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E se... por Nadine Helgenberger

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Palavras: 6404
Acessos: 2890   |  Postado em: 21/03/2021

Capitulo 27

 

Milanka olhou para Elena e percebeu que tinha que agir rapidamente. O olhar da amiga estava perdido e completamente sem reação possível.

            --Thomas, Paloma, a apresentação foi um sucesso. Não podia faltar ainda mais que o meu namorado foi um autentico mobilizador de multidões. Mas, eu e a Elena precisamos correr. Temos um evento do trabalho e já estamos bastante atrasadas.

Ethan olhou para Milanka sem entender, mas limitou-se a sorrir e abraçou-a.

            --Ah, que pena que não vão poder participar do brinde. Muito obrigada pela vossa presença. A Joy tem os melhores amigos o que é de se admirar porque ela não é exatamente a pessoa mais simpática.

Thomas, Paloma, Ethan e William riram muito. Joy tentava organizar a sua mente que parecia uma montanha russa e obviamente não conseguiu sequer ouvir o que era dito. Elena só não despencava no chão porque era segurada com força por Milanka.

Milanka disse algo ao ouvido de Ethan e numa ação muito rápida, tirou a amiga da inércia em que se encontrava.

A maioria das pessoas naquele ambiente não percebeu o desconforto latente daquele instante, mas não foi o caso de Paloma. Discretamente aproximou-se de Joy que simplesmente não reagia a nada e apertou-lhe o ombro com carinho. O olhar que recebeu foi a confirmação de que algo devastador tinha acontecido ali.

 

*****

 

Joy demorou alguns minutos a recompor-se, mas fê-lo com as mesmas ferramentas que utilizara ao longo da vida. Apatia jamais fora uma opção. Precisava reagir, entender e engendrar soluções para aquele imbróglio.  Com uma profunda respiração, aproximou-se de William, que agora parecia mais estrela do que a própria banda de Thomas.

            --Olha o pequeno Thomas ganhando o mundo. - Disse colocando o braço ao redor de Joy que finalmente aproximara-se.

            --Pois é! - Assentiu de forma mecânica.

            --Estou tão famoso a ponto de o senhor sem tempo conseguir vir prestigiar a nossa atuação.

Todos riram da piada, exceto Joy que ainda tentava coordenar as ideias.

            --Digamos que uni o útil ao agradável. Tenho reuniões de negócio aqui em Nova York e as datas coincidiram.

            --Claro! Não tínhamos outras ilusões. E eu só fui contactado porque não conseguias falar com a minha irmã favorita.

Joy experimentou uma sensação amarga na boca. Não queria estar a viver aquela cena, mas, precisava reagir.

            --Joy, onde estavas metida?

            --Colorado!

            --E desde quando não há rede telefónica no Colorado?

            --Estava nas montanhas...

            --E vocês não se falaram durante essa semana inteira? - Thomas perguntou incrédulo.

            --Nossa comunicação flui de forma diferenciada. - William sentenciou enquanto apertava um pouco mais o braço sobre os ombros de Joy.

            --Relacionamento entre gente adulta é algo bastante diferenciado.

Todos riram.

Thomas foi chamado por alguém da produção do show e Joy aproveitou para tentar entender o que significava a chegada intempestiva de William a Nova York.

            --Não fazia a mínima ideia que vinhas para cá...

            --Assim como eu não sabia que estavas no Colorado.

Ambos sorriram ainda que por razões bem diferentes.

            --Minha agenda aqui está bastante acelerada. Tenho um jantar daqui a pouco que definirá muita coisa, e amanhã mais duas reuniões e um evento à noite e domingo logo cedo viajo para Dubai.

            --Wow...- Joy não conseguiu dizer mais nada.

            --E tu me pareces bastante cansada.

            --Esgotada! Fiz muita coisa doida para conseguir chegar aqui. Prometi ao Thomas...

            --Tenho novidades que vão deixar-te exultante.

Joy forçou um sorriso.

            --Vens comigo ao jantar? Nem sei a que horas vai terminar.

            --Não! Seria péssima companhia. Tudo o que preciso é de um banho quente e cama.

            --Entendo. Estou num hotel em Manhattan.

            --Amanhã tomo café contigo. Já estarei com melhor aspeto.

            --Tu és sempre linda. Até cansada e com a roupa toda amassada.

William beijou a testa de Joy que subitamente teve vontade de chorar. Controlou o ímpeto e manteve a postura impassível.

            --Lindíssima! Consigo imaginar o meu reflexo ao espelho, um espantalho destruído.

            --Precisas descansar para estar apta a tudo que tenho para contar. Tua vida vai mudar.

            --Mais ainda? - Joy sentiu um nó no estomago. Se a vida mudasse ainda mais, talvez não fosse capaz de gerir tantas mudanças.

            --Vai melhorar para muito melhor. Diria que a tua meta dos 35 anos, chegou aos 32. Amanhã, vamos comemorar em grande.

Joy forçou um sorriso e experimentou um leve latejar na têmpora direita.

No mesmo rompante que tinha chegado, William deixou o espaço do evento. Parecia muito frenético e Joy não estava em condições de acompanhar. Ainda sentindo-se à deriva, deixou-se cair pesadamente num sofá.

Algum tempo depois, Ethan convidou a todos para um jantar num dos seus restaurantes e Joy, ainda que muito cansada e sem ânimo, não quis desapontar o seu irmão. Mais tarde, perceberia que tudo que precisava naquela noite, era de momentos assim. Momentos em que apenas lhe era exigido estar. Nada mais.

 

*****

            --Conseguiste? - Perguntou Elena expectante.

            --E o que eu não consigo para a minha Troia?

Sorriram.

            --3 da manhã no La Guardia. Tens a certeza, Elena?

            --Absoluta! Eu já estava com essa vontade...

            --Sim, eu sei...

            --Isso tudo apenas veio apressar a minha decisão. Preciso de paz.

            --Eu entendo.

            --Já foste para lá comigo e sabes que se há lugar no mundo onde terei paz, é em casa.

Sorriram.

            --Paz e muito mimo.

            --Preciso respirar, Milanka. Despir-me das minhas ilusões e ver as coisas como realmente são e não falo apenas do que acabo de viver...

            --Bom, sobre isso, sabíamos que poderia acontecer. O Lorde inglês sempre existiu ainda que nunca aparecesse.

            --O fato de saber desse detalhe, não torna a realidade menos dolorosa. Eu não estava à espera. A sensação que tive ao vê-lo entrar por aquela porta, foi como se me tivessem tapado a boca e o nariz e eu não pudesse lutar por ar. Passei uma semana contanto os minutos para ver a Joy e...

Interrompeu a frase e foi sentar-se no parapeito da janela ao lado de Mykonos que observava a conversa como quem entendia tudo. Pegou o gato ao colo e olhou para a rua vagueando o olhar sem focar em nada.

            --Eu queria saber o que dizer para amenizar o que sentes, mas eu sou a pior pessoa... - Milanka aproximou-se da amiga e afagou Mykonos.

            --Tu és a melhor amiga que eu poderia ter. Não fosses tu e eu teria sucumbido ao impacto...

            --Troia, tu és muito calma. Meu Deus, se fosse comigo eu teria feito uma cena. Gritado, quebrado a sala toda, sei lá. Jamais agiria com o teu controle.

            --Controle? Eu daria outro nome à minha atitude...

Suspirou e mais uma vez olhou para nada lá fora.

            --Sabe o que eu entendi, Milanka? Aliás, há dias que venho pensando nisso...

            --O quê?

            --Eu não tenho capacidade de lutar por nada. Eu não brigo por nada.

            --Eu não concordo com isso.

            --Tu mesma já me disseste que eu sou acomodada, que tomo as coisas como garantidas...

            --Eu reitero que na editora estás acomodada, que poderias estar num patamar muito mais elevado. E sobre isso eu tenho outra teoria que agora não vem ao acaso. Mas Troia, se fosses acomodada estarias com a Joy? Isso jamais me passou pela cabeça. Tu, com uma mulher que conheceste num parque? Nem em sonhos loucos e olha que eu sou doida.

Risos.

            --Na esfera profissional, acho que sou um bocado deslumbrada e tudo que vou conseguindo me parece maior do que seria esperado e então está tudo bem.

            --Hmmm...

            -- Minha vida amorosa é o desastre que conheces, pelo menos parte dela, mas antes não foi diferente. Sempre achei que relacionamentos amorosos me tirariam do rumo e o resto já sabes. Vem a vida, o destino ou sei lá o quê e me faz tropeçar literalmente numa mulher que sem fazer qualquer esforço, me arranca da minha trilha.

            --Ah e como eu adoro essa inglesa. Desculpa, mas por isso, eu vou adorar essa mulher pelo resto da vida. Nunca mais tiveste crise de sonambulismo, vives sorrindo, menos chata, mais aberta para a vida...

            --Sim e parece que por causa dela, eu nunca mais vou voltar a dormir em paz.    

            --Essa frase poderia ter saído da minha boca. Tu não és de exageros. Estás à flor da pele, mas passa.

            --Saí da trilha num voo sem paraquedas. Flutuei por zonas coloridas e muitas vezes perigosas e sorrindo, leve, sem ressalvas. O que poderia acontecer?

            --Troia, foste muito feliz. Ainda és. Não sabemos o que vai acontecer...

            --Não tenho ilusões, Milanka.

            --Ainda não conversaste com a Joy. O que ela quer, a mim parece óbvio...

            --Será que é tão óbvio assim? Ela nunca falou desse homem e ele é real. Ele é tão dolorosamente real. Essa coisa toda pode não ter sido nada demais...

            --Para ela?

            --Sim...

            --E seria o fim do mundo?

            --Não! Afinal nessa vida estamos sujeitos a muitas desilusões. Só não sofre quem vive como eu vivi até aparecer essa inglesa dos infernos.

            --Tu gostas dela, Elena.

            --Ah, bem mais do que eu gostaria. Ver aquele homem sorridente entrar naquela sala...o homem dela...o homem dela...

Elena abraçou Mykonos e pendeu a cabeça contra o batente de madeira da janela.

Milanka não sabia o que dizer. Não costumava aprofundar-se nas relações e consequentemente não sabia nada sobre a intensidade daquela dor.

            --Eu acho que...

            --O quê?         

            --Acho que deverias ligar para ela. Com calma, depois do impacto desse constrangimento...

            --Não sei...agora não quero saber de nada que me ligue a isso. Estou confusa, dolorida, quero a paz da minha casa.

            --Sendo que o colapso foi provocado pelo homem dela, acredito que ela deveria ligar-te. Mas, não quero influenciar-te...

            --Eu não estou à espera de nada. Não passas a vida a dizer que sou vitoriosa?

            --E és!

            --Então, continuarei a sê-lo, apenas uma vitoriosa com o coração partido.

Riram.

            --Vais colá-lo, meticulosamente.

Sorrisos.

            --Estou com uma sensação estranha no peito, na garganta. Tudo parece tão seco...

Milanka abraçou-a. O olhar da grega era de pura desilusão. Ela chorou e apertou a amiga.

            --Vou ficar contigo. Ajudar com a mala, com Mykonos. Vou ficar aqui até ao último minuto.

            --Obrigada, meu bem.

 

 

 

 

 

*****

 

Paloma aproveitou um momento de distração dos homens e aproximou-se de Joy que alheia a tudo, observava os contornos da noite iluminada por milhares de luzes.

            --Eu sei que o Thomas não percebe o quão cansada estás, mas eu já me sinto culpada. - Disse com pesar.

            --Não te sintas. Eu faria qualquer coisa por ele...- Disse sem brilho algum na voz.

            --Estamos num hotel aqui ao lado, se quiseres podes dormir por aqui. O apartamento tem dois quartos e é bastante confortável.

            --Acho que pode ser uma boa opção. Não estou com disposição para atravessar a cidade a essa hora e nesse estado de letargia...

            --És muito benvinda. - Paloma sorriu.

            --Obrigada. Amanhã preciso estar por aqui para um encontro com o William...

            --Ele não conseguia falar contigo e o Thomas acabou por fazer o convite do show e...

Joy suspirou e Paloma interrompeu o raciocínio.

            --Nunca fiquei tão irritada por não ter rede...se bem que...- Conjeturou em voz alta para logo em seguida calar-se.

            --Foi uma surpresa? Bom, que foi surpresa, acho que não restam dúvidas. Mas, não tinhas nenhuma ideia que ele viria?

            --Nenhuma! O William adora mistérios, grandes entradas...ele quer dominar o mundo...

            --E tu?

Joy observou-a profundamente e com um sorriso que beirava à melancolia, disse:

            --Encontros de alma como o teu com o Thomas, não costumam existir aos pares...

            --O William liga-te à Inglaterra...

            --Ele liga-me a muita coisa...muita coisa...

Fez-se um silêncio momentâneo.

            --O William já foi o meu lado fácil da vida, que me exigia muito pouco..., mas, eu não sou mais a mesma pessoa...

            --Eu te entendo.

            --Mas eu não. Estou muito confusa...perdida. Poucas vezes me senti assim na vida. A sensação que tenho é que vivia por um manual, seguia à risca todas as diretrizes. Era bastante aplicada e tudo fluía...

            --Eras feliz?

Joy sorriu com o canto da boca.

            --Parecia que sim...

            --Eras?

            --Sou feliz correndo riscos para tirar a melhor foto. Sou feliz com todas as incertezas desse meu novo mundo...sou feliz assim...

            --Tu e o Thomas são muito irmãos.

Riram juntas.

            --Só posso concluir que saíram à vossa mãe.

            --Madia?

            --Claro! Vocês são a antítese do Collins. Essa veia aventureira, artística, deve ter vindo de algum lugar.

            --Diria que somos subversivos.

Risos.

            --Pode ser, e eu adoro essa característica.

            --Eu ainda não sei onde o pirralho do Thomas teve tomates para conquistar uma mulher como tu.

Paloma riu alto.

            --Como eu?

            --Maravilhosamente adulta, ponderada, madura e linda.

            --Muito obrigada pelos elogios.

            --Muito sinceros. Espero que ele não meta os pés pelas mãos.

Mais uma risada de Paloma.

            --Eu tenho muitos defeitos e amo o teu irmão. Um dos segredos para as coisas darem certo é a partilha de sonhos. Nós sonhamos juntos, realizamos juntos e seguem outros sonhos...

            --Sonhos...- Joy perdeu-se nos próprios devaneios.

            --Joy, aproveitando que me achas madura, adulta e que sou atrevida mesmo...

Risos.

            --Seja o que quiseres, afinal és minha cunhada favorita.

Gargalhadas.

            --Eu não sei muita coisa da tua vida aqui em Nova York, mas sou observadora e há muito tempo que percebi que existe alguma coisa entre ti e a Elena...

Joy respirou profundamente e encarou Paloma.

            --É nítido, palpável, ainda que seja bastante sutil. Não foste a única a ficar assombrada com a chegada intempestiva do William. Eu não queria estar no lugar dela, nem no teu.

            --Até agora não sei se é real...

            --É real. Não sei o que vais fazer em relação ao William porque da vossa história pouco ou nada sei. Mas, peço-te que ligues à Elena. Ela ficou visivelmente sem chão e ainda bem que pôde contar com o apoio da amiga.

            --Minha noite teve uma reviravolta tão grande que não consigo organizar nada dentro da minha cabeça.

            --Acho que a reviravolta foi na vida...

            --Não sei o que fazer...

            --Não exija respostas ou certezas quando estás cansada e no calor das emoções.

            --Eu preciso de um banho e de uma cama. Estou em frangalhos.

            --Vamos agora para o hotel. E a Elena? - Insistiu.

            --Só falo com ela quando tiver algo concreto para dizer. Não posso ser leviana...

Paloma abraçou-a pelo ombro e seguiram para perto de Thomas.

 

 

*****

 

Joy olhou as horas e bufou sem paciência. Já passava das 5 horas da madrugada e nada de conseguir conciliar o sono. A cabeça fervilhava, e nenhum pensamento parecia coerente. Precisava dormir algumas horas. Precisava estar sóbria para poder conversar com William.

William...

Não sabia o que pensar. Claro que ele poderia chegar a qualquer momento, era normal de sua personalidade. Então porque não antecipara tal situação? Estivera ocupada demais com outras coisas que lhe roubaram toda a atenção. Chegara ao ponto de esquecer que tinha um relacionamento com William. Não era um relacionamento. Agora sabia que não era. Tinha sido muito conveniente até determinado momento da sua vida. Não mais...

Elena...

O coração parecia diminuir no peito quando lhe vinha á memória a expressão de atordoamento de Elena diante da presença intempestiva de William. O olhar dela desviou para algum ponto perdido e nunca mais cruzara o de Joy. Dor. Desespero. E um grito abafado na garganta. Não podia extravasar. Estava no momento do irmão, nada podia roubar o brilho dele. A vida inteira precisara abafar seus gritos. Não mais...

As mãos tremiam ansiosas. Queria telefonar, correr para o Astoria e encontrar a leveza no olhar de Elena. Mas não tinha coragem. Precisava resolver as coisas...

Percebeu-se insegura, aflita e completamente baralhada.

Precisava dormir. Nem que fosse por meia hora. Precisava dormir...

 

*****

Ouvir William gabar-se do sucesso de seu jantar e falar sem parar, estava deixando Joy enjoada. Não tinha conseguido dormir e sentia a cabeça pesada. Por vontade própria, jamais teria saído da cama naquela manhã, mas, mais forte que o desânimo, era a vontade de colocar a vida nos trilhos.

Contudo, nem sua versão mais paciente poderia aturar aquele surto de fanfarronice.

            --William, o que esperas de uma relação afetiva? - Perguntou de forma abrupta.

Ele pareceu não ter entendido, ou então, foi pego de surpresa.

            --Relação afetiva?

            --Sim, uma relação a dois.

            --Entendi. Talvez tenha-me escapado o contexto.

A expressão de Joy não deixava dúvidas de que esperava por uma resposta.

            --Estou muito bem contigo.

            --Estás? O que é estar bem? - Ela parecia aflita e ávida por respostas.

Depois de algum tempo tentando responder, mas sem sucesso, Joy resolveu mudar a questão.

            --Descreva-me em poucas palavras.

            --Isso mais parece um teste. Vou ser pedido em casamento? - Brincou.

            --Responda, por favor.

            --Essa é muito fácil. És uma mulher inteligente, ambiciosa, fria quando necessário, objetiva, uma empresária implacável e que assim como eu, quer dominar o mundo.

Nada daquilo ressoou dentro de Joy que olhou para William com apatia no olhar.

            --Descreveste a pessoa que fui até há alguns meses atrás...mudei.

            --Ninguém muda em tão pouco tempo.

            --Talvez não, mas podemos nos encontrar e descobrir coisas que nos fazem arder o peito.

Ele pareceu levar um choque e passou a prestar mais atenção á interlocutora.

            -- A pessoa que acabaste de descrever, era um molde, quase um fantoche. Eu era apenas a projeção dos desejos do meu pai. Queria ser perfeita aos olhos dele, fui criada para ser perfeita. Eu não sou perfeita. - Ela parecia querer justificar-se.

            --Joy, o que aconteceu? Nada disso faz sentido. Tu nunca foste adepta a imersões psicológicas, aliás, isso é coisa de gente fraca.

            --Estou descobrindo uma versão diferente de mim...- Disse quase sem forças.

            --Nós somos pessoas praticas, não perdemos tempo com sentimentalismo. A mulher que quero ao meu lado, que vai conquistar tudo comigo, não perde tempo com ninharias.

            --Pressinto que eu não seja essa mulher...

            --Joyanne, podes ser mais clara?

Ele estava nervoso. Os sinais eram claros e elas já os conhecia de olhos fechados.

            --William, sabes o que quero da vida? - Resolveu recuar, sem jamais perder o foco.

            --Bom, antes dessa invenção de período sabático, eu sabia exatamente o que querias. Era basicamente o que eu quero, o que sempre ambicionámos desde que nos conhecemos. O que mudou? Claro que alguma coisa mudou, não perderias tempo com essa conversa sem sentido...

            --Eu quero ser fotógrafa! - Disse com a voz muito calma. Por dentro, fervilhava.

            --É um hobby interessante. Podes fazê-lo nos teus tempos livres e com o auxilio dos melhores equipamentos.

            --Eu quero viver de fotografia. - Encarou-o com firmeza.

A sonora gargalhada que se seguiu, embrulhou o estômago de Joy.

            --Como? Até onde sei não és famosa, não tens grandes trabalhos, nem nome, és apenas uma curiosa...ah, Joy, isso nem parece teu. - Ridicularizou.

            --Eu mudei, William!

            --Vejo a mesma pessoa. Apenas levemente confusa e...

            --O que tu vês é o óbvio, eu sou muito mais do que óbvio.

            --Joyanne, como estamos cansados de saber, tempo é diamante e não podemos desperdiçá-lo. Vamos ser práticos, vou dirigir a maior cadeia de hotéis de luxo dos Emirados Árabes e quero-te ao meu lado. Vim a Nova York resolver as últimas pendências e já está tudo definido. O mundo é nosso! - Vangloriou.

Sem demonstrar qualquer emoção, Joy olhou para o lado.

            -- Joy, ouviste o que acabei de dizer?

            --Ouvi! Ao que parece tu é que não ouviste nada do que eu disse até agora. William, tu não queres uma mulher ao teu lado, queres uma parceira de negócios.

            --Mas não foi isso que sempre quisemos? Não me digas que agora és piegas? Ah, Joy, não me desiludas. - Exasperou-se.

            --Prestaste atenção ao que eu disse? - Joy tentava manter a calma.

            --Essa história doida de tirar um período sabático, eu nem liguei porque sabia que não passaria de mera excentricidade e uma forma de afrontares o teu pai. E além disso, eu precisava focar no trabalho e para mim foi até vantajoso. Pude concentrar-me no que é importante...

            --O período sabático, ou o meu capricho se assim preferires, mostrou-me o que quero para o resto da minha vida.

            -- Eu não estou a entender nada e acho que tu não sabes o que estás a falar. Sugiro que descanses e que voltemos a conversar em outro momento...

            --Nenhum descanso vai mudar a minha opinião. Eu quero ser fotógrafa.

            --E viver de forma medíocre? Ser apenas mais uma? Eu nunca te vi com tão mau especto quando eras uma empresária de sucesso em Londres. Pareces um farrapo, tens olheiras, estás pálida, excessivamente magra.

Joy arregalou os olhos. Ele continuou o massacre.

            --É isso que queres? Estou a oferecer-te o mundo e dizes que queres essa vida medíocre de fotógrafa. O que aconteceu contigo? Essa não é a minha Joy.

            --Eu nunca fui a tua Joy, tu nem sabes o que é comprometimento. - Gritou.

            -- O que é isso agora? Além de medíocre, também és lamecha? - Ironizou.

            -- Não, William. Eu apenas decidi seguir meus sonhos, viver minhas escolhas e não ser apenas o que esperam de mim.

            --Eu não te reconheço. Essa pessoa não faz parte da minha esfera. Eu vou para Abu Dhabi, vou reinar nos Emirados. Sabes quantas pessoas dariam a vida pelo que estou a oferecer-te? Onde foste parar, Joyanne?

            --Viajei para dentro, mas isso tu jamais vais entender...

            --É assim que acabas com uma relação de mais de dois anos?

            --Que relação?  O que nós tínhamos era no máximo uma tentativa de sociedade. Relação é outra coisa. - Já não se podava.

            --Não me venhas com sentimentalismos, tu não és assim. Temos um pacto...

            --Considera-o quebrado. Eu quero do meu lado alguém que se importe comigo, que me vê como uma mulher capaz de erros e acertos, alguém que me faça rir, com quem não tenha medo de ser exatamente quem sou.

            --Alguém que te apoie nessa onda de mediocridade. Essa pessoa com certeza, não sou eu. Desde quando tomaste essas decisões?

            --Isso não te interessa. Quantas vezes falámos nesse último mês?

--Ah Joy, em Londres passávamos semanas sem estar juntos e isso nunca foi problema. - Minimizou.

            --A presença passou a ser uma questão fundamental. Eu gosto de estar junto, gosto de trocar, gosto de viver...eu descobri tanta coisa...- Devaneou.

            --Estou sem palavras e sem nenhuma vontade de argumentar. Que deceção, Joy. Sinceramente, ainda não acredito no festival de incoerência que acabei de ouvir.

Ele olhava para ela com olhos expectantes. Ansiava por uma reviravolta.

            --Então é isso? Agora entendo a deceção do teu pai.

Joy permanecia calada. Ainda tinha algum controle sobre o furacão que lhe subia pelo corpo.

            --Tens a certeza que tudo o que quiseste a vida inteira já não interessa? - Ele parecia jogar a última cartada.

Ela assentiu com a cabeça.

            --Bom, eu tenho mais o que fazer. Minhas horas em NY estão contadas e há muitos negócios à minha espera.

Levantou-se de forma triunfal e já dirigia-se para fora dali, quando voltou nos calcanhares e disse:

            --Ah, esse café majestoso está pago e podes usufruir à vontade. Não te esqueças de me avisar quando um trabalho teu estiver estampado por todos os outdoors de NY. - Ironizou e foi embora.

Joy sentiu um desconforto dos pés à cabeça. A boca seca, tremeu violentamente. A bílis subiu-lhe pela garganta e quase se afogou.  Por fim a cabeça explodiu num barulho incessante. Chorou convulsivamente, entregando-se à dor imensa que a culpa acarretava.

 

*****

Já passava das duas da tarde quando Elena decidiu que já era hora de sair do quarto. Chegara nas primeiras horas da manhã e avisara à mãe por mensagem, que dormiria por muitas horas e que estava tudo bem. Percebeu que a mãe já tinha passado pelo quarto, pela garrafa de água sobre a mesa de cabeceira. Sorriu ao notar um pequeno bilhete ao lado da garrafa. Beijou o pedaço de papel antes de ler o conteúdo. Era tão bom sentir aquele acolhimento.

Olhou-se ao espelho e notou a face inchada de tanto chorar. Não queria que a mãe a visse assim, mas nenhuma maquiagem milagrosa resolveria aquela situação. Desistiu de máscaras, pelo menos não precisava delas com Melina. Num rompante pegou o telefone e depois de um longo suspiro, decidiu que ele permaneceria desligado. Milanka já sabia que tinha chegado bem, estava em casa com a mãe, não precisava de mais conexões. Pelo menos não nas primeiras horas de refúgio.

Saiu do quarto e sentiu cheiro de comida pela casa. Era tão bom estar ali.

Melina cantarolava na cozinha e não notou que ela já estava no ambiente. Abraçou-a pelas costas e encheu-a de beijos e cócegas.

            --Elena, para. - Ria descontroladamente.

            --Saudades tuas. Ai mãe quanta saudade.

Recebeu um abraço apertado que varreu qualquer sensação dolorosa que pudesse sentir naquele instante.

            --Eu já ia bater naquele quarto. Dormiste muito e nem és disso.

Risos.

            --Pois, nem nada parecido.

Risos.

            --Adorei a surpresa!

            --Um tanto intempestiva.

            --Sim, mas eu quero é que estejas cá. E se chegas a meio da madrugada, tudo bem.

Risos.

            --Cheguei antes das 7 horas. Não ia acordar-te tão cedo.

            --Fui dormir bem tarde porque o Richard também viajou por volta da uma da manhã.

            --Ele estava aqui contigo?

            --Sim, passou mais de uma semana. Temos novidades, mas aguenta a curiosidade.

            --Ah mãe, antes tivesses ficado calada.

            --Sabes que eu não aguento.

Risos.

            --Mas ele quer contar-te, então, minha boca está selada.

            --Ok! E o que temos para o almoço?

            --Quase lanche. Fiz tudo o que gostas e mais um pouco.

            --Ela nem é exagerada.

Risos.

            --Pratos gregos, hmmm, curam qualquer mágoa.

            --Estás bem, Elena? - Melina perguntou com uma mão no ombro da filha.

Elena respirou fundo e sentiu vontade de desabar, mas, controlou-se.

            --Não, mãe. Mas agora vamos comer, depois vou dar um passeio pelo lago e mais tarde conversámos. Prometo.

Melina assentiu e com a sua energia habitual, ultimou os preparativos para o banquete.

 

*****

            --Eu me sinto tão em paz aqui. Tenho as melhores lembranças... - Disse Elena nostálgica.

            --Lembras a primeira vez que permiti que me acompanhasses na varanda com uma taça de vinho?

            --Claro que sim. Tinha dezassete anos, e já estava mais do que na hora.

Risos.

            --Isso era decisão minha e eu sempre fui uma mãe bastante liberal.

            --Não posso me queixar e também tiveste a filha mais tranquila do universo.

            --Elena, eu te achava tranquila demais para ser minha filha.

Risos.

            --Eu sou mais lenta, ou talvez mais medrosa.

            --Eu diria que és bastante prudente. Bom, já vamos na segunda taça de vinho e não posso mais fingir que não estás com os olhos inchados, triste e muito pensativa.

            --Melina, sempre perspicaz.

            --Eu sou mãe, e a nós nada escapa. O que aconteceu? Essa viagem repentina não estava nos teus planos...

            --Não...sabes que não.

            --Então?

Elena subiu a manta que lhe cobria as pernas até ao pescoço. Melina sentou-se mais perto e afagou-lhe as pernas.

            --Tanta coisa nova que não sei por onde começar. Estou insatisfeita com algumas coisas no trabalho, não sei mais se é bem isso que quero para o meu futuro...

            --Ainda a tua chefe maluca?

            --Sim, ela é desvairada, prepotente e segundo os meus colegas, eu sou uma espécie de fantoche nas mãos dela.

            --Fantoche? Tu? Duvido que isso seja verdade, eu sei a filha que criei.

            --Pois é, outro dia até me questionei em que momento me perdi da minha essência.

            --Tu és a mesma pessoa, ou melhor, tens os mesmos valores. Podes estar um pouco deslumbrada e isso é normal.

            --Eu acho que estou mesmo deslumbrada. Mas já não consigo suportar algumas coisas e tenho pensado muito sobre o futuro...

            --Tu és brilhante, Elena. O teu futuro não precisa estar ligado à EWO. O mundo é tão vasto minha filha e tu és jovem. Claro que meu lado mãe coruja vai sofrer se fores para muito longe, mas a única certeza que tenho nessa vida, é que a tua felicidade suplanta qualquer carência minha.

            --Eu não sei o que fazer...

            --Vais descobrir. Se realmente não queres mais trabalhar na editora, vai acontecer algo que não te deixará dúvidas.

            --Eu tenho medo de estar a ser ingrata?

            --Elena, tu és a melhor funcionária daquela porcaria. Ninguém é mais dedicado do que tu e se queres saber, eu também tenho a leve impressão que aquela Brigitte ultrapassa alguns limites. - Disse furiosa.

            --Calma, mãe.

            --Não admito que penses em ingratidão.

            --Ok! Preciso trabalhar algumas coisas aqui dentro. - Respirou fundo.

            --Desculpa. Preciso acalmar-te e não inflamar ainda mais o teu mal-estar.

            --Adoro quando és essa mãe feroz.

            --Quase sempre.

Risos.

Elena encolheu-se um pouco mais e fixou o olhar num ponto algures no bosque que circundava a casa.

            --Falaste em coisas novas, e a editora não é exatamente algo novo na tua vida...

Elena olhou fixamente para a mãe. Agora o olhar estava húmido.

            --Minha dor não tem nada a ver com a EWO. A loucura da Brigitte não é nada diante do que estou a sentir...

Melina sentou na mesma cadeira que a filha estava e aconchegou-a no seu colo. Elena aninhou-se e permitiu que as lágrimas corressem soltas pela sua face.

Algum tempo depois...

            --Elena, agora fiquei preocupada. Tu não costumas chorar...

            --Eu não sei como te contar essa história. - Disse chorosa.

            --Nada que me digas vai mudar a nossa relação.

            --Eu sei que não, mas eu não sei como começar porque na realidade nem eu entendo muito bem o que está a acontecer. Deixei-me ir e de repente não tinha controle de mais nada.

            --Estamos a falar de uma relação amorosa?

            --Sim...

Fez-se um breve silêncio e Melina acariciou os cabelos da filha enquanto conjeturava.

            --Eu posso estar doida, como aliás já me chamaste várias vezes...

Risos.

            --Hmm...

            --Esse teu descontrole tem alguma coisa a ver com aquela amiga nova, a fotógrafa?

Elena inquietou-se nas pernas da mãe.

Diante do silêncio de Elena, Melina continuou a sua suposição.

            --Eu posso estar muito enganada, mas a forma como ela te olhava lá naquela exposição...pareceu-me algo mais forte que uma amizade.

            --A forma como ela me olhava?

            --Sim. O cuidado, a atenção...eu diria que em momentos parecia que só existiam vocês duas naquele lugar. Mas, pode ser apenas o caráter intenso da inglesa...

            --Eu sabia que ela tinha um relacionamento e mesmo assim...

            --Parece que começo a entender a história...

            --É uma história muito doida...

            --Gostas dela e estás confusa?

            --Melina, ela tem um namorado inglês, bem-sucedido, charmoso e que mora em Dubai.

            --E em que contexto que tu entraste nessa história?

--Já te contei da forma inusitada como nos conhecemos...

--Sim, no parque numa madrugada chuvosa.

--Isso. E ficamos amigas, muito amigas. Eu me apaixonei por ela a ponto de ignorar o fato bastante relevante que é a existência do namorado.

--Bom, deves estar realmente apaixonada pela moça, pois és meticulosa demais para deixar um fato tão relevante como esse escapar. E ela?

--Se ela se apaixonou por mim? Não sei...

            --Ela está apaixonada por ti. Isso salta aos olhos de qualquer um. Do teu envolvimento eu tive alguma dúvida, mas ela é muito explicita. A minha questão é, como ela lida com o fato de ter um namorado?

            --Nunca falamos sobre ele. Na minha presença, raramente houve contato telefónico ou algo parecido.

            --Não sabes nada sobre a relação deles...

            --Não. Ela não falava e eu não quis saber. Acho que mais uma vez, eu me deslumbrei. Eu a admiro tanto, mas tanto, que imaginar que ela pode gostar de mim...

            --Ei, desde quando tens problemas de autoestima? -Melina franziu a testa.

            --Acho que desde que me vi enredada nessa história e de ter a certeza que ela vai seguir a vida bem longe de mim...

            --Essa foi a conclusão que ela chegou?

            --Eu não sei, mas parece-me certo...

            --O que se passa na cabeça dos outros pode ser uma grande surpresa. Se entendi bem, o namorado ausente, está em Nova York...

Elena relatou exatamente o que tinha acontecido.

            --Então ela não sabia que ele estaria na cidade?

            --Pelo menos foi o que pareceu...

            --E vocês não conversaram?

            --Não...eu fiquei atordoada. Não sabia o que fazer e tive tanto medo do que poderia vir a seguir. Vim para cá...

            --Entendo a tua atitude minha filha, mas eu não a aprovo. Claro que és adulta e sabes o que fazes...

            --Quero saber a tua opinião. - Elena interrompeu-a intempestivamente.

            --É claro que tudo o que vou dizer é baseado em suposições, não conheço a moça...

            --Diga, por favor.

            --Ela pode até decidir ficar com esse namorado, mas eu acho que precisam conversar. Aquela mulher gosta de ti. Essa admiração que dizes sentir, é mútua. Eu só não abordei esse assunto antes, porque fiquei na dúvida sobre a tua abertura para essa possibilidade. Afinal, até essa mulher aparecer, tu só tinhas tido namorados e relações sem muita entrega. Sabes que a mim não interessa com quem namoras...

            --Claro que sei. Isso sempre ficou muito claro desde que comecei a falar de meus crush lá nos meus idos 15 anos. Nota-se que sou apaixonada por ela?

            --Não! Tu disfarças muito bem. Eu percebi que gostavas dela, mas não notei nada mais intenso.

            --Tu és tão perspicaz...

            --E me enganaste muito bem.

            --Tenho medo...

            --Precisas conversar com a Joy. Ninguém finge tão bem...

            --Não entendi...

            --Ela está muito envolvida contigo. Ainda que doa, permita que ela decida o que quer. Não sabemos o que vai na alma dos outros...

            --Tenho medo de não resistir. Medo de fracassar no que me ensinaste...

            --Eu? Bom, acho que alguma coisa eu ensinei, mas falas de quê concretamente?

Risos.

            --Ah, tu és muito engraçada. "Elena, nunca se envolva com pessoas comprometidas."

            --Já falamos sobre isso.

            --Eu sei. Mas tenho tanto medo do que ela vai dizer, ou da forma que vai reagir...

            --Podes e deves refutar o que vou dizer agora, mas eu acho que isso é mais uma preocupação do teu ego. Dispa-se dele e mostre o que sentes.

Elena levou algum tempo para entender o que a mãe queria dizer. Ao fim de algum tempo de reflexão, pareceu mais aberta a encarar a sua vida com as rédeas nas mãos.

            --Como tua mãe, e uma mulher mais experiente, sugiro que voltes o mais breve possível para casa.

            --Mas ainda agora cheguei...

            --E vais voltar amanhã e assumir a tua vida com a garra que caracteriza nosso povo.

            --Sinto que fui longe demais...permiti que as coisas corressem soltas e no final...

            --Ainda não podemos falar de final. Não vais decidir nada por ela. Pode parecer mais cómodo, mas não é o que queres.

            --Eu não sei o que quero...

            --Sabes o que não queres e isso é mais do que suficiente.

Elena encarou-a com os olhos assustados.

            --Se eu disfarço tão bem, como é que sabes tanto?

            --Eu conheço esses olhos assustados, conheço a tua inquietação e desde que assumiste a tua vida adulta, não me lembro de nenhum rompante assim.

            --É uma escalada de emoções que me deixa sem ar e a ansia por mais uma lufada é revigorante...

Melina sorriu.

            --Faz sentido?

            --Todo. Precisas ouvir o que a Joy tem a dizer, correr os riscos necessários.

            --E se tudo correr muito mal, meu lugar no teu colo está garantido.

            --Sempre, ainda que tenhas 70 anos.

Sorrisos.

            --Quando regressas?

            --Amanhã, depois de almoçar contigo. Ainda não fizeste todos os meus pratos favoritos.

            --Mas é mimada essa minha menina.

Risos.

            --Obrigada, mãe. Tudo ficou mais leve...

            --E vai melhorar.

Abraçaram-se.

 

*****

Na terceira tentativa fracassada de falar com Milanka, Elena começou a sentir algo estranho no peito. A principio não ligou, mas à medida que o tempo passava, a sensação de aperto aumentava.

Tinha achado estranho o fato de Mykonos estar em casa e sem qualquer bilhete. Era hábito sim deixá-lo em casa, quando ela estava na iminência de voltar, mas nunca sem um bilhete.

            --Myk, sabes alguma informação da doida? Ela não costuma deixar-te aqui sem uma nota. E porque ela não me atende?

Uma leve sensação de ansiedade instalou-se na sua garganta.

Queria conversar com Milanka. Precisava saber se tinha acontecido alguma coisa durante a sua ausência. Estava a ser covarde, mas preferia pensar em prudência.

Depois de 10 minutos que lhe pareceram 10 horas, ligou mais uma vez para a amiga. Com sucesso.

            --Ah, não me mates de ansiedade criatura. Onde estás? - Disse fingindo irritação.

Do outro lado, não era Milanka.

A voz fria disse coisas sem sentido.

A cabeça de Elena rodopiou. O telefone caiu-lhe das mãos. O corpo entrou em colapso.

Gritou com toda a força dos pulmões. Assutado, Mykonos arqueou as costas.

Trémula e incrédula, desmoronou contra o chão de madeira da sala.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Olá,


Boa leitura e muito obrigada pelos comentários.

Nadine


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Comentários para 27 - Capitulo 27:
rhina
rhina

Em: 14/01/2022

Boa tarde.

Joy.....sendo Joy......em essência.

Mas o que será que houve com Myka???

Rhina

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mtereza
mtereza

Em: 02/04/2021

Adorei que a Joy se livrou do encosto que puxava ela para uma vida que só a fazia infeliz agora sim ela vai poder realmente viver e realizar os seus sonhos.

Preocupação com a Milanka está a mil.

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patty-321
patty-321

Em: 22/03/2021

Agora fiquei agoniada, o que ocorreu com a myka? Será o cara que irna se relaciona? Volta Nadi. Gostei da atitude da joy, mandou o inglês passear, só não entendi pq ela se sente culpada. A mãe da Elena e incrível. Bjs

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Unica
Unica

Em: 22/03/2021

Boa noite autora.....

Está estória me acompanha em minhas viagens diárias de trem pela marginal de são Paulo....sempre que está atualizada reservo exclusivamente para isto..... Me acalma a alma antes de iniciar meu dia no trabalho....rsrs 

Cuide bem da Milanka.....por favor.

 

 

Bjs

 

 

 

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Mille
Mille

Em: 22/03/2021

O que será que aconteceu a Malinka??

Melina colocou clareza na cabeça da filha, e Joy está na hora de mandar esse Willian para Arábia e ser feliz com quem te quer ver feliz.

Bjus e até o próximo 

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Xone
Xone

Em: 21/03/2021

Boa noite N.

E agora? Quando pensávamos que o pior já tinha passado, vem este final! Coisa boa não é.

Acho que o coração  da nossa Grega não vai ficar nada bem.

Uma coisa é certa, por aqui os niveis de ansiedade aumentaram.

Obrigadinha autora malvada! ????

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brunafinzicontini
brunafinzicontini

Em: 21/03/2021

Sorte grande de Elena poder contar com uma amiga como Milanka, que a salvou naquele momento difícil da aparição de William! Não fora isso, a pobre grega poderia desmoronar a olhos vistos. Paloma também desempenhou o mesmo papel de anjo junto à Joy. Situação mais constrangedora!

O inglês realmente se mostrou indigno de Joy. Que sujeito mais intragável? Até como simples parceiro de negócios deve ser indigesto. Joy não poderia tomar atitude diferente senão afasta-lo de sua vida. Ela deveria dar gritos de alegria por essa vitória e não cair naquele pranto.

Fiquei desolada com a atitude de Elena – fugir ao invés de lutar por seu amor! Mas entendo que isso é apenas projeção do que eu imaginaria ter como reação, o que é apenas uma suposição. Na vida real, as coisas são diferentes e, pensando bem, dá para entender a fuga da grega, buscando forças no colo da mãe, procurando um momento de tranquilidade para se encontrar. Felizmente, Melina conseguiu ter uma visão clara da história e conseguiu colocar bom senso na cabeça de Elena, levando-a a regressar e dar chance para que a inglesa se manifeste.

Mas nesse regresso, algo muito assustador deve ter aterrorizado Elena, deixando-nos com os nervos à flor da pele: o que terá acontecido com Milanka? Meu Deus, querida autora, não nos amedronte demais!

Espero que esteja se sentindo bem, cara Nadine, e que a semana lhe seja maravilhosa!

Beijos,

Bruna

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 21/03/2021

oxê suspense é esse.

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Lea
Lea

Em: 21/03/2021

Que capítulo tenso!   Está valendo esperar um mês por capítulos novos!

Melina é muito sábia!

Malinka está correndo perigo! Fiquei aflita com esse final

Responder

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diasana377
diasana377

Em: 21/03/2021

Continue a escrever, Nadine.  Ler suas histórias me faz sentir sensações indescritíveis. Um misto de emoções.

Eu só tenho a agradecer! 

 

Continue, e jamais pare!

Responder

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diasana377
diasana377

Em: 21/03/2021

Continue a escrever, Nadine.  Ler suas histórias me faz sentir sensações indescritíveis. Um misto de emoções.

Eu só tenho a agradecer! 

 

Continue, e jamais pare!

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libriana
libriana

Em: 21/03/2021

Boa noite a todas! Atualizei a história... e agora Nadine? Como vamos aguentar a ansiedade? Faz isto não mulher...

Espero q esteja bem

Bjs, 

Libriana

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