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Meus pedaços por Bastiat

Ver comentários: 8

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Palavras: 4098
Acessos: 2748   |  Postado em: 13/02/2021

Dia D

 

Helena

 

    O que era amanhã, virou hoje. A última mensagem foi recebida há mais de um mês. Tudo o que vivi e revivi durante esses dias está dentro dessa caixa. Absolutamente tudo.

 

    Uma história inteira contada através de lembranças que não sabia existirem. Sequer imaginei um dia precisar revisitar todas para entender o que fui e o que sou.

 

    Cada dia chegou uma. Começou dois dias após o Natal. Um solitário recado ainda está na conversa do aplicativo: se te incomodar, é só me mandar por aqui a palavra "pare" que será respeitada a sua decisão.

 

    Confesso que cheguei a digitar uma vez. Apaguei. Me vi ceder a algo que lutava. Curiosidade? Não sei se apenas isso. Minha cabeça tornou-se um campo de batalha sem que ao menos eu pudesse declarar trégua.

 

    Não há mais tempo para tréguas. O que foi decidido nunca poderá ser voltado para trás. Nunca. Dentro de mim não existe espaço para mais dúvidas. Estou certa do que será a minha vida, o que busco. O que aconteceu e o que será de nós.

 

    Pela primeira vez em anos, recusei um trabalho. Não renovei o contrato com o reality show Atuando. Insistiram, aumentaram o meu salário, fizeram propostas publicitárias, eu poderia comprar dez ótimas casas se quisesse. Não. Pelo o que a busca por novos atores me trouxe, não vale a pena. Não que a culpa seja de um inocente entretenimento de televisão, mas do que busquei através dele e o que representa.

 

    Por dias pensei que a minha recusa seria um pretexto para me colocarem na geladeira. O mundo que entrei há anos sempre foi cruel. A maturidade profissional trouxe comigo a peneira para os melhores trabalhos, porém sei que não é o suficiente para a indústria televisiva.

 

    Para o minha surpresa, a proposta que recebi semana passada é interessante. Qualquer um diria sim. Trabalhar em uma série com conexão Brasil x Japão. Um ano fora. Entre ambientação, também pode-se aprender um pouco da língua. Gravações e divulgação, meses e mais meses compartilhado com pessoas novas, local novo. Quase como uma vida nova.

 

    Na minha idade, uma proposta dessa seria impossível. Ainda me lembro das palavras da equipe dizendo que eu seria ideal para o papel de protagonista pela minha experiência. Mexer com o ego de qualquer pessoa é pedido tentador. Reconhecimento que jamais imaginei ter.

 

    Abracei os meus joelhos sentada na cama. Até me esqueci do que pretendia fazer. Que horas são?

 

    - Helena?

 

    O cheiro de banho recém tomado entrou pelas minhas narinas. Era isso que deveria ter feito assim que acordei se não fosse atingida pela preguiça ou pensamentos que insistem em perturbar a minha decisão.

 

    - Bom dia, Kátia - sorri para a sua aproximação.

 

    - Estava com o olhar longe. Está tudo bem?

 

    Kátia sentou-se na cama olhando da caixa para mim.

 

    - Você sabe, chegou o dia do reencontro, meu prazo final - respondi a sua verdadeira pergunta.

 

    A conhecida do passado chegou de surpresa na minha casa há uma semana. Um final de semana de shows que acabei sendo arrastada com ela para me divertir já que Giovanna estaria com a outra mãe. Uma boa companhia não se recusa, ainda mais quando não se viveu a história tão de perto.

 

    Fui limpa com ela. Contei tudo desde o começo. Ouviu-me sem precisar dizer se eu estava certa ou errada. Sentimentos não se medem assim. Cada um sabe a dor que sente.

 

    - O que tem dentro dessa caixa? Sua mudança para o Japão? - Tentou amenizar o clima com a brincadeira.

 

    - Mais do que o futuro, meu passado. Só meu não... o passado compartilhada por mim e pela Isabel.

 

    - Fotos? - Insistiu.

 

    Retirei a tampa da caixa média vermelha. Está na ordem de envio. Peguei o primeiro papel e entregue nas mãos dela.

 

    - Dois ingressos? - Tentou confirmar o que seus olhos veem.

 

    - Sim, ingressos. Poderia ser qualquer coisa, mas são as entradas do filme que eu e a Isabel não assistimos. Épocas que segurávamos o desejo e fingíamos ser amigas. Foi tão difícil convencê-la de que uma pessoa famosa não queria brincadeira. Senão fosse o seu atraso, não perderíamos o horário do filme e muito menos ficaríamos na sua casa. Impressionante como tudo se encaixou perfeitamente mesmo dando errado.

 

    - Impressionante mesmo é ter isso até hoje. Duas ou três palavras falhando, mas está intacto.

 

    - Eu não sabia que ela tinha guardado isso. Para ser bem sincera, não me lembrava nem do filme que pretendíamos assistir.

 

    Retirei uma pequena caixa de dentro e coloquei na cama de frente para a Kátia.

 

    - Se ela guardou esses ingressos, não me surpreendi tanto ter guardado as pulseiras do show da banda Aerosmith. Porém, estão o check in do hotel, papel com o número do quarto, até mesmo um sabonete. Juro que quando senti o cheiro, me levou para esse dia.

 

    Peguei um pequeno caderno azul e novamente entreguei nas mãos da Kátia.

 

    - Dentro estão todos os pratos que disse para ela que gosto. Durante o nosso namoro, ela me perguntava como quem não queria nada. Tem a data de cada dia que eu disse. Quase no final, tem uma flor em uma plastificação junto com a receita que ela me ensinou no dia que a pedi em casamento. Essa flor estava na nossa mesa.

 

    - "... Helena me sorprendió con una propuesta de matrimonio. Me voy a casar con la persona de que estoy completamente enamorada". Ela era realmente romântica. Você provavelmente se sentia no paraíso, não?!

 

    - Eu também não sabia da existência desse caderno. Mas sim, eu me sentia a mulher mais amada do mundo. Isabel fazia tudo para me agradar. Parecia saber até mesmo o que eu não imaginava querer. Essa fase da minha vida foi uma das mais bonitas, acho que justamente pela sua presença. Não imaginei que poderia amar alguém e ser correspondia na mesma intensidade ou até mais como acabei descobrindo quando foi enviado.

 

    - O que mais tem aí? Já imagino que algo do casamento.

 

    - A caixinha da nossa aliança, guardanapo decorado com as nossas iniciais. Até mesmo algo que remeta as minhas premiações ela guardou. Tem também o pedaço do cordão umbilical da Gi, isso eu até sabia da sua pretensão de guardar, mas sabe o que eu disse?

 

    - Que era bobagem? - Sorriu de lado.

 

    - Exatamente. Falei que valia o momento, não a recordação. Nunca gostei de guardar nada. Objeto como algum colar, tudo bem, é simbólico e valioso. Mas esse monte de papeis? Não manteria comigo nem por uma semana. Talvez seja por isso que ela nunca mostrou. Isabel nem poderia imaginar que um dia os usariam.

 

    - Para a Isabel era importante.

 

    - Sempre foi. Cada momento vivido foi importante para ela. Sabe, Kátia, cada vez que o porteiro me entregava as lembranças, perguntei-me se me lembraria do dia. Entretanto, mais do que me lembrar, revivi. Foi como se desse água para uma raiz seca dentro de mim.

 

    Kátia me olhava como se buscasse uma pergunta perfeita para ser feita. Como sempre, não havia julgamento ou torcida para um lado ou para outro.

 

    - Acho que você não deveria ter deixado para acontecer esse encontro nessa final. Na emissora, Helena? O que pretende fazer no local de trabalho de vocês?

 

    - Acredito que nem ela queria isso já que essas lembranças foram encerradas dois dias atrás. Não sei seu planejamento. Apenas recebi um poema do Pablo de Neruda, o poeta preferido da mãe dela.

 

    Peguei sua carta. Sorri ao ver sua letra espaçosa e grande, combina com a sua altura. Provavelmente seu perfume foi passado sem seu propósito, mas não evito um respirar profundo para senti-lo. Comecei a ler:

 

    - Se você me esquecer...

 

    Eu quero que você saiba de uma coisa

    Você sabe como é:

 

     Se eu olhar para a lua cristalina,

    para o galho avermelhado do lento outono pela minha janela.

    Se eu tocar, próximo ao fogo, a intocável cinza

    ou o enrugado corpo da lenha,

 

    tudo me leva a você,

    Como se tudo o que existe: perfumes, luz, metais,

    fossem pequenos barcos que navegam rumo às tuas ilhas que esperam por mim.

 

    Bem, agora,

    se pouco a pouco você deixar de me amar

    eu deixarei de te amar, pouco a pouco.

 

    Se, de repente, você me esquecer,

    não me procure,

    porque eu já terei te esquecido

 

    Se você pensa que é longo e furioso o vento que passa pelas

    velas da minha vida

    e decidir me deixar na praia do coração, onde tenho raízes,

    lembre-se:

    que nesse dia, nesta hora, eu levantarei meus braços

    e minhas raízes partirão para buscar outra terra.

 

    Mas, se a cada dia, a cada hora,

    você sentir que é destinada a mim,

    com implacável doçura,

    se a cada dia uma flor escalar os seus lábios à minha procura,

 

    Aahh, meu amor. Aahh meu próprio eu,

    em mim todo aquele fogo reacenderá,

    em mim nada é extinto ou esquecido,

    meu amor se alimenta do seu amor, amada.

    E enquanto você viver, estará você em seus braços,

    sem deixar os meus...

 

    - É lindo. Acho que, através da palavra dos outros, ela conseguiu passar o recado. Você entendeu, não é?! Não há conserto para o passado, nem como mudar o que sente aí dentro.

 

    - Isabel me disse que me reconquistaria, mas não imaginei que seria assim. Achei que ela bateria na minha porta semanas após o Natal. Estava pronta para expor a cicatriz que ficou quantas vezes fosse preciso. Não que... - hesitei

 

    - Não quê? O quê? Ela te reconquistou?

 

    - Você sabe, tenho conversado com sinceridade. Hoje é o dia definitivo. O dia D. Espero que nada seja tão dramático.

 

    - Pelo o que entendi, Isabel acatará qualquer decisão. Está tudo em suas mãos. Quando estava nas mãos dela, se atrapalhou por ser orgulhosa. Agora, acho que ela está certa de deixar que tudo se resolva do seu jeito.

 

    - E será, Kátia. Todo esse pesadelo acaba hoje.

 

[...]

 

    Entrei pela última vez no estúdio que acontece a gravação do programa Atuando. O palco de apresentações. Nunca tinha parado para pensar na união do teatro com a televisão em um só lugar. Eu e a Isabel. A mesma profissão, mas cada uma com suas pretensões artísticas.

 

    Philipa me olhava de longe, parecia que queria dizer algo ou está apenas a me olhar pela última vez. Imagino que o troféu seja dela. Apesar de não gostar da pessoa, admito seu talento. Melhorando suas infantilidades, vai longe.

 

    - Olá, Heleninha.

 

    Eduardo chegou perto e me cumprimentou com um beijo no rosto.

 

    - Como está, querida?

 

    - Eu estou muito bem, Edu. Como está bonito vestido de gala. Rodrigo veio com você?

 

    - Claro! E ele perderia a oportunidade de se sentar nessa plateia chique, cheia de famosos? Nunca. Acho até que ele está mais ansioso do que eu. Ah, você também está maravilhosa.

 

    - Obrigada, amigo. Estamos todos.

 

    O silêncio constrangedor foi inevitável. Incomodou tanto que ele não pensou duas vezes em esclarecer.

 

    - Não nos vimos desde o Natal, nem conversamos direito. Aliás, você saiu sem se despedir. Queria ter lhe procurado, mas não sei como seria a sua reação e eu odeio brigas. Ficou com raiva por nós termos hospedado a Isabel?

 

    Saí da casa dos meus amigos deixando Giovanna e Natália para trás. Tentei me passar por superior para a Isabel, um erro. Por dentro, eu estava quebrada por não sentir nada. Achei que beijando-a todo os meus problemas seriam resolvidos. Nem eu poderia imaginar que estava tão machucada. Eu sabia de toda situação. Compreendi a culpa da mais alta, sabia que seu erro foi apenas não ter me contado. Ela ter se deitado com a minha amiga foi horrível. Porém, eu poderia perdoar. E perdoei. O que acontecia comigo é que me fez buscar as ruas. Andei por horas. Chorei até não me aguentar mais de pé.

 

    - Jamais seria egoísta a esse ponto. Desculpa as respostas vagas, eu precisava de um tempo sozinha, sem nada que me remetesse diretamente à Isabel. Você entende, sim?!

 

    - Completamente, Helena - sorriu com afeto. - E hoje? Ela já chegou, está arrumada, pode entrar a qualquer momento.

 

    - Inclusive agora - falei.

 

    De cabelos presos, o que deixava o seu rosto grande e nariz avantajado em evidência, e vestido longo da cor azul com direito a um decote generoso, Isabel deu alguns passos.

 

    Suas mãos levantava a barra do elegante vestido. Olhava para baixa, mais concentrada em não pisar nos fio espalhados. Seu primeiro sorriso foi dado ao competidor Marcos, o concorrente da Philipa. Sua gentileza apagou-se ao me ver.

 

    - Por favor, Heleninha. Você sabe que eu te amo, serei para sempre o seu amigo. É por isso que te peço: não pise na Isa. Imagino o quanto é difícil para você, mas não a faça mal. Pense na Giovanna.

 

    - Eu não disse nada, Eduardo. Nada. Vou sim conversar com a Isabel, mas não há o que temer. Somos adultas, mães, temos e teremos para sempre uma história. Espera que as coisas aconteçam, não se antecipe.

 

    - Certo. Confio em você de olhos fechados.

 

    Recebi um beijo na testa. De longe, Isabel acenou para mim. Devolvi o cumprimento com um abanar de mão. Difícil não notar sua beleza. Tão mais madura da jovem que conheci. Como vinho, ficou ainda melhor.

 

    A entrada do jurado que faltava foi a deixa para me posicionar. Maurício fez um coração com a mão para mim que correspondi. Já estava na hora de começar o espetáculo. Diferente das outras vezes, hoje é tudo ao vivo. O encerramento da novela deu a contagem regressiva.

 

    5... 4... 3... 2... 1...

 

    - Olá! Boa noite a todos. Sejam bem vindos a final do Atuando, o programa que lançará no mercado um ator ou uma atriz mais completa que encontramos. Essa final promete fortes emoções. Eu já estou contando os minutos para saber quem levará os prêmios para casa e estará bombando na sua telinha em pouco tempo.

 

    A adrenalina tomou conta de mim. Deixei o texto de lado e comecei a improvisar. Respeitei apenas a marcação do tempo e as ordem.

 

    - Contamos hoje com uma plateia repleta de colegas de profissão, jornalistas convidados e público. Também, claro, você aí de casa que bomba com comentário nas redes sociais e fazem o programa ser o sucesso que é.

 

    Aplausos invadiram o estúdio. Kátia, uma das mais empolgadas, assoviou alto.

 

    - E quem, além dos telespectadores, nos ajuda a fazer do Atuando um sucesso? Os nossos queridíssimos jurados. Podem entrar os elegantes, Eduardo Mazza, Maurício Schmidt e Isabel Casañas.

 

    Os três entraram de mãos dadas. Posso ver no leve rosar no rosto da mais nova a sua timidez. Gravar é uma coisa, ao vivo é outra.

 

    - Sim, amigos, os três são uns carrascos... Tudo bem, nem tanto, apenas fazem o trabalho de lapidar as nossas joias. Quem são os sobrevivente? Quem chegou à final mais concorrida de todos os tempos? Uma portuguesa e um brasileiro. Podem entrar nossos finalistas, Philipa Ferrol e Marcos Albuquerque.

 

    A entrada dos dois me fez ir para o meu lado entrevistadora. Primeiro perguntei aos jurados como, na visão deles, os dois chegaram à final. Isabel foi a primeira a responder. Além de rasgar elogios aos dois, contou a diferença de cada um. Pela primeira vez tive dúvida de quem vencerá. Philipa era certa.

 

    Depois, deixei que os concorrentes falassem sobre a trajetória de ambos na profissão e os planos após o Atuando. Aproveitei para chamar o primeiro VT das famílias falando. Um momento emocionante.

 

    No ao vivo, não se tem tempo para respirar. Logo após a gravação rodada na TV, chamei como foi a prova final. Relembrei de tudo, inclusive que estava casada de novo com a Isabel. Reparei que usávamos as nossas alianças, felicidade em nossos olhares. Hoje nenhuma possui o símbolo da nossa união no dedo anelar. O pessoal de casa provavelmente reparou.

 

    O programa seguiu com a maior enrolação possível. Segurar a audiência para que todos os comerciais vendidos vão ao ar é um trabalho dobrado. No ponto a diretora me dá as coordenadas de como esticar e inflamar a plateia.

 

    Esgotado todo o tempo de duração e missão cumprida, é a hora de anunciar o vencedor.

 

    Faço questão de saber junto com o público quem sairá consagrado. É muito melhor para mostrar a emoção. Nem mesmo os jurados sabem quem ganhou. Eles dão as notas e guardam segredo. Bem, pelo menos a última vez foi assim.

 

    - É chegado o grande momento. É a hora da verdade. Na vida sempre há um melhor. Isso não quer dizer que o outro não possa trabalhar para superar os seus próprios obstáculos. Você aí de casa, quando foi reprovado em uma entrevista de emprego, alguém estava mais bem preparado, o que não faz de você um perdedor. Na vida ninguém perde. Na vida só se ganha. É uma oportunidade atrás da outra. Uma nova chance a cada amanhecer. É preciso saber aproveitar a chance e os ganhos que vem com a vitória. Mas também é preciso estar preparado para perder e entender como fazer da derrota algo positivo. Ser um bom perdedor. Marcos e Philipa são atores excepcionais. Eu, como atriz, acompanhei cada atuação com alegria. É sempre bom quando encontramos em jovens a continuação e o amor que um dia nós também sentimos. Me vi nos dois. Tenho um pouco de cada. Aprendi muito nessa temporada, só quem viveu sabe o quão difícil foi. Agradeço a todos que se inscrevem, aos que participaram. Câmeras, maquiadores, cabelereiros, cozinheiras, técnicos no geral, faxineiros, estagiários... diretora. Todos, agradeço todos de coração. É chegada a hora de saber quem será o vencedor...

 

    Olhei fixamente para a câmera que falarei o resultado. Controlei as minhas mãos que pretendiam tremer. Abri o envelope com cuidado. O virei com o resultado só para mim. Subi o papel aos poucos. Já sei quem ganhou.

 

    Suspense, pediu Miriam. Olhei para a plateia, para os jurados e os competidores que olhavam com expectativa para das minhas mãos.

 

    - Parabéns, Marcos! Você ganhou o Atuando.

 

    Explosão de felicidade do garoto. A favorita parece não acreditar, embora o sorriso no seu rosto teima em dar outra impressão.

 

    O troféu foi dado para mim. Desci do meu pequeno palco para andar na direção do maior, onde ocorreram as atuações.

 

    Os jurados já cumprimentavam o vencedor. Vi Isabel apenas dar a mão direita como cumprimento à portuguesa que tentava correr para os fundos.

 

    Sorri para os familiares do Marcos que pulavam de felicidade. Aproximei-me do vencedor e fiz questão de dar o troféu em suas mãos.

 

    - Parabéns.

 

    O objeto do triunfo foi levantado como fazem os jogadores de competições ao fim das partidas de decisão. Parece um ganho pessoal, mas está diante dos meus olhos o quando as pessoas por trás do sonho desse jovem foram importantes.

 

    Afastei-me um pouco quando começaram a pular em volta do campeão. Dei oito passos para trás, sem consegui me fastar direito.

 

    Minhas costas esbarraram em alguém que aplaudia.

 

    Arrepio.

 

    É seu perfume. É a maciez de sua pele.

 

    - Opa, desculpa, Hele...

 

    Nossos olhares se juntaram. Esqueci-me completamente de onde estou, o que estou fazendo, quem sou. A única coisa que vejo são os castanho-claros da espanhola.

 

    - Quem tem que pedir desculpa sou eu. Estava de costas e acabei me atrapalhando.

 

    - Está tudo bem, eu também estava distraída vendo o troféu ser erguido.

 

    - Achei que a Philipa levasse - comentei sem perceber.

 

    - Não sei as notas dos meninos, mas em três quesitos achei que o Marcos melhor.

 

    - Sente-se culpada?

 

    - Não. Philipa foi bem, mas já vinha de oscilações que não tinham nada a ver comigo. O seu começo foi arrasador, talvez isso tenha chegado ao seu limite e perdeu a chance de evoluir, como fez o próprio Marcos.

 

    - Além disso, você é sempre correta. Deu as melhores notas para o Gustavo mesmo com tanto ódio. Eu não sei se faria a mesma coisa.

 

    - Faria. Eu sei que faria - suspirou. - Ainda bem que é minha última temporada. É difícil julgar pessoas, lidar com sonhos. Atuando foi importante para a minha vida, mudou-me completamente, contudo, é necessário dizer adeus.

 

    Surpreendi-me. Apesar da minha saída ainda não ter sido anunciada, não esperava que nós duas tomássemos a mesma decisão ao mesmo tempo.

 

    - Eu também estou de saída. É um adeus duplo.

 

    - Duplo - repetiu a palavra usada por mim.

 

    Seus olhos buscaram alguém na plateia, pude perceber. Acompanhei a direção que estava seu rosto. Kátia acenou para mim.

 

    Virei-me para a mais alta balançando a cabeça em negação.

 

    - Antes de tirar suas conclusões, pergunte-me - pedi.

 

    Seu peito subiu pelo ar que prendeu em seus pulmões. A afirmação e a pergunta saíram da sua boca como se cada palavra pesasse uma tonelada.

 

    - Aquela é a Kátia, eu sei. Eduardo me alertou. Vocês estão juntas?

 

   - Não - respondi diretamente.

 

    - Não?

 

    Isabel precisava ter certeza.

 

    - Não, Isabel. Kátia veio a São Paulo para fazer algumas apresentações musicais. Passou em casa, sentia-me sozinha e resolveu ficar por uma semana. Não a levei para a cama, nem poderia. Estava carregada demais das lembranças que você me enviou. Algo dentro de mim não deixaria.

 

    - Eu disse que se quisesse era só mandar a palavra "pare", Helena.

 

    - Pare... - comecei a dizer firme.

 

    Seu corpo foi jogado no meu por um empurrão dado sem querer.

 

    Ouvimos um pedido de desculpa de uma voz masculina, mas não conseguimos parar de nos olhar para ver quem fez tal ato.

 

    Por sua ligeira queda, minhas mãos foram parar na sua cintura. As suas, nos meus ombros.

 

    Perto demais. Suas respiração batia contra o meu rosto.

 

    Eu via a sua pupila dilatada cheia de desejo, juntei ainda mais os nossos corpos com um puxão mais firme.

 

    Minhas língua molhou meus lábios quando olhei para os seus carnudos. Subi uma mão até a sua nuca e inclinei-me para o lado.

 

    A beijei.

 

    Seu receio logo passou a ser a demonstração do que sente. Nossos lábios se encaixaram como antes. Parece que estou beijando-a pela primeira vez. Exatamente o gosto que busquei na noite de Natal. O gosto do amor. O desejo que me faz não querer deixar a sua boca.

 

    Apesar de estar vibrando pelo o que sinto, não era o lugar para acontecer. Coloquei lentidão e encerrei o beijo prendendo o seu lábio inferior entre meus dentes.

 

    - Helena... - sussurrou ao final.

 

    Isabel manteve os seus olhos fechados. Eu sei, também estaria confusa. Peguei em sua mão.

 

    - Venha comigo. Preciso te levar a um lugar.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Quarta-feira de cinzas eu volto com a reta final.


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Comentários para 37 - Dia D:
Rain
Rain

Em: 19/02/2021

.... Fiquei sem palavras com esse capítulo. Comecei chorando ainda com Caetano e acabei supresa por esse beijo. Agora vem né? Diz que sim. Essas duas tem que se acertar e ir embora por Japão, Marte ou aonde for, mas vão juntas. Caramba.

Reta final? Significa que elas vão ficar juntas né. Espero que sim viu, autora. Não faça mas sofrer. 

Responder

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GabiVasco
GabiVasco

Em: 16/02/2021

Esqueci de comentar que ainda bem que a Philipa PERDEU. Detesto o jeito que ela forçava algo com a Isabel e rebaixava a Helena.


Resposta do autor:

Hahahahahaha Philipa não merecia.

 

Abs.

Responder

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GabiVasco
GabiVasco

Em: 16/02/2021

Já amei muito a Helena e a achava injustiçada e que Isabel não marecia tanto ela. Depois eu fui prestando atenção na Isabel e nos erros que a Helena também cometeu. Agora eu sou apaixonadaaaaaaaaaa pela Isabel.
Quem menos demonstra as vezes é quem mais sente e a Isabel ter guardado essas coisas foi a maior prova de que o valor que dava ao relacionamento era muito grande. Lendo esse capítulo lembrei muito daquele que mostra quando o sonho da Isabel de ter o teatro foi adiado e depois fez o empréstimo sem o apoio da mulher que queria resolver tudo com o dinheiro. Vejo hoje que ela precisava do amor da Helena, não do que a Helena poderia proporcionar, era só isso a todo momento e essa demonstração de cada momento vivo é a prova.
Helena é maravilhosa como é a Isabel e é por isso que ela devem ficar juntas. São perfeitas e se completam.
Estou triste porque está acabando. Tem uma duvida no ar mas tenho certeza que a Helena vai cair em si e se entregar de novo


Resposta do autor:

Helena é ciumenta, viu?! Hahahaha

 

Interessante a sua ligação com os capítulos. Acredito para que se entenda os detalhes, importante fazê-los.

 

Fica triste não. Tudo tem o fim, mas ainda tem capítulos por aí.

 

Abs.

Responder

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Mille
Mille

Em: 14/02/2021

Oi Batist A emoção foi do início ao fim, será que agora as duas e Giovana vai ser felizes longe?? E esse romance da Natália e Nina kkkk gostei Bjus e até o próximo capítulo


Resposta do autor:

Olá, Mille!

 

Longe não sei, mas juntas talvez.

Todos gostamos de Nina e Nat!

 

Beijo, inté!

Responder

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bicaf
bicaf

Em: 14/02/2021

Nóossaaaa. Isabel fez bonito, maravilhosa! Laçou de vez Heleninha kkkkkk.

Amei o poema, não conhecia. 

Ansiosa pelo próximo capítulo.

Beijo


Resposta do autor:

E não foi? Hahahaha. Isabel faz tudo.

 

Ah, é um dos meus favoritos da vida.

 

Beijo!

Responder

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Baiana
Baiana

Em: 14/02/2021

A linha do tempo que a Isabel montou com todas as recordações palpáveis que ela guardou,derreteu de vez o gelo que envolvia o coração da Helena e a fez se apaixonar novamente.

Ah,Pablo Neruda é tudo de bom, amo os poemas dele.

Tô achando que esse re recomeço delas será na terra do sol nascente, novos ares e o distanciamento de tudo aquilo que as fez sofrer.


Resposta do autor:

Hum... vamos ver essa do Japão, Helena não deu certeza.

 

Abs!

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kasvattaja Forty-Nine
kasvattaja Forty-Nine

Em: 14/02/2021

Olá! Tudo bem?

 

Olha só que lindas. Precisava tanto? Para que um caminho tão cheio de curvas? Enfim, contente por elas estarem entendendo-se. Todas merecemos um final feliz.

Um detalhe: quando lia esse capítulo estava ouvindo Neil Young, e tocava precisamente ''Heart Of Gold'':

''Eu quero viver, eu quero doar

Eu tenho sido um minerador em busca de um coração de ouro

São estas expressões que eu não abro mão

Que me mantêm procurando por um coração de ouro

E estou envelhecendo

Elas me mantêm procurando por um coração de ouro

E estou envelhecendo''

É isso!

 

Post Scriptum:

 

''Só existe um caminho para a felicidade, que é parar de se preocupar com coisas que estão além de nosso poder ou vontade.''

 

Epiteto, Filósofo Grego


Resposta do autor:

Olá! Tudo bem. Espero que esteja bem também.

 

Cheio de curvas para ter certeza de que não errarão mais ;).

 

Linda música, eu a adoro! Bela lembrança.

 

Abs!

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LeticiaFed
LeticiaFed

Em: 13/02/2021

Epaaaa, Isabelita se mostrando uma romântica e tanto! Gostei! Reconquistou Helena de uma forma que ela não imaginava, apesar de sua mágoa um tanto mimizenta hahaha. Reta final, entao...Fico um pouquinho triste, mas vamos ver pelo lado positivo: assim as duas param de brigar e vivem em paz ;) Bom feriado, bj!


Resposta do autor:

Melhor lado positivo. Nem eu aguentava mais hahahaha.

 

Beijo!

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