• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Meus pedaços
  • Vazio

Info

Membros ativos: 9524
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,492
Palavras: 51,967,639
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Thalita31

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Legado de Metal e Sangue
    Legado de Metal e Sangue
    Por mtttm
  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Segunda chance para  amar - parte 1 por Elna Vale
    Segunda chance para amar - parte 1 por Elna Vale
    Por Elna Vale
  • Entre o Céu e o Inferno
    Entre o Céu e o Inferno
    Por Marcia P

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Meus pedaços por Bastiat

Ver comentários: 6

Ver lista de capítulos

Palavras: 7154
Acessos: 2507   |  Postado em: 13/02/2021

Vazio

 

Helena

 

    Mergulho na escuridão pelos meus olhos fechados, uma tentativa de dissipar da minha mente todos os meus problemas.

 

    Se minhas pálpebras se separarem, eu estarei no mesmo lugar que tenho passado os últimos 3 dias desde que estou hospedando a Natália na minha casa. Porque, segundo a minha amiga, eu preciso da sua companhia para dar boas risadas. Tem funcionado, mas em alguns momentos me deixo ficar triste. É meu luto amoroso.

 

    Virou rotina: arrumar a minha cama, mas não conseguir me deitar. Vazia, fria, cheia de recordações. Como vou dormir se aqueles braços não estão lá?

 

    Enquanto não descobrir, longe ficarei do conforto. Era bom, agora é só doloroso. 13 dias dormindo no quarto de hóspede e há três na sala.

 

    Terminei com o vinho na taça em minha mão direta. Quero mais, porém não posso abrir os meus olhos. Bobagem, do que adianta os olhos fechados se a imagem dela é constantemente reproduzida pelo meu cérebro?

 

    Sinto sua falta, mas não desejo a sua companhia. Eu que sempre agi com o coração, corri atrás da Isabel, sofri com acusações, errei e tentei consertar, não sinto vontade de ouvi-la. Quando pensei que estava tudo acabado, ela me fez acreditar novamente no nosso amor. Por quê?

 

    Desisto da fuga de realidade e finalmente abro os meus olhos. É impossível parar de pensar no que aconteceu. Principalmente na época que estamos.

 

    Peguei a garrafa de vinho, embiquei na taça e coloquei o líquido avermelhado até a metade. Balancei a garrafa, percebi que sobrou pouco. Depois decido se terminarei por hoje ou se pego outra.

 

    Ajeitei-me novamente no sofá. Já passou da meia-noite e o sono parece que não chegará tão cedo. O livro na mesinha não me anima. Assistir a um filme não vai funcionar. Nada me distrai.

 

    Enquanto bebo um gole generoso, uma luz chama a minha atenção. Com a sala toda escura, foi fácil ver a Natália descer as escadas digitando alguma coisa no seu celular. A luz vem da sua tela.

 

    Tão concentrada que nem me viu. Onde será que essa doida vai?

 

    A porta foi aberta por ela que a deixou encostada. Provavelmente tomará apenas um ar. Se eu der sorte, ela volta novamente e nem me nota aqui. A última coisa que quero é discutir essa hora da madrugada.

 

    Continuei bebendo, refletindo e buscando raciocinar as conversas que tive mais cedo. Se bem que uma está longe de ser chamada de conversa. O fato é que eu encaixei as peças facilmente. O que não entendo é o meu coração frio. Sinto falta da Isabel na cama, mas quando ela tenta de aproximar, não consigo me identificar.

 

    - Nat, não! Eu não vou para o quarto...

 

    É a voz da Nina?

 

    - Nina, eu já te disse, está tudo bem.                

 

    Ouvi barulho de beijos na porta de entrada. Aberta, pude ver as duas se pegando. Natália puxou a babá para entrar na casa e fechou a porta. Em seguida, minha sócia colocou a menina-mulher na parede e recomeçou os amassos.

 

    Eu apenas abaixei minha cabeça e segurei o riso. Nina e Nat, quem poderia imaginar? Mais inimaginável ainda é ver a jovem correspondendo.

 

    Ouvi passos, é a minha amiga cheia de más intenções tentando levar sua presa para o quarto. Acho que ela ainda não entendeu que está lidando com uma descoberta.

 

    No primeiro degrau, Nina entendeu o que irá acontecer.

 

    - Não, Natália! Aqui é a casa da Helena, a minha patroa.

 

    - Depois eu me viro com ela, te garanto que nem vai ligar.

 

    - Mesmo assim... eu... eu não acho certo. Eu só vim porque vou viajar amanhã.

 

    - Veio porque gosta de mim.

 

    Mais uma vez, percebi que Nat a beijou.

 

    - Natália, é sério, não vou subir.

 

    Ouvi um suspiro frustrado da minha amiga. Segurei-me para não rir de novo. Nat terá que realmente conquistar a Nina, não é uma de suas conquistas baratas ou um sex* casual.

 

    - Certo, senhorita. Então vamos conversar...

 

    Um silêncio, alguns passos e uma risadinha.

 

    - e namorar mais um pouquinho só que no sofá - Natália concluiu.

 

    Não deu tempo de dizer nada. Assim que coloquei a taça na mesinha ao lado do sofá, um corpo colidiu com o meu e logo depois outro.

 

    Nina gritou assustada e Natália me tocou quando caiu por cima dela.

 

    - PUTA QUE PARIU! - Minha sócia gritou levantando-se.

 

    Nina saiu de cima de mim apressada. Comecei a gargalhar da situação. Finalmente pude rir como queria desde que elas atravessaram a porta da minha casa.

 

    - Helena? É você? Caralh* que susto!

 

    - Claro que sou eu, Nat - respondi recuperando o fôlego. - Você está na minha casa como Nina ficou tentando te lembrar.

 

    - Nossa... que vergonha - a babá murmurou.

 

    - Relaxa, Nina. Se vocês quiserem subir não tem problema nenhum.

 

    A luz da sala foi acesa. Olhei para trás e vi Natália Vieira perto do interruptor. A babá olhava para todo canto, vermelha e querendo abrir um buraco no chão para se esconder.

 

    Nat a acolheu em seus braços. Achei bonita a cena das duas braçadas. Darão um belo casal se for sério da parte da minha amiga de longa data.

 

    - Por que você não avisou que estava aqui na sala, Lena? - Vieira perguntou.

 

    - Não queria interromper, amiga. Só não imaginei que vocês cairiam em mim.

 

    Minha sócia olhava com cara de quem quer me matar. Eu peguei minha taça de maneira tranquila e bebi mais um pouco do vinho. Despreocupada, esparramei-me no sofá enquanto a Natália tentava tranquilizar a jovem.

 

    - Nat, eu vou embora - disse virando-se na minha direção. - Desculpe-me, Helena. Eu só passei aqui para me despedir da Natália e acabei criando essa situação constrangedora...

 

    - Querida, fica tranquila. Não teve constrangimento nenhum. Eu sei como a minha amiga consegue ser insistente quando quer. Se você quiser, fiquem à vontade, a casa é de vocês.

 

    A babá negou com a cabeça. Natália a abraçou por trás e deu um beijo no seu rosto.

 

    - Eu disse que ela não ligava.

 

    - Mas eu ligo e já estou de saída - falou enquanto saía dos braços da amada - Desculpe-me mais uma vez, Helena. Uma boa noite e um Feliz Natal.

 

    - Boa noite, Nina. Divirta-se com sua família e Feliz Natal.

 

    - Eu te levo para casa, só vou trocar de roupa - tentou Natália.

 

    - Não precisa, eu vim de táxi e posso muito bem voltar de um.

 

    - Já entendi que você é teimosa e nem vou insistir. Posso ao menos te levar até o portão? Por favor?

 

    De mãos dadas, as duas saíram da sala. Natália pedindo ‘por favor'? Essa é nova. Bem, eu já sei quem terá a última palavra na relação, minha amiga está de quatro por essa menina.

 

    Começo de relação é uma fase tão bonita. A descoberta da personalidade de outro ser humano, as identificações, os defeitos que aprendemos a respeitar, a vontade de ver a pessoa a qualquer hora, o apego.

 

    Lembro-me que a timidez da Isabel era um charme a parte, ou talvez fosse o medo falando mais alto. São Paulo era uma novidade na sua vida, era natural que desconfiasse de qualquer pessoa que se aproximasse. Se não fosse pela minha insistência, é possível que não tivéssemos vivido uma linda história de amor.

 

     Vivido. Passado. Acho que nunca usei tantas palavras no passado para me referir à Casañas. Tem alguma coisa quebrada dentro de mim. Ciúme pelo envolvimento sexual entre ela e a Lisa? A quebra de confiança ao me esconder um acontecimento tão importante para a retomada da nossa relação? Será a noção de que tudo passou? Só o tempo dirá.

 

   Meus questionamentos foram tão longe que só notei a volta da Natália quando ela se jogou ao meu lado no sofá.

 

    Olhamos uma para outra e não seguramos o riso. Nat pela felicidade que sente e eu por me lembrar de toda situação que aconteceu minutos atrás.

 

    - Você me atrapalhou, sua cretina.

 

    - Eu? Eu te salvei, Natália Vieira. Aliás, salvei a Nina das suas garras.

 

    - Também não é assim, amiga. Eu não faria nada que ela não quisesse.

 

    Apertei os olhos para a minha amiga. Nat age como se tivesse 20 anos de idade, inacreditável.

 

    - Vocês estão namorando?

 

   - Tem uma semana que eu e ela estamos saindo. Hoje eu a levei para jantar em um restaurante que gosta. Fiz todo o esquema de romance, mas no final ela foi para casa. Então eu fiquei insistindo para me despedir já que vou passar o feriado todo sem ela. Liguei para a convencer de vir. Foi difícil, mas consegui. Poderia terminar a noite de outra forma, mas uma certa atriz famosa nos interrompeu.

 

    - Não seja burra. Se realmente rolasse alguma coisa, Nina não estaria confortável com a situação. Você deveria me agradecer, não ficar com esse deboche todo para cima de mim.

 

    Os olhos castanho me encararam confusa, ajeitou-se melhor no sofá e me perguntou:

 

    - Como assim, Lena?

 

    - Primeiro a sua péssima ideia de ser aqui em casa. Segundo, Nina é romântica e acredito que nunca esteve com uma mulher antes, se ela cedesse, seria por pura pressão. Coloque-se no lugar dela: nervosa e com receio da primeira vez.

 

    Pensativa, Nat parece ponderar minhas palavras. Posso ver em seus olhos uma leve preocupação ao se dar conta da sua pressa descabida.

 

    - Você está gostando dela ou é apenas diversão?

 

   - Assim você me ofende, amiga. Eu jamais brincaria com alguém próxima de nós, e se fosse a minha intenção, deixaria bem claro - esclareceu. - Eu estou gostando da Nina. Senti-me atraída quando você nos apresentou. Agora, com a nossa convivência aqui e essa aproximação, senti coisas diferentes por ela.

 

    - Coisa diferente do tipo sentir que pode passar horas conversando com ela que nunca vai enjoar? Querer a companhia dela todos os segundos do dia? Não conseguir controlar de fazer amor com ela?

 

    Sem jeito, Natália apenas afirmou. Minha criança adulta está apaixonada.

 

    - Então, quando Nina voltar de viagem, prepare um jantar romântico na sua casa, velas, flores e abra o seu coração. Você vai perceber que a atmosfera criada no momento é muito melhor que a pressa pela satisfação do desejo em si.

 

    - Você tem razão, eu estava fazendo tudo errado. Nunca precisei fazer isso antes, não sei nem cozinhar. Mas eu vou fazer a coisa certa, Nina merece.

 

    - Sim, ela merece alguém apaixonada por ela como você me parece estar.

 

    Tentei sorrir como ela, mas um assunto ainda me incomodava.

 

    - E aquela história, Nat? Seu coração, o que diz?

 

    Ao entender o que quis dizer, minha amiga limitou-se a não tocar no nome dela.

 

    - Não estou usando a Nina para consertar meu coração partido. Muito antes de tudo acontecer, eu já não sentia o que achava ser amor. A máscara dela cair foi uma ótima maneira de encerrar qualquer esperança. Seguir em frente é uma opção minha, eu preciso ser feliz.

 

    - Fico realmente feliz de te escutar dizer isso, Natália. Tenho certeza de que a Nina te fará feliz.

 

    Acabei com o vinho sem perceber. Meu corpo está finalmente dando os primeiros efeitos da bebida. Estiquei-me para pegar a garrafa e acabar com o resto, mas a mão da minha amiga foi mais rápida.

 

    - O que você está fazendo aqui sozinha e se embriagando de álcool?

 

    - Esperando o sono para ir dormir - menti.

 

    - Ou enchendo a cara pensando nela - rebateu.

 

    Peguei a garrafa da sua mão e tentei ignorar o seu olhar questionador.

 

    - Helena, não quer conversar? Tem três dias que estou aqui e você nem toca no assunto. Sabe que eu estou também vim te ouvir, caso precise.

 

    - Eu estou bem, Nat. Só precisava pensar um pouco, buscar alguma paz, daqui a pouco eu já vou me deitar.

 

    - E essa aliança no seu dedo? Achei que tivesse tirado.

 

    Olhei para a minha mão esquerda, o objeto está mesmo no meu dedo. Tinha tanto significado para mim.

 

    Tinha. Passado de novo.

 

    - Só coloquei para fazer um teste - disse tirando a colocando na ponta do sofá.

 

    - Helena, eu e a Nina encontramos a Isa hoje e eu conversei com...

 

    - Não quero saber, Natália - disse ao interrompê-la.

 

    - Tudo bem você não querer saber agora, é um direito seu. Mas uma hora vocês terão que conversar.

 

    - Poupe-me, Natália. Rodrigo já fez o trabalho do sermão por você ou por todo mundo que queira me falar algo.

 

    - Eu não ia fazer um sermão, só queria te ajudar a entender o que sente. Ignorar o assunto não vai adiantar nada.

 

    - Mas ignorar você vai. Boa noite, Nat.

 

    - Helena, é sério. Não é normal alguém ficar no escuro, bebendo vinho e com a aliança da suposta ex no dedo.

 

     - Ai que saudade daquela Natália que me dizia para esquecer a Isabel.

 

    - Você ainda gosta dela, Helena. Eu só acho que a espanhola tem uma boa explicação. Ela ia te contar sobre a Lisa... O que você está sentindo?

 

    - Raiva, Nat! Eu só sinto raiva. Você acha que 15 dias são o suficiente para querer ver a cara da Isabel? Só se for para avançar no pescoço dela. Além de ficar com a minha amiga, ainda não teve a coragem de me contar. Eu sei que ela ia me contar, mas o fato é que não contou.

 

    - Você mesma disse que ela queria conversar antes da Elisa interromper. Sabe que estava aflita.

 

    - A única coisa que sei é que a pessoa que eu chamava de amiga na primeira oportunidade seduziu a minha mulher e esta não fez nenhum esforço para me contar em dias que passamos juntas.

 

    - Helena, não foi assim! Isabel foi manipulada como eu fui...

 

    - Chega! Boa noite, Natália.

 

    - Amiga...

 

    - Boa noite, Natália Vieira.

 

    Em silêncio, a minha sócia ainda esperou alguma manifestação. Eu só bebia o restante do vinho da garrafa.

 

    Ao notar que eu precisava ficar sozinha, minha amiga apenas deixou um beijo carinhoso na minha bochecha e se despediu.

 

    Respirei fundo quando Natália saiu das minhas vistas. Coloquei a taça vazia na mesa de centro e me deitei no sofá.

 

    - Que dia! - Reclamei.

 

    Balancei a cabeça na tentativa de as lembranças saírem da minha cabeça. Inútil.

 

    "Eu gargalhava de alguma coisa que alguém da roda de colegas falou, mesmo não fazendo a mínima ideia do que seja.

 

    Queria mesmo era estar em casa, mas seria estranho uma das patroas não aparecer no último dia de trabalho do ano, sendo que já não fui à festa de confraternização. Por essa culpa que inventei uma pequena reunião quase no final da tarde.

 

    - Com licença - pedi aos meus colegas ao começar a sair.

 

    Minha cabeça vai explodir. Meu desânimo é tanto que não sinto vontade de comer os petiscos e os doces que encomendei. Ridículo.

 

    Entrei na minha sala, sentei-me na minha cadeira, fechei os olhos e apreciei o silêncio que o lugar me proporciona.

 

    Ouvi a porta se abrindo, reclamei mentalmente da falta de privacidade.

 

    - Helena.

 

    Abri os meus olhos para saber que os meus ouvidos não me enganam.

 

    - O que você está fazendo aqui? Canalha, cara de pau.

 

    - Eu precisava te ver, nem que seja pela última vez.

 

    - Vai embora, Elisa!

 

    - Não sem antes conversar com você.

 

    - E quem disse que eu quero conversar? Vai logo antes que termino o que queria ter feito na sua cara. Agora não tem Isabel para te defender.

 

    - Se quer me bater de novo, tudo bem. Mas eu vou continuar aqui até você me escutar.

 

    - Eu vou chamar alguém para te tirar daqui. Sinto mais nojo da sua cara do que vontade de te tocar.

 

    Peguei o telefone, mas sua mão me impediu. Com o seu gesto, dei alguns passos para trás, senti o meu estômago embrulhar.

 

    - Helena, eu só quero consertar o meu erro.

 

    Respirei fundo. Pensei em fazê-la sair da minha sala de qualquer jeito, mas minha curiosidade foi maior. Após o silêncio, resolveu continuar:

 

    - Isabel não tem culpa de nada.

 

    - "Se o seu amor é verdadeiro, a felicidade dela vai te bastar", é isso que está fazendo? Está sacrificando a sua felicidade para tentar amenizar da culpa da Isabel? Não seja ridícula e não me tome por ingênua, Elisa.

 

    - Quer queira, quer não, eu amo sim a Isa. A amo desde quando eu a vi pela primeira vez e quanto mais a conhecia, mais me apaixonava. Você me entende, sabe o quanto a espanhola pode ser encantadora.

 

    - Não, eu não sei o que o amor da vida de qualquer uma das minhas amigas é. Eu jamais olharia diferente para alguma delas.

 

    - Você não sabe, Helena. Eu não planejei me apaixonar por ela. Acredite ou não, eu sofri muito durante todos esses anos. Tentei esquecê-la de todas as maneiras.

 

    - VOCÊ SE APROVEITOU DE UMA VIAGEM PARA VER A ISABEL TOMANDO BANHO! OLHAVA PARA A MINHA MULHER NA CARA DE PAU... - respirei fundo para me acalmar e torci para ninguém aparecer. - Transou com ela na primeira oportunidade. Por que você fez isso?

 

    - Eu também tinha o direito de correr atrás da minha felicidade. Vocês estavam separadas!

 

    Segurei a minha vontade de voar no pescoço da mulher que um dia eu chamei de amiga.

 

    - Eu pedia para você nos juntar novamente!

 

    - E eu o fiz! Fiz até perceber que era a minha única chance de conquistar a Isabel. Eu só queria ser feliz. Chegou uma hora que eu tive que escolher entre o amor e a sua amizade. Bem, no meu lugar qualquer pessoa faria a mesma coisa. Eu tentei. Hoje não me orgulho de ter aproveitado da fragilidade de uma mulher como a Isa. Mas na hora eu não pensei. Achei que a levando para cama tudo seria mais fácil. Foi a pior escolha da minha vida. Tive o corpo dela, mas não o seu coração. Dói quando me recordo da sua cara de arrependimento logo após o ato. Ela que me olhava com respeito, passou a me olhar com repulsa. Eu tentei de todos os jeitos me aproximar dela novamente, mas ela me rejeitou em todas as minhas tentativas. Só então caiu a minha ficha do que fiz. Afastei-me de você por culpa, vergonha e mais ainda por não suportar mais a minha hipocrisia.

 

    Apoiei-me na minha mesa. Eu não sentia a mínima compaixão pelo relato da Elisa. Por mais que suas palavras fossem fortes, nada daquilo justificava na minha cabeça.

 

    - Não me interessa os seus sentimentos. Você pode chorar um oceano na minha frente que eu nunca vou te perdoar. A partir do momento que não teve a mínima consideração pela nossa amizade, você morreu para mim.

 

    - Eu não me importo mais. Sei que só estava adiando esse momento nas nossas vidas porque sabia que quando você descobrisse, eu me tornaria a sua inimiga. Acredite, a sua amizade sempre foi importante para mim e veio primeiro.

 

    - O que quer com tudo isso, Elisa?

 

    - A felicidade da Isabel. Eu não consigo dormir imaginando o sofrimento dela por estar longe de você. Isso tudo é culpa minha. Isa sempre quis te contar e naquela semana mesmo me procurou para me dar a chance de me explicar. No desespero, consegui enrolá-la e ela me deu mais alguns dias. Porém, quando apareci no almoço, brigamos e ela decidiu que contaria sem mim. Eu passaria o dia inteiro ali se fosse preciso, mas mesmo assim acho que não adiantaria.

 

    - A enrolou como fez com a Natália?

 

    - Como faria com qualquer um.

 

    - Nat te amava, você sabia? Como pôde fazer isso com ela?

 

    - Eu só descobri agora, ela me contou por mensagem. Assim como me apaixonei pela Isabel, Nat se apaixonou por mim. Nada foi correspondido. A grande diferença é que no meio disso tudo não tinha você sem saber de nada. Eu sinto muito, Helena.

 

    - Não, Elisa. Você não sente muito. Talvez apenas por ter perdido a companhia forçada da Isabel, mas não a minha amizade.

 

    - Seja como for, eu sinto muito por ter levado tudo isso ao insustentável. Te pedir perdão não vai adiantar, no seu lugar eu não perdoaria.

 

    - Ainda bem que você sabe. Mais alguma coisa?

 

    Elisa balançou a cabeça em negação, virou-se as costas e andou até a porta. Mas ao colocar a mão na maçaneta, disse:

 

    - Helena, a felicidade da Isabel só é completa quando está com você. Agora, não há nada para atrapalhar o caminho de vocês, a faça feliz..."

 

    Encolhi-me no sofá. Deixei o choro preso sair de uma vez.

 

    Como não tem nada para nos atrapalhar se não tem nem caminho para seguir? Está tudo destruído. Não é apenas a Elisa, é muito maior do que um sex*.

 

    "Procurei nos braços do Rodrigo o meu consolo após sair da empresa com as palavras da Elisa rodando na minha cabeça.

 

    - Ao mesmo tempo que me sinto culpada por não ter percebido o que acontecia. Eu, Rô... eu empurrei a Elisa para os braços da Isabel. Eu!

 

    - Você não deve se culpar por confiar nas pessoas, Heleninha. No fundo, você sabe que não empurrou a Elisa para os braços da sua amada, mas sim que ela se aproveitou de tudo. Não foi o que ela te disse?

 

    - Foi, mas isso não exime a culpa da Isabel.

 

    - Helena - a vi hesitar e olhei para ela. - Desculpe-me, quem deveria contar isso é a Isabel, mas não sei se vai acontecer.

 

    - O quê? - Perguntei assustada.

 

    - Isabel estava mais que carente, ela estava machucada pelas palavras que você supostamente disse. Lembre-se que na época ela não sabia que tudo não passou de um engano. Elisa se aproveitou da sua ausência nos últimos anos para pegá-la no seu íntimo. Pelo o que a Isa me relatou, Elisa sabia o que ela precisava ouvir, os seus pontos, tudo. A espanhola pode ter errado e sabe o que fez, mas isso não significa que sua justificativa seja incompreensível. É o que eu acho.

 

    Eu juntava as palavras da Elisa com as do Rodrigo. Mas algo dói.

 

    - Rô, eu não sei, estou confusa.

 

    - Heleninha, você não perdoou a confusão que a Isa fez? Toda a briga gerada? Vocês não se perdoaram? É só mais uma consequência que ainda ficou.

 

    - Isabel teve todas as chances de me contar, Rodrigo.

 

    - E tentou. Você sabe que ela tentou.

 

    Olhei para o quadro grande da Revolução Francesa em sua sala.

 

    - Quando você esteve com a Isabel?

 

    - Ela veio aqui desabafar por esses dias.

 

    Antes que eu quisesse saber mais, levantei-me. É muita informação acumulada, eu preciso refletir antes de tomar qualquer atitude precipitada.

 

    - Preciso ir, Rô.

 

    - Espera! Antes eu gostaria de te fazer um convite.

 

    - Qual?

 

    - Quero que você e a Gi venham para a ceia de véspera de Natal amanhã. Eu e o Edu vamos receber alguns amigos e eu vou ficar deslocada.

 

    - Eu agradeço, querido. Confesso que não pensei na comida de amanhã e minha relação com a Gi não está das melhores, perigoso ela se chatear mais se não tivesse jantar. Posso trazer a Nat?

 

    - Claro..."

 

    Despertei-me da lembrança ao olhar para o chão e ver a aliança ali.

 

    Fiquei olhando fixamente para o seu dourado. Ao entrar no meu dedo, senti um incômodo que nunca tinha sentido antes. Depois me acostumei e esqueci que ali estava. Talvez eu tenha me acomodado a tê-la para mim. Onde está o amor?

 

[...]

 

    Desliguei o fogo antes que a minha omelete queimasse. Tenho certeza de que está ruim, mas é o que tem para hoje.

 

    - Queimou, amiga? - Nat perguntou.

 

    - Quase... vai querer uma?

 

    - Não, obrigada. Vou ficar no pãozinho mesmo.

 

    Revirei os olhos pelo tom debochado que minha amiga usou. Peguei a omelete, coloquei no prato e me juntei a ela.

 

    - Giovanna ainda não acordou? - Natália indagou olhando para o lugar que a minha filha sempre ocupa, mas apena está um copo vazio.

 

    - Eu tentei tirá-la da cama, mas ela só ficou resmungando em espanhol.

 

    - Ela sente falta da Isa, Lena. Essa birra todo e sua teimosia por falar apenas em espanhol é o reflexo de tudo isso.

 

    - Gi passou sábado inteiro com a outra mãe dela. Ainda não acertamos se vamos fazer o mesmo esquema de antes ou mudar alguma coisa. Por mim continuamos uma semana na casa dela e uma semana aqui em casa.

 

    - Você nem se sentou para conversar com sua filha sobre a nova separação.

 

    - Ela tem apenas 6 anos, não vai compreender.

 

    Esfregando os olhos, Giovanna entrou na cozinha e ocupou o seu lugar.

 

    - Bom dia, Gi - Natália disse.

 

    - Buenos días, tía Nat.

 

    A pequenina sequer olhou para mim. Andei até o liquidificador e voltei para colocar sua vitamina no copo.

 

    - La cocina huele a quemado.

 

    - Sua mamãe que queimou a omelete dela, meu anjo - Natália disse rindo.

 

    - Mi mamá no quema la tortilla.

 

    - Sua outra mãe sabe cozinhar, Giovanna. Eu apenas arrisco.

 

    - Helena? - Minha sócia olhou-me assustada.

 

    Respirei fundo. Eu nunca perdi a paciência com a minha filha, mas nos últimos dias estou chegando no limite.

 

    Giovanna parece não ter se importado e começou a comer seu café da manhã. Tentou alcançar a faca, mas eu peguei primeiro e passei a sua geleia favorita no pão. Coloquei o alimento no seu prato.

 

    - Te fiz um favor, filha. Como se diz quando alguém te faz uma gentileza?

 

    - Gracias, mamãe.

 

    Pelo menos ‘mamãe' foi em português, ironizei comigo mesma.

 

    Para tentar quebrar o clima, dei a volta na mesa e beijei a  sua bochecha.

 

    - Sabe aonde vamos hoje, Gi?

 

    - No.

 

    - Vamos ter o nosso jantar de Natal lá na casa do tio Edu e do tio Rô.

 

    Ouvi apenas um resmungo como resposta. Natália fez um sinal para não insistir e puxou qualquer outro assunto.

 

    Caminhei para fora da cozinha mais para baixo do que fiquei ontem. Uma coisa é lidar com os meus demônios, outra completamente diferente é ver a minha filha chateada e não poder envolvê-la no meio de tudo.

 

    Sentei-me ao lado do Chico vestido de papai Noel. O gorro vermelho está no chão. Giovanna não entende que o incomoda. Enquanto fazia carinho em seus pelos macios, fiz dois pedido: que o jantar consiga distrair Gi e que ela não rejeite o jogo de tabuleiro que comprei para ela.

 

[...]

 

    - Você apertou a campainha, Nat? - Perguntei ao me dar conta de a demora para a porta ser aberta.

 

    - Duas vezes, amiga.

 

    Giovanna balançou a minha mão e eu a olhei sorrindo. Eu sei que ela fez questão de escolher o vestido azul que a Isabel lhe deu de presente. Talvez para se sentir mais perto da sua mamá.

 

    Minha amiga também está elegante em um vestido tomara que caia. Eu preferi um lilás com as costas abertas em V e colado no meu corpo.

 

    - Natália! - Eduardo começou a nos saudar quando abriu a porta. - Heleninha! Pequena Giovanna! Vamos entrar, gente.

 

    Uma a uma abraçamos o ator que nos recebeu com sua típica alegria. Percebi que ele já estava um pouco alterado, isso tornou tudo um pouco mais atrapalhado.

 

    A casa não está cheia. Vejo apenas dois casais de amigos dos anfitriões e já os tinha visto antes.

 

    - Mamáááááááá...

 

    Gi saiu do meu lado para a outra direção. Mamá? É a Isabel! A espanhola também foi convidada.

 

    Procurei com o olhar o culpado da raiva que sinto. Rodrigo.

 

    Não demorou muito para vê-lo saindo da cozinha. O sorriso que carrega no rosto foi morrendo aos poucos.

 

    Caminhei apressada na sua direção. O levei em um canto e comecei a questioná-lo:

 

    - Por que você não me avisou que a Isabel viria?

 

    - Foi o Eduardo... foi... Ah, Isa está morando aqui em casa. Pronto, falei.

 

    - O quê? - Quase gritei.

 

    - Isa veio aqui para casa depois da briga de vocês. Como ela já tinha entregado o apartamento que morava, a chamei para passar um tempo aqui.

 

    - Você deveria ter me avisado, Rodrigo! Eu não teria vindo!

 

    Rô pegou o meu braço e me fez virar na direção da Isabel que tem uma Giovanna risonha em seu colo.

 

    - Olha essa cena, Heleninha. Gi queria estar com as mães dela. É Natal.

 

    - Então foi a Isabel que armou tudo isso?

 

    - Não! Giovanna passou o sábado inteiro aqui em casa e me disse que estava triste por não ter a Isa no Natal e sua comida. Foi pela Gi que te enganei. Se quer saber, não me arrependo. Olha a felicidade das duas.

 

    Fiquei olhando-as por mais algum tempo. Se minha filha me fizesse o pedido, acho que teria inventado alguma desculpa. Egoísmo, dou-me conta.

 

    Conformei-me com a presença da Isabel pela pequena. Por mais que eu não estivesse preparada, a felicidade da Gi está em primeiro lugar.

 

    - Você vai ficar, não é? - Rô perguntou tocando o meu ombro.

 

    - Sim.

 

    - Conversa com ela, Helena.

 

    Os olhos da espanhola cruzaram pela primeira vez com os meus. Não sustentei. Procurei o sorriso da Giovanna e seus olhos brilhando de felicidade.

 

    - Isabel para mim é um móvel na sua casa - disse voltando a olhar para o Rodrigo. - Vou cumprimentar os seus amigos. Você não precisa da minha companhia, escolheu a sua nova melhor amiga. Com licença, querido - ironizei.

 

    Como disse, fui até ao amigos do Eduardo e gastei o meu francês com eles já que eles são da terra da torre Eiffel. Ignorei o fato de a Isabel ter me ajudado a melhorar a fluência na língua anos atrás.

 

    O tempo foi passando, Natália também se juntou com a gente depois de ter conversado um pouco com a futura namorada que foi passar o Natal com a família no interior.

 

    Entre uma risada e outra que o Eduardo provocou quando entrou no grupinho fumando um charuto, Rodrigo anunciou que o jantar está pronto.

 

    Abraçada de lado com a Natália, caminhei com minha amiga até a grande mesa. A todo momento eu sentia o olhar da Isabel em mim.

 

    Ignorei a sua presença durante o jantar. O sabor é dela, é a única coisa mais próxima de mim. Sei muito bem diferenciar o tempero do Edu e dela, para o meu pesadelo, quase tudo foi preparado por ela.

 

    - Cette dinde de Noel est magnifique, Isabel. C'est le meilleur que j'ai mangé de ma vie. (Este peru está maravilhoso, Isabel. É o melhor que eu comi na minha vida)

 

    Olhei para a convidada loira incomodada com o sorriso que ela mostra à espanhola.

 

    - Merci - vi Isabel responder com um sorriso de lado. Timidez.

 

    Provei da ave e tive que concordar com a francesa. Seus olhos não param de admirar a Isa.

 

    Rolei meus olhos. A comida começou a ficar com um gosto amargo e resolvi me dedicar ao vinho.

 

    A sobremesa foi servida quando todos terminaram de comer. Edu até repetiu o prato e rasgou elogios à Casañas.

 

    Isabel serviu um generoso pedaço de bolo e pediu para a Giovanna dividir comigo.

 

    - Mamá disse que é seguro porque não foi ela que fez o bolo. Vamos dividir, mamãe?

 

    Suspirei e coloquei a minha pequena no meu colo. Foi o momento de trégua e o mais bonito da noite. A abracei com força, e deixei que ela comesse até mais do que deveria.

 

    Com todos na mesa satisfeitos, Edu nos chamou para a sala. Disse que era a hora da diversão. Eu preferia ir para casa, mas Natália e pequena querem ficar mais um pouco.

 

    Joguei o meu corpo no sofá confortável e desesperei-me quando olhei para a tv e vi escrito "karaokê". Eduardo pegou os microfones, e com seu companheiro abriu os trabalhos com uma música do Frank Sinatra.

 

    Natália se empolgou e cantou Kid Abelha, depois acompanhou a Gi em uma música do rei Leão. Os amigos do Erick cantaram em francês. Até que foi bonito.

 

    - Vem, Helena. Sua vez!

 

    - Mas nem fuden... - freei-me ao me lembrar da Gi. - Passo essa, Rê. Quem sabe mais tarde.

 

    - Então, vamos cantar de novo, bebê - Eduardo pediu. - Agora em português.

 

    Quando os primeiros acordes começaram, desacreditei da música que meu amigo vai cantar.

 

    - Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

 

    Eu tentei dar uma risada discreta, mas todo mundo começou a rir da performance do ator. Até mesmo Rodrigo que teve que se recompor depressa e cantou:


    - E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto

 

    Desafinado, Edu voltou a cantar:

 

    - De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

 

    Enquanto meus amigos continuavam a linda música, uma risada me chamou a atenção. É a gargalhada gostosa dela. Não consegui evitar que meu olhos caíssem nela. O vestido vermelho se desenha bem em seu corpo. Com as pernas cruzadas, admirei uma parte da sua coxa exposta. Subi novamente pelas suas curvas, reparei que ela ainda está usando a aliança. Continuei o caminho para o seu rosto e nossos olhos se cruzaram.

 

    A melodia entrou nos meus ouvidos e as vozes do casal foi substituído pelo original do Caetano Veloso na minha cabeça.


    "Agora, que faço eu da vida sem você?
    Você não me ensinou a te esquecer
    Você só me ensinou a te querer
    E te querendo eu vou tentando te encontrar
    Vou me perdendo
    Buscando em outros braços seus abraços
    Perdido no vazio de outros passos
    Do abismo em que você se retirou
    E me atirou e me deixou aqui sozinho"

 

    Seus olhos queimavam os meus. Uma mistura de vontade de dizer alguma coisa e desejo. Fiquei presa no brilho dos castanhos claros.



    "E nesse desespero em que me vejo
    Já cheguei a tal ponto
    De me trocar diversas vezes por você
    Só pra ver se te encontro"

 

    Desci pelo seu rosto e caí em sua boca que cantou para mim:


    - Você bem que podia perdoar
    E só mais uma vez me aceitar
    Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la.

 

    Levantei-me rapidamente do sofá com a música rodando na minha cabeça. Faz tanto sentido.


    "Agora, que faço eu da vida sem você?
    Você não me ensinou a te esquecer
    Você só me ensinou a te querer
    E te querendo eu vou tentando te encontrar"

 

    Não consigo me encontrar. Não sei se meu caminho é a Isabel ou outro.

 

    Quando dei por mim, estava na área de lazer do casal. Apoiei-me no parapeito e admirei a paisagem. Fiz uma contagem regressiva para Isabel vir atrás de mim. 10... 9... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1.

 

    - Helena.

 

    Olhei na direção do sotaque. Esperei que ela se aproximasse.

 

    - Helena, nós...

 

     A puxei pela nuca e beijei sua boca. Seu gosto conhecido foi como nada. Sua língua não acendeu o meu desejo. Seu beijo não tem mais o mesmo efeito sobre mim.

 

    Parei o beijo de repente e a empurrei de leve pelos ombros.

 

    Os seus olhos demoraram para abrir, eu encarei o seu rosto.

 

    Bate acelerado coração. Bate forte como antes. Bate.

 

    Cadê as batidas erradas? Por que eu não estou sentindo nada?

 

    - ¿Qué pasa, Helena?

 

    Sua mão parou no meu rosto. Procurei o seu cheiro na pele de seu pulso. Nada.

 

    - Cariño?

 

    - Eu não estou sentindo nada por você, Isabel.

 

    - O quê? Calma, Helena.

 

    Seus olhos mostraram aflição. Nem em nossas brigas eu vi tanto medo.

 

    - Eu poderia entrar em algum quarto dessa casa, ter o seu corpo e não sentir nada. Estou te vendo apenas como uma mulher bonita, desejável. Você está linda.

 

     - Helena, no! Por favor, não faça isso comigo.

 

    - Não estou tentando te machucar. Juro que não. É apenas o que estou sentindo.

 

    - E você sente que no me ama mais?

 

    Abaixei a cabeça. Minha cabeça ferve em pensamentos confusos.

 

    - Hoje... - iria afirmar que não. - Eu não sei.

 

    - Você está chateada, Helena. Eu sei, errei com o nosso amor, não cumpri a minha promessa, deveria ter contado. Mas, por favor, acredite em mim, eu não senti nada pela Elisa. Nada. Arrependo-me por não conseguir me controlar. É você que eu amo. Só você. Sempre foi você e para sempre será. Me perdoa - implorou.

 

    - Eu sei, Isabel. Sei que a Elisa te enrolou e sei que foi apenas um momento de carência. É clichê, mas o problema está em mim. Eu não sei se é amor ou se apenas sinto falta de te ter ao meu lado, se minha luta foi por amor ou por não aceitar a separação sem explicação. Pode ser possessão, vício, não sei. Não quero voltar com você porque sinto sua falta na minha cama ou por achar que a Gi ficará triste comigo. Eu queria sentir o mesmo amor de antes. O que eu achava ser amor.

 

    - Você está nerviosa, Helena. É o mesmo que senti quando nos separamos pela primeira vez. Raiva profunda. Eu só te peço que não me tire da sua vida, deixe-me te mostrar que ainda existe amor.

 

    - E se não existe, Isabel? - Senti medo.

 

    - Existe, cariño. Se um dia você me disser que não me ama mesmo, vai doer, mas aceitarei sua posição. Só no faça nada sem pensar. Mais uma chance, Helena. Só mais uma chance.

 

     Respirei fundo. Sua mão veio parar no meu rosto.

 

    - Eu preciso de um tempo - disse à atriz.

 

    Isabel me puxou para o perto dela e beijou a minha testa.

 

    - Eu vou te esperar, Helena. Tome o tempo que precisar. Só me permita reconquistá-la. Prometo não te sufocar, muito menos te importunar.

 

    Coloque o meu ouvido na direção do seu coração e senti suas batidas. Queria que o meu coração estivesse desse jeito.

 

    - Acho melhor a gente voltar, essa conversa sem pé e sem cabeça não vai nos levar a lugar algum.

 

    Saí dos seus braços e esperei por ela.

 

    - Pode ir, eu vou ficar mais um tempo aqui.

 

    Desviei dela e comecei a caminhar na direção da sala.

 

    - Helena...

 

    Parei para escutá-la.

 

    - Eu só quero que você saiba de uma coisa: eu te amo muito.

 

   Recomecei os meus passos para longe dela. Ouvi o começo do seu choro. Meu coração se partiu ainda mais. Não sei se pela Isabel, se pelo beijo, se pelas minhas dúvidas, se pela Elisa. No fundo, está partido em vários pedaços, cada um representando dores passadas e novas.

 

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 36 - Vazio:
Lujan
Lujan

Em: 22/02/2021

Que triste ????????

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Rain
Rain

Em: 19/02/2021

Comecei o triste, chorei no meio e terminei chorando. A única coisa legal aqui foi a Nat e a Nina. O resto só dor... e raiva.

Eu sei que a pessoa precisa de tempo para assimilar tudo. Helena precisa disse. Mas, chega de sofrer né. Eu cansei de chorar também. E essa música com trocas de olhares acabou comigo. Literalmente. Eu achei que depois da música e o beijo podia solta fogos de artificio.. Mas com essas duas não é assim né. Nem a música ajuda... Ooo dor T...T

Parece que as palavras da Isabel serviu para Elisa tomar aquele choque de realidade. Finalmente. Minha reação lendo a conversa da Helena e da Elisa foi assim ô: "Não, eu não sei o que o amor da vida de qualquer uma das minhas amigas é. Eu jamais olharia diferente para alguma delas. " ... Eu também!

" Bem, no meu lugar qualquer pessoa faria a mesma coisa." ... Eu não faria não.

"Acredite, a sua amizade sempre foi importante para mim e veio primeiro." ... Pode ter sido antes da Isa aparecer, mas isso aí foi mentira.

Rsrs foi bem assim que pensei. 

Helena, não quer conversar ainda com  a Isa, mas deveria explicar um pouco as coisas a Gi. Acho tão injusto quando os pais não tentam explicar as coisas as crianças também. Eles também pensam né. Helena deveria conversar com a Gi.

Vou pro próximo chorando com essa música do Caetano...

Responder

[Faça o login para poder comentar]

GabiVasco
GabiVasco

Em: 16/02/2021

HELENA NÃOOOOOOOOOOOOOOOOO. Eu terminei esse capítulo chorando.

Não é possível que a raiva seja tanta!!!!!!!!!!! Elas tem que ficar juntas, autora.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

bicaf
bicaf

Em: 14/02/2021

Oi.

Já gostei desse novo casal.

Coitada da Isa. Vai ter de se esforçar muito. E Helena hem, não percebo ela. Ainda há pouco tempo tava toda feliz, morrendo de amores pela Isabel e foi só haver um desentendimento para deixar de amá-la??! Tá bom que foi uma situação muito difícil de lidar, mas deixar de sentir amor assim derrepente é confuso.

Beijo.


Resposta do autor:

Olá!

 

Ah, Nat e Nina são tdb.

 

Não gosto de defender meus personagens, mas tem umas peças aí para a sua reação.

 

Beijo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Baiana
Baiana

Em: 14/02/2021

O saldo positivo desse desmantelo todo foi o romance da Natália com a Nina. Alguém tinha que se dá bem né?

A Elisa tentando consertar seus erros,e quando ela falou que qualquer um faria o mesmo no lugar dela,não faria, pelo menos uma pessoa de caráter,não faria o que ela fez,se aproveitando da situação,e usando a fragilidade alheia para tentar conseguir o que deseja.

Ah, Helena... você e sua intransigência,sabe como tudo aconteceu,tem ciência da manipulação da Elisa,e mesmo assim fica de cheiro mole,e ainda se acha no direito de se incomodar ao ver a Isabel sendo elogiada por outra.

Espero que a missão da Isabel seja bem sucedida,e que ela possa derreter o gelo que a Helena envolveu o coração,mas também que não se humilhe,se a Helena não quer,muitas querem.


Resposta do autor:

Viva Natália e Nina!

 

Sim, mas na cabeça dela não funciona assim, infelizmente.

O ciuminho pode ser o sinal de algo, não é?! Sei lpa.

 

Abs!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

LeticiaFed
LeticiaFed

Em: 13/02/2021

E olha que a dupla descornada até se deu bem...pelo menos uma, mesmo caindo pelo sofá hahaha Foi ótima a cena.  Elisa, a jararaca, vindo se explicar foi pra acabar com a paciência de qualquer um, pelo menos não criou mais intrigas do que ja fez. Fiquei com uma peninha danada da Isa, acho que Helena está meio intransigente demais, ate entendo a mágoa mas...Yes, you can!  Vambora, Isa! ;)


Resposta do autor:

Nat e Nina são tão fofas mesmo, ao menos um casal sem drama hahahaha.

Uma coisa certa Elisa tinha que fazer, não é?!

 

Beijo!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web