, abraçaram-se.
--Vou fazer um chá. Me acompanhas?
Joy apenas assentiu com a cabeça. Estava em ebulição. O coração batia alucinadamente e seu peito estava quente. Calor bom...aconchego. Sozinha, chorou. O choro libertava. As paredes ruíam, mas sem estardalhaço. Aquelas que ao longo da vida, tinham sido erguidas entre ela e a mãe. A doce Madia...
Sentindo-se muito mais leve, seguiu até a cozinha. Parou na porta para observar os gestos gentis da mãe. Tudo nela era delicado e ao mesmo tempo firme. O simples ato de preparar um chá, merecia tamanha dedicação. Aquela cena simples e corriqueira, desvendou muita coisa...
Apressou-se para pegar suas melhores chávenas. O momento era sublime.
*****
Joy deliciava-se com a voz suave de sua mãe e em lapsos de memórias de uma vida, perguntava-se por que aquele tom suave e amoroso pôde ser contestado. O pai sempre afirmara que na vida não era permitido ser doce e ela acreditara. Entretanto, agora, reconhecia-se em muitos gestos da sua mãe. Com certeza, tinha muito a aprender com aquela mulher.
--Acredito que minha falta de posicionamento tenha feito com que perdesses o interesse por mim. Sabe Joy, eu nunca fui estimulada a me posicionar na vida. Meus pais não eram necessariamente pessoas muito conservadoras se avaliados pelas origens, mas eu vivia entre limites. Podia estudar, sempre frequentei boas escolas, mas não podia escolher meu marido, por exemplo. Nessa questão, não existia qualquer flexibilidade. Mas, existe uma subversiva escondida aqui dentro.
Sorriram e Joy encantou-se ainda mais pela mãe.
--Me apaixonei pelo teu pai na universidade. Não foi uma paixoneta qualquer, eu admirava a bravura dele, a inteligência, as histórias de vida, a coragem. Meu lado atrevido sobressaiu e minha mãe, á maneira dela, ajudou-me. Ela era submissa, mas uma romântica incorrigível. Para viver a minha história de amor, abdiquei da minha família.
Joy olhou com ternura para a mãe. Jamais tinha ouvido aquela história, aliás, a versão que ouvira a vida toda tinha sido bem diferente.
--Cortaram qualquer relação comigo, mas eu estava tão apaixonada que acreditei que o amor do teu pai me bastaria...
--O pai não era exatamente uma pessoa muito amorosa....
--Pois - Sorriu com tristeza no olhar - nos primeiros anos eu percebi que tinha fantasiado aquele homem perfeito, mas o problema maior nem foi esse, não demorou muito tempo até eu perceber que minhas asas mais uma vez eram cortadas. Teu pai não queria uma companheira, alguém para caminhar junto. De repente, eu era a minha mãe...
--Eu fui perceber as facetas sombrias do senhor Collins, quando tive necessidade de contestá-lo...
--Aconteceu o mesmo comigo e foi aos vinte e poucos anos de idade. Meu sonho desmoronou. Perdi o interesse pela minha profissão, porque eu nunca era boa o suficiente. Se na faculdade, enquanto colegas, ele me incentivava e tecia os melhores elogios à minha inteligência, de repente, nada do que dizia ou fazia, tinha valor.
Joy suspirou reconhecendo aquela faceta no pai.
--Quando meu lado rebelde gritou e eu decidi que não queria mais aquele homem, descobri que carregava um tesouro no ventre. Estava gravida de ti, minha filha. Nessa época, o teu pai trabalhava muito, estava obcecado em criar um império e passava muito tempo fora de casa. Passei grande parte da gravidez sozinha, mas estava feliz. Minha barriga crescia e com ela aumentavam as minhas esperanças. Nasceste, e nos sete primeiros anos, fomos companheiras inseparáveis. Teu pai crescia nos negócios e eu fazia o que melhor sabia, amar a minha criança. Até que ele resolveu ser um pai presente...por essa altura, o mesmo feitiço que tinha me atraído, atingiu-te. Ele passou a ser mais atraente. Vocês eram muito parecidos, pelo menos era o que ele dizia...
--Eu me pareço contigo!
--Fisicamente sim, mas ele bradava que tu eras uma legitima Collins e que ias ajudá-lo a dominar o mundo. No meio da minha confusão emocional, eu permiti que ele te moldasse...eu não sabia o que fazer e parecia que eras mais feliz seguindo o teu pai...
Um filme passou pela cabeça de Joy e sem pestanejar, agarrou as mãos da mãe entre as suas.
--O que eu tenho percebido ao longo dessa minha vida, é que há momentos em que floresce uma mulher forte e capaz das melhores coisas. Uma mulher que pensa nas suas vontades acima de tudo e que luta pelo que quer. O nascimento do teu irmão foi um desses momentos...eu já tinha errado contigo, mas não cometeria o mesmo erro. Não permiti que o teu pai roubasse mais um filho de mim. Não me entenda mal, Joy. Eu não desisti de ti, jamais faria isso. Mas, parecia que eras mais feliz seguindo o teu pai brilhante e ele regozijava que eras a filha perfeita...
--Mãe, eu não te culpo de nada. Eu não culpo ninguém de nada. Quando mais jovem eu tinha raiva...sim, tinha raiva porque meu pai estimulava uma coisa em mim e fomentava outra em ti, na mulher dele. Não era raiva, era uma grande confusão, porque na realidade eu não entendia nada. Queria ouvir-te, queria saber o que pensavas, mas tu estavas sempre calada...
--Muitas vezes eu não sabia o que dizer...outras eu tinha medo de parecer incoerente...parecia que te conectavas mais com ele e eu sinceramente não me sentia apta para contestar as decisões do teu pai...
--Meu pai tornou-se uma espécie de herói, mas hoje, eu entendo que faltou-me tanto...faltou-me teu olhar doce para a vida, tua gentileza...
--Joy, tu és doce...
--Ah, fui resgatar essa Joy lá nos confins da minha alma. Quebrei elos que me embruteciam...a melhor coisa que fiz na minha vida foi ter saído daqui.
--E tu nem imaginas a minha alegria quando te vi livre para ser qualquer coisa que tu escolhesses. Acho que meus filhos são muito parecidos comigo, todos com a alma livre e graças aos céus, bem mais corajosos do que eu.
--Mãe, nós somos muito parecidos contigo...
Choraram.
Seguiu-se um momento de entrega. Permitiram-se ser mãe e filha, algo que não acontecia há muito tempo. Joy encolheu-se nos braços da mãe que a acolheu de alma nas mãos. Os soluços vinham das profundezas, rasgando feridas que tinham sido escamoteadas em prol do orgulho. Já não havia mais razão para couraças, ilusões de invencibilidade, os corações estavam em paz. Conectados. Batendo sincronicamente nas toadas do amor.
Algum tempo depois...
--Eu não sei se vais entender o que vou dizer...
--Madia, apenas diga!
Sorriram.
--Eu sinto falta do teu pai, claro que sinto. Embora nossa vida não tenha disso exatamente um mar de verão, aliás, foi bem longe disso, durante muito tempo, ele foi uma espécie de guia...
--A presença dele era forte...
--Muito! Por muito tempo eu era apenas uma sombra, às vezes uma boneca, outras nem isso...
--Mãe...
--Está tudo bem. Agora está tudo bem. É fácil falar sobre isso porque sei que não existe mais e sei que jamais viverei algo semelhante. Viver...estou com a sensação que minha vida ganha novas perspetivas. Eu preciso viver... - desabafou.
--Sim! Eu quero ver a Madia que o Thomas conhece.
Risos.
--Vais ver...sinto que ainda há possibilidades para mim...
--Claro que sim! Tu és muito jovem e uma mulher incrível.
--Não estou a falar de romances. Isso nem passa pela minha cabeça.
--Nem eu falava disso, mas eu não acho que seja um absurdo...
Madia sorriu.
--Quero viver, Joy. Quero viajar sozinha, passar um tempo em Marrocos, quero trabalhar. Sabias que fiz uma especialização em marketing?
--Isso o teu filho favorito não contou.
Risos.
--Estou muito feliz por ti. Abrace a vida sem medo.
--Tenho os melhores exemplos em casa. Um já nasceu com os olhos apontados para a lua, e a outra, não pestanejou quando recebeu o chamado...
Joy riu às gargalhadas.
--Fui chamada pela fotografia. Fui convocada a viver pelas minhas escolhas e por mais difícil que possa ser, eu não me arrependo.
--Esses são os meus filhos e não imaginas a felicidade que me dá quando percebo que mesmo com todos os meus erros, eu ainda criei seres assim...
Encontraram-se em mais um abraço apertado, quente de afeto.
--Joy, se és mesmo minha filha...
--Claro que sou tua filha.
Gargalhadas.
--Calma! Eu eduquei-te muito bem e com certeza, sabes receber e ser uma excelente anfitriã. A tua amiga...
Joy pulou do colo da mãe e correu os olhos pelo relógio no pulso.
--Meu Deus, perdi a noção do tempo. Ela já acordou e deve estar a sentir-se sozinha...
--Com o Thomas por perto?
Risos.
--Ele serve para alguma coisa. Mas, eles viajam daqui a pouco e eu preciso mesmo voltar.
--Ela sabe que vieste para cá?
--Não em detalhes...ela dormia quando eu saí de casa...
--Ela vai gostar de vir para cá contigo e logo estarás perdoada. O teu apartamento está muito aconchegante e Shoreditch é bem mais interessante para gente jovem. Eu gostei dela.
--Nova York foi uma espécie de página em branco na minha vida, aprendi muitas coisas novas, aprendi muito sobre mim e...
--E estás muito mais feliz.
--Absolutamente! Estou viva, Madia. Viva como nunca estive nos meus 32 anos. Acreditas que esbarrei na Elena no meio de uma madrugada chuvosa? - Joy abriu um sorriso luminoso.
--Esse brilho no olhar...é isso...
--Hmmm?
--Nunca vi nada disso quando estavas com o William.
--William? - Joy parecia confusa.
--Minha filha, esse preambulo todo não é para me dizeres que a Elena é tua namorada?
Joy arregalou os olhos e levou a mão à boca.
--Sim...é que eu nunca tinha mostrado que...
--Eu não me assustei quando percebi que ela era mais do que uma simples amiga.
--Tu já tinhas notado?
--Joy, qualquer cego notaria e o teu irmão ainda não é muito hábil em criar enredos densos.
Gargalhadas.
--Ele contou?
--Não com palavras claras, mas eu entendi que a moça que chegaria era muito especial. Assim que ela chegou e os vossos olhares se cruzaram, eu percebi que não foi apenas a fotografia que te arrebatou em Nova York.
--Mãe...
Gargalhadas felizes.
--Eu nunca gostei do teu último namorado. O mais sério que tiveste até então...
--Não te censuro por isso.
Risos.
--Mas, parecias bem, ou pelo menos, não incomodada e a mim cabia apenas aceitar.
--Eu não estava bem, mas parecia apática e...- Bufou.
--Outro universo, deixemos esse assunto no seu devido lugar.
--O William era perfeito para a Joy gestora de empresas e focada apenas em resultados astronómicos. Ele era tão ambicioso quanto eu acreditava que era e não estávamos necessariamente preocupados com romance. E meu pai gostava dele...- Suspirou.
Madia afagou a nuca da filha e sorriu. Não queria dizer nada naquele momento e nem precisava. A filha tinha acordado para o essencial e essa era uma vitória incontestável. Ela mesma era a prova que na vida, nem sempre conseguimos agir de forma assertiva, mas, que a magia dela era exatamente a possibilidade de reajustar rotas, seguir novos caminhos.
--Preciso ir, afinal sou tua filha e muito bem-educada.
Risos.
--Madia, preciso de um favor.
--Diga!
--Compre algumas coisas para cá, por favor. Alguma comida, vinho...ah, tu sabes melhor do que eu o que comprar.
--Esqueceste que a tua mãe é precavida?
--Já compraste?
Madia abriu armários e frigorifico e mostrou que estavam bem abastecidos.
--A que horas fizeste isso tudo? - Joy olhava para tudo admirada.
--Comprei tudo lá perto de casa e depois vim para cá. Tens tudo aqui para passar alguns dias com a Elena. Mas, é quase certo que não fiquem muito em casa...
--Ah mãe, ela adora ficar em casa e eu aprendi a gostar também do aconchego...
--Então têm tudo para passar bons momentos. Mas não te esqueças de mostrar-lhe os encantos de Shoreditch.
Joy sorriu e abraçou a mãe.
--Obrigada!
--Vamos embora ou terás problemas com a Elena.
Riram.
*****
--Esse lugar tem a tua alma. Não consigo imaginar-te no bairro da casa dos teus pais. Estou encantada! - Elena olhava admirada para uma obra de Bansky num mural enquanto refletia sobre a residência de Joy.
--Acreditas que eu apenas dormia aqui e isso quando vinha para casa...
--Ah Joy, eu não consigo acreditar. Sinto que esse lugar tem a tua alma...
--Agora eu entendo o porquê de ter comprado meu apartamento exatamente aqui. Lembro-me que houve contestação, mas eu desconsiderei alegando que tinha sido pelo preço bom.
--Já era o teu melhor lado gritando.
Gargalhadas.
--Pois! Tens fome?
--Muita! Já me extasiei com arte, com essa atmosfera tão interessante, agora quero comida.
Gargalhadas.
--Preferes um restaurante com estrela Michelin ou algo mais simples?
--Quero a tua companhia, não interessa o lugar...ah e comida boa.
Risos.
--Ásia? Não quero influenciar-te, mas...
--Vamos! Tu já me influenciaste com esse sorriso e minha boca estalou, então vamos.
Gargalhadas.
--Vais ter uma experiência maravilhosa.
--Minha experiência maravilhosa. - Elena enlaçou Joy e seguiram sorrindo pelas ruas movimentadas de Shoreditch.
*****
Refastelada no sofá, Elena apreciava o estado de leveza da sua alma. Sentia-se tão imensamente feliz que não lhe faltavam sorrisos espontâneos e sem razão aparente. Tivera tanto receio de se aventurar por Londres, pelo desconhecido, e agora era invadida por uma paz intensa. O dia tinha sido tão gratificante que em alguns momentos, questionara-se se realmente estava ali. Nunca fora adepta de rompantes semelhantes, contudo, naquele momento, parecia-lhe a atitude mais sensata. A verdade era que faria qualquer coisa pelo bem da Joy, faria qualquer coisa para que elas pudessem continuar a ser uma realidade tão estimulante.
Sorriu e de olhos fechados, acariciou o próprio rosto. Seu toque era suave, tudo nela seguia nessa toada.
Era tão bom estar ali. Saber que Joy apareceria em instantes a deixava de coração leve e corpo ansioso. Sorriu e mordeu a boca. Seu corpo morria de saudade do contato com Joy.
Ouviu música algures, de olhos fechados, sorriu. Joy se aproximava.
--Mais vinho? - Joy segurava uma garrafa de vinho nas mãos e no rosto tinha o melhor sorriso.
Elena abriu os olhos devagar. A imagem que viu arrancou-lhe um suspiro e inquietou-se no sofá. Era um atentado ver aquela mulher assim...
Ergueu a cabeça e admirou o cenário que lhe acendia por inteiro. Joy usava apenas uma camisa branca e nas mãos equilibrava uma garrafa de vinho e duas taças. A luz fraca do ambiente aumentava ainda mais a sensação de sonho.
--Meu bem, eu não aguento mais uma gota de álcool. - Sentenciou Elena pendendo a cabeça para trás enquanto ria.
--Não bebemos quase nada...- Joy aproximou-se.
--Nós? Tu bebeste não sei quantos pints no happy hour, vinho ao jantar. Eu não tenho a tua resistência e já me sinto levemente bêbada.
Joy sorriu e colocou a garrafa e as taças sobre uma mesa. Num movimento subtil e ternurento, deitou-se sobre Elena. Gem*ram em simultâneo. Nas faces, sorrisos de plenitude.
--Não vais beber? - Perguntou Elena enquanto estreitava ainda mais o contato.
--Por ora, não...
--É que eu não consigo mesmo. Sabes, não sou inglesa.
Risos.
--Demorei um pouco no banho porque tive que tranquilizar a dona Madia...
--Hmmm?
--Ela queria saber se estava tudo bem. Na realidade o foco eras tu. Madia não deve confiar nos meus dotes de anfitriã.
Gargalhadas.
--Posso responder?
--Hum-hum...
--Eu desconheço sensação melhor. - Beijou a cabeça de Joy, suspirando profundamente.
--Elena, às vezes eu fecho os olhos e parece que estou em transe. Os acontecimentos se atropelaram numa velocidade tão grande nos últimos dias, que às vezes parece irreal. Nós duas aqui, isso sim parece irreal. Imaginei esse momento várias vezes, mas em circunstâncias tão diferentes...
--A realidade é que não temos controle de muita coisa...
--Quase nada. Mas as surpresas podem ser bem melhores do que as nossas idealizações. Vieste no melhor momento...
--Só me dei conta do que estava a acontecer, dentro do avião a caminho daqui. Agi claramente movida por uma emoção que ultrapassa minha racionalidade.
Joy gem*u de felicidade e apertou-se contra Elena.
--Quase paralisei de medo quando cheguei em Londres. Fui sacudida por uma insegurança tão grande que facilmente poderia me paralisar. A racionalidade gritou em altos berros. Pensei que nossa magia poderia ser prerrogativa de Nova York, da forma como nos conhecemos. Falavas tanto em outra vida, que temi que nela eu não coubesse mais. Afinal, estavas de volta...
Joy ergueu a cabeça e seu olhar invadiu o de Elena. Sorriram. Com os lábios sim, mas claramente com os olhos. Um instante de troca doce, intensa, real...definitiva.
--A minha chegada foi tão intempestiva e eu limitei-me a observar, tentar conhecer...as primeiras horas não foram muito esclarecedoras. Tua família recebeu-me muito bem. Tu parecias fora de lugar, alterada.
--E estava! Tudo acontecia tão depressa e sem que eu tivesse tempo para me preparar. Meu coração queria explodir de felicidade, mas minha cabeça me podava. Uma grande confusão.
--No teu quarto, eu me senti mais confusa. Percebi-te distante, desconcertada, e, entretanto, nosso encontro na cama foi o que sempre é...tens essa capacidade de me desconectar. É uma viagem alucinante pelos sentidos em que o auge é um estado quase etéreo...sublime...impossível racionalizar.
Joy beijou-lhe o colo.
--Acordar sozinha foi um leve baque, mas amenizado pelo bilhete. Tão característico da minha Joy. Mas a insegurança estava lá, claro que sim. Levei algum tempo a reagir e quando percebi que tu e a tua mãe estavam ausentes, todos os meus demónios gritaram. Imaginei tanta coisa e no culminar da descrença, decidi que se tudo desmoronasse, ao menos eu iria conhecer a ilha de Skye na Escócia. Um sonho antigo...
--Desculpa, meu bem. Tive que sair ás pressas para arrumar aqui para que pudesses ficar mais à vontade. Madia, como sempre, me antecipou.
--Teu irmão e a namorada que mal me conhecem, foram tão acolhedores. O Thomas é tão engraçado e espirituoso que eu me vi rindo com as histórias malucas que ele tem para contar.
--O maluco tem salvação.
Gargalhadas.
--A tua mãe é tão...eu não sei o que dizer. Eu não sabia o que encontrar, e ela é tão excecional. Ela tem um amor imenso pelos filhos que chega a ser comovedor. E é tão subtil, de uma generosidade silenciosa, que grita no coração.
Joy sorriu entre lágrimas. Perceber aquele nível de sensibilidade na sua namorada, transportava aquele sentimento para outro patamar.
--Me proporcionaste um dia tão incrível e pode parecer idiota o que eu vou dizer, mas consegues ainda ser mais sexy nesse ambiente. Se eu já não resistia em Nova York, aqui parece que estou sob efeito de alguma substância que me deixa aparvalhada. Nós funcionamos em qualquer lugar. É real...
Joy interrompeu-a com um intenso beijo na boca. Sorriram. Riram e se entregaram de corpo e alma.
--Obrigada por teres vindo. Queria muito que viesses, mas fui entender a razão do meu anseio, quando meus olhos cruzaram com os teus. O caos desapareceu, a apatia deu lugar a um estado de efervescência tão avassalador, que eu devo ter metido os pés pelas mãos...tu me desconcertas e ao mesmo...
Foi a vez de Elena interromper o raciocínio de Joy com um beijo. Não apenas um beijo, mas uma mensagem de sintonia, complementaridade.
--Estou feliz! - e beijava-lhe por pontos aleatórios. - E orgulhosa da minha evolução. Antes de me atropelares - riram - eu era egoísta e de certa forma imatura.
--Meu amor, não tinhas conhecido uma inglesa irresistível.
Gargalhadas com muitos beijos.
--Minha inglesa...minha mulher...minha melhor aventura...meu tesouro...
Beijaram-se intensamente. As mãos já percorriam com voracidade cada centímetro dos corpos, numa ansia que já caracterizava aqueles momentos. Elena sorriu de forma provocadora, quando com muita facilidade deixou Joy nua.
--Estou em desvantagem...- suspirou.
--Hmmm, eu não diria isso...adorei a camisa...tu és absurdamente sexy, inglesa...
Elena deleitou-se nos recantos daquele corpo. Devagar...sem pressa...tinham tempo...
*****
Elena tentava abrir os olhos enquanto tinha as costas beijada, mas a sensação de estar num sonho era viciante. Sorria, gemia e suspirava. O cheiro...sonho...
--Ei...acorda...
--Hmmm...
--Elena, precisas acordar. - Disse Joy com a boca colada na orelha dela.
--Hmmm, impossível. Não me arranques do paraíso...
Joy riu e puxou-lhe as cobertas.
--Joy...o que fazes levantada? Vestida? - Esfregou os olhos.
--Bom dia, mulher linda.
Beijou-lhe a boca.
--Quero dormir. Essa cama...
--Tens uma relação intensa com minhas camas.
Riram.
--Com as camas, com a dona delas...é um vício incontrolável. Volte para cama.
--Elena...
--Eu não dormi no sofá?
Joy riu e mordeu a boca.
--Joyanne, tu és insaciável...
--Ah, eu é que fui arrastada para a cama no meio da madrugada. Alguém alegou que queria mais espaço para divagar e que as saudades precisavam ser extravasadas sem ressalvas.
Riram alto.
--Eu ainda estou com saudades. - Tentou puxá-la de volta à cama.
--E ficas linda vermelha.
--Estou? Vês? Ainda sou uma senhora tímida.
Risos.
--Elena, precisas sair dessa cama. Agora!
--Hmmm...será que obedeço?
Riram. Joy bateu a cabeça e puxou-a para si.
--Quase levantada.
--Joy, estou cansada, sem forças e essa cama...
--Se não levantares agora, perdes a surpresa.
Elena arregalou os olhos e ficou de joelhos.
--Tem surpresa para mim?
--Sim...
--E só agora me dizes?
Joy riu e puxou-lhe as orelhas.
--Levanta, meu bem. Eu já estou pronta.
--Eu quero! A última vez que me fizeste uma surpresa, fui levada aos céus. O que virá agora? A lua?
Gargalhadas.
--Foi preparada com amor. Na correria, porque contigo tudo é...
Elena surpreendeu-a com um beijo carregado de amor. Saiu da cama, ainda grudada na boca de Joy.
--Se tua intenção é me deixar mais apaixonada, doida, louca, parabéns.
Joy sorriu.
--Vamos à surpresa que já encheu meu coração...obrigada.
--Vá logo para o banho! - fingiu irritação.
Aos pulos, Elena entrou no banheiro.
Joy suspirou e secou lágrimas de felicidade.
Fim do capítulo
Com amor.
Nadine Helgenberger
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SValdez
Em: 29/12/2021
Como sempre mais uma estória maravilhosa! Fiquei um tempo off, agora que retornei pensando que estaria terminada, fiquei surpresa com a sua ausência por aqui aurora!
Espero que esteja tudo bem e que em breve volte a nos brindar com sua escrita incrível e sua sensibilidade ímpar!
Bjos
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Carmen
Em: 30/06/2021
Nadine, que capítulo lindooooo! No melhor jeito Nadine de ser!
Eu amei muito a sequência de acontecimentos nos três últimos capítulos. Embora tenha sido triste a Joy perder o pai, o lado bom é que ela pode finalmente se conectar com a mãe. Esse sentido de família, que ela sempre admirou na família da Elena, ela pôde finalmente viver, e foi lindo!
E o que dizer da Elena perdendo seus medos e entendendo que a magia é o que elas têm. Não importa onde estejam. Eu tô torcendo muito pra ela alçar novos vôos profissionais. Porque acho que é disso que ela precisa agora, se libertar daquela editora e traçar novos caminhos. Ela também merece vibrar no exercício de sua profissão, assim como a Joy o faz.
E ela inserida na família da Joy foi bonito de se ver. A naturalidade como tudo fluiu. Eu tô apaixonada na Madia. Ela realmente me parece ser uma mulher cativante! E que bom que ela pode agora viver coisas novas que a vida dela até então não permitiam. Foi lindo a naturalidade com a qual ela lidou com tudo. A maneira que ela tratou a Elena e se conectou com a Joy.
Elas estão lindas, apaixonadas e irradiando luz! E isso dá pra sentir em cada linha que você escreve! Tá lindo demais e estou ansiosa pelos próximos e pela surpresa! O que será que a inglesa está aprontando?!
Que você esteja bem e se cuidando! Um abraço!
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brunafinzicontini
Em: 20/06/2021
Que momentos maravilhosos! Um encanto a chegada de Elena à casa de Madia, sendo recebida com tanto carinho por ela, por Thomas e Paloma! O fascínio de Joy ao ver sua grega ali, à sua frente! Tudo num clima leve, de grande empatia entre todos. Foi agradável e cheio de simpatia o encontro de Elena com Madia. Depois, a conversa entre a inglesa e sua mãe, quebrando antigas barreiras de gelo, encontrando-se, finalmente, despojadas de todas as máscaras! Joy pôde, finalmente, entender grande parte do mistério que envolvia sua vida. Foi muito emocionante.
Ainda aumentando toda a emoção, as duas apaixonadas convivendo num lugar de sonho no ninho que a inglesa preparou naquele lugar privilegiado de Londres... Que delícia a entrega das duas! É enternecedora a forma como ambas se tratam, com a maior delicadeza e o maior carinho! Sente-se a atmosfera de amor que as envolve. E para não variar, um final ‘eletrizante’ que nos deixou ansiosas pelo próximo capítulo: qual será a surpresa?
Surpresa deliciosa, mesmo, foi encontrar hoje este lindo capítulo como um presente especial que nos alegrou demais neste final de domingo, querida Nadine! Espero com todas as forças que tu estejas melhor e que tenhas uma ótima semana!
Beijos,
Bruna
Resposta do autor:
Rsrsrsrs a surpresa...aguarde. Era para ser tudo no capitulo 34, mas tive que me controlar para nao prejudicar as minhas mãos. Acho que ficou bem terminando ali, aumenta a vontade de ler o proximo rsrsrsrs. Já estamos no fim e já começo a ter saudades das aventuras dessas mulheres.
Esse capitulo foi um presente para voces que me acompanham, mas com certeza foi um presente para mim. Sofri para escrever, tive que fazer muitas pausas, mas CONSEGUI. Uhuuuuu. Nem imaginas a minha alegria rsrsrs
Muito obrigada.
Bjs
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Lea
Em: 20/06/2021
Estou encantada,emocionada com tamanha pureza desta estória! QUANDO eu achava que meu coração já havia sido preenchido com tanto amor, você nos derrama,nos preenche com esse capítulo MARAVILHOSO!
ENCANTADA ESTOU, ENCANTADA!!
Resposta do autor:
Muito obrigada. Fico muito feliz que minhas palavras tenham causado tamanha emoção.
Bjsss
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preguicella
Em: 20/06/2021
Ah, vc consegue se superar a cada história que passa!
Ameando toda essa ternura, esse carinho e a doçura que tem cercado essas duas e quem está em volta delas.
Bjão
Resposta do autor:
Muito obrigada. Estava inspirada ao escrever esse capitulo rsrsrs
Bjss
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