XIII. Tortura
XIII. Tortura
Ohana já imaginava que ao se expor estava correndo riscos, por isso, tentou ser cuidadosa, mas, ao mesmo tempo optou por usar da visibilidade midiática para acabar com tudo aquilo, não estava mais suportando toda aquela situação, tantos crimes sendo cometidos, mulheres sendo assassinadas brutalmente e as suas famílias enfrentando perdas truculentas. Como não tinha sofrido nenhuma ameaça, continuou atuando combatente, imaginando que não fosse passar por nenhum atentado contra a sua vida.
Ela tinha esperanças, de conseguir junto de Aisha colocar o assassino atrás das grades.
Quando foi raptada, além de sentir muito medo, lamentou por ter falhado na missão que vinha desenvolvendo, depois que foi tirada a força de dentro do táxi, tentou se debater e fugir, mas, foi em vão, deveria ter apreendido com a namorada algo sobre defesa pessoal feminina, queria tanto que ela estivesse ali para lhe ajudar, gritou alto, mas, em nada adiantou, ninguém apareceu para lhe auxiliar, percebeu que estava sem saída, quando teve a sua boca amordaçada, pés e mãos imobilizados.
No momento que o criminoso a colocou no porta-malas ela começou a chorar e rezar; pois, era só o que conseguia fazer, durante toda a investigação sabia que ele torturava as suas vítimas, sendo assim, não era possível se acalmar e a tortura com ela iniciou antes mesmo da violência física, já que ela tem trauma do acidente de carro que sofreu e por isso, tem dificuldade para pegar num volante e só de cogitar em fazer uma viagem já se preocupa se será de carro, pesquisa antes se o trajeto será sinuoso, com subidas muito íngremes ou desfiladeiro, priorizando ao máximo a sua segurança e evitando crises de ansiedade. Quando ele variava a forma de dirigir, ela sabia que era de propósito para deixa-la ainda mais atormentada, em alguns trechos ele andava devagar, em outros momentos em alta velocidade, ignorando lombadas, fazendo com que ela fosse jogada de um lado para o outro, neste momento o seu psicológico começou a ficar afetado, a forma descontrolada dele dirigir a fez reviver todo o acidente, parecia que ela estava ouvindo novamente os gritos dos amigos que tinham falecido, quando ele fazia alguma curva com total descuido, ela se apavorava lembrando da Serra do Mar, ter seu corpo balançando muito, até sendo sacudida, sentiu falta de ar, moleza e ânsia. Já imaginava que a qualquer momento ele perderia o controle da direção, pensava que não teria a mesma sorte de sobreviver e morreria da mesma forma que seu casal de amigos. Quando finalmente ele estacionou voltou a si, notou que não estava passando por nenhum outro acidente, todavia, estava na posse de um assassino, queria que fosse só um pesadelo, logo que foi capturada já sabia que ele a trataria como se ela fosse um bicho asqueroso e estava com muito medo de ser mais uma vítima de feminicídio.
Ao ter seus sapatos retirados a força, já sabia porque ficaria descalça, ele tinha um destino para o seu calçado, faria parte da coleção macabra que ele tinha lhe mostrado. O que ela não sabia, que Aisha e Bruno descobriram por intermédio dos diários, era que ele também escrevia e ele o fez durante horas. Deixou ela amarrada deitada em um sofá, se acomodou em uma escrivaninha e ficou redigindo em uma caderneta preta, logo ela percebeu que ele estava escrevendo sobre ela, já que a observava e tomava nota.
Conforme o tempo em cárcere privado foi passando, a jornalista foi ficando ainda mais inquieta, resmungando, esperneando, se debatendo e acabou caindo do sofá.
- Não me irrite, respeite o meu momento de escrita, você também escreve, então sabe o quanto o silêncio é importante. Ainda não é hora de te dopar, então deixe de gracinha. Já que não se comportou, vou te deixar no chão mesmo, não quero que você se machuque sozinha, essa honra é toda minha (disse Gaspar com total intransigência).
Até a voz dele era detestável e assustadora. Ohana passou a madrugada jogada no chão gelado e apesar de cansada nem mesmo cochilou.
- Pronto, escrevi tudo o que queria sobre você e já registrei como te matarei.
Afirmou se levantando e se aproximando dela que rapidamente se encolheu.
- Fique em paz, não vou te matar agora, ainda tenho que me divertir muito, comigo é tudo como dizia Jack, o estripador, vamos por partes (contou sorrindo).
Ohana apavorada com o que tinha acabado de ouvir, novamente tentou se desprender, mas, sem sucesso. Mesmo com ela se debatendo toda, ele segurou firme em suas pernas, a arrastou até um quarto, jogou ela em cima de um colchão pequeno que estava no chão e a acorrentou pelo pescoço bem rente à parede.
- Eu sempre aviso que nem adianta tentar fugir, é impossível, todas já até tentaram e você bem sabe o desfecho delas. Nenhuma presa minha consegue escapar de mim, nem adianta também implorar para dormir comigo naquela cama ali, vocês não são dignas.
Ohana queria estar sem a mordaça para esbravejar, dizer que jamais imploraria e que preferiria morrer logo. Ele começou a se despir e ela virou de costas, temendo ser violentada por ele, respirou mais aliviada quando ouviu ele se distanciar e ligar o chuveiro. Tentou se soltar, mas, infelizmente ele tinha razão, era impossível. Quando ele deixou o banheiro nada disse, deitou e logo começou a roncar.
Em uma prece ela agradeceu por ele ter adormecido, estava com muito medo de sofrer abuso, foi então que ela lembrou dos documentos e dos boletins de ocorrência que teve acesso. Ela tinha consciência sobre tudo que aconteceria. Recordou de Aisha dizendo:
"Laudos do legista apontaram sobre os requintes de crueldade e perversões de cunho sexu*l*".
Ela não conseguiu pregar o olho, viu a claridade entrando pela janela e nem imaginava o que aquele dia reservava para ela. Ficou revisitando cada caso trágico, toda aquela situação a deixou com insônia. As outras mulheres não sabiam ao certo tudo que enfrentariam, enquanto a jornalista sabia de cada detalhe e tudo aquilo a torturava ainda mais, cada instante era ainda mais amedrontador, já sentia sororidade quando escrevia sobre cada vítima, agora estava sentindo na pele tudo que elas passaram.
Gaspar dormiu muito bem, tinha como objetivo descansar bastante para ficar animado para executar bem todo o seu plano, sempre agia desta forma, capturava, passava horas escrevendo e arquitetando tudo, em seguida tomava um bom banho e dormia no mínimo oito horas seguidas, sem nenhum peso na consciência. Ao acordar olhou no relógio.
- Já são três horas da tarde. Já passou da hora de levantarmos. Tenho que me alimentar e começar a desenhar, levo horas elaborando minha obra de arte e ainda farei teu mapa astral, revelando assim todos os seus defeitos.
Ohana sentiu muita preguiça, ranço e asco em ouvir tudo aquilo. Ela estava com vontade de o matar com as próprias mãos. Ele deixou o quarto sozinho, minutos depois ela sentiu cheiro de café e ovo frito. O infeliz fez questão de comer pão com ovos mexidos na frente dela e bebericar de uma boa xícara fumegante, enquanto ela ouviu a sua barriga roncar e teve a mordaça retirada pela primeira vez da sua boca.
- Não vou te alimentar, nem se você pedisse, já fui caridoso certa vez, dei água para a ariana que estava com sede e ela teve a coragem de cuspir na minha cara, não imaginava que ela seria capaz de tamanha falta de educação, por culpa dela que vocês ficam sem nada. Então nem adianta me culpar.
- Você sempre culpa as vítimas, quando na verdade a culpa é toda sua, que é um homem tão ruim, um lixo de pessoa, desumano e assassino. Elas não fizeram nada contra você, nem mesmo te conheciam e você as matou.
- Odeio vocês e sei que não merecem viver.
- Você não é Deus para decidir quem tem que viver ou morrer.
- Não vou perder meu tempo falando com você, tenho tudo que eu quiser, inclusive gosto de torturar e matar quem merece. Já pode começar a se desculpar por todos os seus pecados, sua impura.
- Nojento, maldito, asqueroso, psicopata, infeliz, mal amado...
Gaspar raivoso lhe deu um chute na barriga, que a fez ver estrelas, voltou a amordaçar Ohana e novamente a colocou no sofá da sala, desta vez ela ficou quieta deitada, não queria cair outra vez no chão e estava com dor. Ele apanhou algumas sulfites, ficou por longas horas fazendo o mapa astral dela, quando errava reclamava, jogava a folha no lixo e em seguida voltava a se concentrar. Ele escrevendo ou desenhando, até parecia uma pessoa normal, mas, ela bem sabia que se tratava de uma pessoa muito perigosa, já até desconfiava que tudo aquilo que ele estava fazendo não era em vão, fazia parte do plano doentio dele e ficava nervosa só de imaginar seus próximos passos.
Quando estamos em situações delicadas é comum pensarmos no pior, ficamos apavorados e no caso de Ohana é ainda mais complicado, já que ela fazia parte de toda a investigação e sabia sobre o modus operandi do assassino do Zodíaco. Toda aquela espera era agonizante, com um misto de sentimentos, pensando que a única certeza era a morte iminente, porém, com toda aquela demora dele, cogitava que Aisha pudesse a encontrar. Em certos momentos, muito entristecida pensava que a loira só a encontraria sem vida, assim como tinha acontecido com as outras mulheres que também tinham sido torturadas e assassinadas por Gaspar.
Mais uma noite estava se passando, além de sentir fome e sede, seu corpo estava todo dolorido, devido a tensão, muitas horas amarrada e o golpe em seu abdômen. Lembrou de quando esteve na primeira cena de crime e viu o corpo da vítima todo machucado, o dela já estava começando a ficar desta forma e a tendência era só piorar.
- Finalmente finalizei, agora vou beber um whisky caro que ganhei de um cliente e reservei para quando estivesse contigo, se você merecesse te convidaria para beber comigo, mas, não gostei de nada que escreveu ao meu respeito.
Ohana se arrependeu profundamente por ter escrito sobre ele, naquele exato momento entendeu que foi por intermédio dos textos que ela publicou que se tornou alvo.
- Me divirto em pensar que a sua mulherzinha deve estar me odiando, mais do que já odiava, ela demorou tanto para descobrir quem sou. Inspetora incompetente. Nunca desconfiou da minha identidade. Desta vez fiz questão de deixar digitais, mas, a polícia demora muito para investigar, quando chegarem até aqui você já estará morta e eu bem longe. Só voltarei quando a poeira baixar, para matar uma pisciana, é isso mesmo que você entendeu, vou matar a investigadora também, ela será a décima segunda vítima.
A morena voltou a chorar, ele realmente pensava em tudo, já até sabia que a Aisha é de peixes, também tinha em mente matá-la, só ainda não tinha o feito, pois, seguia a ordem dos signos.
- Bem, você é a oitava, em outro estado encontrarei outras três. Deixa eu te contar, é bem fácil encontrar vocês, sou detalhista, gosto de analisar cada fator, nas redes sociais descubro os signos e assim fico cheio de opções, seleciono quem mais me interessa, sigo até alguma loja de calçados como foi o teu caso, ou então encaminho alguma mensagem dizendo que a escolhida foi contemplada para ganhar um sapato de determinada marca, assim consigo identificar a numeração. Adoro essa caçada.
A jornalista não fazia ideia que tinha sido seguida e muito menos que era este o método dele. Se culpou por não ter compreendido, assim teria salvo a vida da Daiana, a poupado de tanto sofrimento. Como se tivesse lendo o pensamento dela, ele continuou:
- A tua colega de trabalho, foi uma das mais novas que capturei e uma das mais bravas, ela tinha tanta raiva que foi a que menos chorou, ela tinha ódio no olhar, aquela com certeza queria me esquartejar, enquanto outras se entregam rápido para dor, desistem da vida, desmaiam fácil, ficam depressivas e com o passar das horas até inertes, a menina lutou até o fim, tinha sede de viver, acho que foi a mais difícil de matar, por isso, fiz até questão de fotografar.
Ohana chorou compulsivamente, Daiana não merecia, era tão nova e tinha tanto para viver. Lamentou muito e lembrou da dor que foi saber da sua perda. Ficou ainda mais entorpecida quando sentiu uma agulhada e deu um pulo.
- Relaxa, é só para você ficar calminha, não vou permitir que você atrapalhe enquanto faço a minha obra de arte.
Afirmou mostrando para ela uma faca, do mesmo modelo que ela sabia que ele já tinha usado antes nas outras mulheres e abandonado na cena do crime. A diferença era que desta vez ele não usava luvas, não estava mais preocupado em manter sigilo, ele estava feliz se vingando da jornalista e da investigadora que ousaram seguir seus rastros.
Ohana estava sentindo moleza e não estava com total domínio sobre o seu corpo, mas, conseguia ouvir tudo o que ele dizia e já imaginava que não estava totalmente dopada, pois, ele queria ter o prazer de fazer ela sentir dor.
Gaspar a colocou deitada sobre uma mesa de madeira, usou o mesmo modelo de corda que ela já tinha visto enrolada no pescoço das outras vítimas, para imobilizar completamente seus braços e pernas, prendendo junto aos pés da mesa. Com a faca cortou primeiro a sua calça e depois fez o mesmo com a sua blusinha, deixando-a apenas de peças íntimas. Embaixo da sua cabeça colocou dois travesseiros, não com o objetivo de deixa-la confortável, mas, sim para que ela pudesse ver a gravura que faria em sua barriga, desenho este que ela sabia que não era aleatório e que tanto tinha lhe instigado durante as investigações. Descobriu que ele não desenhava rapidamente, tinha todo um processo de tortura, ele parava por diversas vezes enquanto bebia e narrava questões de astrologia. Quando ele terminou de citar algo sobre o horóscopo e compatibilidade amorosa, pegou seu aparelho celular e fez uma ligação. Ela estava muito zonza e demorou para entender para quem era a chamada. Na hora que ele colocou o celular em seu ouvido e retirou a sua mordaça tudo o que ela conseguiu dizer com voz chorosa foi o nome da amada e em resposta ouviu:
- Sim meu amor sou eu.
Depois ele ficou ainda mais descontrolado, fincou a faca na mão direita dela que gritou. Ohana estava sentindo dor excessiva, vertigem e acabou desmaiando.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Vanderly
Em: 10/07/2021
Aí! Quê horror!
My God!
Que sujeito mais asqueroso! É um doente.
É triste imaginar que existe monstros assim por aí.
Tomara que a Aisha chegue a tempo.
Beijos!
Vanderly
Resposta do autor:
Pior que existe né a gente ouve cada coisa cabulosa e são tantas notícias tristes, tem de tudo nesse mundão, tem coisa que é tão horripilante que parece mentira. Muito asqueroso mesmo.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 21/03/2021
Misericordia
Resposta do autor:
Define bem este capítulo. Boa semana!
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Mille
Em: 21/03/2021
Aí May que isso mulher
O próximo capítulo sai que horas hoje??? Kkkk
Ohana vai sofrer muito, espero que a investigadora consiga chegar logo.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Mille, puxado né bem que eu queria, mas, não consigo dar conta, estou com a mente a mil, mas, pretendo conseguir postar logo o próximo. Beijocas e boa semana!
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