UM ANO DE TENSÃO
CAPÍTULO 185 – No Apagar das Luzes de 2017
Zinara e os parentes brincavam com a garotada na roça.
--É isso aí minha gente! Olha o futebinho da roça! -- esfregava as mãos -- Vai lá, seu juiz! Manda ver que é só alegria! -- estava animada -- A’jabani haqqan! (Eu gosto muito!) -- sorria
Marco assoviou alto. -- Início de jogo no coração de Terra de Santa Cruz! -- fez voz de locutor
Georgina, Hassan, Khadija, Deodoro, Getúlio e Ahmed Mateus compunham o time da astrônoma, com Ahmed como goleiro. Do outro lado, Catiúcia, Aisha, Adamastor, Ahmed João, Marcos e Lucas, além de Cidmara, compunham o time adversário, com Janaína goleira.
--Vai lá, Khadija, bota essi timi pra ganhá! -- Nagibe incetivava animado. Brincava com Yasirah sentado na grama
--Torci pru timi da tua irmã, Chede! -- Dora brincava com o filho no colo. Estava sentada ao lado do marido
--Sabi qui eu tava cum sardadi dessa aligria da roça? -- Penha confessou para o marido -- Im Paulicéia num tinha nada dissu qui tem aqui, num sabi? -- estavam sentados na grama perto de Nagibe e Dora
--E é só aqui qui ocê tem teu homi! -- Cid exclamou
--Ai... -- Penha suspirou antes de se beijarem
--Olha lá meu Mastô se acabando nesse tal de futebinho que Zinara inventou! -- Cecília achava graça -- Parece até que já é da família. -- reparava no marido -- Olha lá, Bebel, seu papai e seu irmão jogando bola. -- mostrou os dois para a menina -- Lindinha da tia! -- beijou a cabeça da sobrinha
--Por que parece até que é da família? -- Clarice perguntou sem entender -- Somos todos da mesma família, querida! -- exclamou convicta -- Usritina... (Nossa família...) -- suspirou
--Eu me sinto em casa! -- Raquel afirmou enquanto comia um pequi -- A fase das cismas já passou! -- roía a fruta -- Além do mais, algo me diz que meu filho vai acabar se casando com Khadija no futuro, coisa que faço gosto. -- pegou mais um pequi -- Falando em fazer gosto, ô, coisinha gostosa! -- comia satisfeita
As três irmãs estavam sentadas na grama, debaixo da sombra de uma árvore.
--Goooool!!!! -- Zinara gritava e corria com Ahmed Mateus sentado em seus ombros -- Um a zero!
--Concentração aí, pessoal! -- Adamastor batia palmas -- Vamos virar esse jogo!
--Amor, fecha o gol que assim não dá! -- Aisha reclamou bem humorada com Janaína
--Humpf, fecha o gol... -- resmungou sozinha -- Ela pensa que ser goleira é fácil! -- Janaína esfregava as mãos nas pernas
--Você jura que vai comer sozinha essa panelinha de pequi toda? -- Cecília não acreditava -- Chegar na hora do almoço não vai ter fome!
--É ruim! -- Raquel respondeu convicta -- E você acha que um almoço preparado por mamãe, dona Ritinha, dona Zezé, dona Amina, seu Raed e dona Najla tem condição de ser recusado? -- roía o pequi -- Só se eu fosse louca e mal educada pra fazer essa desfeita!
Clarice achou graça. -- Impossível! -- prestava atenção no jogo -- Senão não seria você, né, Raquel?
--Gooooool!!! -- Catiúcia e Aisha gritavam em corinho
--Ó o empate, ó o empate! -- Adamastor e Ahmed João se cumprimentaram com um tapa -- Cês vão perder, visse? -- ameaçou brincalhão
--Tá muito cedo pra cantar vitória, mermão! -- Getúlio advertiu bem humorado -- O bonde aqui é 100%!
--camm Ahmed, fecha o gol aí, pô! -- Hassan pediu ao correr -- "Se a família de minha Rebeca tivesse deixado ela vir, eu ia fazer um gol bem massa pra ela ver!” -- pensou com saudades da namorada
--Ora, mininu, põe sebu nas canela e joga! -- Ahmed retrucou fingindo zanga
--Mas e então, Clarice? -- Cecília perguntou interessada -- Então quer dizer que você e Zinara vão mesmo morar em Cidade Restinga? -- brincava com a mãozinha de Isabel
--O plano é esse: morar em Cidade Restinga. Em São Sebastião não vai dar mesmo! -- passou a mão nos cabelos -- Mas primeiro a gente tem que emplacar o programa da pós que eu tô de olho. -- explicava -- Infelizmente o pós doc de Zinara vai terminar antes disso e ela volta pra casa sozinha depois da Páscoa... -- lamentou -- Vou morrer de saudade...
--Até eu já me acostumei com ela por perto. -- Raquel comentou -- Mas e mamãe, hein? Como é que vai ser?
--Ela vai pra lá com a gente. -- respondeu de pronto -- Vai com a gente, né, Bebel? Não é? -- deu um soprinho e um beijo na barriga da sobrinha -- Coisa linda! -- olhava para a criança
“Ai, que bom! Se a gente conseguir adotar um filho, vai ter mamãe, dona Ritinha e dona Zezé pra ajudar a cuidar!” -- Cecília pensou animada -- Mas e a casa dela, com quem fica? -- perguntou curiosa
--Ah, não sei, não perguntei, né? -- respondeu sem gostar da pergunta -- Provavelmente com Raquel. Mas eu não tô preocupada com o patrimônio da mamãe, que tá muito da viva! -- queria interromper aquele assunto
“Se mamãe deixasse aquela casa comigo seria o máximo!” -- Raquel pensava ao roer mais um pequi -- “Pagar aluguel, mesmo sendo pra Cecília, é uma merd*...”
--Não tá mais aqui quem falou! -- Cecília decidiu mudar de assunto
--Gooool!!!! -- Deodoro e Khadija corriam comemorando de mãos dadas -- Viu isso, pai? Que golaço!
--É isso aí, moleque! -- o homem comemorou animado -- Aê, eô, aê, eô! -- batia palmas
--Comemora muito não, cabra, tem jogo! -- Adamastor advertiu com Cidmara sentada em seus ombros -- Ainda tem jogo!
--Lateral! -- Marco indicou
--Raquel, e aquela história que Getúlio vai fazer uma pintura no Clube Cedro-Suriyyah amanhã? -- Clarice perguntou curiosa -- É sério mesmo?
--Não é bem pintura, é grafite. -- a mulher esclareceu lambendo os dedos -- Nagibe comentou que ninguém aqui sabia fazer isso, que a família dos donos do clube tava interessada em ter o grafite ainda antes do réveillon e o Gê se ofereceu pra pegar o serviço. -- explicou -- Agora que, graças a Deus, acabou o trabalho dele em Angra Régia, é mais um dinheirinho que entra. -- pegou mais um pequi -- Hoje de tarde ele já vai começar lá.
“Quem diria, Getúlio correndo atrás de serviço nas vésperas do ano novo!” -- Cecília pensou surpreendida
--Vocês vão pra Costa Azul, quando, Clarice? Já no dia primeiro? -- mostrou o pequi para a filha -- Quer? Cê quer? -- ofereceu
--Não, a gente vai no dia 6. -- brincava com a sobrinha -- O mesmo dia em que vocês vão embora pra suas respectivas casas. -- beijou uma das mãozinhas da menina -- Dia que você vai pra casa, bebê, vai pra casa... -- falava com voz fininha
--Mamãe e o Di vão depois disso, né? Como sempre. -- Cecília achou graça -- Esses aí se pudessem nem voltavam. -- voltou a prestar atenção no jogo -- Acho que Mastô também não.
--Goool!!! -- Ahmed Marcos gritava eufórico -- Empate, empate!
--Ahá, uhu, esse jogo é nosso, ahá, uhu! -- Aisha comemorava com Ahmed João, Catiúcia, Ahmed Lucas e Cidmara
--Fica na sua aí, fi! -- Zinara fingia ameaçar de cara feia -- Acabou não!
--É tão bom ver essa felicidade simples... -- Cecília comentou pensativa -- Antes eu não prestava atenção nisso, mas agora eu presto.
--Antes de que? -- Raquel perguntou de boca cheia
Gastou uns segundos calada antes de responder. -- Eu tenho frequentado um grupo de apoio à mulheres que tão saindo ou querendo sair da prostituição. -- olhou para as irmãs -- Elas contam suas histórias, dizem o que as levou pra essa vida e é cada coisa que eu não aguento e choro. Às vezes choro até em casa, quando lembro. -- acariciou a cabeça da sobrinha -- Muitas são HIV positivo ou sofrem com sequelas da sífilis e outras DSTs... -- pausou brevemente -- Sem querer, com o relato de seus dramas pessoais, aquelas mulheres me fizeram perceber o quanto sempre fui feliz e o quanto desprezei certas coisas tão importantes, como... -- olhou ao redor -- isso!
--Nossa, Cecília, que coisa linda! -- Clarice ficou feliz ao ouvir -- Eu nunca imaginei que você um dia se envolvesse em algo assim! -- sorriu -- Adorei saber e tô orgulhosa!
A mulher ficou feliz em ouvir.
“E eu que nunca imaginei Cecília se importando com alguém além dela mesma...” -- Raquel ficou pasma
--Goool!!!! -- Georgina comemorou excitada -- Primêru gol da minha vida! -- exclamou toda prosa
--É isso aí, maínha! -- Hassan comemorou
--Ô Janaína! -- Catiúcia reclamou
--Uai, gente, vocês são tudo perna de pau! -- a mulher se defendeu
--Tem jogo ainda, tem jogo! -- Adamastor batia palmas incentivando
Cidmara caiu na pequena área porque não viu Deodoro na frente dela.
--Olha us pênalti aí, seu juiz! -- Cid gritou batendo palmas
--Pênalti! -- Marco anunciou
--Olha esse gol aí, Ahmed! -- Zinara recomendou bem humorada -- Fica esperto que tá pra acabar. Dah mistagcil! (É urgente!)
--Eu também passei a dar valor a coisas que antes não valorizava tanto... -- Raquel decidiu confessar -- Como... à amizade de vocês. -- olhou timidamente para as irmãs
--Ai, que linda! -- Clarice puxou-a para um beijo no rosto
--Só te beijo se não vier me beijar também com boca de pequi! -- Cecília brincou ao beijá-la na testa
--Palhaça! -- achou graça
--Gooool!!!! -- Adamastor corria com Cidmara nos braços -- Gool!
--Hora di armoçu!! -- Amina apareceu na porta de casa batendo palmas -- Todu mundu indu si limpá modi cumê! -- ordenou sorridente
--Ai, que ótimo! -- Raquel se levantou de um pulo -- Vambora, gente, vocês ouviram!
“Mas à comida, com certeza, minha irmã sempre deu valor!” -- Clarice pensou bem humorada.
***
--Intonci foi assim qui acunticeu. -- Penha contava sua história para Cid -- Dipois qui ocê foi lá im Paulicéia modi mi pidi pra vortá, Zinara inda mi ligô e nóis proseimu foi é muitu. -- brincava com Yasirah em seu colo
--Eu só cunsigui sabê o paradêru docês pur causu dela. -- fazia um carinho bem vindo na cabeça de Cidmara -- Zinara pidiu ajuda pruma amiga danada di rica qui mora im Paulicéia e a muié discubriu ondi ocês morava. Num sei comu! -- Cid falou
O casal estava sentado na grama, cada um com uma criança no colo.
--E dipois Ahmed mi ligô também e Nagibe e Dora e dona Amina... -- Penha continuava com seu relato -- Pur fim, inté seu Raed mi ligô! -- pausou brevemente -- Cidmara chorava noiti e dia... Tivi muita dó dela. -- olhou para a filha dormindo no colo do pai -- Quandu mi dicidi pur vortá, viemu di ônibu. Pulandu di um im um, modi ficá mais baratu. -- lembrava da longa viagem -- Inté que descemu nu Gyn! -- olhou novamente para o marido -- Cunsigui uma carona inté o centrinhu da cidadi, mais cheguemu tardi e num tinha mais carroça pur causu dus feriadu. Intoci liguei pra cá, teu pai mi atendeu e um amigu di Ahmed foi buscá nóis nus mototáxi, num sabi?
--Avi Maria, qui viagi pra cansá! -- exclamou penalizado -- E comu qui Zinara sabia qui era ocês chegandu naquela hora das noiti?
--O amigu di Ahmed num sabia chegá aqui. Si perdeu pelus caminhu, foi um furdunçu! -- contava -- Aí eli ligô pra Ahmed e num sei o qui si prosiô aqui, mais Zinara veiu cum trem, tar di localizadô e foi issu.
--E presenti mió eu num pudia recebê! -- sorriu para ela -- Pur favô, Penha, prometi qui nunca mais vai simbora! -- segurou uma das mãos da esposa -- Um anu sem ocê e Cidmara foi dus pió castigu qui eu pudia recebê! Aprendi as lição!
--Eu num vô mais não... -- respondeu mansamente -- Mais num queru mais sofrê as humiação qui sufri... -- abaixou a cabeça
--Nunca mais! -- respondeu de pronto, levantando a cabeça dela pelo queixo -- Eu juru abaixu di Deus e im nome di meus ancestrár! -- falava com a verdade
--É muitu difícir perduá as traição... -- Catiúcia observava o casal mais ao longe -- Eu intendu qui Penha tenha idu simbora... dói muitu sabê qui o homi qui si ama troca as jura di amô qui um dia ti feiz, pur safadeza cum ôtra... -- falava mais para si do que para o marido
Ahmed se lembrou que um dia saiu de casa para tentar a sorte com outra mulher, tendo voltado atrás somente pela surra e desprezo que recebeu dos pais. Envergonhou-se profundamente daquele passado.
--Eu sei qui nu começu di tudu e pur um bão tempu fui um homi du pió tipu... -- assumiu -- E sei qui ocê aturô muita coisa... -- olhou para a esposa -- Mais eu mudei, aprendi as lição... -- pausou brevemente -- Num negu qui di quandu im veiz ficu afogueadu pur ôtras muié, mais num dô cabimentu, num dêxu anêim us pensamentu si ingraçá. -- segurou o rosto da mulher com as duas mãos -- Achu qui nunca ti pidí perdão pur todas as minhas bestagi, intonci peçu: mi perdoa? -- falava com humildade -- Ocê é a mió muié qui um homi pudia di tê, num sabi?
--Si num tivessi perdoadu num tava juntu docê faiz é tempu... -- respondeu emocionada
--Eu ti amu, Catiúcia! -- declarou-se verdadeiramente pela primeira vez -- E queru vivê mais ocê inté o infinitu tê fim! -- sorriu com os olhos marejados
--Avi Maria... -- beijaram-se apaixonadamente
--Homi, espia! -- Dora mostrou -- É Cid e Penha si bejandu, Ahmed e Catiúcia si agarrandu... -- surpreendeu-se com o que via -- Quê qui ôvi?
--Só farta nóis! -- Nagibe segurou a esposa pelo rosto e a beijou também
CAPÍTULO 186 – Nem Tudo se Pode Vender ou Comprar
Jamila palestrava na Assembleia Legislativa de São Sebastião. Muitas pessoas acompanhavam, inclusive manifestantes de diversas orientações políticas.
--Em várias partes do mundo, uma série de pessoas morrem por falta de acesso à água limpa. -- mostrava imagens em um telão -- Um estudo da Organização das Nações Amigas sobre a diarreia mostra que a cada três segundos e meio, no dito mundo em desenvolvimento, uma criança morre por doença transmitida pela água. -- olhava para os ouvintes -- E este cenário de infortúnios conta com nada menos que um verdadeiro cartel da água, que empreende um esforço imenso para assumir o controle dos estoques mundiais de água potável. Cartel este que incentiva, de forma velada, a privatização das empresas de águas e saneamento estatais, como tem acontecido aqui, em Terra de Santa Cruz. -- pessoas se agitaram em desconforto -- Dentro do espaço de duas gerações, a maioria das pessoas do planeta enfrentará séria escassez de água e os sistemas hídricos do mundo alcançarão um ponto crítico que poderá acarretar uma mudança irreversível, com consequências potencialmente catastróficas. -- mostrava mais imagens chocantes -- De acordo com cientistas respeitáveis, a maioria da população mundial já vive a 50km de uma fonte de água deteriorada, ou seja, uma fonte que está secando ou é poluída! -- apresentou um mapa mundi com várias localidades marcadas em vermelho -- O palco está sendo montado para uma seca sem precedentes, para a fome em massa e a migração de milhões de refugiados à procura de água potável. Toda Justiça e consciência do mundo não podem protelar esse futuro se a água faltar! -- falava de modo enfático
--Essa mulher não deveria estar um aqui! -- um político resmungou com outro mal disfarçando a revolta -- Vai acabar interferindo no projeto de aprovação da privatização da empresa de águas da cidade!
--Mas eu não tive como evitar! -- respondeu de pronto -- Ela tem peso e o pessoal da oposição emblocou votando a favor da exposição dela no dia de hoje!
--Todos os anos, mais pessoas morrem devido ao consumo de água salobra que por todas as outras formas de violência, incluindo a guerra. -- apresentou algumas estatísticas -- Aproximadamente 3,6 milhões de pessoas, 1,5 milhões delas crianças, morrem todos os anos de doenças relacionadas à água, incluindo a diarreia, febre tifóide, cólera e disenteria. -- mostrava mais gráficos -- Um bilhão de pessoas ainda defecam em lugares inadequados e 2,5 bilhões vivem sem serviços de saneamento básico. -- parou no centro da tribuna -- Estima-se que em 2030 mais de 5 bilhões de pessoas, ou seja, quase 70% da população mundial, correrá o risco de viver sem saneamento adequado.
--Não à privatização!!! -- um rapaz gritou
--Não à privatização!!! -- várias pessoas acompanharam o brado
--À ordem, senhores! -- o mediador se levantou e pediu seriamente -- Se houver tumulto na casa, os manifestantes serão convidados a se retirar! -- pausou brevemente -- Por favor, doutora Jamila, pode continuar.
--Obrigado, excelência. -- agradeceu educadamente -- Alguns países estão leiloando suas reservas de água potável para os interesses do cartel da água. -- denunciou -- Criaram-se mercados e bolsas de água, por meio dos quais licenças de água, muitas vezes de propriedade de empresas privadas ou agronegócios industriais, podem ser acumuladas, compradas e vendidas por quem tem condições de pagar. -- apresentou trechos de documentos internacionais denunciando tais práticas -- Ou seja, cada vez mais, camponeses, pequenos agricultores, comunidades indígenas e pessoas pobres do meio urbano ou rural se veem desprovidas de um recurso que é ESSENCIAL a um direito sagrado inalienável: o direito à vida! -- apresentou sua penúltima lâmina -- Países como Germânia, Gália, Godwetrust, entre outros, privatizaram empresas de águas e tiveram que reestatizá-las devido à queda na qualidade dos serviços, aumentos de tarifas e convulsões sociais geradas pela exclusão dos mais pobres ao direito à água. -- relatou -- Sei que há cidades em Terra de Santa Cruz que contam com serviços privados no que se refere à água, mas não são exemplos de qualidade nem preço, bem como contam com um número crescente de desassistidos, conforme essa imagem que os senhores agora veem. -- apontou para o telão -- Se existe um mínimo de consciência nos senhores presentes nesta Casa, não há justificativas cabíveis que embasem a privatização de qualquer empresa de águas e saneamento, as quais além de tudo, não geram qualquer prejuízo ao governo, como o diretor do sindicato da categoria correspondente nos apresentou na exposição que me antecedeu. -- mostrou a tela de finalização -- Obrigado!
(Nota da autora: a maior parte do conteúdo dessa palestra foi retirada integralmente do livro Água Futuro Azul, de Maude Barlow)
--Não à privatização!!! Uhuu!! -- muitos gritavam e os aplausos eram eufóricos
--Não à privatização!!
--Senhores, à ordem! -- o mediador pedia impaciente
--Mas que merd*, hein? -- um deputado aplaudia de má vontade
--Odeio esses intelectualoides de esquerda! -- outro resmungou de cara feia
Jamila sentia-se satisfeita.
***
--Doutora Jamila! -- um homem se aproximava quase correndo
--Pois não? -- respondeu educadamente apesar da desconfiança -- "E quem será esse?” -- pensou
--Será que poderíamos conversar, por gentileza? -- sorria -- Ainda não nos conhecemos, mas permita mudar isso. Eu me chamo Lisandro e estou encantado. -- fez uma saudação -- Sou assessor do deputado Silvano Fom, que se aproxima. -- indicou o homem
--Boa tarde! -- aproximou-se sorridente -- Já não tenho a ligeireza nas pernas que vocês, jovens, usam e abusam. Tive que pedir para Lisandro correr atrás da doutora porque não poderia perder a oportunidade única de conversar com a prodigiosa Jamila Haddad. -- queria ser simpático -- Aliás, deixe-me parabenizá-la pela excelente palestra! -- apertou a mão dela -- E que eloquência! -- elogiava -- Uma mulher jovem, bonita, culta e tão influente não poderia fazer por menos. -- olhou para o assessor -- Lisandro, por favor, chame o motorista e vamos levar a doutora Jamila para tomar um café conosco na Confeitaria Vespúcio! -- pediu
--Agora mesmo! -- sacou o celular
--Por favor, perdoe, não quero ser indelicada, -- segurou brevemente o braço de Lisandro -- mas não chame seu motorista por causa disso. -- pediu -- Eu realmente tenho um compromisso pra daqui a pouco. -- olhou rapidamente para o relógio -- Infelizmente não poderei desfrutar da companhia dos senhores. -- recusou o convite -- "E com toda essa conversa fuleira boa coisa não devem querer!” -- pensou
--Oh, claro que sua agenda não pode ser folgada. -- Silvano respondeu meio sem graça -- Mas podemos ainda assim conduzí-la até o seu destino e conversar enquanto isso, por que não? -- ofereceu
--Eu agradeço mas já estou de carro. -- novamente recusou
--Bem... -- tirou do bolso do paletó um cartão de apresentação e entregou a mulher -- a senhora pode entrar em contato comigo quando quiser. -- sorriu mais uma vez -- E daí conversamos.
--E sobre o que o senhor pretende conversar comigo? -- perguntou desconfiada -- "Não confio nesse tipo!” -- pensou imaginando o pior
--Adiantando um pouco do assunto. -- olhou discretamente para todos os lados -- Acho que podemos acomodar nossos interesses de forma... satisfatória.
--Interesses? -- reparava no homem
--Ora, doutora, -- Lisandro interferiu -- a senhora e seu escritório têm se mobilizado intensamente contra as privatizações e nós... -- reparou em quem passava -- não vemos a situação de forma tão... eu diria... -- pensou antes de dizer -- radical.
--Eu diria, apaixonada. -- Silvano corrigiu seu assessor -- Radicalismo é coisa pros ignorantes. -- sorriu
--Olha, deputado Silvano, -- devolveu o cartão que acabara de receber -- seja lá a proposta que o senhor tenha a me fazer, -- deu um tapinha no paletó do homem -- não estou interessada. -- preparou-se para partir
--Acho que se a doutora ouvisse o que está envolvido mudaria de ideia. -- Lisandro argumentou fazendo sinal discreto com os dedos para indicar dinheiro
--Sou como as águas devem ser, senhor Lisandro: -- olhou rapidamente para o homem -- não posso ser comprada por cartel algum. -- pegou os óculos escuros -- Passar bem! -- colocou os óculos e partiu resoluta
--Acho que deveríamos ter usado uma abordagem mais sutil, deputado. -- o assessor respondeu contrariado
Silvano ficou observando Jamila ir embora e não disse palavra.
CAPÍTULO 187 – Até a Próxima
Ahmed observava Ahmed João arrumar suas coisas na mala. Ao perceber que o filho terminou, sentou-se na poltrona e o chamou: -- Fio, senti aqui. -- indicou um lugar em frente a si -- Queru tê um prosiadu di homi pra homi cocê!
João ficou todo prosa. “Primêra veiz que baba mi trata comu homi e não comu mininu!” -- pensou e fez como pedido -- Tô ouvindu, baba! -- aguardava para saber o que seria
Olhou profundamente para o rapaz. -- Ocê é meu fio mais véio. Tá cum 16 anu e tá dexandu di sê mininu pra si torná homi. -- debruçou os cotovelos sobre os joelhos -- Eu quiria qui ocê sobéssi qui tô cum orguio tão grandi, mais tão grandi qui ocê vai morá nu Gyn cum Aisha e Janaína modi istudá na Escola Técnica, qui nem sei dizê! -- percebeu que o jovem ficou todo prosa -- Ocê viu qui teu primu passô nus concursu, daí também meteu a cara nus istudu e passô! -- sorriu -- Agora vai si juntá mais eli modi istudá!
--E vô levá a sériu iguar Hassan tá levandu! Prometu, baba! -- respondeu com sinceridade
--Eu sei qui vai. -- acreditava -- Mais eu tenhu uns conseiu pra ti dá, num sabi? Sô teu baba e tenhu obrigação di ti orientá!
João balançou a cabeça concordando.
--Ocê vai tê muitu respeitu im casa di Aisha e Janaína. E num vai dizê palavra amarga ô ruim sobri us relacionamentu delas. -- falou seriamente -- A casa é delas e as ordi qui elas dé, ocê vai cumprí!
--Vô sim, baba! -- concordou
--E si ocê, Hassan, Rebeca e ôtrus jóvi quisé saí, vai vortá nas hora qui elas mandá! Nada di ficá im farra e chegá nas madrugada fazendu furdunçu! -- advertiu
--Vô fazê furdunçu não... -- balançou a cabeça negativamente
--Ói, as tentação vão aparicê, intão ocê tenha tinu! Num vai si invorvê cum droga, cum fumu, cum bebedêra, modi num ficá viciadu, duenti e jogandu fora tua saúdi a trôcu di nada! -- aconselhou
--Eu num vô prová dessis trem! -- garantiu -- "Deus mi livri!” -- pensou
--E im relação às môça... -- abaixou a cabeça brevemente -- Eu num vô mintí, ocê sabi qui teu baba foi um mulherengu mintirosu e si meteu im um monti di problema... -- admitiu com certa vergonha -- Na época eu tinha mó orguio dissu, hoji veju o quantu eu era um sujeitu mulequi. -- pausou brevemente -- Ocê vai ficá tentadu a corrê atrais di um bandu di minina, purque us ôtro rapaiz vão ficá contandu vantagi, vão dizê qui beijaru uma, si deitaru cum ôtra, passaru a mão im num sei quem... mais num vai nessa cunversa, não. -- olhava para o filho -- Si ocê gostá di uma môça, dê um jeitu di dexá ela sabê e num minta. Num fica cum várias ao mesmu tempu, num prometi o qui num pódi cumprí, num diz qui ama sem amá, num veja as minina comu um corpu bunitinhu procê usá. Vê elas cum o mêis respeitu qui ocê qué sê vistu e qui ocê qué qui si veja as muié da famia.
--Tá certu, baba! -- novamente concordou
--Também num seji trôxa. Tem muié safada, tem muié qui menti... num intrega teu coração pra quarqué uma. Tem tinu!
Ahmed João continuava concordando.
--E mêis qui bata aquela vontadi doida di si deitá cum a minina, tem cuidadu. Eu sei qui a genti fica afogueadu, mais num vai fazê us trem sem pensá, sem cuidadu, modi num tê problema, num si arrependê e nem tê mininu antis da hora!
Ao ouvir aquilo, João pensou e depois de uns segundos calado perguntou à queima roupa: -- Purque ya said (o senhor) feiz issu, tevi eu e si arrependeu? -- tinha uma certa mágoa em seu tom
Ahmed percebeu aquele sentimento mal disfarçado e resolveu contar o que aconteceu no passado. -- Quandu eu cunhici tua maama, achei ela linda! -- lembrava -- E ela era difícir, nunca qui tinha namoradu, e eu butei na cabeça qui ia namorá ela e fazê dela muié. -- confessou -- E eu mintí muitu, prometi um monti di trem qui nunca ia pudê cumprí e quandu sôbi qui ela tava di barriga, já tava inté mi ingraçandu cum ôtra. -- pausou brevemente -- Eu levei uma bronca di baba, qui dissi qui eu tinha qui casá cum ela, mas tua maama tava tão maguada cumigu, qui ela num quis sabê. E eu bem qui gostei, purque quiria cuntinuá nas farra, num sabi? -- respirou fundo -- Eu num era sujeitu homi, eu num era decenti, eu num valia nada quandu ninhum docês nasceu! -- afirmou com os olhos marejados -- Mais dipois eu aprindí o que é sê um baba, aprindí di verdadi, nu meu coração, -- bateu no peito -- pra nunca mais mi isquecê! -- derramou uma lágrima -- Ocê e teus irmão são os mió presenti qui eu pudia tê ganhadu. Deru sintidu pra minha vida, mi fizéru finarmenti aprendê a sê sujeitu homi! -- pausou um pouco para controlar a emoção -- Eu amu cada um docês e morru di orguio di sê pai. E ocê, meu fio mais véio, é tudu qui eu sempri quis sê e nunca qui fui! Intonci num pensi qui mi arrependí! Nunca!
--Eu tenhu muitu orguio di sê seu fio! -- declarou igualmente emocionado
--Vem cá, mininu! -- levantou-se e abriu os braços
--Eu nunca vô lhi dá disgostu, baba! -- abraçaram-se apertadamente
--Eu sei, meu fio... eu sei... -- fechou os olhos emocionado
***
Zinara, Clarice e Leda estavam no aeroporto de São Sebastião. A astrônoma aproveitava os últimos minutos antes de cruzar o portão de embarque.
--Eu vou deixar vocês conversarem a sós pra se despedir. Só vou dar um abraço nessa caipira danada. Vem cá, menina! -- Leda falou ao abraçar a outra -- Ah, minha filha! Vai com Deus, se cuida e que a gente se veja logo, porque vou sentir saudades!
--Eu também vou, ya Leda! -- abraçava-a com carinho -- Amo ya sayyida (a senhora)! -- deu um beijinho na cabeça dela
--Também amo você, menina! -- segurou o rosto dela com as duas mãos -- É minha genra preferida! -- sorriu
Zinara e Clarice ficaram todas prosa.
--Agora vocês conversem aí que eu vou dar uma olhada nessas loja cara de aeroporto. -- olhou para a filha -- Vê lá se não vai ficar de lambição no meio do povo e nem de rabichola empinada porque isso dá a maior bandeira! -- advertiu
--Mamãe?! -- exclamou envergonhada
--Fui! Qualquer coisa me manda um QQOV?! -- saiu andando
A astrônoma achou graça. -- Ai, ai, ya Leda... -- balançou a cabeça divertida e suspirou -- Agora é nós, Sahar... -- não sabia o que dizer
Clarice gastou uns segundos calada até que comentou: -- Eu já tava acostumada com você no meu cotidiano... -- pegou uma das mechas do cabelo da outra -- Depois de dois anos com você vivendo na mesma cidade que eu, tão pertinho, ter que te ver partir agora é... -- brincava com o cabelo da namorada -- Quando é que eu vou ter você do meu ladinho de novo, hein? -- derramou uma lágrima
--Own, ya bajat al-rouh (prazer da minha alma), não chore... -- secou suavemente aquela lágrima -- A gente vai fazer aquele programa de pós virar realidade, eu sei! -- falava com convicção -- E daí você virá pra viver comigo... we msiro 7ayib2a 3elm! (e isso acontecerá rápido!)
Olhou nos olhos da amada. -- Vou morrer de saudades! -- controlava-se para não chorar -- Eu fiquei muito feliz por seu pós doc ter sido bem aceito, apesar de todas as polêmicas e de ninguém ter detectado o Planeta Nove, mas ao mesmo tempo fiquei triste por saber que era sinal de que você iria embora... pra longe de mim...
--Longe apenas fisicamente, porque meu coração e meu pensamento estarão sempre com você! -- respondeu de pronto -- Eu tenho certeza de que em breve estaremos juntas e kol mada tihla el haya! (e todo dia a vida ficará melhor!) -- também controlava as emoções
--Mas quando? -- queria saber
--Laa acrif (Eu não sei), mas... Ana mutafaa'il! (Eu sou otimista!) -- segurou as duas mãos da amada -- Mês que vem você vai pra Rossiya tratar do programa de pós! Tenho fé, tenho certeza, de que essa viagem e as negociações que o pessoal de Paulicéia tem conduzido com os pesquisadores da Cina vão fazer com que o consórcio se estabeleça! Até esse governo interino de Terra de Santa Cruz já sinalizou positivamente! -- argumentava -- Afinal de contas eles querem ficar bem na fita com o bloco econômico que tá sendo envolvido nesse projeto e aí, vale tudo. Eles não têm que fazer nada mesmo! Só dizer sim e pousar pra foto! -- brincou
--É, não vão entrar com dinheiro... -- suspirou -- Mas hoje ainda começa abril...
--Macleech! (Não se preocupe!) Tudo vai dar certo! -- acariciou o rosto dela -- Tivemos a felicidade de passar a Páscoa juntinhas mais uma vez! -- sorriu
--Passageiros do voo 2134, com destino a Cidade Restinga, embarque autorizado pelo portão 28! -- a voz da comissária se fez ouvir
--Sahar, tenho que correr! -- despedia-se com pena de partir -- Ainda me falta passar pelo raio X e correr pelo aeroporto afora! -- brincou
--Eu sei... -- abraçou-a com força -- Te amo, meu amor! -- sussurrou no ouvido
--Ana fy knt, wknt fy ly wAllah fyna! (Eu em você, você em mim e Deus em nós!) -- sussurrou também -- Amor da minha vida! -- beijou-a na testa e se desvencilhou com pesar -- Macasalaama! (Até logo!) -- deu um sorriso triste
--Macasalaama! (Até logo!) -- repetiu a saudação com os olhos marejados
--Smalla'Alik! (Deus proteja você!) -- lançou-lhe um último olhar antes de sair apressada para não perder o voo
--Ai, ai... -- suspirou -- Esse consórcio tem que dar certo! -- falava sozinha -- Senão como é que...? -- começou a chorar -- Eu não queria mais ter que me despedir de você, Zinara... -- falava sozinha
“Consegui passar rapidamente pela inspeção porque me deram prioridade, Kitaabii (Meu Livro). Estava a ponto de perder o voo. Eu corria pelos corredores com os olhos embaçados pelas lágrimas que a despedida me trazia...
Oh, Aba, me perdoe ousar pedir-Lhe algo depois de tudo que já me Destes, mas, eu Vos imploro: que seja a última vez que tive de me despedir de minha Sahar antes que os olhos da carne se fechem...”
CAPÍTULO 188 – E no Mundo Tereis Tribulações
“Al-Bukamal. ‘Abriil (Abril).
Amanhã pela madrugada partiremos desta cidade, possivelmente para nunca mais voltar. Após tempos de intensas movimentações, conseguimos convencer a quase todos os clãs que habitam este prédio a juntar suas reservas financeiras e fugir para Cedro. Apenas os Al-Maktoum ficarão, pois consideram que somos loucos. Não sei, talvez eles tenham razão...
Tudo começou com a visão que Khalayla e ya Kira tiveram do tal santo. Logo depois sonhei com um momento vivido ao lado de baba e isso me fez concordar em fugir daqui:
“--Tenha fé, bintii (minha filha), sei que nossa vida tem sido amarga, mas ana elly tool omry baqool el hob omro taweel (eu sou aquele que sempre disse que o amor vive para sempre). O amor de Allah nos salvará! -- tocou o rosto dela -- Sonhei que migraríamos para outro país e que minha neta seria uma grande mulher! -- olhou novamente para a garotinha -- Algo de bom vai acontecer, eu sei que vai!
Sara se surpreendeu ao ouvir aquilo. -- Juro que sonhei com uma viagem para um destino bem longe daqui. -- sentiu uma ponta de esperança -- Será que teremos uma chance de viver uma vida digna?”
Certo que baba se foi e não migrará para país algum, certo que Cedro não é um destino tão longe de Suriyyah como aquele que sonhei, porém não sei se é o desespero que nos leva a crer no impossível, mas eu decidi acreditar que deveríamos partir.
A história é longa e quase inacreditável, mas Ya Emir conseguiu acionar um de seus ex empregados, que migrará conosco e sua família, e iremos disfarçados de humildes camponeses traficados para trabalhar no que resta das lavouras de Cedro. É até engraçado e ao mesmo tempo ridículo; veja como são as coisas... para fugir dos horrores desta guerra e do Estado Radical, seremos voluntariamente traficados junto com pobres camponeses de origem Awazid para outro país. E o que será quando chegarmos lá? Laa acrif... (Eu não sei...)
Tekonshy de nehaity w a5er 2osety (Este deve ser o meu fim e o fim de minha história), mas eu prefiro morrer livre a viver o resto de meus dias nesta prisão. La2etny kebert faj2ah-kebert (De repente me torno mais e mais velha), o sofrimento envelhece, maltrata, desgasta. Mas por Safia, e somente por ela, minha alma clama desesperadamente gritando: Ana baddi gheish! (Eu quero viver!)”
--Isso é loucura! Não deveríamos ter vindo! -- Hasher resmungava de cara feia -- Sou médico, tinha uma vida boa! E agora temos o que? -- gesticulava -- Entregamos todo nosso dinheiro para traidores dentro do Estado Radical e para que? Para que eles nos entregassem a traficantes de escravos por nosso próprio pedido! -- falava com mágoa -- E agora seguimos para Cedro espremidos nessa boleia de caminhão velho, sujo e quente, junto com miseráveis camponeses Awazid! Ralã! -- exclamou com nojo -- Bem fizeram os Al-Maktoum que se recusaram a vir!
--Tinha uma vida boa?? -- Emir desafiou incrédulo -- Isso foi antes da guerra começar, rapaz! Depois que o Estado Radical tomou nossa cidade, quem aqui tinha uma vida boa? -- gesticulou também -- Eu perdi meus filhos, meus negócios e vi meu clã reduzido a poucas pessoas! -- ajeitou-se como pôde -- Pare de reclamar e fique quieto, pois não quero ser descarregado deste caminhão por sua causa! Sa'ban ‘alay (É difícil para mim), é difícil para você, é difícil para todos nós!
--Eu era engenheiro e também perdi tudo que tinha! Naquele prédio não estávamos vivendo, apenas sobrevivendo e muito mal! -- Kudsi concordou com Emir -- Não queria ficar esperando pelo dia em que minha mulher ou filha fossem violadas por soldados vindos de qualquer lugar! -- olhou para as duas -- El jar7 yally ma3aya zay delly... (A dor segue comigo como minha sombra...)
--Acabou! 5alas ma ba2ash fadely, 3'air jar7y w dam3ety... (Acabou, eu não tenho nada além de minha dor e lágrimas...) -- Fátima afirmou pesarosa -- A vida não se lembra que fui veterinária e tive um passado tão feliz! -- olhou para os demais -- Não me incomoda virar camponesa em Cedro; é melhor que ser escrava do terror ou ver algum de meus filhos se rendendo a isso!
--Ya Hana, por que às vezes eu tenho vontade de ser um soldado bomba? -- Kalil perguntou para mulher ao seu lado -- Não seria mais fácil explodir os malditos do Estado Radical e morrer se juntando aos que já se foram para perto de Allah? -- o menino perguntou aos sussurros -- Ya donia tafity sham3y... (Ou vida você soprou minha chama...) -- lamentava sentindo-se uma vela apagada
--Nunca, nunca mais pense nisso um dia sequer! -- Hana repreendeu com firmeza mas sem agressividade -- A vida é o dom mais precioso que temos e não deve ser desperdiçada desta forma! -- olhava para ele -- Di 7kaytak ghenwa lazim tekammal! (Sua vida é uma canção que deve ser completa!) -- sorriu
--Humpf! -- Mustafá prestava atenção na pequena conversa -- Di 7kaytak ghenwa lazim tekammal! (Sua vida é uma canção que deve ser completa!) -- repetiu com certo desprezo -- Mulheres e suas conversas! -- fez um gesto -- Por isso que embarcamos nessa loucura, por ouvir as mulheres! -- olhou para os demais -- Eu não sei onde estava com a cabeça quando aceitei aquela história de santo! Nem na escola em que trabalhei os alunos eram tão criativos! -- o homem era professor
--Mulheres não somos idiotas, ya Mustafá, e tampouco ya Kira e Khalayla são loucas! -- Sara argumentou com sua filha no colo -- Olhe para si mesmo e veja nossa realidade: somos um bando de miseráveis com os dias contados nas mãos do Estado Radical. Qual a diferença entre nós e os camponeses Awazid neste e no outro caminhão que nos segue? Nenhuma! Apenas tivemos mais instrução acadêmica e só! -- pausou brevemente -- Se é para morrer, que seja em busca da liberdade!
--Que liberdade? -- Leila retrucou imediatamente -- Seremos escravos em Cedro! -- riu nervosamente -- Eu, uma artista plástica, escravizada no campo... somente meu marido para me fazer aceitar isso... Aamal aeh? (O que eu deveria fazer?)
--Eu não sei o que será em Cedro, mas a vida me ensinou que tudo pode mudar! -- Khalayla respondeu cheia de fé -- Ala hasb wedad albik! (Tudo depende do seu coração!) -- olhou para o filho
--Vocês falam demais! -- Kira afirmou simplesmente -- Eu era cerimonialista, organizei casamentos e festas para a fina flor de Suriyyah! Meu marido era dono de dois grandes frigoríficos e exportava carne para vários países. -- olhou para o grupo -- Hoje o que somos? Dois velhos miseráveis com um neto para criar! -- referia-se a Kalil -- A vida mudou, gostem ou não! E nunca mais será como era antes, entendam isso! -- deu um suspiro profundo -- Eu não sei o que vai acontecer conosco, mas, digam que sou louca, awwel farHa tmorr be-'albii (esta é a primeira felicidade que passou pelo meu coração) depois de tudo que houve. Sinto-me viva de novo! -- segurou a mão de Emir e a de Kalil -- Vamos orar, pois Allah é o único amparo que podemos ter em uma hora como esta!
Os demais ficaram quietos e se entregaram à oração porque seus corações angustiados precisavam de algum conforto. Seguiram sua desconfortável e angustiosa viagem sem dar mais uma palavra sequer.
***
Perto da fronteira com Cedro, os dois caminhões pararam e todos desceram para esticar as pernas e respirar um pouco melhor. Os traficantes se reuniram em uma posição mais afastada dos grupos que transportavam e começaram a discutir nervosamente. Trocaram informações por rádio com alguém e poucos minutos depois convocaram as pessoas para que se reunissem e um deles começou a falar em voz mais alta:
--Vocês estão com sorte! -- olhava para todos -- Soubemos que Godwetrust, Saxônia e Gália acabaram de bombardear Suriyyah em retaliação ao presidente e a região de Al-Bukamal foi quase toda destruída! -- mirou um ponto no infinito -- Yixrib beitak!! Wa-beit illi xallafuuk!! (Meu Deus vai destruir sua casa! E a casa daqueles que deixaram você nascer!!) -- amaldiçoava o presidente de Godwetrust
--Smallah! -- muitos disseram tristemente surpreendidos
--Oh, Aba, você ouviu, Raissa? -- Hasher olhou angustiado para a esposa -- Os Al-Maktoum, devem estar todos...
--Mortos! -- a mulher completou com os olhos marejados
“Todos ficaram em choque ao ouvir as notícias sobre o bombardeio. Agora estava claro que graças às orientações do santo no qual Khalayla tanto acreditava, foramos poupados da morte inesperada pelas mãos daqueles que dizem querer nos salvar. Daqui para diante, creio que ninguém mais dirá uma palavra amarga ou pesarosa quanto ao fato de termos aceitado este êxodo que a violência nos impôs. Tudo mudou, não há como não ver!
Cedro, teu solo nos aguarda!
Sara Houssani”
***
Rosa chegava cansada na creche para buscar seus filhos. Era sempre a última das mães, o que aborrecia determinadas funcionárias.
--Sempre atrasada... -- a mulher fazia cara feia -- Um dia você vai chegar aqui, dar com a cara na porta e encontrar teus filhos aí, sentados no chão! -- ameaçou mal humorada
--Disconjuro! -- retrucou ao se benzer -- Se chego tarde não é por fuleiragem mas porque os ônibu demora! -- colocava os meninos no colo e pegava as coisas
--Então aprende a pegar eles mais cedo, porque ninguém aqui é funcionária tua! -- esperava a jovem sair para fechar o portão
“Ela acha que é assim, que a gente sai do trabalho na hora que quer!” -- pensava de cara feia
Tão logo Rosa saiu da creche com seus filhos e bolsas, ouviu o som do portão sendo fechado atrás de si e a voz da funcionária do local se queixando dela. Caminhando rapidamente, ganhou a rua com destino à pobre casa em que vivia.
Desde que fora obrigada a deixar a casa de Egenilto e Geraldina por ordem do filho deles, sua nova moradia era um casebre que uma senhora da igreja do casal alugava para ela. Rosa agora trabalhava na casa de outra família, também da igreja, e deixava os filhos na creche municipal localizada à curta distância de onde morava. O minguado salário que recebia era quase todo consumido no aluguel e com passagem de ônibus. Após um breve período de felicidade e paz em sua vida, via-se novamente passando por duras tribulações.
--Ei, moça, você! Sa menina! -- uma mulher vinha correndo atrás dela -- Ei, Rosa!
A jovem olhou para trás desconfiada. -- De onde conheço essa? -- achou que já havia visto aquela mulher em algum lugar
--Você anda rápido! -- aproximou-se sorridente -- Quer ajuda? Levo um menino seu no meu colo. -- ofereceu solícita -- Sei que você mora ali perto do Almeirão e tô indo pra lá também.
--Se quiser levar essa bolsa aqui, fico agradecida. -- preferiu -- "E eu que vô deixar meus filho em colo de quem não conheço, nada!” -- pensou -- Mas nós se conhece da onde mesmo? -- perguntou sem se lembrar
--Da creche, não lembra? Marilene! -- pegou a bolsa da outra -- Eu era contratada e fazia limpeza lá. -- voltaram a andar -- Mês passado pedi as conta e piquei a mula. -- contou
--Hum... -- não sabia o que dizer
--A vida tava muito dura, fia! -- gesticulava -- Acordava cedo, ficava esperando ônibus, que já vinha cheio, trabalhava o dia inteiro limpando aquela creche, saía tarde, chegava mais tarde ainda em casa... Todo dia era assim! -- olhou rapidamente para a outra -- Quase não ficava com minha filha, ganhava uma merreca da empresa contratada da prefeitura e não tinha vida! Nem dinheiro pra fazer uma unha eu tinha! -- passou a mão nos cabelos -- Agora a vida tá outra! -- contava
--Mas é. -- reparava discretamente na outra -- "De fato ela tá diferente. Nem me lembrei dela; tá mais bem tratada!” -- pensou
--Sabe, mulé, todo mundo naquela creche te conhece! Rosa, sempre a última das mãe a chegar, a única com dois menino gêmeo, a que tem mais jeito de passar aporrinhação na vida... -- continuava gesticulando -- Eu tava só te esperando. Pensei em te ajudar. Conversei com minha patroa a teu respeito e ela me mandou vir falar contigo.
--Oxe, me ajudar?? Falou com sua patroa?? -- não entendia aquela conversa -- Avalie! Como assim, me ajudar?
--Você não tá vivendo bem, que eu sei. -- ignorou a reação da outra -- E não vai ser faxinando em casa de família que vai melhorar!
--Eu não tô entendendo essa conversa! -- parou de andar e olhou seriamente para a mulher -- Como você sabe que eu trabalho em casa de família? -- queria saber
--Ô, mulé, tu é lesada mesmo! -- respondeu sorridente ao parar de andar -- Quem te arrumou vaga na creche lotada? Pastor Everaldo, a pedido dos teus antigos patrões. -- cruzou os braços -- Todo mundo lá sabe que o filho deles te expulsou da casa dos véio e que por isso você trabalha em casa de outra família pra ganhar o pão de cada dia.
--Vôti! -- surpreendeu-se com o que ouviu
--E, cá pra nós, -- aproximou-se um pouco mais -- algumas de nós naquela creche até sabe que você já foi mulé da vida e saiu de Arapiçava com esses dois menino pra tentar a sorte aqui em Cidade Restinga!
Rosa ficou ainda mais surpresa e ao mesmo tempo triste. Como pode ter confiado sua intimidade a pessoas que a deixariam exposta daquela forma? -- Olhe só, me dê minha bolsa que daqui eu sigo meu rumo só com meus menino, não careço de ajuda tua, não! -- quis pegar a bolsa que a outra carregava
--Você tá entendendo tudo errado. -- afastou-se da jovem -- Eu quero te ajudar, não é te julgar! -- falava com gentileza
--Me ajudar como? E eu não tô gostando dessa conversa fuleira! -- sentia-se constrangida
--Larga dessa vida de cão e vem trabalhar com dona Milu, igual eu fiz! -- falava com voz mansa -- Pra quem foi mulé da vida em Arapiçava se deitando com os cabra mais sujo do mundo, raparigar com dona Milu vai ser fichinha! -- foi direto ao ponto -- Ela só aceita clientes selecionados, os programa paga bem e ainda tem um salãozinho que dá uma verdadeira garibada no visual da gente! -- mostrou as unhas e agitou os cabelos -- Você é novinha, jeitosinha, em dois tempo ela te deixa nos trinques! -- sorriu
Rosa voltou a andar sem dar uma palavra. Marilene continuou a seguir a seu lado falando maravilhas sobre as oportunidades proporcionadas por dona Milu.
--Oh, akhuuya (meu irmão), não podemos deixá-la se prostituir de novo! -- Khaled falava agoniado -- Da primeira vez ela não teve culpa, foi obrigada por seus pais! Agora ela não pode aceitar voltar praquela vida por vontade própria! -- guiou sua atenção para Marilene -- Karaahiyya! (Que ódio!)
--Livre arbítrio, Khaled! -- Youssef respondeu mansamente -- Se Rosa assim desejar, não podemos interferir. -- explicava -- Você não viu o que aconteceu com o clã dos Al-Maktoum? Lissa faker? (Você lembra?) Não quiseram fugir para Cedro com os outros e por fim pereceram no último covarde bombardeio sobre Suriyyah. -- olhou para o irmão -- Não odeie Marilene. Ela é apenas mais uma vítima e realmente crê que esteja fazendo um bem em descortinar as portas da lascívia para a jovem Rosa poder proporcionar uma vida melhor para si e para os filhos que têm.
--Laa... (Não...) -- negava-se a aceitar -- A ajuda virá, ela não precisa disso! -- sentia vontade de chorar -- Respeitar o livre arbítrio... khayef mawsalsh... (eu receio que não farei isso...) Eu não consigo! -- balançou a cabeça nervosamente -- Quando aprenderei a aceitar os caminhos que nossos amados trilham com seus próprios pés? -- perguntava mais para si mesmo que para o irmão
--Da su2al we gawabu 3alik enta! (Esta é uma questão que você tem que responder!) -- preparou-se para partir -- Vamos orar para que Deus a ilumine quanto ao que fazer. No mais, a decisão cabe somente a ela. -- derramou bons fluidos sobre as duas mulheres e as crianças -- Yaalah! (Vamos!) Somos aguardados em outro lugar.
Os dois irmãos partiram do espaço astral de Cidade Restinga deixando Rosa sob seus próprios pensamentos.
***
Zinaria jazia na cama após uma abestalhante massagem de Akemi. -- Ô, Aba, dai-me forças que a caipira tá que é só o quimba... -- sentou-se em câmera lenta -- We att sharad wayah Il afkar... (Meu cérebro é incapaz de se concentrar...) -- passou a mão nos cabelos arrepiados -- Ave Maria!
--Akemi no entendi quase nada, né? -- guardava suas coisas dentro da malinha
Respirou fundo antes de começar a falar. -- Eu precisava dessa massagem com urgência! -- esticou os braços e pernas -- Esse primeiro mês de volta à Universidade foi de matar! Aulas, alunos, projetos, bolsas, burocracia... e mais as centenas de e-mails que sempre recebo dos meus “haters”... -- falava mais para si do que para a outra -- "E agora que vou receber de volta a chefia do departamento, vai ficar pior! Tenho que estar preparada pra encarar o ritmo de novo quando assumir!” -- pensou
--De todas as vezes que Akemi atendeu Zinara, este foi melhor. No tava tão contundida, né? -- sorriu para a outra
--É... eu acho... -- levantou-se devagar -- Mas foi bem difícil conseguir agendar, viu? Ya sayyida (A senhora) anda ocupada por demais da conta! -- sorriu para a fisioterapeuta
--Muito cliente na horta de Akemi! -- respondeu satisfeita -- E mais obra na minha futura clínica. Em junho abre, né? -- anunciou
Zinara se surpreendeu com a novidade. -- Clínica? Não sabia que ya sayyida tava nesse nível! -- caminharam para a porta de saída -- Mabrook! (Está de parabéns!) -- ficou feliz com a notícia
--Tem que agradece Zinara! -- a pequena mulher olhou para a astrônoma -- Desde que fez massagem em síndica Julieta, vida de Akemi mudou. -- contava -- Muito, muito cliente da igreja dela procura massagem, tratamento, moxa, então agenda de Akemi não para! Fez dinheiro, agora montando clínica, né? -- sorriu -- Agora vai atender mais uma! Tchau! -- despediu-se e foi embora
--Macasalaama... (Até logo...) -- despediu-se surpreendida -- “E desde a tal massagem, nunca mais soube de ya Julieta inventar moda nenhuma pra esse condomínio!” -- pensou -- Deixa eu ficar quieta pro trem não desandar. -- fechou a porta da sala e olhou para o relógio -- A essa hora minha Sahar deve estar chegando na Rossiya... -- falou consigo mesma -- Tamally waheshny! (Sinto muitas saudades!) -- suspirou apaixonada -- Bem, deixa eu ir dormir... -- seguiu para o quarto
Em poucos minutos, fortes batidas na porta se fizeram ouvir. -- Zinara, abra, sou eu, Julieta! -- anunciou-se -- A melhor síndica da história deste país!
--Pra que eu tinha que pensar nessa criatura? -- resmungou dentro do quarto -- Invocar coisa ruim, olha no que dá! -- pôs as mãos na cintura contrariada
--Zinara!! -- continuava batendo -- Atenda! -- tocou a campainha
--Dah JaHiim! (É um inferno!) -- voltou para a sala -- De todas as tribulações que me restaram, ya Julieta é a pior! -- resmungava
--Zinara!! -- insistia
--Masaa Il-kheer! (Boa noite!) -- cumprimentou com seriedade ao abrir a porta -- Isso são horas, ya Julieta? Quase dez da noite e essa barulheira na minha porta! -- reclamou contrariada -- Achcur bi-tacb... (Sinto-me cansada...)
--Fique mansa que a coisa é rápida! -- entrou na casa da outra como um foguete -- Além do mais eu vi a santa Akemi saindo daqui, então tinha certeza de que você estaria acordada! -- sentou-se no sofá
“Santa Akemi?” -- pensou sem entender ao fechar a porta -- Se ya sayyida (a senhora) veio aqui pra falar de aumento de condomínio, taxa extra ou qualquer trem do tipo, -- caminhou lentamente até a poltrona e se sentou -- saiba que...
--Não tem nada a ver com isso! -- interrompeu-a sem demora -- O condomínio anda igual minha coluna: um espetáculo! -- gesticulou -- Não precisamos de um centavinho a mais! -- esclareceu -- O que vim tratar com você é outra coisa!
--E o que seria? -- perguntou desconfiada -- "Sabe que ya Julieta parece até que cresceu?” -- prestava atenção na outra -- "Santa Akemi e sua massagem milagrosa! Se eu soubesse que o segredo era esse, tinha colocado ela pra espichar essa síndica há muito mais tempo!” -- pensava
--Há muitas moradas na casa de meu Pai! -- anunciou solene -- E a obra do Senhor requer obreiros em todos os lugares. -- cruzou as pernas -- Depois de todo trabalho bem feito junto ao rebanho de Cidade Restinga, eis que chegou a hora de preparar os caminhos em Maraguaó!
Não entendeu. -- E isso quer dizer o que?
--Que eu vou me mudar pra Maraguaó e pretendo viver ali até o fim de meus santos dias. -- respondeu de pronto
--Choo?? (O que??) -- arregalou os olhos -- "Ela vai se mudar, não acredito nisso!!” -- pensou eufórica
--E como este condomínio tem que se manter em ordem, apesar de todas as nossas divergências, cheguei a conclusão que você é a única pessoa que pode me substituir como síndica. -- olhava para a astrônoma -- Pretendo te indicar pra minha base eleitoral nas eleições de outubro.
--Ah... -- estava sem palavras
--Vejo que a resposta é sim! -- levantou-se de um pulo -- Agora vou cuidar da vida pois os dias passam voando! -- caminhou até a porta da sala -- Trate de ir se preparando pois a passagem de serviço será intensa! -- advertiu
“Ô, danação que vai ser isso...” -- pensou revirando os olhos -- Imagino! -- levantou-se lentamente e seguiu até a porta -- “Mais uma bomba no meu colo! Ya sheen theek izziwaya? (O que será de mim?)” -- pensou antevendo o pior
--Ser síndica não é pra qualquer uma! -- continuava falando -- É vencer muitas tribulações padecendo no paraíso! -- gesticulou
“Eu hein!” -- pensou fazendo um bico -- Depois conversamos sobre esse padecimento paradisíaco. -- abriu a porta
--Amanhã mesmo trago o livro caixa, o livro de ocorrência e a cartilha de boas maneiras do prédio! -- prometeu antes de sair
“Cartilha de boas maneiras? E eu que nunca soube que tinha isso!” -- pensou enquanto via a mulher se dirigir ao elevador
--E também pretendo te mostrar minha listinha de pré-requisitos pra inquilino nesse prédio! -- comentou antes de entrar no elevador -- Senão, vira bagunça! -- deu tchauzinho -- Aleluia! -- o elevador fechou a porta e partiu
--Chefia de departamento e de condomínio na mesma época... -- suspirou -- Toma, caipira, pra deixar de ser besta! -- fechou a porta
***
Cátia discursava em um carro de som no centro de São Sebastião. Manifestantes organizavam um protesto pacífico em uma das principais vias da cidade.
--O governo tem defendido uma proposta indecente, intitulada como o novo Plano Nacional de Ensino! -- falava com microfone na mão -- Além de advogar um currículo escolar ainda mais fraco que aquele vigente em nosso país, o Plano, muito embora tenha sido amplamente discutido, ainda está longe de garantir a educação como um direito social público! -- olhava para os demais manifestantes -- Através da leitura de seus termos, pode-se ver que, ao usar verbos no referido plano como incentivar e estimular, ao invés de usar o verbo assegurar, conclui-se que o texto permite o uso de táticas que desonerem o governo de suas obrigações com a educação! -- denunciava -- A educação para todos, como um direito fundamental, é garantida pela nossa Constituição Federal de 1988! É, portanto, um dever do governo, que tem obrigação de garanti-la para todo o povo de Terra de Santa Cruz! -- gesticulava -- E quando pensamos no ensino superior, em nossas universidades, os últimos cortes de verba e desincentivos à pesquisa mostram o real plano do governo pra esse país: as massas relegadas à ignorância e o progresso tecnológico relegado ao atraso, sempre na dependência de importação de tecnologia dos ditos países desenvolvidos! -- continuava denunciando
--Fora Brener!! -- pessoas gritavam
--Eu também quero ver esse governo interino sair! -- continuava a falar -- Mas não basta isso! Quais serão os interesses predominantes a ditar o futuro deste país? -- questionava -- Vejo nossa sociedade seguindo o rumo perigoso da intolerância e vozes de protesto sendo silenciadas sob violência! -- agitava-se -- Três meses se passaram e uma pergunta permanece no ar: quem matou Marcelly e seu motorista Vander? -- referia-se a uma vereadora assassinada em março -- Esse crime foi notícia ao redor do mundo e até agora quais respostas foram dadas a essa pergunta?
Nesse momento, elementos das Forças de Repressão surgiram das esquinas e começaram a agredir os manifestantes com seus cacetetes, sprays de urtiga e bombas bestificantes.
--Essa é a resposta! -- Cátia continuava falando no microfone -- Violência contra a população! -- prestava atenção no tumulto que se formava -- Senhores e senhoras das forças de repressão, entendam que pros poderosos deste países, suas vidas representam nada! Eles não se importam quando os senhores são mortos no desempenho do seu serviço! -- falava mais alto -- Enquanto isso, contraditoriamente os senhores se voltam contra aqueles que se importam com os trabalhadores e desempenham essa infeliz de função de capitães do mato em defesa dos interesses da Casa Grande! -- provocou -- Acordem! Vejam o papel ridículo que tão fazendo!
--Cala a boca, comunalha! -- um dos homens jogou uma bomba no carro de som
--Pula, professora, pula! -- um outro sindicalista advertiu
A geofísica e mais três pessoas pularam do carro de som antes que a bomba explodisse. Ao cair, deu um mau jeito no pé e não pode se levantar rapidamente. Depois de alguns poucos minutos foi abordada por dois homens que a levantaram pelos braços. Constatou preocupada que eram os opressores. -- Vão fazer o que comigo? -- perguntou desafiadora -- Vocês tão vendo que minhas únicas armas são as ideias! -- falava com firmeza
--E a senhora já falou demais! -- um dos homens respondeu mal humorado -- Por hoje chega!
***
Aisha e Najla conversavam com Jamila via chamada de vídeo pelo QQOV?. A ex fazendeira visitava a filha, pois passava a semana em Gyn na casa de Marco.
--Menina, a prisão arbitrária da professora Cátia foi notícia na TV! -- Aisha comentava com preocupação -- Eu fiquei passada quando vi isso! Tanto bandido, tanto político safado aí à solta e uma pessoa honesta sendo presa porque protestava contra as patifarias desse país!
--Smallah, eu não sabia! Como foi isso, Jamila? -- Najla queria saber -- O que fizeram com ela? Maltrataram a coitada? -- olhava para a imagem da advogada na tela do celular da filha
--Na verdade ela não foi presa, foi detida numa delegacia, assim como aconteceu com alguns outros manifestantes. -- explicava a situação -- Logo que cheguei lá a situação foi resolvida, porque não havia base legal que sustentasse aquelas detenções. -- olhava para as outras mulheres -- Não agrediram ela, nem a machucaram, mas a conduta foi realmente truculenta. -- lembrava -- Alguns jovens pobres e negros que estavam no protesto, no entanto, foram mesmo presos. Já conseguimos libertar a maior parte deles, mas dois ainda continuam presos. -- balançou a cabeça contrariada -- É um absurdo o que tem acontecido nesse país! -- desabafou -- AHHa!
--É revoltante! -- Najla concordou -- Queria ver se fossem esses playboys, filhinhos de papai, que saem pelas ruas vandalizando por diversão! Duvido que fossem presos!
--Era mais fácil punirem os policiais que pegassem uns boyzinhos desses! -- Aisha complementou
--Desde aqueles preparativos pra Copa e Olimpíadas, o governo Vilma começou a consolidar um ambiente de criminalização e restrição ao direito de protesto. -- a advogada comentava -- Hoje em dia existem ao menos uns 80 projetos de lei tramitando no Congresso; todos relacionados ao direito de se manifestar. -- passou a mão nos cabelos -- Mas só dois deles são interessantes por tentarem criar proteção aos manifestantes e limitar a violência policial.
--Aproveitaram esse babado de Copa e Olimpíadas pra legitimar a opressão, pra mim é nítido! -- Aisha cometou -- E repressão sempre no sentido de garantir os interesses dos mais fortes!
--Parece até que o país tá endurecendo... -- Najla afirmou pensativamente -- Tenho visto e ouvido cada coisa... Ana xaafa! (Estou com medo!) Terra de Santa Cruz passa por muitas tribulações!
--Sinceramente? Eu também tenho medo! -- foi enfática -- O Estado de Direito nesse país virou de pernas pro ar e tá demais! -- revirou os olhos -- Mas, enfim, eu liguei pra Aisha e ainda não disse o que pretendia. Dei sorte de encontrar mãe e filha juntas, então deixa eu contar. -- desejava abordar o assunto -- Já se passou um ano e meio desde a expedição da sentença favorável à indenização de Zinara e nada de pagamento. Ela me pediu pra explicar a vocês o andamento do processo porque vai destinar boa parte do dinheiro à causa da fazenda. -- ajeitou-se no sofá -- Essa demora toda é porque a burocracia dos dois países é lenta, mas por incrível que pareça posso lhes dizer que o governo de Suriyyah tá fazendo a parte dele até rápido, especialmente se considerarmos que estão no meio de uma guerra.
“Que vergonha pra esse governo interino!” -- Najla pensou revoltada
--Já foram feitos os cálculos de conferência dos valores por parte da Justiça de Suriyyah, incluindo todas as correções monetárias e impostos de transferência. Agora faltam os cálculos referentes às taxas cabíveis, os quais devem ser feitos pela Justiça daqui. -- explicava -- Zinara já fez a parte dela, que era a abertura de uma conta exclusiva pra este depósito. -- sorriu para as mulheres -- No mais é aguardar com todos os dedos cruzados!
--Aquela caipira danada... -- Aisha achava graça -- O dinheiro é dela e ela pede pra você vir explicar pra gente o andamento do processo! -- olhou para a mãe -- A gratidão que ela sente por nós é têúdêô: TU-DÔ! Nunca vi coisa igual! -- riu brevemente -- Até me emociono...
--Eu também... -- passou as mãos nos olhos úmidos -- Obrigada, Jamila. Eu... é meu sonho recuperar a fazenda e vê-la um dia recebendo os irmãos de Cedro e Suriyyah chegando pra viver nela conosco. -- respirou fundo -- E dessa vez eu sei que vou fazer a coisa do jeito certo! -- afirmou convicta
--Ana a’arfa! (Eu sei!) Tenho certeza disso! -- respondeu confiante para a ex fazendeira -- Eu aconselharia a senhora a recuperar o contato com aquele representante do Ministério de Relações Estrangeiras com o qual conversou uma vez.
--Fernando. -- lembrou-se do homem -- "Aquele que queria me mostrar o que sabe fazer com a espada...” -- pensou achando graça
--Ele não perdeu a posição e tem influências. Pode ser um canal aberto interessante pra manter o contato com autoridades de Suriyyah e manter um intercâmbio útil no momento de migração das pessoas.
--Aywah (Sim), farei isso, pode deixar. -- garantiu
--Agora eu vou pedir uma licencinha a vocês porque tenho mais algumas coisas a resolver. Amanhã viajo pra Paulicéia, porque tem uma determinada empresa estrangeira querendo comprar um balneário inteiro no leste do estado! -- gesticulou -- E uma fuleiragem dessa não dá pra tolerar!
--Com certeza, não, amiga! -- Aisha concordou -- Vai lá e inferniza geral! Barbariza!
--Boa sorte, querida! E se cuida! -- Najla desejou
--Beijos! Macasalaama! (Até logo!) -- deu tchauzinho
Aisha e Najla repetiram o cumprimento e viram a ligação ser desligada.
--Mamii, vamo botar pressão no povo lá de cima pra esse dinheiro sair! -- olhou para a mãe -- Vai resolver a vida da nossa caipira preferida e mais a nossa! Sem contar com aqueles da terrinha que conseguirem vir pra cá!
Achou graça do jeito da filha falar. -- Eu oro todos os dias! Inclusive pra guerra acabar! -- olhou para o alto -- E às vezes me parece que usritina (nossa família) se une cada vez mais por nobres objetivos comuns!
Youssef e Khaled sorriam um para o outro.
CAPÍTULO 189 – Barata Voa em Terra de Santa Cruz; de NOVO!!!
--O quê, Lúcia??? -- Rafael exclamou revoltado -- Você vai votar no Andrade?? Não acredito! -- gesticulava furioso -- Militar e votando no Andrade?? Naquele bandito comunista??
--Por que?? Militar vota em quem?? -- respondeu desafiadora -- Em Bozoliaro?? -- olhava para o colega -- Eu voto em quem eu quero, meu filho, não é em quem você quer!
--Pois tem que votar no Bozoliaro mesmo! -- deu um soco na mesa -- Ele vem pra botar bandido na cadeia! Vem pra expulsar esses vermelhos que quebraram Terra de Santa Cruz! -- gesticulava -- Bozoliaro 71! LENDA!!!! -- gritou
--Ah, é, com certeza! -- respondeu debochada -- Tantos anos de mandato parlamentar e fez o que? -- gesticulou -- O que peixe faz: nada! -- zombava -- A única coisa dele que vai ficar lendária são as merd*s que ele fala!
--Comunista! Esquerdopata! -- Fabrício riu provocador -- É melhor ir se acostumando, porque ele vem aí!
--Ele, oh, não!! -- respondeu de pronto -- Hashtag Eleohnão! -- provocou
--LENDA! -- Herbert retrucou de cara feia -- LENDAAAA!!! -- gritava como louco
--LENDAAA!! -- Bruna, Mauro e Gabriela gritavam enfurecidos
--Se fuder, comunalhas!!! -- mais gritos se faziam ouvir
“Meu Deus, o que é isso?” -- Lúcia pensou preocupada -- "Não parecem nem as mesmas pessoas!” -- reparava nos colegas -- "Parece que todo mundo ficou louco!”
--Zinara, Werneck, vocês não sabem! -- Bernadete entrou na sala da astrônoma apavorada -- Raul e Paulo tão quase se pegando no corredor por causa de Andrade e Bozoliaro!
--Oxe, meu Deus! -- exclamou com os olhos arregalados -- A mesma fuleiragem da porr* das eleições de 2014! -- deu um soco na mesa -- Eu não aguento!
--Não é a mesma fuleiragem, Werneck! -- Zinara respondeu pesarosamente -- É muito pior!
--Andrade presidente! -- Raul gritava -- Luiz Horácio livre!!
--É Bozoliaro 71!! LENDAAA!!! -- Paulo urrava
--Pois que dessa vez se matem! -- cruzou os braços -- Eu vou anular meu voto de novo! -- Werneck afirmou de cara feia
--Já eu vou acompanhar quem tem mais chance de vencer essa “lenda” e é nessa pessoa que vou votar! -- a astrônoma afirmou contrafeita -- E se Bozoliaro for pro segundo turno, voto em qualquer um que concorrer com ele, seja lá quem for! -- gesticulou -- Ibn il-Homaar!! (Filho de um burro!) -- balançou a cabeça contrariada -- Vou morrer sem entender como um professor universitário pode ter a capacidade de votar num defensor da ignorância e da intolerância! -- indignava-se -- Esse homem vem pra destruir e entregar tudo que sobrou!
--Eu voto no Miro Tomas! Grande intelectual! -- Bernadete afirmou enfática -- Única pessoa decente que se tem hoje pra votar!
--Sei... -- Werneck revirou os olhos
--Votar em Bozoliaro??? Vocês tão é loucos!! -- Cátia respondeu enfática -- Qual é o plano de governo que essa criatura tem?? Vocês por acaso ouvem o que ele fala? -- olhava atônita para os colegas -- Somos professores universitários, defensores da universalização do ensino! Somos pesquisadores, defensores da ciência!! -- lembrava o básico -- Como assim votar num cara que só faz babar o ovo de Godwetrust e em cujo séquito há quem diga que nosso planeta é cúbico?? Cúbico, gente! -- gesticulou -- Olha a merd* que se vive no nosso trabalho! Tão satisfeitos, não? Querem piorar? -- estava indignada
--Eu voto no Andrade! -- Leandro afirmou resoluto -- Bozoliaro é doença e os outros não chegam no segundo turno!
--Eu vou de Bozoliaro! -- Célia olhou para Leandro -- Posso saber que doença há nisso? -- desafiou
--Vocês são uns idiotas! -- João afirmou em voz alta -- É a LENDA na cabeça!!
--Na cabeça dos camarões do Departamento! -- Mariana rebateu de pronto -- É Andrade!! Eu voto Andrade 31!!
--LENDAA!! -- Carla gritou
--De novo isso não! -- Cátia saiu da sala dos professores
Um grupo de alunos trajando camisetas pretas e gritando “LENDA” seguia pelos corredores da Universidade dando socos no ar. Perto da entrada principal do prédio, encontraram um outro grupo de jovens empunhando faixas e cartazes pró esquerda. Após hostilidades recíprocas, um pequeno quebra pau se iniciou.
--LENDA!!! -- um rapaz gritava -- Toma, comunalha!!
--Luiz Horácio LIVRE!! -- uma moça berrou -- É Andrade 31!
--Meu Deus, olha a briga ali! -- Magali ficou horrorizada com o que via -- Segurança! -- olhava para todos os lados -- Alguém faça alguma coisa! -- não sabia o que fazer
--LENDA!!! -- jovens urravam
--Eu vou chamar a polícia! -- um professor pegou o celular
Outros jovens correram para interromper a briga, assim como alguns seguranças.
--Eu não acredito nisso... -- Magali estava em choque -- Meu Deus! -- cobriu os lábios com uma das mãos
--Ói, vortamu da cidadi cum sebu nas canela! -- Gerogina falava com os olhos arregalados -- Dois carru batêru um nu ôtro, us homi cumeçaru a discutí e di repenti um delis sacô pistola e danô-si di dá tiru pra todu ladu! -- olhava para os sogros -- E gritô-si tantu uns trem di Lenda qui eu fiquei inté quasi surda! -- sentou-se -- Pistinga doida!
--Avi Maria!! -- Raed ficou pasmo -- Tevi inté tiru?
--Nem queira saber! -- Najla sentou-se aliviada -- Tive tanto medo da gente levar um tiro, que minha nossa! -- abanava-se com a bolsinha -- Ralã!
--Eu nunca qui sôbi di acunticê um trem dessis pur aqui! -- Amina cruzou os braços revoltada
--É a “Lenda”! -- Najla fez aspas com os dedos falando ironicamente -- AHHa! Palhaçada! -- fazia cara feia
“Mais lenda num é Saci Pererê, Mula sem Cabeça, Curupira e Mãe D’Água?” -- Georgina pensava intrigada -- "Comu podi?”
Ahmed chegava em casa apavorado. -- Muié, ocê num sabi! -- encostou-se na porta -- Mãe Agda mais eu tivemu di ixpursá um monti di genti du centru pur causu di briga! Pessoar quasi saiu nus tapa pur causu di pilíticu! -- contava -- Agora tem uns homi aí fora atrás deu, modi mi cumê nu coru! Arrudiei a casa mais di trêis veiz modi pudê entrá, num sabi?
--Avi Maria! -- começou a fechar as cortinas -- Simbora fingí qui num tamu im casa! -- olhou para o fiho -- Ahmed Mateus, anêim um pio, viu, mininu? -- orientou
--Oba, iscondi, iscondi! -- o menino gostou da ideia
--LENDA!!! -- um homem gritou do lado de fora
--Ói us tipu aí! -- Ahmed fechava as cortinas também
--Meu povo escolhido de Deus, -- Julieta pregava na igreja -- nosso país já penou muito em mão de comunista e dessa gente que se chama de LGBQ, LBTG, LCBB ou sei lá o que é essa perdição! -- gritava -- É hora de mudar e entregar Terra de Santa Cruz na mão dos convertidos. É Bozoliaro na cabeça!!! -- gesticulava -- A Lenda vai queimar a depravação! Aleluia! -- olhou para o alto
--Aleluia!! LENDA!!! -- muitos gritavam -- Bozoliaro!
--Pois o grande médium anunciou que viria um homem forte, duro como pedra, montado num cavalo baio e destinado a mudar todo o estado de coisas neste país! -- o palestrante dicursava no púlpito -- Ora, sabemos que a codificação muitas vezes é simbólica e nos cabe entender o seu significado por nossa fé raciocinada! -- olhava para o público -- Estamos todos vendo o estado a que este país chegou e as eleições se aproximam! Pensem, meus irmãos, em quem receberá o seu voto, pois a chance de mudar é agora! -- falava com voz mansa -- Deixem o cavalheiro anunciado fazer o que lhe foi destinado!
--Mastô, é impressão minha ou esse homem tá querendo induzir o pessoal do centro a votar em Bozoliaro?? -- cochichou com o marido -- Gente, tô passada!
--É não é que tá? -- respondeu pasmo
--Menina, o LivrodasFuça tá uma coisa horrível! -- Leda exclamava olhando para a tela do computador -- É cada postagem, é cada absurdo! -- olhou para a filha -- Já perdi um monte de amizade virtual por causa de minhas postagens do #eleohnão!. -- contava para a filha -- Raquel me disse que desativou a conta dela porque não tava aguentando o nível!
--E olha que julho tá apenas começando! -- Clarice fechava a porta do guarda-roupas da mãe -- Imagino o que vai ser desse país quando as eleições realmente estiverem acontecendo... -- sentou-se na cama da idosa -- Magali me contou de uma briga que presenciou em frente ao nosso prédio na Universidade! Fiquei boba quando ouvi! -- balançou a cabeça horrorizada
--Olha lá vocês, hein, menina? -- Leda girou a cadeira para encarar a filha -- Cuidado pra um maluco desses aí não vir querer fazer maldade porque vocês são lésbicas! -- advertiu -- Sei que tem muita gente de bem querendo votar naquele traste, mas tem uns malucos aí que tão com o Bicho Ruim no corpo!
--Eu sei mamãe, tenho cuidado. Todas nós temos... -- suspirou -- Mas é desanimador, sabe? -- abaixou a cabeça -- A única coisa que tem me motivado nestes últimos tempos é a perspectiva de concretizar o programa de pós internacional. -- deslizava uma das mãos sobre o lençol da cama -- No mais, essa barbárie que vivemos tem me dado muito desgosto... -- silenciou
--Mas afinal, essa pós vai sair ou não vai? -- queria saber -- Você voltou toda saliente daquela viagem pra Rossiya mas depois não me disse mais nada!
--LENDAA!! -- gritaram da rua
--Eu acho que vai acontecer, mamãe! -- levantou a cabeça e olhou para a idosa -- Conseguimos despertar o interesse de pesquisadores da Rossiya, da Cina e de Zuid-Afrikans! Agora falta só o principal: as assinaturas daqueles que podem liberar o dinheiro pro consórcio! -- postou as mãos -- Reza, por favor? -- pediu súplice
--Mas eu rezo é todo dia! -- Leda garantiu -- Esse povo não há de ter sossego na vida enquanto não assinar a papelada que têm que assinar! -- gesticulou -- Vou botar minhas almas em cima deles! -- deu um soco na mão -- E nenhum vai ter força e nem coragem de dizer não pra esse projeto aí!
--LENDAA!!! É Bozoliaro 71!!
--Mas é o dia inteiro isso aí! -- a idosa reclamou de cara feia
--Se Deus quiser, vai chegar outubro e esse troço vai perder! -- Clarice mentalizava em voz alta -- "E eu vou morar em Cidade Restinga com o amor da minha vida o mais rápido possível!” -- pensou
--Amor, vem ver quem voltou pro LivrodasFuça com a corda toda! -- Aisha olhou para Janaína -- Boca de Fossa e Peso de Ouro! Como sempre brigando!
--Imagino! -- a outra se aproximou -- E o nível? Tipo 2014? -- parou de pé do lado da esposa
--Leia e me diga! -- mostrou algumas postagens
Reclinou o corpo, mirou a tela e começou a ler em voz alta: -- Pra vocês que acreditaram que iam fazer de Terra de Santa Cruz uma segunda República Bolivariana, que comemoraram a vitória de Vilma em 2014, não bastou tomar no cu depois do impeachment daquela vaca! Agora é a segunda parte da porr*daria! -- ficou pasma com o que lia -- Abandona esse país que a vagabundagem vai acabar! Vai dar Bozoliaro 71 e vocês vão morrer! -- olhava para os memes -- Bandido bom é bandido morto e quem não se enquadrar, vai comer capim pela raiz! Peso de Ouro que ver o sangue dos comuna jorrar! -- parou de ler -- Minha nossa, mas o que é isso? -- olhou para Aisha
--Enquanto isso, ouça a sabedoria da Boca de Fossa: -- preparou-se para ler -- Vocês gostam tanto de cheirar cu de gringo, que o candidato que escolheram é um pet do Mickey Grump. Escrotidão! -- mostrava os memes para a parceira -- Sinto muito informar, só que 2014 vai se repetir! Andrade 31 vai ganhar e fuder os amarelinhos que dão o cu pro Capital Internacional! Faz de novo aquele negocinho: mete o dedo no cu e rasgaaaaa!!! -- olhou para a outra -- Tão eruditas, né? -- perguntou irônica
--Cruzes! -- Janaína exclamou horrorizada -- Eu tô com medo, Aisha! -- confessou -- Nunca vi tanto ódio nesse país como vejo agora. -- sentou-se ao lado da esposa -- Quase não tenho com quem conversar no meu meio, porque só eu não apoio Bozoliaro. -- temia pelo futuro -- Marco me disse que na vizinhança dele tá quase todo mundo de mal por causa de política!
--Vamos ver no que vai dar tudo isso, amor... -- respondeu pensativa -- Vamos ver...
CAPÍTULO 190 – Sonhos
Zinara dormia em seu quarto. Um sonho realista deixava-a inquieta. Percebia-se pairando nos Espaços, fora do planeta Água.
--Nos últimos tempos, ocorre em vosso planeta um aumento da frequência vibratório coletiva, por um mecanismo que podeis entender como ressonante. Vossos colegas de trabalho comprovam que a “pulsação” do planeta Água, ou a chamada Ressonância de Schumann, está aumentando drasticamente, ficando algo estarrecidos por não encontrarem explicações em parâmetros mecanicistas aos quais estão habituados, o que leva uma minoria a voltar-se positivamente para o espiritualismo, o ocultismo e para as questões esotéricas das tradições ancestrais da humanidade, muito especialmente as orientais. -- um bem feitor do Além explicava para a astrônoma -- As transições planetárias sempre ocorreram em toda a História; eis que a evolução requer movimento ascensional. O que estais verificando é uma intensidade no efeito de transitar, o que denota mudança de Era, compreendendo um ciclo de intensas e sérias modificações, algo que deveis perceber sem medos ou excessiva fascinação, que poderá vos conduzir a uma fixação exagerada nesse assunto, ante os percalços da vida comum, que devem preponderar.
--Eu tenho me assustado com a escalada do discurso de ódio e na intolerância crescente entre as pessoas! -- Zinara admitiu -- Tenho orado todos os dias implorando mansidão! Warana ay? (Que mais se pode fazer?)
--Certamente a oração conduz ao melhor caminho! -- concordou -- Entendei que o movimento no Plano Astral é cada vez maior e muitos espíritos maldosos e renitentes estão se rebelando contra todos, num último levante antes de serem encaminhados para outras paragens cósmicas ou reencarnarem compulsoriamente em corpos defeituosos. -- continuava explicando -- Isso estabelece enormes demandas astrais, em que os grupos mediúnicos do planeta Água estão sendo muito solicitados, sendo que as falanges de espíritos benfeitores, muitas de extraterrestres, estão trabalhando ininterruptamente em resgates nas zonas abismais e nas populações da subcrosta de vosso planeta, demonstrando o amor assistencial do Pai por todos os seus filhos. -- descortinava inúmeras visões diante da mulher -- A onda de ódio que observas decorre de todos estes fatos! Mas, não tendes medo! A Palavra do Altíssimo supera todo o verbo odioso!
(Nota da autora: baseado em https://www.curaeascensao.com.br/ascensao_arquivos/ascensao385.html)
A astrônoma sentiu-se rapidamente translada ao longo da galáxia, numa sucessão de imagens planetárias que passavam diante de seus olhos. Asteróidos e inúmeros outros corpos celestes mostravam-se nítidos diante de si.
--Concentra vossa busca pelos caminhos mais certos! -- a voz do bem feitor ecoava-lhe dentro da mente -- Nem sempre aquilo com o qual vos acostumaste é a melhor abordagem. O mapa não é o território!
E o Planeta Nove apresentou-se fulgurante diante de Zinara.
--CHOO?? (O QUE??) -- perguntava-se em estado de choque
--Quando eles souberem, entenderão... -- as últimas palavras do Espírito luminoso ecoaram nos ouvidos da mulher
Luzes e cores fundiram-se em vários matizes confundindo a percepção de Zinara, que acabou acordando repentinamente com o coração acelerado.
--AH! -- gritou ao se sentar -- AH... -- olhava para todos os lados -- O Planeta Nove... -- passou a mão nos cabelos -- Inacreditável! -- levantou-se da cama agoniada -- Kam as-saagha? (Que horas são?) -- olhou para o relógio de pulso -- Quatro e quinze da manhã... -- andava de um lado a outro do quarto -- Eu não vou aguentar esperar... -- foi até a sala e pegou o telefone. Selecionou um número e esperou atender -- Aaloo (Alô)! As-Salamu Alaikum! (Que a paz esteja convosco!) -- saudou a amiga de Paulicéia -- Kifel haal? (Como vão as coisas?)
--Alaikum as-Salaam! (E a paz também convosco!) -- Jarizah respondeu surpreendida -- Comigo tudo bem, à despeito de certas “Lendas”! -- respondeu bem humorada -- Mas e você? Shoo sarlake? (O que acontece com você?) -- perguntou curiosa -- Sei que somos duas madrugadoras, mas ligar a essa hora...
--Mil perdões, não fique zangada comigo! -- a astrônoma se desculpava -- Mas eu tive um sonho que me deu intuição e não dava pra esperar! -- voltou a andar de um lado a outro -- Queria saber se você se disporia a colocar sua equipe inteira pra modelar uma órbita que me veio à mente! -- a cabeça fervilhava -- Um tanto diferente de tudo que já pensei, mas eu tô levando fé e não confiaria em outra pessoa pra pedir esse favor senão a você!
--Sabia que devia ser por uma boa razão! -- pausou brevemente -- Diz aí tudo que pretende porque, por mim, o expediente já começou! Yaalah! (Vamos!)
--Yaalah! (Vamos!) -- respondeu excitada
***
Rosa se vestia sem dar uma palavra. Pensava apenas nos filhos e nas compras que faria com aquele dinheiro que acabara de ganhar naquela semana.
--Você não é de muita conversa, né, menina? -- um homem de meia idade a observava se arrumar -- E quase nem é de gem*r... -- comentou
--Desconfie das que gem*m demais. -- respondeu sem olhar para ele -- São as que mais enganam. -- pegou sua bolsa
O homem riu brevemente. Cruzou um dos braços atrás da cabeça e continuou prestando atenção na jovem. Mantinha-se nu e deitado na cama. -- Tu é tão novinha... tem cara de menina... Tu tem sonhos, menina? -- perguntou interessado -- Rapariga sonha com o que?
--Ver meus menino bem criado e feliz. -- foi o que se limitou a dizer
--Isso é pra eles. E pra tua vida? O que tu sonha? -- insistiu -- Com um homem que te leve pro altar?
--Com nada. -- andou até a porta e a abriu -- Se for repetir o programa, sabe como encontrar dona Milu. -- olhou para ele -- Inté! -- deu tchauzinho e saiu fechando a porta
--Inté... -- deitou-se de bruços e fechou os olhos
Rosa seguiu para o elevador parado no andar e entrou imediatamente. Queria sair dali e buscar seus filhos na creche.
--Três da tarde. -- viu no relógio do elevador -- Graças a Deus vou chegar cedo em casa e ficar com meus menino em paz... -- sorriu
Ao ganhar a rua, pegou o celular e chamou um carro pelo aplicativo. Em poucos minutos seguia para seu endereço.
“Sonhos...” -- pensava -- “Isso não é pra todo mundo...”
De volta à prostituição, Rosa não tinha mais a rotina desgastante que a acompanhou desde que deixou a casa de Egenilto e Geraldina, porém sentia-se sempre suja; a mesma sensação que a atormentava no passado não tão distante em Arapiçava.
“Mas agora eu ganho mais dinheiro, não me deito com qualquer tipo... Não é como em Arapiçava.” -- consolava-se -- "É por uma boa causa.” -- olhava sem ver o que se passava do lado de fora do carro
***
--Eu tô tão animada, amor! -- Clarice conversava ao telefone com Zinara -- As autoridades da Cina e da Rossiya já assinaram! -- sorria -- Só falta o tal diretor lá de Zuid-Afrikans! -- cruzou as pernas -- E claro, o ministro da educação de Terra de Santa Cruz. -- complementou -- Mamãe colocou os nomes deles num papelzinho dentro do congelador e só tira de lá depois que assinarem. -- achava graça -- Vê se pode isso?
--E lá na roça? Maama colocou esses nomes nos pés da Virgem. Já falou que não vão ter sossego inquantu num assiná us paper! -- imitou o sotaque -- Acho que ainda levou pro centro de Mãe Agda também!
--Tô super confiante! -- falava excitada -- Não é possível que depois de tanto esforço, tantas negociações e tanta gente envolvida, além de todas as orações, o negócio vá desandar! -- abraçou-se em uma ursa de pelúcia
--Hum... -- Leda observava discretamente -- E eu que pensava que a fase da taração de urso tinha terminado... -- falava consigo mesma
--Vai desandar nada! -- respondeu de pronto -- Ana mutafaa'il! (Eu sou otimista!) Eles vão assinar e em breve terei minha Sahar aqui do meu lado! -- afirmou confiante -- Fazia tempo que não percebia tal animação em sua voz. Gosto de te ouvir assim! Neste ano, kan agmal lahn sme3to! (foi a mais linda melodia que eu já ouvi!) -- sussurrou -- Min te7ebah 3ank ma yegwa elb3ad! (A pessoa que você ama não terá resistência para separação!) Quero você aqui, o mais rápido na minha vida e na minha cama! -- falou com intensidade
--Ai, amor, não me fala assim... -- sentiu o corpo arrepiar -- Me deixa louca! -- agarrou-se fortemente com a ursa
--Ih, é uma ursa! -- Leda continuava reparando -- Clarice agora sapateia até no mundo de pelúcia! -- constatou
--Quanto a mim, estou cada vez mais confiante de que vamos encontrar o Planeta Nove! -- afirmou convicta -- E você estará aqui a meu lado pra comemorar isso comigo! -- prometeu -- Shift els3ada youm 3aini shafitik... (Eu vi a felicidade quando meus olhos viram você...) Quero ser feliz de novo!
--Ai, minha caipirinha safada, não faz assim... -- deitou-se na poltrona abraçada com a ursa -- Faz tanto tempo que não te vejo... isso é tortura... -- respondia melosa
--Eita, que a ursa já tá engastada entre as pernas de Clarice! -- Leda observava -- É hoje que a bicha desvirgina a pelúcia!
--Esse ano tem sido tenso, Sahar. -- Zinara comentou chateada -- Desde que voltei pra cá, ainda não pude voltar a vê-la pessoalmente. Não sabe o quanto isso me dói! Wahashtiny (Sinto sua falta...) -- lamentou
--Eu também sinto demais! -- rolava no sofá -- E a correria que tem sido a minha vida dando aula, cuidando de aluno e viajando pra tudo que é lugar pra esse programa de pós sair... Estive em todas as cidades, menos na que eu mais queria... -- deitou-se por cima da ursa
“Ih, é agora!” -- Leda pensou -- "A ursa tá danada!”
--Não sei quando você virá morar aqui, mas conto nos dedos cada dia que passa desde que nos despedimos no aeroporto! -- a astrônoma continuava a falar -- Mesmo que ainda demore pra esse dia chegar, sei que ao menos em dezembro você será toda minha! Ma a3eesh la7’6a donik wala akon! (Não desejarei viver um minuto sem você!) -- sussurrou -- Sonho em tê-la comigo para sempre!
--Para de falar assim comigo, sua safadinha... -- pediu dengosa -- Eu também sonho tanto... Não me tortura... -- lamentou -- Ai, que o tempo parece que não passa! Ainda estamos em setembro... -- deitou-se de barriga para cima -- Ai... -- gem*u com a ursa em seus braços
--Pronto. Agora é a hora do cigarrinho na boca das duas. -- Leda continuava prestando atenção na filha -- Ô, meu Pai, faz essas pestes destes homens assinar a papelada pra essa menina parar de viver tarando bicho de pelúcia! -- olhou para o Alto
***
--Aí, Princesa, depois de três meses batendo cabeça arrumei um trampo responsa em Araribóia! -- entrava em casa animado -- Uma obrinha aí que vai até janeiro, tá ligada? -- beijou a mulher -- Sô o único inspetor de pintura naquele canteiro, aí! -- reparou no silêncio da casa -- Cadê o moleque e a Princesinha?
--Tão lá na mamãe. -- respondeu desanimada -- Acabei de chegar do trabalho e não tive coragem de ir lá buscar eles. -- jogou-se no sofá -- Que bom que ao menos você tem boas notícias! Araribóia é longe mas não vai precisar dormir fora de casa.
--E eles vão pagar um cascalho bom. -- sentou-se ao lado da mulher -- Qual foi, Princesa? Fizeram vacilação contigo?
--Põe vacilação nisso... -- suspirou -- Fui demitida... -- olhou para ele
--E qual foi a das parada?? -- não entendia
--Eles só esperaram dar um tempo depois que voltei da licença maternidade, arrumaram uma garota novinha que eu mesma treinei e agora que ela tá pronta, me botaram na rua... -- respondeu desanimada -- Pelo menos vão me pagar tudo direitinho.
--Fica tranqui, gata. -- abraçou-a com carinho -- Esses trampo que tão pintando tão pagando um cascalho legal. Tu sabe que não temo ficado na pista com essas parada de grana.
--Eu sei, amor... -- aconchegou-se no peito dele -- Eu sei que você tá juntando o dinheiro e que mesmo quando ficou sem trabalho não faltou nada aqui em casa.
--Vai pintar um trampo responsa pra você também, tá ligada? Bota fé. -- beijou a cabeça dela
“Meu sonho era ao menos ter uma casa própria...” -- Raquel pensava esperançosa
CAPÍTULO 191 – Encontros e Reencontros
--E o pior aconteceu, né, amiga? -- Magali comentava desanimada -- Aquela peste ganhou as eleições! E eu que não acreditava ser possível... -- bebeu um gole de café -- Tinha que ver como foi na vizinhança ontem! -- cruzou as pernas -- Assim que divulgaram o resultado do segundo turno, fizeram uma gritaria, xingaram tanto palavrão...
--Na minha vizinhança não foi diferente! Ainda soltaram fogos e gritaram Lenda por uns 20 minutos. -- lembrava -- Fiquei tão nervosa! Chorei e tudo... -- bebeu um gole de café também -- Teve até quebra pau na rua entre eleitores de Bozo e de Andrade. Vergonha! -- revirou os olhos
--Lúcia também chorou. -- contava -- E me pediu desesperadamente pra ir embora do país. -- suspirou -- Ela disse que não quer viver em Terra de Santa Cruz do jeito que tá.
--Ela tem falado isso desde que esse homem começou a crescer nas pesquisas. -- lembrava -- Você também pensa nisso de ir embora? -- prestava atenção na outra
--Sinceramente? Agora sim! -- passou a mão nos cabelos -- Vou começar a batalhar um pós doc no Kanatá e quando chegar lá vamos catar oportunidades de trabalho. -- contava seus planos -- Lúcia disse que larga o emprego aqui sem pestanejar!
--Você vem trabalhando com pesquisadores do Kanatá já há alguns anos. Creio que consiga esse pós doc sem problemas. -- considerou -- E muito provavelmente vão te convidar pra trabalhar no instituto deles.
--Deus te ouça! -- olhou brevemente para o céu -- Nunca pensei de chegar nesse ponto, mas...
--É... -- terminou de beber o cafezinho -- Tristeza!
--Mas, olha, vamos falar de assuntos melhores! -- ajeitou-se na cadeira e finalizou o café também -- E a festa de lançamento do Programa de Pós-Graduação Internacional na área de Estudos sobre o Clima? -- caprichou na voz para falar -- Foi cerca de um ano e meio de sofrimento mas saiu, né, amiga? -- sorria
--GRA-ÇAS A DE-US! -- respondeu em voz alta separando as sílabas -- Você não tem ideia de como chorei, pulei, gritei e comemorei quando recebi a notícia de que o consórcio tava firmado! Mamãe só faltou soltar foguetes, Zinara ficou doida e até o pessoal da roça comemorou! -- sorriu para a amiga -- Pena que dois dias depois veio esse maldito resultado de segundo turno eleitoral pra me jogar na lona!
--Mas e aí? Vai ter festa ou não vai? -- queria saber -- E você se muda quando?
--Então, vamos por partes! -- explicava -- Vai ter uma cerimônia sim, vai ser lá em Cidade Restinga, e já marcaram pra sexta, dia 9 de novembro. -- limpou os dedos com o guardanapo -- Quanto a minha mudança, vai depender da liberação da minha transferência. Acho que lá pra dezembro sai.
--Dezembro?? -- perguntou contrariada -- Mas que merd*, hein?
--Reclama não que tá saindo até rápido! -- preparou-se para se levantar -- Embora eu já não aguente mais de saudades da minha caipirinha safada! -- respirou fundo -- Vamos, que a hora do almoço já era. -- advertiu ao se levantar
--Eu sei. -- confirmou olhando as horas -- Pode deixar que vou super torcer pra você conseguir se mudar o mais rápido possível! -- levantou-se também -- Imagino sua ansiedade! -- começaram a andar
--Só eu sei! -- seguiam pelo corredor -- Mas tô confiante em Deus de que tudo vai dar certo!
--E tua mãe? Ela vai logo contigo, fica aí, o que vocês resolveram? -- perguntou curiosa
--Mamãe vai pra Cidade Restinga, mas não agora. Ela me disse que quer ficar um tempo aqui com Raquel e Getúlio e vai chamá-los pra morar na casa dela com as crianças. -- contou os planos da idosa -- Minha irmã tá desempregada e ele pegou um serviço numa obra até janeiro. Depois disso vai estar na procura de novo.
--Tá demais isso de desemprego, né? -- Magali balançou a cabeça contrariada -- E com dois filhos pra criar, coitados...
--Pois é. Dá até pena deles! -- concordou -- Mamãe disse que fica com eles no máximo por um ano. Por mim, sendo bem egoísta, ela ficava o mínimo, porque sempre morei com ela e vou morrer de saudades por ter minha velhinha longe! -- endireitou a alça da bolsa -- Sabe que ela já advertiu que se eles quiserem acasalar, que vão se esfregar num motel? “Não quero saber de ouvir ‘ai, meu Deus’ nem ‘ah,oh’!” -- repetiu as palavras da mãe e achou graça
--Eu, hein! -- riu também -- O bom dessa permanência dela aqui é que vocês vão ter tempo de providenciar um lugar pra ela morar lá. -- considerou -- Os imóveis lá podem ser mais baratos que aqui, mas também não deve ser fácil encontrar algo que agrade.
--Pois creia que Zinara já tem bons planos pra resolver isso. Se mamãe topar... -- lembrava do que ouviu da astrônoma
--Quais planos? -- perguntou curiosa ao parar de andar -- Hoje eu vou dar aula numa sala daqui. -- apontou para o corredor
--Aí, você só vai saber se der certo! -- soprou um beijinho para a amiga -- Até mais! E força, viu? -- referia-se à questão política -- A gente vai conseguir passar por mais isso!
--Se Deus quiser! -- deu tchauzinho -- Beijo!
***
--Meu nome é Rosa Maria da Silva, tenho 17 anos... -- falava com muita humildade -- Sou mãe de dois menino gêmeo, de nome Davi e Salomão, que tão na creche agora. Os bichinho tão com 2 ano e 3 mês. -- pausou brevemente -- Sou rapariga... puta. -- sentia muita vergonha -- Eu nasci em Arapiçava e tive dois irmão homi. -- olhava para as próprias mãos -- Meus irmão saiu de casa cedo, se perdero na vida dos crime e já nem tão mais entre nós... Polícia matou. -- lembrava -- Quando eu fiz doze ano, paínho tava com umas conta imensa pra pagar e me colocou pra me deitar com o cabra a quem ele devia o dinheiro. Como eu era virgi, o homi aceitou eu de pagamento. -- derramou uma lágrima -- Depois disso, paínho ficou me oferecendo pros cabra e eles se deitava comigo e pagava uns dinheiro ou dava comida, às vezes dava umas pinga... Maínha sabia e fazia nadica de nada. -- gastou uns segundos calada -- Um dia peguei barriga e não tenho tino pra saber quem é o pai de meus menino. Paínho ficou brabo, porque depois de um tempo os homi não queria mais eu por causa do bucho grande. -- levantou a cabeça timidamente -- Depois que os menino nasceu, passou um tempinho e fui jogada na rua. Não fosse a moça que me ajudou a pari os menino, nem sei o que seria...
--Meu Deus... -- Cecília ouvia penalizada
--Essa moça ficou com nós na casa dela, mas o genro reclamava muito do choro dos menino, aí ela me arrumou uma casa de família pra trabalhar aqui, em Cidade Restinga. Comprou umas coisa pra mim, pros menino, deu as passagem de ônibus e nós viemo. Eu e os menino... -- novamente baixou a cabeça -- Devo muito a ela, dona Ester, sou muito agradecida.
--E o que aconteceu quando você chegou aqui? -- uma senhora perguntou comovida -- Não deu certo?
--Deu certo até demais! -- respondeu com um sorriso triste -- Dona Dina e seu Nilto era um casal de veínho muito bom! Eu trabalhava cuidando da casa deles, eles cuidava de meus menino e a vida tava boa. -- lembrava -- Eu ia na igreja com eles, ouvia a Palavra e só não me converti porque tive vergonha de Deus. -- falava a verdade -- Mas então, depois de quase um ano vivendo mais eles, o filho do casal separou-se e veio fazer visita. Isso porque queria viver mais os dois. -- pensava no homem -- O cabra botou os olho em mim e me odiou; logo atinei. Aí, depois de dois mês que ele chegou, dona Dina me disse que eu e os menino tinha que ir simbora e assim foi.
--Vocês foram pra onde? -- Cecília perguntou agoniada
--Eles pediu ajuda na igreja, então uma senhora me alugou uma casinha e eu fui trabalhar na casa de outra família. O pastor arrumou vaga numa creche pros meus menino e o lugar é bem perto do canto onde eu moro. Aí todo dia eu acordava bem cedo, deixava os menino na creche, pegava os ônibus, ia trabalhar e depois voltava tarde, buscava os menino e ia pra casa. -- relatava seu dia a dia -- O dinheiro que eu ganhava mal dava pras despeza e a vida tava muito dura... -- olhou timidamente para as mulheres -- Daqui a pouco tá em tempo dos bichinho começar os estudo e como é que ia ser? Lisa do jeito que eu vivia? Não quero meus menino burro que nem eu!
--E foi por isso que você voltou pra vida? -- outra senhora perguntou com jeito
Deu um suspiro profundo. -- Um dia uma mulé que trabalhou na creche me procurou, ficou me curiando por lá, e falou que tava trabalhando pra uma tal de dona Milu. -- encolheu-se como se quisesse se esconder -- Falou que essa mulé escolhia os macho, que não podia ser qualquer um, que pagava bem... eu fiquei pensando, sabe? -- derramou outra lágrima -- Aí depois, a dona da casa onde eu trabalhava perdeu uma bolsinha e disse que eu tinha roubado ela, mas não roubei... Acabei largando de trabalhar pra ela e procurei saber mais dessa dona Milu. -- pausou brevemente -- E virei puta de novo.
--E por que você veio aqui? -- uma jovem segurou uma das mãos dela -- Não tenha vergonha, pode falar. Ninguém tá te julgando.
--Eu hoje me deitei com um homi e ele fez coisa que eu não queria. Coisa que eu tenho nojo... -- falou de uma vez só -- Quando reclamei, ele falou: Eu tô pagando! Rapariga nunca diz não! -- imitou o homem -- Aí ele jogou umas nota de cinquenta na minha cara como se fosse nada. -- derramou mais outra lágrima -- Eu peguei o dinheiro só porque tem a parte de dona Milu. Porque se não tivesse que pagar... -- controlava a vontade de chorar -- Saí pela rua sem saber pra onde ir e quando dei por mim, tava parada aqui na porta. Nem sei como... -- não conseguia mais se conter -- A placa fala de valor de mulher... eu ainda presto pra alguma coisa? -- entregou-se ao que sentia e chorou profundamente
--Ah, você tem valor, sim! -- Cecília ajoelhou-se perto dela -- Você tem! -- segurou o rosto da jovem
--Você está entre amigas, Rosa! -- uma outra mulher lhe dizia com carinho -- E se quiser mudar sua vida, estaremos aqui pra ajudar! -- falava com a verdade
--Sim... -- Cecília percebeu que chorava também -- pra ajudar!
***
Khadija estava sentada no chão jogando as cartas. Em silêncio, estudava atentamente o que elas mostravam.
--Óia ela aí lendu as carta! -- Dora chegava no quarto da menina -- Já feiz as lição de casa, muiézinha? -- colocou as mãos na cintura
--Fiz, maama. -- respondeu sem desviar o olhar das cartas
Chede veio em seu passinho de criança pequena e se agarrou nas pernas da mãe. -- Dija! -- sorriu -- Dija!
--Óia tua irmã vendu as carta! -- abaixou-se para falar perto do filho -- Óia! -- apontou
--Chede vai sê um grandi homi, maama. -- falava com muita convicção -- Eli vai ajudá muita genti e vai fazê o qui num podi fazê na vida que passô.
--Hum... -- Dora respondeu desconfiada -- É issu qui ocê tá vendu aí? -- levantou-se lentamente
--Nóis vamu si mudá. Nóis e mais a famia de camm Cid. -- continuava falando -- Mais o clã nunca mais vai si separá, num importa as lonjura. -- mexia nas cartas -- E num demora muitu, quem farta vai juntá mais nóis.
--Si mudá?? E comu assim, quem farta? -- não entendia
--O ano qui vem vai mudá a vida di nóis tudu pra sempri... -- olhou para a mãe -- E dipois qui eli acabá, nu ôtro anu, nu mundu todu nada será comu antis.
Dora sentiu um arrepio pelo corpo. -- Avi Maria, minina, e pur que? -- queria entender
--Purque os tempu são chegadus, maama. -- começou a juntar as cartas para guardá-las
--E nóis faiz o que? -- colocou Chede no colo
Levantou-se. -- Nóis vamu vivendu um dia di cada veiz. -- aproximou-se da mulher -- E aproveitá inquantu si podi dá um abraçu! -- abraçou a mulher pela cintura e beijou a perna do irmão -- Agradicê a Deus!
--Améim! -- abraçou a filha com um dos braços sem saber o que dizer -- "Essa minina fala uns trem qui mi dêxa morta di medu!” -- pensou -- "O qui será qui vem pur aí?”
***
Clarice e Zinara chegavam ao apartamento da morena em Cidade Restinga. A astrônoma havia ido recebê-la no aeroporto.
--Só um minuto, Sahar. -- pediu sorridente ao se aproximar para abrir a porta -- Ghafwan! (Seja bem vinda!) -- fez uma reverência para a namorada entrar
--Own, amor... -- sorriu embevecida
--Entre, min fadlik (por favor)? -- insistiu gentilmente
A paleoceanógrafa entrou no apartamento e reparou na sala. -- Nossa, mas... -- olhava ao redor
--Eu mudei tudo pra você! -- entrou logo atrás dela e fechou a porta -- Coloquei do jeito como você um dia me disse que desejava seu lar. -- colocou as malas da outra perto do sofá -- Sempre tive muita atenção no que você diz. -- parou diante da amada -- Gablik gisat dinyay o ent tmon! (Antes de você meu mundo era cruel, você o fez valer a pena!)
--Ai, Zinara... -- olhou para a morena com os olhos marejados -- Ficou lindo!
--Mudei os quartos, ajeitei a cozinha, os banheiros... -- aproximava-se de Clarice -- E mudo o que mais você desejar, oh, Sitol Nisaa! (Rainha das Mulheres!) -- olhava nos olhos
--Você não precisa mudar nada, meu bem! -- segurou o rosto dela com as duas mãos -- Eu quero viver com você aqui e só!
--Entenda que o que acontece aqui, agora, não é simplesmente você chegando depois de uma transferência bem sucedida! -- segurou as mãos da paleoceanógrafa -- O dia de hoje é o resultado de tudo que construímos ao longo destes anos de amor, de companheirismo, de amizade, paixão, desejo, aceitação! -- ajoelhou-se -- O dia de hoje é o estreitar dos laços que me unem a você desde que o som de sua voz doce ecoou em meus ouvidos! -- falava com muito sentimento -- Abro as portas desta casa e de meu coração pra você, Sahar, como nunca fiz e nunca farei para ninguém mais! -- prometia com verdade -- Enti 3omri elli ebtada! (Você é minha vida que começa!) -- falava com intensidade -- O hak kolly domni lak! (Aqui está tudo de mim!) -- entregava-se completamente
--Vem aqui, amor da minha vida! -- puxou-a pelas alças do vestido para que se levantasse -- Vem! -- beijou-a com paixão
Zinara segurou Clarice pelas pernas e fez com que as enroscasse em sua cintura. Seguiram em direção ao quarto. -- Behebbik ia... (Amo você...) Sahar... -- falava entre beijos
--Ana fy knt... wknt fy ly... wAllah fyna... (Eu em você... você em mim... e Deus em nós) -- respondeu igualmente entre beijos
A cama já as aguardava quando a astrônoma deitou-se junto com sua amada. Não paravam de se beijar.
--Eu sonhei com esse dia... tanto... mas tanto... -- Clarice dizia entre beijos -- Ah... -- gem*u ao sentir o peso de sua amante sobre seu corpo -- Vem, meu amor... -- pedia ansiosa -- Preciso de você em mim... -- fechou os olhos -- Dentro de mim... -- sentia mãos ágeis despindo seu corpo
--Você... nunca me terá fora de você... -- seguia beijando o corpo de Clarice a cada peça de roupa que removia -- Estou na sua alma... -- deixava a outra mulher despí-la também -- E você na minha... -- mordeu uma das coxas da paleoceanógrafa -- Sho 7elo teb2a bi albii? (Quão bom é para você estar no meu coração?) -- sussurrava -- W jowa m5abeek... (E dentro dele eu vou te esconder...)
--Ai... -- segurou a morena pelos cabelos e gem*u
“Oh, Kitaabii (Meu Livro), aquele momento era muito mais que recebê-la em minha casa, que agora se tornava nossa. Era muito mais que fazer amor com a mulher que reina em meus pensamentos e governa meu coração. O que vivíamos ali, era a primavera trazendo flores para nossas almas, o calor do sol iluminando a escuridão de nossas dores e o Amanhecer da Vida transformando dois destinos em um mesmo caminho de Amor e Paz.
Pensei em tudo que vivi até então e só aí pude entender que cada lágrima de dor e cada sorriso de alegria moldaram a mulher que sou hoje e sem isso, talvez, eu não conseguisse me entregar da forma como fazia, tampouco valorizar o Bem que recebia com tamanha intensidade.
Neste ano cheio de tensões, de perseguição política, em que fui desqualificada por minhas declarações e entendimentos... ano em que até minha recondução à chefia do Departamento foi questionada por conta de tudo isso... Eis que, ela, Kitaabii, Sahar, meu Amanhecer, chegou... Oh, Sahar, kel ma shoufik besh3or eni ma5lo2 mn jdeed! (Oh, Amanhecer, toda vez que você me vê sinto renascer!)
Como ouvi de uma jovem: Milagres de Deus batem a nossa porta todos os dias...
Sahar chegou por dádiva de Deus, bateu na porta da minha vida e eu abri!”
Fim do capítulo
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Seyyed
Em: 27/09/2022
A coisa fica de um jeito que eu nem sei o que comentar. É tudo muito phoda (olha a erudita) leve animado tenso romântico político científico lindo@@ Fico impressionada! Eu super amo EBT!
A grande surpresa foi Cecília e antes dela Amed. Tu tira o melhor das pessoas das personagens que continuam humanas mas ficam lindamentchê especiais! PHODÍSSIMA!
Resposta do autor:
kkkkk Olha a erudita aí, meu povo! rs Morro de rir com esse trem!
Cecília e Ahmed te surpreenderam? Que bom, sinal de que eles aprenderam com a vida.
Obrigada, querida! Você tem sido muito gentil (e divertida) comigo.
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 23/04/2021
-
Oieee Sol,
Raquel tem uma esponja na barriga, decidi!! E estômago de avestruz. Kkkk
Cecília e seus pensamentos, mas como disse, tô gostando da transformação dela, e se for através da experiência de outros, ver a verdade, então melhor!! Passamos a maioria de nossas vidas com um vazio, pq estamos presas as ilusões que o materialismo nos proporciona e os prazeres fugazes, mas que só traz sofrimento. Cecília já começou a trilhar o tao dela, falta muito, mas a mudança vem de dentro. Temos que cuidar de mente, corpo e espírito.
Um é grato quando vê a miséria do próximo e claro, quando seu coração enterneceu a ponto de refletir e ter a empatia pelo próximo!!
Cecília tem muito pra dar, ela só deve acreditar. Um sempre acorda do entorpecimento e vê mais além de si, sofrer não seria um castigo, não existe tal coisa, seria a bondade de Deus misericordioso nos dando um meio para nos renovar, mesmo que não entendamos muitas vezes. Mesmo pq só existe aprendizado, lei divina...e caímos na família correta para apoiar e ajudar esse ser a desenvolver a ternura, aprender a ser menos egoísta e tudo que veio trabalhar pq tudo e todos estamos entrelaçados!!
Adorando a nova ligação que tem se formado entre Clarice, Raquel e Cecília!! Muito lindo, a família é muito importante, a união, essa parte do lar e das relações é uma das mais difíceis, porém quando podemos fazer parte ou sentir que fazemos, é o mais lindo! O espírito até fica mais leve, afinal, escolhemos ela para traçar nosso caminho nessa vida!!
Já falei de Penha, né?! Mas sempre bom dizer que amei, o amor cura!!
Eita, Hinni Bibus!!(acho q tem algo mal escrito) Todos os homi da roça aprendendo a serem românticos..
Jamile brocaaa!!!! Que horrível é pensar que nesses tempos pessoas morrem ainda de cólera e milhares de coisas mais porque não tem o que deveria ser de direito de qq um. Privatizar pq ganham mais, enquanto esses aí que não lhe interessam, morrem da pior forma! Com razão estamos vivendo assim,com o mundo como está, em guerra.
Um trechinho que encontrei no livro " Nas Fronteiras da Loucura", Apenas peguei uma parte que achei que caberia aqui, não sei se acertei. Eu tinha marcado já e lembrei.
"A incompreensão grassa dominadora, sem que os homens encontrem um denominador comum para o entendimento que deve viger entre todos. O egoísmo responde pelo inconformismo e pela prepotência, pela volúpia dos sentidos e pela indiferença em relação ao próximo"
Nota da comentarista: O livro Água Futuro Azul, de Maude Barlow, está no amazon, não tem grátis...fiquei iludida kk. Mas encontrei um artigo, apresentação do livro. Rs. Meio difícil pra mim pq n manjo, mas passarei pra Eulália, ela q me explique kk
Nem todo mundo pode ser comprado Deputadin!!
Quando a gente pensa que essa mulher não vai fazer a gente chorar mais, ela vem com Ahmed e Ahmed João, eita, me emocionei! Que sentimentos bonitos através de palavras tao simples, mas sinceras. Quanto aprendeu, demorou,mas estamos quase em 2018 na estória, já era hora! E uma conversa dessas, sinceras tb pra não deixar o menino pensando que não é amado!! Muito lindo,uma emoção boa,não esperava por essa.! Lindu, lindu,lindu!
Ya Ledaaaaa quero passar umas tardes com a senhora!!
Tive que me segurar com essa despedida, Deus é mais!! E essa frase em árabe deixa a coisa mais linda, Ana fy knt, wknt fy ly wAllah fyna! (Eu em você, você em mim e Deus em nós!). Calma, Clarice,tudo chegará, está programado para que no momento certo estejam por fim, unidas pertinho,pertinho! Não turbe seu coração!! Que diacho de provérbio ou frase é essa?" Antes que os olhos da carne se fechem" que significa isso??!! Morte q num é!!
Três subtítulos seguidos e agora você fechou com Khalayla e todos que sofrem fugindo para cedro, mt forte isso!! Sim,nascemos com tanto, mas tudo muda e passamos a refletir ao pensar na vida que tivemos,que víamos, mas não enxergávamos. Ser grato pelo que tínhamos e o que temos agora.(me refiro tb aos q tinham um ofìcio antes da guerra) E tudo não sempre muda pra pior, vai mudar pra melhor, nao iam indicar pra levarem pra algum lugar onde estariam pior.
Khaled sofre,lhe custa aceitar, tirar suas dores
"Quando aprenderei a aceitar os caminhos que nossos amados trilham com seus próprios pés?" Pergunta difícil,às vezes me faço a mesma pergunta, Khal...
Zinara é masoquista, de forma alguma deixo essa mulher tocar em mim...tá doida,ficar pior que dps! kkkk.. Essa Akemi n é de Deus!! Nunca mais poderei nadar...
Zinara, vc tem mais uma responsa....vai dar conta?! N paro de rir, muito!!!!!!!!!!!! Olha o tanto de coisa que a idosa tinha...cartilha de td!! Danou-se!
Aff,Cátia! Coitada! NÃO se pode nem protestar lutando pelos direitos, nem precisaria tá lutando por um direito q é nosso...ela teve sorte , mas e os demais...absurdo!!Uma realidade cruel!
Aí tá como "endinheirou" a danada da caipira !!
Gente que comeu bosta de galinha. Votar nele . Tão alienados .E já deu pra mim!! Cuidado, tá cheio de espiritismo ortodoxo,tudo falso moralista, hipócritas....num sei onde tiram essas ideias pq de Kardec que não foi!! Mas como André Luis disse: O mal n merece comentários...
O mico q tá rolando agora é LGPD kkkk. Novo meme saindo quentinho..LGBT e o cara fala LGPD...n sei como parou nessas letras Hahahaha
Voltei do futuro pra dizer que a radiação(Bolz0) tá aqui ainda!! Nao descam,continuem em órbita!
Mulher, não aguento com as frases q vc mete e palavras que inventa, até em coisa séria vc desestressa!Só podia ser Janaína tb!! rs
Zinara vai descobrir Planet 9! lalalalala.
Fiquei triste por Rosa que teve que voltar, mas se n fosse por isso tb n chegaria ao grupo de ajuda. Tudo leva a um caminho que no final é bom!
Depois de tanto tormento, vem esse clima lindo de amor! Adoro, tao lindas! Mesmo estando sofrendo pela distância Zinara foi sempre otimista e com lindas frases..uma romântica mesmo.......
Caramba,que lindo momento, meus olhos lacrimejam, tudo tão lindo, final de capítulo sublime,maravilhoso!! Eu acho que esse foi o melhor final de capítulo para mim!!!! Tô muito emocionada...
Obrigada por uma escrita tão linda, com tanta intensidade,paixão e verdade! O que Zinara falou não tem tradução. E sim,tudo o que ela passou, levou ela a dar mais significado e a reconhecer o amor de sua vida!!A estar aí! E todos esses anos construindo a base dessa relação,unindo mais e mais,amando cada dia, agora finalmente merecem o tão sonhado lar, tão sonhada união, que já existia,mas agora é palpável, vão estar juntas no mesmo lar! Tive que ler mts vezes pq n podia nem entender, tentando processar tal felicidade em meu peito!!! Juro,meu cérebro falhou rs ou pq li td de vez!
Parabéns, tenho certeza que você vai finalizar essa estória de forma que todos fiquem satisfeitos. Eu tenho certeza em meu coração que estarei feliz e contente!! Cumpriste lo que prometiste.
Está estória será eternizada em meu coracao.
Um dia, será um libro e terei sua letra multante nela com um autográfo!
Beijao, lindo finde! Cuidem-se!
Lai
Resposta do autor:
Olá minha querida Lailinha!
Tudo bom?
Assim como a família de Zinara, a família de Clarice também aprendeu, progrediu e estreitou os laços de amor! Gostei muito do que falou sobre Cecília. E também da passagem que compartilhou comigo. Obrigada.
A água e o direito de acesso a ela é um problema pulsante e atual. Fiz questão de abordar neste conto não à toa.
Sim, o livro é vendido. Eu ganhei de presente de uma pessoa que luta nesta causa das águas.
Ahmed cresceu bastante como homem e gradualmente evolui como pai.
A massagem de ya Akemi vale a pena. Creia.
E sim: ya Julieta se mudou!!!!
Fico feliz que o romantismo da história tenha te tocado. Virar livro não garanto mas espero que você goste do desfecho.
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 27/04/2021
Andrea Rios!!!! Vc foi ali na estacao espacial foi?!!rs.
Já sei que tá com suas coisas, ocupadix! ;)
Onde xê tá com nosso capítulo??!!Deixe de Dourar mt ele!!Queremos ler!!
Mirian Ribeiro mandou há pouco tempo um alô pelo grupis do Tao, disse que tá esperando tb o capítulo!! Ela publicou um site da BBC sobre como a Mudanca climática está alterando p eixo de rotacao da terra. E vc foi perder o face logo agora, sua grande chance pra voltar a bombar o grupo!!!! O mulher...anote na agenda a senha da prox vez!!!!!!!!!!!!
Tô precisando tb encontrar uns artigos no banco de dados de instituicoes que se especializam em estudar geomagnetismo? Pode ser inglês tb! Agradeceria sua ajuda! ;). O pôster dela Me lembrou que tava lendo sobre os campos e como n achei nada mais deixei, resolvi pedir ajuda da Rainha das maestras kkkkk.(Sou boa inflando o ego) rsrs. Aproitei pra pedir logo, ansiosiedade master e Lali tá ocupada assistindo uma defesa de doc! rs.
Beijos!!
Ps:Tenho que puxar sua orelha sempre...vai ficar q nem dumbo! Hahahaha
ps: Sabe que falo td de brinks!!Tenha quarta,quinta e sexta linda pq vc pq vc tem postar até sábado ao menos! kkkkk.
Resposta do autor:
Boa noite, Lailinha!
Você e essa Andreia Rios... rs Estação Espacial só olhando para o céu...
Eu já postei tudo. Samira fez uma pressão básica! kkk
Fala para Miriam dar alô aqui, por favor. Ela sumiu! Ela e outras tantas amigas.
Eu não conheço banco de dados abertos como você deseja. Pode existir mas não estou ciente. Dá uma olhada no banco da Rede Magnética do Brasil, por favor e vê se te atende.
Pode puxar as orelhas. Você tem crédito para tal.
Beijos,
Sol
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Cristina
Em: 27/04/2021
Olá Sol!
Um ano de tensão! E realmente foi!
Gostei muito da conversa de Ahmed e Ahmed João e dos conselhos que ele lhe deu. Quem dera todo pai tivesse uma conversa assim com seu filho! Tenho certeza que teríamos homens melhores esntre nós!
Zinara síndica?? KKKK. Quem diria hein!!!
Ao ler este capítulo, comecei a lembrar como os fatos se sucederam até chegar ao ponto em que estamos. Como se fossem engrenagens de uma máquina em movimento trabalhando com um objetivo que ainda não sabemos.
Acredito que esse momento em que estamos vivendo é, de alguma forma, necessário. Espero que seja breve!
Zinara é uma personagem apaixonante! Muito intensa em tudo que faz; de um coração enorme e acolhedor; inteligente e sábia. Clarice com sua doçura vem somar e completar esta união formando este casal tão lindo!
Amei este final de capítulo!!
Um grande abraço! Bjs.
Resposta do autor:
Olá Cristina!
Foi um ano muito tenso mesmo!
Para termos homens e mulheres melhores somente com uma grande mudança de cultura e educação. Mas eu acredito que assim será, apesar de tudo!
E ser síndica não é padecer no paraíso como ya Julieta pensa! rs
Estes momentos ruins são necessários e o coletivo pediu por eles, não? Mas confesso que desejo que viremos logo essa página.
Você gosta do casal, não? Eu também. Sentirei saudades.
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 27/04/2021
Andrea Rios!!!! Vc foi ali na estacao espacial foi?!!rs.
Já sei que tá com suas coisas, ocupadix! ;)
Onde xê tá com nosso capítulo??!!Deixe de Dourar mt ele!!Queremos ler!!
Mirian Ribeiro mandou há pouco tempo um alô pelo grupis do Tao, disse que tá esperando tb o capítulo!! Ela publicou um site da BBC sobre como a Mudanca climática está alterando p eixo de rotacao da terra. E vc foi perder o face logo agora, sua grande chance pra voltar a bombar o grupo!!!! O mulher...anote na agenda a senha da prox vez!!!!!!!!!!!!
Tô precisando tb encontrar uns artigos no banco de dados de instituicoes que se especializam em estudar geomagnetismo? Pode ser inglês tb! Agradeceria sua ajuda! ;). O pôster dela Me lembrou que tava lendo sobre os campos e como n achei nada mais deixei, resolvi pedir ajuda da Rainha das maestras kkkkk.(Sou boa inflando o ego) rsrs. Aproitei pra pedir logo, ansiosiedade master e Lali tá ocupada assistindo uma defesa de doc! rs.
Beijos!!
Ps:Tenho que puxar sua orelha sempre...vai ficar q nem dumbo! Hahahaha
ps: Sabe que falo td de brinks!!Tenha quarta,quinta e sexta linda pq vc pq vc tem postar até sábado ao menos! kkkkk.
Resposta do autor:
Boa noite, Lailinha!
Você e essa Andreia Rios... rs Estação Espacial só olhando para o céu...
Eu já postei tudo. Samira fez uma pressão básica! kkk
Fala para Miriam dar alô aqui, por favor. Ela sumiu! Ela e outras tantas amigas.
Eu não conheço banco de dados abertos como você deseja. Pode existir mas não estou ciente. Dá uma olhada no banco da Rede Magnética do Brasil, por favor e vê se te atende.
Pode puxar as orelhas. Você tem crédito para tal.
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 26/04/2021
Oi Sol tudo bem? Uma ótima semana pra você!
A Ju anda bem preguiçosa para leitura, mandei vários livors e nada de ler.
Beijos querida!
Resposta do autor:
Boa noite!
E o que aconteceu com ela para andar nesta preguicinha?
Beijos e boa semana!
Sol
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Mille
Em: 23/04/2021
Oi
Será que Cecilia vai ajudar a Rosa e seus filhos??
E o povo achando que a Lenda iria salvar o Brasil, só conserva mesmo. Um ignorante que só pensa em si
Raquel tem uma lombriga que consume tudo que ela come oh bichinha que nunca está satisfeita, falou em comida sempre tem espaço.
Kkkkk dona Leda só de olha na filha e sua assanhada com o urso de pelúcia.
Zinaria e Clarice vai incendiar o prédio dona Julieta bate já já na porta dela kkk.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá Mille, tudo bem?
Cecília ficou disposta a ajudar, foi tocada pelo sentimento. Um grande passo!
Essa Lenda foi o maior momento de alucinação coletiva que já vi!
Raquel... Bem, haja apetite! rs
Ya Leda não perde uma!!
Dona Julieta agora está noutra! kkk
Beijos!
Sol
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Zaha
Em: 23/04/2021
-
Oieee Sol,
Raquel tem uma esponja na barriga, decidi!! E estômago de avestruz. Kkkk
Cecília e seus pensamentos, mas como disse, tô gostando da transformação dela, e se for através da experiência de outros, ver a verdade, então melhor!! Passamos a maioria de nossas vidas com um vazio, pq estamos presas as ilusões que o materialismo nos proporciona e os prazeres fugazes, mas que só traz sofrimento. Cecília já começou a trilhar o tao dela, falta muito, mas a mudança vem de dentro. Temos que cuidar de mente, corpo e espírito.
Um é grato quando vê a miséria do próximo e claro, quando seu coração enterneceu a ponto de refletir e ter a empatia pelo próximo!!
Cecília tem muito pra dar, ela só deve acreditar. Um sempre acorda do entorpecimento e vê mais além de si, sofrer não seria um castigo, não existe tal coisa, seria a bondade de Deus misericordioso nos dando um meio para nos renovar, mesmo que não entendamos muitas vezes. Mesmo pq só existe aprendizado, lei divina...e caímos na família correta para apoiar e ajudar esse ser a desenvolver a ternura, aprender a ser menos egoísta e tudo que veio trabalhar pq tudo e todos estamos entrelaçados!!
Adorando a nova ligação que tem se formado entre Clarice, Raquel e Cecília!! Muito lindo, a família é muito importante, a união, essa parte do lar e das relações é uma das mais difíceis, porém quando podemos fazer parte ou sentir que fazemos, é o mais lindo! O espírito até fica mais leve, afinal, escolhemos ela para traçar nosso caminho nessa vida!!
Já falei de Penha, né?! Mas sempre bom dizer que amei, o amor cura!!
Eita, Hinni Bibus!!(acho q tem algo mal escrito) Todos os homi da roça aprendendo a serem românticos..
Jamile brocaaa!!!! Que horrível é pensar que nesses tempos pessoas morrem ainda de cólera e milhares de coisas mais porque não tem o que deveria ser de direito de qq um. Privatizar pq ganham mais, enquanto esses aí que não lhe interessam, morrem da pior forma! Com razão estamos vivendo assim,com o mundo como está, em guerra.
Um trechinho que encontrei no livro " Nas Fronteiras da Loucura", Apenas peguei uma parte que achei que caberia aqui, não sei se acertei. Eu tinha marcado já e lembrei.
"A incompreensão grassa dominadora, sem que os homens encontrem um denominador comum para o entendimento que deve viger entre todos. O egoísmo responde pelo inconformismo e pela prepotência, pela volúpia dos sentidos e pela indiferença em relação ao próximo"
Nota da comentarista: O livro Água Futuro Azul, de Maude Barlow, está no amazon, não tem grátis...fiquei iludida kk. Mas encontrei um artigo, apresentação do livro. Rs. Meio difícil pra mim pq n manjo, mas passarei pra Eulália, ela q me explique kk
Nem todo mundo pode ser comprado Deputadin!!
Quando a gente pensa que essa mulher não vai fazer a gente chorar mais, ela vem com Ahmed e Ahmed João, eita, me emocionei! Que sentimentos bonitos através de palavras tao simples, mas sinceras. Quanto aprendeu, demorou,mas estamos quase em 2018 na estória, já era hora! E uma conversa dessas, sinceras tb pra não deixar o menino pensando que não é amado!! Muito lindo,uma emoção boa,não esperava por essa.! Lindu, lindu,lindu!
Ya Ledaaaaa quero passar umas tardes com a senhora!!
Tive que me segurar com essa despedida, Deus é mais!! E essa frase em árabe deixa a coisa mais linda, Ana fy knt, wknt fy ly wAllah fyna! (Eu em você, você em mim e Deus em nós!). Calma, Clarice,tudo chegará, está programado para que no momento certo estejam por fim, unidas pertinho,pertinho! Não turbe seu coração!! Que diacho de provérbio ou frase é essa?" Antes que os olhos da carne se fechem" que significa isso??!! Morte q num é!!
Três subtítulos seguidos e agora você fechou com Khalayla e todos que sofrem fugindo para cedro, mt forte isso!! Sim,nascemos com tanto, mas tudo muda e passamos a refletir ao pensar na vida que tivemos,que víamos, mas não enxergávamos. Ser grato pelo que tínhamos e o que temos agora.(me refiro tb aos q tinham um ofìcio antes da guerra) E tudo não sempre muda pra pior, vai mudar pra melhor, nao iam indicar pra levarem pra algum lugar onde estariam pior.
Khaled sofre,lhe custa aceitar, tirar suas dores
"Quando aprenderei a aceitar os caminhos que nossos amados trilham com seus próprios pés?" Pergunta difícil,às vezes me faço a mesma pergunta, Khal...
Zinara é masoquista, de forma alguma deixo essa mulher tocar em mim...tá doida,ficar pior que dps! kkkk.. Essa Akemi n é de Deus!! Nunca mais poderei nadar...
Zinara, vc tem mais uma responsa....vai dar conta?! N paro de rir, muito!!!!!!!!!!!! Olha o tanto de coisa que a idosa tinha...cartilha de td!! Danou-se!
Aff,Cátia! Coitada! NÃO se pode nem protestar lutando pelos direitos, nem precisaria tá lutando por um direito q é nosso...ela teve sorte , mas e os demais...absurdo!!Uma realidade cruel!
Aí tá como "endinheirou" a danada da caipira !!
Gente que comeu bosta de galinha. Votar nele . Tão alienados .E já deu pra mim!! Cuidado, tá cheio de espiritismo ortodoxo,tudo falso moralista, hipócritas....num sei onde tiram essas ideias pq de Kardec que não foi!! Mas como André Luis disse: O mal n merece comentários...
O mico q tá rolando agora é LGPD kkkk. Novo meme saindo quentinho..LGBT e o cara fala LGPD...n sei como parou nessas letras Hahahaha
Voltei do futuro pra dizer que a radiação(Bolz0) tá aqui ainda!! Nao descam,continuem em órbita!
Mulher, não aguento com as frases q vc mete e palavras que inventa, até em coisa séria vc desestressa!Só podia ser Janaína tb!! rs
Zinara vai descobrir Planet 9! lalalalala.
Fiquei triste por Rosa que teve que voltar, mas se n fosse por isso tb n chegaria ao grupo de ajuda. Tudo leva a um caminho que no final é bom!
Depois de tanto tormento, vem esse clima lindo de amor! Adoro, tao lindas! Mesmo estando sofrendo pela distância Zinara foi sempre otimista e com lindas frases..uma romântica mesmo.......
Caramba,que lindo momento, meus olhos lacrimejam, tudo tão lindo, final de capítulo sublime,maravilhoso!! Eu acho que esse foi o melhor final de capítulo para mim!!!! Tô muito emocionada...
Obrigada por uma escrita tão linda, com tanta intensidade,paixão e verdade! O que Zinara falou não tem tradução. E sim,tudo o que ela passou, levou ela a dar mais significado e a reconhecer o amor de sua vida!!A estar aí! E todos esses anos construindo a base dessa relação,unindo mais e mais,amando cada dia, agora finalmente merecem o tão sonhado lar, tão sonhada união, que já existia,mas agora é palpável, vão estar juntas no mesmo lar! Tive que ler mts vezes pq n podia nem entender, tentando processar tal felicidade em meu peito!!! Juro,meu cérebro falhou rs ou pq li td de vez!
Parabéns, tenho certeza que você vai finalizar essa estória de forma que todos fiquem satisfeitos. Eu tenho certeza em meu coração que estarei feliz e contente!! Cumpriste lo que prometiste.
Está estória será eternizada em meu coracao.
Um dia, será um libro e terei sua letra multante nela com um autográfo!
Beijao, lindo finde! Cuidem-se!
Lai
Resposta do autor:
Olá minha querida Lailinha!
Tudo bom?
Assim como a família de Zinara, a família de Clarice também aprendeu, progrediu e estreitou os laços de amor! Gostei muito do que falou sobre Cecília. E também da passagem que compartilhou comigo. Obrigada.
A água e o direito de acesso a ela é um problema pulsante e atual. Fiz questão de abordar neste conto não à toa.
Sim, o livro é vendido. Eu ganhei de presente de uma pessoa que luta nesta causa das águas.
Ahmed cresceu bastante como homem e gradualmente evolui como pai.
A massagem de ya Akemi vale a pena. Creia.
E sim: ya Julieta se mudou!!!!
Fico feliz que o romantismo da história tenha te tocado. Virar livro não garanto mas espero que você goste do desfecho.
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 23/04/2021
Ei Solzinha tudo bem por aqui e aí?
Quer dizer que eu ajudei é? Kkkkkkk....
Olha a Ju é assim, quando eu pego no pé e ameaço, ela lê e comenta... Rsrsrss.... Mas deixei de lado, ela tem que fazer isso por prazer e não por obrigação.
Beijos querida e um ótimo fim -de-semana!
Resposta do autor:
Bom dia!!!
Como assim não sabe que ajudou? Se ajudou!
Ameaça?? Nossa! kkk
Sim, por obrigação não pode. Mas ela costumava a aparecer e dar um alô. Que houve?
Beijos!!!
Sol
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Gabi2020
Em: 22/04/2021
Oi Solzinha tudo bem?
- Que futebol animado, aliás o povo é bem animado... Gostei da forma como você abordou as conversas, intercaladas com os lances de futebol. É aquilo, você escreve bem demais!
- Quanta lambição, sessão beijo na boca!
- Jamila pisando em terreno espinhoso, isso é preocupante, vamos ver no que vai resultar essa negativa.
- Ahmed finalmente reconhecendo que errou, nunca é tarde não é?
- Olha vou te dizer, essa Zinara tem o dom da palavra, ô mulher que fala bonito hein? Impossível não se emocionar com as palavras de carinho direcionadas à Clarice... Só senti falta da bolsa... Kkkkkk...
- Os relatos de Sara são sempre tocantes e você caipira é fogo viu? Escreve de um jeito , que consigo visualizar a cena.
- Akemi... Preciso de uma massagem dessa! Ela falou da síndica e lembrei da dona Soraia, aquela era maluca de pedra!
- Vendo a Cátia discursar e sofrer o atentado, fico preocupada com os tempos difíceis que estamos vivendo, vou te contar, há uns 15 dias postei na minha rede social, um post falando mal do presidente, olha quase apanhei viu? E ontem postei: “Fora Salles!” e já vieram encher e ainda responderam: “Fica Salles!” Que mundo é esse? Onde vamos parar?
- Imagine quantas Rosas não tem por aí?
- Tadinha da ursa!! Kkkkkkk....
Sahar chegou por dádiva de Deus, bateu na porta da minha vida e eu abri!”
Fechou com chave de ouro, lindo demais!! Parabéns Solzinha!
Beijos querida!
Ps. Recado dado!
Resposta do autor:
Olá Gabinha!
Tudo bem?
Já leu? Nossa! Fico feliz com isso. E com sua recepção sempre tão calorosa à minha escrita caipiresca.
Esse capítulo foi imersão no passado não tão distante. Eu escrevia, lembrava... Para mim, vida real, foi um ano bem tenso!
Essa defesa injustificável ao presidente é parte real, das pessoas ainda iludidas, e parte maquinada. Tipo Cambridge Analytics. Recomendo o filme Brexit. O que aconteceu ali foi o início de uma nova era de manipulação. E no mundo todo.
O meu capítulo preferido é o próximo que virá. Talvez vocês não gostem. Mas eu, abestada como sou, chorei de emoção em vários momentos.
Aliás, obrigada por ter ajudado Zinara a obter o endereço de Penha em Paulicéia. ;P
Beijos,
Sol
PS: obrigada por dar o recado
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Solitudine Em: 14/06/2024 Autora da história
Fico lisonjeada!!
Obrigada pelo carinho!
Beijos,
Sol