Sétimo
Lana operou na próxima semana, tendo que ficar em casa nas primeiras semanas antes de começar a recuperação com a fisioterapia. Usou a cirurgia e a dor para se distrair do fim certo do relacionamento com Laura e Iori. Sem receber mais qualquer mensagem ou ligação de ambas, soube que não havia mais volta. Ficou triste a maior parte do tempo por sentir falta dos encontros e dos momentos que tiveram, das informações que compartilharam. Ficou com raiva, no entanto, da forma como teve que terminar, com raiva de Iori por ter iniciado a relação, e então acabado, quando começava a ficar sério. Teve raiva de Laura, por não ter feito nada sobre isso. Ao fim achou bom que tivessem terminado no começo, antes que tivesse se entregado demais, julgou que seria pior para superar.
Enquanto se recuperava, continuou alguns dos trabalhos na academia com o auxílio de uma professora que trabalhava há menos tempo na Infinity, mas que tinha melhor conhecimento do seu trabalho. Abriu mão dos trabalhos no final de semana, buscando passar mais tempo em casa, com Daph e Kristin, que continuava morando na nova casa sem falar sobre qualquer novo trabalho. Isso a ajudou com as tarefas de casa, ainda que desconfiasse das motivações da sua volta repentina.
—Você os deixou bem adiantados. — Alice comentou, inclinando a cabeça enquanto apertava a garrafinha de água, espirrando água dentro da boca. — Quase não tenho trabalho para fazer.
—Sim, eu os quis deixar bem preparados. A maioria das minhas turmas já tinham um longo trabalho ocorrendo. — Lana sorriu, recostando na parede e deixando a muleta de lado. — Mas você está indo bem.
—Lana! — Um dos alunos se aproximou dela junto de um grupo de outros alunos. — Você finalmente decidiu voltar? — Ele abriu os braços, e ela se deixou envolver por um instante.
—Não, estou somente visitando. Olá pessoal. — Ela sorriu para os demais, que também se revezaram em a abraçar. — Espero que não estejam dando trabalho para Alice.
—Trabalho algum! — Alice falou com empolgação. — Você tem turmas ótimas. É difícil eu ter qualquer problema com movimentação.
—É bom saber.
—Quando você vai voltar? — Uma aluna questionou.
—Eu não sei. Tenho um mês ainda de recuperação, como podem ver. — Ela indicou a muleta ao lado.
—Então não vai haver nenhuma demonstração hoje? — Outro aluno perguntou.
—Demonstração? De que tipo? Uma dança em dupla com minha muleta?
—Eu não duvido que você fosse capaz de fazer isso. — Alice riu ao lado.
—Viu? Faça algo hoje! Apenas para matarmos a saudade. — Uma aluna incentivou.
—Eu não acho uma boa ideia, mas eu garanto que quando voltar vou preparar algo para vocês. — Lana sorriu para eles. — Mas me deixa feliz por ver que não me esqueceram ainda. Então por que não me dão um bom show hoje? Mostrem o que evoluíram nesses dois meses.
—Vocês a ouviram! Vão trabalhar! — Alice apontou para o centro da grande sala espelhada. — Comecem os alongamentos. — Ela esperou até que todos se afastassem antes de se voltar para Lana. — Eles perguntavam de você todas as aulas.
—Eu devia ter aparecido antes, mas os chefes vetaram qualquer possibilidade de eu estar aqui por muito tempo. Você sabe. Então vou voltando devagar.
—Oh, falando sobre isso, olhe quem chegou. — Alice se virou, sorrindo quando viu Iori entrar na sala, que parou tão logo percebeu a presença de Lana ali. — Está atrasada.
—Desculpe. Estava distraída hoje. — Iori se aproximou devagar.
—Você está sempre distraída.
—Não estava nos meus planos, desculpa. — Ela olhou para Lana. — Olá. Estava me perguntando quando você iria aparecer por aqui.
—Estou vindo mais durante a semana, mas Alice quem tem feito tudo. Eu só estou supervisionando. — Lana falou de modo mais casual, ainda que sentisse um alivio que não gostaria por vê-la.
—Então ainda vai voltar as aulas de sábado? — Iori tentou não parecer esperançosa, mas Lana acabou sorrindo. — Se não for pedir muito.
—Oh? Achei que fosse pedir o contrário.
—Eu sinto falta das suas aulas. Ninguém dá aulas como você.
—Você sempre foi uma aluna aplicada, Sasaki. Não acho que seja um problema de adaptação.
—Você tem razão. Eu sinto sua falta. — Ela respirou fundo, sentindo como se um peso tivesse sido tirado de suas costas.
—Acho que estou sobrando aqui. — Alice voltou a falar, atraindo a atenção de volta a si. — Não se importem comigo, eu vou começar a aula.
—Droga... esqueci sobre ela. — Iori sorriu quando Alice se afastou, aproximando-se mais de Lana para poder falar mais baixo. — Podemos conversar?
—Você não vai participar? — Lana apontou para o grupo de alunos.
—Eu não estive fazendo muito aqui, e eu realmente quero falar com você.
—Agora?
—Você tem outra coisa para fazer?
—Agora, Sasaki? — Lana estreitou os olhos em sua direção. — Já se passaram dois meses, e você quer conversar agora?
—Eu continuo querendo você Lana. Nada mudou em relação a isso. Agora eu tenho certeza.
—E não tinha certeza há dois meses? — Ela estreitou mais os olhos, mantendo o tom baixo. — Alguma coisa mudou?
—Eu sinto sua falta cada dia mais, Lana. Isso dói. Por favor... vamos conversar. Em qualquer lugar.
Lana respirou fundo enquanto olhava profundamente em seus olhos cinzentos, para a súplica vibrante neles. Tocou seu rosto, movendo um dedo em sua bochecha, sentindo a súbita necessidade de a sentir perto outra vez. Mas se contentou em sentir seu cheiro, em sentir o calor de seu rosto e visualizar o sutil tom corado que pintava sua pele. Desejou que não tivesse acontecido nada e ainda compartilhassem a mesma relação, quis que não houvesse nenhum rompimento e que pudesse abraça-la sem receios. Mas sobretudo, quis não se sentir tão envolvida por ela da mesma forma que antes.
—Eu tenho que ir. — Foi o que conseguiu dizer ao afastar a mão.
—Lana-
—Eu tenho que ir antes que nunca mais consiga. E você deve ficar. — Ela segurou a muleta, apoiando-se nela. — Fique bem, Sasaki.
—Como eu poderia? Por favor, Lana, diga que não tenho mais nenhuma chance.
—Diga que eu tenho uma chance real com vocês duas. — Lana ergueu as sobrancelhas em expectativa, mas Iori não falou nada, e ela suspirou, sentindo-se derrotada. — Boa noite, Sasaki.
—Então é isso. — Alice se aproximou de Iori quando Lana já tinha saído, mas ela sequer se virou para a olhar. — Ela é o motivo que você nunca prestou atenção em minhas aulas.
—Não é nada pessoal.
—Não comigo. Mas se é assim, você devia mudar o dia e vir durante a semana.
—Eu trabalho durante a semana e costumo estar sempre viajando. — Iori suspirou, deixando a bolsa de ginástica no chão.
—Ela me falou sobre você. — Alice se moveu até estar a sua frente, atraindo sua atenção. — Disse que você é natural, que flutua por esse lugar e se esforça até o último minuto.
—Bem... ela está enganada.
—Ela está? Sim, você sempre está distraída e perde o tempo das coreografias. Mas eu vejo a paixão enquanto você dança.
—Talvez você esteja certa, mas isso era por causa de Lana. — Iori pegou a bolsa outra vez. — Achei que fosse conseguir continuar, mas estava enganada. Eu vou embora.
—Você devia ficar.
Iori somente balançou a cabeça, sem conseguir formular qualquer frase antes de seguir para a saída da sala, parando no meio do corredor entre as salas quando viu Lana perto das escadas, apoiada no corrimão e olhando para baixo. Aproximou-se lentamente, buscando entender o que estava acontecendo, mas só viu Leon conversando com uma mulher no balcão da recepção, logo ao fim da escadaria.
—Está tudo bem? — Resolveu perguntar.
—Sim, eu só estou evitando algumas... conversas. — Lana não se virou, mas a reconheceu pela voz.
—Isso eu percebi. — Iori sorriu, subindo uma mão em suas costas. — Quem é ela?
—Madson. — Falou com pesar.
—Oh, sua esposa. — Iori envolveu sua cintura, abraçando-a enquanto apoiava o queixo sobre seu ombro. — Ela é linda.
—Ex-esposa. Se ela tiver assinado os papéis. Devia ter imaginado que ela viria quando colocasse os olhos naqueles papéis.
—Então você decidiu tornar oficial.
—Tempo livre me fez tirar da lista várias coisas que precisava fazer.
—Então qual o problema? Ela não vai assinar os papéis?
—Oh, meu amor, você não faz ideia do que ela vai fazer para não assinar.
—Não superou o fim ainda? — Iori sorriu, aspirando o cheiro doce do perfume dela. — Eu não a culpo, você tende a tornar esse processo impossível.
—É por isso que está aqui? Já teve tempo de pensar em algo? — Lana se virou lentamente, desistindo de resistir aos seus toques e decidindo a encarar nos olhos mais uma vez.
—Vamos para casa. Laura está lá. Vamos pensar em algo, juntas.
—Sasaki...
—Nos dê mais uma chance. Não conseguimos mais nem dormir na mesma cama Lana. Não depois de você ter estado lá, não depois de você não estar mais nela.
—Oh... Eu... Eu não fazia ideia. — Lana inclinou a cabeça, sua mão livre tocando a cintura de Iori.
—Estamos miseráveis, Lana.
—Como você saberá se vai ficar melhor se eu for com você Iori? Você disse que não tolerava saber que tenho sentimentos por Laura.
—Nesse momento, é exatamente do que preciso. Não estamos mais da mesma forma. Laura e eu estamos brigando mais, e ela não dorme mais comigo. — Ela subiu as mãos em seu rosto, acariciando suas bochechas. — Faça ela sorrir de novo.
—E você?
—Só tem um jeito de descobrir isso. Vamos?
—Está bem. Mas ainda temos que passar por Madson para chegar lá. Pode se comportar enquanto isso?
—Por você? Eu posso.
Lana sorriu, aproximando-se e beijando sua bochecha. Virou-se mais decidida a descer a escada, apoiando uma mão no corrimão enquanto descia um degrau por vez. Iori seguiu ao seu lado acompanhando seu ritmo lento e segurando sua muleta, oferecendo apoio com seu corpo. Madson já estava de pé quando chegaram no último degrau, esperando até que Lana estivesse apoiada com a muleta.
—Achei que te encontraria aqui. — Falou com um sorriso amplo. — Faz muito tempo, querida. Posso te abraçar?
—Claro.
Madson a envolveu com cuidado, acariciando seus cabelos e suas costas, aproveitando o contato breve antes de se afastar.
—Como está indo sua recuperação? Espero que não esteja se esforçando demais.
—Eu? Não, estou de férias, só venho visitar Alice e saber como estão indo as coisas. Meu médico disse que também não é bom ficar parada. — Lana passou o braço sobre os ombros de Iori, acariciando seu braço. — Essa é Iori. Ela é uma das alunas, você ficaria impressionada com o que ela pode fazer.
—Você está sendo generosa demais. — Iori inclinou o rosto, sorrindo em sua direção. — Mas é bom conhecer a chefe disso tudo. — Ela se voltou a Madson, deixando a bolsa no chão antes de estender a mão para ela.
—O prazer é todo meu. — Madson apertou sua mão, acariciando quase imperceptivelmente antes de soltar, um sorriso amplo em seus lábios mais grossos.
—Oh, ela é encantadora. — Iori riu, envolvendo a cintura de Lana. — Você ocultou esse detalhe.
—Claro que ela ocultou, Lana adora ocultar as melhores partes. — Havia um sorriso malicioso quando Madson se voltou a Lana.
—Eu tenho que concordar. Mas ela sempre mostra o melhor no fim. — Iori acariciou as costas de Lana, que beijou sua têmpora.
—Eu não sabia que você estava na cidade, Madson. — Lana comentou. — Veio a negócios?
—Também. Temos assuntos a tratar. Cheguei ontem à noite, não quis te incomodar. Leon disse que você estava aqui hoje, então pensei que podíamos resolver as coisas hoje à noite.
—Você tem data para voltar?
—Não, ainda não.
—Então nós podemos marcar durante a semana. Estou ocupada esse final de semana. Pode ser?
—Claro, segunda?
—Sim, por mim tudo bem.
—Então eu ligo. Foi muito bom te rever. — Sorriu mais brevemente antes de olhar para Iori. — A você também. Espero te ver outra vez.
—Você certamente verá. — Iori piscou em sua direção. — Tenha uma boa noite.
—Igualmente.
Iori voltou a pegar a bolsa no chão e segurou a mão de Lana, guiando-a em direção ao estacionamento. Abriu o porta-malas primeiro e colocou a bolsa de ginástica, então parou em frente a Lana, que estava apoiada no carro, o olhar distante, pensativa.
—Uma moeda pelos seus pensamentos? — Indagou num sorriso.
—Desculpa, estava pensando em algo.
—Em Madson?
—A mulher que você estava quase levando no meu lugar? Não, não.
—Não posso acreditar que você deixou aqueles lábios para trás.
—Quer voltar lá e provar?
—Oh, isso é ciúmes? — Iori sorriu em surpresa.
—Há cinco minutos você estava me pedindo para ir para casa. No momento seguinte está cobiçando minha ex-mulher?
—Exato, você está assinando os papéis do divórcio com ela. Com quem está voltando para casa?
—Com você.
—Então não precisa se preocupar com nada.
—Não quer dizer que eu goste de saber que você continua procurando diversão.
—Eu não estou. Mas tudo bem, eu não farei mais essas brincadeiras com mulheres se não te faz feliz. — Ela tocou a mão de Lana na muleta. — Podemos ir agora?
—Sim, mas estava pensando em mudar o local.
—Você quer comer fora?
—Não. É desconfortável comer fora com minha perna assim.
—Onde você quer ir?
—Sei que torna a tarefa mais complicada, mas acho que não vou me sentir confortável para ter essa conversa em sua casa agora. Podemos ir para a minha? Kristin levou Daph para o cinema e vão assistir uma peça, então tenho a casa livre até mais tarde. O que acha?
—Oh... sua casa. Confesso que fiquei curiosa para conhecer.
—Você acha que Laura vai aceitar?
—Se você ligar para ela, sim, ela com certeza vai aceitar.
Lana aceitou, optando por sentar no banco de trás a fim de esticar a perna, não se demorando em ligar para o número de Laura tão logo Iori saiu do estacionamento. Ela demorou para atender, chegou a achar que ela simplesmente ignoraria a chamada, mas no último toque ela atendeu.
—Lana... — Ela respirou fundo, então prosseguiu em espanhol. — Achei que nunca mais me ligaria.
—Senti falta de ouvir sua voz. — Lana sorriu, recostando a cabeça no vidro, também falando em espanhol. — Como você está?
—Melhor em saber que não me odeia nesse momento.
—Eu não tenho como odiar você.
—Diga isso mais algumas vezes e eu vou começar a acreditar. — Elas riram por um momento. — Como você está? Como está depois da cirurgia?
—Sobrevivendo. Já não está tão ruim. Como vocês duas estão?
—Ah... você poderia pensar que após tudo estaríamos melhores resolvidas, mais estáveis. Mas acho que só nos fez piorar.
—Piorar?
—Eu não sei. Tínhamos planos concretos. Mas desde que abrimos mão de você, tem estado mais difícil nos recuperar. Não me entenda errado, eu amo Iori. Eu só sinto que perdemos alguma coisa no meio dessa separação. Nunca concordamos em relação a isso.
—Então você ainda acha que dá para chegar num acordo?
—Sobre nós? Eu queria que tivesse, sim, mas não consigo concordar numa solução com Iori.
—Ainda quer tentar?
—Sim, estou cansada e não vejo como, mas quero. Por que?
—Está usando o que agora, hottie?
—Roupas?
—Ótimo. Então coloque um casaco e sapatos e nos espere na porta.
—Nos espere? — Ela repetiu com confusão. — Está com Iori?
—Sim. Estamos indo te buscar em sua casa. Para conversar.
—Então ela finalmente te achou na academia. Está bem. Para onde vamos?
—Para a minha casa. Tudo bem para você?
—Claro. Espero vocês na entrada.
—Até logo hottie.
Desligou o telefone, guardando no bolso e inclinando a cabeça para olhar Iori, concentrada na direção.
—Laura só fala em espanhol quando vai na casa da mãe dela. — Iori comentou após algum tempo. — E agora com você.
—Bem... acho que não é simples encontrar bons falantes da língua natal dela.
—Não é isso. É como se fosse um laço entre vocês.
—E isso deve incomodar você.
—Laura é mais intensa do que você deve ter tido tempo de perceber. Durante a faculdade ela era conhecida por nunca parar em uma só cama.
—Até te conhecer?
—Não. Ela só veio mais vezes a minha cama porque eu não a tentei impedir de ir para outras.
—Oh, então é essa a história.
—O começo, sim. Laura sempre foi inquieta. Sempre queria mais do que podia segurar. Nos envolvemos aos poucos, e como dissemos, vivíamos brigando. Estabelecemos várias regras e concessões para que isso começasse a funcionar. — Ela suspirou, pressionando mais os dedos no volante, sentindo-se mais tensa. — Laura se importa muito com quem ela mantém próxima. Ela move as nuvens se for preciso. Então... se ela te aceitou ao lado dela, e continua mantendo sentimentos por você, por favor, Lana... não desperdice isso. Ela pode ter parecido resistente no começo em relação a você, mas... — Seus dedos ficaram brancos com a pressão no volante. — Ela se importa com você. Muito. Eu não vou pedir para não a magoar porque nós magoamos você, e seria injusto te pedir isso. Mas se continuarmos adiante, faça tudo para isso não acontecer, e você tem minha palavra que farei o mesmo para não te magoar de novo.
—Você está me dando dicas para estar ao lado de Laura. — Lana estreitou os olhos, pensando por alguns instantes. — Deve ser difícil para você estar fazendo isso, e eu aprecio seu gesto, significa muito para mim.
—Eu me preocupo com vocês duas. Mas conheço Laura por anos. Não quero desapontar nenhuma de vocês, não tem noção do quão difícil foram esses dois meses para nós também. Só... seja paciente.
—Não se preocupe com isso. — Lana se inclinou e tocou o rosto de Iori com os nós dos dedos. — Eu estou aqui, não estou? Só estou pedindo uma chance para tentarmos fazer isso funcionar.
—Eu sei, estou feliz por isso.
Iori chegou em sua casa alguns minutos depois, Laura estava trancando a porta da frente quando pararam o carro, e não se demorou em entrar no veículo, selando os lábios de Iori antes de se virar no banco, sorrindo ao ver Lana atrás.
—É bom te ver de novo, mi cariño.
—É sim, muito bom. Estão com fome?
—Um pouco. — Iori respondeu.
—Querem pedir uma pizza?
—Por que não? Já faz algum tempo que não pedimos nenhuma.
—Vocês têm alguma preferência?
—Marguerita? — Laura olhou para Iori, que concordou. — Que tal?
—Claro. Deem-me o celular, vou colocar o endereço de minha casa.
Lana colocou o endereço no GPS e ligou para uma das pizzarias que tinha em sua lista, fazendo o pedido enquanto Iori voltava a dirigir.
—Então... como isso acabou acontecendo? — Laura perguntou com curiosidade. — Como estamos aqui outra vez?
—Você acredita que Madson veio atrás dela? — Iori a olhou por um momento, erguendo as sobrancelhas. — Eu não podia correr o risco daquela bela boca e aquelas mãos delicadas roubarem Lana de nós. De novo.
—Madson? — Laura inclinou a cabeça, confusa. — O que ela veio fazer aqui?
—Me impedir de assinar o divórcio, suponho. — Lana balançou os ombros.
—Ela é tão irresistível assim, Iori?
—Ela é como uma modelo. Cabelo castanho, pele lisa, olhos de avelã. Eu me casaria com ela.
—Oh, por Deus. Pare de elogiar minha ex. — Lana reclamou com impaciência, revirando os olhos. — Sim, ela é maravilhosa, ou não teria ficado casada com ela por tanto tempo.
—De quanto tempo estamos falando? — Laura a olhou pelo espelho.
—De casamento? Seis anos. De namoro dois. Então sim, eu a conheço bem. Sei que vai tentar me fazer mudar de ideia. Ela nunca desistiu. Deve achar que esse ano que passou foi somente um tempo para pensarmos.
—Você não sentiu nada quando a viu hoje? — Iori perguntou em tom ameno, pressionando os dedos no volante. — Você pareceu bem abalada depois de um ano.
—É claro que senti. Eu convivi com ela no trabalho e em casa. Não é algo que você apague o significado tão fácil. — Ela suspirou, fechando os olhos. — Mas estou aqui por algum motivo, não acha? Você a viu, Sasaki, quase pulou no pescoço dela. Mas eu escolhi te ouvir. Escolhi vir com vocês. Então pare de procurar falhas por causa do meu passado, não pense que não sei o que está fazendo.
—Desculpa. Mas você não me parece ser do tipo que casaria com qualquer pessoa.
—Madson não é qualquer pessoa. Você vai acabar descobrindo isso se continua tendo aulas na academia.
—Devíamos parar de perguntar sobre a ex. — Laura falou lentamente, apoiando a cabeça no punho que repousava no vidro da porta, inclinando o rosto para olhar Iori. — Não estamos em posição de questionar esse tipo de coisa agora.
—Obrigada. Vocês realmente não deviam estar em posição de desconfiar de mim agora. Especialmente você, Iori. — Lana pontuou ainda com calma, mirando a janela do outro lado, para as pessoas na calçada e os comércios que passavam. — Você me pediu para estar aqui.
—Está bem. — Iori ainda mantinha os dedos pressionados no volante e a atenção na pista.
—Lana também não me parece do tipo que se envolve com qualquer pessoa, mas ela aceitou se envolver conosco desde o começo. — Laura falou após alguns instantes, percebendo o estranho clima tenso entre ambas. — Vamos tentar nos concentrar só nisso, querida. Já temos muito o que discutir essa noite, não vamos começar pelo ponto fora da lista.
—Está bem. Eu só estou um pouco nervosa com isso. Desculpa se estou falando besteira.
—Sasaki, não há qualquer motivo para estar nervosa. Qual é... — Lana inclinou a cabeça para a olhar na sua direção. — Você não estava nem um pouco nervosa na academia. Eu deveria pular em seu colo no volante para você relaxar?
—E causar um acidente? — Laura riu. — Não, não. Cada uma em seu assento.
Iori acabou rindo por um momento, relaxando no volante, concentrando-se no caminho que o GPS mostrava. Quando chegaram no endereço de Lana, se depararam com uma casa de dois andares, bem conservada e com aspecto moderno. Lana as conduziu pelo caminho na grama, e antes de entrarem na casa, a pizza que tinham encomendado chegou. Iori levou a caixa para dentro, Lana pagou o entregador e conduziu Laura para a sala, deixando que ambas olhassem ao redor enquanto buscava por pratos na cozinha.
—Você tem um belo lugar. — Laura comentou, andando pela sala lentamente.
—Devo colocar a pizza onde, Lana? — Iori questionou.
—Você pode colocar na mesa da sala, se não se importarem de sentar no chão. Tem várias almofadas. Para minha perna é melhor, na verdade. — Lana respondeu, colocando os pratos sobre o balcão.
—Não tem problema. Querida, vá ajuda-la.
—Vocês querem algo para beber? Água, suco, cerveja? — Ela sorriu quando Laura parou ao seu lado. — Saquê?
—Saquê! É claro que sim! — Iori se animou enquanto abria a caixa sobre o centro da mesinha.
—Que traição. — Laura falou num sorriso de lado. — Eu vou aceitar a água.
—Está bem. Então eu já te alcanço.
Laura levou os pratos enquanto Lana se equilibrava entre os copos e a muleta, Iori a ajudou a sentar, espalhando as almofadas pelo chão ao redor da mesinha de centro. O casal se sentou ao lado dela, sem hesitarem em começarem a se servir.
—É realmente um lugar confortável. — Laura comentou, olhando a mobília ao redor. — Foi sua escolha?
—Sim, dessa vez é. Eu queria algo mais duradouro. Essa casa se provou bastante confortável. Eu faria um tour pelo andar de cima, mas estou evitando. Mas tem um quarto com uma varanda incrível que será meu tão logo eu puder subir as escadas.
—Você está dormindo no sofá? — Iori perguntou ao seu lado.
—Não. Tem um cômodo que fiz de quarto, era uma biblioteca. Tinha bastante espaço. — Ela pausou para comer mais um pedaço da pizza. — Se tornou bem mais prático.
—Sua perna ainda demora para recuperar? — Laura olhou para a perna que ela mantinha esticada sobre uma almofada.
—Não. Talvez um mês. Mas eu já consigo apoiar no chão, então levarei menos tempo. Não vejo a hora de voltar a dar aula.
—Eu posso dizer o mesmo. — Iori tocou seu joelho, dobrado ao seu lado.
—Eu não sei se voltarei a dar aulas aos finais de semana. Leon disse que Alice está sendo bem aceita pelas turmas. Então talvez eu mude meus horários.
—Isso é mal. Como conseguirei ter aulas com você agora?
—Você faz mesmo questão? Eu sei o que Alice falou, mas não significa que você não possa se adaptar a ela.
—O que Alice falou? — Laura olhou entre ambas.
—Que eu sou distraída e perco o tempo das coisas. — Iori revirou os olhos. — Mas isso é só porque ela não consegue manter minha atenção como Lana sempre fez.
—Sim, porque você tem interesse em outras coisas. — Laura sorriu quando Iori a olhou ofendida. — O que? Você sabe que é verdade.
—Eu tenho que concordar. — Lana também sorriu. — Você não tenta impressionar Alice da mesma forma que tentava chamar minha atenção, não é?
—Claro que não. — Iori mordeu o interior das bochechas. — Digo... Sim, eu queria sua atenção, mas não significa que você não desse aulas mais envolventes que Alice.
—Bem... agradeço o cumprimento pelo meu trabalho. Se você realmente quer minhas aulas, eu posso pensar em alguma coisa para você, está bem?
—Eu iria adorar.
—É bom estar jantando com vocês outra vez. — Laura olhou entre elas, apoiando o braço no assento do sofá, a cabeça se inclinando até a mão. — Nesse clima casual.
—Então vamos aproveitar o jantar e deixar os assuntos complicados para depois. — Lana sugeriu. — Também senti falta desses momentos com vocês.
—Então estamos de acordo. — Iori acariciou a perna de Lana, então se apoiou no corpo de Laura.
Fim do capítulo
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