Décimo nono
Andou pelo corredor até ouvir o som do chuveiro ligado e a voz de Lana a cantarolar uma música. Entrou lentamente, ouvindo melhor a música, sorrindo para o tom descontraído enquanto se aproximava do box, observando o contorno do seu corpo no vidro embaçado. Esperou, recostada na pia, que ela terminasse, sorrindo quando a viu se depilar e voltar a se limpar até desligar o chuveiro por definitivo. Saiu do box ainda nua, usando a toalha para enxugar os cabelos, assustando-se ao perceber Laura ali.
—Oh meu Deus! Há quanto tempo está aqui?
—Eu cheguei no solo, melhor parte! — Laura falou em tom irônico, Lana jogou a toalha em sua direção, fazendo-a rir. — Você não pode me culpar, eu queria te ver lisa em primeira mão.
—Oh, sua pervertida. — Lana acabou rindo, aproximando-se dela e pegando a toalha, secando parte do corpo. — E agora que viu, qual a sua preferência?
—Eu gosto quando deixa algum mais em cima. É divertido quando estou te beijando lá. Você ser loira só aumenta a diversão. — Ela sorriu, ainda a olhar seu sex*. — O resto é bom quando fica sem nada, posso te divertir mais, já que gosta de provocar.
—Oh, então tem preferência. Devia ter me dito antes, assim podia te entreter da próxima vez. — Sorriu, tocando seu rosto e acariciando com afeição. — Eu devo precisar de mais algum tempo para ter sex* com vocês, se foi por isso que me esperou aqui.
—Não, ou teria entrado com você lá dentro. Eu só queria olhar para você.
—Apenas olhar?
—Sim, também. Mas eu posso te tocar sem pensar em sex*, não posso?
—Claro que sim.
—Vê? Eu nem sou tão pervertida assim.
—Só um pouquinho.
—Mas e você? Tem alguma preferência?
—Oh, eu? Não sei. — Ela colocou a toalha sobre o ombro e prendeu os dedos na entrada do seu short, puxando-o para baixo para a olhar, observando os pelos aparados na parte superior. — Eu gosto quando esquece de aparar. Por algum motivo me excita quando está maior e você roça em mim.
—É? Por que?
—Bem... É como se te deixasse com aspecto mais forte, mais dominante.
—Gosta da ideia de eu te dominar?
—Muito. Mas também gosto da ideia de dominar você.
—Você pode me ter das duas formas, então, quando quiser.
—Eu sei. Você adora testar coisas novas, eu gosto disso em você. — Ela se afastou para pegar o robe. — Ou lugares novos.
—Eu entendi errado ou você definitivamente gosta do risco de um lugar novo?
—Oh, querida. Eu nunca te falei que já transei em alguns lugares contestáveis? — Ela riu, Laura se aproximou e a impediu de vestir o robe, abraçando sua cintura por trás.
—Em que lugar?
—Num parque, quase de noite, com aquele namorado.
—Oh, Deus. Você é maluca mesmo. — Ela riu, beijando seu ombro.
—E você?
—No telhado do dormitório do diretor na faculdade. Na sala da reitora do curso. No mar. No teatro. — Ela sorriu com as lembranças. — No restaurante da família de Iori.
—Oh, Sasaki, ela não resistiu afinal.
—Não depois de eu insistir muito. Mas Madson era tão controlada assim? Você só tentava coisas novas antes de casar com ela?
—Não, não. Eu trabalhei duro para ter Madson, depois disso ela não tirava as mãos de mim em todos os lugares. Eu só não quis te deixar desconfortável em relembrar isso. — Ela se virou, movendo os dedos em sua camisa agora molhada.
—Me deixou curiosa. Onde foi o lugar mais frequente?
—Na academia, é claro. Era só ela sair do escritório, me ver criando uma coreografia nova, e o ritmo ia para outro ponto. — Ela sorriu, Laura ainda a analisava, mirando seus olhos.
—Então ela adora te ver dançar.
—Você não? — Retrucou, conseguindo faze-la sorrir. — Eu sei que faço isso bem, e sei como atrair a atenção que quero com isso. Você não pode negar.
—Não, não posso. Sinto falta de poder ir buscar Iori na academia só para ver vocês duas.
—Eu ainda dou aulas a ela aos sábados quando volto da academia. Você pode aparecer, não é como se não tivesse a chave aqui de casa.
—Não, é algo que Iori gosta de fazer, e nós preferimos deixar os passatempos separados, para termos tempo sozinhas.
—Bem... eu ainda posso fazer algo por você. — Ela sorriu e se inclinou para beijar seus lábios. — Vem, eu preciso de roupas. — Ela segurou sua mão, guiando-a para fora do banheiro e em direção ao quarto, mas tão logo foi em direção ao closet, Laura a impediu, puxando-a de volta para si, fazendo-a rir. — Laura, o que foi?
—Você fica bem sem roupas. — Alegou, guiando seus corpos até a parede ao lado do closet, envolvendo seus dedos e erguendo um braço sobre a cabeça, fixando na parede.
—Laura... — Falou mais baixo, acostumando-se a proximidade de seus corpos e ao olhar intenso dela em seu corpo. — Se você quer algo, e eu sei que quer, basta dizer.
—Eu já disse o que quero.
—Então vamos ficar assim o resto do dia, porque não acredito que queira só isso. O que foi, Laura? — Insistiu, subindo uma mão em seu abdômen. — Sasaki te disse algo?
—Ela diz várias coisas. — Ela sorriu, deslizando os lábios pelo seu rosto e descendo seu pescoço, fazendo o contorno do seu ombro até chegar em seu braço, sentindo o olhar de Lana perfurar seu interior enquanto olhava de perto as cicatrizes em sua pele. — Só me dê um segundo.
—Para o que? Não há nada escrito aí.
—Pelo contrário, há muito o que ler. — Laura olhou de perto suas marcas, percebendo sua profundidade e a quantidade. — Eu sinto muito por isso. — Sussurrou, olhando em seus olhos.
—Bem... eu também. — Ela suspirou, desviando o olhar para as marcas em seu braço, sentindo-se desconfortável, ainda assim apontou uma das marcas mais profundas. — Todas essas foram no mesmo dia, essa foi a última, porque cortei demais e rompi uma veia. Não estava enxergando direito com o sangue nas demais. Daphne estava dormindo, era um bebê ainda. Minha perna estava imobilizada, mas eu ainda dei um jeito de parar o sangramento, achar um tutorial de como costurar na internet, e limpar o sangue no banheiro. Eu nem prestava atenção no que estava fazendo, eu só fazia. Mas o fardo era demais, ficar em casa era demais. Daphne chorava demais de noite, Kris não atendia ao celular, e minha perna doía muito.
—Você estava sozinha com uma criança...
—Você pode imaginar alguém como eu criando uma criança? A idiota que se drogava e vivia na rua para se divertir, presa numa casa com a perna quebrada e uma criança no colo, que nem era minha.
—Como você fez isso, Lana? Era demais para você.
—Eu não sei, sinceramente não sei. Eu só tentei um dia de cada vez, uma marca de cada vez. Daphne não era desesperadora o tempo inteiro, as vezes ela me fazia rir, porque ela sabia ser adorável. Mas... eu sequer sabia o que estava fazendo. Era eu e a internet, porque levou tempo para Kristin ter algum dinheiro para enviar, e eu não podia levar a garota no médico por qualquer coisa. Eu quis desistir tantas vezes.
—Não seria sua culpa.
—Da minha vida, Laura. Mas eu pensava que aguentava mais um dia, então deixava para o dia seguinte. — Laura se aproximou mais, deixando que ela a usasse de apoio, olhando a próxima marca profunda que ela apontou. — Essa aqui foi quando voltei a andar normalmente, mas ainda sentia alguma dor. Daphne já era um pouco maior, mas não entendia nada. Eu sequer conseguia me olhar no espelho, porque sabia que estava horrível, e nada mudaria isso. Mas nesse dia eu olhei, tentei consertar o estrago que estava meu cabelo, mas acabei raspando, porque achei que não mudaria nada. — Ela fechou os olhos, apoiando a mão no ombro de Laura, segurando a alça de sua camisa com mais força. — Daphne começou a chorar enquanto fazia os primeiros cortes, eu fiquei parada, vendo o sangue escorrer, mas ela continuava a chorar e chorar. Eu só me mexi quando ela parou.
—O que você fez?
—Amarrei a toalha no braço, fui ver como ela estava. Mas era só a fralda, eu demorei a trocar e ela ficou com assadura, tive que limpar, passar a pomada e dar a mamadeira. Ela me via sem cabelo, e ria, por Deus, ela se divertiu com isso e sequer sabia o que estava acontecendo. — Ela sorriu com a lembrança. — Mas ela disse meu nome naquele dia. Você acredita? Foi um Lama, mas foi a melhor coisa que aconteceu naquele dia, talvez no ano. Eu decidi parar os cortes naquele dia, decidi aguentar um dia a mais sem eles.
—E como foi isso? — Laura moveu um dedo pelas restantes até próximo da dobra do braço.
—Um inferno, porque nada tinha mudado. — Ela suspirou, apoiando a cabeça na parede. — Até eu colocar Daphne numa creche quando tinha idade, e começar a procurar trabalho. Então conheci Madson, comecei a trabalhar para ela, comecei a terapia, e as coisas começaram a mudar, eu comecei a me sentir menos pesada e a me entender melhor. Foi quando investi numa relação com ela, e tive que trabalhar duro nisso porque ela não era fácil, mas deu certo. Ela era tudo o que eu precisava naquele momento, ela me ajudou a crescer e a ficar forte.
—Madson é uma grande parte de sua história, não é mesmo? Sinto que estive sendo injusta com você ao te pedir tanto para se manter afastada dela. Ela não é somente sua ex, o vínculo é muito mais profundo que isso.
—E eu entendo que isso tenha incomodado vocês no início, é algo complicado demais para explicar no começo de uma relação e no meio de um divórcio.
—Eu sinto muito. Eu não devia ter concordado em você querer se demitir se ela continuasse tentando as chances com você. Digo... como posso culpa-la em tentar ter você de volta após tudo isso?
—Laura...
—Está tudo bem. Eu entendo o motivo de não ter dito nada antes, é um assunto delicado para se mexer assim. — Ela beijou sobre suas cicatrizes, roçando os lábios até a mais recente, olhando em seus olhos antes de beijar sobre ela. — Obrigada por me contar, era essa a verdadeira nudez que eu queria ver, eu acho.
—Bem... agora você me vê, se não por inteira, grande parte.
—E eu amo essa mulher que está mostrando. — Laura a abraçou, envolvendo seus ombros e a puxando com cuidado para si.
—Isso me deixa realmente feliz. — Ela envolveu sua cintura, apoiando o queixo em seu ombro, vendo Iori se aproximar lentamente pelo corredor, moveu a mão, indicando para que entrasse. — Não é que eu não goste de falar do meu passado, mas dado as coisas que já fiz, eu prefiro deixar onde ele está. — Ela se afastou de Laura e entrou no closet, pegando uma caixa na parte debaixo e colocando sobre a cama. — A chave está debaixo da estátua da liberdade. — Ela apontou a estátua sobre a mesinha perto da varanda, voltando para o closet a fim de se vestir.
—O que eu perdi? — Iori perguntou enquanto pegava a chave abaixo da estátua e se aproximava da cama.
—Ela estava falando sobre as cicatrizes. — Laura explicou, aproximando-se e sentando ao lado dela.
—Eu perdi uma parte importante então. Por que não me chamou? — Ela estreitou os olhos, hesitando em abrir a caixa.
—Não é como se eu tivesse planejado.
—Eu posso te contar, meu amor. — Lana falou de dentro do closet, saindo alguns instantes depois enquanto colocava a camisa regata. — Se quiser saber.
—É claro que eu quero. — Iori ergueu as sobrancelhas. — Mas é diferente saber apenas por uma repetição. Vocês deviam ter me chamado se estou em casa.
—Bem, isso foi minha culpa. — Laura assumiu. — Eu insisti em saber, não quis interromper quando ela começou a falar.
—Eu ainda posso te contar. — Lana moveu as mãos pelos cabelos úmidos, arrumando para trás enquanto se aproximava dela, sentando a sua frente. — A história é a mesma, e você provavelmente vai precisar saber, se quiser entender o que há dentro da caixa.
—Está bem, eu escutarei. Você vai me mostrar?
—Claro.
Iori sorriu, selando seus lábios e a fazendo deitar na cama, acariciando seu rosto enquanto ela apoiava a cabeça sobre as mãos, deixando suas marcas a mostra mais uma vez. Iori começou a questionar sobre elas, surpreendendo-se em saber a história por detrás delas. Lana pausou algumas vezes quando percebeu que ela estava demasiado afetada com o que falava, afetada com cada marca, como se as tivesse vendo abertas.
—Você está bem? — Perguntou ao fim, voltando a sentar, observando-a encolhida dentro do abraço de Laura em suas costas.
—Eu vou ficar. Só preciso de um tempo para absorver isso. — Ela estendeu a mão, Lana a segurou. — Mas nada mudou. Você continua sendo minha mulher, e eu amo você.
—Eu amo você também, vocês duas. — Ela beijou sua mão, olhando entre ambas. — Você precisa de algo antes de abrir a caixa?
—Não, estou bem.
—Laura?
—Abra. Estou curiosa. — Ela sorriu, girando a caixa em sua direção.
—Bem... quando eu disse que pensei em desistir, eu planejei isso. — Ela pegou a chave de Iori e girou no cadeado, abrindo a pequena caixa e mostrando alguns envelopes de cartas com nomes na superfície. — Deus, já faz tanto tempo que abri isso. Madson odiava essa caixa.
—Você se despediu. — Laura constatou, inclinando-se para folhear entre os envelopes, olhando os nomes. — Mesmo dela. — Ela parou no nome de Madson.
—Sim, mas isso foi antes de termos qualquer coisa. Ela nunca quis ler.
—O que você pretende fazer com essa caixa agora? — Iori pegou um colar de dentro, uma pedra branca rústica no formato reto e com algumas falhas, na grossura e o tamanho de um dedo.
—Enterrar. Estive pensando nisso nesses últimos dias. Eu quero enterrar essa parte do meu passado, então se há algo que ainda queiram saber, ou alguma carta que queiram ler, o momento é esse.
—Oh. E esse colar? — Ela indicou a pedra que ainda segurava.
—Foi a última coisa que restou do meu pai, ele usava isso. Acabei achando na casa de minha mãe naquela época. Guardei comigo.
—Desculpa. — Ela o estendeu para devolver, mas Lana balançou a cabeça.
—Não, fique com isso se tiver gostado. Vai ser mais útil contigo.
—Tem certeza? Não quero que te traga más lembranças se eu o usar.
—Eu não tenho más lembranças com meu pai. Ele era um bom pai para mim. Era divertido, me levava para sair e brincava comigo. Ele mesmo me levava para viajar nas férias mesmo quando minha mãe não queria ir, então éramos somente nós dois.
—Oh, isso é bom. Ele não era ruim para você então.
—Não, ele era legal.
—Então por que nunca quis saber se ele tinha morrido mesmo?
—Como eu disse, nunca houve um enterro, então não há cemitério para ir. Eu só tinha minha mãe e a parte da família dela, que termina em mim. Nunca conheci a família do meu pai. Mesmo se eu quisesse encontrar, seria difícil demais. Então... — Ela pegou o colar de sua mão e se ajoelhou a sua frente, colocando o cordão ao redor do seu pescoço e colocando seus cabelos sobre os ombros. — Vê? Fica melhor em você.
—Obrigada, meu amor. — Ela sorriu, sentindo-se mais animada.
—Há mais alguma coisa que queiram da caixa?
—Posso ler qualquer carta? — Laura questionou, Lana somente moveu a cabeça para concordar. — Está bem, eu quero ler a de Madson.
—Claro que você quer. — Iori riu.
—Simples curiosidade.
—Você pode, confio em você. — Lana retirou o envelope que tinha o nome dela, entregando-a.
—Obrigada.
—Leia em voz alta, eu também quero saber. — Iori pediu.
—Vamos ver... — Ela abriu o envelope, desdobrando o papel e pigarreando antes de começar a ler. — Querida Madson, é uma pena que essa carta chegue a você antes que eu tenha tido uma chance real de chegar primeiro. Mas eu tinha que ir embora com a consciência tranquila de que você saberia como me sinto, e saberia que por algumas semanas eu fui mais sua do que de qualquer pessoa por toda a minha vida. Tudo começou quando entrei na Infinity no primeiro dia e segui o som da música até você. Você estava incrível, criando uma coreografia ao som de I’m yours que sequer me notou ali, e eu fiquei tão envolvida vendo você se mover pela sala tão concentrada, que não me contive em seguir seus passos. Você lembra da nossa primeira dança? Foi divertido. Eu não conseguia tirar os olhos de você e você por um momento retribuía a isso. Até a música acabar, e você inventar qualquer desculpa para sair da sala.
—Ela correu de você depois de dançarem? — Iori questionou, estreitando os olhos.
—Sim, ela sempre teve cautela. Eu sou professora, ela a dona. Sabe como isso parece. — Lana explicou, saindo da cama e andando alguns passos, buscando afastar a estranha sensação de rever as cartas e relembrar a história com sua ex.
—Continuando... — Laura mudou para a segunda folha. — Eu queria que fosse diferente, queria poder continuar insistindo porque sei que estou chegando até você. Mas o que eu tenho a te oferecer? Sou quebrada, ainda não sei porque me contratou, tenho uma criança que cuido e não é minha filha. Você nunca aceitaria isso, você disse que nunca assumiria um filho que não fosse seu, lembra? — Laura fez uma pausa, erguendo os olhos para Lana, mas somente a viu andar à frente da cama, parecendo com a cabeça longe.
—Apenas continue. — Iori sussurrou. — Melhor acabar de uma vez.
—Sim. — Ela suspirou. — Eu já nos imaginei juntas, talvez fosse dar certo, você é tudo aquilo que eu esperaria de uma mulher para estar ao meu lado, você é gentil, engraçada, inteligente, tem um jeito sexy de dançar que faz as pessoas te olharem e quererem seguir seus passos. E tem essa pose de dominadora que faz as pessoas te escutarem e te seguirem. Você é uma líder nata, e eu te admiro por isso. Obrigada por tudo Madson. De sua Lana, com amor. Adeus.
—Wow. — Iori ergueu as sobrancelhas, respirando fundo enquanto Laura guardava a carta no envelope. — Isso foi intenso.
—O que aconteceu? — Laura estreitou os olhos na direção de Lana. — O que te impediu de seguir adiante no plano?
—Ela viu as cicatrizes. Eu não tinha as tatuagens naquela época ainda. — Lana parou de costas para ela. — Então contei tudo para ela, e ela me pediu em namoro no fim. Digo... teve mais sentido no dia, contando agora parece loucura. Mas ela me ajudou a continuar na linha, foi a melhor coisa que podia ter me dado esperança naquela época. Desde então ela nunca me deixou sozinha ou me deixou pensar nessas coisas por muito tempo.
—Madson realmente é uma companheira para a vida, não é? — Iori falou em tom mais distante, Laura a mirou com desconfiança.
—O que? Você está trabalhando com ela e está reconsiderando nossa relação? — Laura a indagou mais séria. — Não é a primeira vez que te vejo elogiando Madson com alguma intenção.
—Você se sente atraída por ela, não é? — Lana se virou para a olhar, ao contrário de Laura, não havia desconfiança nem julgamento.
—Talvez. Mas é só curiosidade a maior parte do tempo. — Ela tocou o colar recém adquirido enquanto pensava. — Às vezes rola um clima enquanto estamos conversando. Ela é engraçada e encantadora. Eu posso entender porque você esteve com ela por tanto tempo. — Ela olhou para Laura, que continuava séria. — Mas sempre nos afastamos quando fica intenso demais, porque amamos a mesma mulher, e isso só nos faria perdê-la por causa de uma aventura.
—Eu imaginava que aconteceria. — Lana suspirou, ainda a olhar para ela. — Você faz o tipo que ela costumava sair.
—Que tipo?
—Estável financeiramente, boa carreira, confiável e leal. Morena, lábios finos, mais baixa, com aspecto intelectual. — Ela respirou fundo e cruzou os braços. — Eu sei como ela te olha. Não falei nada porque nada realmente tinha mudado, você continuava firme ao nosso lado.
—Eu gosto que você seja racional sobre isso.
—Sim... Bem, eu tive tempo para pensar. — Ela olhou para Laura, que continuava incomodada. — Você não pode realmente reclamar. Não sou cega para não perceber como tem olhado para Helena quando aparece na Infinity.
—Helena? Isso é sério? — Iori a encarou e bateu em seu braço sem força. — Você está ficando maluca?
—Eu não estou planejando ir atrás dela, se é o que estão pensando. — Laura falou na defensiva.
—Eu espero que não. Helena está casada.
—E isso não a impede de ficar me provocando toda vez.
—Então pare de ficar a olhando. O que você vai fazer lá de qualquer forma?
—Olhar Lana. — Falou de maneira óbvia. — Eu não quero nada com Helena.
—Então pare de ficar dando brecha para Helena te provocar.
—Eu não dou brecha nenhuma.
—Ah, por favor, não tente me enganar. Você adora esse tipo de atenção.
—Vocês duas adoram esse tipo de atenção, eu nem sei porque estão discutindo por causa disso. — Lana falou com paciência, atraindo o olhar indignado de ambas. — O que? Estou mentindo? Laura, você ama ser provocada, adora ver que te desejam, por isso Helena tem sua atenção. E Sasaki, você adora esse tipo de interação. Não foi assim que chegou até mim?
—Ouch. — Iori desviou o olhar, cruzando os braços. — Não precisava falar desse jeito.
—Olhem, eu não sou ciumenta, está bem? Nunca precisei me preocupar com Madson mesmo com todas as mulheres atrás dela, mesmo dentro da academia, comigo ali, porque eu sempre forneci tudo a ela e ela nunca se mostrou balançada, então sequer passava pela minha cabeça que ela podia me trair porque ela tinha tudo de mim. Mas com vocês duas parece que tenho que me preocupar, porque vocês adoram esse tipo de atenção.
—Não diga isso.
—Eu nunca trairia nenhuma de vocês. — Laura afirmou.
—Então por que parece que vocês não deixaram de procurar uma terceira pessoa entre vocês, mesmo que seja para uma diversão? Perdi a conta das vezes que encontrei vocês avaliando mulheres, mesmo na Infinity. Achei que iriam parar com o tempo. Mas com Madson e Helena tem sido recorrente, e eu fico me perguntando se vocês pensam um pouquinho em até onde isso vai. Ou não estão satisfeitas comigo? Porque se for isso, eu me afasto e vocês continuam procurando. Ou se não é isso, então parem com isso, porque eu odeio estar nesse papel.
—Agora estou me sentindo quando minha mãe me dava uma bronca. — Laura se levantou e se aproximou dela devagar, passando as mãos pelos seus braços. — Em todos esses anos eu nunca traí Iori, e eu sequer pensei em fazer nada com Helena.
—Eu não preciso que você pense em fazer. E se não percebeu, foram anos em que você esteve com Iori, não comigo. Não usem o tempo que estão juntas como argumento de alguma coisa, porque é irritante. O que estamos fazendo aqui é algo novo, então eu duvido que vocês continuem do mesmo jeito desde que estamos juntas.
—Você tem razão, não somos as mesmas. — Ela suspirou, subindo as mãos para segurar seu rosto. — O que eu preciso fazer para acreditar em mim?
—Mude sua atitude. Eu acredito em seus sentimentos, mas se continuarem agindo assim, eu vou ficar realmente magoada.
—Tudo bem. Desculpa, eu não vou te fazer passar por isso outra vez.
—Eu também. — Iori se aproximou e ficou ao lado de ambas. — Só mais um mês e eu vou acabar a obra na academia. Mas você tem minha palavra de que não vai haver mais nenhum clima com Madson. Ou com outra pessoa.
—Está bem, eu agradeço. Eu não desconfio de nenhuma de vocês, não me importo que achem outras mulheres atraentes, eu só peço que parem de dar abertura para isso se desenvolver. Madson é minha ex, Helena é ex de vocês. Sabem onde isso pode dar. — Ela suspirou, envolvendo a cintura de Laura e a abraçando. — Eu prefiro manter a atenção de vocês em mim.
—E você tem. — Iori a abraçou por trás, beijando lentamente sua nuca. — Eu realmente gosto que esteja deixando o cabelo crescer. Te deixa com ar tão maduro.
—Está me chamando de velha de maneira discreta?
—Não! — Lana riu, afastando-se para olhar ambas, Iori ainda se manteve perto para mover os dedos em seus cabelos. — Eu só gosto do novo jeito, te deixa com aspecto mais sério. Mas também gosto dele curto.
—Bem, você devia experimentar o seu mais curto. Te deixaria ainda mais sexy.
—Você acha?
—Ficaria diferente com certeza. — Laura comentou.
—Eu vou pensar sobre isso então.
—Enquanto isso, vocês querem ler mais alguma carta na caixa ou ficar com algo? — Lana perguntou, olhando para a caixa na cama.
—Posso ficar com a carta de Madson? — Laura perguntou com seriedade.
—Quero saber o que vai fazer com isso?
—Não se preocupe. Não farei nada ruim. Eu só gostei do conteúdo ao fundo. Acho que é bom ter algo para lembrar a profundidade do seu passado.
—Então eu não vejo problema.
—Então eu não preciso ver mais nada da caixa.
—Por que não há nenhuma para a sua mãe? — Iori questionou, voltando a cama e olhando entre as cartas.
—Claro que tem. — Lana a seguiu e tirou um dos envelopes de dentro, entregando a ela. — Eu não a chamava de mãe.
—Eleanor. — Iori leu o nome no papel. — Tudo bem se eu ler?
—Claro. Vá em frente.
—Está bem. — Ela esperou que Laura sentasse outra vez, agora ela se deixava envolver por Lana a sua frente, tendo os cabelos acariciados. — Olá, mãe. É provável que essa carta nunca chegue a você, porque você mudou de endereço e eu nunca soube seu número de celular. Espero que esteja bem, que esteja contente e feliz com sua vida ao lado da sua nova família. Você ainda deve lembrar que tem uma filha, a cicatriz da cesárea não desapareceu, então você deve pensar em mim de vez em quando. — Iori a olhou por um momento enquanto girava a folha, mas somente viu seus olhos distantes a mirar a caixa. — Desculpa por não ser a princesa que gostaria que eu tivesse sido. Ao invés disso fui uma cretina e eu não posso pedir desculpa por isso, porque você também não foi a mãe que eu gostaria que fosse, então estamos quites. Eu achei que nessa altura teria algo para dizer a você, mas eu não tenho. Queria que tivéssemos uma relação depois de tanto tempo, mas você nunca me procurou. Às vezes me pergunto se realmente sou sua filha, porque eu nunca abandonaria um filho meu por mais besteira que ele tenha feito. O que fiz de tão errado? — Ela baixou a folha, voltando a olhar para Lana. — Você não escreveu mais nada além disso?
—Não. Eu não sabia mais o que escrever porque não tinha sentido. Já fazia tantos anos que não falava com ela. Mesmo quando a procurei, eu não sabia o que dizer, e ela não queria nem me dar uma chance de tentar. Ela tinha repúdio de mim, o olhar de nojo que ela me lançou quando me reconheceu no hospital... — Ela balançou a cabeça para afastar a lembrança. — Não há mais nada.
—Eu sinto muito por isso.
—Eu também. — Ela suspirou, piscando antes de a olhar. — Mais alguma?
—Não, não. Estou satisfeita.
—Está bem. Vamos para o parque, eu quero enterrar lá.
—Claro, vamos lá.
As três cruzaram a rua e adentraram o parque, Lana andou mais afastada delas como de costume, segurando uma sacola de pano que carregava a caixa e uma pá menor. Agradeceu por não haver muitas pessoas por ali, escolheu um lugar mais deserto parque adentro, então começou a cavar um buraco, deixando que o casal se certificasse de que ninguém estava vendo. Então colocou a caixa e enterrou, sentando ali perto e somente olhou para a terra recém cavada, acostumando-se a sensação de já não ter mais posse da caixa. Sentiu-se leve, contente em finalizar aquela parte de sua história.
—Como eu disse, eu queria enterrar essa parte do meu passado, então está encerrado para mim. Espero que esteja enterrado para vocês também. — Ela falou para ambas enquanto andavam pelo parque.
—Tudo bem por mim. — Iori alegou, segurando a mão de Laura. — É bom pensar que estamos construindo memórias novas.
—E espero que a maioria sejam conosco ao seu lado. — Laura estendeu a outra mão para Lana, que hesitou por um momento, olhando ao redor antes de aceitar, constatando que não havia ninguém por perto.
—Bem... eu vou pedir para você manter a carta fora do meu alcance. Eu realmente não quero vê-la novamente. — Lana falou a olhá-la.
—Sem problema. Eu não te deixarei chegar perto disso outra vez.
—Obrigada. Então está tudo bem agora. Obrigada por fazerem isso comigo hoje.
—Sempre que precisar estaremos aqui.
—Para qualquer coisa. — Iori sorriu em sua direção.
Fim do capítulo
Primeiramente, feliz dia das mães!
Postando agora porque não vou lembrar depois haha
Em segundo lugar, automutilação e depressão são coisas sérias. Lana recebeu ajuda para passar por isso na história, e quem sentir que esteja precisando também pode receber ajuda! Se tiver pensando que sua vida não vale , que não aguenta mais, você pode encontrar suporte de profissionais treinados ligando 188, para o CVV (Centro de Valorização a Vida). Não deixe de procurar ajuda, porque você é importante para alguém, e toda vida tem seu significado. Não vamos deixar que as pessoas se sintam sozinhas :) se conhecer alguém que precise de ajuda, esteja lá para ela. Escutar o que as pessoas tem para dizer pode salvar vidas.
Em terceiro lugar, a partir do próximo capítulo a história vai dar um pulo na relação entre Lana, Iori e Laura. O que acham que pode acontecer agora?
Não deixem de conferir qual será "o destino de Vonü", minha outra história :D você pode encontrá-la no meu perfil aqui no site :D
Até a próxima, pessoal :D
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