Primeiro
Laura decidiu buscar Iori na academia na semana seguinte, mais uma vez notando que ela tinha ficado até tarde. Já era noite e chovia, não havia ninguém além de Leon, um dos donos do local, que fechava as janelas. Ela já o conhecia das vezes que ia buscar a companheira, e ele não fez rodeios em a deixar subir as escadas, em direção a música no andar superior. Encontrou Lana com as costas viradas para si, sentada no centro da sala, alongando as pernas. Não encontrou Iori na sala, considerou se virar e ir embora, mas sabia que não conseguiria esconder sua curiosidade por muito mais tempo, por isso tirou os sapatos e se aproximou, atraindo a atenção da mulher quando parou ao seu lado.
—Oh, Laura. Boa noite. — Sorriu, deixando claro seu cansaço. — Veio atrás de Sasaki?
—Também.
—Ela acabou de entrar no vestiário para tomar banho lá embaixo. Se for atrás dela eu finjo que não vi nada.
—Num vestiário? — Laura riu, sentando-se de frente a ela. — Não vou dizer que já não pensei nisso.
—Ainda tem tempo.
—Não, Iori não gosta de ambientes públicos. E eu acho que tínhamos algo para resolver.
—Então veio querer saber a história?
—Não. Vim saber se há algo que eu possa fazer para melhorar sua condição. É seu meio de trabalho, você não devia estar sentindo dores.
—Não é como se tivesse sido você quem quebrou meu osso, querida. Por que essa preocupação? — Lana sorriu, sem se incomodar, pousando a mão sobre seu joelho.
—Eu não sei. Eu só me sinto responsável.
—Está bem, vai te fazer sentir melhor se eu te deixar fazer algo?
—Talvez. O que quer que eu faça?
Lana se levantou e estendeu a mão para ela, que fez o mesmo. A mulher habilmente deslizou os dedos para os ombros de Laura, uma mão oferecendo uma caricia em seu rosto enquanto olhava seus olhos castanhos de perto, para a sutil confusão e a hesitação decorrente.
—Dance comigo.
—E como isso vai te ajudar?
—Eu não sei, mas provavelmente vai me ajudar a tirar essa ruga de preocupação se perceber que não estou em sofrimento.
—Não está?
—Dance comigo. — Repetiu. — E vai descobrir.
Laura suspirou, mas sabia que tinha buscado por aquilo. Envolveu a cintura da professora e a puxou para perto, deixando-se ser guiada pela pista que a mulher conhecia de olhos fechados. Lana não seguiu o ritmo agitado da música que ainda tocava no ambiente, fez dos movimentos lentos e equilibrados algo natural e envolvente, mantendo os olhos de Laura vidrados em si. Não encontrou resquício de dúvida quando terminou a música no próximo minuto, mas encontrou a curiosidade e o sorriso alegre dela.
—Vê? — Indagou enquanto se afastava um passo. — Nada para ter uma ruga de preocupação num rosto tão bonito.
—Tem razão. Isso, ou está tentando me convencer a ter aulas com você.
—Não me pareceu que precise de aulas.
—Vindo de uma professora, estou chocada.
—Não deveria. Você e Sasaki formam um bom casal para dançar. Deviam participar juntas um dia aqui. — Falou enquanto se afastava de volta aos bancos, pegando sua toalha para secar o suor no rosto. — Leon dá aulas para casais domingo e quarta. Normalmente os casais trazem os filhos nesses dias, são os dias que trabalho no projeto com os pequenos.
—Então você também ensina crianças? — Laura ainda a seguia, interessando-se na ideia.
—Sim. São oficinas de dança. — Ela pegou a bolsa de ginástica e gesticulou para que Laura saísse antes de desligar a música e apagar as luzes, trancando a porta. — Consegui trazer o patrocínio que tinha em Nova York para continuar o projeto aqui. Assim consigo trazer as crianças mais pobres para terem algo com o que se ocupar. Mas as doações também ajudam. O público nessa região costuma ser bastante participativo em relação a isso, não tenho do que reclamar.
Conforme avançavam no corredor, Lana entrava nas salas e fechava janelas, apagava luzes e trancava as portas. Laura se prontificou a fazer o mesmo, alternando-se nas tarefas com naturalidade que fez Lana agradecer pela diminuição do trabalho.
—Queria poder ver isso, adoro trabalhar com crianças. — Laura falou quando chegaram na última porta.
—Sasaki chegou a comentar do seu trabalho uma vez. Quem sabe um dia não consiga levar um pouco de dança para o seu hospital? — Lana sorriu com a ideia, entrando na última sala e atravessando o cômodo para fechar as janelas.
—Você acaba de dar uma excelente ideia. — Laura a seguiu, puxando uma das janelas para fechá-la. — O que preciso fazer para isso acontecer?
—Ver se o hospital aceita a parceria com a academia de dança, para começar.
—Isso é fácil.
—Então é só sentar e pensar em como isso aconteceria. Qual o público que estaríamos atendendo para poder planejar as atividades.
—A maioria que atendo estão internadas, então seriam atividades mais educativas que não exija muito delas. — Laura parou de frente para Lana, que notou o brilho animado em seus olhos, que a fez sorrir contente.
—Certo. Então eu teria que arranjar mais alguém para trabalhar comigo aqui para dividir a carga, além de reunir os chefes para acatarem a ideia se seu hospital concordar.
—Mas ainda seria você a aplicar o projeto lá, não é? — Laura pousou a mão no seu ombro, pressionando sutilmente enquanto a olhava. — Já que teve a ideia, nada mais justo que fosse você.
—Se faz questão, claro, eu posso ir. Se tudo for aprovado.
—Será, eu tenho certeza.
—É bom te ver animada assim. — Lana segurou sua mão, acariciando. — Você tem um sorriso lindo para quem sempre fica tão séria. Ao menos, sempre que vem aqui.
—Não é minha intenção. Mas não consigo ficar confortável se sei que alguém não está.
—Se te alivia a consciência, em breve farei uma última cirurgia para corrigir o erro em minha perna. Então não haverá mais dor.
—Então houve um erro?
—Eu sofri um acidente de carro quando era jovem, a primeira cirurgia não foi bem feita, a prótese que colocaram para ajustar o osso acabou causando alguns danos no suporte da perna. — Ela passou a outra mão sobre a cicatriz na coxa. — Eu acabei deixando o tempo passar, não tive tempo nem condições para fazer outra cirurgia até o começo desse ano, quando fui atropelada e a prótese foi destruída definitivamente. Colocaram uma provisória, mas agora tenho que consertar isso de verdade para não ter problemas com minha coluna.
—Uau. — Laura deixou escapar, surpresa com a história. — Você sempre teve essas dores então.
—Não. A dor começou depois desse último acidente. Tentaram me dar uma alternativa para não ficar tanto tempo imobilizada, mas minha perna precisa de algo definitivo para funcionar devidamente agora. — Lana acariciou os dedos dela que ainda segurava. — Como eu disse, nada com o que devia estar se preocupando.
—Talvez. Ainda assim saiba que posso e quero ajudar no que precisar. Mesmo que seja para fechar janelas.
—Isso foi realmente muito útil. — Lana riu.
—Vê? Bem melhor ver um sorriso na sua boca do que te ver séria por causa de dores. — Laura usou a outra mão para levar ao rosto da mulher, acariciando sua bochecha com o polegar enquanto sorria. — Você é bonita demais para não estar sempre sorrindo.
—É só ter um bom motivo. — Ainda sorrindo ela afastou suas mãos. — E um bom motivo para não tirar outros sorrisos, não acha? Você não veio buscar Sasaki?
—Você tem razão, achei que ela teria voltado aqui em cima depois do banho. Espero que Leon tenha avisado que estou aqui.
—Ah, sim, ele sempre avisa. — Ela voltou a pegar a bolsa de ginástica no chão, caminhando em direção a saída.
—Então sem motivos para Iori não ficar contente. Ela ficaria feliz em saber que estamos nos dando bem agora.
—Você entendeu onde quis chegar, senhorita.
—Sim, e mantenho minhas palavras. — Ela saiu da sala, esperando que a porta fosse trancada.
—Eu gosto de Sasaki. — Lana falou devagar. — Se ela fosse estar contente, por que está fazendo essas coisas sem ela estar aqui? — Suspirou, voltando a olhá-la.
—Eu não estou fazendo nada de errado. — Laura sorriu, erguendo as mãos na defensiva, percebendo que Iori subia as escadas.
—Como eu disse, gosto de Sasaki, não faça essas coisas de novo.
—Oh, uma declaração. — Iori parou ao lado dela, inclinando-se para beijar sua bochecha. — Essa tola está te incomodando? Eu vou ensinar uma lição a ela.
—Eu sou tão inocente quanto você. — Laura ainda sorria, inclinando-se para selar seus lábios enquanto os dedos envolviam seus cabelos molhados. — Cheiro doce, querida. — Comentou, aspirando o aroma dos seus cabelos então descendo para o seu pescoço. — Doce, mas não é ruim. Trocou de perfume?
—Só se Lana estiver pensando em me dar um presente. — Riu descontraída, envolvendo os dedos na nuca da companheira para olhar em seus olhos, buscando entender o clima diferente que encontrou entre ela e sua professora. — Ela me emprestou algumas coisas para tomar banho. Gostou?
—Lana tem bom gosto. — Laura voltou a beijar seus lábios, demorando-se por um momento a mais.
—Nisso concordamos. — Iori virou-se, sentindo as mãos de Laura envolverem sua cintura. — Obrigada por emprestar, professora. Espero que não se incomode com o perfume, mas achei tão bom.
—Não se preocupe com isso. — Lana olhou entre ambas, cruzando os braços. — Eu tenho que fechar o resto das coisas aqui antes que Leon venha reclamar. Acho que hoje passei mais que o habitual do horário. Então acho que nos encontramos na próxima semana, Sasaki.
—Ah, minha culpa dessa vez. Deixe-me ao menos te compensar pelas horas extras. Jante conosco.
—Você não precisa me compensar por nada. Estou aqui para isso, lembra?
—Mesmo assim. Seria bom ter você como convidada. Ao menos para conversarmos. Laura saber fazer pratos incríveis.
—Ela está certa, será bom sentarmos e aproveitarmos uma boa conversa. — Laura apoiou o queixo na cabeça de Iori. — Venha jantar conosco, Lana. Relaxar um pouco.
—Eu não quero atrapalhar. — Lana mordeu o interior das bochechas, pegando o celular no bolso e percebendo a pouca bateria. — E eu ainda tenho que tomar um banho.
—Nós esperamos. — Iori insistiu. — Só um jantar, amor, juro que vai acabar se divertindo.
—Está bem, se faz questão. Eu só tenho que avisar Daphne que chegarei mais tarde.
—Oh, namorada ciumenta? — Laura perguntou em tom de provocação.
—Daphne? É aquela garota que sempre está aqui, não é? — Iori estreitou os olhos enquanto tentava lembrar. — Ela é sua irmã?
—Não, não. — Lana sorriu, gesticulando para que descessem as escadas primeiro. — Digamos que ajudei a criar desde que nasceu. Mora comigo enquanto a mãe trabalha. Normalmente ela que me busca desde que mudamos para Chicago.
Elas desceram as escadas, o casal se manteve na entrada para o estacionamento enquanto Lana seguiu para o vestiário. Tão logo ficaram a sós, Iori pressionou os dedos no abdômen da companheira, que riu baixo, segurando suas mãos e inclinando-se para a beijar. Recostou na parede, deixando-se ser observada pelos olhos afiados da oriental enquanto envolvia seu rosto e acariciava suas bochechas.
—O que mudou? Achei que não estivéssemos procurando diversão com minha professora. — Iori resolveu questionar, baixando o tom. — Não que eu esteja reclamando, ela é adorável e eu a acho sexy.
—Não estou buscando diversão. Mas quero conhecer sua professora melhor. Depois quem sabe? — Sorriu, apertando sua bochecha.
—E o que aconteceu lá em cima? Eu ouvi vocês conversando, mas não queria interromper.
—Nós dançamos, ela me falou dos acidentes, acabamos descobrindo algumas coisas em comum. Achei que podíamos descobrir mais coisas.
—Então não é só diversão, afinal. — Iori acabou sorrindo. — Estamos disponíveis para mais uma pessoa então?
—Que tal não pensarmos nisso e ver o que acontece?
—Sem sequer saber se ela está interessada em nossa relação?
—Talvez se deixarmos as coisas fluírem ela acabe interessada.
—Está bem, vamos tentar assim.
—Vocês viram Lana? — Leon perguntou detrás do balcão da recepção, com o celular em mãos. — Daph está querendo saber se ela vai demorar, acabou de pedir pizza. Parece que o celular dela está desligado ou sem sinal.
—Ela está no vestiário. Mas eu vou chama-la. Deve ter terminado já. — Iori sorriu para Laura, que abriu a boca para impedi-la, mas somente balançou a cabeça, deixando que fosse, sabia o que ela queria ver.
Iori seguiu o caminho de volta ao vestiário, não ouvindo o som do chuveiro, julgando que ela já tivesse terminado o banho. Mas a encontrou de costas, parcialmente vestida, momento que aproveitou para admirar suas nádegas arredondadas e a tatuagem acima, as marcas tribais escuras que subiam toda a sua coluna num traçado grosso, enquanto outros traços mais delicados riscavam sua pele como plumas. Não formava uma figura, mas havia um padrão. Acima das nádegas havia um padrão mais circular, e para isso ela sorriu, mordendo o lábio antes de perceber que Lana a olhava sobre o ombro.
—Espero que tenha aproveitado. — Ela falou calmamente, vestindo a calça.
—Muito. Sempre quis saber onde terminava a tatuagem.
—Agora que sabe, o que está fazendo aqui? — Ela se virou e vestiu a camisa, os olhos estreitos em sua direção. — Ou há algum acordo secreto entre vocês duas para me testar hoje? Porque devo te alertar, Sasaki, eu sei quando estou sendo testada, e não gosto que esteja fazendo isso.
—Por que estaríamos testando você, querida?
—Eu não sei, e não me interessa. Pare com isso. — Ela manteve o tom baixo enquanto guardava os objetos na bolsa de ginástica, mas deixou claro o desconforto.
—Sinto muito se passamos essa impressão, mas a única coisa que queremos é conhecer você.
—Conhecer? — Ela riu, sem acreditar, voltando a olhá-la. — Sou muitas coisas, mas não idiota. Eu sei o que está fazendo aqui.
—Lana, pare com isso. Estou falando a verdade. — Iori se aproximou, buscando por sua mão. — Desculpa vir aqui assim.
—Você não tem com o que se preocupar, eu vi como me olhou lá em cima.
—E como eu te olhei?
—Está tudo bem querer defender seu espaço. Mas não precisa me testar. Eu não farei nada com você ou com sua mulher.
—Do que está falando?
—Por favor, Sasaki. Você deixou claro que estava com ciúmes de Laura lá em cima. Não precisa vir aqui deixar as coisas claras. Eu já entendi.
—Ciúmes de Laura? Eu? — Iori sorriu, incrédula. — De onde você tirou isso?
—Você nunca age com ela da forma que agiu hoje, Sasaki. Mas como eu disse, tudo bem defender seu espaço. Não precisa me testar para saber se algo está acontecendo, porque não está. E nem vai. — Ela soltou a mão de Iori e se afastou, passando por ela para sair do vestiário.
—Lana, ei, espere. Você está entendendo errado. — Iori a seguiu, segurando seu braço tão logo saíram do vestiário, colocando-se a sua frente para ter sua atenção. — Por favor, me escuta.
—Você não tem que me explicar nada. — Suspirou, mantendo a calma enquanto a olhava. — Qual é, Sasaki, você me conhece, ao menos um pouco. Nunca deslizei na linha com você mesmo com todas as suas aberturas.
—Eu sei que não. Sei que você não faria nada.
—Então por que continuo com a sensação de que estou sendo testada? — Ela voltou a suspirar quando não obteve uma resposta. — Pare com isso está bem? Não precisa me chamar para ir em sua casa para ver se cometo algum erro. Se sente que precisa disso, acho melhor mantermos as coisas aqui dentro da academia. É mais simples.
—Não diga isso. — Iori se surpreendeu com a própria súplica, mas não a retirou.
—Então não faça mais essas coisas. Nunca te dei motivos para achar que faria algo a ponto de ter ciúmes de sua namorada. — Lana ofereceu uma sutil caricia em sua bochecha. — Nos vemos semana que vem.
Iori abriu a boca para insistir, mas teve que admitir a derrota. Lana buscou por Leon, somente acenando em despedida para Laura enquanto seguia para o interior da academia. Laura estreitou os olhos para a companheira quando essa se aproximou lentamente, em pleno desânimo.
—O que você fez? — Perguntou com desconfiança, mantendo o tom leve enquanto segurava seu rosto.
—Ela achou que eu estava com ciúmes de você.
—E você estava?
—De você? Não, querida. Mas ela achou que sim, então achou que estava usando o jantar para marcar território sobre você.
—Oh. Então estava com ciúmes dela. — Laura sorriu quando Iori corou em plena frustração por ter sido descoberta. — Você gosta dela. — Constatou, sem esperar por uma confirmação. — Não sabia que estavam tão próximas.
—Eu gosto de conversar com ela, é só isso. É fácil falar com ela. Mesmo agora, com ela achando que eu estava bancando a louca ciumenta, ela agiu naturalmente. Mas acho que estraguei tudo, mesmo nossa amizade.
—Oh, querida. — Ela a abraçou, acariciando seus cabelos molhados. — Vamos dar espaço a ela, depois nós tentamos conversar.
—Está tudo bem para você? — Iori inclinou a cabeça para espiar seus olhos.
—É uma surpresa, só isso. Você sempre demorou mais para se envolver com outras pessoas. Eu devia ter prestado mais atenção, também. — Sorriu. — Mais um pouco e eu te perdia para a professora. Agora tenho tempo para te levar para bem longe.
—Nossa casa é perto daqui, tonta. — Iori riu, mais relaxada. — E você é insubstituível.
—Você também. Vem, vamos para casa. Estou com fome.
—Você sempre está.
Laura não esperou até o final da semana para procurar por Lana na academia, tendo que insistir por algum tempo para convencê-la a falar consigo. Foram para um café próximo, durante o horário de almoço, ainda que Lana tenha pedido somente um suco para deixar claro que não estava dando muito tempo para ela falar.
—Sasaki sabe que veio aqui? — Questionou com olhos estreitos.
—Suas namoradas sempre souberam onde você estava o tempo todo? — Laura revidou, sorrindo ao fim quando não obteve resposta. — Não se preocupe, Lana. Eu só vim aqui para explicar o mal entendido. Iori não estava feliz todos esses dias por causa disso, e ela não está na cidade esses dias, ou tenho certeza que ela teria procurado você.
—O que há para ser explicado?
—Detalhes importantes que poderíamos ter explicado melhor se tivesse nos dado a chance.
—Por exemplo?
—Iori e eu somos adeptas do poliamor. — Para isso Lana estreitou os olhos, mas acabou recostando na cadeira, entendendo. — Então não, eu não estava fazendo nada que Iori não estivesse de acordo naquela noite.
—Oh, por Deus. Por que eu não pensei nisso antes? — Ela apoiou a testa na mão, buscando absorver os fatos.
—Não é algo comum para se pensar. Você tinha razão de pensar o que acabou pensando. — Laura se inclinou na pequena mesa e segurou seu braço, atraindo de volta os olhos azuis para si. — Devo assumir que agora você entende um pouco melhor minha relação com Iori?
—Sim. Digo... Mais ou menos? Eu já me envolvi com um casal antes, mas era só sex*. É o que estavam querendo? Me chamando para jantar com vocês naquela noite?
—Não. — Ela deslizou a mão pelo pulso até envolver seus dedos, espalmando suas mãos. — Realmente queríamos te conhecer melhor, fora dos seus trajes de professora.
—Por que?
—Há alguns anos Iori e eu estávamos juntas com outra pessoa por algum tempo até que ela foi embora. Ficamos arrasadas com isso e paramos de tentar ter outra pessoa entre nós. — Sorriu quando sentiu o pressionar dos dedos de Lana nos seus, em busca de confortá-la. — Há alguns meses decidimos tentar de novo, buscando num aplicativo, mas nada deu certo. Então paramos de procurar, talvez não fosse para encontrarmos ninguém lá, até que Iori voltou a fazer dança. E se não percebeu, ela também não percebeu, mas está caindo por você. Então pensamos, por que não tentar?
—Oh, Deus... Sasaki? Digo... sim, ela não perde uma oportunidade de me provocar para ver se faço algo. Mas nunca pensei dessa forma, porque ela tem você, e vocês sempre parecem conectadas uma à outra.
—Imagino que pareça assim. Iori e eu estamos juntas há muitos anos, temos uma relação sólida. Mas você balançou algo dentro dela, admito que me surpreendeu. — Laura sorriu, sem desviar os olhos. — Iori sempre se manteve distante, sempre demorou mais para se entregar. Mesmo comigo.
—Mas não comigo. — Definiu, Laura somente assentiu antes que ela desviasse o olhar para pensar, baixando suas mãos unidas na mesa. — Ela sempre foi leve comigo. Achei que fosse natural.
—Não é forçado, eu posso garantir. Talvez você tenha atraído esse lado nela que nem mesmo ela tenha conhecimento. Agora o que quero saber é se isso é retribuído de alguma forma.
—Retribuído? — Lana voltou a estreitar os olhos ao olhá-la outra vez. — Eu não sei. Como eu disse, nunca parei para olhar para ela além de uma mulher comprometida. Havia os flertes. Mas... — Ela suspirou, deixando a frase morrer, mordendo o interior das bochechas. — Eu gosto de Sasaki, só não tive a chance de olhar isso além.
—E você quer aproveitar a chance de fazer isso agora?
—Sasaki quer isso?
—Acha que eu estaria aqui te explicando tudo se ela não quisesse? — Laura sorriu. — É como eu disse, se ela não estivesse fora da cidade, ela teria arranjado um tempo para te procurar. Você não precisa pensar se quer começar uma relação agora, só me diga se podemos ter esperanças.
Lana tomou um gole do suco, inflando as bochechas enquanto respirava fundo. Sentia-se surpresa com as informações, mas sobretudo sentia-se lisonjeada por ter alguém como Iori a querer investir num relacionamento com ela. Olhou para Laura, que até então só tinha se mostrado séria e preocupada, mas encontrava ternura em seus olhos agora. Acabou sorrindo, erguendo suas mãos e levando aos lábios, beijando entre os dedos de Laura.
—Sim, vocês podem ter esperança. Nós podemos tentar.
—Isso é um alivio. — Laura respirou mais devagar, rindo sutilmente. — Confesso que me deixou preocupada por um momento.
—Você é sempre preocupada assim?
—Não.
—Oh, então te deixo preocupada?
—Eu me preocupo com você, sim.
—Então espero ter a chance de te fazer sentir outras coisas.
—Não vou te impedir. Temos um encontro sábado?
—Claro. Só não diga tudo a Sasaki. Eu quero ouvi-la também.
—Que você concordou? — Laura riu sutilmente. — Ela volta hoje à noite, são dois dias que ela vai me pressionar para saber o que aconteceu.
—Eu sei que você consegue aguentar dois dias. É por um bom motivo.
—Eu posso tentar. — Laura imitou seu gesto e beijou sua mão. — Te vejo em breve, professora.
Fim do capítulo
Pessoal, cheguei a conclusão de que mudarei o nome da história e a capa :D estou trabalhando em duas opções, então até o próximo capítulo eu terei mudado. ahahaha
Será que eu faço votação? Eu gostei das duas :D
Deixarei o link de cada uma na minha conta do pinterest, se alguém tiver interesse e quiser me contar qual preferiu, vou adorar suas opiniões ;D
Capa 01: https://br.pinterest.com/pin/644718502905971978/
Capa 02: https://br.pinterest.com/pin/644718502905971970/
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