O preço dos sonhos
—Está tentando me comprar?
Ilis suspirou, deixando a tigela a sua frente, voltando a sentar no chão, apoiada no estofado.
—Eu não quero nada de você. — Respondeu baixo, com paciência. — E também não te devo nada. Só quero manter a trégua.
—Nossa trégua continua. Você não fez nada para quebrá-la.
—Emeril fez?
Selen suspirou, olhando o corpo adormecido da feiticeira no estofado. Já tinha amanhecido, mas ela continuava com o sono pesado, murmurando palavras em sua língua natal, mas estava acostumada com o fato.
—Só não achei que fosse ser rápido assim.
—Quanto tempo levou até vocês terem alguma coisa?
—Algumas horas.
Ilis conteve o riso, balançando a cabeça e desviando o olhar, buscando a mão de Emeril e a mantendo entre as suas.
—Você mesma disse. As coisas seriam diferentes se Beah não tivesse aparecido aquela noite. Mas apareceu, eu tive que sumir. — Respirou fundo, voltando a olhá-la. — Eu ainda não entendo o que você tinha com Emeril, mas ela estava te cobrando algo antes de eu dizer qualquer coisa para ela. Você mantém uma distância dela, elfo, então pelo que exatamente a está cobrando?
—Eu sei que não parece justo.
—Emeril gosta de você. Se importa com você. Então pense com calma no que vai fazer.
Selen suspirou, concordando, voltando a atenção para o que tinha que comer. Ilis aproveitou o silêncio, fechando os olhos e prestando maior atenção no que Emeril falava. Não entendia nenhuma palavra, mas gostava do som que a língua dos magos possuía.
—Ela sempre fala dormindo. — Selen falou, após um tempo.
—Não sozinha.
—Como assim? Ela está dormindo. Não pode estar falando com alguém.
—Você a chama de bastarda, mas os genes da mãe dela são os mais fortes. Magos são capazes de coisas que não temos noção.
—Como isso explica que ela fala dormindo?
—Você viu a marca nas costas dela?
—Claro. — Sorriu, embora não fosse sua intenção provocar a loba, recebeu um simples suspiro.
—São símbolos de magos. Acredito que seja a mesma pessoa que ela fale, que o escreveu.
—Mas o único mago que ela conheceu foi a mãe e... Está morta.
—Será?
Selen estreitou os olhos, lembrando a mesma conversa que teve com Emeril sobre isso.
—Talvez seja melhor você falar disso com ela. Quem sabe não haja algo naquele livro que dê pista sobre o que aconteceu com a mãe dela?
Ilis somente assentiu, então Selen se levantou, indo em direção a porta, mas parou, virando-se para ela.
—Vou levar seus lobos para me ajudar com as coisas na minha casa. Aproveito e falo com o pai de Emeril então... Aproveitem o dia.
Ilis sorriu, assentindo, então voltou sua atenção para Emeril, acariciando seu rosto e tirando os cabelos que a cobriam. Ela despertou devagar, sorrindo ao encontrar a loba ali. Sentou-se, esfregando os olhos e se alongando.
—Está tudo quieto. Dormi demais?
—Você descansou?
—Sim, muito bem.
—Então dormiu o suficiente. Aqui, fiz algo para que comesse.
Ela estendeu a outra tigela, vendo-a comer com fome. Emeril andou pela casa, indo para o quarto e trocando de roupa, voltando com uma nova saia e camisa, também aberta nas costas.
—Onde estão todos?
—Selen levou os três para a casa dela. Disse que precisava de ajuda com algo. Então falaria com seu pai.
—Meu pai e Selen? Isso vai acabar mal.
—Com três lobos atrás? Acho que ela consegue.
—Então estamos sozinhas?
—Sim. Estamos.
Emeril sorriu com a ideia, aproximando-se e passando uma perna sobre o corpo de Ilis, sentando-se no colo dela. Pegou o morango que sobrou e a fez inclinar a cabeça, deixando que comesse a fruta enquanto depositava beijos pelo seu pescoço.
—Ainda com fome?
—Depende do ponto de vista.
—Diz do que precisa.
—Com palavras? Logo você me pedindo isso, loba.
Ilis continuou com a cabeça inclinada, recebendo os beijos dela pelo pescoço até chegar nos seus lábios. Outra vez, Emeril os devorou, sem impedir que as mãos da loba explorassem seu corpo, com desejo. Arfou, então sorriu, sentindo as mãos espalmarem em sua nádega e na sua coxa, apertando, em pleno desejo. Ch*pou sua língua, sentindo seu seio ser acariciado, a mão da feiticeira explorando seu abdômen abaixo da camisa.
Ilis desviou de sua boca e desceu para o seu pescoço, arrancando suaves gemidos dela. Beijou o colo dos seus seios e desceu até um deles, baixando o tecido da sua camisa e abocanhando o bico.
—Ilis...
Não era um pedido de que parasse, sua mão pressionava entre os cabelos dela, explorando a sensação que a língua dela fazia em sua pele. Emeril voltou a puxar seu rosto para si, usando seus cabelos como guia, sentindo o sorriso da loba antes de ter suas bocas coladas.
Desaceleraram o beijo, suas testas colando, só então Emeril viu os olhos em pleno desejo de Ilis a lhe mirar.
—Por que parece que vai se transformar em lobo a qualquer instante?
—Você me provoca nas vésperas da lua cheia.
—Não estou provocando. Estou dando o que suas mãos podem ter. — Sorriu, selando seus lábios e guiando sua mão para o seu seio nu. — E o que tem a lua cheia? Algo modifica seus desejos nesse estágio da lua?
—Ah, muito. Vai ser insuportável essa viagem, sem tocar você. — Sua língua deslizou pelos lábios dela, massageando seu seio.
—Quem disse que não vai me tocar?
—Com todos ali juntos? Dessa forma?
—Não, não assim. — Suspirou, tentando pensar. — Não faço ideia como são as coisas lá fora. Não lembro o caminho que fiz com meu pai até aqui.
—Não se preocupe, temos o agora.
—Que tal irmos para a cachoeira? Ninguém vai nos encontrar lá.
—Seria perfeito.
Emeril a ajudou a se levantar, arrumando suas roupas e a pegando no colo, suas asas saindo quando saiu pela porta, mergulhando no ar e levando a loba pelo caminho que sabia percorrer de olhos fechados. Ilis repetiu o gesto de tirar as roupas e mergulhar no lago, deixando-se boiar enquanto sentia os olhos da feiticeira em si.
—Você pode simplesmente entrar e olhar mais de perto. — Incentivou, de olhos fechados. — Não precisa mais ter medo de entrar comigo aqui.
Emeril sorriu, tirando as roupas, só então atraindo a atenção da mulher, que sinalizou para que entrasse.
—Desse jeito?
—Tem espaço suficiente para as asas.
Emeril balançou os ombros para cima e para baixo, entrando devagar, movendo as asas para que ficassem submersas. Ilis nadou na sua direção, tocando seu rosto, seus lábios não demorando a beijar as escamas em sua pele.
—Você realmente gosta dessa forma. — Emeril falou, apreciando seus toques.
—Por que eu não gostaria?
—Você me quer com chifres e tudo?
Ilis riu, movendo os dedos em suas costas.
—Você é muito vaidosa, Emeril.
—Isso é ruim?
—Sim, quando deixa isso cegar seus sentidos.
—E o que não estou enxergando?
Os dedos pressionaram sobre a marca que a asa cobria, fazendo-a fechar os olhos, incomodada. Ilis parou de beijá-la, esperando, mas quando ela voltou a abrir os olhos, encontrou somente frustração.
—Não te trouxe aqui para me interrogar.
—Não estou interrogando. Você é a única aqui que sabe traduzir a língua dos magos. Você sabe o que está escrito.
Ela suspirou, suas asas movendo para cobrir seus corpos, a temperatura aumentando no mínimo espaço entre elas. Tocou os ombros da loba, que somente a observava.
—Sonhos do passado, um caminho para o presente. — Respirou fundo, desviando o olhar. — É um feitiço. Minha mãe colocou aí, dois dias antes do armazém explodir. Mas não há nada no livro, então eu não sei o que significa de verdade.
—Talvez a resposta não esteja no livro. — Isso atraiu a atenção dela. — Você lembra algum dos seus sonhos?
—Não muito.
—Tem algum feitiço que te faça lembrar?
—Uma poção. Mas não é agradável.
—Por que?
—Sonhos são uma fortaleza de medos e desejos. Acessar isso é loucura.
—Você fala enquanto dorme, Emeril. Somente sabendo o que sonha, vai saber com quem fala.
—Acha que falo com alguém? Está com ciúmes, Ilis?
—Como eu disse, seus sentidos ficam nulos pela sua vaidade.
Ilis mergulhou, afastando-se dela, mas ela foi atrás, afundando no lago e a seguindo, puxando a loba pela cintura, procurando impedi-la de continuar. Ilis a olhou e esperou, e Emeril soube exatamente o que ela queria, então assentiu, sua mão sentindo a suavidade de sua pele quando ela voltou a aproximar o corpo do seu, lentamente voltando a superfície.
—Por que tem tanto medo de saber?
—Pelo contrário. Eu quero saber. Só irrita não saber como chegar a esse conhecimento. Irrita outras pessoas saberem mais que eu, como se tudo que aprendi não fosse nada.
—Nosso conhecimento veio de algum lugar, para algo especifico. Você aprende todos aqueles feitiços e poções para um determinado momento ou situação. Você tem pouca coisa consigo, porque você cresceu fugindo, Emeril. Todos aqui já estiveram em outras terras. Mas agora você também vai estar em novos lugares, vai ter mais conhecimento. Isso não te torna mais ignorante. Você só não teve a chance de conhecer outros lares.
Emeril suspirou, abraçando-se ao corpo dela por um instante antes de voltar a olhá-la.
—Obrigada. Me deixa aliviada, ao menos um pouco.
—Quando beber aquela poção, não vai estar sozinha. Não precisa se preocupar.
—Você quer ver o que tem dentro da minha cabeça?
—Isso é possível?
—Sim.
—É algo pessoal seu.
—E eu quero que veja. Não quero ter a vaidade que te faça mergulhar para longe.
Ilis sorriu, tocando seu rosto e movendo a cabeça de maneira positiva.
—Farei isso essa noite. Podemos aproveitar o dia que nos resta?
Nadou em direção a quebra d’água, inclinando a cabeça e deixando-se atingir, os braços se estendendo para os lados, boiando na água. Quando olhou na direção de Ilis, ela a encarava, e dessa vez, Emeril encontrou a mesma expressão que tinha visto na última noite em que estiveram juntas, quando a flagrou lhe encarando. Dessa vez, ela se juntou ao mesmo ponto em que estava, o olhar felino sobre o seu corpo.
—O que estamos esperando, Emeril?
Antes que pudesse responder, ela teve seu corpo agarrado e levado para a margem, onde Ilis tinha suas mãos com posse em suas pernas. Sorriu com a investida, cruzando os braços na sua nuca.
—O que está esperando?
—Pode parecer egoísta, mas... Eu quero que isso aconteça em um lugar que seja nosso.
—Nosso? Como a clareira?
—Sim, mas... Eu quero construir algo que não tenha tido interferência de ninguém.
—Selen esteve nesses lugares. — Constatou, obtendo somente um assentir em resposta. — Eu não sei como vou te oferecer isso, Emeril. Estamos quase partindo.
—Talvez aqui não seja nosso lugar. Estamos sendo caçadas, e fizemos momentos aqui com outras pessoas. Foi nosso começo aqui, no meio da floresta, no meio do nada, mas... com você, eu quero ser cuidadosa.
—Está insegura?
—Não, claro que não. — Sorriu, envolvendo as pernas em sua cintura. — Estou mais segura do que estive antes. Não sei por que. Sempre soube que você voltaria, no fundo eu sabia que seria sua, e você sempre é tão simples e verdadeira comigo, eu não quero que isso seja igual a nada que já tive ou você teve. Quero que seja único.
Ilis sorriu, selando seus lábios devagar, colando suas testas mais uma vez, mantendo os olhos fechados. Emeril a abraçou, finalizando qualquer espaço que tinha em seus corpos.
Já era noite quando Emeril decidiu preparar a poção que tinha prometido a Ilis.
—Todas as suas poções têm cheiros estranhos?
—São misturas que envolvem química, o que estava esperando?
Ilis sorriu, bebendo a metade do liquido azul e estendendo o restante para a feiticeira, que bebeu tudo. Deitou sobre seu ombro, abraçando sua cintura.
—Só para constar, eu não sei o que vai acontecer lá. Então se ver algo, e não gostar...
—Eu sei. — Ilis beijou seus lábios, acariciando suas costas.
Emeril fechou os olhos, tentando relaxar, ambas deitadas sobre as roupas na caverna, ao lado da fogueira. Com a poção, não demoraram a dormir um sono profundo, levando algumas horas para conseguirem vislumbrar os primeiros vestígios de sonhos.
Viram a clareira, reconhecendo parcialmente o dia em que Ilis tinha levado as primeiras cartas para Emeril, com as perguntas iniciais, mas ao invés da loba levá-la para longe dos olhos da elfa, Selen as encontrava, como se fossem velhas conhecidas, tomando a feiticeira em seus braços e a cobrindo de beijos.
Avançaram para a noite na cachoeira, mas Beah não apareceu, somente Selen e Ilis estavam na margem do lago, enquanto Emeril permanecia embaixo da quebra d’água. Dessa vez, ambas lutavam ferozmente, enquanto a feiticeira somente as observava em deleite.
Vivenciaram um momento mais íntimo, na mesma caverna em que estavam dormindo, trocando beijos e caricias enquanto seus sex*s moviam juntos. Sentiram o prazer, como se estivesse acontecendo de verdade. Selen aparecia, nua, e se juntava a ambas naquele momento.
No sonho seguinte, Emeril estava sozinha, na floresta, andava por entre as árvores e percorria todos os lugares que conhecia, mas não havia ninguém, e não havia som. O sonho terminou com uma luz negra varrendo tudo, levando-as para um terreno infinito, varrido em neve. No centro dele, havia uma mulher, com tecidos grossos a cobrir sua pele negra, e uma touca sutil sobre os longos cabelos pretos.
—Mãe! — Emeril a chamou, correndo pela neve e se jogando nos braços dela. — Eu te encontrei.
—Dessa vez você demorou, querida.
Ilis estava paralisada no lugar, sem entender onde estava e quem era a mulher que Emeril abraçava. Não escutava nada, e o único pensamento que tinha era que não enxergava lua nenhuma.
—Você a trouxe junto, finalmente. Achei que nunca ia conhecer a mulher que você vive falando.
Liora olhou para a loba, sorrindo, mesmo que ela permanecesse no lugar. Emeril também a olhou, sentindo pura agonia e amargura ao lembrar os sonhos que compartilhou com ela.
—Ela vai me odiar quando acordarmos.
—Tenho certeza que ela vai entender. Você sempre passa por barreiras antes de chegar aqui, toda noite.
—A última é sempre a pior.
—Cada barreira que passa você vai sentindo na pele seus medos.
Emeril voltou até onde Ilis estava, segurando sua mão e a levando para junto de Liora.
—Você estava certa, Ilis. Era mesmo minha mãe. — Falou, olhando-a com um sorriso.
Ilis fez uma careta, não entendendo nada do que ela dizia.
—O que foi?
Ilis tocou sua garganta com uma mão, usando a outra para tocar o próprio ouvido.
—Você não está ouvindo? Mas como isso é possível?
—Faça ela ouvir, querida. Você sabe como. — Liora a incentivou, tocando seu ombro.
Emeril pensou por alguns instantes, olhando para Ilis. Então olhou para o céu, não encontrando nada. “Se isso aqui faz parte de um sonho, eu posso fazer o que quiser.” Com esse pensamento, sorriu, erguendo a mão e desejando uma lua no céu. Uma lua em fase cheia preencheu seus olhos, então olhou para Ilis, em expectativa.
—Pode me ouvir agora, babe?
—Sim, agora sim.
—Ótimo. Olhe, essa é minha mãe, Liora.
Ilis olhou a mulher, assentindo, e estendeu a mão.
—Sou Ilis Mae. Amiga de sua filha.
—É um prazer finalmente te conhecer, Ilis. Emeril sempre me fala de você.
—Mãe... — Reclamou, abraçando o braço da loba.
—Estou feliz que tenha vindo com ela. Acredito que vamos nos ver mais vezes agora.
—Por que diz isso? — Ilis perguntou, sem entender.
—Vocês tomaram a poção que as ligam nos sonhos. Somente se tomarem a poção contrária vocês deixam de vir juntas.
—Você sabia disso? — Olhou para Emeril, com olhos estreitos, e ela somente assentiu.
—É estranho, mas agora lembro de todos os encontros com minha mãe.
—Vamos lembrar quando acordar?
—Sim. Por causa da poção. — Liora respondeu. — Finalmente tomou a poção, Emeril. Todos esses anos, e você nunca lembra.
—Foi Ilis quem me fez pensar nisso. Não estaria aqui se não fosse por ela. — Ofereceu um meio sorriso, olhando para a loba, que continuava quieta.
—Bem, agora o problema está resolvido. Mas como sabe, não temos muito tempo, sempre depende de quanto você demora nas barreiras.
—Barreiras? — Ilis perguntou.
—Os sonhos que viu, são barreiras naturais do cérebro, criadas para proteger.
—Se você está aqui, então não morreu.
—Ela está viva. — Emeril respondeu. — Agora sei como descobrir onde.
—Você nunca soube onde Emeril estava?
—Claro que sei. Mas se a sua pergunta é o motivo que não a procurei esses anos, pergunte a ela quando acordar.
Ilis se remexeu no lugar, impaciente e inquieta. Emeril tocou seu rosto, tentando acalmá-la, mas seu toque a incomodou mais ainda, e ela se afastou.
—Você precisa acordar, Emeril. — Liora alertou, olhando entre ambas. — Acorde, agora.
Emeril acordou, sem a mesma calma costumeira. Seu corpo estava suado e sua respiração acelerada, sentando em busca de se adaptar a recente luminosidade na caverna. Ilis vestia as próprias roupas com pressa, seguindo para fora da caverna sem olhar em direção a feiticeira. Emeril suspirou, mordendo o próprio lábio enquanto se levantava devagar, ainda abalada com as memórias dos sonhos e a breve conversa com sua mãe.
—Devia ter imaginado que isso não daria certo.
Vestiu as próprias roupas, saindo da caverna e não encontrando vestígios da loba.
—Parabéns Emeril, você conseguiu estragar tudo dormindo. — Suspirou, seguindo para a aldeia. — Claro que não ia dar certo. Agora ela me odeia, e não posso nem a culpar. Eu me odeio.
Chegou na árvore que dava para a casa do pai, mas não subiu, Julian apareceu do seu lado e tocou seu ombro, recebendo um abraço apertado da filha.
—Imaginei que fosse vir aqui, cedo ou tarde. — Ele falou, apoiando as mãos na cintura.
—Selen esteve aqui?
—Sim. Conversamos por um bom tempo, enquanto seus amigos estranhos estavam aqui.
—Ela falou que vamos partir?
—Sim.
—Você vem?
—Não. Estou velho demais para fazer viagens longas de novo.
—Imaginei que fosse dizer isso. Mas... você não viria nem para encontrar minha mãe?
—Sua mãe? Ela está morta.
—Não minta para mim. Ela me disse que você sempre soube.
—Você se lembrou?
—Sim.
Julian suspirou, sem forças para evitar o assunto. Não encontrou decepção no rosto da filha, mas podia sentir a frustração que emanava dela, e para isso, sabia que a culpa era somente sua.
—Desculpa, Emeril.
—Ou eu fico com um, ou fico com outro, não é?
—Deve ser assim que funciona com pais separados.
—Sim, com alienação parental também. — Suspirou. — O armazém explodiu e você disse que ela morreu. Mas foi só para ela ficar longe de mim.
—Ela queria acabar com os elfos de uma vez. Não queria mais te colocar em perigo. Aqui você ficou a salvo, Emeril. Apesar de tudo, ela conseguiu.
—Você nunca deveria ter escondido isso de mim, Julian. Ela tinha o direito. Tinha o direito de ficar comigo.
—E abriu mão.
—Ela nunca faria isso. Ela sempre esteve comigo. — Respirou fundo, massageando as têmporas. — Mas você cuidou de mim, de qualquer forma. Eu agradeço por isso, mas vou embora ainda assim. Se quiser vir, será bem-vindo.
—Eu vou ficar, Emeril. Isso... é um adeus.
Ela assentiu, afastando-se alguns passos, virando-lhe as costas. Sentiu lagrimas nos olhos, seu peito apertando com a ideia de deixá-lo para trás. Ainda era seu pai, e ainda o amava, ele a tinha criado e protegido apesar de tudo.
—Eu achei que o amor de vocês era de verdade. Mas pelo visto coisas assim não existem.
—Nos amávamos, Emeril. Tudo que te contei foi real. Mas viver fugindo... acabou com o que tínhamos. Não significa que com você não possa dar certo.
—Eu duvido. Se mudar de ideia, partiremos ao amanhecer.
—Adeus, Emeril.
Ela quis se virar e abraçá-lo, mas simplesmente voltou a andar, afastando-se apressada, com medo de desmoronar ali.
~~
—Emeril. — Selen a chamou, balançando seu braço. — Emeril. Para de falar dormindo e acorda para falar comigo, que mania chata.
Emeril abriu os olhos, assustada, e empurrou o ombro da elfa quando entendeu o que acontecia. Selen a estava acordando em sua cama, e riu com a expressão em seu rosto.
—O que foi, Selen?
—Amanheceu.
—Acontece todos os dias, se não reparou.
—E Ilis não voltou. Nenhum dos lobos.
—E o que tem? Tenho que ir embora de qualquer forma. Se ela foi com seu bando, não posso fazer nada.
Sentou, esfregando os olhos e respirando fundo. Tomou a água que tinha ao lado da cama, acalmando os nervos tensos dos ombros. Selen sentou do seu lado, olhando ao redor, não encontrando mais nada nas prateleiras do quarto dela, tinham guardado tudo na tarde do dia anterior. Estavam prontas para ir embora.
—Pode ter acontecido algo com ela.
—Eu duvido. — Emeril balançou a cabeça a olhá-la. — Ela fez a escolha dela. Se algo tivesse acontecido teríamos descoberto.
—Eu duvido que ela iria simplesmente desistir de você porque você sonhou que estávamos trans*ndo várias vezes, Emeril. Até parece que ela não sabe que fizemos isso de verdade.
—Não foi uma questão de ela saber. Mas sim a forma que ela viu.
—Emeril, Ilis não parece ser tão idiota. Até a lua sabe o quanto você é vaidosa e gosta de todos os olhos em você. Todas as mãos querendo te tocar.
—Selen...
—Você sabe que é assim. É algo insuportável, mas faz parte de você. Eu não me importo. Me acostumei. Sei usar contra você.
—Selen, pelos deuses. Você me acordou para lembrar meus piores defeitos?
—Não. Temos que ir. Eu só duvido que aquele cachorro vai desistir tão fácil.
—Não a chame assim. E pare de achar isso. Eu já te expliquei tudo ontem. Não vamos nos repetir.
—Está bem. Vamos embora então. Temos uma longa viagem pela frente.
—Para onde estamos indo?
—Só há um lugar onde tem neve nessa época do ano que sua mãe possa estar.
—Onde?
—Meu lar.
—A terra dos elfos?
—Agora é um centro que as espécies compartilham. Não é somente de elfos.
—Quanto tempo vamos demorar?
—A pé? Vai demorar. Mas conheço o caminho. Já adianto que não vai ser legal o tempo todo.
—Vai ser melhor do que ficar aqui.
Selen sabia o que ela queria dizer, sobre continuar na floresta a lembrar de tudo, então somente assentiu, e mesmo que crente de que não iriam sozinhas, se despediram da floresta e foram embora.
Fim do capítulo
:O Liora está entre nós
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Lea
Em: 26/02/2022
Não consigo vê a Ilis " compartilhando" a Emeril. Ou é "dela" ou abre mão,foi isso que ela fez, aparentemente!
Agora as aventuras vão começar de verdade. Já estou com meu Doritos em mãos e meu suco de manga,e que comecem as AVENTURAS!
#RUMOATEMAMAE
Resposta do autor:
Ilia é territorialista mesmo. Difícil compartilhar o osso hehe
As aventuras vaaaaaao vir!
Passa um gole do suco e simboraaa #rumoamamae! Adoro!
Beijos!
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