Capitulo 4
Não poderia ficar me lamentando o final de semana todo, já estava na metade do sábado e o que eu tinha feito até agora era dormir, comer uma comida requentada no micro-ondas e maratonar série. Precisava sair um pouco daquele espaço, então resolvi me programar para no domingo bem cedo fazer uma caminhada pelas belezas naturais da cidade. O destino então seria uma cachoeira não tão distante assim daqui de casa e daria pra fazer a pé. Pelos cálculos do google seriam de 6 a 7 km de trajetória, o que não é nada em comparação ao que eu já caminhei.
Logo pela manhã, pego a minha mochila de alça com apenas os itens necessários como repelente, protetor solar, canga, documento, câmera fotográfica e um lanchinho pro caminho. O começo da trilha seria na saída da cidade, então parto para a minha mini aventura. A natureza sempre pode nos surpreender e por mais que a cidade fosse tranquila, é possível perceber as diferentes nuances pela troca de ambiente. O ar já começa a ficar mais úmido e o cheiro de planta é inconfundível. A luminosidade começa a ficar mais fechada também com penumbras devido às altas árvores do caminho. Adoro passar por esse tipo de cenário, a minha mente flutua e consigo me desconectar de tudo ao meu entorno.
Como eu poderia não gostar do brilho das árvores e de escutar os barulhos dos pássaros, a movimentação rasteira e suave de calangos conforme vou atravessando a rota?! Seria impossível para mim, sempre fui mais aventureira. Claro que o medo de encontrar um animal perigoso como uma cobra ou um macho babaca é possível, por isso, a cautela também se faz necessária. Mesmo assim, acredito que vale a pena arriscar para conhecer esses cantinhos especiais.
Como a trilha não era de um nível difícil, logo cheguei ao lugar mágico. A água caía de forma excepcional, com uma espécie de neblina mostrando a força da queda e logo abaixo no limite havia como se fosse um poção d’água perfeito para o banho. Em seguida, havia algumas outras quedas menores com respectivas poças. Um ambiente até mais tranquilo que o da queda principal. Não faço ideia do porquê esse lugar estava tão vazio num domingo ou eu cheguei cedo demais.
Vou descendo pela borda lateral até encontrar o canto ideal, o que eu considerei ser na poça após a segunda queda. Deixo as minhas coisas num canto em que eu possa observar fácil e sigo em direção à água. Um pouco gelada para o meu gosto, mas entro assim mesmo me acostumando aos poucos à sensação térmica devido à troca de calor entre o meu corpo e a água. Fiquei meio deitada apreciando o movimento das primeiras ondas. Deixo a minha mente divagar e fluir aproveitando aquela calmaria e sensação de paz.
Não sei por quanto tempo fico imersa, distraída até escutar um leve soar de vozes e passos. E de repente sinto pessoas se aproximando da queda principal. De onde estou, consigo identificar uma moça, um rapaz e mais alguém. Não consigo visualizar direito, pois meus óculos estavam embaçados e havia uma pedra atrapalhando parte da visão de cima. Percebo que são pessoas querendo aproveitar a cachoeira também e que não me ofereceriam riscos. Assim, volto a boiar e me concentrar na natureza. Sinto algo na minha perna e entro naquele desespero momentâneo achando que é uma cobra ou aranha. Dou um gritinho básico até perceber que é só uma folha.
- Lia? Está tudo bem? – Escuto a voz surpresa da Ágatha ao me ver ali embaixo. Ela estava apoiada numa pedra na barreira da queda que nos dividia. Como é que eu não havia reparado que ela era a terceira pessoa?
Explico que foi apenas uma folha e ela me convida para ir ao seu encontro e o de seus amigos. Novamente, não consigo negar o seu pedido e sou apresentada ao João e a Carla. Durante a conversa, posso ver a visível empolgação deles em conversar comigo, pareciam que suspeitavam de algo e por isso, ficaram falando sem parar sobre as suas aventuras pela cidade. Fico sabendo que o João conhece a Ágatha desde a infância e a Carla chegou no ensino médio. Os três acabaram se tornando grandes amigos e, na época de início da faculdade, João e Carla assumiram o romance óbvio que havia entre eles, estando juntos até hoje. Pareciam ser bem companheiros, o que fazia os meus olhos se iluminarem.
- Por que você não leva a Lia praquele ponto em forma de mirante? Eu e o João vamos ficar aqui aproveitando a cachoeira mesmo, depois podemos ir almoçar. – A Carla faz a pergunta e me animo com a sugestão, seria interessante tirar umas fotos lá de cima.
A Ágatha vai na frente, pego a câmera e vamos em direção à subida pela lateral da cachoeira. Ela me puxa pela mão, entrelaçando os nossos dedos e nos direciona ao caminho. Chegamos no local indicado me desvencilhando de suas mãos e fico impressionada com a vista. As árvores já não fecham tanto o local e é possível ver uma ampla área natural e parte da cidade. Tiro umas fotos, ela pega a minha câmera para tirar fotos minhas e vem me abraçando tirar umas nossas também. Aproveito novamente a vista e a sinto ao meu lado. Os nossos dedos roçando um no outro. Eu só penso o seguinte: Fudeu! Se não consigo fugir do contato ao menos tenho que quebrar o gelo e mostrar que seremos apenas amigas.
- Agradeço por ter me trazido aqui. Sua companhia tem sido adorável. Sinto que vamos nos tornar grandes amigas. Acho que estou satisfeita aqui, vamos? – Digo virando de frente pra ela. Decepção que vejo em seus olhos? Provavelmente. Dessa vez vou na frente em um passo mais acelerado e encontro os meninos já fora da água colocando a roupa para ir embora.
Pego minhas coisas e vou conversando com o João na frente. Olho pra trás e vejo as duas amigas cochichando. O mal de ser observadora é que sempre reparo nos detalhes. Dou um sorrisinho e volto a minha atenção à conversa animada que estávamos tendo. Finalmente no final da trilha, e como estamos todos já com fome nos direcionamos ao restaurante da cidade. O almoço se dá em um ambiente tranquilo e fico satisfeita de não ter mais nenhuma tentativa de aproximação da Ágatha. Logo nos despedimos e vou pra casa. Sinto um alívio pelo dia, mas ao mesmo tempo com uma vontade de ter jogado tudo ao alto e avançado em sua boca. Mas vou deixando apenas para os meus pensamentos e me preparando para mais uma semana.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 29/04/2024
Já vi que correr não vai dá certo.
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lindacy
Em: 29/04/2024
Oba!To me identificando e gostando muito da historia, mas autora, dá mais uma esticadinha nos capítulos, sao muito pequenos e deixa a gente com gosto de quero mais, kkkk
Resposta do autor:
Fico feliz que esteja gostando.. Isso me anima a escrever mais kkkk
Muitas coisas acontecendo na minha rotina que acabaram me deixando um tanto sem tempo.
Eu voltei a escrever como um hobbie, não tinha certeza se as pessoas estariam gostando ainda ou não. Então o seu comentário é bem importante.
Eu te agradeço!
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