Meus pedaços por Bastiat
Rega e cuida que cresce
Isabel
Sussurrei o nome da Helena após seus lábios se separarem dos meus. Um beijo dado pelo clima que se formou após meu corpo ser jogado para seus braços.
Mantive os meus olhos fechados. Não sei o que pensar. A última vez foi tão frustrante, suas palavras desesperadas ainda ressoam na minha cabeça e faz meu peito apertar. Receio.
Dessa vez sinto que foi diferente. Apesar disso, sei que pode ter significado desejo. Ainda possuímos uma forte atração sexual, está claro.
- Venha comigo. Preciso te levar a um lugar.
Sua mão entrelaçou na minha. Fui puxada para seguir com a mulher que amo com todas as minhas forças.
Força, é isso que preciso para ouvir o que ela tem para me dizer. Que seja de uma vez. Não tenho mais outras maneiras de reconquistá-la. Se insistisse com a minha presença seria uma erro. Apelei para a única coisa que tinha em minhas mãos: o nosso passado. Como a conquistei, anos após anos. Minhas lembranças que senti necessidade de guardar em materiais.
Descemos do palco e saímos do estúdio como se estivéssemos fugindo de alguém. Helena está linda no vestido preto colado no corpo de comprimento um pouco acima do joelho. Os saltos vermelho nos seus pequenos pés destacam o seu charme.
Da minha boca não saía nada. Helena parou na porta do seu camarim e entrou comigo. Tentei soltar a minha mão, mas ela segurou firme, pegou sua bolsa e saímos juntas.
O próximo local foi o meu camarim. Fez a mesma coisa: entrou, pegou a minha bolsa, entregou-me e continuou a andar.
Não estamos indo na direção do jardim, nem da sala do café, ou outro lugar tranquilo para conversar. Ela não diz nada, só anda e eu atrás como uma boneca.
Tentei frear as passadas, mas fui puxada mais uma vez.
- Confie em mim, Isa.
Sua voz calma e o uso do meu apelido tranquilizaram-me.
O rumo foi mais inesperado do que poderia prever. Saímos da emissora sem olhar para trás. A direção foi o seu carro. O barulho ao destravar as portas tornou o ambiente mais misterioso.
Helena abriu a porta do passageiro para que eu pudesse entrar. Por que não diz nada?
Olhei em seus olhos como se pedisse uma resposta. Veio após perceber que eu não entraria fácil como ela queria.
- Não era para ter acontecido assim, mas nada do que planjamos sai muito certo. Não vou te machucar, quero apenas te levar comigo para um lugar.
Deixei de lado os meus medos, sem hesitar entrei no seu veículo. É realmente preciso um lugar tranquilo para ter uma conversa. Em qualquer canto do trabalho poderia entrar um amigo, funcionário, alguém de fora.
Helena deu a volta e entrou no automóvel apressada. Sem dar tempo de conversar mais nada, a partida foi dada e começou a traçar o caminho para a portaria.
Não há pressa. A baixinha dirige tranquila, certa do que quer e como o fará. O mesmo não acontece comigo, meu coração disparado combina com o meu cérebro pensativo. É a minha única chance, pedirei para ela ficar comigo.
Virei a minha cabeça para o lado e acompanhei as luzes da noite paulistana. Há três dias recebi a notícia de que Lena recebeu uma proposta irrecusável para um trabalho no Japão.
Eduardo me contou que a emissora investiu pesado no nome dela após a recusa pela continuação no Atuando. Chateada do jeito que está, perigo já ter aceitado, embora eu não tenha conseguido a certeza.
O carro parou em uma rua próxima a avenida Paulista, mas só havia residências no local.
- O que estamos fazendo aqui? Por um momento pensei que iríamos ao Arte, é caminho.
- Isabel, olha para mim.
É uma despedida, vamos conversar no carro. Muito mais triste do que eu poderia imaginar.
- Helena, por favor.
- Isa, me olhe. Quero te pedir uma coisa.
Finalmente virei o meu rosto na sua direção. Ganhei um esboço de sorriso e sua mão direita veio na direção da minha bochecha.
- Mais uma vez eu peço que confie em mim. Quero que use uma venda nos seus olhos, é um lugar muito importante, quero te fazer uma surpresa.
- Helena, eu só quiero conversar. Só isso. Quero acabar de vez com esse martírio. Eu... eu não consigo compreender o beijo, a sua atitude de me trazer até aqui. Para onde estamos indo? Não consigo nem decifrar os seus olhos.
- Nós vamos conversar, mas eu preciso que seja nesse lugar. Você vai entender tudo quando chegar lá e tirar a venda dos olhos.
Contrariada, acenei positivamente com a cabeça para a sua proposta. Helena pegou um pano preto de dentro do porta-luvas e entregou-me.
Coloquei o objeto nos olhos. Minha vontade era de deixar um pouco frouxo para enxergar, mas não o fiz por me apegar a surpresa positiva do local.
- Você não está roubando, está? Consegue enxergar algo daí?
- Não, Lena, não enxergo nada e nem ninguém. Podemos ir logo? Não gosto da sensação de ficar, literalmente, no escuro.
- Sim, senhora, dona Isabel Casañas. Partiu!
Fui guiada pelo barulho da chave e o motor sendo ligado.
- Em um minuto chegamos, tudo bem? Parei perto do local.
Sua mão foi parar na minha coxa. Eu busquei apoio ao tocá-la e fui correspondida. A minha insegurança deu lugar à esperança. A atriz não tomaria uma atitude dessa se ainda estivesse com raiva de mim.
- Helena?
- Calma, já vou estacionar e podemos seguir.
- Você vai para o Japão?
- Como você soube?
- Edu. Trabalhamos na mesma emissora, difícil não saber também. Eles só mantêm em segredo o que querem e promover a sua ida para vazar como fofoca é uma estratégia de marketing.
Ouvi um longo suspiro. O automóvel fez uma leve curva e logo parou.
- Não vou para lugar nenhuma, Isa. Recusei a proposta quase na mesma hora que me foi feita. Existem coisas mais importantes que a minha carreira.
- Gi - disse como se fosse óbvio.
- Sim, separar vocês duas seria cruel e não aconteceria. Ficar longe da minha pequena é impossível. Porém, na hora eu não pensei exatamente isso, não foi por isso que recusei.
Silêncio. Busquei a sua mão que tinha voltado para o volante antes.
- Já chegamos?
- Sim. Eu vou te ajudar a descer e te levar. Cuidado que tem escadas, mas não se preocupe porque vou te guiando.
Um beijo na minha mão e logo em seguida a porta do motorista sendo aberta, foi o que pude concluir com o barulho.
Não demorou para que Helena surgisse ao meu lado e me ajudasse com a saída. Suas mãos seguraram firme a minha cintura para começar a me levar até o local.
Tentei descobrir pelo cheiro. Não é um restaurante. Busquei tocar em algum lugar, mas só tem parede. Parece um corredor. Senti a luz ficar mais fraca. Festa? Busquei vozes, não escutei.
- Pronto, pode olhar.
Levei as minhas mãos para a parte de trás da minha cabeça e retirei a venda. Pisquei algumas vezes e olhei em volta.
- O que...
É realmente um corredor com um aspecto mais antigo, vermelho e com tapete da mesma cor. Olhei da Helena para o lado e vi um cartaz em destaque com lâmpadas em volta ao lado de uma grande porta preta.
‘Moulin Rouge'.
- Esse filme... - desacreditei de onde estamos.
- Sim, eu te trouxe para o mesmo cinema que não conseguimos ir aquela vez.
- Você fechou uma sala só para a gente?
- E mudei a decoração para parecer um cinema do começo dos anos 2000.
- Caramba... eu... não esperava. Então você viu tudo? Recebeu? Abriu as caixas, envelopes? Eu imaginei que sim, mas você não deu nem um sinal.
- Na primeira semana eu fiquei em choque por ter tantas coisas do nosso começo de namoro. Na segunda senti raiva por relembrar tudo o que já vivemos e a que ponto chegou o nosso relacionamento. Pensei em te enviar um "pare", confesso, mas no mesmo dia chegaram as lembranças do casamento e só então percebi que, na verdade, eu estava com raiva por ter perdido tudo aquilo. Logo, a minha raiva se transformou em luta. Eu não poderia te perder. Não posso. É você quem eu amo. Com os erros, defeitos e com todas as qualidades.
Peguei em suas mãos, suspirei. Já tivemos essa conversa e declaração antes. É importante saber que ela ainda me ama, mas quero pisar em algo concreto.
- Eu não tenho mais segredo nenhum, Helena. O que tive com a Elisa foi uma noite, um momento, algo que aconteceu e eu não tive forças para impedir. Errei com você, com ela e comigo. Muito com você porque era a sua melhor amiga e depois por não ter contato na hora que deveria. Você sabe que vamos levar eso para vida, não é?
- Sim - disse colocando minhas mãos na direção do seu coração. - Eu senti muita raiva. Para mim foi muito maior do que ter sido acusada de traição. Sempre soube que eu não traí, minha consciência estava limpa. Ainda sentia um grande amor por você e isso me desesperava por não saber o que havia acontecido. Sim, nosso casamento estava entrando em desgaste. Não faltava amor, mas faltava diálogo. Sei dos meus erros, mentiras desnecessárias, aprendi durante quando tivemos aquela conversa. Então, voltando ao que senti quando soube de você com a Elisa... ódio. Fiquei cega de ódio. Aqui dentro o meu peito se quebrou em pedaços.
Seus olhos transmitiam a dor que vi no dia que confessei que transei com a Elisa.
- Isa, te imaginar na cama com qualquer outra mulher já não era agradável. Sinto ciúmes mesmo e você sabe o quanto. Entretanto, eu também fiquei com outras mulher, talvez não tivesse esse direito. Mas foi com a Elisa, minha melhor amiga. Alguém que eu empurrei para os seus braços sem saber. Me senti burra, ciumenta, irritada, traída. Vazia. Isso, eu fiquei oca por dentro. Meu mundo perfeito desmoronou. Minha mulher, meu amor, a atriz que admirava, a outra mãe da minha filha, também era o amor de outra mulher que no fim, após muitos anos, a levou para a cama. Meus sentimentos morreram.
Uma lágrima ameaçou rolar pelo seu rosto, mas rapidamente interrompi com a mão e voltei para a união delas no seu peito.
- Depois do Natal, desesperei-me. Eu não queria me sentir vazia. Deixar de te amar nunca foi uma possibilidade para mim. Porém, era real naquele momento. Eu fui ferida de uma forma inesperada. Sei que você tentou me falar de todas as maneiras aquele dia, mas a verdade é que fui pega no meu ponto fraco. Sentia ciúmes de várias mulheres que não tinham nada a ver, da Elisa nunca. Doeu tanto. O meu coração foi arrancado para fora depois de digerir essa informação. Até que - sorriu - você resgatou cada pedacinho de mim. Você não jogou nada fora nem quando nos separamos, nem por um segundo de raiva. Por que eu o faria? Só pensava isso. Quando dei por mim, alguns dias depois, o que aconteceu parecia distante. Nunca esquecido, mas compreensível. Pode pensar que a minha atitude foi extrema por ter te expulsado de casa logo após a sua volta. Entretanto, eu fui real, leal ao que sentia. Se eu tivesse te mantido perto de mim, passado por cima dos meus sentimentos, teríamos problemas mais para frente. Não sei se conseguiria fazer amor como antes, te olhar da mesma maneira, seguir com você como se nada tivesse acontecido. Infelizmente aconteceu e hoje posso dizer que vejo o que aconteceu de uma forma mais tranquila. Parei para pensar, pesquei os pontos, renovei os meus sentimentos. Só tenho a agradecer pela paciência, atitude, por não ter desistido de mim.
- Desistir de você seria o mesmo que desistir de mim, cariño. Seria desistir desse nós que propusermos a compartilhar com o amor que sentimos uma pela outra. Eu te amo e te amarei pelo resto da minha vida. Eu te entendo, imaginei que estivesse com um buraco enorme no coração. Pero, porque te amo e aprendi com os meus erros, lutei por você. Não quis te forçar a nada, sei que precisava de um tempo. A ideia de relembrar veio do Rodrigo quando, sem querer, disse uma frase que me despertou. "Lembranças são como nossas sombras". Carregaremos para sempre tudo o que vivemos com nós. Não custava nada relembrar pelo o que batalhamos juntas quando nos permitimos iniciar uma relação. Eu guardei tudo aquilo porque...
- Você não tem nada da sua mãe e da sua avó - concluiu.
Concordei balançando a cabeça positivamente. É um assunto que sempre mexe comigo e Helena sabe do que preciso quando relembro do passado. Desfazendo o nosso entrelaço com as mãos, acolheu-me em um abraço apertado.
- Forte é uma palavra que te resume - começou a dizer no pé da minha orelha. - Saiu da Espanha sem poder levar nada, apenas com uma mala, e ainda teve que vender o que tinha de valor. Sei o quanto te dói ter apenas um retrato da sua mãe, lembrar-se apenas do cheiro, do som da risada, os momentos. Ainda hoje sinto a sua tristeza quando fomos visitar a casa que morava com sua família e viu que estava totalmente diferente do que se lembrava pois foi destruída e reconstruída por uma construtora. Eu sinto muito se em algum momento não dei importância quando quis guardar as coisas da Giovanna. Às vezes não conseguimos nos colocar no lugar do outro na hora que se precisa. Passou despercebido por mim. Sinto muito, Isa. Hoje eu sei o quanto o que era importante para você, também tornou-se para mim. Obrigada por ter guardado tudo.
Não deixei que ela saísse completamente dos meus braços. A puxei pela cintura e iniciei um beijo. No começo calmo, depois cheio de desejo. Encostei seu pequeno corpo na parede, explorei a boca e deleitei do nosso encostar de línguas. Puro magnetismo que nunca se acabará.
Após sua boca, desci pelo seu pescoço. Helena no primeiro momento deixou e até ameaçou um gemido. Mas ao se dar conta do local que estamos, foi se afastando aos poucos.
- Isa, ainda temos uma sessão de cinema para curtir. Você não faz ideia do trabalho que deu fechar parte do cinema, decorar, colocar o filme para rodar na tela. Foram os ingressos mais caros que esse lugar já viu.
Minha risada foi abafada por ainda continuar no seu pescoço. Afastei-me sorrindo.
- Então precisamos aproveitar, não é?! Quem tem a oportunidade de reviver um dos dias mais importantes da vida e ainda fazer algo diferente?
- O mesmo filme, mas com um final diferente.
Helena não fala de ‘Moulin Rouge!', é como se recomeçássemos do zero e partíssemos do dia que nos declaramos pela primeira vez.
Um selinho rápido despertou-me. A mais velha mostrou-me as entradas.
- Fiz cópias para simbolizar, as originais estão muito bem guardadas, não se preocupe. Tem uma pessoa na porta que deve estar cansado de tanto nos esperar - deu uma risada fraca. - Não pensei que a conversa seria aqui no corredor. O plano inicial era a Natália te encontrar após o programa e te trazer. A conversa era para acontecer lá dentro.
- Aqui, lá, qualquer lugar, desde que sempre no final nós conversamos. Sempre.
- Agora nada e nem ninguém nos impedirá de ser feliz e retomar o nosso caminho juntas. Vamos? - Perguntou estendendo a sua mão para mim.
- Para sempre.
De mãos dadas, entramos na sessão. Um rapaz deu às boas-vindas e pegou os nossos ingressos fictícios.
Subimos as escadas, por um momento vi a Helena jovem ao meu lado. Um simples jantar em casa deu início a nossa história. Ou será que no teatro mesmo começamos? Não sei. A única certeza que tenho é que não haverá mais espaço para erros graves. O que tivemos que cometer, já foi. Passamos por essa crise porque nosso amor é forte. Não precisamos mais provar isso. Eu a amo, ela me ama. Mais do que sentir amor, é preciso querer viver o amor em cada momento, seja na hora da turbulência, seja na hora da bonança. Errei quando pensei que nada poderia nos atrapalhar. Errei ainda mais quando deixei me levar por inverdades. Peguei um preço alto por colocar em cheque a nossa história de amor. Perdoei-me por esses erros. Não sei se me perdoaria por ter feito Helena deixar de me amar.
Sentamo-nos nas poltronas indicadas nos ingressos, uma moça entregou um balde de pipoca quentinho. Helena não perderia a chance das suas mordomias.
- Você não tinha a mínima maldade comigo, não é?! Como íamos nos beijar sentadas aqui? O lugar de namorar é lá no fundo. Menos luz, mais mãos bobas.
Ri da brincadeira feita pela baixinha. O amor da minha vida sempre foi leve, brincalhona, adora uma farra. Estão aí alguns motivos pelos quais eu me apaixonei por ela.
- Confesso que não tinha mesmo. Imagina que Helena Carvalho iria olhar de outra forma para uma simples atriz nômade que ganhava dinheiro apenas para ter um lugar para morar e o que comer.
- Você se rebaixava muito, amor. Uma puta atriz que fazia o palco tremer com tamanha atuação. Uma mulher linda, beleza única, inteligente e que fazia muito gente suspirar pelos cantos. Até parece que não percebia.
- Sim, eu via. Mas imaginar que você ficaria a fim de mim era outra história. Ainda bem que eu estava errada.
As luzes se apagaram e a tela branca começou a passar trailers.
- E ainda bem que a sessão é só nossa, assim posso te beijar sem que incomode ninguém.
Seus lábios juntaram-se aos meus. É a fase de namoro, o sentimentalismo transbordado em cada toque. A beijei com carinho. Toquei no seu rosto como se fosse uma peça preciosa. Helena parece sentir o mesmo, suas delicadas mãos pousam na minha cintura e acarinham o local.
A contagem para o filme começou, hora de nos separarmos pelos menos as nossas bocas.
Abraçadas, dividimos a pipoca enquanto Nicole Kidman ganhava a tela com a personagem Satine e Ewan MacGregor com o poeta Christian. A história de um amor quase proibido. Também um clássico filme no qual a ideia de uma mulher ser disputada por dois homens que no final querem controlá-la não cabe mais no contexto atual. Coisas das quais a maioria, queira eu pensar assim, só se dão conta hoje. Um dia a sociedade muda, torço. Satine só encontra paz quando morre, o que é o puro egoísmo humano e o auge do machismo. É uma linda obra, quando se pensado com crítica.
Ao final do filme nos olhamos. É um novo final para nós.
- Quando as luzes se acenderem, Isa. Continue aqui.
- O que está aprontando, Helena? Tem algo mais? Já não basta o cinema?
- Para mim te surpreender nunca basta.
As luzes se acenderam, consegui ver seu rosto feliz com nitidez. Seus olhos brilham e só somem porque seu sorriso ficou largo demais.
- Te quiero tanto, cariño.
- Eu também te amo, vida.
Perdi o contato visual com ela quando voltou-se para a poltrona ao seu lado. De lá, saiu com uma caixinha de veludo.
- De novo, quero recomeçar - começou a dizer emocionada. - Dessa vez, eu pedi para derreterem a minha aliança. Com essa parte, fiz duas novas. Agora é diferente, teremos sim o nosso passado, mas também o nosso futuro com o novo. A sua aliança, vamos colocar com todas as lembranças que guardou. Estará lá como parte do que fomos. Continuará a nos recordar o que vivemos e o que aprendemos. Essa agora, é o verdadeiro recomeço. Sem mais segredos, sem Elisa, sem Gustavo, sem Philipa. E se alguém aparecer no nosso caminho, saberemos como lidar. Não te prometo que será perfeito, mas posso te garantir que farei o possível para te fazer feliz de novo.
- E sem Kátia. Ou pelo menos deixando bem claro a seu ligar na vida dela - sorri. - Sei que ela é sua amiga, confio em você, mas vamos evitar problemas que possam surgir.
- O reencontro com a Kátia foi só de amizade. Tivemos um momento, mas até ela entendeu o quanto te amo e que não temos mais nada a ver uma com a outra. Porém, entendo o que quer dizer, vamos colocar o nosso relacionamento em primeiro lugar. Amigos? São ótimos. Mas escolher a dedo é o que vale.
- Por falar em dedo, Helena Carvalho, quero colocar essa aliança logo no seu dedo.
- Está esperando o quê? Um juiz? Tenha as honras Isabel Casañas.
Peguei a menor e sua mão esquerda. Aos poucos, deslizei o símbolo do nosso amor no seu dedo e falei:
- Hoje plantamos uma nova flor. Cada dia a regaremos para que nunca mais precise ser plantada de novo. Não somos perfeitas, mas com um pouco de água todos os dias, chegaremos longe, como sempre sonhamos. Eu te amo, Helena.
Cheguei ao fim beijei a sua mão com a aliança que tenho certeza de que permanecerá no seu dedo por muitos e muitos anos.
- Minha espanhola, tão romântica, difícil resistir.
Helena pegou a aliança e sem enrolar a colocou no meu dedo. Seus olhos buscaram os meus como foram fisgados pela primeira vez.
- Não tenho dúvida de que essa flor será mais forte porque hoje somos mais fortes. Uma tempestade pode até ter tentado arrancá-la, mas amor é uma raiz forte. Foi o que nos segurou e nos fez voltar. Aprendemos muito, reconhecemos os nossos erros. Tenho certeza de que hoje somos as melhores versões uma da outra. E quantos casais não tem a chance de esclarecer? E quantos se perdem? Quantas e quantas pessoas vivem sem amor? Se a vida nos deu essa chance, se fomos capazes de driblar os obstáculos, não tenho dúvida de que seremos felizes para sempre.
Um beijo fechou o nosso novo acordo. Casei-me dentro de um cinema.
- Mamá, mãe!
Nosso maior tesouro gritou da porta de acesso à sala. Correu até chegar ao nosso encontro.
- Deu certo, mamãe? Mamá disse sim?
- Deu certo, meu amor - Helena a respondeu.
Natália e Nina apareceram de mãos dadas na porta. Giovanna pulou no meu colo e juntou as nossas mãos.
- Que susto vocês me deram! - Natália reclamou. - Eu passei na emissora e nada. Fiquei preocupada, sabia? Depois o porteiro falou que vocês saíram juntas. Fui à sua casa e só encontrei essas duas por lá - disse apontando para a Nina e Gi. - Não sabe o que é celular para avisar, Heleninha?
- Desculpa, amiga. A última coisa que pensei foi em te avisar.
- Amor - Nina a chamou. - Veja, está tudo bem, elas assistiram o filme, o plano da Helena deu certo e elas estão felizes. Não é ótimo?
- Finalmente, não é?! Mas poderiam ter avisado.
- Sempre reclamando, Natália - ironizei. - Olha lá, viu?! Cuida bem da Nina. Ela merece ser feliz.
- E vou fazê-la, Isa. Quanto a isso, não se preocupe. Nina é meu amor, a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
- Quando vão se casar? - Giovanna perguntou.
- Gi! - Bronqueou a babá.
- Ainda estamos na fase de namoro, pequena. Mas, daqui um tempo, quero sim dividir a minha vida com ela. Resta saber se Nina quer - Natália aproveitou para questionar.
- É claro que quero, Nat. Mas só depois que eu terminar os meus estudos. Antes disso, vamos aproveitar.
- E filhos, vocês querem? - Perguntei já planejando algo.
- Sim, claro - Nina respondeu.
- Então treinem com a Giovanna esta noite. Ela está doida para assistir um filme aqui no cinema, não é, Gi?
- Sim! Quero muito. Vamos tia Nat e Nina?
- Uma ótima ideia, amor - Helena logo concordou. - Se eu fosse vocês aproveitavam a oportunidade. Não é sempre que vou emprestar a minha filha assim.
- Espertinhas - Natália sorriu de lado. - Tudo bem, aproveitem a noite de vocês. Quando for a minha vez, vou relembrar esse maravilhoso favor.
- Vem, Gi. Vamos ver o que tem em cartaz - Nina a chamou.
As três partiram. Ficamos eu e Helena ainda sentadas nas poltronas.
- Vamos para casa? - Perguntou-me.
- Não vejo a hora - respondi.
De mãos dadas nos levantamos. Abracei o meu amor pela cintura para seguirmos juntas de volta ao nosso lar. Tudo está no seu devido lugar.
Fim do capítulo
Ainda não é o fim, mas quase.
Comentar este capítulo:
GabiVasco
Em: 20/02/2021
Autora estou sem palavras!!! Casar as duas no cinema foi genial, eu amei demais. Amei mais ainda elas juntas de novo, é muito bom saber que elas ficaram juntas.
A explicação da Helena foi compreensivel, Isabel fez certo ao se afastar, acho que elas fizeram tudo certo e agora tem tudo para ser perfeito.
Obrigada!!! Ansiosa para o desfecho. Espero que seja reta de uns dez capitulos.
Resposta do autor:
Finalmente, GabiVasco.
A reta final é só mais 1 dividido em 2 capítulos :). Para sua sorte, já postados, nem vai precisar esperar hehe.
Eu quem agradeço sempre.
Abs.
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Rain
Em: 19/02/2021
Emocionada. Essa a palavra que me resumi no capitulo todo. Emocionada pela lembrança guardada pela Isabel. Emocionada pela atitude da Helena. Emocionada por essa troca de palavras. Emocionada por esse amor tão lindo que essas duas compartilham. Eu estou literalmente, emocionada... Chorei.
" Eu voltei, agora pra ficar
Porque aqui, aqui é meu lugar"
Agora, sim elas voltaram. Agora, sim é para valer. Agora sim. E depois ainda dizer que não existe almas gêmeas. Helena e Isa são uma... Desculpa tô emocionada.
Fiquei feliz da Nina e Nat também...
Acabou a maratona de sofrencia de sexta-feira. Pelo menos não terminou doendo e sim feliz por esse maravilhoso amor... Tô tão emocionada.
Até mais, autora.
Resposta do autor:
Sim! Agora sim é tudo isso. Sem mais loucuras, nada escondido. Agora é viver.
Maravilhoso encerrar a sexta-feira assim! Desculpa a maratona de sofrência hahahaha, era para ser assim.
Inté!
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Baiana
Em: 18/02/2021
Ah,achei que já fosse o final,ainda bem que tem mais.
É,parece que a Helena ficou inspirada pelas lembranças guardadas pela Isabel. Tal qual uma fênix,o amor da Helena morreu para ressurgir mais forte e mais intenso,e que elas não cometem mais os mesmos erros,e que priorizem o diálogo no casamento.
E eu achando que elas fossem recomeçar no Japão kkkk
Resposta do autor:
Tem mais um para completar e fechar de verdade.
Exato, uma fênix. Quando chegou as cinzas, sem saída, renasceu!
Não, sempre passou na minha cabeça uma recusa mesmo hahahaha.
Abs.
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LeticiaFed
Em: 17/02/2021
Hummmm, coraçõezinhos mil com este quase final ;)
Resposta do autor:
Aeeeee até que fim felicidade.
Abs!
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