Trigésimo
Iori foi mais tarde para o quarto de Lana, quando a enfermeira levou a bebê para amamentar. Laura estava ao lado dela, sorrindo com a cena, ainda que Lana buscasse disfarçar as caretas de dor que fazia a cada sugada do bebê. Ficou ao lado da cama, beijou sua bochecha e acariciou seus cabelos, olhando sua filha mais de perto.
—Meu amor... — Falou com emoção. — Nossa filha está bem aqui agora. Esperamos tanto por isso.
—Eu queria ver os olhos dela.
—Minha mãe disse que pode demorar uns dias para ela abrir os olhos.
—Ela herdou o formato dos seus olhos, Iori. — Laura falou devagar, desviando o olhar do bebê para ela. — Talvez tenha herdado sua cor.
—Eu iria adorar. — Lana sorriu, acariciando a cabeça da filha, que tocava seu peito. — Ela está faminta. A enfermeira disse que ela podia demorar a sugar assim direto, mas ela não demorou nem dez minutos para começar e não parar.
—Bem, ela tem a quem puxar. — Iori sorriu, olhando para Lana.
—Pervertida. — Lana balançou a cabeça. — Espero que tenha aproveitado sua vez, porque sua filha pretende deixar meus peitos nos joelhos.
—Então eu os coloco no lugar quando voltar a ser minha vez.
—Ah, já está planejando me operar, Sasaki?
—E eu não te conheço para saber o quanto você é vaidosa.
—O que você vai fazer agora que não está mais grávida? — Laura questionou.
—Perder os quilos que ganhei, é claro.
—Vê? Você definitivamente fará a operação.
—Talvez. Eu não quero me tornar mãe e nunca mais trans*r na vida.
—Você definitivamente não vai. — Iori riu. — Você tem energia demais para não gastar trans*ndo.
—Vê? Algo bom para estar fazendo. Ao menos depois que voltar ao normal. Sério, eu só tenho outro filho se vocês assinarem um contrato falando que estarão aqui, não tem coisa pior que sua mãe medindo minha vagin*, Sasaki.
—Minha mãe? — Iori estreitou os olhos para ela. — Isso sim é um pesadelo.
—Vou ter que viver com a ideia de que Chieko viu minha vagin* enquanto nossa filha saia de lá.
—Isso soa tão errado. Era eu quem devia estar no lugar dela.
—Na verdade estou feliz que vocês não ficaram traumatizadas em ver minha vagin*. Chieko não tem planos de trans*r comigo ainda.
—Querida, pare de falar assim em frente a Mahina. — Laura pediu, apoiando a cabeça no seu ombro. — Ela não entende, mas você está amamentando. É um momento especial. Concentre-se nisso. Podemos falar da sua vagin* o quanto quiser depois.
—Eu sei que falam que é um momento especial. Mas você tem noção do quanto isso dói? — Lana respirou fundo e olhou para a filha, acariciando sua cabeça.
—A enfermeira disse que melhora com o tempo. Seus bicos ainda estão sensíveis e seus seios cheios de leite.
—Ela tem razão. — Iori beijou sua bochecha e apoiou o queixo em seu ombro, aspirando seu cheiro. — Minha mãe disse que é assim no começo. Mas vai melhorando.
—Você não disse se gostou do nome.
—Mahina? — Ela riu baixinho, inclinando a cabeça para olhar a filha. — Sim, é lindo, amor. Minha mãe não parava de falar o nome da neta e o quanto ela era um brilho naquela sala de parto.
—Eu acredito nela. Nossa filha é iluminada. — Laura segurou um dos pés da filha, movendo entre os dedos. — Eu quero tatuar os pés dela na minha barriga.
—Na barriga? Por que lá?
—Ela pode não ter vindo da minha barriga, mas quero deixá-la marcada lá.
—Oh... me faz querer ter uma igual agora.
—Podíamos fazer. — Laura inclinou a cabeça para a olhar, Iori sorriu, movendo a mão para tocar a sua no pé de Mahina.
—Eu iria adorar.
—Vocês falando assim me faz querer ter outro filho. — Lana falou mais baixo, contente quando Mahina terminou de mamar.
—E passar por tudo isso de novo?
—Por que não? Eu tenho vocês aqui para passar por isso apesar de me dizerem que não estão mais juntas. — Ela mudou a filha de posição com cuidado, buscando seguir as orientações que a enfermeira tinha passado.
—Laura... — Iori se afastou para a olhar. — Você podia ter esperado.
—Você a conhece. Não iria desistir até saber. — Laura saiu da cama e pegou a bolsa do bebê, achando o lenço e colocando sobre o ombro de Lana, onde ela tinha a filha.
—Amor... Eu não queria ter essa conversa com você aqui no hospital. — Iori se sentou na cama, tocando sua perna.
—O que há para conversar? Vocês não podem estar falando sério. Terminarem depois de todos esses anos juntas por causa de uma discussão. — Lana moveu a mão nas costas da filha, sentindo-a se mover.
—Não foi só a discussão. Qual é Lana... Ao menos espere até chegarmos em casa para conversarmos.
—Conversar sobre o que? Vocês tomam uma decisão dessa e esperam que eu decida se vou ficar com uma de vocês? Não. Não vamos ter essa conversa. — Ela sentiu seus olhos arderem diante dos fatos. — Nossa filha está aqui. Como vocês podem querer desistir da família que estivemos formando?
—Licença mamães. — Dra. Ruth entrou no quarto, aproximando-se da cama. — Emocionada com a primeira mamada? — Ela sorriu para Lana, tocando seu ombro enquanto suas lágrimas caiam.
—Mãe de primeira viagem. — Lana sorriu brevemente, limpando o rosto.
—Aproveite essa fase. Passa muito rápido. Como estão as mamães? — Ela olhou entre Laura e Iori, que forçaram um sorriso.
—Animadas. — Iori falou primeiro. — Está tudo bem com elas, Dra.?
—Sim. Lana se recuperou bem do parto. Seu bebê está em perfeito estado e eu já posso dar alta a vocês. — Ela se voltou a Lana. — Depois que você comer estará liberada. Você sentiu alguma coisa nesse meio tempo, Lana?
—Fobia do hospital? — Sugeriu, fazendo-a rir.
—Não se preocupe, você se saiu muito bem. Estou feliz que tenha dado tudo certo.
Ruth deu as instruções gerais antes de levar Mahina de volta para a incubadora, deixando elas a sós para que Lana pudesse comer. Um enfermeiro trouxe a bandeja e colocou no suporte da cama, deixando-se a disposição se precisasse de ajuda.
—Olhem... — Lana falou após respirar fundo. — Eu entendo que vocês podem ter dito várias coisas durante essa discussão. Mas vocês querem jogar tudo fora por isso? Eu achei que pudéssemos superar os problemas juntas, e não tomar essas decisões no momento.
—Você realmente acha que tomaríamos uma decisão assim por causa de uma discussão Lana? — Laura questionou, suspirando. — Você sabe que não estávamos bem muito antes disso. A discussão só serviu para enfrentarmos isso de uma vez. — Laura olhou para Iori na cama, estreitando os olhos. — O casamento não iria consertar nada. Principalmente quando você me propôs para não perder Lana.
—Eu te propus porque apesar de tudo eu amo você, sua idiota. Achei que valia a pena tentar de novo e oficializar nossa união finalmente. — Iori inclinou a cabeça para a encarar de volta. — Mas você é cabeça dura demais para pelo menos tentar antes de jogar tudo para o alto.
—Estou sendo realista. Eu não vou me casar quando tudo está uma droga, Iori.
—Tudo, Laura? — Lana questionou, franzindo o cenho. — Qual é... Eu sei que durante a gravidez e a viagem de Iori as coisas ficaram difíceis. Mas estávamos buscando melhorar essa semana.
—Não é contigo, cariño. — Laura a olhou com paciência. — Você não estava naquele quarto. Por mais que tente explicar você não entenderia porque chegamos a essa conclusão. Nada muda isso agora. Estou cansada de dar chance a isso, desculpe, mas é a verdade.
—Então nós desistimos e terminamos, assim?
—Eu não terminei contigo. Só se for o que quiser.
—Vocês realmente me farão passar por isso? Me farão escolher? Deus... Vocês enlouqueceram de vez se acham que farei isso.
—Lana... Eu não vou abrir mão de estar contigo. Iori muito menos. O que espera que aconteça?
—Que vocês tentem um jeito de estarem juntas.
—Lana, você se separou de Madson. — Iori relembrou, inclinando a cabeça. — Mas não deixou de a amar, deixou? Só deixou de ser suficiente. Você deve entender agora, não é? De que iria adiantar continuarmos juntas se não funcionamos mais juntas? Seríamos infelizes Lana. Desculpa te fazer passar por isso logo agora. Sei que não foi assim que planejamos.
—Deus... — Ela voltou a limpar os olhos quando as lágrimas caíram outra vez. — Eu nunca achei que vocês fossem se separar um dia. Sempre achei que fosse ser eu.
—Mas não é. Você se tornou nossa mulher, Lana, mais especial que qualquer coisa. — Laura segurou seu rosto, assumindo a tarefa de enxugar suas lágrimas.
—E o que faz vocês pensarem que amo uma a menos para pensar em terminar?
—Não é o que estamos pedindo.
—Não? É exatamente o que estão fazendo. Depois vão me odiar se eu tiver que escolher.
—Não, eu não odiarei você se escolher pensando no que for melhor para você. Independentemente de qualquer coisa, nossa filha será sempre uma prioridade.
—Sim, eu só quero que escolha o que achar que for melhor para seu futuro e o de nossa filha. — Iori acrescentou. — Você, acima de nós duas, saberá disso melhor que ninguém.
—Eu nunca tive um filho. — Lana estreitou os olhos.
—Mas é a pessoa mais ponderada e equilibrada que eu conheço. Eu não estou dizendo que uma de nós é menos capaz de criar Mahina ao seu lado.
—É melhor vocês irem. Eu não quero decidir nada agora. — Ela afastou as mãos de Laura.
—Você não tem que decidir nada agora. — Laura se manteve perto, olhando em seus olhos.
—Eu quero ficar sozinha.
—Qual é Lana. Acabamos de chegar aqui. — Iori insistiu. — Você ouviu sua médica. É só você comer e nós vamos para casa. Você poderá descansar lá e nós cuidamos de Mahina.
—Então nos encontramos em casa. Eu quero comer em paz. — Ela suspirou e se moveu para sair da cama. — Eu vou ao banheiro trocar de roupa, quando eu voltar espero que tenham saído.
—Lana, não faça isso. — Laura pediu.
—Fechem a porta quando saírem. — Ela pegou a bolsa e entrou no banheiro, suspirando, sentindo-se devastada tão logo se viu sozinha.
—Laura... — Iori ainda olhava a porta do banheiro. — Não podemos fazer isso com ela. Ela acabou de dar à luz. Não podemos obrigar ela a escolher.
—Então o que fazemos? Jogamos baralho? — Perguntou sem humor, sentando na cama ao seu lado.
—Você sempre disse que eu sou a mais fria. E nós duas sabemos que você tem mais paciência com crianças. Você lidaria melhor com a convivência direta com Mahina. Você só terá que se esforçar mais para se aproximar de Lana outra vez.
—Você está abrindo mão de Lana? Logo você? Qual é Iori. Você a pediu em casamento semana passada.
—Ela vai sofrer de qualquer forma. Eu só quero que ela esteja da melhor forma pelo maior tempo possível, Laura. Você me manteve bem por todos esses anos.
—Você me manteve estável por todos esses anos. — Ela baixou o olhar, mirando o chão com desânimo. — Você mesma disse que Lana não pode ter espaço para dúvidas. Ela te venera Iori.
—Não diga besteira. Você satisfaz as loucuras dela. Lana tem energia de sobra e você sempre supriu isso.
—Não nos últimos meses. — Ela riu baixo. — Olhe para nós. Estávamos nos xingando e nos acusando a noite toda e agora estamos listando qualidades que Lana gosta.
—Devíamos listar os defeitos que ela iria enlouquecer com o tempo então. — Iori sorriu e tocou o ombro no dela. — Qualquer uma de nós se esforçaria para fazê-la feliz. Acho que ela sabe disso. Por isso não quer escolher.
—Vamos ser realistas então Iori. Ela aceitou casar contigo. Ela se envolveu com sua família de forma que eu nunca pude... Nunca consegui. — Ela se levantou e segurou seu rosto, erguendo-o para a olhar nos olhos. — Minha mãe nunca vai aceitá-la e eu não quero romper com minha mãe. Você vai protegê-la melhor do que ninguém, assim como me protegeu.
—Laura... isso não é critério.
—É, para mim. — Ela sorriu por um momento. — Eu sempre esperei pelo momento que você fosse cair na real e ver que não estou à sua altura, Iori. Eu temia por esse momento. Ainda assim sempre incentivei que se desapegasse de mim e confiasse mais em você. Mas foi só quando Lana apareceu diante dos seus olhos que você passou a confiar em você. Você se cuidou, você se arrumou e saiu mais. Você mudou diante dos meus olhos e eu continuei a mesma, Iori.
—Você sempre foi boa para mim, Laura.
—Você mudou para ficar com Lana. Você se tornou uma pessoa melhor. Eu não. E eu não quero magoar Lana por ser desse jeito, não mais do que já magoei. Você só me aguentou por todos esses anos porque achou que não conseguia coisa melhor, Iori.
—Eu fiquei com você porque você me fazia bem. Porque sempre te amei. Qual é Laura, você conhece todos meus erros e meus defeitos e escolheu estar comigo quando podia ter qualquer uma.
—E fomos felizes enquanto durou. Vamos lembrar dos melhores momentos, está bem? Tivemos vários.
—Sim, tivemos.
—Estou feliz que tenha percebido que pode ter qualquer mulher, Iori. Mas se concentre na única mulher que precisa de você agora. Não fale as mesmas coisas que me disse ontem à noite. Cuide dela, entendeu?
—Claro que vou cuidar dela. E cuidarei de você também, se precisar. Entendeu?
Laura sorriu, inclinando-se e a beijando, sem encontrar resistência, sentindo um sutil toque no rosto antes de se afastar.
—Eu vou passar em casa e pegar algumas roupas. Preciso passar uns dias fora.
—Não precisa sair de casa assim. Você pode ficar lá, sabe disso.
—Seria uma tortura ver vocês lá. Preciso de alguns dias. Diga a Lana que falo com ela amanhã. Eu quero resolver isso com ela, mas não hoje.
—Acho que precisamos todas descansar.
—Sim. Você tem razão. Se cuida Iori. E cuida de nossa filha enquanto não estou lá.
—Se cuida também. Não vá fazer nenhuma besteira Laura.
Laura foi embora, Iori ficou algum tempo ali, sentindo-se cansada e triste, tentando se preparar para enfrentar Lana e juntar forças para estar ao lado dela.
—Eu te falei para ir embora. — Lana falou assim que saiu do banheiro, colocando a bolsa com sua muda de roupas sujas na poltrona ao lado da cama.
—Eu te ouvi. — Iori respirou fundo antes de se aproximar dela, envolvendo sua cintura com alguma cautela, temendo ser afastada. — Mas eu também te disse que faria qualquer coisa para você me escolher.
—Sasaki-
—Nesse momento, eu não vou te deixar sozinha. — Ela se moveu para ficar à frente dela, apoiando a testa na dela. — Eu não quero te deixar de novo, Lana. Então só me peça para ir se realmente não me quiser.
—Não diga isso. — Lana segurou seu rosto, olhando em seus olhos cinzentos com preocupação. — Como você pode pensar que eu deixei de querer você?
—Eu não acho que seja o caso. Enquanto você continuar me chamando de Sasaki, eu sempre saberei meu lugar. É ao seu lado que quero estar, Lana. Não me peça outra coisa senão para ficar.
—E como isso vai ser de agora em diante? Como voltamos para casa onde moramos nós três e organizamos para ser de nossa família?
—Você tem razão. Seria doloroso demais. Mas se você for um pouco paciente, eu prometo que farei uma casa para nós.
—Você faria isso?
—Sim. Claro que sim. Será exatamente como planejarmos. Um lugar novo para momentos novos.
—Eu gostaria disso.
—Ótimo. — Ela sorriu, selando seus lábios, distribuindo beijos pelo seu rosto, buscando afastar as lágrimas que caiam sem serem contidas. — Deixa eu cuidar de você e de nossa filha agora. Sente, você tem que comer.
—Estou faminta. Mas preferia outra coisa que essa comida de hospital.
—Coma só um pouco, então nós vamos embora e eu encomendo algo pelo caminho.
—Tudo bem. Mas eu quero o melhor hambúrguer com batatas que encontrar. Nada de lanche natural.
—Então pedirei dois, porque estou morrendo de fome também.
Lana concordou com maior ânimo, comendo parte da comida na bandeja, Iori a ajudou, contente que ela tinha aceitado que ficasse perto. Trouxeram Mahina logo em seguida, Iori se emocionou ao segurá-la pela primeira vez, sentindo seu peso e o cheiro da sua pele, sua textura. Sentiu a felicidade em finalmente a ter nos braços, mas também sentiu a responsabilidade de cuidar e proteger algo tão pequeno e frágil.
Foram para casa depois, Iori se encarregou de colocar a filha no berço após se esforçar para a fazer dormir, colocando a fralda e a roupa. Quando voltou para o quarto, Lana estava no closet a procura de roupas para usar, seu rosto denunciando o cansaço, mas logo demonstrou vergonha quando percebeu o olhar de Iori no seu corpo.
—Não me olhe. Estou terrível.
—Sem sentido. — Iori a abraçou, beijando seus seios. — Você não é somente minha mulher agora. É mãe de nossa filha. E eu vou dividir seu corpo com ela agora.
—Você ainda vai me desejar, Sasaki? Meu corpo nunca mais vai ser o mesmo, ainda que eu me esforce para perder o peso que ganhei.
—A gente se adapta, amor. Nem meu corpo é o mesmo.
—Mas você é sexy naturalmente, Sasaki.
—Continue falando assim, e eu te levo para aquela cama com outras intenções.
—É? — Ela riu, envolvendo seus ombros. — Isso pode demorar. Não posso penetrar nada lá por algum tempo.
—Quem falou em penetração? Eu posso fazer tantas coisas contigo sem precisar penetrar.
—Eu iria adorar. Mas agora eu só quero deitar com você e dormir um pouco. Antes que Mahina proclame os direitos sobre meus seios de novo.
—Claro, eu iria adorar. Vou tomar um banho rápido e te encontro na cama, pode ser?
—Sim. Não demore.
Lana a manteve ali um minuto a mais, abraçando-a com maior afeição, sentindo seu corpo relaxar diante do contato. Iori sorriu quando se afastou, beijando seus lábios antes de sair do closet e ir ao banheiro.
No dia seguinte elas ainda estavam exaustas devido à dificuldade de Mahina de dormir, mas sabiam que seria assim no começo. Iori buscou ajudar no café da manhã e no almoço, se fazendo presente para trocar a fralda e durante a amamentação. Laura chegou à noite depois do jantar, quando Lana terminava de amamentar. Sorriu com a cena, observando Iori perto dela na cadeira de balanço, no quarto de Mahina.
—Boa noite. — Falou baixo, buscando não incomodar. — Como está essa criatura faminta?
—Esfomeada a toda hora. — Lana respondeu com humor. — Venha aqui.
Laura se aproximou mais, ficando atrás da poltrona, inclinando-se para beijar a cabeça de Lana antes de mirar a filha, sorrindo ao ver o tom verde claro dos olhos dela, encarando-a de volta por um momento.
—Meu pai tinha olhos verdes. — Lana relembrou, afastando Mahina do seu seio quando ela parou de mamar. — Ela abriu hoje de manhã, estava amamentando e Iori colocou uma das músicas que tinha enviado durante a gravidez. No fim ela abriu os olhos. Foi tão lindo, Laura.
—Ela é tão linda. Posso ficar com ela até que o leite desça por completo?
—Claro. Ela demora um pouco.
—Sem problema. Você já trocou a fralda?
—Sim. É arrotar e dormir agora.
—Tudo bem.
Lana se levantou e entregou Mahina com cuidado, assistindo Laura posicioná-la no ombro, acariciando as costas dela.
—Assim, querida. — Lana segurou sua mão e mostrou os leves tapas que deveria executar. — Sem força.
—Ela é tão pequena.
—Mas tem uma capacidade de fazer sujeira. Você vai conhecer a fralda dela.
—Definitivamente.
—Eu vou deixar vocês conversarem. — Iori falou, beijando o ombro de Lana. — Qualquer coisa estou lá embaixo.
—Claro. — Lana se virou e selou seus lábios. — Descanse.
—Você já comeu Laura? Sobrou jantar.
—Sim, estou bem. Obrigada.
—Nada para beber?
—Não, Iori. Relaxa.
Iori moveu a cabeça para concordar, saindo do quarto e as deixando a sós, ainda que temesse onde aquilo poderia levar, tinha que confiar nos sentimentos de Lana e no bom senso de Laura.
—Você está bem? — Lana perguntou. — Onde passou a noite?
—Na casa de Cláudia, não se preocupe, tem um pequeno quarto reservado para todas as vezes que briguei com Iori e sai de casa.
—Foram muitas?
—No começo? Sim. Depois fomos nos acostumando.
—E vai se acostumar agora?
—Não, Lana. Desculpa. Não tem mais volta. Eu só vim aqui hoje para ver nossa filha e conversar com você.
Lana suspirou, mas não buscou insistir. Laura continuou se movendo para fazer Mahina soltar a lufada, demorou algum tempo, mas logo sentiu seu corpo contrair e sua camisa molhar em seguida.
—Oh, esqueci de colocar o pano. — Lana buscou pelo lenço umedecido e limpou o leite nas costas de Laura. — Já tenho duas camisas no cesto de roupas por causa disso.
—Agora tem mais uma. — Laura sorriu, mudando a filha de posição e a deitando nos seus braços, pegando um pano e limpando a boca dela. — Você gosta de sujar a mamãe, não gosta? — Ela sorriu para a filha, acariciando sua bochecha. — Está marcando território na mamãe, não está?
—É uma bela marca. Para você sair por aí e todos saberem que você tem um bebê.
—Todos já sabem. Minha filha é a criança mais linda e iluminada, que só está espalhando o brilho para todos os lados.
—E esse brilho precisa dormir agora.
—Deixa eu fazer isso.
—Tem certeza? Ainda não sabemos a melhor forma dela dormir logo, e ela está bem sensível ainda.
—Sim, tudo bem. Diminui a luz e eu tento minha mágica.
—Está bem. Quer ficar sozinha com ela?
—Se não se importar.
—Claro que não. Fique à vontade. Me chame se precisar de algo.
Lana diminuiu a luz do cômodo antes de sair do quarto, fechando a porta atrás de si, respirando fundo. Foi para o próprio quarto, caminhando até a varanda, buscando o conforto da brisa do outono, soprando as folhas do parque vazio. Tentou nutrir as esperanças de que tudo voltaria a ficar bem, de que continuaria a manter as duas mulheres juntas a si e a sua filha debaixo do mesmo teto. Sabia que era insanidade sua tentar manter a luz acesa no meio de um blackout sem gerador reserva.
Lembrou de passar vários anoiteceres naquela varanda com Iori até Laura chegar do trabalho e as fazer companhia antes do jantar. Perdeu as contas dos momentos que passaram naquele quarto, incapaz de acreditar que as brigas tinham sido a última coisa que as paredes presenciaram. Nunca imaginou que seria dessa forma. Se perguntou se seria capaz de manter a relação com uma delas enquanto ambas continuariam sendo mães de sua filha.
—Está frio aqui fora. — Laura comentou, colocando um casaco sobre os ombros dela, movendo as mãos pelos braços dela. — Mas a lua está linda hoje.
—Você tem razão. Está realmente frio. — Ela virou o rosto para a olhar, apoiada no parapeito. — Mas achei que seria mais fácil lidar com o frio do que com o que você veio fazer aqui.
—Iori te falou algo?
—Eu não sou tão idiota. Eu mandei vocês duas embora do hospital e só você foi? Então você passa a noite e o dia fora? — Ela suspirou e voltou a olhar o parque. — Vocês estão mesmo decididas a se separarem dessa vez para aceitar se separarem de mim também.
—Essa é a pior parte. — Laura a envolveu pelas costas, apoiando o queixo na sua cabeça. — Eu não te amo menos por isso.
—Por que você escolheu ir, Laura? Por que não dar um tempo e tentar de novo?
—Não mudaria quem somos e o que fizemos. Minha relação com Iori se desgastou. Ela mudou para alguém que eu não quero mais estar ao lado.
—Do que está falando, Laura? — Ela se virou para a olhar nos olhos. — Ela está mais aberta e segura. Não era o que queríamos desde o começo?
—E mais alinhada com os negócios da família dela. Mais próxima dos ideais da família dela.
—E você não? Qual é Laura. Você sempre seguiu os costumes da sua família e os defende como uma leoa mesmo quando estão errados.
—Você pode ter razão. Mas minha família não tenta me controlar indiretamente. Oferecendo cargos ou ações de negócios que você nem sabe se são realmente lícitos Lana.
—Iori nunca se envolveria em negócios ilícitos Laura. Ela é a mais responsável de nós duas. Ela nunca arriscaria ser presa por causa de coisas assim.
—Espero que tenha razão. Eu só a invejo por ter alguém tão capaz de a defender tão cegamente.
—Não seja cretina a essa altura. Eu conheço Iori. Você só está tentando ser uma idiota para tornar isso mais fácil.
—Não está funcionando?
—Não me faça odiar você quando já te amo tanto, Laura. Principalmente agora.
—Isso nunca vai ser fácil Lana. Não para nós. — Ela suspirou, segurando seu rosto. — Era o certo a fazer, sermos nós a nos afastar. Eu não fui o que normalmente sou durante sua gravidez, isso nos afastou, e eu não quero correr o risco de continuar aqui e te fazer me odiar também.
—Então está sendo uma covarde.
—Se é como quer colocar, tudo bem. Eu sou uma covarde por querer que você me ame por todos os momentos lindos que passamos juntas, e não me odeie pelos meus momentos de fraqueza.
—Eu não te odeio por isso Laura. Todas aqui erramos.
—Sim, erramos. Mas entre você e Iori sempre foi diferente. Não importa o que uma faça que magoe a outra, vocês sempre acham uma forma de superarem e se tornarem mais íntimas. Mas você e eu nunca conseguimos isso. Nunca consegui ser tão íntima a ponto de te contar tudo, não é?
—Foi porque eu estava próxima a Iori?
—Acho que desde que Iori colocou os olhos e as mãos em você eu sabia que não poderia competir com a relação que desenvolveram tão fácil. Ela foi a que te mandou para longe, mas você a manteve ainda mais perto. Mesmo durante essa última viagem.
—Ela me mandou para longe, mas foi ela quem me trouxe de volta. Sabe o que ela me pediu? — Ela suspirou, Laura somente negou com a cabeça. — Ela pediu para que eu te fizesse sorrir de novo, Laura. E ela passou todo esse tempo achando que eu fosse me agarrar a você como todas as mulheres e a deixar de lado. Mas eu busquei a melhor maneira de manter as coisas equilibradas entre nós três.
—Difícil fazer isso com uma balança desalinhada. Acho que toda a minha história com Iori não permitiria que essa balança fosse justa com você, Lana. Sinto muito por isso.
—E eu sinto muito por não ter conseguido te dar o necessário para confiar em mim por inteiro. Gostaria que tivéssemos mais tempo.
—Mas o tempo não para só porque queremos, não é mesmo?
—Não. Não para. — Ela se afastou, voltando a entrar no quarto, deixando o casaco sobre a calçadeira, sentando ao lado. — O que você quer fazer sobre Mahina?
—Registrar ela para começar. Nada disso me fez desistir de ser mãe. — Laura caminhou até o closet, alcançando uma mala. — E eu assumirei as responsabilidades. Só vou precisar de um tempo para achar um lugar para morar, por enquanto vou ficar na casa de Cláudia. Não é tão longe daqui, então estarei sempre à disposição.
—Você só virá visitar como hoje?
—Não. Eu quero cuidar dela também. — Laura a olhou de dentro do closet. — Você já começou a colocar o leite nas mamadeiras?
—Não. Não ainda.
—Faça isso quando puder. Então eu posso ficar com ela no final de semana, se estiver tudo bem para você.
—Levar Mahina? Você nem tem um lugar fixo ainda, Laura.
—Mas tenho um quarto. Eu só preciso achar o berço. E Cláudia pode me ajudar se precisar. — Ela se voltou a tarefa de colocar as próprias roupas na mala. — As roupas e as fraldas são mais fáceis.
—Eu acho que é cedo demais para levar Mahina de casa. Ela é pequena e acabou de nascer.
—Nada vai acontecer a ela, Lana.
—Você não pode garantir isso.
—Você só tem que... — Ela pausou, percebendo o problema real. — Confiar em mim. — Sussurrou, respirando fundo. — Lana... Ela é minha filha também. Eu quero passar tempo com ela. Cuidar dela. Eu não posso fazer isso aqui nessa casa. — Ela inclinou a cabeça para a olhar, buscando as melhores palavras e tentando se manter calma. — Cláudia também tem duas crianças lembra? Ela me ajudará.
—Sua mãe estará lá?
—Talvez. Por que?
—Ela vai olhar Mahina como neta também ou ela vai ser um incômodo como eu? Ela não vai ter mais o incômodo de me aturar, mas eu não vou deixá-la tratar Mahina da mesma forma.
—Cariño, me escuta. — Laura deixou a mala no chão e se aproximou de Lana, ajoelhando aos seus pés. — Eu sinto muito sobre minha mãe. Eu tentei de tudo para que ela te respeitasse e te tratasse como minha mulher. Eu considerei afastá-la de você e da gravidez.
—Você não suportaria ficar longe de sua família, Laura. Não é nenhuma novidade.
—Eu posso impedir que ela se aproxime de Mahina se é o que você quer.
—De que adianta isso agora? Ela não está na minha barriga agora. Agora sua mãe só vai aumentar o repertório dela e dizer que a barriga de aluguel roubou sua mulher e sua casa.
—Eu nunca concordei com minha mãe e você sabe disso.
—Mas você preferiu se manter perto dela apesar de tudo que ela me disse, Laura. E está tudo bem. É sua família e eu não tenho direitos sobre isso. Mas eu não quero isso para minha filha.
—Eu não deixarei nada acontecer com Mahina. Se minha mãe ou qualquer pessoa tentar dizer algo ou a tratar diferente é claro que eu afastarei de Mahina.
—Espero que sim, Laura, porque eu não te perdoaria se escondesse isso de mim.
—Eu sei que não me redimi por metade das coisas que te fez não acreditar em minhas palavras. Mas me dê uma chance Lana. Me dê uma chance de ficar com Mahina. Um final de semana. Qualquer comentário maldoso de qualquer um de minha família eu te deixarei saber. Afastarei no mesmo momento. Mas você precisa acreditar em mim.
—Você sabe que não posso concordar com nada até falar com Iori também.
—Mas você ao menos pensa em aceitar?
—Você tem o direito de ficar com Mahina. Eu não votarei contra isso. Eu só não acho que seja o caso de ser nesse final de semana. Temos que registrar primeiro, assinar a papelada que nos reconhece como mães.
—Tudo bem. Não precisa ser essa semana.
—Mas você pode vir quando quiser aqui. Você está de licença, não é?
—Sim. Virei de noite, antes do jantar, assim você descansa.
—Tudo bem.
—Eu vou terminar de guardar algumas roupas. Depois levo as outras coisas. Há algo que você queira?
—Nada que você possa me dar agora. — Ela suspirou, afastando-se. — Vou te deixar a vontade.
—Lana... Você não precisa ir. — Ela se levantou, olhando-a na porta.
—Diga. — Lana pediu ao segurar a maçaneta, apoiando a cabeça na porta. — Diga que acabou.
—Eu não queria magoar você Lana.
—Apenas diga, Laura. Eu preciso ouvir.
—Eu queria que você me escolhesse Lana. — Ela baixou o olhar para o chão. — Queria estar no lugar de Iori agora e te acolher nos meus braços. Amar você em nossa cama.
—Então por que não fica? — Ela se virou, encarando-a com olhos úmidos.
—Porque nunca daria certo. Nunca funcionaria entre nós duas.
—Como você sabe disso? Você só está com medo de tentar. Está com medo de deixar seu orgulho cair no chão e de resolver as coisas com Iori ou comigo.
—Talvez. Mas no fundo você sabe que tenho razão. Nós duas temos uma tempestade dentro de nós Lana. Viveríamos brigando. Você nunca conseguiria me atingir e eu te atingiria demais. Chegaria ao ponto em que cheguei com Iori e seria pior.
—O que aconteceu naquele quarto, Laura?
—Se sua mulher não te contou, não serei eu a contar.
—Não comece com isso.
—Não vou começar nada Lana. É melhor acabar antes que você me odeie. É melhor acabar antes que eu só seja algo ruim para você.
—Você nunca foi algo ruim, Laura.
—Não? Lana, não seja ingênua. Eu não queria outra pessoa quando Iori colocou os olhos em você. Eu queria um filho. Mas ela nunca estava pronta para termos uma criança. Até que ela se interessou por você eu entendi que não era mais o suficiente para ela.
—Do que está falando?
—Eu não queria você perto, Lana. Queria que você desistisse de nós, que fosse só curiosidade sua. Mas você é tão insistente. Eu me deixei envolver por você. Achei que se Iori me visse apaixonada por você faria ela desistir. E deu certo... por um tempo.
—Você não está falando sério. — Lana estreitou os olhos. — Você nunca me usaria de forma tão suja Laura.
—Claro que não. Você era tão insistente que quando percebi tinha me apaixonado por você, Lana. Eu não queria, mas aconteceu. Quando Iori te afastou achei que fosse melhor assim, que ela voltaria a pensar em termos um filho, mas eu só sabia pensar em você. — Ela passou as mãos pelos cabelos de maneira nervosa. — Quando voltamos eu sabia que não tinha mais volta. Iori nunca mais iria tirar as mãos e os olhos de você, e com o tempo eu sabia que ela largaria mão de mim.
—Ela ama você. Mesmo agora. Ela ama você e você poderia recuperar a relação de vocês.
—Eu paguei o preço por ter querido você longe, Lana. — Ela ignorou suas palavras. — Eu nunca consegui te sentir perto o suficiente porque você sempre esteve mais perto de Iori.
—Você nunca tentou ficar perto de mim, Laura. Não importa o que eu fizesse. Nem trans*ndo nos lugares inusitados te fazia ficar perto. Você nunca me confiou seus sentimentos ou seus pensamentos. Agora entendo o porquê. Você nunca realmente me quis aqui.
—Eu quis, Lana. Eu só não soube te ter. Agora é tarde demais.
—É uma pena você só se abrir comigo para me afastar mais ainda. — Lana balançou a cabeça e tirou a aliança de namoro do dedo, jogando para ela. — Acabou Laura. Espero que ache alguém que realmente queira do seu lado, e não que seja um fardo como eu fui.
—Eu não disse isso.
—Não me admira que sua mãe nunca me aceitou. Nem mesmo você foi capaz disso, por que ela seria?
—Lana, para com isso. Você não entendeu.
—Vá embora de uma vez, Laura. Eu já ouvi o suficiente por uma noite.
Laura a viu sair do quarto, incapaz de ir atrás e insistir no assunto. Voltou a tarefa de organizar suas roupas na mala, coletando seus objetos pelo quarto e no banheiro, buscando o que mais precisava diariamente e deixando o resto para trás. Desceu com uma mala e uma bolsa, obtendo a ajuda de Iori para levar até a entrada da casa, onde o táxi esperava.
—Então você está indo mesmo. — Iori comentou, o motorista colocava a mala no bagageiro. — Já tem um lugar?
—Estou ficando na casa de Cláudia até achar um lugar. — Laura cruzou os braços, olhando para a casa. — Não acharei um lugar como esse, mas Mahina terá o quarto dela.
—Me avise se precisar de ajuda nisso. Não quero a mãe de minha filha sem teto.
—Não se preocupe comigo. Não devo demorar para achar um lugar. Mas você pode conversar com Lana sobre me deixar ficar com Mahina no próximo final de semana? Eu só preciso comprar o berço e o resto eu consigo mais fácil.
—Na casa de Cláudia?
—É só um final de semana. E todos querem vê-la.
—O que Lana acha disso?
—Ela não é contra. Mas acha que é cedo demais para tirar Mahina de casa.
—Você devia se preocupar em ter sua própria casa antes de levar Mahina para a sua família. Não é como se sua mãe e seu irmão estivessem merecendo conhecer nossa filha.
—Mas ainda são minha família.
—Antes disso temos coisas para acertar. — Iori pressionou os dedos na cintura. — Lana terá a guarda integral de Mahina.
—Mas você casará com ela.
—Sim. Mas ela terá a guarda. Amanhã vou falar com meu advogado. Organizarei nossa separação e então comprarei sua parte da casa.
—Tudo bem.
—Você vai querer alguma coisa da nossa antiga casa? Está quase vazia. Pensei em alugar. Não faz sentido manter aquele lugar sem vender ou sem alugar.
—Eu posso comprar sua parte com o dinheiro que ganhar dessa. — Ela indicou a casa atrás de Iori.
—Pode. Mas vai conseguir manter ela sozinha?
—Eu não falei nada para vocês, mas eu me demiti do hospital. Vou cumprir aviso prévio, mas já aceitei a proposta de outro hospital maior. Vou ganhar mais.
—Você se demitiu? Achei que fosse ser enterrada lá. — Falou com humor irônico.
—Não. Era hora de mudar. E eles não queriam me oferecer um aumento justo. Eu sei que sou a que contribui menos com a poupança de Mahina, mas com esse trabalho novo isso pode mudar.
—Sim, estou feliz que tenha chegado a essa conclusão. Aquele hospital só te explorava.
—Você tem razão. Mas então, a casa é minha?
—Sim, se fizer questão. Mas seria mais útil se você vendesse e comprasse um apartamento. Aquele lugar é grande demais para morar sozinha.
—É o que farei, gênio. Você sabe que não precisa mais se preocupar comigo. Nessa altura achei que faria tudo para me afastar de vocês e de Mahina.
—De nós você vai se afastar de qualquer jeito. De Mahina a escolha é sua.
—Ela é minha filha também. Pode ter o DNA de sua família e de Lana, mas ela é minha filha também.
—É o que você quer?
—Claro que sim.
—Então arranje um lugar para morar que seja decente e se mostre responsável. Eu não vou deixar Mahina sair daqui num táxi para ir no caos que é a casa de Cláudia.
—Você vai me proibir de ficar com Mahina agora?
—Você pode ficar com ela aqui o tempo que quiser, basta ligar antes. Quando você me mostrar que ela tem um lugar para ela que seja seguro, então tudo bem, você pode levá-la.
—Você não decide isso sozinha.
—Tenho que dizer a Lana quantas vezes Cláudia deixou o bebê cair no chão desde que nasceu? Porque é fácil convencer a deixar sua mãe bem longe de Mahina.
—Que jogo sujo, Iori. É assim que vai ser agora? Só sua família é perfeita o bastante para ficar perto de Mahina?
—Ao menos minha família respeita Lana. Mas eu não vou discutir isso. — Ela estreitou os olhos para ela, mais séria. — Podemos criar Mahina como três mães. O registro vai conter nossos nomes como combinamos.
—Lana concordou em colocar o nome dela?
—Sim. O nome por parte de pai. É o certo a se fazer. Depois que casarmos ela assumirá meu nome.
—Tudo bem. Quanto antes resolvermos a papelada, melhor.
—Farei tudo essa semana. Então espere meu advogado em breve. Eu faria isso pessoalmente, mas não quero deixar Lana sozinha em casa.
—Tudo bem, você está certa quanto a isso. Você já arranjou outro celular?
—Não que eu daria na sua mão outra vez. Mas não. Ainda não. Estive usando o de Lana.
—Ela aceita até demais seus negócios.
—Ela confia em mim. É diferente.
—Ainda dói? — Perguntou mais baixo, olhando em direção ao seu abdômen, estendendo a mão para erguer a camisa, mas Iori afastou sua mão de maneira abrupta.
—Não me toque de novo Laura.
—Desculpa. Eu nunca deveria ter perdido a cabeça. Mesmo que você tenha pedido por isso.
—Eu te dei um tapa, te xinguei e quis te humilhar. Mas eu não quebrei nada seu.
—Eu quebrei sua costela?
—Eu não estaria andando normalmente se tivesse. Mas você bem que tentou.
—Não... Não foi essa a intenção. Eu só queria que seu celular parasse de tocar.
—Bem... parou. E nós perdemos o nascimento de Mahina no processo. Eu fiquei com um roxo enorme na barriga como consequência. Mas pelo menos não foi em Lana.
—Eu nunca-
—Não comece com isso. Você já fez. Fizemos o pior. Agora chega. Eu não vou mais aturar sua violência Laura. E se eu souber que levantou um dedo para Mahina, ou qualquer um de sua família o fez, você diga adeus a nossa filha.
—Eu sinto muito, Iori. Eu não queria te machucar desse jeito.
—É melhor você ir embora.
—Você vai contar a Lana?
—Ela vai acabar vendo, não acha? — Ela levantou a camisa, mostrando o grande roxo em sua pele. — E já dói o suficiente quando estou com Mahina no colo.
—Tudo bem. Ela já está com raiva de mim o suficiente mesmo.
—Você consegue isso quando quer. Boa noite, Laura. Eu tenho uma mulher e uma criança me esperando.
Iori não esperou por uma resposta, seguiu para dentro de casa e fechou a porta, buscando se acalmar. Ouviu o choro de Mahina no andar de cima, fechando os olhos por alguns segundos antes de subir as escadas e seguir para o quarto dela.
—Ela acordou de repente. — Lana avisou assim que ela entrou, com Mahina no colo. — Eu acabei cochilando aqui.
—Você olhou a fralda?
—Sim. Ela só deve ter se assustado com algo.
—Tudo bem. Eu vou ligar a música. Está com seu celular?
—Sim. No bolso.
Iori pegou o celular dela e digitou a senha, acessando a playlist que tinha feito com músicas instrumentais oriental, conectou o fone de ouvido adaptado para criança, buscando a melhor posição para colocar em Mahina. Lana acariciou as costas da filha, tentando acalmá-la, ainda que ela continuasse agitada por mais alguns minutos, a música a fez cessar o choro.
—Bom trabalho. — Iori sussurrou.
—Para nós duas. — Lana sorriu em sua direção.
—Deixa que eu a coloco no berço. Vá tomar um banho quente e eu já te alcanço.
—Por que não tomamos um banho na banheira? Eu coloco o perfume que você gosta. Faço massagem em suas costas.
—Oh. Está tentando me conquistar?
—Está dando certo?
—Sim, claro que está. Achei que fosse querer esperar mais.
—Eu quero tocar minha mulher.
—Está bem. Eu vou encher a banheira. Não demore aqui.
—Estarei logo atrás de você.
Iori sorriu e selou seus lábios, beijando as costas de Mahina antes de sair do quarto. Tirou as roupas no quarto e vestiu o robe, caminhando descalça para o banheiro, onde ligou as torneiras da nova banheira, deixando que enchesse enquanto colocava os sais de banho e a espuma. Lana não demorou para a seguir, encontrando-a já na banheira quando entrou, mas não se incomodou em entrar junto, posicionando-se nas suas costas.
—Oh, está tão bom. — Sorriu contente, relaxando enquanto Iori se recostava nela.
—Bem melhor agora. — Iori inclinou a cabeça, beijando seu maxilar.
—Sua massagem como prometido, senhorita Sasaki. — Lana beijou sua nuca antes de pressionar os dedos nos seus ombros, buscando aliviar a tensão em seus nervos. — Você está tão tensa. Mahina tem te estressado, amor?
—Nada além do esperado. Acho que estamos passando por muito além do que tínhamos planejado.
—A separação?
—Sim. Mas amanhã darei início a papelada. É melhor resolver tudo e ficarmos em paz, não é mesmo? — Ela fechou os olhos, franzindo o cenho quando Lana aliviou um nó em seu ombro.
—Obrigada por cuidar da parte burocrática.
—Meu advogado vai cuidar disso. Não se preocupe. Só teremos que assinar nossos nomes e tudo estará resolvido. A separação, o registro de Mahina, a guarda.
—Nosso casamento.
—Hm? — Ela deslizou as mãos pelas suas coxas, acariciando. — Não quer esperar mais um pouco?
—Esperar pelo que? Você quer uma festa?
—Não. Mas eu quero o bolo e os doces.
—Nós encomendamos. Chamamos sua família. Eu convido Alex. Então assinamos os papéis.
—Por que a pressa? Laura te falou alguma coisa?
—Laura desistiu de nós. Não vejo porque esperar. Eu quero ser sua esposa, meu amor. Se ela não quer, eu quero. Nossa filha está aqui. Podemos viajar em lua de mel.
—Tudo bem, amor. Mas vamos deixar a viagem para o próximo ano, está bem? Quero aproveitar esses momentos com Mahina primeiro.
—Então não vamos levá-la?
—Minha mãe pode ficar uma semana com ela. Eu quero estar a sós contigo, fazendo coisas que nossa filha não precisa presenciar.
—Oh. Está planejando fazer coisas com a mãe de sua filha, Sasaki? — Lana riu baixinho, beijando seu ombro de um lado enquanto massageava o outro.
—Não. Quero fazer amor com minha esposa. Hm... amor, suas mãos são tão boas. Eu diria para mudar de profissão, mas eu não quero mais ninguém tendo esse privilégio.
—Não se preocupe, é tudo para você. — Ela mordiscou sua pele, sentindo-a relaxar com o contato. — Mais calma?
—Sim, obrigada. Eu me sinto bem melhor.
—Devo continuar em outro lugar?
—Sim. — Ela sorriu, segurando uma de suas mãos e a guiando até seu seio, recostando no seu ombro, fechando os olhos quando ela começou a massagear enquanto beijava seu pescoço. — Oh... isso. Devagar. — Ela aproveitou os toques, colocando a outra mão dela entre suas pernas, pressionando seus dedos no seu clit*ris enquanto abria mais as pernas. — Não pare. Continue devagar.
—Do jeito que quiser, meu amor.
Iori se deixou relaxar diante das carícias de Lana, entregando-se ao prazer que ela sabia lhe oferecer tão bem. Logo estavam limpando uma à outra, aproveitando o momento que estavam tendo sem preocupações.
—Vem amor. A água está esfriando. — Lana a esperava ao lado da banheira, segurando seu robe aberto.
—Lana, preciso te contar algo.
—Qualquer coisa. Mas vem aqui.
—Está bem. Mas não enlouqueça até me ouvir. — Ela respirou fundo antes de se levantar, limpando a espuma do corpo com a toalha antes de aceitar a ajuda de vestir o robe e sair da banheira.
—Iori... Como isso aconteceu? Eu te machuquei?
—Não. Você não. Nunca. — Ela sorriu, segurando seu rosto para que a atenção voltasse a si.
—É um machucado grande. Você caiu? Está doente? Temos que ir ao médico.
—É só um machucado, amor. Dói, mas não é doença. Vai passar em uma semana ou duas.
—Quando isso aconteceu? Você estava bem antes de Mahina nascer. Nesses dias... — Ela estreitou os olhos, balançando a cabeça com a ideia que teve, incapaz de acreditar. — Ela fez isso com você?
—Se acalme. — Iori acariciou seu rosto. — Você precisa ficar calma sim?
—Laura bateu em você naquele hotel, Iori?
—Não. Nós discutimos, como você sabe.
—Isso não é desculpa.
—Eu sei que não. Dissemos as piores coisas. Eu acabei perdendo a cabeça e dando um tapa nela, depois ela se irritou com as ligações que não paravam no meu celular e... — Ela baixou o olhar com a recordação. — Ela jogou na minha direção, eu não tive tempo de desviar.
—Aquela inconsequente machucou você. Como ela pode fazer isso? Como ela veio aqui de cara lavada como se nada tivesse acontecido?
—Ela não fez de propósito Lana. Ela parou no mesmo momento, ela me ajudou.
—Não importa se ela ajudou. Ela não devia jogar nada na sua direção. Nada. Isso não tem justificativa. — Ela moveu os dedos com cuidado sobre a pele acidentada. — Você podia ter se cortado. Temos que ir ao médico e ver se não fraturou ou machucou algo aí dentro.
—Amor, se eu for ao médico, quanto tempo você acha que leva para minha mãe saber e ir atrás de Laura?
—Eu não me importo. Ela te machucou, ela passou dos limites. Eu nunca vou deixá-la chegar perto de você outra vez. Você devia ter me contato isso antes.
—Está tudo bem, amor. Eu vou ficar bem. Você não precisa fazer nada. Ela aprendeu a lição. Está fora de casa, longe de nós. Não vamos chegar ao extremo. Eu não quero, está bem?
—Pare de proteger o que ela fez, Iori. Ela está errada.
—Eu sei que sim.
—Então por que não quer fazer nada?
—Eu já fiz o que tinha que fazer. Eu não quero envolver polícia nem minha mãe. Sabe que vai ser pior. Eu também a odeio pelo que se deixou fazer, mas colocar mais lenha nessa fogueira vai nos deixar queimadas, e eu não quero mais ninguém sabendo disso.
—Por que?
—Porque é frustrante que eu não tenha visto isso acontecendo se eu a machucasse nos lugares certos.
—Não é sua culpa, Iori. Acredite em mim, eu sei o que é dizer as piores coisas e machucar com isso, mas nada justifica ela te machucar, mesmo que não tenha sido de propósito, ela não deveria perder a cabeça e descontar em você dessa forma.
—Eu sei que você tem razão, mas eu não quero envolver mais ninguém nisso. Por favor Lana. Confie em mim. Eu já lidei com isso, só falta a papelada.
—Você lidou com isso do seu jeito, eu vou lidar da minha forma.
—Não faça nada Lana. Estou pedindo a você. — Ela se aproximou mais, selando seus lábios. — Eu estou bem. Isso logo vai sumir.
—Eu não vou esquecer. Não vou deixar que ela saia dessa achando que está tudo bem, porque não está.
—Lana... O que vai fazer?
—Você disse que prefere que a guarda de Mahina fique comigo.
—Sim. Depois de tudo que passou por causa de Daphne, além de você ter carregado nossa filha na barriga, é mais do que justo.
—Então eu não quero Laura sozinha com Mahina ou contigo. Posso não envolver mais ninguém, mas ela não vai ter a chance de fazer isso de novo. Eu sempre soube que ela ter se envolvido em brigas no passado e matado alguém não era um bom sinal. Mesmo Madson disse isso. Mas ela sempre foi gentil e doce, eu nunca imaginaria que seria capaz de machucar qualquer uma de nós.
—Foi um acidente. Eu sei que você tem razão, que ela errou, mas nós duas sabemos que eu também errei. Não é porque não a deixei marcada que sou menos culpada. Eu bati no rosto dela, Lana, e me arrependi de cada momento disso. Por isso não te disse nada antes, eu estava com medo que você somente culpasse Laura e estava envergonhada com tudo o que aconteceu naquele quarto.
—Não faça mais nada parecido, Sasaki. Você nunca demonstrou qualquer traço violento como Laura.
—Eu sei. Desculpa. Eu não farei nada que machuque você ou Mahina. Eu aprendi minha lição, garanto que aprendi, e sei que Laura está arrependida também. Sei que a marca está horrível, mas o que eu disse a ela também não foi nada sutil.
—O que disse a ela para ela sequer considerar lançar algo na sua direção sabendo que podia te machucar?
—Várias coisas. Ela tentou me atingir da mesma forma, dizendo que eu estava igualzinha à minha mãe por estar apontando todos os erros dela. Isso me irritou tanto, Lana. — Ela desviou o olhar, frustrada. — Ela sabe que eu odeio que me comparem a minha mãe, mas estávamos usando todos os argumentos que sabíamos que iria machucar mais. Então eu disse que ela era um lixo e que não devia espalhar a cultura dela para o nosso filho.
—Oh... — Ela torceu o nariz, incomodada com a informação. — Você acertou o ponto que mais dói. Você sabe o quanto ela sofreu e sofre preconceito por ser mexicana, amor. Nós sempre respeitamos os costumes dela, até fomos ao México. Eu achei que você gostasse da origem dela.
—E eu gosto. — Buscou se defender, olhando-a. — Eu sempre tive orgulho de Laura por não se envergonhar da origem dela assim como não me envergonho da minha, ainda que tenhamos tratamentos diferentes por sermos de outros países, eu sei que mexicanos sofrem mais preconceitos. E eu me envergonho por ter usado isso contra ela.
—Espero que sim, espero que realmente se arrependa, porque nada justifica atacar a cultura dela, e eu não te perdoaria se fizesse isso uma segunda vez. — Ela segurou seu rosto e acariciou. — Eu entendo que isso fez Laura reagir da pior forma, mas eu ainda acho que ela não devia ter machucado você dessa forma. Eu sei que ela tem rompantes de raiva e entendo que você atingiu o limite dela, mas eu não acho certo o que ela fez. Eu ainda vou manter restrições sobre as visitações a Mahina até que ela prove que tem tudo sob controle. E acho bom você levar mais a sério o que você diz de cabeça quente. Eu não vou impedir Laura de ensinar os costumes dela a nossa filha, então espero que você se desculpe verdadeiramente com Laura.
—Eu farei isso, claro que farei isso. Só deixe esse período de separação passar, ainda me sinto magoada com tudo o que foi dito, e sei que ela também.
—Eu confio em você Sasaki. — Ela suspirou, inclinando-se para selar seus lábios. — Fique aqui, eu tenho uma pomada que ajuda a clarear mais rápido os roxos. Herança da profissão.
Iori sorriu mais aliviada quando Lana passou a pomada em sua barriga e beijou sobre o machucado, optando por agradecer aos cuidados ao simplesmente beijá-la.
—Posso tocar minha mulher hoje também?
—Eu acho melhor somente descansarmos enquanto Mahina não acorda. Aconteceu muita coisa essa noite, e eu não sei se consigo avançar nesse sentido. Está tudo sensível lá.
—Tudo bem, eu vou esperar. Desculpa te magoar com essa separação e com as coisas que disse a Laura. Espero que com o tempo você possa me perdoar.
—Sim, com o tempo. — Ela suspirou e segurou sua mão. — E eu quero passar todo esse tempo ao seu lado e ao lado de nossa filha.
Fim do capítulo
Bah, sei que foi um fim traumático, não me odeiem D: ainda tem mais o que vir para o vosso trisal ;)
Comentar este capítulo:
Lea
Em: 05/08/2021
Laura deveria estar presa!
Querida autora o pq trasnformar a Laura em um monstro???
Como eu gosto da Laura,neste momento estou lendo a estória no automático. Estou triste com tudo isso,mais ainda por a Laura ter sido violenta com a Iori. Com a separação estou lidando bem!!!
Resposta do autor:
Calme, colega, pra que tanta violência?
Em momento nenhum coloquei a Laura no papel de monstro :)
Leia a história com calma, para analisar.
Como disse, cada personagem tem uma desenvoltura e todas ali cometem erros. :) ninguém é monstro, só humano.
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