Trigésimo terceiro
—Não acredito que estou te vendo aqui. — Lana disse assim que saiu da academia, vendo Laura esperando por ela no estacionamento.
—E não vim sozinha. — Ela tirou a mão das costas e mostrou um pequeno buquê com flores coloridas, recebendo o amplo sorriso surpreso de Lana.
—Oh Deus, Laura! — Lana parou a sua frente, recebendo as flores e aspirando o aroma delas. — São tão lindas. — Ela sorria sem se conter. — Obrigada, eu amei.
—Então já ganhei minha noite.
—Você veio aqui ser galanteadora? — Lana se aproximou dela, envolvendo as mãos em sua nuca e sendo abraçada pela cintura.
—Está dando certo, não está? Olha esse sorriso.
—Bobona. — Lana riu, dando um beijo em cada bochecha sua. — Eu gostei da surpresa. É bom te ver, realmente bom, mas podemos evitar que Madson te veja também?
—Claro, sem problemas. Dê as chaves do seu carro, eu vou te levar para jantar hoje.
—Eu tenho que falar com Iori primeiro, ou está nos colocando em problemas?
—Eu já falei com a sua esposa. Ela vai jantar na casa de Chieko.
—Você parece ter pensado em tudo.
—E eu pensei. Tenho tudo planejado. Nossa lua de mel será em Las Vegas, tudo bem?
—Claro, é o meu sonho, mas não diga a Iori. — Sorriu, afastando-se e aspirando o cheiro das flores frescas. — Onde vamos jantar?
—Bem... num lugar que você sempre quis conhecer.
—Mentira, você nunca me levaria na sua empresa de prazer. Iori nunca iria se conformar se eu conhecesse o lugar e ela não.
—Isso é verdade, e lá também não é um lugar romântico, e não é o tipo de clima que quero criar contigo depois do que fiz lá. Então vamos no lugar que carrega uma grande história minha e de Iori.
—La Gran Noche! — Definiu, e ela sorriu a concordar. — Você tem certeza de que é uma boa ideia voltar lá depois do que houve na mesma noite que vocês foram lá pela última vez?
—É por isso que quero ir lá. Apagar os maus momentos e criar novas emoções, ao seu lado, ao lado de Iori, nossa filha. E lá lembra minha casa, meu país. Achei que indo no lugar onde comecei a fazer a maior besteira da minha vida nos ajudaria a seguir em frente. Além de que poderei dançar contigo como costumávamos fazer.
—Oh, babe, eu irei adorar conhecer o lugar contigo. — Afirmou, convencida, entregando a chave do carro para ela. — Ainda que eu ache que você terá que invadir a cozinha para impedir que a pimenta chegue nos nossos pratos.
—Você não precisa se preocupar. Nosso encontro será maravilhoso, eu prometo.
—Tudo bem, eu acredito em você. Mostre o caminho.
Laura assumiu o volante após Lana se acomodar no banco do carona, guiando o veículo pelas ruas movimentadas até parar em frente ao restaurante reformado. O letreiro era novo, mas conservava o ar tradicional. Havia um sombrero mexicano sobre a letra T, com nachos e notas musicais em volta do nome. O ambiente mantinha a característica rústica, mas todos os móveis eram novos e confortáveis, com espaço calculado para oferecer privacidade entre as mesas e a livre circulação dos atendentes. O palco tinha sido modernizado, com novas luzes e equipamentos de som, tornando a melodia mais limpa. Os funcionários tinham novo uniforme e tudo trazia a sensação de organização e cuidado com os clientes.
—Oh, é realmente encantador. — Lana falou enquanto andavam lentamente entre as mesas. — É como visitar uma parte do seu país agora.
—Eu também tenho essa sensação. É como voltar a viagem que fizemos até lá.
—Eu lembro, foi uma viagem incrível. Tivemos tantos momentos bons lá, tantos lugares que visitamos. Seria bom se pudéssemos voltar lá, levar Mahina.
—Você gostaria? — Laura a olhou, com um brilho nos olhos.
—Sim, eu iria adorar.
Laura sorriu contente, feliz com a ideia de que Lana não tinha mudado a forma como enxergava sua cultura. Patrícia as acompanhou até a mesa reservada perto do palco, surpresa em reencontrar Laura.
—Você voltou afinal! — Falou com ânimo em espanhol. — O que achou da reforma?
—Ficou maravilhosa. Deu um ar mais animado no restaurante. — Laura respondeu no mesmo idioma, contente em a rever. — As coisas tem estado mais movimentadas agora?
—Muito! Sua esposa realmente nos ajudou muito, serei eternamente grata a ela. É uma pena que ela não tenha voltado aqui para eu agradecer pessoalmente.
—Oh, sim, estivemos bastante ocupadas. Acabamos nos separando, nossa filha nasceu, mas agora estamos buscando reatar nossa relação.
—Sinto muito, mas espero que consigam reatar. Vocês pareciam um casal tão adorável, espero que fique tudo bem. Sua filha ficará muito feliz.
—Sim, tenho certeza que sim. Ela tem três mães, então ela sempre terá uma de nós para cuidar dela ali.
—Três mães? Como assim? — Ela riu, confusa.
—Essa mulher incrível sentada comigo é Lana. Ela gerou nosso bebê. — Laura sorriu para Lana do outro lado da mesa, segurando sua mão sobre a superfície. — E nós três estamos buscando reatar nosso relacionamento agora.
—Não deixe a mulher confusa, Laura. — Lana riu, as bochechas coradas. — Nós três somos um casal, basicamente. — Buscou explicar, exercitando seu espanhol. — Elas me falaram muito sobre a história desse lugar, estou feliz em finalmente conhecer pessoalmente.
—Os relacionamentos de hoje estão tão modernos! — Patrícia riu, constrangida em meio a tanta informação. — Eu já tenho tanta dificuldade em lidar com o meu marido, imagina se tivesse mais um.
—Oh, eu te entendo. Não é nada fácil. — Laura sorriu a olhá-la. — Mas eu não sei viver sem essas duas, então vale a pena enfrentar cada problema para ficar com elas.
—Ora, sua galanteadora. — Lana a acusou. — Agora eu entendo como você arremata corações tão fácil. Olha esse sorriso. Você nem precisa falar nada.
—O que posso fazer? A sorte é toda sua em me ter toda para você. — Laura levou sua mão aos lábios e beijou entre seus dedos. — Vamos pedir as bebidas?
—Claro, o que sugere?
—Patrícia, você pode repetir aquelas bebidas que fez da primeira vez?
—Claro. Eu vou trazer enquanto vocês pensam no que vão comer. — Ela baixou o bloquinho de papel após anotar o pedido. — Se aceitam uma sugestão, a cochinita pibil tem feito maior sucesso nessa semana.
—Oh, vocês têm colocado pratos novos? — Laura sorriu. — Faz tempo que não como algo assim.
—Sim, aumentamos a cozinha e estamos diversificando o cardápio. Cada dia tem uma especialidade, mas essa semana o cochinita pibil foi o que mais saiu.
—Vamos tentar. — Lana incentivou, trocando um olhar com Laura. — Se você puder me fazer o grande favor de pedir encarecidamente ao cozinheiro para não acrescentar qualquer pimenta no prato, eu agradeço. Assim eu não termino o encontro amarrada no banheiro.
—Ou no hospital. — Laura considerou.
—Nem me lembre que você já me viu toda inchada e vermelha, foi um pesadelo.
—Ela tem alergia a pimenta. — Laura explicou a Patrícia. — E é cabeça quente, aí sobe mais rápido.
—Engraçadinha.
—Oh, não se preocupem. Eu vou me certificar pessoalmente que saia tudo sem pimenta. Tem muitos clientes que tem intolerância a pimenta, eu entendo perfeitamente. — Patrícia garantiu. — Eu vou entregar os pedidos e pedir que tragam as bebidas. Me chamem se precisarem de algo!
Ela se afastou em direção a cozinha, mas Laura não tirou os olhos de Lana, que sorria para ela, acariciando sua mão.
—É bom ter você aqui em clima mais leve. Foi uma das coisas que mais senti falta em relação a você. — Laura falou. — Com você as conversas eram mais simples mesmo quando não eram fáceis. Eu senti tanta falta de poder conversar contigo.
—Parte foi orgulho meu. — Assumiu, baixando o olhar para a mesa. — Eu achei que se demonstrasse que te perdoei, eu estaria aceitando o que fez com Iori, mas eu também não aceitava o que ela te disse, como ela te tratou.
—Deve ter sido difícil para você ter que lidar com a nossa separação quando continuou com Iori, e isso de certa forma remetia a nossa relação.
—Sim, sempre. Eu conheci Sasaki quando vocês eram o casal. É quase impossível desvencilhar essa imagem após tanto tempo.
—Eu sinto muito.
—Não, você não precisa dizer isso. — Lana a olhou. — Isso está no passado.
—Eu sei, mas eu sinto muito mesmo assim. Eu te afastei quando podia ter insistido em ficar perto, assim talvez você não tivesse ficado tão magoada comigo.
—Eu não sei como teriam sido as coisas. Iori nunca te esqueceu e eu tive que lidar com isso. Talvez o mais difícil tenha sido ver você escolhendo se afastar por completo. Foi como se nunca tivéssemos sido próximas, mesmo eu sabendo que não foi assim, eu senti que nunca realmente tivéssemos nos aproximado por inteiro desde o início. Primeiro por causa de nossa insegurança em deixar Iori desconfortável com nossa relação, então você sempre foi mais reservada, difícil de se abrir comigo. Pelo menos com seus pensamentos, seus sentimentos sempre foram claros para mim.
—Sim, eu pude perceber isso da mesma forma. Foi um erro. Eu tinha medo que em algum momento fôssemos nos separar e todas as coisas que dissemos e vivemos seriam perdidas.
—Bem... nós nos separamos. Você sente que algo foi perdido?
Ela ponderou antes de responder, momento que as bebidas coloridas chegaram e ela teve mais tempo para pensar. Beberam um gole após tocarem as taças, aproveitando a música que preenchia o ambiente.
—Eu sinto que eu acabei me perdendo e perdendo vocês em não ter me entregado sem esse medo de separação. Ao mesmo tempo que sei que fui mais intensa em outras situações, eu nunca realmente entreguei essa parte de mim a alguém, essa parte pequena, de dizer o que penso ou sinto, é uma parte bastante frágil para mim. Eu tinha medo de ser julgada, e sei que vocês nunca realmente me julgaram por nada do que fiz, mas eu sempre fui, a vida inteira, julgada por tudo o que pensava. Principalmente pela minha família. Ser lésbica, assumida, e ainda mexicana nunca me trouxe os melhores benefícios.
—Eu posso imaginar. O mundo em que vivemos não sabe valorizar pessoas maravilhosas e fortes como você, Laura. E eu entendo que tudo o que viveu tenha deixado você reticente em se entregar tendo esse medo, eu não te culpo. Mas saiba que estou aqui, independente do que venha a acontecer, estou aqui. Você sempre me ajudou e me ouviu, embarcando em minhas loucuras, eu devia ter colocado isso em primeiro lugar antes, mas não cometerei o mesmo erro agora. Espero que saiba disso.
—Eu já estou feliz que posso ter esses olhos em mim outra vez, ter sua amizade é um presente, cariño. Eu prometo que estou buscando ser o mais transparente contigo e Iori dessa vez.
—Eu sei, eu posso perceber a diferença agora. — Ela trouxe suas mãos para frente dos lábios e beijou os dedos de Laura, sem tirar os olhos dela. — Você sempre foi maravilhosa comigo Laura, eu estou disposta a deixar toda essa mágoa e os erros para trás, porque eu quero tentar estar contigo agora. Eu sei que vai ser difícil porque muita coisa aconteceu nesse ano e teremos que lidar com isso, mas eu também quero continuar olhando para você como olho agora. Estou cansada de ter raiva de você.
—É bom ouvir isso, realmente muito bom. Tudo o que quero é estar contigo aqui e agora, e em todos os outros dias.
—Então vamos fazer isso acontecer, um passo de cada vez.
—Sim, podemos fazer isso.
O prato foi servido após alguns instantes, acompanhado de tortilhas e temperos a parte. Elas comeram a primeira tortilha, saboreando o gosto da carne cozida, então se divertiram enquanto se alternavam na tarefa de alimentarem uma à outra. Nesse meio tempo puderam se sentir mais próximas como nunca estiveram antes, sem receios e entregues a um mesmo momento.
—Eu gosto dessa música. — Laura comentou, olhando para o palco. — Se eu dissesse o que eu senti, eu te assistiria se afastar.
—Eu nunca ouvi. — Lana a observou, sibilando a estrofe, então se levantou e a puxou pela mão em direção ao pequeno espaço próximo ao palco. — Vamos dançar, hottie.
—Você é tão sutil, cariño. — Ela sorriu, envolveu sua cintura e juntou seus corpos, enquanto sentia as mãos de Lana deslizarem pelos seus ombros. — Mas eu gosto assim mesmo.
—Eu sei que sim. — Ela deitou a cabeça em seu peito, movendo-se devagar diante da melodia.
—Quando eu voltar para casa eu encontrarei você? — Laura cantarolou baixo, fazendo Lana sorrir. — Eu queria ficar, fazer tudo por você. Dizer algo que somente nós soubéssemos. Eu não consigo fingir que não estou me apaixonando.
—Eu quero mais momentos com você assim, leve, sem pesos. — Lana falou baixo. — Eu quero essa Laura de agora assim como quis a Laura de antes.
—A Laura que te machucou?
—São as mesmas Lauras. A diferença é que a de agora está enfrentando todos os medos para se manter bem aqui. — Ela inclinou a cabeça, olhando em seus olhos caramelo de perto.
—E é uma tarefa bem difícil, eu continuo pensando que agora tenho menos chances com você, porque se casou com Iori. Como se a qualquer momento fossem se afastar de mim, dizer que me usaram para se vingar do que fiz. Mesmo que eu saiba que vocês não são assim, isso continua na minha cabeça.
—Mas você está aqui, planejou tudo isso.
—Sim, porque eu preciso viver isso agora, preciso esgotar todas as minhas chances para ter vocês de volta.
—Eu preciso que você me prometa, que não me diga que quer menos. — Lana sorriu, cantarolando a música também.
—Ora, você disse que não tinha ouvido antes. — Laura a acusou, sorrindo e a apertando em seus braços.
—Eu aprendo rápido, o que posso dizer? — Lana riu, fazendo-a girar no lugar e a tomando em seus braços outra vez. — Eu não vou te afastar da forma que está imaginando, Laura. Eu sei que disse para irmos devagar, para percebermos melhor como entrar nessa relação sem nos machucarmos. Ainda estou morrendo de medo do que possa acontecer, não vou mentir. Mas agora, olhando para você, eu me sinto tão bem, tão segura. E eu não quero perder essa sensação, Lau, e a única forma que conheço é te mantendo perto.
—Eu não tenho qualquer intenção de me afastar.
—Então continue assim. Eu sei que não afastarei seus medos quando ainda tenho os meus. Mas sei que acharemos uma forma de afastar todos eles. — Ela deitou a cabeça no seu peito, ouvindo as batidas aceleradas do seu coração e sentindo um beijo no topo da sua cabeça. — Eu sempre tive uma curiosidade sobre você.
—Só uma?
—Vamos combinar que você sempre se empenhou em sanar todas as minhas dúvidas. — Ela sorriu com malícia, envolvendo sua cintura a fim de a abraçar mais forte. — Mas você sempre foi galinha na faculdade? Começou na escola?
—Não, na escola eu estava acima do peso, eu odiava meu corpo e as outras pessoas. No último ano eu comecei a usar parte do dinheiro do trabalho para cuidar de mim. Médicos, academia, salão. Então quando entrei na faculdade eu quis tirar o tempo perdido, porque os olhares eram diferentes.
—E você gostava?
—Claro.
—Não, de verdade. Você realmente gostava da atenção?
—Sim. Porque eles falavam de algo que eu estava fazendo, e não da imaginação deles, da criação deles. Do meu sotaque, da minha pele, minha origem, do meu problema com atenção. Quanto mais garotas eu me envolvia, menos esses detalhes importavam. — Ela suspirou, apoiando a bochecha sobre seus cabelos. — Mas não, não era por isso que eu era galinha. Eu só gostava da sensação de satisfazer uma mulher, isso enchia meu ego. E eu conheci tantas mulheres que me ensinaram tantas coisas. Eu só nunca realmente me senti envolvida por nenhuma delas.
—Eu devo agradecer a todas as mulheres que passaram por suas mãos por te fazer ser tão maravilhosa na cama também? — Elas riram. — Sinto muito pelo que passou. É uma pena que o mundo ainda seja assim. Sua cultura é tão rica, você é tão linda e com um senso de proteção tão forte. Você sempre cuidou da sua família, Cláudia sempre me disse isso. Sempre cuidou de Iori. As pessoas não fazem ideia de quem você é e te julgam mesmo assim.
—Elas foram ensinadas por tanto tempo a serem assim, sequer se questionam o motivo de odiarem antes de conhecer. — Ela moveu os ombros, sem realmente dar importância. — Mas não você, e isso me basta. Você sempre me olhou por igual.
—Mentira, eu te olhava como a criatura mais tentadora que existia na face da Terra, eu não podia estar no mesmo nível.
—É? Você devia me ver como uma idiota que só sabia olhar para a sua cicatriz na perna.
—Também, mas eu estava feliz contanto que estivesse me olhando. — Ela sorriu com o silêncio dela. — Eu gostava da sua preocupação, mesmo que não precisasse dela.
—Ouch.
—Você sempre quer cuidar, babe, eu gosto disso em você. Mesmo quando estava sendo galinha você queria cuidar do prazer dessas pobres garotas que achavam que teriam seu coração.
—Você faz um elogio parecer uma crítica agora. — Ela franziu o cenho.
—Eu não gosto de galinhas, por isso queria entender como você era uma galinha com as mulheres e acabou num relacionamento com Iori, que é a criatura mais correta e carente que eu conheço.
—Eu gostava que ela nunca reclamava que eu estava sempre indo embora. Ao invés disso eu criava motivos para voltar, para ficar mais tempo. Eu não sei explicar, meu amor, mas talvez essa noção de ser correta e seguir as regras tenha sido o que me atraiu nela a maior parte do tempo, porque eu me vi querendo ser mais que uma boa trans* para ela.
—Convencida.
—Eu já te dei uma trans* ruim?
—Eu não vou contribuir para o seu ego te sufocar, amor. — Ela riu baixinho.
—Ouch, pare de ser tão cruel.
—Eu vou tentar, é mais forte que eu.
—Você percebeu que a música é animada e nós ainda estamos devagar?
—Sim, mas eu queria continuar assim, se estiver tudo bem para você.
—Que coisa horrenda, ter você nos meus braços por mais tempo. Mas eu te farei esse terrível favor.
—Dramática. — Ela apoiou o queixo no seu peito, respirando fundo. — Você não devia lutar todas as lutas, não devia usar o escudo, a armadura. Você sempre fez demais, Lau.
—Do que está falando, cariño? Por quem eu já fiz demais?
—Por quem já não fez demais? Você daria sua vida a pessoas demais, Lau. Você sacrificou várias coisas pela sua família, e eu entendo seus motivos, mas faz mais de um ano que eles te viraram as costas por não aceitarem nossa família.
—Lana-
—Sh, escuta. — Ela suspirou. — Você sempre fez demais por Iori, mesmo enquanto estávamos juntas. Sempre recuou por ela, sempre se afastou quando ela era injusta. E eu sei que errei porque eu devia ter mantido você perto e não deixado que você ficasse longe por tempo suficiente. Eu odeio ver você se empenhando tanto, mesmo agora, porque eu sinto que não estou fazendo o suficiente para retribuir, mesmo que não peça, é o mínimo que você merece, Laura. Você errou, mas nós também, eu errei também. Você não precisa fazer muito por ninguém para se sentir aceita, Lau, você só precisa ser você, só precisa estar perto. Ninguém tem o direito de te julgar por nada, nem mesmo eu. E eu sinto muito pela noite que teve com Iori, eu sei que não é o meu lugar de dizer isso, mas agora eu entendo o quanto deve ter sido tão dolorido para você ouvir algo tão injusto e preconceituoso de alguém que você foi tão longe para defender.
Laura parou de dançar, olhando-a com intensidade diante de suas palavras. Lana segurou seu rosto e o acariciou, buscando mostrar afeição.
—Do que está falando? Tão longe quanto?
—Você sabe do que estou falando. Chieko me disse o que fez para defender Sasaki naquele assalto. E está tudo bem, estou feliz que vocês estejam vivas. Mas o que estou querendo dizer é que você já fez demais, babe. Não tente remendar o passado, nos compensar. Você merece uma segunda chance, mas não porque errou, e sim porque nós te amamos e queremos você perto, do jeito que você é. Entendeu?
—Cariño, está tudo bem mesmo?
—Sim. Eu sei sobre isso desde que conheci Chieko, lembra? Eu só quero que saiba que você nunca mudou o que representava para mim. Só... pense sobre isso, está bem? Eu não quero te deixar se sentindo menos importante ou mais culpada. Eu só quero você, estar contigo.
—Então eu estarei bem aqui, cariño. Sem qualquer impedimento. — Laura falou ainda séria, segurando seu rosto em mãos e acariciando suas bochechas. — Eu não vou mais sair do seu lado.
—Então você já está me dando tudo. — Ela sorriu, inclinando-se para selar seus lábios.
Laura sorriu, contente, abraçando-a e voltando a dançar. Elas dividiram uma sobremesa antes de pagarem e saírem do restaurante, então pararam ao lado do carro de Lana, aproveitando o clima mais frio para se manterem mais próximas, dedos entrelaçados como há muito não faziam.
—Você não vem para casa comigo? — Lana indagou.
—Não, hoje não. Tenho que voltar para o meu apartamento. É bom ir devagar, não acha?
—Sim, você tem razão. Mas Mahina fica tão animada quando você está lá a noite.
—E você reclama que ela demora mais para dormir com tanta agitação. — Ela sorriu com a recordação.
—Mas você a cansa o suficiente para dormir logo.
—Sim, eu amo brincar com aquela criatura. Você não poderia ter me dado filha mais incrível. É maravilhoso cada momento que passo com ela.
—Ela é mesmo incrível. Mas acho que todos os pais acham isso dos seus filhos, não é?
—Não sei todos, mas a maioria, sim. — Ela se inclinou e beijou sua testa. — Eu te verei no final de semana, sim?
—Claro. Entre, eu te levo até o seu apartamento.
Laura assim o fez, aproveitando os últimos momentos com Lana antes de se despedirem. Ela não mediu esforços para manter os encontros frequentes, revezando-se entre o casal e sempre se mantendo mais presente em suas rotinas, em suas vidas, sentindo-se cada vez, pouco mais pertencente a aquela relação outra vez.
Fim do capítulo
A música citada nesse capítulo: (https://www.youtube.com/watch?v=moRoXQ1EwkA) Isak Danielson - I'm falling in love.
Esse capítulo foi acrescentado no meio da história, há pouco tempo. Espero que tenha servido para sanar algumas dúvidas ou fazerem vocês entenderem melhor a dinâmica atual do trisal :)
Até o próximo ;)
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