NO COMPASSO DO TEMPO
CAPÍTULO 179 – E Que Venha 2017!
Clarice e Zinara desfrutavam o que restava de suas férias em um agradável hotel em Rio dos Peixes, litoral do estado de São Sebastião.
--Ana melk hawak... (Eu sou a propriedade do seu amor...) -- sussurrava no ouvido da amante -- E você é minha! -- afirmou possessivamente enquanto mordiscava-lhe a orelha -- Ana msh ha3esh gher bss leek... (Eu sou somente sua...) -- exalou ar quente no pescoço da namorada
--AH, Zinara, AH!! -- gemia alto -- AH! -- fechou os olhos ardendo de excitação -- Não para! -- pediu
A astrônoma estava sentada em uma cadeira de madeira mantendo a mulher menor sentada de costas para si, a qual remexia-se sobre uma de suas coxas. Zinara movimentava a perna para provocar ainda mais a parceira, sussurando frases românticas em seu ouvido, provocando-lhe o sex* com os dedos e pressionando um dos seios com força dosada.
--AH, ai amor, eu... -- segurou a amante pela nuca, reclinou o tórax e gozou -- AH! -- gem*u mais uma vez
--Isso, habibi, assim... -- mantinha-se no mesmo ritmo -- Isso...
--AH! -- gem*u ainda mais alto e sentiu o corpo tremer -- Oh, oh, meu amor... -- mordeu o lábio inferior
--Yali maleat aayamee hana, ya habibi! (Você enche meus dias de felicidade, minha querida!) -- parou de se movimentar e abraçou-a pela cintura com força -- E eu simplesmente adoro vê-la goz*ndo comigo... -- mordia a orelha da namorada
Sorriu com os olhos fechados. -- Você me deixa extasiada, amor. -- respirou fundo e abriu os olhos lentamente -- Eu fico toda molinha... -- abraçou os braços da astrônoma
--Quer se deitar, meu bem? -- continuava mordendo pescoço e orelha da amada -- Hein? Ou... hal a’jabaki? (gosta disso?)
--Gostar eu gosto... na verdade, amo! -- respondeu melosa -- Mas preciso de um tempo pra me recompor...
--Sahar dá as ordens aqui. -- levantou-se guiando a outra para se levantar também -- Quer ir pra cama? -- seguiram juntas abraçadas até a cama -- A gente vai. -- guiou a paleoaceanógrafa para se deitar e deitou-se sobre ela. -- A gente deita... -- beijou-a intensamente
--Ai! -- segurou o rosto da outra com as duas mãos -- Era pra deitar e descansar e não pra senhora me deixar sem ar... -- sorriu e beijou-a novamente
--Ah... -- beijou-a -- Sahar não explica... -- mordeu o lábio da outra -- A caipira fica sem saber... -- beijou-a mais uma vez -- Laa acrif... (Eu não sei...) -- fingia inocência
--Quer deixar de ser safadinha, doutora Zinara? -- falou em tom brincalhão -- Deita aí e sossega! -- empurrou-a pelos ombros para que se deitasse de barriga para cima -- E fica bonitinha e bem comportada porque eu quero usar você como meu travesseiro. -- ajeitou-se no peito da morena -- E quero descansar um pouco. -- beijou-lhe o ombro e se ajeitou novamente
--Como eu disse, Sahar dá as ordens. -- abraçou-a carinhosamente -- A caipira fica aqui mansinha. -- beijou a cabeça da amada -- Com Al Sitol Nisaa (A Rainha das Mulheres) nos meus braços... A’jabani haqqan! (Eu gosto muito!)
--Que horas são, amor? -- perguntou preguiçosamente -- Tô tão molinha que não aguento nem ver... -- riu brevemente
--São exatamente: -- virou o rosto para o lado e mirou o relógio da pousada -- três e cinquenta e oito da manhã. -- acariciava as costas de Clarice
--Gente! -- surpreendeu-se arregalando os olhos -- Estamos fazendo amor nesse quarto desde às sete da noite! -- estava pasma -- Meu Deus... -- acabou rindo -- Olha só o que você faz comigo, sua caipirinha terrível e taradinha! -- beijou-a nos lábios -- Safada!
--Eu?! -- fingiu-se indignada -- A culpa de tudo isso é sua, Sahar. -- afirmou brincalhona -- Não fui eu quem trouxe como livro de cabeceira simplesmente o Kamasutra Lésbico. -- beijou-a também -- Aí sabe que a caipira é pesquisadora, então tinha que ir conferir se aquelas posições funcionavam... Wana amil eh? (Fazer o que?)
Achou graça e beijou-a novamente. -- Você é terrível! -- ajeitou-se no colo da amada mais uma vez -- Terrivelmente safadinha e amável... -- beijou o ombro dela
--Sou a parte mais inocente nessa história. -- continuava brincando
--Inocente é tudo que você não é, Zinara Raed. -- fechou os olhos e ficou uns instantes calada -- Adoro esse carinho que você faz... -- rompeu o silêncio -- Eu me sinto tão acolhida, tão amada... -- abriu os olhos e sorriu
--Tem dúvidas de que seja? -- beijou a cabeça da outra -- Dayman betkhaleeeni mebtsmeh... (Você sempre me faz sorrir...) -- sorriu
--Ai, eu te amo tanto... -- deram-se uma das mãos e entrelaçaram os dedos -- Os momentos que vivemos são sempre tão especiais... -- lembrou-se dos últimos acontecimentos -- Eu adorei o final de ano! A formatura de Aisha foi uma cerimônima simples mas tão bonita! Tão emocionante! E aquela bagunça na casa dela... Foi divertido!
--Esse final de ano foi emocionante, divertido e surpreendente! -- concordou -- Não imaginava que Nagibe e Dora fossem aparecer na casa de Aisha e Janaína levando Khadija e o pequeno Chede. Tampouco imaginava que apenas Cid e a família não dessem as caras na formatura e somente na nossa chegada na roça fossemos descobrir porque. -- mãos se acariciavam -- Falar de Cid foi quase um tabu durante nossa breve estadia no Gyn.
--Acho que sua família não quis trazer o assunto pra não cortar o clima da formatura. A alegria de Aisha era contagiante e eles não queriam mudar o foco do momento. -- considerou -- E a casa delas tava tão cheia... -- lembrava achando graça -- Seus pais, seus irmãos e famílias, Georgina e Hassan, dona Najla, seu Marco, a gente... Pensei que Janaína ia ter um troço! -- riu brevemente
--Tem razão, eles devem ter pensado nisso mesmo. -- concordou -- Mas confesso que tive muita dó de akhuuya (meu irmão) quando o encontramos na roça com a pequena Yasirah no colo e morrendo de saudades de Penha e Cidmara. -- pausou brevemente -- E eu também morri de saudades de awladii (minha criança). Cidmara... -- pensou na sobrinha -- Ya wail... (Que pena...) -- suspirou
--Foi a única coisa triste desse final de ano: a ausência de Cidmara e Penha. -- deslizou a mão pelo braço da morena e abraçou-a pela cintura -- Mas pensa bem na situação da sua cunhada... primeiro descobre que foi traída, perdoou... Aí, um belo dia, ela chega em casa e vê o marido com uma filha nascida de uma traição. É difícil, né?
--De fato... -- abraçou-a também -- “Por muuuito menos a caipira se dana e a casa cai!” -- pensava nas reações de Clarice
--E que história doida, né?
--Aywah! (Sim!) Georgina me disse que quando Cid apareceu pela primeira vez com a menina, foi uma gritaria tão grande que ela pensou que alguém tivesse morrido! -- riram juntas -- Mas logo a pequena Yasirah conquistou os corações de todos e junto com Chede virou um dos bibelozinhos da roça! -- pensava nas crianças -- E que lindinhos eles são!
--Eles são umas fofurinhas! -- visualizou na mente o rostinho dos bebês -- Quando mamãe conhecê-los vai ficar doida! E ela que já gosta de criancinhas! -- pausou brevemente -- Amor, cá pra nós, será que a menina é mesmo filha de Cid? -- perguntou curiosa
--Nagibe me disse que teve dúvidas porque na opinião dele, ela deveria ser um ou dois meses mais velha. No entanto, como Khadija disse mais de uma vez que Cidmara teria irmão e o próprio Cid não sabe exatamente a última vez em que esteve com a tal forasteira... -- considerou -- Eles sempre foram muito... como dizer? Desapegados de calendário. -- riu brevemente -- Por fim Ahmed falou que no Centro de mãe Agda foi dito que a pequena é de usritina (nossa família). Juntou tudo isso, acho que ninguém vai perder tempo contestando paternidade. -- pausou brevemente -- Pra mim, ela é nossa! -- beijou a cabeça da namorada -- Mas eu também quero minha Cidmara de volta... -- lamentou a ausência da menina
--E nós vamos tê-la de volta! Deixe que o tempo faça a parte dele, amor.
Depois de uns minutos caladas apenas sentindo uma a outra, Zinara falou: -- Eu também gostei muito da parte das festas passada em São Sebastião. A visita de ya Ritinha, ya Zezé, Cecília e Adamastor foi bem animada. -- lembrava sorridente -- A farra das velhinhas na casa de Raquel visitando a neném. Acho interessante que o Di não parece ter ciúmes.
--Não, ele não tem. É uma gracinha meu sobrinho! -- sorriu ao lembrar do menino -- E Isabel é uma fofurinha, né?
--Coisa das mais lindas! Por isso que as velhinhas piram! -- brincou -- E eu adoro ver tantas criancinhas chegando em nossas vidas! Jayed jedan! (Muito bom!)
--E a queima de fogos em Princesinha do Mar foi linda também! Tanta gente, meu Deus... mas eu adorei! -- levantou a cabeça e olhou no rosto da amada -- Cheguei a pensar que você fosse ficar tensa mas não me pareceu assim. -- prestava atenção nas reações da outra
--Infijaaraat... infijaraat... (Explosões, explosões...) Também cheguei a ficar receosa de como me sentiria, porque a queima de fogos em Princesinha do Mar é mais intensa, esplendorosa e barulhenta que nos outros lugares. -- olhava nos olhos de Clarice -- Mas não... essa fase de sofrer por lembranças traumáticas já passou na minha vida. -- beijou-a -- Da el 7ozn f 2alby enti shelto awel mashoftk ana! (Quando eu te vi pela primeira vez você removeu a tristeza do meu coração!) -- beijou-a mais intensamente
--Ai... -- interrompeu o beijo precisando de ar -- Pare de ficar me seduzindo com palavras doces... -- mordeu o lábio inferior da outra -- Sua safadinha!
--Eu apenas respondi a sua pergunta. -- fingiu inocência mais uma vez
--Eu não sei quem finge mais inocência... -- beijou-a -- Você ou minha irmã, que acabou se perdendo da gente na praia de propósito! -- beijou-a mais uma vez
Riu brevemente. -- Ah, não, Sahar, aí não... -- acariciou o rosto da outra -- Aquele sumiço de Cecília e Adamastor foi a coisa mais forçada que eu já vi! -- riu de novo -- Mas quando os dois apareceram na casa de ya Leda no dia seguinte ouviram foi muito!
--Bem feito, quem mandou? -- brincava com o cordão da astrônoma -- Cecília faz cada coisa!
--Se ela soubesse que na barraca de camping dá pra fazer tanto trem danado de bom... -- beijou-a
--Zinara Raed, pare com isso, viu? -- mordeu-lhe o queixo -- Além do mais nós temos um assunto bem sério a tratar aqui, antes que você me distraia de novo e eu me esqueça!
--Assunto bem sério? -- surpreendeu-se -- Como assim? Ezzai? (Como pode?) A gente tá em viagem de férias, aconteceu nada... -- estava tensa
--O assunto é justamente esse: viagem de férias! E mais: presente de formatura de Aisha, presentes pra criançada, lua de mel de seus pais, aquela viagem em setembro, o restaurante de comida viva e tantas outras coisas... -- enumerava
--Bitichkii min eh? (Qual é o problema? ) -- não entendia
--Você ficou muito sem dinheiro por causa do tempo que viveu em licença não remunerada. E daí mal voltou a trabalhar e receber pagamento, pagou o que devia a seus parentes, terminou o tratamento com Cláudia e foi se envolvendo em outras dívidas!
--Ah, Sahar, isso não é bem assim... Eu voltei a trabalhar em outubro de 2014 e já estamos em janeiro de 2017. -- objetou -- Tudo bem que meu dinheiro ainda anda bem contadinho, mas a única dívida que tenho são as prestações dessa pousada aqui. -- esclareceu -- Se você fala isso achando que eu não tenho responsabilidade pra comprar uma casa pra nós...
--Não é nada disso! -- interrompeu com jeito -- O que eu quero é acertar com você que pare de se comportar como um homem tradicional nessa coisa de querer bancar tudo sozinha! -- olhava nos olhos -- Quando resolvermos nossa situação e comprarmos nosso imóvel, por exemplo, será algo que as duas faremos juntas!
Deu um suspiro profundo. -- Baseeta, habibi (Sem problemas, querida.) -- concordou -- Mas não esqueça da notícia mais bombástica do ano passado: o governo de Suriyyah aceitou me pagar uma baita de uma indenização! -- salientou -- E com esse dinheiro eu não só vou ajudar camma Najla a pagar as dívidas da fazenda como terei condições de comprar em São Sebastião o imóvel que te conquistar o coração! -- falou animada -- E vou dizer pra você: Ta3ala 7abbib n3ish 7aeatna! (Venha meu amor viver nossa vida!) -- beijou-a
“E quando me disser isso eu vou entender nada mas a bousa, com toda certeza, vai saber!” -- pensou embevecida -- Hum, minha caipirinha, pare de me seduzir a essa hora da madrugada. -- beliscou a cintura da namorada de leve -- Além do mais, eu entendi muito bem que Jamila disse que vai haver um monte de descontos em cima da indenização por causa das trans*ções internacionais e impostos.
--E mesmo assim vai sobrar um tantão de masaari (dinheiro)! -- argumentou
--Que Jamila também disse que pode ser pago neste ano ou no outro ou no outro, a depender da burocracia dos dois países. Ou seja, a gente não sabe quando vai receber, então não dá pra contar com esse dinheiro ainda! -- beijou-a
--Mas eu não tô gastando por conta e tenho consciência desses fatores imprevisíveis. Tanto que usei muita cautela pra tratar desse assunto lá na roça. Basicamente só falei pra pedir reza e oração.
--No que fez bem, mas não quero você vivendo endividada. -- apertou a bochecha dela de leve
--Macleech! (Não se preocupe!) -- beijou-a invertendo as posições e deitando-se sobre a paleoceanógrafa -- Eu não me preocupo mais com dinheiro ou seja lá o que for. -- olhava nos olhos -- Dana bost 2edaia 3alashan salmt 3alek... (Agradeci muito a Deus porque conheci você...) -- sussurrava -- O resto é o resto! -- beijou-a
--Ai, amor... -- sentiu lábios quentes percorrendo seu pescoço
--Ainda temos outras posições do livro a pesquisar, Sahar... -- mordiscou-lhe o bico de um seio -- Hum... -- sugava lentamente
Clarice sorriu prazerosamente, imaginando que 2017 seria mais um ano inteiro para viver com Zinara. E mais uma vez se rendeu às sensações e esqueceu de tudo.
***
Cid estava em casa, pensativamente observando a pequena Yasirah dormir. O silêncio que reinava no ambiente fazia com que suas lembranças vagassem nos acontecimentos do passado recente.
“--E a burra aqui ficô isperandu ocê aparicê im casa di meu fio e nada di ocê ví! Cidmara cumeçô a mi pidí pra nóis vim simbora e dipois di tanta ispera nóis viemu. Todu mundu apoquentadu querendu intendê purque ocê num foi lá modi si dispidí di Zé Bento! -- falava alto com o rosto molhado por lágrimas doloridas -- E nóis chega aqui pra vê o que? Ocê feitu besta, cum a fia da tua traição cum a forastêra nus braçu... -- chorava -- Num bastassi a humiação de sabê qui ocê si deitô mais ôtra, inda tem essa, di ela dexá uma fia modi ocê criá!
--Eu num sabia... -- chorava também -- Ela dissi qui si eu num quisessi a minina, ia jogá a bichinha nus orfanatu e issu eu num pudia dexá, muié... -- tentava se explicar
--E issu num é pobrema meu! -- respondeu rispidamente -- Ocê vai criá ela, mais é sem eu!
--Penha... -- não queria aceitar
--Eu sempri sôbi qui sê muié di homi mais novu é um trem difícir, purque o diachu atenta e ocês sempre vão atrás di se deitá cum ôtra. -- esfregou as duas mãos no rosto -- Num vô passá o restu di minha vida tomandu chifre e sendu humiada pur ocê!
--Pelas caridadi, Penha, issu nunca qui vai acunticê! Eu ti amu! -- segurou-a pelos ombros
--Ocê ama é coisa ninhuma! -- desvencilhou-se com raiva e caminhou até a porta -- E eu cansei... -- ficou de costas para o marido -- Vô mimbora pra Paulicéia, modi vivê juntu cum meu fio! -- decidiu
--O que?? -- ficou em choque sentindo o coração disparar
--Eu e mais Cidmara. -- continuou a falar -- Ocê fica cum tua fia. Essa ôtra!
--Não, Penha, pelu amor di Deus, num faz issu! -- caiu de joelhos aos pés dela -- Ocê num podi mi dexá e num podi levá minha Cidmara pra longi di mim!
--Ocê foi curpadu di tudu issu desdi o dia qui si deitô cum ôtra muié pela primera veiz! -- desvencilhou-se dele -- Agora num podi chorá! -- saiu da sala e foi para o quarto
Cid ficou paralisado, ajoelhado e chorando sem saber o que fazer. Neste momento percebeu que Cidmara acompanhava tudo escondidinha atrás da mesa e chorava também.
--Cidmara, fia! -- Penha chamou
A menina lançou um último olhar para o pai e se levantou para ir até onde a mãe estava.”
--Nu fundu eu num quis acriditá qui ela ia simbora... -- falava consigo mesmo -- E quandu ela mandô eu dexá Yasirah cum baba e maama antis di í trabaiá, pensei qui era birra modi num tomá conta da minina... -- lembrava-se dos últimos momentos em companhia da esposa -- Eu saí pra labuta e quandu vortei do trabaio vi qui ela si foi e levô minha Cidmara... -- derramou uma lágrima sofrida
Cid não se arrependia de ter assumido a filha que entendia ser sua, mas sofria amargamente por ter perdido a esposa e a companhia de Cidmara. Ao mesmo tempo sentia-se um idiota por não ter acreditado na ameaça que Penha fez. Ele vinha tentando descobrir o novo endereço de Zé Bento em Paulicéia, mas os conhecidos do homem alegavam não saber. Provavelmente orientados por ele.
--Nem qui seji a úrtima coisa qui eu faça, vô discubri o paradêru di Penha e Cidmara e trazê as duas di vorta! -- prometeu para si mesmo -- E elas vão vortá, Yasirah, e vamu sê uma famia só! -- sussurrava para a bebê -- E só aí vai sê um filiz 2017!
***
Jamila e Cátia estavam em Cidade Restinga por conta do enterro do pai da advogada. Conversavam com Leonor na casa da família.
--Ainda bem que maínha conseguiu dormir. -- Leonor falava com o queixo apoiado em uma das mãos -- Ela chorou tanto, tadinha... -- lembrava -- Ai, minha irmã, foi tudo muito surreal! -- suspirou -- É foda!
--Eu imagino... -- segurou a outra mão da jovem -- E quem poderia pensar que uma coisa dessas ia acontecer? Baba morrer de infarto por causa de um aborrecimento no trânsito! -- balançou a cabeça contrariada -- Axra min kida mafiiš! (Não há merd* pior do que essa!)
Cátia não sabia o que dizer.
--Ele chegou aqui num aperreio da porr* por causa da discussão com o tal boyzinho que deu uma fechada no carro dele. -- lembrava -- Maínha disse que foi o maior estresse, que pensou que os dois iam sair no braço no meio da rua, teve medo que o boyzinho tivesse armado, mas cada um seguiu seu rumo sem maiores consequências; quer dizer, aparentemente. -- olhava para as outras duas mulheres -- Ele ficou só reclamando, só lembrando e daí, no meio da noite, aconteceu o infarto!
Não queria mais prolongar o assunto. -- Não fica lembrando, Leonor, deve ter sido muito dificil essa coisa de correr atrás de hospital no meio da noite e... -- não queria pensar -- Você e maama já sofreram demais! -- tocou o rosto dela -- Só lamento não ter estado aqui numa hora como essa. Aasif... (Sinto muito...) -- lamentava com muita sinceridade
--Você mora em outra cidade e não tinha como adivinhar. -- desvencilhou-se da outra com jeito -- Desculpa, mas eu acho que vou me deitar. -- passou a mão nos cabelos -- Essa maratona foi muito foda e minha cabeça tá estourando!
--É melhor você ir descansar mesmo. -- Cátia concordou -- E a gente vai indo pro hotel pra deixar vocês em paz. -- gesticulou -- Amanhã sua irmã vem pra cá e vocês passam mais tempo juntas.
--Isso. -- concordou com a esposa -- Amanhã Cátia volta pra São Sebastião por causa do trabalho dela e eu venho aqui pra ficar com vocês até sábado. Consegui negociar isso no escritório e aproveito também pra dar uma passada no fórum e ver uma pendência que ainda me sobrou aqui.
--Vocês não precisavam disso de hotel. Podiam ter ficado as duas aqui em casa desde que chegaram. -- objetou
--Entendi que a família precisava de espaço, não pense que foi desfeita. -- a geofísica esclareceu -- Pode deixar que em outra ocasião, num momento alegre, nós voltaremos e ficaremos nessa casa com vocês. -- prometeu com um sorriso
--Deixe eu te abraçar e te dar um cheiro! -- Jamila se levantou abrindo os braços -- Minha irmãzinha querida! -- abraçaram-se com força
Cátia ficou observando as duas mulheres e desejou que não estivessem passando por aquela dor. “Esse ano já começou lascando!” -- pensou desanimada -- "Briga no sindicato, Jamila ofendida por malucos no LivrodasFuça, o namoro de Leonor termina e o pai delas morre. Que merd*...”
***
--Essa história de baba só me fazia lembrar de você! -- Jamila falou enquanto se arrumava para dormir -- Virava e mexia só vinha sua lembrança no meu pensamento! -- afirmou preocupada
--Lembrar de mim? -- não entendeu -- Mas por que, minha Diva? Nunca nem tive problema de coração! -- sentou-se na cama
--Por causa dessa história de sindicato! -- sentou-se na cama também -- Quando você me disse que sua chapa venceu as eleições fiquei feliz, mas agora não sei se foi uma coisa boa! -- olhava para a loura -- Vocês herdaram um batalhão de problemas pra resolver, o governo tá uma escrotice só e vai ser um aperreio da porr* durante esses anos de mandato! -- esclarecia seus pensamentos -- Mal começaram e olha quanto fuzuê já aconteceu nesse mês de janeiro! -- passou a mão nos cabelos -- Na véspera da gente receber a notícia sobre baba, você chegou em casa com a bexiga lixa por causa daquela briga no Colegiado! -- lembrava
Balançou a cabeça concordando. -- Você tem razão, querida, acontecem coisas lá que me deixam possessa. -- admitiu -- Mas te dou minha palavra que não vou perder minha saúde por causa disso. -- prometeu -- Agora vem cá, vem dormir aqui abraçadinha comigo. -- deitou-se e abriu os braços -- Vou dar o carinho que você precisa. -- olhava para a esposa com olhos de acolhimento
--Oxe, minha galeguinha. -- deitou-se no peito da loura -- Vê se você se cuida porque não quero te perder! -- fechou os olhos -- Abadan! (Nunca!)
--Não vai, não. -- beijou a cabeça da advogada -- Não vai... -- abraçou-a com força
***
Ao cair da noite, Hana cantava para sua filhinha. Sentada no chão e ninando a bebê delicadamente em seus braços, era observada pelos atentos olhos de Kalil.
--Salamit-ha oum Elissa, meil ein weil meil hassad (Deus a abençoe mãe de Elissa, do olho do mal e da inveja), -- olhava para a criança -- wei salamtik ya Elissa, meil reim sheilee hassad (e Deus abençoe você Elissa, do chicote que te invejou) -- sorria -- Salamit-ha, salamit-ha, salamit-ha, salamit-ha (Deus abençoe, Deus abençoe, Deus abençoe, Deus abençoe), -- sussurrava baixinho -- salamit-ha, Elissa... (Deus abençoe, Elissa...) -- parou de cantar e ficou apreciando a pequena em seus braços
Kalil ficou emocionado com a canção, pois a música lhe parecia lembrar de algo querido mas bem distante, que ele não saberia explicar. Hana percebeu e fez sinal para que se aproximasse. O menino sentou ao lado dela e ficou admirando a bebê que dormia tranquilamente. A mulher então beijou a cabeça dele e os três ficaram silenciosamente juntos.
Em outro espaço do que sobrou daquele cômodo de apartamento, Sara prestava atenção no que se passava, dividindo-se entre observar sua filha Safia, que também dormia tranquilamente em seus braços, a irmã e a jovem Khalayla, que terminava de amamentar.
--É tão bom poder amamentar meu Abdullah e vê-lo assim, em paz! -- Khalayla rompeu o silêncio falando baixo -- Se eu tivesse permanecido em Al-Marash, muito provavelmente o destino deste menino já estaria selado como um dos futuros pequenos soldados do Estado Radical. -- considerava -- Não canso de agradecer a ya said (senhor) Emir, a ya sayyida (senhora) Kira, a você, a Hana e ao pequeno Kalil. -- olhou para a outra mulher e sorriu -- Chukran! (Obrigado!) Eternamente obrigado!
--Se existe alguém para agradecer, este é Kalil. -- Sara respondeu objetivamente -- Se ele não estivesse lá, duvido que ya Emir iria trazê-la para viver conosco. Talvez até dissesse: gaatak niila! (vá para o inferno!)
--Agradeço a todos! -- a jovem ponderou educadamente
Sara não respondeu e deteve-se apenas em sua bebê. Após uns minutos em silêncio, levantou-se e deitou sua pequena em uma espécie de berço improvisado no qual vinham dormindo sempre os três bebês. Hana fez o mesmo minutos depois e as duas mulheres ficaram um tempo caladas apenas observando suas filhas dormirem em paz. Kalil se aproximou timidamente de Khalayla e ficou observando o menino dela até que o mesmo adormecesse e a jovem mãe o colocasse junto às outras crianças no berço. Com isso, dirigiu-se a um cantinho e se preparou para dormir.
Khalayla subiu para o último andar do prédio e ficou sozinha observando as estrelas. Depois de alguns instantes, Sara se juntou a ela e iniciou uma conversa: -- Eina Ellayali? (Para onde foram as boas noites?) -- olhava para o céu
--Por quantas vezes sonhei olhando as estrelas? -- Khalayla continuava absorta no céu noturno -- Busco voltar a fazer isso... -- falava mais para si do que para a outra -- gwa albii mhma kan... (em meu coração, não importa o que...)
--Depois de 5 meses aqui conosco, -- encostou-se na mureta e olhou para a jovem -- entendo que já está na hora de você finalmente contar sua verdadeira história. -- demandou sem rodeios -- Principalmente aproveitando que os outros ainda estão fora, pagando os impostos ao Estado Radical, e por isso teremos privacidade enquanto não retornam. -- cruzou os braços
--Laa acrif... (Eu não sei...), não entendo... -- olhou timidamente para a outra -- Creio que já lhes contei tudo e...
--E agora eu quero a verdade! -- interrompeu-a de imediato -- Quero saber quem é você, de quem é esse filho e o que pretende. -- seu tom era direto -- Aquela sua história de santo...
--Mas é verdade! -- cruzou os braços sentindo-se indefesa -- Aquela história foi verdadeira! -- queria convencer a outra mulher -- Ele me apareceu pela primeira vez em um dia em que orei a Allah depois de muito tempo sem fazer isso e me disse que ia me ajudar, que eu tinha que ter meu filho aqui, em Al-Bukamal. -- contava -- Depois de um tempo ele apareceu de novo e me orientou a como aproveitar uma das raras oportunidades em que podia sair sozinha para me esconder no local onde o caminhão seria carregado de verduras. Então eu fiz tudo que ele mandou e fui encontrada por Kalil enquanto descarregava o caminhão. -- pausou brevemente -- E o resto você já sabe. -- suspirou -- Depois que cheguei, o santo ainda não me apareceu novamente.
Sara examinava o rosto da outra. “Ela parece falar a verdade. Parece acreditar nesse tal santo.” -- pensou desconfiada -- E o resto? Quem você é, de quem é esse filho e o que pretende? -- insistiu -- Eu me indispus com todos aqui por sua causa! Ya Emir não iria defendê-la e somente ya Kira e Hana ficaram do meu lado. Kalil é uma criança e sua palavra ainda não tem força! -- falava com rigor -- Não fosse eu do respeitável clã de Adail e viúva de um homem do tradicional clã de Houssani, os outros nunca a teriam deixado ficar aqui; uma grávida sem origem conhecida e fugitiva do Estado Radical! -- gesticulava -- Você me deve toda a verdade e eu não vou abrir mão disso! Quero ouvir! -- olhava nos olhos -- Ana cawza!! (Eu quero!!)
Khalayla gastou uns segundos calada, respirou fundo e resolveu dizer toda verdade. -- Há uma canção que diz: -- começou a cantar -- as3ab e7sas f el donya, lama te7es b zolm w kahr .. w enta ya 3eny wa7eed (o sentimento mais duro do mundo, é quando você sente culpa e ódio e você está completamente sozinha) -- parecia que a música fora escrita para si -- f el donya malksh 7ad malksh dahr w youm mategy tetkalem... ma7dsh yesma3k (e neste mundo você tem ninguém e quando começa a falar... ninguém ouve) -- derramou uma lágrima muito sentida -- w youm matenwy tet2adam... tela2y kolo yerga3k... (e o dia que passa brilhantemente... você acha que todos se recusam a você...) -- mirou um ponto no infinito e parou de cantar -- Meu nome é Khalayla Korah, herdeira de um dos clãs mais ricos desta região. Baba é um comerciante abastado e sou sua única filha. Tenho agora 18 anos. -- dizia toda verdade -- Quando o Estado Radical chegou em Al-Marash, baba logo tratou de negociar e se envolver em trans*ções escusas para nos poupar; especialmente a mim. -- pausou brevemente -- Sempre fui muito boa com dinheiro, com finanças, ajudava baba nos negócios e fazia um curso de contabilidade que foi interrompido quando os malditos chegaram. -- contava sua história -- Pouco tempo depois conheci Abdullah, porque ele nos livrou de um atentado. Era um belo e sonhador soldado xiita... -- sorriu -- Na verdade feito soldado pela imposição dos fatos; Abdullah era enfermeiro. -- derramou outra lágrima -- É uma longa história, mas me apaixonei, me entreguei e engravidei... -- olhou para a outra -- Alguém contou a baba sobre meu amor, então ele me deserdou e antes mesmo de saber da gravidez, providenciou a morte de meu amado.
Sara chocou ao ouvir aquilo. A jovem percebeu.
--Religião. -- esclareceu de pronto -- Somos sunitas e baba é do tipo que odeia xiitas; tanto ou mais que o Estado Radical. -- balançou a cabeça contrariada -- Ralã! -- exclamou com desgosto
--E foi assim que você se tornou uma refém? -- perguntou com jeito -- Nunca entendi porque uma garota sunita foi punida com escravidão sexual se este não é o padrão dos malditos radicais. -- agitou-se um pouco -- Tudo isso... ya wage3 albii! (machuca meu coração!)
--Aywah (Sim). Apesar de ser muçulmana e trajar uma burca para me proteger, o fato de estar sozinha nas ruas me fez ser vista por eles como mahdia (vadia). -- explicou -- Fui dada como escrava sexual a um guerreiro ignorante e fanático chamado Jijeli. Graças a Deus, apesar dos quatro meses de gravidez, meu ventre não era grande e eles não perceberam que eu esperava um filho. -- virou-se de costas para a outra -- Quando os sinais da gravidez começaram a ficar evidentes, Jijeli pensou que o filho fosse dele. -- pausou brevemente -- E como ele sempre me possuía de costas... -- lembrava dos horrores que viveu -- creio que nunca tenha visto meu ventre plenamente. -- derramou mais outra lágrima -- Ele me puxava pelas roupas, batia em meu rosto, me deitava de bruços e me possuía. Eu logo deixei de resistir por medo de perder meu filho; a única coisa boa que me resta nesta vida. -- não se conteve mais e chorou profundamente
Sara deixou-a desabafar seus traumas em lágrimas e quando percebeu que a jovem se acalmava, também teve coragem de falar um pouco de si. -- Eu tenho 27 anos, sou formada em estatística e depois estudei ciência de dados. -- perdeu-se em lembranças do passado -- Trabalhava em uma seguradora, era bem remunerada e meu marido era um dos corretores chefes da firma. Éramos muito bem casados... -- sentia saudades -- Sou órfão de mãe e tive a sorte de ser filha de um dos homens mais maravilhosos de Suriyyah! -- pensava no pai -- Quando o maldito Estado Radical chegou nesta cidade, tudo mudou. Eles aniquilaram aqueles de nós que protestaram ou tentaram combatê-los, passaram a nos cobrar por proteção e estabeleceram suas próprias leis baseadas na interpretação distorcida que têm da mensagem do Profeta. -- rememorava -- Oficialmente somos sunitas, embora nunca tenhamos sido muito praticantes da religião, mas isso nos poupou. Além do fato de ficar pagando os impostos a eles, obedecermos e nos vestirmos de acordo com as regras. Porém, no rastro da disputa, vieram também as tropas de todos os lugares e por incrível que pareça, tudo ficou ainda pior por conta disso... -- respirou fundo -- Sei o que você sente, Khalayla, entendo esta dor e a vergonha; el zolm w el 3azam... (a culpa e a tortura...) -- pausou brevemente -- Fui violada por duas vezes. -- assumiu com muita tristeza
A jovem virou-se de frente para ela mas não verbalizou palavra.
--Depois de tudo que perdi e vivi, eu não estaria mais aqui se não fosse por Safia. -- pensava na filha -- Law da3 menny ana ade3 w amot wla tenfa3 ba3do 7aiah. (Se eu perdê-la, eu estarei perdida e morrerei; a vida não existe sem ela.)
--Então foi por isso que você me defendeu com tamanha paixão! -- reconheceu agradecida -- Porque você...
--Eu entendo a sua dor! -- derramou uma lágrima ao interrompê-la -- Partilho dela! -- afirmou com muito sentimento -- Mas não podemos desistir! Somos mães e isso não é uma coisa qualquer! -- estava emocionada -- Com ou sem guerra, que venha 2017! Que venham todos os anos! Estaremos aqui lutando para permanecermos vivas e lúcidas! Por awladina (nossas crianças)!
Sem ter mais palavras, Khalayla não se conteve e abraçou a outra com força. As duas mulheres uniam-se na dor que castiga milhares de outras no mundo inteiro e selaram permanentemente uma amizade que as acompanharia ao longo da vida.
***
--Doutora Cláudia do céu, eu ando sentindo umas coisas tão estranhas! -- Cecília dizia revirando os olhos -- É uma merd*...
--E que coisas estranhas seriam essas? -- perguntou sem levar fé -- "Essa criatura só vive aqui por nada, Ave Maria!” -- pensou
--Difícil de explicar! -- cruzou as pernas -- Não é menopausa porque já tô nela há tempos e me cuido. A perseguida também é tratada a pão de ló, viu? -- deu um tapa no braço da outra e riu
--Eu hein! -- riu também
--Fiz aqueles exames que você me passou e tá tudo um espetáculo! -- colocou os resultados na mesa da médica
Cláudia pegou os papéis e viu os resultados com atenção. -- De fato, tudo em ordem. -- concordava com a paciente
--Eu sinto assim umas emoções tão contraditórias, sabe? Parece que falta uma coisa, ao mesmo tempo parece que não falta... -- gesticulou -- Acho que tô com a síndrome de Lady Berry! -- concluiu seriamente
--E o que diacho é isso? -- não conhecia
--É como diz a canção: -- preparou-se para cantar -- 'Cause you're hot then you're cold, you're yes then you're no -- cantava e dançava sentada -- you're in then you're out, you're up then you're down, you're wrong when it's right. It's black and it's white!
A médica não aguentou e riu gostosamente. “Que bicha doida!” -- pensou divertida
--Ri não que a coisa é séria, doutora! -- pediu ao se recompor -- Eu ando numa contradição de sentimentos tão grande que não sei o que fazer! -- queria ajuda -- Tem remédio pra isso?
Cláudia respirou fundo, olhou para a outra e falou com toda sinceridade: -- Eu não sou psicóloga, psiquiatra e nem terapeuta, mas vou me arriscar a dizer o que penso mesmo que isso não seja muito profissional. -- debruçou-se sobre a mesa -- Acho que talvez falte um propósito na sua vida.
--Como assim? -- ficou meio constrangida -- É por que... eu não tenho filhos, é isso?
--Mulheres que são mães também podem sentir esse mesmo vazio, essas dúvidas e contradições que te atormentam. Maternidade não é um objetivo fim na vida de uma mulher e tampouco resolve os problemas que venhamos a ter. -- esclareceu -- Acho que ao longo da vida você deve ter vivido sempre muito pra si mesma e no primeiro momento a juventude não cobrou o preço disso. Depois, pelo que me falou em outras ocasiões, você passou um tempo procurando um amor e essa busca te fez acreditar que um companheiro era tudo que lhe faltava. -- continuava olhando atentamente para a outra -- Mas você encontrou o companheiro e ainda assim há um vazio, algo que te incomoda e você não sabe sequer descrever. Por isso vive aqui achando que é uma questão de clínica médica, mas não é.
Cecília pensou no que ouviu e concordou. -- Mas se não é clínico e nem a maternidade vai resolver, o que eu devo fazer afinal? -- ficou agoniada
--Como médica, eu diria que você deveria procurar fazer uma terapia, se tratar com uma colega psicóloga, algo do gênero. -- reclinou-se na cadeira e cruzou os braços -- Como ser humano, diria que você deveria buscar realizar alguma atividade que te dê um sentido de utilidade. Já percebi que seu trabalho não dá.
--Atividade do tipo...? -- não entendeu
Cláudia pegou um papel e anotou um endereço. -- Esse asilo aqui é uma gracinha. -- estendeu o papel para a outra, que o recebeu -- É fruto do trabalho de um casal de irmãos muito dedicado e que nos últimos tempos também conta com a ajuda de uma amiga minha. -- pensava em Graziela -- Você poderia ir lá um dia desses fazer uma visita e ver se esse tipo de atividade voluntária poderia lhe fazer bem.
--Ah, tá. -- não gostou muito da ideia
--E se perceber que não é a sua onda, pergunte a Paula, que é a responsável pelo asilo, sobre orfanatos e ela pode indicar algum. Ela também conhece bons centros e igrejas sérias onde se faz trabalho voluntário e poderia te recomendar algum que correspondesse mais as suas expectativas.
--Ah, tá... -- respondeu desanimada -- "Eu aqui em busca de um remédio e essa médica querendo me transformar numa boa samaritana!” -- pensou contrafeita
--No mais, não tenho o que lhe recomendar ou prescrever. -- falou com tranquilidade -- Apenas desejo que esse ano de 2017 venha com muitas coisas boas na sua vida!
--Desejo o mesmo! -- não sabia o que dizer -- “Eu que não venho mais aqui! Médica fraca!” -- pensou contrariada
CAPÍTULO 180 – Carnaval e Após
Zinara e Clarice voltavam da praia com Deodoro. Ao entrar na casa de Leda, viram que Raquel estava sentada no sofá com a filha nos braços. Terminava de amamentá-la.
--Hum, que cena linda! -- Clarice sorriu -- Boa tarde, Raquel!
--Oi, mãe! -- o menino foi até ela pulando -- Oi, irmãzinha! -- sorriu para a bebê -- Mãe, você perdeu: a praia tava boa à beça! -- sorria animado -- Quando que você e a Bebel vão pode ir?
Achou graça. -- Bebel ainda é muito novinha pra ir na praia, meu bem. -- sorria para ele -- E pela sua animação e esse bronzeado, a coisa devia tá boa mesmo! -- reparava no filho -- Boa tarde, gente. -- olhou para as outras mulheres
--Pois é, tava muito boa mas agora é hora de tomar um banho! -- Clarice foi logo dizendo -- Pro banheiro, mocinho! -- ordenou bem humorada
--Mãe, cadê meu pai e minha vó? -- perguntou enquanto seguia para o banheiro -- E toalha e sabonete, tia? Pego onde?
--Eu já deixei suas coisas no banheiro esperando por você! -- Raquel respondeu
--Masaa Il-kheer! (Boa tarde!) -- Zinara cumprimentou -- Também estranhei não ouvir a voz de ya Leda nem de Getúlio. -- a morena comentou e parou perto da porta de entrada da sala -- Enquanto não tomar banho não posso ir aí saudar a lindinha. -- referia-se a Isabel
--Mamãe foi com Gê fazer comprinhas rápidas pro nosso lanche. Daqui a pouco tão aí. -- olhou para a filha -- Bebel já lanchou porque mamou bem, né, bebê? Né bebê? -- falava com voz fina
“Mamãe e Getúlio fazendo compras juntos, quem diria?” -- Clarice pensou surpreendida -- Zinara, -- olhou para a astrônoma -- quer tomar banho primeiro, querida?
--Você primeiro, Sahar. Eu espero paradinha aqui pra não sujar a casa de areia. -- respondeu brincalhona
--Vai logo, Clarice, pra ficar pronta a tempo de não perder os desfiles dos sambas de escola. -- Raquel advertiu -- Diz que o Fora Brener tá viralizando nesse caranval! -- comentou empolgada
--Ai, eu adoro! -- a paleoceanógrafa bateu palminhas -- Mal posso esperar! -- foi para o quarto pegar suas coisas
“Eu nunca vou entender porque o povo de São Sebastião gosta tanto de samba de escola!” -- Zinara pensava intrigada -- “Alghumud! (Mistério!)”
***
Tarde da noite, Leda, Raquel, Getúlio e Clarice assistiam os desfiles na TV. As crianças dormiam no quarto da idosa e Zinara navegava no site do Observatório de Uruba no Hemisfério Sul.
--Esses desfile tão na maior moral, tá ligado? -- Getúlio elogiava -- Não sei em qual me amarrei mais até agora. Só parada responsa, aí! -- apontou para a TV -- Geral gritando Fora Brener, ó só! -- achava graça -- FORA BRENER! -- gritou socando o ar
--FORA BRENER! -- todos da casa repetiram o grito e o gesto
--Vampirão dos infernos! Vai pras encruza que te pertencem! -- Leda praguejou -- Aquela cara ch*pada de furão! -- fez uma careta imitando o presidente
--Gente, não pode gritar, as crianças tão dormindo! -- Clarice advertiu aos demais -- Não se empolga, mamãe! Também me empolguei, mas tem que se segurar.
--É verdade! Os bichinhos não têm culpa da patifaria que governa esse país. -- a idosa concordou
--Por favor, gente, vamos nos conter. -- Raquel também concordou -- Se Bebel acordar, ela vai chorar. -- cruzou as pernas -- Bem, até agora, gostei mais da Salseiro. -- falava dos desfiles
--Já eu gostei mais da Goiabeira! -- Clarice afirmou convicta -- E você, minha querida? -- olhou para a astrônoma
--Eu? -- foi pega de surpresa -- Ah, eu gostei da... da Goiabeira! Ave Maria, que samba de escola! -- disfarçava -- Jayed jedan! (Muito bom!)
“Só Clarice mesmo pra acreditar que Zinara tá prestando atenção!” -- Leda pensou achando graça -- Mas o que é você tanto futica aí nesse celular, hein, menina? -- perguntou curiosa
--Detalhes sobre o Observatório onde vou estudar, ya Leda! -- respondeu com a verdade -- Já viajo depois do carnaval, tem que estar ciente dos trem todo! -- olhava para a idosa
--Ai, ai, nem me lembre disso... -- Clarice suspirou desanimada
“Caraca, malandrage... eu acho que tá rolando alguma coisa entre essas duas aí...” -- Getúlio pensou desconfiado
--Tá com tudo organizado? -- a idosa perguntou interessada -- Suas coisas, documentos, tudo? -- prestava atenção em Zinara
--Tô sim, ya Leda! -- balançou a cabeça positivamente -- Até a mala tá arrumada, só falta colocar um ou outro trem dentro dela. Já conversei com meu co-orientando e com o pesquisador que vai nos receber lá e tá tudo certo. Macleech! (Não se preocupe!) -- sorriu para a sogra
--Vê lá o que vai aprontar, hein, Zinara? -- Clarice cruzou os braços contrariada -- Sei que você vai se meter de escalar, de fazer caminhada, mas tenha cuidado! Não quero saber de acidente! -- advertiu
--Gente, olha só que lindo! -- Raquel apontou para a TV, chamando a atenção do marido
--Confia na caipira! -- respondeu em voz mais baixa -- E quando você for me visitar, a gente faz uma atividade montanhística bem massa! -- fazia planos -- Além do mais, 3alashanak ana at7adda al-kon, wala shof domo3ak walaw sania! (eu desafiarei todo universo, apenas para não ver suas lágrimas mesmo por segundos!) -- declarou apaixonadamente
--Ai... -- Clarice suspirou embevecida
Raquel e Getúlio não perceberam o lance, mas Leda tinha pontos de interrogação na cabeça. -- Você entendeu isso aí? -- a idosa cochichou com a filha
--Não, mas a bousa sabe que só ela... -- respondeu abobalhada
--Como é que é? -- não entendeu a resposta
--Coisa nossa, mamãe. -- passou a mão nos cabelos desconcertada -- Olha lá, que lindo esse jogo de cores! -- disfarçava olhando para a TV -- A cada ano esses carnavalescos se superam!
--Sei... -- Leda respondeu desconfiada -- "Clarice já aprendeu até o pornô de Cedro!” -- deduziu
--Eu só sei que três meses passam voando! -- Raquel voltou ao assunto com um gesto despreocupado -- Por essa época, no ano passado, Gê e eu távamos reatando e olha quanta coisa aconteceu de lá pra cá! Tamos até com uma Princesinha em casa! -- sorriu para o marido -- Isso tudo em um ano, faz ideia em três meses. O tempo passa que a gente nem nota!
Getúlio achou que a oportunidade não poderia ser melhor para falar o que pretendia contar à esposa depois do carnaval. -- Aí, Princesa, é mermo, o tempo é uma parada rápida! -- gesticulou -- Eu tava pra te falar qual é, mas vou mandar o papo reto. -- olhava para a esposa -- Um chegado meu me deu um plá na quinta e falou de um trabalho responsa pra mim, tá ligada? Pegar um batente numa obra aí. Tá pagando até um cascalho legal no meio dessa crise.
--Ai, que bom, amor! -- respondeu animada -- É sempre bom ter uma oportunidade de trabalho pagando bem! -- ajeitou-se no sofá
--É parada pra durar três meses, tá ligada? Tipo assim, pra ver se eu sou sangue ou da vacilação. Maior mulão tá sem emprego e os cara pode escolher quem fica e quem vai pra vala. -- explicava -- Se eles se amarrarem no meu batente, aí fico até o final da obra. Tão prevendo de acabar lá pra dezembro. -- pausou brevemente -- E é pra começar logo na segunda depois do carnaval.
“Cada filha minha entende um dialeto! É Clarice com a língua de Cedro e Raquel com isso aí!” -- a idosa pensou
--Mas é claro que eles vão gostar do seu serviço! -- a esposa comentou animada -- Adorei essa notícia!
--É mesmo, Getúlio, que boa notícia! -- Clarice concordou
“Por que eu acho que tem alguma coisa nesse papo que vai me dar dor de cabeça?” -- Leda se perguntava mentalmente
“Sinto que vai ter fuzuê!” -- Zinara previa o pior
--E onde é essa obra? -- Raquel perguntou eufórica
Getúlio engoliu em seco antes de responder. -- Né longe, não... -- esfregou as mãos uma na outra -- Angra Régia. -- olhou para a esposa receosamente
--O que??? -- Raquel saltou da poltrona -- Você tá me dizendo que vai ficar três meses em Angra Régia??
--Você não disse que três meses passam voando? -- Clarice logo rebateu -- "Pra você ver que pimenta nos olhos dos outros é refresco!” -- pensou desaforada
--É, gata, aqui em São Sebastião tem mais nada pra mim. -- levantou-se acuado -- Aquele batente que acabou na outra semana... acabou! -- justificava-se -- Se meu chegado não tivesse me batido esse plá, tava na vala aí batendo cabeça cum os mulão pra conseguir outro trampo.
--E se eles gostarem do seu serviço, você fica lá até dezembro?? É isso mesmo?? -- pôs as mãos na cintura
--É, Princesa... -- respondeu levantando as mãos como num assalto -- Mas o cascalho é bom, lembra?
Clarice olhou imediatamente para Zinara. -- O meu são só três meses! -- foi logo dizendo -- Mesmo que me adorem! Wallahi! (Eu juro!)
--E como é que eu vou fazer com nossos filhos? Sozinha, abandonada e com frio nessa cidade? -- fez um drama
--Mas que coisa, viu? -- Leda também se levantou -- Deixa o homem ir trabalhar, criatura! Aí nos dias de semana você fica aqui com as crianças e no final de semana ele volta e vocês vão pra casa.
--Isso aí, sogrona! -- Getúlio respondeu animado -- Formou! -- fez joinha com as duas mãos
--Eu nunca imaginei de ver isso: mamãe do lado de Getúlio! -- Raquel continuava dramatizando -- E eu aqui, sofrendo sem marido e sem o regaço materno!
--Sem marido? Mas eu ainda nem fui, aí!
--Alto lá que não tô do lado de ninguém! -- abriu os braços -- Eu não dei a solução, criatura? Como que você vai ficar sem mãe? -- pôs as mãos na cintura
--É muita coisa pra eu administrar sozinha! -- pôs as mãos na cabeça desnorteada -- Eu preciso comer! -- foi apressada para a cozinha -- Cadê aquela baguete?
--Ah, não, a baguete, não! -- Clarice correu atrás da outra
--Pô, sogrona, mandou ver, aí! -- o homem agradeceu -- Esse trampo é na moral e não dá pra ficar dando de alemão!
--Humpf! -- cruzou os braços -- E você aí? -- perguntou mal humorada para Zinara -- Olha lá o que vai fazer, que eu não quero aturar duas filhas chorando nos meus ouvidos!
--Tá tudo sob controle, ya Leda! -- levantou-se de um pulo -- Eu vou... -- não sabia o que fazer -- Ver as crianças! -- decidiu -- Se acordaram, alguém tem que por pra dormir de novo! -- fugiu para o quarto -- "Ana xaafa! (Estou com medo!) Melhor a caipira sair de cena antes que a porca torça o rabo pro meu lado!” -- pensava
--Mamãe, olha aqui Raquel querendo comer a baguete toda! E ainda quer pegar o queijo trufado todo de uma vez! -- Clarice ranhetava na cozinha
--Mãe, olha Clarice aqui implicando comigo! Tô nervosa, sou mulher e mãe e preciso comer! -- ranhetava também
--Ô inferno! -- Leda resmungou indo para a cozinha -- Vou meter chinelada no rabo das duas! Se comporta como criança? Então apanha, bicha!
“Ralar peito igual a maluca!” -- Getúlio correu para o quarto em que Zinara estava com os filhos dele
***
Hassan chegava na casa de Aisha e Janaína com Najla e Marco.
--Mas que maravilha!! -- a mulher os recebia com um sorriso no rosto -- Que bolsão, hein, garoto? -- mexia com o primo -- Tá preparado pra cair dentro desse curso técnico de controle ambiental? -- abriu os braços -- Dá um abraço gostoso aqui!
--Oxe, com certeza! -- abraçou-a com carinho -- Não tem ideia do sonho que vou realizar estudando na escola técnica de Gyn! -- sentia-se feliz
--Georgina disse que ele nem dormiu de tão excitado! -- Najla contava animada
--E Ahmed João agora tá na maior animação pra passar na prova de admissão e vir pra cá se unir ao primo no ano que vem! -- Marco lembrava do jovem -- Dá gosto de ver como estuda. Até no carnaval o menino tava lá queimando a mufla!
--Gentem, vão entrando e se sentando! -- apontou para as poltronas e foi guiando as pessoas -- Janaína tá fazendo a segurança de uma festinha de criança, mas daqui a pouco chega aí. Negócio lá termina antes das nove da noite.
Todos se sentaram.
--Quando ela chegar, vamos ter um particular. -- Marco dizia -- Hassan vai viver aqui com vocês e nós temos que acertar os detalhes. -- pensava no sustento do menino em Gyn
“Esse meu negão...” -- Najla suspirou embevecida -- "Não é de tirar o chapéu?”
--Pode ficar sossegada que eu não vou dar trabalho, visse? -- Hassan garantiu para a prima -- Pode perguntar pra maínha que ela confirma que sou tranquilo.
--Eu sei, honey, relaxa! -- sentou-se do lado dele -- E agora que eu arrumei um trabalho aí, a barra aqui em casa vai ficar mais leve. -- pensava em dinheiro
--Arrumou, minha filha? -- Najla perguntou empolgada -- Onde é? -- queria saber
--Mamii, nem te contei, né? Queria fazer uma surpresinha! -- cruzou as pernas -- Foi uma profe da faculdade que me deu a dica. Fiz uma provinha em janeiro, passei e vou começar na semana que vem com um estágio na Caixa do Povo. -- contava animada -- Paga pouco, é temporário, mas não deixa de ser uma experiência. Além do mais é aqui perto e posso ir a pé.
--Mas isso é ótimo, meu bem! -- Najla estava radiante -- Pode pagar pouco, mas é um banco estatal importante e vai te dar muita experiência! -- sorria
--O importante é estar na ativa, estar na vitrine. Outras oportunidades aparecerão com o tempo! -- Marco também deu uma força -- E depois que finalmente recuperarem a fazenda, o conhecimento adquirido vai ser útil pra você cuidar dos seus negócios! -- sorriu também
--Eu tô que é só alegria! -- Aisha falou empolgada -- Mas voltemos a atenção pra esse garotão aqui! -- deu um tapinha na perna dele -- Pronto pro início das aulas? -- olhou para o jovem
--Ave Maria, e como tô! -- respondeu de pronto -- camma Zinara me disse que estudar na Escola Técnica mudou tudo na vida dela! -- sorria -- Ela disse que meu baba foi se despedir levando um buquê de caliandras. Montado num cavalo, ele correu atrás do ônibus em que ela tava e entregou o buquê! -- falava como se tivesse visto a cena -- E ela aprendeu um monte de coisas, conheceu um monte de gente... Foi até num show da banda do Lobato Lusso!
--E se Deus quiser, tudo vai mudar na sua vida também, rapaz! -- Marco desejou
--Khadija disse que sim! -- ele concordou -- Eu não vejo a hora! E quero todo mundo na minha formatura, visse? -- quase pulava -- Ave, que maínha vai se emocionar demais!
--Ainda nem começou e já pensa em formatura? -- Najla achava graça -- Sonhar é bom, mas uma coisa de cada vez!
--Você vê, akhuuya (meu irmão), a alegria dele? -- Khaled se emocionava com o filho -- Tão sonhador, tão puro, tão bonito! -- derramou uma lágrima de felicidade -- Que venturas e desventuras aguardam awladii (minha criança) no compasso do tempo? -- conjecturou -- Sinto como se as portas de um belo caminho se abrissem para ele! -- sorria -- Eu queria dizer tantas coisas a ele, a usritina (nossa família)! -- olhou para Youssef -- Gel lihom hathi amani! (Diga a eles que há esperança!) -- pediu emocionado -- Apesar de todos os males do mundo...
--Eu não preciso dizer, porque eles todos sabem! -- sorriu para Khaled -- Graças a Deus, todos eles sabem! -- pausou brevemente -- E quanto ao que Khadija disse, ela sente, ela sabe. Tudo se transformará na vida de Hassan daqui para frente. -- anunciou -- E no futuro, até na sua vida. É a beleza da samsara. Haljamaal mish maa’ool! (Essa beleza é inacreditável!)
--Como assim? O que irá acontecer? -- queria entender -- Se dependesse de mim, Hassan, Georgina e toda nossa família teria em seus caminhos kel el wared bel koun (todas as rosas no mundo)!
--Na Escola Técnica, Hassan vai reencontrar alguém que ele anseia rever há muitos anos. E por causa deste reencontro, vocês voltarão um dia. -- explicava mansamente -- Você, Viegas e Gerard, os três como irmãos. E todos no seio de usritina (nossa família)! -- Khaled estremeceu ao ouvir. -- Mas não tema, nem fique ansioso. -- derramou bons fluidos sobre Hassan, Aisha, Najla e Marco -- Tudo a seu tempo; uma coisa de cada vez. -- sorriu novamente para Khaled -- Vamos, temos sempre trabalho a fazer.
--Yaalah! (Vamos!) -- Khaled respondeu com o coração cheio de esperança
***
--Professora, será que me faria uma fineza? A gente podia conversar? -- uma voz conhecida se fez ouvir na porta da sala de Cátia
--Claro, querida, o que...? -- virou-se na direção da voz e chocou arregalando os olhos -- "Meu Pai!” -- pensou sem entender
--Namastê! -- cumprimentou -- Surpresa? -- percebeu o espanto da outra e sorriu -- Mais uma mudança de vida pra mim.
A jovem estava com a cabeça completamente raspada e usava uma espécie de túnica marrom.
--É, eu notei a mudança. -- não sabia o que pensar -- Mas, por favor, sente-se aí. -- pediu indicando a cadeira -- E o que te levou a mudar dessa vez? Cadê a burca? -- estudava a outra com o olhar
Vanessa se sentou impecavelmente ereta e começou a se explicar. -- Parece que alguém, não sei quem foi, tirou minha foto em estado de Guerra Santa pra ajudar a eleição da sua chapa e isso chegou ao conhecimento de meus colegas muçulmanos. -- contava -- Então fui chamada por eles pra uma conversa e fui severamente repreendida. Eles disseram que até então eu não havia entendido a filosofia da religião e muito menos da jihad. -- pausou brevemente -- Pense numa saia justa!
“Ô, mas como eu penso!” -- lembrava dos trajes da aluna -- “Imagino como os religiosos ficaram ao ver toda aquela abundância de fé!” -- pensou -- "Eu mesma fico sem palavras!”
--Daí pensei em tudo que ouvi e caí em mim. Percebi que a bela religião muçulmana não se encaixa comigo. -- pausou brevemente -- Ou eu que não me encaixo nela, melhor dizendo. -- corrigiu-se
--Pois é, menina, você escolheu uma religião muito austera, originária de um local muito diferente daqui, dos nossos costumes... Sei que há pessoas em São Sebastião e em outras cidades em Terra de Santa Cruz afora que são muçulmanas convictas, vivem bem, mas são outros contextos. -- argumentou -- E realmente você não se encaixa muito nisso. -- comentou com jeito
--Pois é! -- concordou -- Demorei mas percebi isso. -- balançou a cabeça
--E o que veio depois? -- queria entender o novo visual da doutoranda
--Vixe, o que veio depois foi que nesse carnaval encontrei um grupo budista meditando na praia, curiei, me aproximei e acabei meditando com eles também. -- contava -- Daí o contato foi se estreitando, se estreitando e... -- abriu os braços -- me converti!
--É... -- não sabia o que dizer -- Tomara que dessa vez você se encontre, né?
--Já me encontrei! Assim como sei o que quero da vida! -- afirmou convicta -- Desejo ser professora universitária e é por isso que vim lhe falar. Quando defender meu doutorado no ano que vem, quero emendar num pós doc, trabalhar no departamento do jeito que der e no primeiro concurso eu vou me inscrever! -- contava seus planos -- E vou passar! Tenho uma fé que...
--Abunda! -- a loura completou a frase sem pensar
--Isso mesmo! Só sabe quem já viu o tamanho da minha fé!
--Ô! -- Cátia concordava -- "E quem já viu custa a esquecer!” -- balançava a cabeça pensativamente -- Tudo bem, Vanessa. -- tentava ordenar os pensamentos -- Você vai bem no doutorado, vai defender no prazo, agora vá pensando no tema do pós doc e na devida hora cuidamos de tudo. -- orientou -- Se Deus quiser, seus planos darão certo. -- sorriu
--Amém, professora! -- levantou-se satisfeita -- Obrigada por me ouvir. -- fez uma saudação -- Agora vou deixá-la trabalhar em paz.
--À disposição, querida! -- deu tchauzinho
Quando a jovem se virou para sair, Cátia percebeu que a parte de trás da túnica era curtíssima, deixando as nádegas quase à mostra.
--Minha Nossa Senhora... -- balbuciou em estado de choque -- Essa menina não tem jeito, não. A gente quer se concentrar, quer pensar coisa pura e vem ela atiçar a pantera... -- suspirou
CAPÍTULO 181 – Sonhos no Deserto
Zinara aguardava a chegada de Clarice no aeroporto. A amada vinha passar a Páscoa com ela. Era quinta de madrugada.
--Sahar! -- correu até ela quando a viu cruzar o portão de saída trazendo a bagagem
--Ai, amor! -- Clarice sorriu animada abrindo os braços
--Hum, que saudade, minha Sahar! -- abraçou-a carinhosa e apertadamente -- Eshtaqto elaiki katheeran... (Senti tanto a sua falta...) -- sussurrou no ouvido
--Eu também morri de saudades! -- fechou os olhos -- Contei os dias pra esse feriado chegar!
--Agora não precisa mais contar! -- segurou o rosto dela com as duas mãos -- Ai, que vontade de... Bousa ala shafayef! (Beijo nos lábios!)
Corou. -- Amor, que é isso? Aqui não! -- riu timidamente -- "Até em aeroporto internacional essa bousa é requisitada!” -- pensou orgulhosa
--Venha! -- beijou-a na testa e se desvencilhou com jeito para pegar a mala dela -- Aluguei uma poderosa máquina, que eu chamo de Fumbica, e vou te levar pro seu pouso nos próximos dias! -- sorriu -- Esse aeroporto é bem longe da cidade. -- segurou a mão dela
--Fumbica? -- achou graça -- E o que seria isso? -- seguiam de mãos dadas
--A pick up que uso pra me locomover em longas distâncias. Nas mais próximas, uso uma bike que veio de brinde na casa que aluguei. -- iam para o estacionamento -- Prepare-se para viajar no tempo! -- advertiu
A paleoceanógrafa estava excitada com o lugar e a companhia. -- E cadê a tal pick up Fumbica? -- olhava para os poucos carros no estacionamento
Motoristas de vans e microônibus de serviço de transfer as seguiam e falavam todos ao mesmo tempo oferecendo transporte.
--¡No tenemos necesidad, gracias! (Não temos necessidade, obrigado!) -- Zinara agradecia a todos eles -- Atrás dessa fileira de vans. -- apontou
--Nossa, você não exagerou! -- arregalou os olhos -- Que carro antigo! -- achou graça -- Quer dizer, carrão!
--Conheça um legítimo Chevrolet Apache 1959! -- colocou a mala na caçamba da pick up e protegeu com lona -- Máquina dura na queda! -- abriu a porta para a namorada -- Na minha opinião é uma bela relíquia que deveria estar num museu. -- fechou a porta depois que ela se sentou e deu a volta para entrar -- Mas a proprietária não acha e ainda aluga por uma bagatela. -- sentou-se e fechou a porta -- Então quem sou pra negar? -- beijou-a rapidamente nos lábios -- Agora aproveite a viagem e Itrouk el baqi a’alateh! (deixe o resto comigo!) -- piscou para a outra e deu partida
“Zinara faz tudo ser especial...” -- suspirou apaixonada
***
Clarice estava deitada nua de bruços, com a cabeça virada para o lado e os olhos fechados. Recebia uma gostosa massagem de boas vindas.
--Esse tratamento é pra mal acostumar qualquer uma... -- sorria -- Recebida no aeroporto, banho morninho, café da manhã delicioso e agora essa massagem tão gostosa...
Zinara também estava nua, quase sentada sobre as nádegas da namorada. -- Mas eu não digo sempre que você é Al Sitol Nisaa (A Rainha das Mulheres)? -- massageava o pescoço da amada -- O tratamento não pode ser menos que isso. -- fazia movimentos circulares leves na base da cabeça -- Você veio pra mim... be-amr el 7ob, mesh amri... (pelo comando do amor, não pelo meu comando...) -- deslizou as mãos para massagear os ombros -- Algo maior nos une, habibi. -- falava com voz hipnótica
--Lá vem você querendo me seduzir... -- retrucou melosa -- Ainda nem me contou o que andou aprontando aqui e já quer me derreter...
--Não contei? Então vamos lá. -- segurou-a pelos ombros e puxou-os levemente para trás -- Tive algumas reuniões com o pessoal do Observatório e meu co-orientando, definimos um plano de trabalho pra ele e pra mim, -- pressionava os polegares sobre as omoplatas -- discutimos sobre o Planeta Nove, fizemos várias observações celestes e tratamos uma enormidade de dados. -- iniciou movimentos circulares com as mãos na região dos ombros -- E olha que ainda temos um tanto pra tratar e o outro tanto que virá! -- alternava a pressão do toque entre mais e menos forte -- Conheci alguns pontos turísticos desse deserto maravilhoso, fiz uma caminhada até o cume de um vulcão e tomei banho num geiser. -- começou a massagear a região da coluna -- E o tempo todo pensava: eih garalak fein enta, wei bta-meil eih? (o que tem acontecido com você, o que você está fazendo?)
--Sei... -- fez um dengo -- Com tantas atividades, um céu maravilhoso e dirigindo uma relíquia aposto que nem encontrou tempo pra lembrar de mim...
--Oh, não diga isso, Sahar... -- reclinou o corpo sobre o dela e sussurrou no ouvido: -- 2arrab, kaman 2arrab hena gambi... (chega perto, mais, vem aqui para perto de mim...) -- deslizou uma das mãos para o sex* da amante -- wa hat sho2ak 3ala sho2i (e traga sua paixão para minha paixão), -- colocou uma de suas pernas entre as pernas da outra -- wa hat 7obak 3ala 7obi (traga o seu amor para o meu amor) -- com a outra mão buscou um seio da amada -- wana wa 3oyounak el 7elwa na3eesh 2esset gharam 7elwa! (e eu e seus belos olhos viveremos uma linda história de amor!) -- penetrou-a com dois dedos
--Ai, amor... -- segurou-a pela nuca -- me beija! -- pediu
--Como você quiser, Sahar! -- virou o rosto de Clarice mais para o lado e a beijou sem deixar de penetrá-la e pressionar a perna contra seu sex* -- Linda! -- seguiu uma trilha de beijos e mordidas pelas costas da outra, deslizando as mãos até a cintura dela
--AH! -- gem*u alto e empinou os quadris
--Isso é um convite! -- olhou para as nádegas da namorada e buscou seu sex* com língua e lábios. As mãos firmaram-se na cintura para guiar os movimentos da outra
--Meu Deus! -- continuava de bruços e elevou levemente o tórax apoiando-se pelos antebraços -- Você quer me matar... Ai! -- gem*u novamente -- AH!
Zinara insistiu em sua exploração intensa até perceber que Clarice beirava o clímax, quando então a virou de barriga para cima bruscamente e a penetrou com agilidade. Os lábios seguiram sem destino no abdomên da parceira até encontrar um seio.
--AH, Zinara, AH, AH! -- gem*u mais alto e gozou -- AH! -- sentia o corpo tremer
--Fi nazret sho2 fi tanhida... (Em um olhar de paixão em um sinal...) -- beijava a pele da amada e seguia com seus lábios até o pescoço dela -- fi donia kollaha gedida... (em um mundo completamente novo...) -- lentamente parava as penetrações -- você chegou, você é minha... -- lambeu o pescoço da amante -- Só minha! -- sussurrou no ouvido
Clarice sorriu e segurou o rosto da astrônoma com as duas mãos. -- Também vou te mostrar que você tem dona! -- mordeu-lhe o queixo -- Pra que sempre se lembre disso! -- olhava nos olhos
--Dayman! (Sempre!) -- repetiu
A paleoceanógrafa reverteu as posições e sentou-se sobre Zinara. -- Deixe eu ver como você está... -- deslizou as mãos pelo corpo da outra fingindo inocência -- Será que ficou excitada? -- roçou os dedos levemente no sex* da amante -- Será?
--Você adora me provocar desse jeito! -- afirmou com voz gutural
Sorriu. -- Eu vou ser boazinha dessa vez... -- lentamente introduziu um dedo -- Juro que nem vou te deixar esperando muito tempo... -- deitou sobre a outra e seguiu beijando e sugando cada parte da pele que encontrava -- Safadinha! -- invadiu o sex* da astrônoma com os lábios, sugando delicadamente, enquanto a provocava com um dedo
“Oh, Aba, esse mulher me deixa louca!” -- pensou ao fechar os olhos -- AH! -- gem*u prazerosamente
***
--Limonada diferente. -- Clarice comentou ao provar -- Mas é tão gostosinha! -- bebeu mais um gole
--É que eles adicionam uma tal de erva pica-pica à limonada e fica com esse gosto. -- bebeu um gole também -- A’jabani haqqan! (Eu gosto muito!) -- sorriu para a amada -- Você também vai gostar da comida. Esse restaurante é bem massa.
Clarice gastou uns segundos admirando o rosto da amada. -- Sabe que parece que o tempo se dilatou desde que nos encontramos no aeroporto? -- deslizava o dedo na borda do copo -- Andamos na Fumbica, recebi tratamento de rainha, fizemos amor, agora vamos almoçar e às 16h ainda vamos conhecer o Valle de Luna e o Valle dela Muerte... Tudo num único dia! -- sorriu
--Aguarde que sua agenda de amanhã e de sábado estará igualmente lotada. -- olhava para a paleoceanógrafa -- Já providenciei tudo!
Suspirou. -- E no domingo eu vou embora... Aí só te revejo em primeiro de junho. -- fez beicinho
--E a partir daí terá o resto dos dias do ano comigo! -- pegou o copo -- Illi maktuub a’al-gibiin laazim tsuufu I-a’ein. (Todos encontram inevitavelmente seu destino.) Você é o meu! -- deu uma batidinha leve no copo da outra e bebeu mais um gole
Após uns segundos calada Clarice comentou: -- Você não sabe, mas desde que conseguiu prorrogar o seu pós-doc, venho pensando em montar um certo quebra-cabeças já há algum tempo e de repente me parece que as peças podem se encaixar bem. -- brincava com o copo -- Tenho conversado quase diariamente com Werneck e com um professor da universidade de vocês que ele me apresentou. O nome é Felipe Helsinger. -- bebeu outro gole de suco -- Na verdade, Werneck e eu vínhamos trocando umas figurinhas desde que você veio pra cá, daí ele me apresentou virtualmente a esse professor, que é da Meteorologia, e temos discutido alguns assuntos. -- pausou brevemente -- Em suma, estamos pensando em montar um consórcio entre a sua Federal, a Federal de São Sebastião e a University of Mathras, em Ganarajya, onde aquela minha ex aluna Chandra trabalha. O objetivo desse consórcio seria a implantação do Programa de Pós-Graduação Internacional na área de Estudos sobre o Clima. -- percebeu que Zinara se empolgou -- E esse programa seria de responsabilidade do Departamento de Meteorologia da sua universidade. -- olhou para a astrônoma -- Eles já vêm, através do grupo do professor Felipe, interagindo há cerca de um ano com o pessoal de Mathras e creio que isso facilite as coisas.
--E isso quer dizer que se vocês conseguirem concretizar esse consórcio... -- seus olhos brilhavam
--Eu terei mais que bons motivos e possibilidades pra pleitear minha transferência pra Cidade Restinga. -- completou a frase charmosamente
Zinara ficou sem palavras e riu excitada. -- Smallah! -- agitou-se na cadeira -- E você, por sua vez, tem muitos trabalhos com o pessoal de Mathras! E os nossos Departamentos têm muitos trabalhos juntos! Ahá! -- deu um soco no ar -- Que maravilha, tudo se encaixa perfeitamente! -- bateu uma palma -- Ei, tive uma ideia: envolve o pessoal da Federal de Paulicéia! -- gesticulava -- Lembra daquele grupo da organização do congresso em que nos conhecemos pessoalmente? Tem que juntar esse time todo! -- olhava intensamente para a amada -- Com isso vai completar a equipe e dar mais força pro consórcio!
A paleoceanógrafa gostou de perceber aquela alegria toda mas achou melhor ponderar um pouco. -- Calma, meu amor! Sua ideia de incluir o pessoal de Paulicéia é muito boa, mas ainda falta o principal: dinheiro! -- alertou -- O programa tem que ser custeado por algum fundo internacional, seja porque nosso governo provavelmente não vai comprar a ideia, seja porque precisa ser inteiramente voltado pra capacitar pessoas em mestrados e doutorados internacionais.
--Masaari: abadan mosh hansaha! (Dinheiro: eu nunca posso esquercer!) -- revirou os olhos -- Apesar de saber que vai ser difícil, acho que podemos investir nesse consórcio como nosso plano A! -- considerou -- Com as coisas do jeito que estão e os preços dos imóveis em São Sebastião lá nas alturas, não creio que mesmo no ano que vem eu consiga uma oportunidade que valha a pena. -- confessou -- Não desisti, não joguei a toalha, mas é isso!
--Eu sei. -- balançou a cabeça positivamente -- E também acho que dá pra acomodar melhor a vida se ficarmos em Cidade Restinga. -- pausou brevemente -- E mamãe não vê problema algum em morar lá. -- sorriu
--You you you you!! -- cantou baixinho imitando o canto das mulheres de Cedro nos acontecimentos felizes
Clarice achou graça. -- Cante mesmo, porque nossa comida chegou. -- indicou o garçom que se aproximava com os pratos
--É só alegria! -- brincou
***
--Eu não imaginava o que você pretendia mexendo tanto na caçamba da Fumbica! -- Clarice ajeitou-se sob as mantas -- E achei a ideia simplesmente MARAVILHOSA! -- acentuou a última palavra -- Eu tô amando a experiência de estar com você vendo um céu noturno incrível como esse, no cume dessa montanha e deitadinha debaixo dessas mantas fofinhas que nos deixam aquecidas! -- olhou para a amada
--Esqueceu de mencionar o chá quente! -- indicou a garrafa térmica com o queixo -- Mas eu perdoo essa falta. -- brincou -- Hatee booseh, ya habibi! (Beije-me, minha querida!) -- beijou-a carinhosamente
Zinara havia preparado uma espécie de cama na caçamba da pick up e as duas estavam deitadas lado a lado, de barriga para cima, apreciando o céu noturno. Estavam no cume do monte Lo Sillón.
A paleoceanógrafa acariciou gentilmente o rosto da astrônoma e voltou a contemplar o céu. -- Passar o feriado de Páscoa aqui com você tá sendo maravilhoso, lindo, romântico... Como tudo que vivo a seu lado!
--Vê aquela estrela, Sahar? -- apontou uma delas -- Parece tão perto, não? -- olhou para a amada e começou a cantarolar: -- Wo negma mesketaha be-idi wa kanit fel fada ba3ida (Eu segurei uma estrela pela mão e ela estava tão longe no espaço), -- Clarice virou o rosto em sua direção -- wa shei2 fel leil metawwehni... (e alguma coisa na noite me fez me perder...) -- caprichava no tom -- wa shei2 fe 3eineik byendahni... (e alguma coisa em seus olhos está me chamando...) -- beijou-a com muito amor
--Ai... -- suspirou ao final do beijo -- Você tá me deixando emocionada, sabia? -- seus olhos marejaram
Beijou-a novamente. -- Páscoa é um feriado muito especial, Sahar. -- deitou-se de lado -- Momento em que o Mestre nos ensinou que algo que parece uma derrota diante da humanidade muitas vezes é uma vitória. -- Clarice deitou-se de lado também e ficaram frente a frente -- Vamos orar agradecendo a Ele por tudo isso, pelas pessoas que fazem parte de nossas vidas, pelo que temos a oportunidade de viver e, não menos importante, por termos uma a outra.
--Sim! -- continuava emocionada -- Você foi o presente mais maravilhoso que a vida me ofereceu! -- colou testa com testa -- Ana fy knt, wknt fy ly wAllah fyna. (Eu em você, você em mim e Deus em nós.)
“Oh, Kitaabii (Meu Livro), aquele momento foi único! Sob a visão de céu noturno mais límpido deste planeta, o Amanhecer da minha vida e eu trocando juras de amor na forma de orações, em comunhão completa com o Alto. Quem disse que o amor entre iguais é impuro ou “pecaminoso”?
Um dos Emissários da Luz já dizia que o tempo é como um livro em branco que cada um preenche a sua maneira. Um kitaab (livro) que muitas vezes desperdiçamos, estragando suas páginas por qualquer razão. Sei que houve uma época em que rabisquei ou rasguei várias delas, mas desde que amanheci, cada página se tornou sagrada para mim!
O amor faz do outro sagrado!”
CAPÍTULO 182 – Quando Toca o Coração
Duas mulheres conversavam no quintal de um asilo em Cidade Restinga.
--Olha só, Paula, deixa eu te falar. -- gesticulava -- Eu nem ia aceitar a sugestão da doutora Cláudia mas acabei mudando de opinião e entrei nessa de vir aqui no teu asilo ver qual é, depois parti pros orfanatos, cheguei a assistir uma palestra naquele centro que você me indicou, mas... -- pensava em como dizer -- não deu match, sabe?
Achou graça. -- Você não é obrigada a ser voluntária aqui, nem a visitar orfanatos e tampouco a se converter em qualquer religião. -- falava compreensivamente -- A Cláudinha simplesmente quis te ajudar a encontrar alguma atividade que te fizesse bem, que te desse um sentido de utilidade... se nada disso é o caso, não tem problema. -- cruzou as pernas -- Mesmo sem empolgação, posso dizer que você fez um bem aqui e só tenho a te agradecer por isso. -- estava sendo sincera
Cecília ficou um tempo prestando atenção em Paula até que teve coragem de perguntar: -- Você gosta mesmo da vida que tem? -- queria saber -- Gastar tanto tempo cuidando de pessoas que nem são da sua família, pessoas tão carentes, tão dependentes... -- passou a mão nos cabelos -- E... na sua condição... -- referia-se ao fato de ser lésbica -- muitos desses idosos, sob outras circunstâncias, nem olharia na tua cara sabendo disso.
--Eu sei. -- pausou brevemente -- Mas não me importa. -- respondeu com a sinceridade -- Vou te fazer uma pergunta também. -- olhava bem para a outra -- Alguma vez você já sentiu que fez a diferença na vida de alguém?
--Não... -- constatou sem graça -- Na verdade, não.
--No dia que sentir isso pela primeira vez, você vai me entender. E aí vai perceber que mesmo o que parece não ter lógica racional, pode falar muito forte ao coração!
Cecília ficou pensando no que acabava de ouvir.
***
Amina e Raed trabalhavam no roçado junto com Najla e Georgina. Ahmed Marcos, Ahmed Lucas e Khadija ajudavam como podiam, enquanto Ahmed Mateus brincava juntando as palhas de milho. Apenas Ahmed João não participava por estar estudando na cozinha e, vez por outra, dando uma olhada em Chede e Yasirah, que dormiam na cama dos avós.
--Sintu farta di Cidmara mais nóis aqui, num sabi? -- Amina comentou com o marido -- Já faiz quase seti meis qui num veju minha neta... -- lamentou
--Anêim me fali! -- Raed franziu o cenho -- Num mi arrependu um ticu di tê dadu umas cintada im Cid! -- deu um golpe de enxada no solo -- Mais ao menu eli feiz paper di sujeitu homi e foi atrás di Penha dizendu pra ela vortá e trazê Cidmara. -- deu outro golpe -- E registrô e batizô Yasirah.
--Fiz gostu deli tê dadu a minina pra Ahmed e Catiúcia batizá, qui nem Nagibe fez cum Chede. -- deu um golpe de enxada -- Mais num sei si cum Penha a situação vai si arresorvê fácir, não.
--Já dissi a eli qui si num fô pur bem vai pur mar! Si Penha num dexá nóis vê a minina, põe nas justiça! -- parou para secar o suor do rosto com os braços -- AHHa! -- reclamou
--Tumara qui num si chegui a issu. -- Amina desejou ao dar mais um golpe no solo
--Ói! -- Georgina se aproximava dos sogros -- Eu vô mais Najla vê os painço como tão. -- sorriu para eles
--Podi í, muié! E num pricisa di pirmissão di nóis. -- Raed respondeu olhando para ela
--Tá certu. -- balançou a cabeça
Amina percebeu que a mulher queria dizer alguma coisa mas faltava coragem. -- Homi, vô lá mais Georgina e Najla vê os painço e vorto aqui. -- apoiou a enxada no ombro
Raed concordou com a cabeça e voltou a trabalhar.
--Intonci, muié. -- Amina puxou assunto quando começaram a andar -- O qui é qui ocê tá querendu falá e num diz? -- olhava para o horizonte
Pensava em como pedir. -- É qui... -- olhou para o horizonte também -- Hassan tá de namoro cum uma moça chamada Rebeca. Eles si cunhiceram no primeiro dia de aula na Escola, ficaru amigo e cum o tempo veio o namoro. -- contava -- Ele mi dissi qui o amô tocô o coração deli! -- sorriu
--Intonci foi pur issu qui eli num veio pra cá nessi finar di semana! -- deduziu
--Foi pur causu qui ele foi pra casa dela modi se apresentar prus parente dela, num sabi? Mostrá qui tem boa intenção. -- pausou brevemente -- E ele me perguntô si nas féria di julhu, qui tão pra começá, pudia trazê ela e os pai e mãe dela aqui modi apresentá a nóis tudu. -- sorriu timidamente
--Podi trazê, uai! -- concordou de pronto -- Mais nóis também tem qui dá uns cunselhu, modi num si arrumá di fazê mininu cedu dimais. Purque si fizé, vai tê qui casá!
--Tá certu. -- concordava -- Eu já falei cum eli, mais si a sinhora e seu Raed também quisé orientá, eu só vô agradicê. Os dois só têm 15 anu; tem qui isperá.
“Khadija viu nas carta qui Hassan ia incontrá uma pessoa qui eli quiria di vê faiz muitu tempu nessa vida.” -- lembrava do que a neta falou -- "Será qui já incontrô? Será essa Rebeca?” -- pensava -- "Ah, mais eu vô oiá nus óio dessa minina iguar fiz cum Clarice!” -- decidiu
***
Kira e Khalayla oravam fervorosamente no último andar do prédio, atendendo ao quinto chamado do dia. Hana cuidava das crianças e os demais moradores tratavam de outras tarefas, porém de forma discreta para não despertar a atenção dos vigilantes do Estado Radical, que pareciam ter olhos em todos os lugares.
--As-Salamu Alaikum! (Que a paz esteja convosco!) -- uma voz masculina saudou
--O santo! -- Khalayla arregalou os olhos e sorriu -- Alaikum as-Salaam! (E a paz também convosco!) -- saudou em resposta
--Oh, Aba! -- Kira não acreditava no que seus olhos viam -- O santo! -- de tão nervosa não conseguiu saudá-lo
--Não sou santo, apenas um amigo cheio de imperfeições na alma que busca fazer o bem. Ana mabsoutah (Estou feliz), pois ambas podem me ver e ouvir. -- Ahmed falava com mansidão e firmeza -- Preciso lhes orientar quanto a um assunto muito importante e é necessário que tenham bastante atenção.
--Diga e faremos como orientar! -- Khalayla foi logo dizendo
Kira continuava em estado de choque.
--As famílias que se encontram habitando este prédio podem pensar que foram reunidas aleatoriamente, mas não foram. Vocês todos fazem parte de um plano e têm uma missão a cumprir. -- esclarecia -- É necessário que as duas, Khalayla e ya Kira, conveçam a todos aqui a agrupar suas reservas financeiras e se preparar para migrar para Cedro. -- explicou o que deveriam fazer
--Cedro?? Ezzai? (Como pode?) -- Kira não entendia -- E como migraremos para lá sem que o Estado Radical ou as outras tropas nos matem no meio do caminho? Sequer temos transporte! -- falou de uma vez só -- Todos aqui nos tornamos pessoas com os recursos contados!
--Le sekah taiha meny (De um jeito que eu não sei), porque sou pequeno demais, Allah nos fala por Seus Guias do Alto. E eles assim me dizem. -- respondeu simplesmente -- Eu só posso lhe pedir: macleech, ya Kira! (não se preocupe, senhora Kira!) Faça como lhe é orientado e crê somente. -- olhou para Khalayla
--Eu creio! Cheguei até aqui e me livrei do cárcere que me consumia graças aos seus conselhos! -- a jovem afirmou -- 2olily eih 7ekaite (Diga-me qual é a minha história) e eu escreverei no livro da vida como deve ser!
Ahmed sorriu e desapareceu lentamente.
--Eu... -- olhou para Khalayla -- Confesso que sempre imaginei que seus relatos sobre o santo fossem coisa de uma jovem perturbada pelo sofrimento. -- sentia-se confusa -- Agora me sinto... nem sei dizer. -- pôs a mão sobre o peito
--O santo mudou a minha vida e tocou meu coração. -- a jovem sorria emocionada -- Mês que vem completo um ano vivendo com seu clã, meu filho está bem, ninguém abusa de meu corpo e nada disso teria sido possível sem ele. -- Kira ouvia pensativa -- Abos lerou7y faj2ah-la2etny: (Repentinamente olhei para dentro de minha alma e descobri:) Allah não nos abandonou! -- falava com fé -- Nossa situação ainda é muito ruim mas poderia ser pior, acredite! -- considerou -- Vamos conversar com os outros na devida hora, da melhor maneira, e convencer a todos de fazer como nos foi orientado. Somos vários clãs neste prédio e se temos uma missão em comum a cumprir, assim será!
CAPÍTULO 183 – Medo
Rosa preparava um almoço especial a pedido de sua patroa. Já havia faxinado a casa com gosto e capricho, como vinha fazendo há quase um ano morando com o casal idoso. Os dois pequenos estavam no quarto de Geraldina, ou Dina, como preferia ser chamada, a qual se divertia brincando com eles.
--Cadê os bonitinho da vovó? -- a mulher falava com voz fininha -- Cadê os bonitinho, cadê? -- deu um cheiro na barriga de Davi -- Cheloso! -- deu um cheiro na barriga de Salomão -- Cheloso! Qual dos dois é o mais cheloso da vovó? -- sorria
--Dona Dina, -- Rosa se apresentou na porta do quarto e sorriu ao vê-la brincando com seus filhos -- a comida tá quase toda pronta. -- secava as mãos no avental -- Queria saber se a senhora vai querer que eu faça um bolo pra sobremesa ou se vai encomendar na dona Zuleika.
--Ah, minha filha, deixe que vou pedir a ela aquele tal de brownie quente e a gente come com o sorvete de tapioca que Nilto comprou ontem. -- referiu-se ao marido pelo apelido -- Ói, -- ajeitou-se na cama -- pode tomar seu banho, que daqui a pouco Nilto chega aí com Niltinho e almoça nós tudo junto.
--A senhora tem certeza? -- perguntou envergonhada -- É a primeira visita de seu filho aqui desde que vim morar mais a senhora e seu marido... ele pode não gostar de me ver comendo na mesa...
--Oxe, mas como é isso? Avalie! -- cruzou os braços bem humorada -- Você sempre comeu na mesa mais nós! E Nilto não comprou até as cadeirinhas pros menino comer também? -- levantou-se da cama -- Deixe de abestaiação, que hoje é dia de um maravilhoso almoço de boas vindas pro meu filho! -- sorria para a jovem -- E nossos pequenos reis vão ficar de buchinho cheio com suas maravilhosas papinhas! -- brincou
--Tá certo! -- ficou feliz com o que ouviu -- Vou tomar meu banho, então.
--Vá que eu fico aqui brincando com eles. -- voltou para se sentar na cama -- Brincando com os chelosinho da vovó! -- mexia com os garotos -- Chelosinho da vovó!
Rosa gastou uns segundos admirando o carinho daquela mulher com seus filhos e foi se preparar para o banho.
***
--Separado, meu filho? -- Egenilto falou contrariado -- Então foi por isso que depois de tanto tempo você veio visitar nós? -- olhava para o homem -- Bem que eu achei esquisito essa história de visita sem trazer mulher, menino...
--Mas por que isso, meu filho? -- Geraldina perguntou decepcionada -- E eu achando que os menino tinham ficado em Maurítia por causa das aula na escola!
Todos estavam na mesa da sala. Haviam acabado de almoçar.
--Deixe a empregada recolher a louça que eu explico a situação! -- Egenilto Filho respondeu seriamente olhando para Rosa
--Às ordem. -- a jovem se levantou encabulada e começou a trabalhar
--Eu ajudo você, minha filha. -- Geraldina falou com delicadeza
--Oxe, mas espie pra isso! -- o filho reparou cruzando os braços -- E quem é a empregada aqui, maínha?
--Deixe, dona Dina. -- Rosa recolhia os pratos de cabeça baixa -- É meu trabalho, mesmo. -- respondeu com humildade
--Se avie, menina! -- ordenou sem muita paciência -- E depois de tirar os prato, leva esses menino pro teu quarto!
--Niltinho! -- Egenilto não estava gostando do tom do filho
--A gente tem que ter uma conversa séria aqui, paínho. -- olhou para o pai -- Sobre os meus rolo e os rolo de vocês!
Rosa foi cozinha levando todos os pratos e talheres de uma vez só. “Num gostei desse cabra!” -- pensou contrariada -- "O tempo todo parecia que tava incomodado comigo e meus menino na mesa!”
***
--Mas você nem parece que é cristão, meu filho! -- Geraldina argumentava com os olhos marejados -- Largar mulher e filhos por causa de bobagem?
--E largar o emprego, largar tudo? -- Egenilto reclamava também -- Você não é mais menino, é homem feito, tem 45 anos!
--Eu que não ia ficar pagando pensão! -- andava de um lado a outro na sala -- A mulé na maior gaia e eu dando uma de brocoió! -- gesticulou
--Mas você mesmo não disse que não tinha certeza se ela tava te traindo ou não? -- o pai protestou -- Um homem cristão não tem uma atitude assim! Não foi isso que nós te ensinamos!
--Pelas caridade, meu filho, não pode ser assim! -- Geraldina sentia-se agoniada -- E agora como vai ser? Você vai viver aonde e de que?
--Eu vou viver aqui, ora essa! -- respondeu como quem diz o óbvio
--Aqui?? -- Egenilto levou um impacto -- Mas... -- não sabia o que dizer -- Ave Maria, meu filho, tem nem mais espaço nessa casa pra isso!
--Não tem porque vocês inventaram essa de arrumar uma empregada que veio simplesmente com duas bagagem pesada! -- referia-se aos meninos
--Não fale de Rosa e dos bichinho desse jeito! -- Geraldina se revoltou -- Já não aprovei o tom que você usou com ela depois do almoço, que ela preparou com tanto gosto pra nós!
Achou graça do que ouviu. -- No que não fez mais que a obrigação! Afinal de contas, empregada é pra isso!
--Eu não sei o que aconteceu com você! -- Egenilto estava zangado com a situação -- Rosa foi uma bênção na vida da gente! Ela cuida de nós, cuida da casa e os menino dão alegria pra nós! -- caminhou para perto do filho e olhou nos olhos dele -- Alegria que nossos neto nunca deram, porque praticamente nunca tivemos contato! -- falava com energia -- E desde que se mudou pra Maurítia você nem lembrava mais que tinha pai e mãe!
--Eu sei que errei, mas agora tô aqui, não tô? -- abriu os braços
--Tá aqui no erro de novo! -- retrucou de pronto
--E eu que pensava que essa visita ia ser uma alegria... -- Geraldina lamentou
--Ói, eu vou dizer uma vez só! -- Egenilto Filho olhava para os dois alternadamente -- Tô separado e isso não vai mudar! E vim pra morar com os dois, maínha e paínho, porque não sou filho de chocadeira! -- falava com decisão -- E essa casa não tem espaço pra mim e mais uma empregada com dois menino! Além do mais não vou ficar aqui de braços cruzados vendo essa golpista que tá só de olho em vocês bater as bota pra ela passar a mão em tudo aqui! -- acusou
--Isso é mentira, ela não é golpista! -- Geraldina protestou com voz chorosa
--Vocês vão ter que escolher! -- o filho ignorou o que ouviu -- Ou uma estranha e seus filho sem pai ou eu, o filho único de vocês!
De seu quarto Rosa ouvia a discussão e já era capaz de antever que seus dias naquela casa estavam contados. Olhou para os filhos sentindo muita tristeza e medo.
***
--Gente, eu tava aqui pensando: isso é uma coisa incrível! -- Magali falava com um copo de vinho na mão -- Conheço Clarice há séculos e é a primeira vez que recebo uma visita! -- bebeu um gole
--Nunca tinha recebido o convite... -- respondeu bem humorada ao beber um gole de vinho também
Estavam todas na casa de Magali e Lúcia. Haviam acabado de jantar.
--Eu só sei que esse nosso jantar me fez pensar em como a vida é imprevisível e o tempo tá sempre nos trazendo surpresas no seu compasso. -- Lúcia filosofava -- Clarice e Zinara aqui em São Sebastião com a gente e eu casada com Magali, que conheci por causa das cafagestagens de Cátia!
--Que também foi minha namorada. -- a paleoceanógrafa lembrou divertida
--Podia passar sem lembrar desse detalhe, Sahar... AHHa! -- Zinara resmungou
--Hum, minha caipirinha ciumenta... -- segurou o queixo da namorada e a beijou nos lábios -- Bobinha! -- apertou-lhe a bochecha de leve
--Você é a única nessa mesa que não passou pelas mãos daquela mulher! -- Magali comentou olhando para a astrônoma -- Em compensação, ela se casou com uma que passou pelas SUAS mãos e por otras cositas más! -- brincou
--Magali?! -- Clarice fez cara feia
--Depois a ciumenta sou eu... -- Zinara acabou achando graça -- É melhor mudar o rumo dessa prosa, viu? -- sugeriu ao beber um gole de suco -- Ehna konna fin? (Onde nós estávamos?) -- perguntou brincalhona
Lúcia não entendeu a última frase. -- Você jura que entende tudo que ela fala? -- perguntou intrigada
--De uma forma ou de outra... -- respondeu maliciosa -- “Quando a cabeça não entende a bousa traduz!” -- pensou
--Mas vamos lá, hora da fofoca básica: -- Magali ajeitou-se na cadeira -- contem aqui pra nós o que vai ser. -- olhava para as amigas -- As duas vão casar e viver aqui em São Sebastião ou o próximo destino é Cidade Restinga? -- queria saber
Zinara e Clarice se entreolharam. -- Uai... -- a caipira começou a responder -- Ainda não recebi qualquer sinalização do Departamento da Federal de vocês quanto a uma possibilidade pra mim... -- brincava com o guardanapo -- Tampouco encontramos um imóvel que atenda ao que pretendemos. Além de tudo, os preços tão de um jeito que não dou conta!
--Mas e se você encontrar o planeta misterioso? Será que assim a repercussão não faria o governo abrir a mão e uma vaga aparecer pra você? -- a bombeira perguntou curiosa
--Tudo são possibilidades, Lúcia. -- passou a mão nos cabelos -- Eu evoluí muito em meus estudos enquanto estive fora, mas não se encontra um planeta tão longe de nós com facilidade... -- pausou brevemente -- A boa notícia é que meu co-orientando vai continuar usando os recursos do Observatório e há equipes aqui, na Gália e em Ganarajya procurando o Planeta Nove de acordo com minhas teorias, então se algum de nós encontrarmos um vestígio que seja, meu nome vai aparecer... -- explicou -- Mas sinceramente, não estou preocupada com quem encontra e com base em qual teoria. Meu desejo é que se encontre! -- falava com sinceridade -- Ana 3ayiz eddonya te3raf! (Eu quero que o mundo saiba!)
--Tecla SAP? -- Magali brincou olhando para a amiga
--Ela disse que quer que o mundo saiba. -- olhou para a namorada -- Acertei? -- perguntou receosa
--Tab 2oliha enti! (Então você diz!) -- concordou ao beijá-la
--O amor dá fluência em qualquer idioma! -- Magali brincou ao beber mais um gole de vinho -- Mas a minha fluência é na linguagem da eta! -- riu alto
--Menina! -- Lúcia deu-lhe tapinha na perna e todas riram
--Diz aí, amiga! -- Magali deu um tapinha no braço de Clarice -- Sua parte da resposta!
--Professor Felipe, Werneck, Chandra e eu temos corrido atrás do patrocínio pra montar o programa de pós graduação que pretendemos. O pessoal de Paulicéia tem negociado com pesquisadores da Cina pra entrar no consórcio e ver se aumentamos as chances de emplacar o projeto. -- contava -- Chandra sugeriu de estreitarmos os laços com pesquisadores dos países que integram o bloco Terra de Santa Cruz, Ganarajya, Cina, Rossiya e Zuid-Afrikans. Daí, aproveitando os laços políticos ainda existentes, poderíamos vender a ideia.
--Genial! -- Magali comentou -- Mas será que vocês conseguem que a coordenação desse programa de pós fique em Cidade Restinga? -- perguntou intrigada -- Dentre as universidades nesse país é a com menor peso... -- olhou para Zinara -- Com todo respeito, amiga, mas esse país gira em torno do sudeste, né?
--Baseeta. (Sem problemas.) -- fez um gesto despreocupado -- É a realidade política desse país há anos.
--Mas, temos a política a nosso favor nesse caso! -- Clarice salientou animada -- O Senador do estado admira sinceramente o trabalho do professor Felipe e ele acha que se conseguirmos emplacar essa pós, conta pontos pro partido dele! -- explicou
--Faz nada pra ajudar e quer receber os louros? -- Lúcia cruzou os braços contrafeita -- É muita sacanagem!
--Pra variar! -- Zinara concordou -- Só que nesse caso, o tal político pretende dar uma forcinha pra Federal de Cidade Restinga ficar com a coordenação da pós quando o consórcio tiver fundos pra ser montado e continuar existindo. E eu vou dizer pra vocês: é o justo! Afinal de contas, o programa começou a ser gestado lá! -- olhou para Clarice -- E quando tudo der certo, porque vai dar, minha Sahar será a vice coordenadora! -- sorriu satisfeita
--Aê!! -- Lúcia e Magali bateram palmas
--Gente, não vamos contar com o ovo dentro da galinha... -- reagiu encabulada
--Eu conto! -- Magali protestou animada -- E se precisar de mais ajuda política, pede pra Cátia ou pra Jamila, porque aquelas duas vira e mexe aparecem nos jornais.
--É mesmo, né? -- a paleocenógrafa reconheceu -- Jamila tá fazendo o maior enxame e lutando contra a privatação das empresas estatais de águas e Cátia ainda nem fez um ano de mandato, mas tá uma diretora sindical cada vez mais respeitável!
--E as duas cada vez mais perseguidas pelos facistas que de repente tão saindo de dentro dos armários desse país! -- a bombeira comentou de imediato -- Aliás, gente, eu ando com o maior medo! -- confessou -- Vocês tão vendo a escalada do discurso de ódio no mundo inteiro? Aquele presidente Mickey provocando os outros países, fazendo declarações horríveis, Uruba com problemas com neonazistas por conta dos refugiados de Suriyyah e de outros países em guerra e aqui em Terra de Santa Cruz tem aquele tal de Bozoliaro, que eu só vejo crescendo nas pesquisas de intenção de voto pro ano que vem!
--Nem me fale! -- Clarice logo exclamou -- Tenho pavor em pensar naquele homem no poder!
--Ih, gente, ganha não! -- Magali descartou a hipótese -- O cara só fala merd*, nunca fez nada de útil e ataca mulheres, LGBTs, negros... sem chance!
--Eu não teria tanta certeza, Magali. -- Zinara discordou -- O processo que levou ao impeachment da presidente Vilma deixou no ar um ódio muito grande a tudo que cheira a esquerda. E a vitória de um político do tipo de Bozoliaro interessa a muitos poderosos dentro e fora de Terra de Santa Cruz. -- bebeu um pequeno gole do suco -- A porteira aberta pra vender o que ainda temos como recursos valiosos e perder direitos como trabalhadores.
--Eu só sei que ouço os colegas no meu trabalho dizendo cada coisa que me dá medo! -- Lúcia cruzou as pernas -- Se ele ganhar as eleições, quero ir embora desse país!
--Já eu não chego a tanto, mas vai ser um sofrimento muito grande! -- Clarice comentou antes de beber o último gole de vinho -- Só de pensar... -- sentiu até uma agonia no coração
--Calma, gente, sem medo e sem estresse! -- Magali pegou a garrafa de vinho e serviu novamente os três copos -- Vai? -- perguntou para a astrônoma -- Teu suco acabou. -- reparou no copo da outra
--Laa, chukran. (Não, obrigada.) -- agradeceu educadamente
--Agora sou eu quem digo: não vamos contar com o ovo no fiofó da galinha. As eleições serão no ano que vem e ainda estamos em outubro de 2017. Vamos pensar mais no curto prazo! -- bebeu um gole de vinho -- Lúcia e eu ficaremos em Costa Azul neste final de ano e vocês? Vão fazer o que? Querem se juntar a nós? -- convidou -- Ficaremos lá até meados de janeiro, quando acabam nossas férias.
--Talvez nos juntemos a vocês depois do reveillón. -- Clarice respondeu mudando o humor -- Porque natal e ano novo serão na roça! -- sorriu
--Inshallah! (Se Deus quiser!) -- Zinara concordou
--Então fechou! -- deu um tapa na mesa -- Em janeiro, vocês tão com a gente em Costa Azul! -- levantou o copo -- Vamos brindar!
--A vida e ao amor! -- Lúcia propôs antes de beijar sua esposa -- Vamos brindar! -- levantou o copo também
--A vida e ao amor! -- Clarice fez exatamente como a bombeira
--Aqui, ó! -- Magali advertiu a Zinara -- Brindar sem beber, 5 anos sem fu... -- Lúcia cobriu seus lábios com uma das mãos
A astrônoma riu gostosamente. -- Macleech! (Não se preocupe!) -- levantou o copo vazio -- Isso não vai acontecer! -- garantiu
“É ruim!” -- a paleoceanógrafa pensou divertida -- "Nem tão cedo essa bousa se aposenta!”
CAPÍTULO 184 – Juntos Novamente
--Ô, de casa! -- Zinara descia da carroça com Isabel no colo -- Põe água no feijão que chegou o bonde de São Sebastião! -- falava animada -- Agora é só alegria! -- olhou para a menina -- Né, Bebel? -- deu um beijinho na mão da criança
--Qui maravia! -- Amina correu animada para a porta da casa -- Najla, muié, chama us mininu qui Zinara e Clarice já chegaru cum a famia de ya Leda! -- gritou
--Oba! -- Deodoro pulou da carroça logo em seguida -- Oi, dona Amina! Tudo bem? Cadê Khadija? -- foi perguntando
--Ói eu! -- a menina se apresentou animada ao lado da avó -- Oba! -- saiu correndo em direção ao menino
Getúlio reparou na alegria do reencontro das duas crianças se abraçando no meio do quintal. -- Alá, Princesa! -- achava graça -- Nosso moleque todo feliz com a gatinha dele, aí!
--Nossa, parece que o quintal da casa tá ainda mais lindo! -- Clarice sorria animada -- Olha quantas flores! -- reparava na beleza -- Olha pra isso, Raquel! -- cutucou o braço da irmã
--Hum, sente o cheiro de comida! -- Raquel percebeu de imediato -- "Vou cair de boca!” -- pensou esfomeada
--Amina, se prepara que eu vim cheia de força! -- Leda declarou bem humorada -- Já que no ano passado não pude vir, nesse ano cheguei pra infernizar em dobro! -- riu de si mesma
--Ai, começaram a chegar! -- Najla também apareceu alegremente na porta -- Eu simplesmente amo esse momento! Espero o ano inteiro pra ver a família reunida! -- batia palminhas -- Marco, Hassan, João, vão lá ajudar! -- pediu
--Claro, minha Dona! -- Marco foi ajudar -- E quanta mala, meu Deus! -- exclamou bem humorado ao ver o carroceiro descarregando as bagagens da família
--camma Zinara chegou? -- Hassan perguntou animado -- Oba! -- correu até ela
--Vamu pegá camma Zinara! -- Ahmed Marcos convocou os demais e correu
--Vamuuu!!! -- Ahmed Lucas e Ahmed Mateus correram atrás
--Cuidado aí que eu tenho uma bebê inocente nos braços! -- a astrônoma advertia animada quando os sobrinhos agarraram em suas pernas -- Oh, ana mareed! (Oh, estou passando mal!) -- fingia que estava em apuros
--camma Zina!!! -- Khadija veio correndo também junto com Deodoro
--Eu ajudu a sinhora! -- Ahmed João deu o braço a Leda -- Levu suas borsa. -- pegou a mala dela
--Dá gostu di vê comu uns meninu gosta quandu a tia chega, num sabi? -- Georgina também veio receber a família -- É bão! -- sorria satisfeita
--Daqui a pôcu Ahmed e Catiúcia chega aí cum Cid e Yasirah. -- Dora comentou com Georgina -- E só vai fartá nossu sogru vortá cum Aisha e Janaína. Diz qui foru buscá o restu dus trem da famia qui tava nu Clubi Cedro-Suriyyah. -- contava
--Vamu lá recebê a tia, Chede? Vamu? -- Nagibe ia para junto dos demais com o filho no colo
--Vem inda mais gente, muié! -- Georgina respondeu para Dora -- Os pessoar di Cidade Restinga. -- observava animada a farra das crianças -- E eu gostu assim: casa cheia!
***
--Smallah, quem vejo? -- Zinara percebeu quem chegava -- Simbora, criançada, vamos pegar aqueles ali! -- a astrônoma convocou sua turminha
--Olha, Zezé, como parece que essa roça tá ainda mais linda! -- Ritinha admirava embevecida -- Quantas flores! -- sorria
--Tá tudo lindo mesmo! -- a mulher concordou -- Eu adoro esse lugar! -- viu que Zinara vinha correndo com as crianças -- Lá vem ela com a meninada! -- achou bonitinho
--Olha, sou obrigada a admitir... -- Cecília cochichava com o marido ao descer da carroça -- não gosto de mato mas esse lugar é o must! -- reparava
--Oxe, que eu já gosto! -- respondeu malicioso -- Um matinho só você e eu, hein? -- perguntou brincalhão
--Safadão! -- deu um tapinha no braço dele
--Até que enfim, hein? -- Leda fingia que ralhava -- Agora minha família e gangue estão completas! -- esfregou as mãozinhas
--É... -- Cid reparava nos que chegavam -- Todu mundu já chegô, mais eu me sintu tão vaziu... -- voltou a atenção para Yasirah na grama do quintal -- Sintu tanta sardadi di minha Cidmara... -- lamentou -- E sintu tanta sardadi di Penha... -- olhou para o irmão -- Anêim eu sabia qui tinha tantu amô pur ela!
--Eu num sei o que ti dizê, homi... -- Nagibe estava sentado no chão ao lado dele -- Todu mundu tem pididu a Deus, a Nossa Sinhora... -- olhava para Chede brincando com a prima -- Vamu vê o qui vai sê, né? -- sentia pena do irmão -- Eu também sintu farta delas...
--Tadinho do Cid, olha só! -- Aisha mostrava o homem para Clarice -- Desde que Penha e Cidmara se foram ele nunca mais foi o mesmo. Até emagreceu... -- comentou pesarosa -- Mamii contou que ele foi lá em Paulicéia atrás dela, gastando o que podia e o que não podia, teve problema no trabalho por causa disso, mas deu em nada...
--É... -- a professora prestava atenção no homem -- Ele errou, eu entendo o lado da Penha, mas também sei muito bem como é essa dor que ele deve tá sentindo... -- lembrava-se de quando Zinara viajou escondido para Cedro -- É muito ruim...
--Fio! -- Raed fez sinal para Ahmed, que correu até ele
--Baba. -- aproximou-se do homem -- O sinhô tá pricisandu di ajuda deu? -- perguntou curioso
--Pricisu qui ocê vá atrais daqueli seu cunhicidu qui faiz motu táxi e... -- cochichou com o filho
Ahmed balançava a cabeça concordando.
***
--Esse vai ser o primeiro final de ano sem o pai de vocês. -- Sara comentava entristecida -- Mas eu tô feliz de ter minhas duas filhas junto comigo... -- olhou para as duas mulheres -- e a filha que acabei ganhando também! -- olhou para Cátia e sorriu
A geofísica ficou muito feliz com o que ouviu e apenas sorriu para a sogra. As quatro mulheres estavam na mesa, prestes a iniciar a ceia.
--Ah, maínha, eu sei que ainda dói, mas hoje é natal! -- Leonor respondeu segurando uma das mãos dela -- Vamos pensar que ele tá num lugar muito bonito esperando a gente pra se reencontrar um dia! -- fez um carinho na mão que segurava -- A gente tudo junto e misturado! -- brincou
--Eu entendo que a senhora fique triste, mas Leonor tem razão! -- Jamila segurou a outra mão da mãe -- Vamos pensar em coisas boas porque o natal é uma data especial! -- sorriu -- E graças a Deus estamos aqui com saúde, juntas e muito bem, apesar de tudo!
--Eu também entendo a senhora... -- Cátia falou timidamente -- Quando me vi sozinha no mundo, sem minha mãe e sem a vovó, me senti abandonada, triste, perdida... -- desabafou -- Aí me apaixonei e perdi. Não era casada mas me senti viúva... -- deu um sorriso triste -- Então levei uma vida doida, fazendo um monte de besteiras... -- esfregou as mãos nas pernas -- Os estudos e depois o trabalho foram as únicas coisas que levei a sério e conduzi bem. -- pausou brevemente -- Se a senhora soubesse o que aprontei...
--E o que mudou sua vida, minha filha? -- perguntou interessada
--O Amor! -- olhou para Jamila -- Que chegou na minha vida inesperadamente pra nunca mais sair...
--O mesmo Amor que de fato mudou a minha vida! -- a advogada complementou -- E o que veio antes nos preparou pra saber viver isso! -- pensou em Zinara e Clarice -- O Amor muda tudo, maama! -- olhou novamente para Sara -- Eu nunca pensei que um dia fosse pedir isso, mas... -- estava surpresa com si mesma -- vamos orar a Deus pra que baba esteja bem, seja onde for, e que nós continuemos todos juntos, mesmo que separados, não importa o que aconteça. -- olhou para a loura -- E isso inclui sua mãe e sua avó! -- falou com certa emoção -- Que o pensamento sempre nos una!
Leonor estava pasma com a atitude da irmã, embora reconhecesse já de muito tempo profundas mudanças nela. -- Amém! -- respondeu emocionada -- Vamos orar!
***
Raed, Nagibe, Cid, Ahmed e Marco haviam montado uma mesa enorme no quintal. Najla, Aisha, Amina, Leda, Catiúcia, Dora e Georgina cuidaram da comida e arrumaram tudo impecavelmente. Zinara, seus sobrinhos, Deodoro, Clarice e as irmãs espalharam enfeites de natal por toda parte. Getúlio pintou motivos natalinos em lonas que Janaína e Adamastor usaram para servir de cobertura. Ritinha e Zezé tomaram conta de Yasirah e Chede enquanto os demais trabalharam.
A noite estava linda e a família se preparava para cear quando Zinara recebeu uma mensagem no QQOV?. Após ler, levantou-se e pediu a palavra. -- Por favor, eu sei que todos estão com fome -- falava sorridente -- e que as crianças estão ansiosas pra abrir seus presentes de natal depois do jantar, mas é que... -- olhou rapidamente para a porteira -- os últimos presentes que faltavam acabaram de chegar.
Amina, Raed e Ahmed se entreolharam satisfeitos.
--Du qui ocê tá falandu? -- Nagibe não entendeu
--Chegou alguém de moto ali! -- Hassan apontou para a porteira
--A essa hora, quem será? -- Janaína cochichou com Aisha
“Só espero que não demorem muito com isso, porque tô doida pra cair de boca nessa comilança toda!” -- Raquel pensou lambendo os beiços
--O sinhô num vai vê quem é, camm Cid? -- Khadija sentia em seu coração quem estava por chegar
--O que?? -- arregalou os olhos -- Zinara! -- olhava alternadamente para a irmã e a porteira
--Vai lá, habibi! -- a astrônoma pediu com carinho
--Baba!!! -- uma voz conhecida se fez ouvir
--Ô, Avi Maria! -- Cid se levantou nervosamente -- Cidmara! Fia!! -- gritou e correu em direção a ela
--Num criditu! -- Dora quase gritou emocionada -- Penha veiu, ói! -- apontou -- Ocê sabia dissu, homi? -- perguntou para o marido -- Ô, qui bença!
--Não... -- respondeu emocionado olhando para o irmão -- Num sabia...
--Pode ir lá, camma? -- Ahmed Lucas perguntou excitado
--Laa, habibi. (Não, querido.) -- Zinara respondeu ao se sentar -- Deixa eles, que esse momento é só deles.
--Deu tudo certo, amor! -- Clarice cochichou com a astrônoma -- Ai, que maravilha!
--Hora de cuidar de mais dois lugares na mesa! -- Najla se levantou satisfeita
--Eu vou com você, minha Dona! -- Marco se ofereceu solícito
--Humpf! -- Raed fez um bico -- "O Créu sempri querendu si metê!” -- pensou
--Ô, minha fia! -- pai e filha se abraçaram com força -- Sinti tanta sardadi, tanta, mais tanta... -- chorava emocionado com a criança no colo -- Ô, comu eu ti amu!
--Eu também, baba! -- fechou os olhos
O rapaz do moto táxi se despediu de Penha e deixou sua bolsona do lado de dentro da porteira. A mulher a pendurou no ombro e veio se aproximando.
Cid cobriu o rosto da criança de beijos e sorriu para ela. -- Vá pidí a bença pru giddu e pra gidda e lavá as mão modi si sentá na mesa. -- pediu carinhosamente -- O baba tem qui tê prosa di adurtu cum tua maama. -- explicou
--Tá bão! -- concordou e obedeceu
--Bas noiti... -- Penha cumprimentou desconfiada
--Bas noiti, muié. -- pegou a bolsona que ela carregava -- Num tem pricisão docê carregá essi pesu. -- falou com gentileza -- Ocê tem maridu também pra issu!
--E eu tenhu? -- perguntou descrente
--Ocê tem sim! E foi pur issu qui ocê vortô! -- afirmou olhando nos olhos -- Purque tem marido, seu homi, qui sô eu, -- bateu no peito -- e teu homi podi tê erradu, mas si arrependeu dimais da conta! -- derramou uma lágrima -- Eu ti amu, Penha! E num possu vivê sem ocê e Cidmara! -- declarou-se com intensidade -- Cidmara e Yasirah num tem curpa du meus erru! -- colocou a bolsa no chão e ajoelhou-se diante dela -- Sei qui ti peçu muitu, mais mi perdoa e vem vivê cumigu di novu! -- chorava -- Eu tenhu pricisão di minha muié di vorta e Yasirah tem pricisão di mãe!
--Ô, muié, o qui será qui elis tantu proseia lá? -- Raed perguntou a esposa -- Tá mi dandu uma gastura...
--Num sei, mas tô cruzandu inté us dedu dus pé, num sabi?
--Eu queria ser uma mosquinha pra ouvir o que eles tão falando. -- Leda cochichou com Clarice -- Se ele fosse Zinara e ela você, bastava falar uns troço na língua de Cedro que ela logo empinava a rabichola e caía no papo!
--Mamãe!! -- arregalou os olhos -- Fala baixo!
--Ô, menina bobinha... -- a idosa achava graça
--Num foi fácir vortá, Cid. -- Penha desabafava emocionada -- Eu matutei muitu, meus ôtro fio era contra e Cidmara choramingava noiti e dia querendu ti vê! -- contava -- Cheguei a tê raiva di ocê, da tua fia e inté di mim, purque o coração num cunsiguia ti isquecê...
--Pur favô, Penha! -- pediu mais uma vez -- Diz qui ocê vortô pra ficá! -- continuava chorando
--Eu já tive nesse bonde, tá ligado? -- Getúlio falou para Adamastor -- Perdê a mulé, o moleque... X9 tentou quebrar meus esquema e foi pra vala! -- lembrou de Fagundes
“Oxe, que não entendi nada!” -- pensou
--Eu num sô muié di bati e vorta, não, Cid! -- Penha afirmou resoluta -- Si vortei foi pra ficá! -- olhava nos olhos -- Também ti amu! -- derramou uma lágrima
--Ô, meu Pai! -- levantou-se emocionado
--O qui será qui tá acunticendu?? -- Catiúcia perguntou agoniada
--Eu achu qui elis vai vortá! -- Ahmed respondeu animado
--E num vô martratá tua fia! -- falava com verdade -- Ela pricisa di mãe? -- balançou a cabeça emocionada -- Vai tê! -- prometeu -- Tantu quantu Cidmara tem!
--Um homi num pudia di sê mais filiz! -- puxou-a pela cintura e beijou-a apaixonadamente
--Uhu!!! -- Aisha se levantou batendo palmas -- Maravilha!
Todos os demais se levantaram e aplaudiram também.
--Gente, eu não entendi nada, -- aplaudia -- mas que babado fortíssimo! -- Cecília cochichou com a irmã
--Será que vão demorar muito a liberar a comida, hein? -- Raquel perguntou ouvindo o estômago roncar -- Fome! -- batia palmas se sentindo fraca
“E assim, 2017 aos poucos se despedia de nós, Kitaabii. Não saberia dizer o quanto fiquei feliz em ver usritina (nossa família) toda reunida para receber Penha e Cidmara de presente de natal. WalaHki wala akhabbi walawSefha le-koll el-Habib. (Eu não consigo falar ou esconder ou descrever isso para alguém.)
Penso que às vezes, quando as pessoas estão ao nosso lado o tempo inteiro, não nos damos conta do quanto nossos amados são importantes. É preciso que a vida os leve para longe por alguma razão para que possamos descobrir o quanto fazem falta. Cid não era acostumado a perder, mas em seu processo de amadurecimento agora ele aprendia o valor do que lhe era mais caro. Esse aprendizado que a vida me ensinou bem mais cedo...
No passado, a saudade foi a presença mais constante dentro de mim; me fazia sofrer, machucava e explodia bombas na minha alma. Agora eu entendia a saudade como todas as lembranças do que vivi e me fez bem. Antes a saudade me fazia chorar sem lágrimas, chorar por dentro, enlouquecer; hoje, quando ela vem, eu simplesmente penso: bem aventurada sou eu, que vivi estes momentos.
Estou evoluindo, Kitaabii? Ou apenas ficando mais feliz a cada ano? Não sei... Mas não preciso saber. Apenas sentir!”
Fim do capítulo
Música do Capítulo:
Cecília Cantarola:
Hot N Cold. Intérprete: Katy Perry. Compositores: Katy Perry / Dr. Luke / Max Martin
Comentar este capítulo:
Sem cadastro
Em: 13/06/2024
Amei o final amei tudo pra ser sincera! O kitaabii também me mata porque é lindo! Nem sua outra história me tocou tão fundo!
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PaudaFome
Em: 12/06/2024
Amei o final amei tudo pra ser sincera! O kitaabii também me mata porque é lindo! Nem sua outra história me tocou tão fundo!
Solitudine
Em: 14/06/2024
Autora da história
Muito obrigada!!!! De coração!
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 27/09/2022
Autora autora... quando eu digo que a Zo superentende do riscado... só obs! Hehe Sabe que tive pena do Cid com saudade da Cidmara? Mas ele fez por onde né? Sorte a da mãe da menina e daquela que reencarnou que ele mal sabe contar e que as profecias da Kadija abriram os caminhos hehe Entendo a Jamila e a preocupação com a Cátia porque estresse mata. É muito triste a parte do pessoal que tá em Suria mas eu gosto de ler. Torcendo pra chegar todo mundo na fazenda da Najla. Cecília porra louca! Hahaha Ri muito com o estresse Raquel Getúlio e Clarice já querendo armar o barraco Zi fugindo! Haha Muito foda essas comunicações do Amed. Zi e Clarice nas montanhas puta merda eu me apaixonar Tu arrasa puta que pariu! Conversa de mulheres sobre o rebuceteio hehe Morri de pena da Rosinha torço muito por ela. Feliz por Hassan.
E o final? CARARRA TU ME MATA!! LINDO!!!!! Os capítulos mais lindos dos lindos tu foi deixando pro final.
Resposta do autor:
kkkkk Você essa história de super entende do riscado! rs
Cid colheu o que plantou. E as profecias da Khadija não o deixaram se preocupar em fazer as contas direito. rs
É verdade, estresse faz muito mal!
A realidade do povo do Oriente é muito sofrida. As guerras cobram um preço alto demais à população.
Zinara fugiu na hora certa, concorda? kk
A mediunidade que Ahmed vem trabalhando é bacana de ver, não acha?
Zinara caprichou ao receber seu amor em meio ao deserto e às montanhas do céu mais limpo do planeta! Como não se encantar? A caipira tentou com fé! rs
Rosa ainda sofre muito, mas ela vai se encontrar. Confia na caipria!
Obrigada, querida! Essa caipira às vezes dá umas dentro! rs
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 18/04/2021
Sabah al noor, Sol!
Então, mais um capítulo e vc começou como no primeiro, mas agora existe uma personagem diferente, uma Zinara mais romântica, sempre foi, porém se supera pq encontrou o amor na sua forma mais sublime. Mas acho que ela tem um implante hormonal que Clarice n tá podendo acompanhar. É mt bonito as frases que diz,mas acho que se Clarice aprendesse perdia um pouco a sensação, n são palabras e sim o sentimento que entendemos, um idioma universal!
Adoro festença, parece que todos passaram bem e a presença de Yasiha vai trazer mts coisas boa, apesar de Penha se sentir como uma pessoa traída se sente como se n fosse suficiente, mas Deus n traz o que n podemos suportar, nos dar o que podemos, algumas coisas temos q esforçar mais, mas como diz o livro do Evangelho Segundo o Espiritismo, nos unimos por afinidade, ,progresso moral,dívidas qiue se trazem de outra vida para reparar, ela tra?a muito amor, mt consolação e cura entre esses dois. Ei tenho fé nessa criançada toda...mt luz!
Confesso que achei que Clarice deveria sair da caixinha de homem e mulher, pq Zinara n poderia bancar ? Sei q ela é independente, isso nnã midará, mas se chegou o dinheiro, que importa! Isso n é de homem, é uma construção machista,vão escolher juntos. Mas espero que Clarice entend mais adiante, tenho fé!
Vi que Penha encontrou o amor dentro dela pra perdoar, mas bem, talvez assim Cid seja mais responsável, somos herdeiros do nosso próprio destino e qndo o amor n basta pra entendermos, vem através da perda, da dor...nada melhor pra limpar...(N tinha lido o outro pq vou anotando e escrevendo..)
Sinto mt por Jamile, gosto de ver essa parte mais amorosa dela e Cátia a cuidando. Mas ela tá transformada mesmo, como é bom chegar a isso.
É, ser militante n é fácil, lutar por direitos sempre traz consequências, mas se n atuamos , tudo vai se manter igual! alguém tem q fazer e desaa vez é ela.Cátia é determinada, forte e vai seguir com unhas e dentes, ganhou e ninguém a segura . O apoio de uma a outra dará forçaa pra isso!!
Vou te falar, a religião seria pra unir, mas tanto ódio e separação, um se sentindo superior e tendo que submeter o outro a seus prazeres, quando entenderem o
que Jesus quis transmitir, sua misericódia, tudo mudará e o mundo parará de sofrer com desavenças e deixará entrar Jesus no coração. Ainda bem que Sara salvou Khalayla e se unem pela dor, logo será pelo amor, os filhos esperados com amor nos dá a coragem, sua inocência....suponho!
Cecília tá mais perdida, mas a falta de um projeto de vida e o vazio pq esteve anos ensimismada no que queria, fugindo de si, paga um preço quando nos despertamos.
O amor romântico n vai suplantar essa dor, nem um filho, ela tem que transitar sozinha e uma atividade com amor a transformará pq vai receber mt mais que dar e nessas reflexões poderá encontrar-se com suas sombras e no que é importante. Quão gratificante é fazer a vida do outro melhor, escutando, com seu sorriso, calado, mas ali juntinho, dando carinho. Tantas formas. Mas temos q ser disciplinados , constantes, vigilar,tem que confiar. Quando n sabemos emocionalmente o q nos afeta, buscamos fora , ou achando que é físico, mas é da alma.
"Se cure, minha filha, com a luz do sol e os raios da lua.
Com o som do rio e da cascada.
Com o ir e vim do mar e o flutuar dos pássaros.
Cura-te, filha minha,com folhas de menta, com azeite de neem e eucalipito.
Se acalme com lavanda, alecrim e camomila.
Abraça-te com o grão do cacau e toque de canela.
Coloca amor no chá em vez de açúcar e toma olhando às estrelas.
Cura-te,filha minha, com beijos que te dão o vento e os abraços da chuva
Se torne mais inteligente todos os dias, ouvindo sua intuição,olhando o mundo com o olho de sua frente.(n saberia traduzir com o sentido devido.)
Pula,dança, canta para viver feliz.
Cura-te, filha minha, com a beleza do amor e lembre-se sempre....
Vocé é seu próprio remédio."
Autora: Euza Patrian
Traduzi.
Só rindo de Ya Leda, tão engraçada, mesmo com seu humor...
Duas filhas ficando loucas com os respectivos compas.
Clarice já inventa ideias, Zinara aprontar todas e nem é com outra mulher...
Rindo mt. Já pensou se fosse um ano?! Raquel que tá no esparro!!
Ya Leda fica do lado de Getúlio, se o mesmo for trabalhar...rs
Zinara é boa pra fugir....sempre.que a torca aperta ela sai de fininho, engraçada..
Sabia que meu Khaled iria voltar logo...até fico emocionada!!
Aquete a piriquita, Cátia, mas essa Vanessa veio pra lascar mesmo!! Mas uma mudança é sempre boa. Corta o cabelo é sinônimo, um pouco radical pra alguns, de recomeço, mas ela tem q ir atrás do q é melhor!!
Budismo, grande mudança, ainda que existem muçulmanos que entendem o conceito, o q realmente importa, dividir n! Sigo umas psicólogas mulçumanas(psicoislam) e tem uma em especial, Amira, ela é psicóloga e neuropsicóloga- Ela usa um Hiyab. Tem uma campanha voltada pra mulher muculmana. que usa ou nao, em defesa do direito de livre escolha.Nasceu em funcao devido aos relatos sobre intolerância religiosa nas relacoes de emprego.Interessante! Isso pra quem vive em outros países..
Aqui tem alguns carros como esses que Zina alugou...
"No hay necesidad" é melhor!:)
Te contar algo, Zinara qndo tá no aperto, parte logo pra sedução...agora tá viciada nos vulcões, isso deve tá moda...
Excelente notícia sobre o trabalho de Clarice, esse projeto, vamos ver se anda pra frente, ninguém se importa em investir no que é importante pra conscientizar, add mais conhecimento, enfim! Acho q gostarei do final do Tao e tá mais tranquilo, mas leve...
A primeira parte foi difícil de ler, mts emoções juntas.Cheio de tropeços na busca pela felicidade, mas a força de vontade de Zinara,sua fé, experiências tão marcantes a guiaram, ajudou a superar os percausos, ela acreditou, mesmo nos momentos mais amargos e acreditou nos seres espirituais que sempre a acompanharam e o amor a despertou e curou o que faltava pra estar plena.
Lindos momentos juntas!!
Esse Elgenito(esqueci o nome), te contar...empregada ou n, é gente,n é menos e n são escravas pra fazer tudo, é como qualquer trabalho digno! Mas às pessoas aprendem o que ensinam, mas n é lindo vc chegar do trabalho cansada e alguém com mt amor te cuidar preparando sua comida, tendo td limpo e conversar pq tem mt pra dar tb ainda q mts menosprezam por falta de estudo, mas nemhuma sabedoria superar o.lado intectual. Quando morremos vemos quem somos realmente no nosso estado natural..a reencarnação no corpo material nos entorpece, vivemos outra realidade, existem tentações, os filhos são mal guiados e se perdem ou quem se acha melhor qndo morrem se assustam o que ver, quem são...
Ele voltou lá na casa pq n tem aonde ir, isso sim! E sendo traído ou n,é questão de ética e moral da pensão pelos filhos ,eles são pra sempre...
Vilma,Lula,deixou tanto ódio que n importa o partido, n querem saber . Outro pior pra governar,mas esse ninguém crítica seus roubos. O q o ódio faz....mas Lula tá solto, exista esperança.
Sabe, eu gosto de Manu d' ÀvIla. Me parece coerente até agora. Me cae bien!
Muito bonito o final, pude sentir uma energia linda.
Zinara tem razão, nos afastamos por tantos motivos e só aí se dá o devido valor, mas isso nos leva a crescer,limpar as dores qndo permitimos amar aceitando o outro e o que dói,sendo responsáveis pq ninguém é vítima. À vezes pelo amor nao dá certo sempre...
Antes a saudade dóia pra Zinara, agora a saudade é o amor mais lindo que fica!!
Beijos, cuidem- se,
com carinho,
Laila Dourado
PS: Desde a mirada de Zinara, talvez seja sinönimo, porém se é aquela alegria apenas por fora e por dentro nao modificou nada, é uma felicidade ilusória.
Resposta do autor:
Masaa Il-kheer, sadikii!
Lailinha, este foi dos seus comentários
mais belos e profundos! Adorei! Também
gostei muito da tradução que me enviou. Obrigada!
Bem, Zinara tem uma das características fortes do povo de
Cedro, que é a intensidade extremada em tudo que ama. E, no caso, ela gosta muito da intimidade com Clarice, está com saúde, então ninguém segura a caipira! kkk
Clarice é muito madura e compreensiva por um lado mas por outro é meio radical. Porém, elas sempre se acertam no final.
Cátia e Jamila são muito guerreiras e têm se permitido amar e ser mais humanas ao longo do tempo. As barreiras que usavam para se poupar do sofrimento estão sendo removidas.
Penha sofreu o que passa toda pessoa que é traída e desejou perdoar e voltar para o marido. Ela sabe que na maioria das vezes isso não vale a pena, mas confiou nas palavras e atitudes de Cid. E quanto à criança, de fato, é a parte mais inocente dessa história.
Creia que a felicidade de Zinara é real. Ela encontrou seu caminho.
Obrigada, novamente, pelo belíssimo comentário. E pela dica no castelhano.
Beijos,
Sol
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Cristina
Em: 24/04/2021
Olá Sol!
Tudo bem?
Sim, tive COVID-19. Tomei a vacina, mas ja estava contaminada, tanto que pensei que os sintomas fossem em decorrência da vacina. Em mim não foi assintomática, tive vários sintomas mais intensos. Mas graças a Deus, estou bem!
Neste capítulo, me chamou a atenção os aspectos geográficos do TAO. E como esta história está cheia deles!!!
Ando com saudades da faculdade, principamente das aulas presenciais; e de repente os termos usados por Clarice e Zinara me arremeteram às aulas de geologia e climatologia; seus consensos e suas rivalidades.
Também notei que Zinara e Clarice alcançaram um estágio definido na relação. Antes Zinara tinha um certo receio em se comprometer, agora já faz planos e está buscando uma solução para uma vida em comum que satisfaça as duas. A caipira está totalmente entregue a este amor por Clarice!!
É interessante como você aborda as relações que já estavam predestinadas a acontecerem, mesmo que serja uma ficção, me parece bem real e similar à nossa realidade.
Esta história é muito emocionante!!! Parabéns!
Um grande abraço! Bjs.
Resposta do autor:
Olá querida!
Já havia lido os comentários e vim para responde-los. Lamento que tenha sofrido muito por causa da doença mas fico feliz que esteja melhor. Sempre lembro de você e oro.
E como está agora a diretriz da sua faculdade em relação às aulas remotas? Alguma possibilidade? Os trabalhos de campo é que ficam comprometidos.
A caipira evoluiu, amiguinha! Deixou de ser brocoió. rs
Obrigada por sua visão sempre muito gentil quanto ao que escrevo.
Espero de verdade que esteja muito bem, assim como sua família.
Beijos,
Sol
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mtereza
Em: 21/04/2021
Que maravilha que você voltou essa sua história maravilhosa é um alento nesses tempos tão difíceis de tantas perdas bjs.
Resposta do autor:
Bom dia!
Espero que estejam todos bem por aí. Como vai?
Sim,, são muitas perdas... E perdas machucam.
Já temos dois novos capítulos aqui. Amanhã ou hoje posto mais um.
Beijos!
Sol
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Zaha
Em: 18/04/2021
Sabah al noor, Sol!
Então, mais um capítulo e vc começou como no primeiro, mas agora existe uma personagem diferente, uma Zinara mais romântica, sempre foi, porém se supera pq encontrou o amor na sua forma mais sublime. Mas acho que ela tem um implante hormonal que Clarice n tá podendo acompanhar. É mt bonito as frases que diz,mas acho que se Clarice aprendesse perdia um pouco a sensação, n são palabras e sim o sentimento que entendemos, um idioma universal!
Adoro festença, parece que todos passaram bem e a presença de Yasiha vai trazer mts coisas boa, apesar de Penha se sentir como uma pessoa traída se sente como se n fosse suficiente, mas Deus n traz o que n podemos suportar, nos dar o que podemos, algumas coisas temos q esforçar mais, mas como diz o livro do Evangelho Segundo o Espiritismo, nos unimos por afinidade, ,progresso moral,dívidas qiue se trazem de outra vida para reparar, ela tra?a muito amor, mt consolação e cura entre esses dois. Ei tenho fé nessa criançada toda...mt luz!
Confesso que achei que Clarice deveria sair da caixinha de homem e mulher, pq Zinara n poderia bancar ? Sei q ela é independente, isso nnã midará, mas se chegou o dinheiro, que importa! Isso n é de homem, é uma construção machista,vão escolher juntos. Mas espero que Clarice entend mais adiante, tenho fé!
Vi que Penha encontrou o amor dentro dela pra perdoar, mas bem, talvez assim Cid seja mais responsável, somos herdeiros do nosso próprio destino e qndo o amor n basta pra entendermos, vem através da perda, da dor...nada melhor pra limpar...(N tinha lido o outro pq vou anotando e escrevendo..)
Sinto mt por Jamile, gosto de ver essa parte mais amorosa dela e Cátia a cuidando. Mas ela tá transformada mesmo, como é bom chegar a isso.
É, ser militante n é fácil, lutar por direitos sempre traz consequências, mas se n atuamos , tudo vai se manter igual! alguém tem q fazer e desaa vez é ela.Cátia é determinada, forte e vai seguir com unhas e dentes, ganhou e ninguém a segura . O apoio de uma a outra dará forçaa pra isso!!
Vou te falar, a religião seria pra unir, mas tanto ódio e separação, um se sentindo superior e tendo que submeter o outro a seus prazeres, quando entenderem o
que Jesus quis transmitir, sua misericódia, tudo mudará e o mundo parará de sofrer com desavenças e deixará entrar Jesus no coração. Ainda bem que Sara salvou Khalayla e se unem pela dor, logo será pelo amor, os filhos esperados com amor nos dá a coragem, sua inocência....suponho!
Cecília tá mais perdida, mas a falta de um projeto de vida e o vazio pq esteve anos ensimismada no que queria, fugindo de si, paga um preço quando nos despertamos.
O amor romântico n vai suplantar essa dor, nem um filho, ela tem que transitar sozinha e uma atividade com amor a transformará pq vai receber mt mais que dar e nessas reflexões poderá encontrar-se com suas sombras e no que é importante. Quão gratificante é fazer a vida do outro melhor, escutando, com seu sorriso, calado, mas ali juntinho, dando carinho. Tantas formas. Mas temos q ser disciplinados , constantes, vigilar,tem que confiar. Quando n sabemos emocionalmente o q nos afeta, buscamos fora , ou achando que é físico, mas é da alma.
"Se cure, minha filha, com a luz do sol e os raios da lua.
Com o som do rio e da cascada.
Com o ir e vim do mar e o flutuar dos pássaros.
Cura-te, filha minha,com folhas de menta, com azeite de neem e eucalipito.
Se acalme com lavanda, alecrim e camomila.
Abraça-te com o grão do cacau e toque de canela.
Coloca amor no chá em vez de açúcar e toma olhando às estrelas.
Cura-te,filha minha, com beijos que te dão o vento e os abraços da chuva
Se torne mais inteligente todos os dias, ouvindo sua intuição,olhando o mundo com o olho de sua frente.(n saberia traduzir com o sentido devido.)
Pula,dança, canta para viver feliz.
Cura-te, filha minha, com a beleza do amor e lembre-se sempre....
Vocé é seu próprio remédio."
Autora: Euza Patrian
Traduzi.
Só rindo de Ya Leda, tão engraçada, mesmo com seu humor...
Duas filhas ficando loucas com os respectivos compas.
Clarice já inventa ideias, Zinara aprontar todas e nem é com outra mulher...
Rindo mt. Já pensou se fosse um ano?! Raquel que tá no esparro!!
Ya Leda fica do lado de Getúlio, se o mesmo for trabalhar...rs
Zinara é boa pra fugir....sempre.que a torca aperta ela sai de fininho, engraçada..
Sabia que meu Khaled iria voltar logo...até fico emocionada!!
Aquete a piriquita, Cátia, mas essa Vanessa veio pra lascar mesmo!! Mas uma mudança é sempre boa. Corta o cabelo é sinônimo, um pouco radical pra alguns, de recomeço, mas ela tem q ir atrás do q é melhor!!
Budismo, grande mudança, ainda que existem muçulmanos que entendem o conceito, o q realmente importa, dividir n! Sigo umas psicólogas mulçumanas(psicoislam) e tem uma em especial, Amira, ela é psicóloga e neuropsicóloga- Ela usa um Hiyab. Tem uma campanha voltada pra mulher muculmana. que usa ou nao, em defesa do direito de livre escolha.Nasceu em funcao devido aos relatos sobre intolerância religiosa nas relacoes de emprego.Interessante! Isso pra quem vive em outros países..
Aqui tem alguns carros como esses que Zina alugou...
"No hay necesidad" é melhor!:)
Te contar algo, Zinara qndo tá no aperto, parte logo pra sedução...agora tá viciada nos vulcões, isso deve tá moda...
Excelente notícia sobre o trabalho de Clarice, esse projeto, vamos ver se anda pra frente, ninguém se importa em investir no que é importante pra conscientizar, add mais conhecimento, enfim! Acho q gostarei do final do Tao e tá mais tranquilo, mas leve...
A primeira parte foi difícil de ler, mts emoções juntas.Cheio de tropeços na busca pela felicidade, mas a força de vontade de Zinara,sua fé, experiências tão marcantes a guiaram, ajudou a superar os percausos, ela acreditou, mesmo nos momentos mais amargos e acreditou nos seres espirituais que sempre a acompanharam e o amor a despertou e curou o que faltava pra estar plena.
Lindos momentos juntas!!
Esse Elgenito(esqueci o nome), te contar...empregada ou n, é gente,n é menos e n são escravas pra fazer tudo, é como qualquer trabalho digno! Mas às pessoas aprendem o que ensinam, mas n é lindo vc chegar do trabalho cansada e alguém com mt amor te cuidar preparando sua comida, tendo td limpo e conversar pq tem mt pra dar tb ainda q mts menosprezam por falta de estudo, mas nemhuma sabedoria superar o.lado intectual. Quando morremos vemos quem somos realmente no nosso estado natural..a reencarnação no corpo material nos entorpece, vivemos outra realidade, existem tentações, os filhos são mal guiados e se perdem ou quem se acha melhor qndo morrem se assustam o que ver, quem são...
Ele voltou lá na casa pq n tem aonde ir, isso sim! E sendo traído ou n,é questão de ética e moral da pensão pelos filhos ,eles são pra sempre...
Vilma,Lula,deixou tanto ódio que n importa o partido, n querem saber . Outro pior pra governar,mas esse ninguém crítica seus roubos. O q o ódio faz....mas Lula tá solto, exista esperança.
Sabe, eu gosto de Manu d' ÀvIla. Me parece coerente até agora. Me cae bien!
Muito bonito o final, pude sentir uma energia linda.
Zinara tem razão, nos afastamos por tantos motivos e só aí se dá o devido valor, mas isso nos leva a crescer,limpar as dores qndo permitimos amar aceitando o outro e o que dói,sendo responsáveis pq ninguém é vítima. À vezes pelo amor nao dá certo sempre...
Antes a saudade dóia pra Zinara, agora a saudade é o amor mais lindo que fica!!
Beijos, cuidem- se,
com carinho,
Laila Dourado
PS: Desde a mirada de Zinara, talvez seja sinönimo, porém se é aquela alegria apenas por fora e por dentro nao modificou nada, é uma felicidade ilusória.
Resposta do autor:
Masaa Il-kheer, sadikii!
Lailinha, este foi dos seus comentários
mais belos e profundos! Adorei! Também
gostei muito da tradução que me enviou. Obrigada!
Bem, Zinara tem uma das características fortes do povo de
Cedro, que é a intensidade extremada em tudo que ama. E, no caso, ela gosta muito da intimidade com Clarice, está com saúde, então ninguém segura a caipira! kkk
Clarice é muito madura e compreensiva por um lado mas por outro é meio radical. Porém, elas sempre se acertam no final.
Cátia e Jamila são muito guerreiras e têm se permitido amar e ser mais humanas ao longo do tempo. As barreiras que usavam para se poupar do sofrimento estão sendo removidas.
Penha sofreu o que passa toda pessoa que é traída e desejou perdoar e voltar para o marido. Ela sabe que na maioria das vezes isso não vale a pena, mas confiou nas palavras e atitudes de Cid. E quanto à criança, de fato, é a parte mais inocente dessa história.
Creia que a felicidade de Zinara é real. Ela encontrou seu caminho.
Obrigada, novamente, pelo belíssimo comentário. E pela dica no castelhano.
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 17/04/2021
Solzinha!
Estranhei um pouco sim... Rsrsrsrs.... Mas deu pra entender bem!
Estamos bem e você? Como estão as velhinhas?
Ju é difícil viu? Mas vou falar com ela.
Beijos e se cuida!
Resposta do autor:
Bom dia!
Graças a Deus, todo mundo bem. No começo houve alguma rebeldia de velhinha quanto ao isolamento mas depois passou. Estamos todos bem, mas a COVID-19 já contaminou alguns parentes e muitos amigos. E alguns se foram.
Eu sei que temos um cotidiano puxado mas gostaria de ver a Ju de volta. Lembro que ela gostava do Tao...
Achei um trem doido você ter lido o último capítulo sem passar pelo penúltimo e ter entendido. Deve ter pensado: a caipira voltou, mas veio rateando... ô bicha doida! kkk
Beijão!
Sol
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Gabi2020
Em: 17/04/2021
Oi Sol!
Desculpe não tinha visto o capítulo anterior... Vou ler amanhã.
Beijos
Resposta do autor:
Olá Gabinha!
Que é isso, não se desculpe! Sem o capítulo anterior algumas coisas ficam estranhas no atual. Nem sei como você conseguiu acompanhar... rs
Espero que estejam todos bem por aí. Inclusive com a Ju. Diga a ela, por favor, que a danada prometeu voltar nos tempos de CONVIDE-0 e sumiu! :P
O Tao já está pronto. Estou apenas enrolando para postar e pensando ainda se mantenho ou mudo um trem.
Beijos!
Sol
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Gabi2020
Em: 17/04/2021
Olá Solzinha tudo bem? Vou repetir o que disse ontem, fiquei feliz demais quando ontem a noite recebi um e-mail com a atualização da história.
Vamos lá, meus comentários você está acostumanda né? São por tópicos:
- Eita que Zinara é de uma taradice que deixa a Clarice acabada... Kkkkkk... Essas caipiras da roça não dão moleza mesmo! Dúvida cruel, algum dia a Clarice vai descobir o que é bousa? Kkkkk...
- Fiquei com pena da Cidmara, achei radical demais a atitude da Penha.
- Ow Jamila cheia de problemas e ainda perdeu o pai... Puxa!
- Que triste relato de Khaylayla e Sara... Infelizmente sabemos que é uma realiadade a muitas mulheres.
- Adoro essa música da Katy Perry! Cecília toda perdida e accha que um médico pode ajudar, ô bichinha lesa!
- Ya Leda sempre rende ótimos diálogos... Kkkkkk... Língua pornô do Cedro, essa foi boa!
- Adoro a pureza do Hassan!
- Cátia... Cátia!
"Até em aeroporto essa bousa é requisitada! Kkkkkkk... Morri!
Ai ai ... Festa na roça é tudooooo, imagino as cores e sabores, pois a forma como você descreve é perfeita!
Parabéns pelo maravilhoso capítulo!
Beijos querida!
Resposta do autor:
Gabinha!!!
Zinara não é tarada; ela apenas aprecia seu amor sem moderação. kkkk
Clarice pensa que sabe o que é a bousa. Deixa ela pensar! :P
A situação de Penha era mesmo delicada. Natural que tenha reagido mal.
É a vida, Gabinha. As pessoas se vão... Assim como o drama das mulheres de Suryiah é uma realidade antiga e que parece nunca mudar. Só mesmo no planeta regenerado.
Ya Leda é uma velhinha terrível mas muito amável. Hassan é apenas amável. Bom menino.
Cátia sempre fica abalada com a fé que abunda! rs
E sim!! Festa na roça é tudo de bom.
Ei, Gabinha, dúvida: você leu o capítulo anterior?
Beijos,
Sol
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Mille
Em: 17/04/2021
Olá autora
Acho lindo a história e morro de rir da dona Leda.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá Mille!
Que bom que você gosta da história! Fico feliz que tenha vindo aqui me dizer. Isso é muito importante para nós que escrevemos: receber o retorno de vocês!
Ya Leda é uma graça. Também gosto muito dela! :P
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 14/06/2024 Autora da história
Esse veio repetido. Lettera, por favor, não apague!
Beijos,
Sol