Quarto
—Sigam os passos, vocês conseguem, só mais uma vez. — Lana instruiu as crianças, andando pela sala para observá-los de perto. — Continuem. Noah, concentre-se. Mary, repete o último passo, mas levante mais a perna.
—E se eu cair? — Mary questionou, parando o movimento.
—Então você vai levantar e continuar até conseguir. Sei que consegue, Mary. Vamos tentar com a música agora, o que acham? — Ela pegou o celular, conectando as caixas de som enquanto eles ecoavam concordância. — Ótimo, então do começo. Agora. — Ela pressionou o iniciar quando viu todos na posição inicial, vendo-os se moverem enquanto voltava a outra parte da sala. — Estão indo bem, continuem. Peter, continue, não há preguiça aqui.
—Estou cansado, professora. — Ele protestou.
—Aguente mais um pouco. Tenho certeza de que seus pais ficarão orgulhosos quando você conseguir ir até o fim. — Ele voltou a acompanhar a dança, ela sorriu em contentamento. — É seu momento Mary, estique a perna!
Mary o fez, mas acabou caindo. Lana se aproximou da sua posição e se abaixou, checando se havia algum machucado.
—Dói em algum lugar?
—Não. Estou bem. Posso continuar.
—Por que? Você pode descansar.
—Eu... — Ela olhou os demais, que tinham parado para saber se estava bem. — Eu também quero deixar meu pai orgulhoso. Quero conseguir fazer esse passo.
—Então vamos trabalhar nisso. — Lana sorriu, acariciando seu rosto antes de a ajudar a levantar. — Você precisa colocar menos força ao levantar a perna. Mantém o equilíbrio no corpo. — Falou enquanto se movimentava, mostrando como ela devia fazer, erguendo a própria perna com mais suavidade. — Vê? Mantenha o abdômen contraído e a coluna reta. Agora tente de novo.
Mary voltou a se mover, imitando os passos de Lana até conseguir finalizar sem cair, as demais crianças buscando fazer da mesma forma.
—Muito bem Mary. Você conseguiu.
—Consegui! — Ela comemorou, orgulhosa de si mesma.
—Vê? Como seu pai não teria orgulho de você agora? Vamos mais uma vez?
Todos voltaram a concordar, cansados, mas animados o suficiente para tentar de novo. Dessa vez ela se afastou para assistir, parando ao lado de Laura, que estava entretida a assistir.
—Você faz isso tão bem. — Laura falou, um sorriso brincando em seus lábios enquanto assistia. — É como um maestro e sua orquestra. Me dá vontade de voltar todo domingo só para assistir.
—Se vier eu te coloco para trabalhar junto comigo. — Lana falou em tom de brincadeira, sem desviar os olhos das crianças.
—Eu iria adorar. Elas são adoráveis.
—Você realmente gosta de crianças. É bom ver isso.
—Eu só estou imaginando algo assim acontecendo no hospital. Fará tão bem às crianças.
—Eu posso imaginar. Eu tento fazer o mesmo no orfanato, mas é difícil fazer os chefes aceitarem. Estou feliz que aceitaram o projeto no hospital.
—Eu também. Fazia tempo que queria algo diferente lá, e você me deu a ideia incrível.
—Oh pare com isso. Você está me deixando sem jeito. — Lana a olhou com um sorriso mais genuíno, as bochechas coradas sutilmente.
—E você fica linda assim mesmo.
Lana segurou sua mão para oferecer uma carícia, mas acabou tendo os dedos entrelaçados, algo que não a incomodou. Quando a música terminou, ambas trabalharam em organizar as crianças para comerem o próprio lanche e esperaram os pais virem buscar até não restar mais nenhuma.
—Pronta para a parte chata? — Lana perguntou enquanto a conduzia para o escritório de Leon no andar inferior. — Discutir os detalhes mais sórdidos do que será feito no hospital.
—Sim, ao menos para vocês terem o que apresentar na diretoria do hospital.
—É bom que esteja ajudando nessa parte.
—Qualquer coisa para que dê certo.
Lana abriu a porta do escritório de Leon e deixou que ela entrasse primeiro, fechando a porta antes de a seguir.
—Olha quem apareceu! — Leon se levantou da cadeira e contornou a mesa para recebe-las, estendendo a mão. — Bem-vinda aos negócios, srta. García.
—Ah, por favor, me chame de Laura. — Ela apertou sua mão. — Sem necessidade de ser formal.
—Claro, gosto disso.
—Vamos ao ponto, então, eu tenho pouco tempo.
—Sentem-se, então. Sei que Lana também tem o que fazer de tarde.
Todos se sentaram ao redor da mesa quadrada do escritório, Leon estendeu um papel com suas anotações para demonstrar suas sugestões do que consistiria as atividades no hospital com as crianças. Em contrapartida, Laura apontou os motivos que não dariam certo suas ideias, mas sugeriu novas que foram mais aceitas. Lana tratou de anotar o que ficaria decidido, buscando demonstrar o que pensava que daria certo devido ao ambiente e as condições dos pacientes.
—Agora eu só tenho que enviar isso a Mad, então ela fará o contrato com o advogado, mas acho que ainda essa semana já teremos algo concreto para enviar ao hospital. — Leon alegou, olhando para os papéis em mãos.
—Então você pode me levar no hospital. — Laura olhou para Lana ao seu lado, tocando sua mão debaixo da mesa.
—Claro, estive querendo saber como é realmente o lugar. — Lana acariciou sua mão, movendo os dedos em sua pele.
—Então você realmente faz questão que seja Lana. — Leon olhou entre ambas com curiosidade.
—Sim, eu faço. Ela quem começou tudo isso, nada mais justo que ela veja e faça isso acontecer na prática. Se não houver nenhum problema com isso, é claro. — Laura olhou para Leon, observando a forma como ele olhava entre elas.
—Para mim nenhum, mas tenho que ser sincero. Você está com a agenda cheia, Lana, e você tem que diminuir o ritmo se está com a cirurgia praticamente marcada. Já estou buscando outra pessoa para ajudar aqui.
—Eu gosto de trabalhar, Leon, mantém minha cabeça funcionando, meu corpo aquecido. — Lana sorriu, recostando na cadeira. — Se me fizer parar eu enferrujo e me aposento.
—Não seja dramática. Eu vejo sua cara todos os dias, e você trabalha mais que eu. Temos outros funcionários para não sobrecarregar ninguém. Se você quer levar esse projeto adiante, vai ter que abrir mão de alguma turma.
—Eu acabei de terminar o contrato com a equipe do musical. Posso simplesmente encaixar no lugar.
—Vê onde está se met*ndo, Laura? Ela é impossível e teimosa. — Leon olhou para Laura em busca de ajuda. — Convença-a a parar com esse ritmo louco.
—Não use Laura para isso. Eu vou diminuir o ritmo quando operar.
—Quando operar você não coloca os pés aqui. Você está louca? O que acha que faria com uma perna que não pode ser apoiada no chão?
—Todas as minhas turmas tem algo em andamento, eu não posso simplesmente parar.
—Eu vou adorar ver você tentando dar aulas de cadeira de rodas.
—Muletas.
—Suas aulas são no andar de cima, explique como fará isso.
—Pulando os degraus, é claro.
—Lana. — Laura chamou sua atenção em um tom mais firme, acariciando seus dedos debaixo da mesa. — Você quer melhorar?
—Claro que eu quero, por isso essa última cirurgia.
—E como fará isso enquanto continua trabalhando depois da cirurgia?
—Laura-
—Apenas me explique, eu só quero entender como você imagina isso acontecendo.
—Podemos mudar as minhas aulas para o andar debaixo. — Ela olhou para Leon, que ainda contrariado, moveu a cabeça para concordar. — Você ainda pode contratar mais uma pessoa, mas como minha auxiliar. Assim ela pode auxiliar os alunos de maneira mais direta sob minha supervisão.
—Eu posso fazer isso, mas eu não vou manter todas as suas turmas. — Ele ergueu a mão para impedir que ela protestasse. — Seu corpo precisa de descanso, Lana. Sua perna vai estar doendo, você vai estar sob efeito de remédios. Você não estará em condições de manter a sua atual carga de trabalho.
—E se eu conseguir?
—Oh, Deus. Qualquer pessoa no seu lugar aproveitaria as férias para ficar em casa e descansar. Qual é, Lana, eu quase não acreditei quando vi que estava saindo para um encontro ontem. — Leon ergueu as sobrancelhas, olhando entre ambas outra vez. — Ou eu estava alucinando?
—Não, isso era verdade. — Lana olhou para Laura, que moveu a cabeça para concordar, erguendo suas mãos unidas para confirmar o que ela dizia. — Estamos saindo.
—Então aproveita isso, ao menos. Com sua atual carga de trabalho, acha mesmo que conseguiria manter uma relação?
—Oh, e você quer que eu faça o que, Leon? Até onde sei pessoas normais trabalham durante o dia.
—Trabalham em horários normais, você abre a academia e fica até fechar. Todos os dias. Onde vai encontrar disposição para manter um caso?
—Pare de usar meu encontro como argumento. — Pediu com impaciência.
—Você não vai mudar de ideia sobre isso, vai?
—Não, não vou.
—Está bem, então já que não consigo resolver isso com você, vou tentar entrar em algum acordo com Madson.
—Você não pode fazer isso. Claro que ela vai concordar com você.
—Então ela vai ser a pessoa mais coerente entre nós dois, não acha?
—Quem é Madson? — Laura perguntou lentamente, confusa com o abrupto irritamento de Lana, que soltou sua mão e se levantou, derrubando a própria cadeira.
—Minha sócia. — Leon respondeu com cautela, voltando a olhar para Lana.
—Minha ex. — Lana pontuou sem a olhar, então apontou o dedo para Leon, inclinada sobre a mesa. — Você só está fazendo isso para eu ceder porque sabe que eu não quero o envolvimento dela nisso.
—E deu certo?
—Por Deus, faça isso. Mas não me considere mais sua funcionária.
—Ei, do que está falando? Enlouqueceu?
—Eu me demito, Leon. Chega com essas drogas de toda vez envolver Madson quando você já decidiu as coisas.
—Lana, é melhor deixar essa discussão para outro dia. — Laura se levantou, baixando seu braço e a afastando lentamente da mesa, colocando-se à sua frente. — Já é o suficiente para um dia, não acha?
—Laura, você não está concordando com ele, está?
—Eu não estou concordando com nada, eu só quero que se acalme e não tome nenhuma decisão dessa forma. Você pode fazer isso?
—Laura... — Ela ainda abriu a boca para protestar, mas mordeu o lábio inferior quando ela ergueu as sobrancelhas, seus olhos em súplica para que cedesse.
—Estou te pedindo, mi cariño. — Falou mais baixo, em espanhol. — Eu te levo daqui, só me diga para onde.
—Está bem. — Lana suspirou, mas buscou por sua mão. — Você tem razão.
—Eu gostaria de saber espanhol agora. — Leon reclamou detrás da mesa.
—Não arrisque sua sorte. — Lana o encarou enquanto Laura se movia, saindo da sua frente, mas a conduzindo em direção a porta. — Nos falamos na terça.
—Claro. — Leon suspirou, mas não fez menção de se levantar. — Até lá.
Laura a levou para fora do escritório, seguindo em direção ao estacionamento sem receber qualquer resistência. Parou ao lado da sua moto, pegando o capacete reserva e se virando para Lana, que se aproximou e a abraçou sem dizer nada, envolvendo sua cintura e escondendo o rosto em seus cabelos. Laura somente a envolveu, acariciando seus cabelos, sentindo sua respiração no pescoço.
—Desculpa por te fazer presenciar aquilo. — Lana falou contra a sua pele. — Leon é um idiota, tenho certeza que ele começou com aquela conversa de novo achando que com você ali-
—Eu te faria mudar de ideia. — Completou. — E funcionou?
—Você quer que eu pare de trabalhar? — Lana inclinou a cabeça para poder olhar em seus olhos.
—Eu quero que você melhore. Você me contou que o primeiro acidente te impediu de seguir a carreira que sonhava em ter. O segundo acidente te impediu de planejar ter uma casa que você realmente queria. Você sabe que as chances aumentam de você prolongar sua recuperação se movimentando além do necessário. — Ela acariciou seu rosto, estreitando os olhos por um momento. — Por que se arriscar assim?
—Você tem razão, o primeiro acidente me impediu de seguir a carreira do jeito que sempre sonhei. Mas isso e o fato de ter que cuidar de Daph só tornou minha carreira mais complicada.
—Eu posso imaginar que deve ter sido difícil para você.
—Ainda é. Sei que não tenho o mesmo rendimento que outros professores simplesmente por causa da minha perna não aguentar tanto trabalho. Então sim, eu trabalho muito, mas porque sei que se não fizer isso, alguém vai tomar meu lugar.
—Você acha que eles não gostam do seu trabalho?
—Eu não sei. E se só continuam me mantendo porque minha chefe era minha esposa?
—Eu não sou a melhor pessoa para julgar seu trabalho, mas Leon disse você sempre é a primeira a chegar, e eu sei que é sempre a última a sair porque você é a única que eu encontro quando venho buscar Iori. Posso concluir que você trabalha duro, Lana, e eu não acredito que sua ex não valorize seu trabalho. Afinal, por que te manter no trabalho se não estão mais juntas?
—Eu não sei...
—Você devia valorizar melhor seu trabalho, mi cariño. Eu só te vejo se esforçar e fazer seus alunos darem o melhor de si. Digo... olhe para Iori. Ela sempre inventa de fazer alguma coisa por alguns meses até que se cansa. As vezes dura semanas. Mas você sempre conseguiu fazer com que ela ficasse uma semana a mais, ela esteve mais animada, mais disposta, e isso é graças a você.
—Eu não sei se isso foi por causa do meu trabalho. — Lana sorriu.
—Iori não gastaria dinheiro por causa de uma mulher. Ela gosta do seu trabalho, e tenho certeza que seus alunos também. Ou teriam trocado de professor, não acha?
—Você tem razão. Estou sendo uma idiota.
—Não estou pedindo para que deixe de trabalhar, mas pense melhor na sua recuperação.
—Eu irei. É só ruim pensar que vou operar logo agora que conheci você.
—Isso não muda nada. Ou acha que vou te deixar sozinha? — Laura se inclinou e beijou sua bochecha. — Onde devo te levar?
—Para casa, você deve estar atrasada para encontrar sua mãe.
—Talvez, mas é por uma boa causa. Deixe-me colocar o seu capacete, então é só você guiar o caminho.
—Claro. Eu sempre quis saber como é andar numa moto.
Lana aceitou a ajuda e não hesitou em montar na moto enquanto Laura dava partida, abraçando-se ao seu corpo e aproveitando a sensação quando saíram na rua. Sorriu quando o vento gelado atingiu seu corpo, fazendo sua blusa flutuar atrás de si. Laura aproveitou o contato oferecido, sentindo os dedos de Lana pressionados em seu abdômen, as vezes deslizando numa caricia. Sua voz deslizava pelo vento perto do seu ouvido para lhe dizer onde devia ir até chegarem num prédio alto e quadrado, onde ela parou a moto no meio fio.
Lana desceu primeiro, animada com a adrenalina que sentiu subir pelo seu corpo por ter sentido tão de perto os outros veículos pelos quais passaram. Laura retirou o capacete e a ajudou a tirar, guardando o reserva e pendurando o outro no guia, apoiando-se na moto enquanto observava a vizinhança ao redor.
—Gostou da primeira volta de moto? — Perguntou a ela, ouvindo seu riso contente antes de responder.
—Se gostei? Oh, eu não queria que acabasse. Estava morrendo de medo de cair, mas então você estava ali, firme, e eu só aproveitei.
—Se tivesse mais tempo te levaria para outro lugar. Mas teremos outra oportunidade.
—Claro que sim. Agora você sabe onde moro. — Ela se virou, indicando o prédio.
—Qual andar?
—Décimo quinto. Porta 157. Pelo menos por enquanto. Kristin e Daph querem um lugar maior, então amanhã vou começar a procurar por uma casa.
—Se precisar, tenho uma amiga que é corretora de imóveis. Ela quem me ajudou a achar aquela casa com Iori.
—Oh, isso é bom, eu definitivamente vou precisar de alguém assim.
—Ótimo, eu vou te passar o contato dela, me dê um segundo. — Laura pegou o celular, buscando pelo contato na agenda. — Ela também foi uma antiga namorada minha, Iori a odeia.
—Oh? E por que? — Lana a olhou com curiosidade. — Não consigo imaginar Iori odiando ninguém.
—Iori tem uma lista exagerada de pessoas que ela não voltaria a falar nem que precisasse.
—Suas ex estão nela?
—Provavelmente. Tiffany é uma delas. Mas Tiff também fez por merecer. Ela tentou reviver as antigas liberdades enquanto mostrava uma das casas, Iori quando soube moveu montanhas para fazer a garota perder o emprego.
—E conseguiu? — Perguntou com surpresa.
—Tiffany a procurou para pedir desculpa, implorar para ela parar, eu não sei ao certo, Iori nunca quis me dizer o que aconteceu e eu achei melhor não insistir. Na semana seguinte Tiffany nos mostrou aquela casa, e estamos nela até hoje e eu nunca mais falei com ela.
—E eu deveria? Agora estou com medo de fazer a mulher perder o trabalho de novo. — Ela acabou rindo, sem esperar por resposta.
—Eu me preocuparia mais se sua ex viesse aqui reivindicar seus direitos de esposa. — Laura sorriu, estendendo o braço e alcançando seu rosto. — Eu incentivaria Iori a contatar a Yakuza.
—Depois de quase um ano? Eu não acredito que você teria com o que se preocupar em relação a ela agora.
—É bom manter cautela.
—Te faria sentir melhor se eu estivesse divorciada oficialmente?
—Faria, confesso. Mas não por achar que você ainda voltaria com ela, mas para não dar qualquer ideia na cabeça dela.
—Bem, garanto que vou considerar seus pensamentos. Agora não quero te atrasar para o almoço. — Ela olhou para os lábios de Laura, que abriu um sorriso com a recordação.
—E se eu quiser me atrasar?
—Então eu direi a Sasaki e sua mãe que sou culpada por incentivar que você se atrase. Mas então eu causaria uma péssima impressão para a sua mãe.
—Minha mãe iria adorar você. — Falou sem pensar uma segunda vez.
—Iria? E por que você acha isso? — Sorriu, segurando em seu pulso, acariciando sua pele.
—Bem... Primeiro, você é linda.
—Isso não é um motivo. — Riu, empurrando-a pelo ombro sutilmente.
—Claro que é um motivo. Outro motivo é que você tem os olhos mais sensíveis e com o brilho mais sincero que já encontrei.
—Laura... — Começou, mas sequer sabia como continuar, surpresa com o tom admirado que ela falava.
—Terceiro motivo... você dança sem sequer pensar, seu corpo simplesmente se move. Você fica leve como um pássaro, flutua como se a dança fizesse parte da sua alma. É maravilhoso te ver dançando. — Sorriu quando as mãos de Lana envolveram sua cintura, aproximando-se lentamente. — E eu acabei de ver a tempestade detrás de toda essa leveza, e eu amei ver sua força. Se ainda havia qualquer dúvida em minha cabeça, eu sequer consigo me importar.
—Oh... então eu sou uma ótima candidata para sua mãe conhecer, não é mesmo?
—Você certamente é.
—Bem que Sasaki me alertou sobre a sua lábia. — Ela riu baixo com o fato.
—E ainda assim você continua perto.
—Eu continuo, realmente.
—Então você não pode reclamar. Ainda mais agora... — Ela deslizou mão até seus dedos estarem em sua nuca, aproveitando do apoio para puxar Lana em sua direção, sentindo seu riso em seus lábios e vendo seus olhos mirarem o exato ponto que estava prestes a tocar.
—Agora? — Lana sorriu, deslizando as mãos pelas suas costas.
—Agora vou odiar desmanchar esse sorriso, mas tenho outras intenções com sua boca nesse momento.
Laura roçou os lábios nos dela, aproveitando a maciez que tinham até Lana fornecer abertura e suas línguas se encontrarem quentes e com paixão, movendo-se com sincronia e intensidade. Laura pressionou os dedos em sua nuca, mantendo-a perto enquanto a outra deslizava lentamente pelas suas costas. Lana tinha movido as mãos para o seu rosto, movendo os polegares em suas bochechas, aproveitando o contato que sentia da pele dela.
—Sasaki vai te matar. — Lana sussurrou quando sentiu o celular vibrar no bolso da calça dela, mantendo-se perto enquanto selava seus lábios algumas vezes.
—Ela não vai se saber o motivo de eu estar atrasada.
—Oh... ela vai matar a nós duas.
—Provavelmente. Atende, ela não vai gritar com você.
—Eu não tenho essa certeza.
—Atende, estou ocupada. — Laura sorriu, retirando o celular do bolso e entregando a ela enquanto mordia seu maxilar.
—Laura! Estamos na rua. — A repreendeu, o telefone já na orelha, mas não fez qualquer movimento para afastá-la quando sentiu seus beijos contornarem seu maxilar.
—Alô? — Iori falou em confusão com o que escutava.
—Sasaki!
—Lana? Oh, eu devia ter imaginado.
—Culpada até o inferno. Eu pedi uma carona.
—Eu ofereci. — Laura a corrigiu.
—Cale a boca. — Lana pressionou o dedo em sua costela, arrancando um riso seu.
—Essa cabeça de vento. Agora pode me dizer por que estamos falando em espanhol? O meu não é tão bom, só me serviu quando fiz uma viagem a Espanha há alguns anos.
—Oh, Deus, eu sequer reparei. Desde quando estou falando em espanhol? — Ela voltou a pressionar os dedos nas costelas de Laura.
—Desde que saímos do escritório de Leon? Achei que tinha feito de propósito. — Ela balançou os ombros, sem se importar, voltando a beijar seu rosto. — Eu gostei.
—Devo assumir que você estar atendendo o celular dela significa que essa cabeça de vento finalmente cravou as garras em seu corpo?
—É uma forma de colocar, sim. — Lana riu, Laura somente aproveitou para deslizar os lábios para o outro lado de seu maxilar, mordendo outra vez. — Laura, pare com isso. Estamos na rua! Se o sindico me ver aqui ele vai me multar por queimar os princípios dos velhos costumes.
—Que multe, eu te arrasto para a minha casa e você pode queimar o que quiser.
—Estou feliz por vocês. — Iori voltou a falar, mais aliviada com a informação. — Sabia que Laura não iria demorar muito para chegar até você. Mas avisa ela que até Cláudia esteve me ligando perguntando quando vamos chegar. Eu vou chamar um carro e nos encontramos lá.
—Ela vai chamar um carro, cabeça de vento, eu disse que ela ia nos matar.
—Oh não, um carro não. — Laura se afastou para pegar o celular de suas mãos, levando a orelha. — Dá azar chegarmos separadas num almoço com minha mãe.
—Não comece com suas superstições. — Iori reclamou. — Só estou querendo ser prática.
—Não precisa ser. Estou perto de casa, espere mais um pouco e nós vamos juntas. Pode ser?
—Pode, mas se apresse, eu odiaria amassar esse vestido antes de chegarmos lá.
—Cinco minutos.
—E nenhum minuto a mais.
—Tudo bem. Até daqui a pouco, querida.
—E marque o próximo encontro com Lana de uma vez.
Laura riu antes de desligar, guardando o celular e voltando a atenção para Lana, que acariciava seu rosto com delicadeza.
—Eu disse que ela não gritaria com você.
—Você tem razão. Agora, já que vocês já estão atrasadas para o almoço, por que você não compensa o tempo que está fazendo Sasaki esperar?
—Por que eu estou pensando que sua ideia vai fazer a gente se atrasar mais?
—De fato. Mas é o que eu provavelmente faria se fizesse Sasaki esperar.
—Oh, você está pensando nisso. — Sorriu, pressionando os dedos em sua cintura. — Eu te convidaria para almoçar com a gente na casa de minha mãe, mas acho melhor esperarmos mais um pouco e prepararmos o terreno antes de te apresentar a todos.
—Não precisa se preocupar com isso. Eu só imagino o que uma notícia dessa pode causar na cabeça das famílias de vocês.
—Exato. Mas eu só quero que saiba que estamos levando isso a sério.
—Eu sei. Um passo de cada vez.
—E quando podemos marcar algo?
—Estou livre todas as noites, a Infinity não fica aberta até tão tarde. — Sorriu antes de beijar seus lábios. — Então é só vocês me dizerem quando.
—Eu vou checar com Iori, e ainda hoje nós te avisamos.
—Posso escolher o lugar da próxima?
—É claro. Agora tenho que ir, mas lembre-se do que eu disse. Eu não retiro uma palavra.
—Eu sei que não, foi adorável ouvir tudo aquilo.
—Então se acostume. Eu não te deixarei esquecer isso.
—Como eu esqueceria? Agora vá atrás de Sasaki.
—Da forma como sugeriu.
Laura riu, selando seus lábios mais uma vez antes de colocar o capacete, montando na moto e dando partida, acenando antes de ir embora. Não demorou para chegar em casa, encontrando Iori na garagem, prestes a entrar no carro, mas a impediu de entrar, sorrindo para o vestido vermelho que usava.
—O que foi, sua cabeça de vento? Estamos atrasadas. — Falou com calma, tocando seu rosto enquanto via o brilho que acendia em seus olhos.
—Lana me deu uma ideia incrível.
—Ela deu? E por que está me olhando dessa forma?
—Você disse que não queria amaçar o vestido. Receio que vai ter que tirá-lo.
—O que? Está frio, não vou tirar minha roupa.
Laura revirou os olhos e a envolveu em seus braços, beijando seus lábios enquanto descia o zíper em suas costas, deixando que o vestido caísse no chão quando a ergueu, suas pernas envolvendo sua cintura automaticamente. Pressionou suas costas na lataria do carro enquanto intensificava o beijo, movendo as pontas dos dedos pelo bico do seu peito.
—Laura... Lana te disse para fazermos isso na garagem?
—Ela não especificou o lugar. Eu só não quis perder tempo. Então ou você destrava a porta do carro, ou farei isso aqui mesmo. — Laura sorriu, desviando dos seus lábios para se entreter no bico duro do seu seio, arrancando um rouco gemid* de Iori, que abriu a porta do carro no mesmo instante.
Laura entrou com ela ainda em seus braços, fechando a porta antes de voltar a beijá-la, explorando seu corpo com a familiaridade de quem fazia o mesmo percurso e sabia das reações que podia causar.
—Oh, querida, Lana dá ótimas ideias. — Iori falou quando sentiu o contato entre suas pernas.
—Imagine se fosse ela a vir colocar em prática. — Laura a provocou.
Iori sequer a respondeu, ao invés disso pediu que continuasse, aproveitou o contato quente da pele que conseguiu expor dela, entregando-se aos seus toques sem qualquer hesitação, obtendo todo o prazer que Laura sabia dar a ela.
—Desse jeito vamos ter que implorar para Lana conhecer nossa cama. — Iori falou ao fim, sentando-se no banco. — É somente o segundo encontro e nem era oficial desde que tornamos isso sério. Olha como estamos.
—É divertido mesmo assim. — Laura sorria, movendo a mão sobre a perna dela.
—É divertido pensar que ela te deu essa ideia pensando em fazer exatamente isso.
—Oh, querida, sua professora quer te levar para a cama, que surpresa.
—Com inveja que fui a primeira?
—Com certeza. Eu não devia ter demorado tanto para me aproximar dela. Mas acabou acontecendo hoje. E foi maravilhoso. — Recostou no banco, sorrindo com a recordação. — Começo a ver os motivos que você se apaixonou por ela.
—Finalmente parou de desconfiar dela?
—Sim, parei. Eu te conto no caminho, se ainda quiser colocar aquele vestido.
—O que você deixou jogado no chão da garagem?
—Você não o queria amassado.
Iori acabou rindo, saindo do carro para se vestir outra vez, Laura ajudou a subir o zíper em suas costas, assumindo o volante em seguida.
Fim do capítulo
Um segundo encontro inesperado hm?
Quero dizer que escrevi ontem o último capítulo dessa história, então não vai ter hiatus :D
O próximo capítulo terá cenas calientes, quem não gosta pula para o finzinho do capítulo, eu deixarei uma marca de onde termina :)
Até domingo o
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May Poetisa
Em: 05/08/2021
Olá! Alex, estava procurando por uma boa história para ler e me entreter. Felizmente encontrei, mal comecei e estou adorando. Parabéns pela escrita. Beijos e abraços, May.
Resposta do autor:
Olá May!
Fico feliz em saber disso! Espero que continue aproveitando essa mini novela ahahaha
Obrigada por comentar :D
Lea
Em: 02/08/2021
Sinto que a Madson vai aparecer e vai dá trabalho!! Laura deixando as barreiras cederem e aproveitando o momento. Estou ficando curiosa de como será a primeira vez delas juntas!!!
Resposta do autor:
Aahahah será que a Madson será problema?
Laura finalmente aproveitando-se sim :3
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 26/03/2021
Olá! Tudo bem?
Confesso que — apesar da curiosidade — provavelmente não lerei sua história. Não consigo ver-me em um relacionamento que envolva mais de uma pessoa — trisais, tetrasais, pentasais; relacionamento aberto ou fechado; muito sexo, sem sexo — e ter que lidar com ciúmes, desejos, preferências. Na minha cabeça é impossível — veja bem, para mim — não desejar uma mais que a outra, não preferir mais essa do que aquela. Não tem como, sei lá, enfim ''Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi''.
Parabéns pela coragem e dedicação para trabalhar com esse tema. Sei que não é fácil escrever sobre ele.
É isso!
Post Scriptum:
''Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.''
Chaya Pinkhasovna 'Clarice' Lispector
Resposta do autor:
Olá!
Agradeço por se dispor a vir aqui e deixar sua opinião, são todas bem-vindas e eu levo em considereção de alguma forma. :)
Confesso que antes de sequer considerar começar essa história eu também nunca me vi num relacionamento com mais de uma pessoa, nunca acreditei que existisse e até hoje não conheci casais assim. Mas quando comecei a escrever, por curiosidade, sem nunca sequer pensar em ter uma relação assim ou em simplesmente postar em algum lugar (por medo do julgamento), as coisas fluíram tão fácil que foi como estar no papel da Lana. Eu não sabia o que esperar do tema, da história, das personagens ou de mim. Mas foi uma experiência tão esclarecedora escrever sobre esse tema que em momento algum senti dificuldade, deixou minha mente mais aberta para pensar sobre o assunto e não sei, manter o espírito mais disponível para aceitar temas diferentes.
Enfim! Só quis que soubesse da minha experiência sobre o assunto também :D Espero que nos encontremos de novo por aqui, ou em qualquer outra história, quem sabe? Tenho mais algumas na manga que espero poder postar por aqui em breve.
Obrigada outra vez, e tenha um bom fim de semana ;)
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