Os rituais preservam a honra
Veegan e eu não falamos naquela noite, e dormimos pouco tempo depois de garantir que nossos filhos estavam seguros e adormecidos. Mas não dormimos por muito tempo, meu filho me acordou pouco antes do amanhecer, chorando como se estivesse sufocado, ou talvez eu temesse que estivesse, então eu o peguei sem hesitar, tentando acalmá-lo, ainda que sem sucesso imediato. Seu choro era diferente das crianças que tinha feito o parto. Parecia dolorido e sem fôlego, como se não conseguisse chorar tudo que queria. “Ele ficou enforcado pelo cordão umbilical”, Vonü tinha me dito, então isso podia ter afetado seus pulmões.
—Ele está com fome, Seul. — Veegan reclamou de sua cama. — Use seus seios.
—Tão vulgar. — Retruco, movendo a alça da minha camisola para baixo enquanto posicionava meu filho em frente ao meu peito, colocando o bico em seus lábios. — Não seja tímido, é comida. — Eu precisei insistir mais enquanto ele continuava chorando, movendo o bico em seus lábios até que ele deve ter sentido o leite em sua boca, e começou a sugar. Primeiro ele hesitou, chorando frustrado, depois continuou, aumentou o ritmo ao ponto de incomodar, mas não reclamei, tinham me dito que incomodaria e machucaria.
—Garoto faminto. — Ela me provocou ainda deitada, mas mantive os olhos no meu filho.
—Sua filha deve fazer o tipo que não acorda por nada. — Retribuo, acariciando o topo da cabeça dele, onde alguns cabelos claros revelavam que tinham puxado os meus.
—Então eu sou sortuda. — Ela se moveu, parecendo se inclinar na cama para olhar dentro do berço. — Ela está dormindo com um sorriso no rosto.
—Bebês podem sorrir?
—Claro que sim. Eles só não têm dentes para mostrar, o que você deveria agradecer. — Não era difícil entender a implicação daquilo. — Ele já abriu os olhos?
—Não. Talvez amanhã, com sorte.
—Seu filho não vai ter olhos vermelhos, certo?
—Não. Alinü não tinha olhos vermelhos. Então ele não vai ter também. Pelo menos por enquanto.
—Então espero que tenha seus olhos.
—Você gostaria, não é mesmo?
Ela não respondeu de imediato, eu continuei amamentando o garoto, fornecendo todo o carinho e apoio que podia, sabia que era importante, por mais exausta que estivesse.
—É seu filho, você ficaria orgulhosa se ele herdasse seus traços.
—Sim, claro que sim.
O garoto bebeu o leite mais do que eu imaginava, e quando terminou Veegan me ensinou que provavelmente ele vomitaria um pouco, então ela colocou um pano no meu ombro e ajeitou o garoto na vertical.
—Você deve estar com fome. — Observou. — É melhor continuar evitando sair da cama por enquanto. Você perdeu sangue demais, e ainda tem que amamentar.
—Eu posso tentar. Mas ficarei bem. — Asseguro, recebendo sua caricia em meu rosto. — Como você está?
—Não se preocupe comigo. Teremos uma vida conturbada nos próximos anos.
—Oh, quão otimista.
—Você diz isso, mas você não conviveu com Verg tempo o suficiente.
—Você o ama.
—Claro, é meu filho.
—Mesmo que ele tenha tido um filho com a mulher de um líder do povo do mar?
—Sim, mesmo assim. — Ela suspirou, tirando os cabelos do meu rosto e os organizando para trás.
—Então você reconsideraria a punição dele?
—Por que eu faria isso?
—Pense um pouco. Você está gostando de conviver com Lino?
—É diferente.
—Veegan, olha onde estamos. Eu tive um filho de Vonü, mas estamos tentando ficar juntas, não é mesmo? Qual a diferença do que estamos fazendo para o que Verg fez? — Ela desviou o olhar, talvez orgulhosa demais para admitir meu ponto. — Eu assumiria sua filha como minha, Veegan. E sei que Verg fez a coisa certa em assumir o filho como dele. — Eu segurei sua mão e beijei seus dedos enquanto equilibrava meu filho no ombro. — Não o condene por fazer algo que nós estamos fazendo.
—Isso é sobre Lino também, não é? — Eu somente movi a cabeça para concordar, e ela respirou fundo. — Ele será meu terceiro filho. Verg continua tendo os direitos do primeiro filho.
—Mas você tirou os direitos do filho dele. Meu filho não é puro, Alinü também não, então eles também não teriam qualquer direito, incluindo Lino.
—Eu entendi onde você quer chegar. Mas não vou te dar uma resposta agora. Vamos focar no agora, e depois eu penso o que posso fazer sobre isso. Parece bom?
—Melhor que nada. Eu posso esperar.
Houve uma batida na porta, e eu escutei a voz de Vonü do outro lado, avisando que era o café da manhã, eu comemorei, mas logo ouvi o som que meu filho produziu, ele tinha vomitado um pouco de líquido, e Veegan riu. Eu o limpei, agradecendo que ela tinha colocado um pano de alerta, enquanto ela buscava pela comida do lado de fora. Eu não vi Vonü, elas sequer trocaram mais que duas palavras antes de Veegan fechar a porta outra vez, trazendo um suporte com duas bandejas repletas de comida. Meu estômago roncou só pela visão. Primeiro Veegan me ensinou a fazer uma fralda de pano antes de eu colocar meu filho no berço, trazendo uma das bandejas para a cama após negociar com Veegan qual ela queria, mas acabamos dividindo os itens.
Falamos mais durante o dia para passar o tempo, mas meu garoto chorou mais algumas vezes, irritando a filha de Veegan uma vez ou duas, a garota tinha um sono incrível e não estava dando trabalho nenhum. Eu tinha aprendido as coisas básicas do cuidado de crianças.
No segundo e terceiro dia podia ter sido mais fácil, mas pareceu se tornar mais complicado, mesmo que eu começasse a entender os sinais básicos do que meu filho queria, sua fome era terrível e ele estava sempre chorando, irritado, sem se contentar com nada do que eu fazia. Mas Veegan o acalmava, eu não sabia como ou porque, se ela tinha algum feitiço, mas ela conseguia fazer ele se acalmar. No quarto dia, as coisas se tornaram um pouco mais complicadas, porque Veegan não estava mais produzindo leite, e sua filha começou a chorar quase tanto quanto meu filho.
—Isso não deveria estar acontecendo. — Ela dizia, com raiva de si mesma, pressionando seus seios como se houvesse algo que pudesse fazer. — Eu devo ter irritado Graah para ela me punir.
—Pare de pressionar ou vai acabar se machucando. — A repreendo, mesmo que ela continuasse a fazer. Olho uma vez para meu filho, que olhava para o teto com seus olhos azuis na meia luz do quarto, então me levanto e vou para a cama de Veegan, fazendo-a me dar sua filha.
—O que pensa que está fazendo?
—Eu tenho leite e sua filha está com fome. — Digo de maneira óbvia.
—De maneira alguma. Eu não deixarei que faça isso. — Ela tentou pegar sua filha de volta, mas não permiti.
—Não estou pedindo permissão. Meu filho está alimentado, tenho certeza que tenho leite para ambos.
Eu já tinha baixado a alça da minha camisola e colocado sua filha diante do meu seio, que não pensou duas vezes antes de começar a sugar o meu bico, parando de chorar, e eu podia jurar que ela fazia a mesma expressão de Veegan quando dava ordens ao seu povo. Veegan ainda deixava claro que não concordava com aquela situação. Eu me virei e apoiei as costas em seu peito, ela ainda ficou imóvel por um tempo, mas acabou abraçando minha cintura e apoiou o queixo no meu ombro, olhando para a sua filha, que tinha os olhos castanhos curiosos em nós duas.
—Sabe que dia é hoje? — Pergunto, buscando amenizar o clima. — O festival do outono, em Marheeve. Faz um ano hoje. — Ela soltou um som de surpresa, abraçando meu corpo mais forte. — Olha onde chegamos.
—Sim, você está de volta de onde nunca deveria ter saído. — Senti seu sorriso no meu pescoço, onde ela depositou um beijo.
—Talvez. Mas estou feliz que agora temos uma chance verdadeira.
—E eu não abriria mão dessa chance por nada. — Ela suspirou e seu aperto diminuiu ao meu redor. — Vonü vai me odiar se souber que está tirando o leite do seu filho para dar a minha.
—Ninguém precisa saber. E como eu disse, olhe o tamanho dos meus seios. Tenho leite para ambos. Não é vergonha nenhuma se não tem leite, Vee. Não é culpa sua e Graah jamais te puniria dessa forma. — Respiro fundo, acariciando as costas de sua filha enquanto ela continuava a beber. — Você não fez nada errado.
—Estou roubando a esposa de minha irmã. — Falou devagar, eu acabei rindo, mesmo que soubesse que não deveria. — Você sabe que é verdade. Eu vi quando ela quis te levar do quarto na hora do parto. Ela estava morrendo de ciúmes e você sabe disso.
—Eu já conversei com ela. Não há nada que você deva se preocupar.
—E você? Algo te preocupa?
Sua filha terminou de mamar, então eu me virei para Veegan, devolvendo sua filha, cansada demais para esperar que ela digerisse o leite. Então ela o fez sem se incomodar, colocando o pano no ombro e posicionando para que pudesse balançar sutilmente seu corpo.
—Vee, por que você decidiu engravidar de novo? Foi por questão de sobrevivência, como você disse que foi para ter Verg, ou você tem sentimentos por Ehfae? — Pergunto diretamente, em tom baixo, querendo demonstrar que não estava com raiva dela, somente curiosa.
—Bem... Eu não tenho sentimentos por Ehfae além do companheirismo por sermos pais de Verg. — Ela assegurou, movendo uma mão nas costas de sua filha.
—Desculpa, eu só... não consigo entender completamente como você se entrega a ele para terem um filho se não tem sentimentos.
—Eu entendo seu ponto. — Suspirou, desviando o olhar por um momento, talvez escondendo seu constrangimento.
—Desculpa, eu não devia estar falando sobre isso. — Levanto, quase voltando para a minha cama quando escuto uma batida na porta, provavelmente era Vonü, então sigo até lá enquanto arrumo a alça da minha camisola. Quando abro a porta, eu a vejo em forma humana, acabo sorrindo por um momento, para disfarçar o clima estranho dentro do quarto. — Boa noite.
—Boa noite. — Ela indicou o suporte com as duas bandejas, apontando para a que tinha algumas flores ao redor. — Lino fez para Veegan.
—Ele é tão gentil. — Sorrio um pouco mais.
—Você precisa de algo? Consegui algumas vitaminas com meus irmãos, vai te ajudar a recuperar as forças. — Ela mostrou um frasco com liquido vermelho na outra bandeja.
—Obrigada.
—Até logo.
Ela foi embora e eu trouxe o suporte para dentro do quarto, fechando a porta e então deixando o suporte entre as camas, colocando a bandeja de Veegan na cama dela e indo para a minha. Explorei o conteúdo no frasco, aspirando o cheiro e girando dentro, observando que era mais grosso e tinha cheiro ruim. Eu comecei a comer, vez ou outra olhando para o meu filho, que ainda estava um pouco agitado, movendo os bracinhos para cima.
Eu comi em silêncio, observando o tempo passar e meu filho dormir. Veegan não tinha começado a comer quando eu coloquei minha bandeja no suporte, mas eu não digo nada sobre isso, ela iria comer eventualmente, porque não era estúpida. Eu aproveitei para dormir, sabia que teria muito pouco tempo para descansar antes que o garoto reclamasse de algo. Que temperamento. Eu me perguntava para quem ele tinha puxado isso.
Na manhã seguinte, enquanto o amamentava, percebi que ele estava mais quente que o dia anterior. Será que estava ficando doente? Ele estava agitado, como estava nos dias anteriores, e chorava da mesma forma, nem a mais nem a menos.
—Ele nasceu antes do tempo. — Veegan observou quando falei da temperatura dele. — E talvez seja mais frágil.
—Meu filho não será frágil. — Digo de maneira abrupta.
—Você ouve o choro dele da mesma forma que eu, Seul. Sabe que os pulmões dele ficaram comprometidos no parto. — Eu não respondi, sabia que ela estava certa, mas não diria isso. — Ele pode se curar enquanto cresce, se ele se tornar como você e Vonü. Ou ele pode querer outra coisa, ele não precisa ser um guerreiro.
—Ele será o melhor guerreiro.
—Seul, não crie expectativas. Ele pode se tornar um guerreiro, mas não espere que isso aconteça se ele tiver condições físicas comprometidas.
Eu não digo nada sobre o assunto, ela somente suspira, inclinando-se para acordar sua filha. Eu terminei de amamentar meu filho, ele soltou seus gases e eu o deixei no berço antes de ir para a cama de Veegan, olhando em seus olhos, esperando que me desse a criança de livre vontade dessa vez.
—Você não deveria estar fazendo isso. — Ela alertou, mas entregou a filha com cuidado. — Vonü ainda não trouxe o café da manhã.
—Vonü não entra no quarto.
—E como faremos depois disso? Temos mais dois dias aqui.
—Você fica aqui até a cerimônia.
—Eu não deveria e você sabe disso.
—Mas vai ficar porque você não quer sua filha passando fome. Duas semanas até a cerimônia no máximo.
—Mesmo que eu fique, e depois?
—Depois eu não preciso mais ficar aqui. Vou encontrar uma casa, então irei em sua casa sempre.
—Se vamos fazer isso, vamos fazer da maneira certa. — Eu ergui a sobrancelha para ela enquanto ela baixava a alça de minha camisola do outro lado, deixando ambos os meus seios à mostra, ajudando sua filha a ficar na posição certa para mamar. Quando ela começou, Veegan beijou meus lábios quando eu não estava esperando, um simples roçar, sugando meu lábio inferior antes de se afastar minimamente. — Seul, quero realizar a cerimônia com você, e quero dar minha palavra a Graah de que serei prometida a você.
—Toda sua família estará nessa cerimônia, Vee.
—Então todos saberão que eu não estou mais sozinha, e que tenho você ao meu lado. — Ela sorriu, voltando a beijar meus lábios mais uma vez, pressionando os dedos entre meus cabelos. — Você quer se unir a mim diante de Graah?
Eu a olhei nos olhos, erguendo uma mão até seu rosto, acariciando as linhas do seu maxilar firme, contornando seus lábios finos. Ela era linda mesmo com os sinais de cansaço dos dias após o parto. Talvez isso só a deixasse mais bonita, amadurecendo seus traços mais verdadeiros. Eu adorava seus olhos castanhos, seus cabelos cor de cobre que agora estavam abaixo dos seus ombros, seu corpo sempre tão firme disposto a enfrentar todas as lutas. Ela era incrível. E eu a queria.
—Eu aceito. — Digo por fim, e ela me oferece o sorriso mais aberto que eu já tinha a visto dar. — Eu quero me unir a você, Vee, e quero que todos testemunhem isso.
—Você não poderia ter me dado noticia melhor, Seul.
—Oh, será? — Rio quando ela começa a distribuir beijos pelo meu rosto. — É melhor você começar a dizer meu novo nome, para se desacostumar com esse nome.
—E você vai me dizer qual será seu nome graahkiniano?
—Se você pedir do jeito certo, eu posso dizer.
Ela riu no meu ouvido, afastando-se um pouco para me olhar de perto, apoiando a testa na minha e olhando sua filha em meus braços. Não devíamos estar fazendo isso agora, mas eu realmente não me importava em quebrar as regras se significava ficar com ela.
—Diga seu nome. — Ela falou num sussurro sem me olhar. — Diga seu nome verdadeiro.
—Seanë Volenië. — Digo por fim, e ela me olhou, movendo os lábios como se testasse o nome sem emitir som. — Força avassaladora de Sea. — Decifro o significado antes que ela pensasse demais. — Sea, a espada de Graah.
—A espada que venceu centenas de inimigos. — Ela concordou, parecendo feliz. — Como você chegou até ela?
—Petra me perguntou se Graah tinha algum companheiro fiel a ela, o mais antigo. Então eu pesquisei. Há vários relatos, boatos, então eu encontrei uma escritura antiga, que falava de Sea, o graahkiniano que Graah se apaixonou, mas deu a vida para salvá-la dos desastres da difamação. Graah então forjou a espada com sua alma, e agora eles lutam lado a lado. — Digo com um sorriso de lado, sentindo-me melancólica com a história. — As runas não deixaram claro sobre ser um homem ou uma mulher, os boatos decorrem de ambos os lados, então acrescentei o “në”, que é mais comum para distinguir as mulheres. Não achei nada que fosse mais especifico sobre como ela seria difamada.
—Meus avôs diziam que antes de Graah, os costumes não permitiam que as pessoas escolhessem parceiros sem méritos. Sea era jovem, assim como Verg, e Graah já possuía méritos demais, Sea nunca poderia estar com ela sem que ela abrisse mão das suas conquistas. — Ela explicou lentamente, deixando que sua filha apertasse o dedo que ela colocava em sua mão. — Então ele abriu mão de sua vida quando os anciões descobriram que eles eram amantes, assim ninguém diria nada que manchasse a reputação de Graah.
—Então eles nunca poderiam ficar juntos.
—Não. Depois de sua morte, Graah lutou para mudar os costumes. E ela conseguiu, porque já tinha conseguido vitórias demais para deixarem de escutar suas palavras.
—Mas já era tarde demais para Sea. — Finalizei por ela, que moveu a cabeça para concordar, retirando sua filha dos meus braços, eu sequer tinha percebido que ela já tinha acabado. — Mas eu estava pensando que de alguma forma, se eu herdar o nome de Sea, eu poderia de alguma forma realizar seu desejo.
—O que, você quer estar com Graah? — Ela sorriu com provocação, subindo lentamente a alça de minha camisola, como se quisesse aproveitar o que via.
—Eu quero estar com aquela que eu amo. — Digo num sorriso, segurando sua mão e trazendo aos meus lábios, oferecendo um beijo.
—Então eu realizarei seu desejo, Seanë Volenië.
Ela terminou de arrumar minha camisola, então beijei seus lábios mais uma vez e voltei para a minha cama, retirando a roupa de meu filho para trocar sua fralda de pano. Ele continuava muito quente, e eu descobri o motivo, ou suspeitei, quando vi o primeiro símbolo em seu ombro, as linhas escuras se tornando parte de sua pele.
—Vee, os bebês graahkinianos costumam parecer com febre quando recebem a primeira marca?
—Alguns. Seu filho já tem alguma marca? — Em resposta eu virei o bebê para que ela visse, e ela pareceu surpresa. — Nunca recebi qualquer relato de ter aparecido tão rápido. Leva meses para aparecer.
—Isso é bom? Ele ter recebido a marca tão cedo?
—Claro. Mas não sei o que isso afeta nos traços de voulcans. Alinü não possui qualquer marca, só escamas.
Talvez para aliviar meu estado de nervos, Vonü bateu na porta, e eu fui atender com nosso filho nos braços. Ela me viu primeiro, então viu o garoto e sorriu, mas estreitou os olhos quando viu a marca.
—Apareceu hoje. — Digo com preocupação.
—É um bom sinal.
—Alinü teve alguma marca?
—Isso não quer dizer nada. Não se preocupe. — Ela indicou as bandejas, com mais frutas dessa vez. — Algo doce para começar o dia, achei que fosse gostar.
—Obrigada. Foi uma ideia adorável.
Ela sorriu e se afastou, eu manejei de trazer as bandejas para dentro e fechar a porta, sentando de frente para Veegan outra vez. Eu já teria que dar a notícia a Vonü de que nosso filho tinha os pulmões fracos, agora tinha que lidar com a chance de ele não herdar qualquer poder de um voulcan como Alinü herdou. Aquilo era um verdadeiro desastre.
—Coma. — Veegan mandou, sinalizando as bandejas.
Movo a cabeça para concordar, colocando o garoto deitado ao meu lado. Comecei a comer mesmo que tivesse perdido parte da fome, mas sabia que era o mais sensato a fazer. Nos dois próximos dias não houve muito o que eu pudesse fazer, estava exausta e estressada por ficar presa naquele quarto com dois bebês chorando o dia inteiro, tendo que amamentá-los e não enlouquecer no processo. Estava irritada, com meus seios doendo e minha aparência horrível.
Eu estava contando os minutos para que o sétimo dia acabasse. As crianças estavam dormindo e eu estava um verdadeiro trapo.
—Tome um banho. — Veegan estava sentada na própria cama, parecendo meditar, ereta e com as pernas cruzadas. — Um banho demorado.
—Eu vou dormir enquanto tenho tempo.
—Faça o que estou dizendo. — Seus olhos ainda estavam fechados. — Eu não vou repetir.
—Claro, líder. — Reviro os olhos, saindo lentamente da cama. — Eu sei que não sou uma presença agradável agora.
Ela não respondeu, eu fui ao banheiro e me fechei lá, enchendo a banheira com água quente. Tirei minhas roupas e entrei, meu corpo reagindo imediatamente com a sensação quente na minha pele. Era bom, realmente bom. Talvez fosse por isso que Veegan queria que eu viesse, afinal. Eu me lavei sem pressa, movendo os dedos pelo meu corpo, relaxando, tentando não pensar em nada. Talvez nem tudo estivesse perdido, mas ainda havia uma voz no fundo da minha cabeça, lembrando dos problemas que enfrentaria amanhã.
Saí do banheiro não muito relaxada, e voltei para a minha cama com uma camisola limpa que eu não tinha usado ainda. Eu me deitei sem sequer olhar para Veegan, cansada demais para dar razão a ela.
Pouco tempo depois, eu senti seu corpo se pressionar em minhas costas, sua respiração em meu ombro. Eu fiquei parada, sem entender o que ela queria, até ela descer a mão pela minha barriga e pressionar os dedos entre minhas pernas.
—O que acha que está fazendo? — Pergunto, inclinando a cabeça e girando meu corpo para olhá-la. — Não podemos fazer isso.
—Quem disse que não? — Ela sorriu, beijando meus lábios com paixão. — Relaxe. — Ela reparou que eu ainda hesitava, beijando-me com maior suavidade. — Somos só nós aqui.
—E as crianças. — Relembro, mas não resisto em abrir sutilmente as pernas para a sua investida.
—É... mas elas estão dormindo. — Sorriu, subindo minha camisola, penetrando a mão em meu ventre e me fazendo suspirar com o contato. — E nós merecemos um pouco de diversão.
—Tem certeza?
Sorrio também, sem intenção de resistir, movendo uma das mãos em seu braço, deslizando sobre sua pele até chegar em sua mão, pressionando onde ela estava posicionada, fazendo seus dedos trabalharem. Ela tirou minha camisola e pressionou o corpo no meu, sua nudez colidindo com a minha. Explorei seu corpo como se fosse a primeira vez, e talvez fosse, já fazia tantos meses que eu duvidava que ela continuaria sentindo as mesmas coisas nos lugares que já a toquei. Mas não ignorei a experiência anterior. Lembrei de cada parte que ela mais gostava, pressionando meus dedos e arranhando sua pele, ouvindo com sucesso sua respiração se prender na garganta, no momento seguinte eu mordi seu ombro, e ela não conteve mais seu gemido, rouco e abafado em meus cabelos.
—Você ama isso. — Ela falou, movendo o rosto até que tivesse os olhos nos meus. — Não pare agora.
Eu não via porque parar. Então continuei a distribuir mordidas pelo seu pescoço e seus ombros, conseguindo inverter nossas posições e tomar a liderança. Segurei seu braço direito sobre a cabeça sem qualquer intuito de mantê-lo ali, trabalhando a outra mão entre seus seios e pressionando uma perna entre as suas.
—Alguém está tentando tomar o controle do que comecei. — Ela falou com humor, conseguindo sentar na cama comigo em seu colo. — Mas você esqueceu que sou eu quem lidero aqui. — Ela sorriu, suas mãos apalpando minhas nádegas e apertando ao me puxar para si. O desejo que encontrei em seus olhos era genuíno, mas diferente da nossa primeira noite, também havia paixão, havia amor. Hoje eu sabia que teríamos outras noites, e outros dias também.
—Vee? — Ela sorriu com seu apelido sendo dito. — Me faça sua.
—Oh, Seanë, você nunca deixou de ser minha. — Eu estava sorrindo ao ter meu nome em seus lábios. — Agora vou provar isso.
Ela provou, seu nome não saiu da minha boca o resto da noite, e seu corpo se prendeu ao meu como se fosse uma parte que se encaixava e estivesse faltando por todo esse tempo. Eu a senti encaixada em mim mesmo no meu mais profundo sono.
Fim do capítulo
tum tum
dois capítulos num dia, autora? Pois é :3
Eu queria terminar a fase da gravidez :D
O que acham que vai acontecer agora com esse envolvimento da Seul/Seanë com a Veegan em plena fase do ritual? O que acharam desse bebê? hehe
Como disse a Alinü só no começo "ela só trará problemas", será que é verdade, afinal?
Vonü --> o ü é mais fechado, assim como Alinü.
Seul Wittebi --> o W tem som de V, e Seul é dito mais rápido, como quando falamos "seu" mesmo, com o "u" mais fechado.
Marheeve --> o "ee" tem som de i mesmo, mas se lê mar-ive.
Hiver --> h com som de “r” mesmo
Graah --> como tem h no final, tem o som mais aberto.
Voulcan --> na história dos voulcans, o som é mais diferente, o V tem som de F, fica foucan para pronunciar.
Ehfae --> êfaê, basicamente.
Arin Ashoff --> Ash-off
Comentar este capítulo:
Lea
Em: 13/08/2021
A Vonü foi "destinada" a cuidar da Seul e acabou confundindo os sentimentos???
E sobre a visão que Vonü teve,da Hiver atacando a Veegan, será que isso ainda pode vir a acontecer?? Vonü morrerá salvando sua família???????
Resposta do autor:
As duas acabaram confundido seus papeis um pouco por causa do ritual, mas acredito que elas tenham buscado tirar alguma coisa de boa num ritual tão mal executado por tanto tempo.
E não, isso não vai acontecer kkkk A Vonü tem outro destino esperando por ela :)
Marta Andrade dos Santos
Em: 08/06/2021
Nossa que pena que Seul ficou com Veegan.
Resposta do autor:
O engraçado é que eu fui reler a história de Vonü um tempo depois que terminei de escrever, sem lembrar de nada, também fiquei surpresa com esse desfecho ahahhaha
Mas não se preocupe que o destino tem algo guardado para todo mundo no fim :3
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