CAPÍTULO 24 O PORTÃO
— Olha o machão defendendo a vagabunda da mãe. Vagabunda, sim! Onde já se viu uma mulher casada, velha, com uma penca de filhos, que sempre gostou de pau, sim, ela gostava. De repente ficar se esfregando com outra mulher, não passa de uma vagabunda!
— Isso tudo é despeito... Minha mãe é linda, gostosa e está maravilhosa, e o mais importante, botou um par de chifres no senhor! Me diga, Seu Alberto, você perdeu para uma mulher, vai ganhar de quem? — Mesmo insultando com palavras o pai, sua vontade era de acertar um murro.
— Você é um filho da puta! Todos vocês são! Ela vai voltar para mim e quando isso acontecer, eu desapareço no mundo e vocês nunca mais vão ver a mãezinha querida de vocês. Antes, porém, eu vou comer bem gostosa aquela macho-fêmea, as duas, mãe e filha! Vou fazer um estrago tão grande que depois elas não vão servir nem para ser comida de cachorro, quanto mais dar prazer a quem quer que se... Marcelo não deu chance de o pai continuar com os insultos, o primeiro soco acertou na boca, o que fez ele cambalear. Antes de cair recebeu outro, dessa vez no olho, sendo empurrado pela força até a porta lateral do carro e recebeu mais um no estômago, o fazendo se curvar de dor e o sangue sair pela boca e nariz. Foi seu erro, na hora que se curvou Marcelo desferiu outro murro vindo de baixo para cima, o que o faz bater novamente a cabeça na lateral do carro. Quando ia dar o golpe de misericórdia, alguém segura em seu braço.
— Não! Chega meu filho, vamos embora daqui. — Marcelo desferiu ainda mais um tapa no meio da cara do velho pai. Estava cansado e nervoso, fez um esforço descomunal para controlar a respiração.
— Tia Luíza, o que a senhora faz aqui sozinha? Onde está minha mãe? Não é seguro vocês andarem sozinhas por aí. — Falou mais calmo.
— Ela já está em casa, mas esqueceu a bolsa dela e eu vim pegar. Vim de moto, de longe eu vi você e ele discutindo, fiquei presa no sinal. Ainda bem que não tinha ninguém, nessas horas as ruas são desertas e o vigia lá do buffet não consegue ver esse lado da rua.
— A senhora não imagina o que esse homem planeja fazer com a senhora, Bia e mamãe. As coisas que ele disse de vocês. — Confidenciou cansado.
— Ele já disse para mim e para a sua mãe, mas você não pode estragar sua vida. Se te pegam, você será preso por agressão e sua mãe vai sofrer para caralh* por causa de um merd* desses. Vem, vamos colocar ele no carro, chamar a ambulância e d0ar no pé.
Vai logo e eu vou depois. Com cuidado levaram Alberto, que estava num estado lastimável, o sentaram na cadeira do motorista, passaram o cinto de segurança e fecharam a porta. Antes, porém, Marcelo tirou todos os documentos do pai e do carro, preferiu ficar com eles.
— Agora vá... Eu vou lá no buffet, quando sair eu chamo o segurança para ser testemunha e chamar a ambulância. Luíza entrou no buffet, cumprimentando o vigia que estava sentado assistindo uma partida de clássico: Fortaleza vs. Ceará, a TV no último volume, que fez ela agradecer mentalmente.
— Boa tarde, senhor. Minha mulher esqueceu a carteira dela na mesa reservada à família dela e eu vim buscar.
— Como é o nome da família?
— Família Albuquerque-Linhares.
Aguardou o homem olhar na relação apressado para voltar ao jogo, enfim ele liberou.
— Pode entrar, qualquer coisa é só avisar.
— Quem tá ganhando? — Não tinha muito interesse em jogo, mas precisava chamar atenção do homem.
— Meu Fortaleza, tá matando a pau a carniça do Ceará. A senhora é Fortaleza?
— De corpo e alma. — Mentiu. — Senta aí, vamos ver a partida, já está terminando.
— Vou pegar a carteira e já volto. — Saiu apressada. A carteira de Fabiana estava bem à mostra na primeira mesa, pegou e guardou no bolso da calça. Decidiu que, antes de voltar, seria melhor ligar para casa:
— Amor, eu já estou no buffet.
— Achou minha carteira? — A voz na outra linha interrogou.
— Sim, já está comigo. Estou ligando para avisar que vou demorar um pouco, teve um acidente duas ruas depois daqui e as ruas estão fechadas. Como aqui é uma rua secundária, vou demorar a sair.
— Tente não demorar muito, se não fica de noite e não é bom estar sozinha com aquele louco por aí, aliás, eu nem devia ter deixado você ir só.
— Desabafou, Fabiana estava preocupada, pois Alberto não era de confiança.
— Não fique preocupada, se eu demorar é por causa do trânsito. Despediu-se e foi terminar o seu plano, queria descobrir se nas redondezas existia alguma câmera que tivesse filmado Marcelo surrando o traste à vontade. Queria era deixar a praga ruim morrer, mas era melhor livrar o enteado de qualquer suspeita.
— Então, quem tá ganhando? — Perguntou novamente ao vigia quando retornou.
— Claro que é o meu timão. Senta, dona, ali na garrafa tem café e ali tem cerveja. Eu vou beber só umas duas, hoje tem festa e muito trabalho. Luíza se sentou e aguardou o jogo terminar, o que não demorou mais do que cinco minutos.
— Assine aqui, dona. Constando que a senhora pegou a carteira, aqui está sua identidade.
— Ainda bem que vocês têm essa segurança toda, nos dias de hoje tem cada louco solto. — Ela falou despreocupadamente para quem ouvia.
— Que nada, madame. É que tem um sujeito aí querendo alguma coisa com uma das mães que vem hoje para a festa, então a segurança foi redobrada. Não entra ninguém que não passe pela vistoria.
— Isso é muito bom e lá fora tem algum policial de plantão? ou câmera para filmar os penetras?
— Infelizmente não, senhora. A polícia só vai chegar às sete da noite e só aqui dentro que tem câmera, mas lá fora vai ficar dois policiais.
— Obrigada mais uma vez, eu já estou indo, mais tarde a gente se encontra aqui. Meus enteados estão se formando e virão para festa. — Apertou a mão do vigia que sorria com a atenção recebida. Demorou dez minutos, no máximo. Lá fora olhou para o carro e Alberto continuava na mesma posição em que foi deixado, será que ele estava morto? Voltou a bater no portão, o vigia abriu e a reconheceu, logo foi sorrindo em cumprimento.
— A senhora esqueceu a carteira de novo?
— Não... — Fingiu certo nervosismo. — Tem um homem acidentado ali na frente, a coisa está bem feia e ele está desacordado! O vigia rapidamente saiu e foram para o carro, ele abriu a porta que estava só encostada e tateou em toda a camisa de Alberto procurando um documento. Procurou no porta-luvas, nos bancos, nos bolsos da calça. Examinou o pulso, sentiu a respiração e concluiu: — Bom, morto ele não está. Não tem documentos, está com cheiro de bebida, muito machucado... Acho que ele se meteu em briga e levou a pior, ou estava com alguma mulher e ela fez a limpeza e deu uma surra nele.
— Não tem uma câmera que possa ter filmado isso? - precisava ter a certeza que nada tinha sido gravado ou filmado.
— Tem não, dona. Isso é um bairro calmo, nunca acontece nada. Vá para casa que eu me encarreguei de chamar o socorro. Até mais ver.
Luíza subiu na moto, conectou os fones de ouvido, rolou o dedo na playlist escolhendo a música, colocou o capacete e deu a partida na moto com um sorriso estampado no rosto. Acelerou a moto e partiu cantando "La vie en Rose", uma das músicas que mais gostava quando morava na França.
[....]
Marcelo foi direto para o sítio, já tinha um plano traçado, seu único receio era o tal investigador estar por perto, mas segundo o delegado ele deveria estar seguindo seu pai, entretanto não havia o visto no buffet então talvez estivesse por ali. Estacionou o carro no meio de uma vegetação densa encobrindo tudo, tirou novamente os sapatos e encaminhou só de meias, sempre por cima da vegetação rasteira, abriu o portão com a chave. Uma vez dentro, olhou tudo e voltou para o carro pegando quatro bifes que colocou na frente de cada jaula; os cães só faltavam derrubar o portão. Saiu devagar, quando estava do lado de fora acionou o botão e as portas das jaulas foram abertas automaticamente e, quando correram em sua direção com cara de poucos amigos e um olhar de quem vai estraçalhar qualquer um, Marcelo trancou o portão.
Fim do capítulo
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 04/04/2021
Olá, tudo bem?
Sou contra violência, em qualquer nível ou por qualquer motivo, mas — ainda bem que sempre tem um 'mas' — o coisa ruim do Alberto apanhou pouco. Marcelo devia ter dado mais 'porrada'.
Enfim, torcendo para que os tormentos terminem por aqui e as 'mocinhas' e 'mocinhos' da história tenham um final a contendo.
É isso!
Post Scriptum:
''A perseverança é mais eficaz do que a violência, e muitas coisas que, quando reunidas, são invencíveis, cedem a quem as enfrenta um pouco de cada vez. ''
Plutarco,
Historiador, Biógrafo, Ensaísta e Filósofo Médio Platônico Grego.
Resposta do autor:
muitas vezes os filhos crescem vendo a mae sendo maltratada na primeira oportunidade, ele parte para cima do agressor.
existe milhoes de Albertos por ai, ainda impune.
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