Capitulo 7 - Brincadeira de “Criança”
Devorei sua boca, como nunca havia feito com nenhum garoto, podia até dizer que este foi meu primeiro beijo e que o resto não contava, mas isso não importa, por que nesse momento eu estou realizando um desejo que me consumiu por meses, de forma intensa e ininterrupta. Sentir o que senti por Micaela em todo aquele tempo com ela, aquela sede... Era como dizer para alguém que caminhou em um deserto por horas, se contentar com areia e ar. A sede que eu tinha mexia não somente com meu fisiológico, mas com meu emocional, meu consciente, meu irracional. E eu não perderia a oportunidade de sanar essa vontade por absolutamente nada. Pega-la desprevenida talvez tenha sido errado, mas eu não me importo, eu só quero poder pedir ao tempo que pause por alguns segundos, todo seu caminhar, não custaria nada, era só para eu que pudesse... tê-la em meus braços por um pouco mais, depois ela pode brigar comigo o quanto quiser, eu não me importo. Sentir sua língua bailar com a minha por mais tempo vale qualquer custo, a maciez e ternura dos seus lábios e pele, totalmente diferente das bocas secas e duras que provei em minha adolescência, Micaela era a melhor sobremesa que já experimentei na vida e talvez essa comparação soe errado, mas eu NÃO me importo, quero beijá-la para sempre.
Isabella rodeou o pescoço de Micaela com seus braços, aproveitando quando a morena abraçou sua cintura a puxando para mais perto, os sons de suas bocas e roupas elevavam seus desejos em um patamar alucinante, não ouviam a chuva e nem se importavam se alguém as flagraria, estavam envoltas pelo calor que produziam, as bocas coladas provando o sabor uma da outra.
Micaela é a primeira a despertar do átimo em que se provam, contudo a vontade da outra soma dias, semanas e meses... antes mesmo que a morena possa abrir os olhos ela a puxa novamente, criando ali algo que jamais elas poderiam romper, estava gravado em suas mentes e corações, da forma mais primitiva e clichê que pudesse ser. Elas simplesmente sabiam, que a partir dali, tudo seria diferente. A morena então abriu os olhos, e sua excitação galgou dez patamares por ter uma visão tão singular quanto os olhos fechados de Isabella, seus cílios longos tocando seus rostos, enquanto sua boca devorava Micaela com tamanha vontade ou talvez até repreensão, ela não saberia dizer e também não teria coragem de perguntar. Afastou-se ainda sentindo o sabor delicioso em sua boca e Isabella acariciou seu pescoço insatisfeita pela interrupção. A morena olhou em seus olhos e pôde constatar o que mais temia...
— Eu... Nós... Nós não podemos! — Ela se afastou indo em direção à porta, a mente perturbada.
— Mica! — Isabella ainda tentou sentindo o coração bombar errático dentro do peito. Sua voz interior gritava, porém o silêncio do quarto era ensurdecedor, ela havia tido o melhor momento de sua vida e em um gotejar de chuva, tudo desmoronava.
A morena saiu intempestiva, sob o olhar atento do pai e da madrasta que assistiam qualquer programa rotineiro na televisão e estranharam a saída brusca da garota. Juntos no pequeno sofá, se encaixavam esquentando seus corpos com os corações tranquilos e sem preocupações. Não haveriam de causar estranheza, eram dois adultos cientes de seus gêneros e condições, não deviam nada à ninguém, portanto jamais compreenderiam o que o amor de dois iguais haveria de enfrentar.
Micaela alcançou o quintal refreando a vontade de sair para rua, não conseguiria escapar sem chamar muito atenção, ajoelhou-se no jardim do pai, as gotas alcançando-a e tingindo seu moletom de chumbo, vagarosamente aplacando o calor que o melhor beijo de sua vida lhe causara. Arrastou os cabelos para trás com as duas mãos, num gesto desesperado pôr respostas. Havia desejo e fogo nos olhos de Isabella, ela a desejava. Desejava Micaela.
Fechou os olhos buscando discernimento e quase gritou de susto quando dedos quentes e macios tocaram em seu rosto. Era ela! Não havia como fugir e mesmo que tivesse não tinha vontade e coragem suficientes para fazê-lo, estava entregue ao próprio desejo.
Com carinho a morena puxou seu rosto para baixo unindo suas testas, o polegar deslizou por sua face, os olhos de uma procurando os da outra, sob a fraca luz do poste da rua. As bocas se uniram novamente, desta vez em um beijo selado, de sintonia e reconhecimento de suas condições e emoções.
***
Micaela acariciava os cabelos castanhos claros, a textura dos fios a acariciando de volta. Os olhos azuis a fitavam, também com o mesmo enlevo. Ambas estavam deitadas no colchão de Isabella, pois assim ficavam ocultas atrás da cama da morena, a porta devidamente fechada, mas não havia tranca. Furtivas elas aproveitavam o tempo acordadas para se tocarem e decorarem cada traço uma da outra.
— Você acha que “não podemos”, por sermos mulheres ou... por sermos da mesma família? — Isabella não conseguiu pronunciar a palavra meia-irmã, afinal, ela nunca vira as duas desta forma. Contornou as sobrancelhas negras de Micaela e viu a morena fechar os olhos devagar.
— Isa... Não é tão fácil assim. Nossos pais nunca aceitariam!
— Mas seu pai te aceita, Mica! Você mesma disse que ele...
— Ele tenta. Mas sofre e eu sinto como se esforça. Minha mãe é totalmente contra! — Ela puxou a mão da garota beijando seus dedos. — Sua mãe também não aceitaria, tenho certeza!
— Eu não acho. — Suspirou tentando se concentrar, mas a boca de Micaela... Seus lábios clamavam por ela. — Posso te beijar? — Suplicou já se erguendo sobre ela.
— Alguém pode entrar... Esper...
A morena fechou os olhos entregue aos lábios de Isabella que a cobria com seu corpo, ignorando totalmente sua preocupação. Mais uma vez Micaela mergulhou no inexorável turbilhão que era ter sua boca contra a dela. Isabella possuía a vontade e a malícia de uma adolescente que nunca passara a fronteira dos beijos, ela não imaginava o quanto a morena se controlava neste momento, para não arrancar seu pijama que cobria demais e simplesmente se perder entre suas pernas, seus seios, sua pele. Ela podia sentir a própria umidade quente ultrapassando os tecidos de sua roupa, contida mantinha as mãos entre a linha da cintura, ao mesmo tempo em que Isabella mordia seu lábio inferior a alucinando.
— Garota... — A morena ofegava tentando focar em seus olhos. — Vamos com calma, ok?
— Eu fui mal? Eu beijo mal, né? Desculpa, eu nunca beijei uma garota e os garotos são...
— Você beija maravilhosamente bem! — Micaela interrompeu o discurso ansioso da outra. — Bem demais, aliás... Isa, acontece que eu... Eu não...
— Você não gostou de me beijar? Mica, por favor seja sincera comigo! — Seu rosto inseguro por uma resposta só levava Micaela a imaginar beijando-a em todos os lugares do corpo, inclusive na pequena ruga fofa e sexy que se formava em sua testa preocupada.
— Completamente ingênua!
A morena pensou em voz alta antes de virá-la de costas e subir em seu corpo beijando sua boca sem se conter e Isabella pôde então sentir como é ser desejada por outra pessoa por quem está apaixonada. Estou apaixonada! Essa constatação vibrou por todas as veias de seu corpo e ela gem*u entregue quando os lábios da morena tomaram seu pescoço.
— Filha!
A voz do pai foi capaz de transportar Micaela para o outro lado do quarto, ela estava pálida como cera e precisou respirar fundo três vezes antes de responder.
— Oi... Pai?!
— Vai precisar de carona amanhã?
— Tá... Não, não vou precisar não, pai! Obrigada!
Ela encostou os ouvidos na porta até ouvi-lo entrar no próprio quarto e fechar a porta. Ela suspirou aliviada fechando os olhos.
— Mica, por que tem tanto medo? — A caipira perguntava confusa por seu comportamento. Ela sempre parecia tão confiante e destemida. — Você sempre foi tão... Você.
— Isa... — Ela aproximou-se tomando as mãos da garota nas suas. — Não tenho medo por mim, mas por você!
— Como assim? Não entendo...
— Você não imagina o que é... Se assumir, se expor... Eu não me importo, mas você não suportaria e...
— Não sou uma garotinha indefesa, Mica!
— Não é isso que eu quis dizer. As pessoas são cruéis! E pessoas que você AMA e que dizem te amar, podem ser piores do que estranhos, acredite.
— ...
— Eu só quero te proteger. — Ela buscou seus olhos azuis que estavam focados em um ponto qualquer do colchão. Beijou seus lábios vagarosamente, com ternura na tentativa de selar as dúvidas da outra.
Dormiram abraçadas no colchão do chão, cada qual com seus pensamentos e tormentos. Não mais conversaram sobre, pois a veracidade era que nenhuma poderia sanar as questões emocionais que iam em seus corações.
***
Acordar todos os dias e encontrar os olhos negros era sem dúvida os melhores tempos que Isabella vivia, não se cansava de olhar o rosto da morena, depois enchê-la de beijos e abraços manhosos e preguiçosos pela manhã. A rotina se tornara algo necessário para as duas, buscavam toques e olhares ao longo do dia, sempre evitando serem flagradas pelos pais ou amigos. Não se continham quando o momento lhes concedia alguns segundos à sós, beijavam-se e se acariciavam como se fosse a última vez que o fizessem.
Micaela lutava contra o intenso desejo sexual que sentia pela caipira, não queria assustá-la e ao mesmo tempo temia que fossem pegas, então se contentava com as torturas diárias ao qual era submetida. Ao dormir cerrava os dentes quando Isabella se aconchegava de costas para ela, e ao despertar choramingava com as mãos atrevidas que lhe provocavam inocentes pelo corpo. Não a tocava! Havia uma espécie de “cavalheirismo” involuntário que impedia a morena de violar o corpo intocado da outra, tinha ciência de que Isabella enfrentava questões pessoais com o corpo, com a parte sexual... Ela talvez jamais tivera um orgasmo, apesar de não ser uma pessoa fria, pelo contrário, era sensual, excitante e muito curiosa quando estavam mais íntimas, porém Micaela desejava que fosse uma descoberta mútua e sem riscos de serem pegas ou ter o momento arruinado por terceiros. Aguardava então o próximo final de semana, que os pais visitariam Elisa para um almoço, e ambas se organizavam para justificar a ausência no pequeno “evento” e ficarem a sós em casa.
— Micaela, você pode trabalhar nesse sábado?
A morena olhou para o chefe tentando disfarçar a expressão resignada.
— Claro, Carlão! Pode contar comigo... — Sorriu amarelo e suspirou desafortunada após a saída do patrão. Não poderia deixar o chefe e os colegas na mão, sabia que os pedidos estavam acumulados e alguns atrasados e ela mesma já se oferecera várias vezes para ajudar aos finais de semana. Torceu os lábios tentando buscar uma alternativa para compensar sua caipira.
— Um bombom pelos seus pensamentos...
— E aí, Berê. — Ela cumprimentou sem graça a filha de Carlão que se tornara uma boa amiga e confidente. — Meu, eu tinha combinado um lance com a Isa... aproveitando que nossos pais não estariam... — Ela passou a mão no rosto até os cabelos de forma frustrada.
— E meu pai te escalou para o final de semana?
Ela concordou com um aceno.
— Mica, mas é só até as quatro, talvez dê tempo de vocês se encontrarem a noite... — A amiga tentava animá-la, infelizmente não poderia persuadir o pai, pois sabia que havia muito trabalho pendente.
— Eles vão almoçar na minha tia... Duvido que fiquem o dia todo. Ahhh mano, que azar!
— Olha, talvez eu possa te ajudar em algo... — A filha de Carlão coçou o queixo pensativa e com um sorriso malicioso. — Quem diria que você ficaria toda caidinha pela namorada, hein!!! — Gargalhou despenteando os cabelos da morena.
— Ela não é minha namorada sua maluca! — Micaela revidou roubando a presilha que prendia os cachos de Berenice, ela odiava deixar os cabelos soltos no trabalho. — É uma pessoa que gosto e que estou conhecendo, só...
— É uma pessoa que gosto, morro de tesão, babo toda vez que falo dela e estou conhecendo antes de pedir em casamento... — Ela imitou a voz da morena fingindo um ar apaixonado e soltou uma gargalhada quando Micaela fez uma careta mostrando o dedo do meio.
— Ela é especial, sei lá... É diferente.
— Sei... — Berenice sorriu contida levantando uma das sobrancelhas, se lembrando que pouco tempo atrás Micaela tinha aversão a relacionamentos melosos, agora seu dia a dia era pautado em zombar da morena por isso, e ela adorava demais Micaela para parar de fazê-lo.
***
A morena gemia baixinho, a boca de Isabella colada em seu pescoço, a mão atrevida e curiosa por cima de seu shorts, acariciava sua intimidade numa cadência lenta, suave e torturante. Estavam sentadas no sofá da sala, “assistindo” qualquer filme que a morena colocara, enquanto os pais riam na cozinha ocupados demais com o novo prato que Fábio tentava recriar a partir de uma receita famosa que ele vira no livro de culinária que ganhara de Silvia. Micaela permitia esses atrevimentos única e exclusivamente para fins de conhecimento que a garota estava tendo, pois o martírio que passava trocando várias calcinhas ao dia e segurando o ímpeto de jogá-la sobre qualquer móvel e consumar o ato, não estava sendo fácil. A mãozinha atrevida abandonou o ponto entre suas pernas, para o alívio da morena, indo em direção seus seios pequenos que subiam e desciam com a respiração ofegante, os ouvidos de ambas atentos ao corredor que dava para cozinha.
— Eu morro de vontade de te provar, sabia? — A voz angelical sussurrou no ouvido de Micaela e a morena fechou os olhos contento o início de um orgasmo. Engoliu em seco e segurou no antebraço de Isabella a puxando para seu colo.
A garota sentou sobre seu ventre com uma perna de cada lado, os corpos colados e ardentes bastante inquietos, tentando ao máximo não fazerem barulho, mas falhando miseravelmente. Micaela afundou os dedos na carne macia das nádegas da outra, puxando-a ainda mais em sua direção, a excitação chegando à um perigoso e delicioso limite. Como punição às investidas atrevidas da caipira ela subiu suas mãos por baixo daquele pijama de tecido indecente que sempre marcava seus mamilos, escorregou os dedos por sua cintura até os polegares tocarem a base dos seios e sorriu maliciosa quando Isabella segurou a respiração percebendo suas intenções, Micaela jamais a tocara mais intimamente, sendo sempre Isabella quem ultrapassava os limites e cabia à morena sempre segurar o desejo e controlar a situação.
— Mica... — A garota gem*u e fechou os olhos quando os polegares alcançaram seus mamilos por baixo da blusa, Micaela contornou-os com cuidado e carinho, apenas uma degustação do que gostaria de fazer com o corpo dela e o rosto da garota tingiu-se de vermelho, os olhos se abriram mostrando a íris azuis em um tom escuro e profundo, a boca semi aberta, ofegando e gem*ndo baixo. Olharam-se hipnotizadas e alheias ao redor, para então quase infartarem do susto pelo chamado de Silvia no corredor. A morena empurrou a garota que foi ao chão, temendo que a madrasta as pegassem naquela posição.
— Garota, já falei que esse filme é horrível! Odeio comédia romântica...
A morena teatralmente resmungou com ela e se ajeitou no sofá ignorando a mãe de Isabella que chegava com um pano de prato em mãos e um sorriso no rosto, mal reparando na filha estatelada no chão da sala com expressão de exasperada.
— Meninas, o jantar está pronto... Preparem as barrigas porque ele acertou em cheio desta vez.
E da mesma forma que chegou se foi sorridente e distraída como sempre.
— Mil perdões, Isa... Desculpa! — Com a saída da madrasta ela rapidamente se agachou ajudando a garota a se levantar, a caipira trazia um semblante de frustração, ódio e chateação que fizeram Micaela temer pela vida.
— Odeio quando faz isso! Custava fingir que estávamos só brincando? — Ela se desvencilhou das mãos da morena cruzando os braços com mágoa nos olhos. Foram dezenas de empurrões somente aquela semana.
— Ahh, claro! E que brincadeira mais “inocente” ter você colada no meu colo e minhas mãos nos seus peitos, não é?! — A morena sussurrou de volta tentando se defender.
— Você e esse medo absurdo de tudo! Não percebe que mais cedo ou mais tarde eles vão ficar sabendo?
— Pois da minha boca é que não vão! — A morena puxou ela para o quintal, pois seus sussurros estavam começando a sobressair ao som da televisão. — Tem noção a decepção da sua mãe se descobrir o que eu fiz com a filhinha dela?
— Fez? Nós NUNCA nem fizemos nada! — Isabella abriu os braços de forma frustrada. — Você me trata como uma virgem santa que acabou de sair das fraldas... Eu sou tão madura quanto você, Micaela, temos praticamente a mesma idade! Posso não ter experiências sexuais como as suas, mas tenho noção do que sinto e do que quero!
— Você não entende!!! Não é sobre ter as primeiras experiências sexuais, Isa. É sobre essas experiências serem com uma GAROTA e essa garota ser a sua meia-irmã mais velha que prometeu ficar de olho nos garotos mal intencionados que se aproximassem de você! — Micaela desabafou com a imagem de Silvia na cabeça lhe fazendo exatamente este pedido, antes de uma festa entre amigos que as duas foram um dia.
— Você está querendo me dizer que NUNCA pretende contar aos nossos pais sobre nós, é isso? — Isabella bem que tentou, mas seu semblante era pura decepção.
— Não... Digo, sim, mas... Isa, não sei se seria uma boa ideia por...
Isabella deu-lhe as costas entrando em casa sem nada a dizer para ela. Não haviam motivos, em sua visão, para que Micaela surtasse daquela forma, não fazia o tipo da morena que sempre fora aberta sobre tudo que lhe dizia respeito, ouvir e ver a morena hesitar e se acovardar sempre que estavam juntas apenas trazia decepção e confusão para seu coração apaixonado, que conjecturava inseguro, sobre os verdadeiros sentimentos da morena.
Fim do capítulo
"Como é bom, como é bom..." hehehe
Beijos para quem fica e até já já! ;*
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Bibiset Em: 06/05/2023 Autora da história
Haja força de vontade kk