Boa leitura!
Capitulo 14
Me desencostei da parede a qual escorava meu corpo e sequei as lágrimas escorriam por meu rosto, inspirando forte em seguida. Eu precisava me acalmar ou não conseguiria executar o plano ao qual eu havia acabado de traçar em minha mente.
Abri a porta e bem devagar saí dali, me escondendo de qualquer um que pudesse me colocar pra fora. Acabei parando na cozinha, onde arranjei um avental preto e coloquei sobre minha roupa. Agora sim eu estava parecendo com uma das garçonetes da festa. Segurei uma bandeja com algumas bebidas pra dar mais credibilidade ao meu disfarce e fui até o Jardim. Havia bastante pessoas circulando por lá. A decoração estava magnífica, digna de filmes e de onde eu estava conseguia ter uma visão privilegia do altar, onde em breve as duas fariam suas juras de amor.
Não demorou pra que eu havistasse Verônica. Em seu rosto, um enorme sorriso iluminava tudo, mas pra mim que a conhecia bem, era nítido seu desconforto. Circulei pela área, ora me escondendo atrás das árvores, ora atrás do convidados. Sempre que seu olhar se direcionava perto de onde eu estava, rapidamente eu virava de costas ou colocava a bandeja sobre meu rosto. No final, foi mais fácil do que eu havia imaginado. Quando eu já estava me sentindo mais tranquila, senti mãos me puxando pra um canto. Mal tive tempo de pensar.
- O quê você tá fazendo aqui sua maluca?
- Vanessa? Eu posso explicar.
- Pode o caramba. Você vai embora agora!
- Não mesmo. - sorrio
- Você vai nem que seja arrastada pelos cabelos.
- Tenta, Vanessa. Tenta - sorri em deboche - Eu vim aqui por uma única razão e não saio daqui antes de fazer o que planejei.
- Você só pode estar maluca. Aliás, eu tenho certeza que você não está batendo bem da cabeça - ela bate seu dedo em minha cabeça várias vezes, fazendo eu me afastar dos seus toques nada sutis - Ela não te quer Eliza. Coloca isso na sua cabeça. Ela - não - te - quer.
- Foda-se. Deveria ter pensando nisso antes de me seduzir - arqueei a sobrancelha.
- Ela é uma filha da puta sim, mas você não está sendo melhor que ela nessa história.
Antes que eu pudesse responder, a música que serviria de marcha nupcial começou a tocar. "Always remember us this way" ecoava por todo o ambiente, ao mesmo tempo que Camila adentrava o Jardim em direção a sua noiva. Ela estava linda, isso eu tenho de admitir. Usava um vestido de seda longo, branco, com um decote singelo, porém tentador. Seus cabelos curtos estavam soltos, enfeitados apenas com uma pequena tiara em prata, que refletia brilho a todo instante. Nas mãos, um buquê de tulipas amarelas. Meu coração disparou quando vi o tamanho do sorriso que Verônica dirigia a ela.
Eu conhecia todos os seus sorrisos e extamente por esse motivo que eu sabia que esse sorriso era único. Tão único que eu jamais recebi um.
Inspirei fundo e dei um passo pra frente. Estava mais que disposta a seguir com meu plano, mas novamente fui impedida por Vanessa, que me puxou para trás.
- Me larga, Vanessa.
- Eu não vou permitir que você estrague esse casamento.
Em um arranque puxei meu braço da suas mãos, o que fez com que a bandeja que eu segurava caísse no chão, espalhando caco de vidro pra todos os lados.
Imediatamente a atenção de todos se voltou em minha direção, mais precisamente pra mim. Vanessa ainda tentou me tirar dali, mas fui mais rápida que ela e me consegui me soltar, caminhando em direção as noivas.
- Não precisam parar por minha causa meninas - soltei meu avental e o joguei ao chão - Continuem, por favor - sorri, sentindo meus olhos marejarem. Eu podia não aparentar, mas eu estava bastante nervosa.
- Eliza? - Camila me olhava intrigada. Com certeza se perguntando o que eu estava fazendo ali.
- Ignorem ela gente. Desculpa - Vanessa se aproximou assustada, mais uma vez tentando me retirar dali. Pela minha visão periférica, percebi que Rosana estava ao meu lado também.
- O quê está acon... - antes que Camila pudesse concluir sua pergunta, Verônica se aproximou o suficiente pra que pudesse sentir sua raiva emanando por seus olhos.
- Eu vim parabenizar as noivas. E desejar sorte a você, claro. - comecei...
- Sai daqui Eliza - Feito um furacão, Verônica me arrastava em direção a saída. Eu precisaria ser rápida e falar o que eu queria, antes que eu fosse expulsa da festa.
- Você contou pra sua noiva sobre nossa aventura? - seu agarre em meu braço ficou ainda mais forte - Contou pra ela como me dá prazer?
Com raiva, ela me jogou pra longe, fazendo com que eu me desequilibrasse e caísse no chão. Todos ali me olhavam assustados. Foi então que Camila se aproximou ainda mais.
- Do que você tá falando? - me olhava de cenho franzido.
- Ela tá bêbada Camila. Não está falando coisa com coisa.
- Seja mulher e assuma o que fez Verônica. Conta pra ela. Ela merece saber.
Eu ainda estava no chão encarando as duas, enquanto tentava me levantar, sem sucesso.
- Me explica isso - Camila segurou em minha mão e me ajudou a levantar - Você duas... - fez um gesto com as mãos em nossa direção.
- Sim. Estamos tendo um caso a alguns meses.
Notei que alguns lágrimas escorreram por seu rosto e por um momento senti pena dela. Eu não queria que as coisas tivessem chegado a esse ponto, não queria magoá-la, mas infelizmente eu estava sem opções.
- Amor, olha pra mim - Verônica se aproximou dela, segurando seu rosto com ambas as mãos.
- Isso é verdade Verônica?
- Camila...
- Eu não acredito - sorriu ao mesmo tempo que chorava, passando as mãos no rosto e se virando rapidamente de lado, inspirando o ar. - Eu não acredito que você me traiu e permitiu que eu soubesse assim - ela abriu os braços - Na frente dos meus amigos, da minha família. - jogou o buquê em Verônica. - Eu te odeio - saiu andando em direção ao salão que tinha alí.
Verônica passou as mãos no rosto e me olhou nervosa.
- Você é uma infeliz - apontou o dedo em riste pra mim. - É uma egocêntrica que não se preocupa com mais ninguém ao seu redor. Tudo isso por um não? - segurou em meus braços e saiu me arrastando. Eu mal conseguia firmar meus pés no chão pra ir caminhando, tamanha era a força e velocidade que ela me puxava. Meus pés deslizavam no chão. E tudo que eu senti em seguida, foi o impacto do meu corpo sendo jogado contra o asfalto quente da rua.
Eu chorava bastante e só agora me dei conta de que a maioria dos convidados estavam me assistindo de camarote. Vanessa se aproximou e me ajudou a levantar e Rosana me olhava perplexa, confusa, mas não disse nada. Apenas seguiu Verônica, quando a mesma entrou de volta na festa, cuspindo fogo.
Assim que consegui ficar de pé, senti meu coração querer sair pela boca ao dar de cara com o Pedro me encarando de braços cruzados.
- Pedro?
"Será que ele tinha visto o que aconteceu? "
Ele ainda se mantinha em silêncio quando se virou e caminhou em direção ao seu carro.
- Pedro - ainda me sentia tonta, mas devido aos últimos acontecimentos, o efeito do álcool era a menor da minhas preocupações. - Pedro me espera, pelo amor de Deus. Vamos converssar.
Segurei em seu braço, o virando pra mim.
- Me solta!
- Eu posso te explicar.
- Pode? - cruzou os braços - Então explica.
Suspirei fundo e passei as mãos nervosamente pelos cabelos. Minha boca estava seca.
- E- eu, eu não planejei nada disso.
Eu sentia o desgosto saindo dos seus poros, a mágoa refletindo em seus olhos e isso me quebrou por inteira. Foi inevitável não chorar, não pude me conter.
- Eu fui um burro sabia? - sorriu triste - Eu vi que nosso casamento não estava bem. Eu tentei concertar as coisas, te levei pra uma viagem, tentei te dar mais atenção, mas nada, nada do que eu fazia adiantava.
- Pedro ... - tentei tocá-lo, mas ele se esquivou.
- Você estava estranha, mas eu relevei. Deve ser o trabalho, deve estar cansada, estressada. Era o que eu dizia pra mim dia e noite. Até as meninas perceberam essas suas mudanças - nesse momento, percebi que uma lágrima escorreu por seus olhos. Ele retirou os óculos e as secou, mantendo sua postura rígida.
- Eu me apaixonei por ela. Sinto muito. - eu chorava, desesperada. Apesar de tudo, eu ainda o amava.
- Se apaixonou? E você me fala isso assim? Como Se estivesse falando sobre um filme que viu na TV.
- Eu sei que errei, não estou tentando negar isso. Mas eu te juro que em momento algum tive a intenção de te magoar.
- De boas intenções o inferno está cheio Eliza.
- Pedro...
- Cala a boca - se alterou e apontou o dedo pra mim - Cala a merd* dessa boca. Eu olho pra você agora e não sei quem é. Não reconheço essa pessoa na minha frente. A única coisa que sei, é que você não é a mulher que eu me casei.
- Me perdoa.
Ele balançou a cabeça e suspirou alto.
- Eu vou sair de casa e nunca mais quero olhar na sua cara - abriu a porta do carro e eu me agarrei em seu braço.
- Não, não faz isso comigo. Por favor. Pensa nas meninas, na nossa família.
Ele me soltou e eu acabei caindo, em seguida deu partida e se foi, me deixando sozinha.
Eu fiquei sentada na calçada, agarrada aos meus joelhos, chorando. Que dia de merd* eu estava tendo. Fui demitida, humilhada e enxotada duas vezes. Primeiro pela Verônica, e agora pelo Pedro.
- Liz - levantei meus olhos e encontrei Vanessa - Vem, eu te levo.
Abracei novamente minhas pernas, ignorando sua presença. Eu não tinha forças sequer pra falar.
Ela se abaixou e me ajudou a levantar. Eu não recusei sua ajuda, me deixei guiar e em pouco tempo estávamos em sua casa.
- Você bebeu, tá cheirando a álcool - me mantive em silêncio - Vem, vou te ajudar a tomar um banho.
Antes que pudéssemos chegar ao banheiro, sua campanhia tocou.
- Me espera aqui. Já volto. - me sentei em sua cama e fiquei meio que em transe, olhando minhas mãos, tentando entender tudo que havia acontecido.
"Cadê ela?"
Essa voz. Mal tive tempo de racionar. Quando me dei conta da real situação, eu já me encontrava deitada na cama da minha amiga, sendo agredida por vários tapas no rosto.
- Sua vagabunda.
Eu tentava me defender colocando os braços na frente, mas mesmo assim era acertada seguidamente por vários e vários tapas.
- Solta ela - minha amiga gritava.
- Sua puta, vagabunda. Eu vou acabar com você.
Gritos, xingamentos, lágrimas, dor...
Verônica foi tirada de cima de mim a força e eu me mantive encolhida na cama em posição fetal, chorando.
Não chorava pela dor física, mas sim pela dor que meu coração sentia. Era insuportável saber que a mulher a qual eu nutria tanta paixão, me odiava a esse ponto.
- Olha pra mim - ela se aproximou e segurou meu queixo com força, me obrigando a encará-la - Vanessa ainda a segurava por um braço, temendo que ela me batesse outra vez. Ela já não usava mais o vestido de noiva, mas ainda continuava maquiada, embora fosse possível notar que também havia chorado.
- Você acabou com a minha vida. Tá satisfeita? Acabou com meu casamento. A Camila tá arrasada.
- Eu...
- Você é uma vagabunda. Se antes eu não te queria, agora eu te quero menos ainda. - se debateu e soltou das mãos da Vanessa - Presta bem atenção no que eu vou te dizer - Apertou meu queixo ainda mais forte. - Some da minha vida, desaparece ou eu juro por Deus que acabo com você, literalmente.
Me empurrou pelo queixo me fazendo cair deitada e saiu. Verônica e agora Rosana, me encaravam assustadas.
- Vem - Vanessa me ajudou a levantar - Sua boca tá sangrando. Eu vou fazer um curativo.
- Não.
- Liz...
- Eu quero ficar sozinha - pedi em meio as lágrimas e caminhei até o banheiro. - Por favor. - ela concordou e me deixou ir.
Embaixo da água quente eu chorei novamente, com força. Me sentia um lixo. Olha só o que eu fui capaz de fazer. Eu acabei com um casamento, magoei a tal da Camila que não tinha culpa de nada, era uma boa pessoa até onde eu sabia.
Nem sei quanto tempo passei ali mas quando saí, já me sentia um pouco melhor, na medida do possível.
Eu sabia que agora teria que enfrentar as consequências dos meus atos. E elas não seriam fáceis. Eu precisava ir pra minha casa, encarar o Pedro, conversar com minhas filhas. Tinha a Rosana também, que imagino que tenha várias perguntas pra mim.
Assim que cheguei na sala, encontrei as duas sentadas conversando e quando enfim perceberam minha presença, se levantaram preocupadas.
- Você tá bem?
- Tô sim Vanessa. Obrigada por tudo que fez por mim hoje.
- Liz - Rosana me olhou nervosa.
- Outra hora, Rô. por favor - ela concordou com a cabeça.
- Eu sei que deve ter mil e uma perguntas pra mim e eu juro que irei responder a todas elas, mas outra hora. Eu estou muito cansada e ainda tenho um inferno pra enfrentar hoje. - falei pra Rosana.
- Tudo bem - sorriu se mostrar os dentes. Bondosa como era, deveria estar mega preocupada com o que aconteceria comigo de agora em diante.
- Agora eu já vou indo.
- Eu te levo - Vanessa pegou suas chaves do seu carro.
- Não precisa. Eu chamo um táxi.
- De jeito nenhum. Eu te levo! Prometo não abro a boca durante o caminho, mas não posso permitir que você saia daqui nesse estado.
Sem muito o que fazer, acabei concordando e como prometido, nenhuma delas falou nada durante todo nossos trajeto. Quando enfim o carro estacionou em frente minha casa, novamente o frio na barriga se fez presente.
- Quer que eu entre com você?
- Não. Mas obrigada por se preocupar Vanessa.
- Boa sorte - Rosana me desejou.
- Vou precisar- sorrio sem mostrar os dentes e caminho a passos vacilantes pro lugar que antes eu chamava de lar.
Fim do capítulo
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