Boa leitura!
Capitulo 15
Com as mãos tremendo, peguei as chaves e abri o portão de casa. O carro do Pedro estava estacionado do lado de fora e pelo horário, minhas filhas já haviam chegado. Assim que entrei na sala, já as vi esparramadas no sofá assistindo Greys Anatomy, uma série que a um tempo atrás costumávamos assistir em família.
- Oi mãe - Ester se levantou e me deu um abraço apertado. Parecia até que sabia que eu precisava disso. Aproveitei seu carinho e a envolvi em meus braços de volta, afagando seus cabelos. Beijei sua testa e me abaixei pra encher de beijos a Mel também, que gargalhou quando comecei a fazer cócegas nela. Eu amava minha família, ela era uma das coisas que eu mais prezava na vida.
Deixei minhas meninas na sala assistindo e fui até meu quarto. Imaginava que Pedro estivesse por lá, já que a cozinha estava vazia. Precisava tentar conversar com ele.
- Pedro - abri a porta e dei de cara com ele arrumando suas malas - Não precisa ser assim. Vamos conversar.
- Não temos mais nada pra falar.
- Claro que temos. - toquei seu ombro, mas fui afastada com brutalidade.
- Não me toca nunca mais. - apontou o dedo em minha direção.
- Você ainda é meu marido.
- Ah, sou? - franziu o cenho - Engraçado que não pensou nisso quando decidiu me trair, não é mesmo?
- Você está sendo cruel comigo.
Eu segurava as lágrimas tentando me manter forte. Em momento algum quis me vitimizar. Eu apenas queria a chance de convesrar com ele, explicar direito como as coisas haviam acontecido. Queria que ele soubesse que em momento algum eu planejei traí-lo. As coisas simplesmente foram acontecendo e quando me dei conta, já estava envolvida demais pra sair fora.
- Cruel? Você me trai e eu me torno o vilão da história? - balançou a cabeça em negação. - Faça-me o favor Eliza. - passou por mim e pegou algumas camisas suas que estavam esparramadas em nossa cama.
- Eu sinto muito por tudo. Juro que jamais quis te ver sofrer.
- A quanto tempo? - massageou suas têmporas - A quanto tempo você vem me traindo?
- Pedro...
- Eu mereço saber a quanto tempo você vêm rindo de mim pelas costas Eliza.
- Eu nunca ri de você. Nunca.
- Só me responde o que te perguntei.
Suspiro fundo e me sento na cama ao seu lado, encarando o chão.
- A alguns meses.
- Quantos meses exatamente?
- Pedro, não faz isso com a gente - passo as mãos no rosto tentando me acalmar. Eu tremia. Ele se aproxima e me segura pelos braços com força.
- FALA - grita.
Fecho os olhos sentindo as lágrimas cairem com força. Estava assustada, me sentindo encurralada. Nunca, em toda minha vida havia o visto tão furioso quanto agora. Ele sempre foi calmo, pacífico. Me doía saber que eu era a causadora de tanta dor.
- Desde a nossa festa, aquela em que a conhecemos.
Ele me encara com ódio e antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, senti meu rosto sendo atingido com força por um tapa. Por instinto, coloquei as mãos sobre minha bochecha que agora queimava e chorei ainda mais. Ele me soltou bruscamente sobre a cama, me fazendo cair deitada. Apenas me encolhi com medo e me permiti chorar. Estava carregando um fardo pesado demais. Não sabia até quando conseguiria suportar.
- Você não presta. Não tem carácter. Não vale nada. - andava de um lado pro outro atordoado.
Eu só chorava.
- Por enquanto eu não vou contar nada do que houve para as meninas, mas não garanto até quando ficarei calado. - ele abre a porta e sai, me deixando sozinha.
Assim que ele se vai, Ester e Melinda vem ao meu socorro.
- Mamãe está tudo bem? - me encolho ainda mais, chorando e com vergonha de estar sendo vista por elas em um momento tão delicado pra mim.
- Me deixem sozinhas, por favor.
- Mas mamãe...
- Saiam - gritei. Eu sabia que havia as deixado ainda mais preocupadas, mas pela minha saúde mental eu deveria pensar em mim agora. E nesse momento eu necessitava ficar sozinha.
Seco minhas lágrimas e me sento, observando o quarto ao meu redor. Tudo que havia ali me lembrava um momento bom do meu casamento.
As fotos das nossas viagens, a decoração escolhida a dedo, o cheiro do incenso que ele tanto gostava.
Num momento de fúria, peguei um porta retrato com uma foto nossa e o arremessei com força contra a parede. Em seguida, joguei um vaso e depois tudo que fosse possível quebrar, eu quebrei. Sentia que estava sufocando dentro do meu próprio corpo. Era como se eu estivesse andando sob uma areia movediça e me afundando cada vez que me mexia.
Ouvi minha filhas me chamando do lado de fora do quarto, batendo na porta me pedindo permissão pra entrar, mas nem isso me fez parar aquele ataque de fúria. Eu chorava com pesar pela minha vida de merd*, me sentia no fundo do poço. Depois de destruir tudo que consegui, me joguei em minha cama( que era uma das poucas coisas inteiras naquele cômodo) e dormi.
****
Já no dia seguinte, despertei sentindo minha cabeça latejar. Eu sabia que isso era consequência da bebedeira do dia anterior aliada ao nervoso que eu havia passado. Sentindo tudo ao meu redor girar, peguei em minha bolsa dois compridos de calmante. Sem eles eu não conseguiria me manter em pé hoje. Engoli sem água mesmo, já estava acostumada. Antes que eu pudesse chegar até meu banheiro, ouvi batidas na porta.
- Liz? Posso entrar?
Era a Rosana. Suspirei pesado. Não sei se estava afim de ter alguma conversa séria agora.
- Entra.
Receosa, ela abriu a porta devagar e assim que viu a bagunça no meu quarto, arregalou os olhos, não escondendo sua surpresa.
- Você tá bem?
Perguntou.
- Sim, eu apenas precisava extravasar.
- Entendi. - suspirou - Será que podemos conversar?
- Tudo bem. Me dê apenas alguns minutos pra que eu possa tomar um banho e escovar meus dentes.
- Tá certo. Te espero lá na sala. Pode ser?
Concordei com a cabeça e me tranquei no banheiro.
Depois do banho, eu já me sentia mais forte pra enfrentar meu dia. Sabia que precisaria me acalmar ou não conseguiria resolver meus problemas.
Segui até a sala, mas não encontrei ninguém. Ouvi vozes na cozinha e caminhei até lá.
- Oi - Assim que me viu, Vanessa se aproximou e tocou meus cabelos com ternura - Como você está sentindo?
Sorri fraco.
- Um pouco melhor. Não sabia que estava precisando tanto de um banho, até tomá-lo. - ela sorriu de volta e segurou minha mão, afagando-a.
- Vem, eu acabei de passar um café. Você precisa se alimentar.
Rosana apenas me observava em silêncio. Eu também não ousei começar conversa alguma com ela.
Vanessa abriu a geladeira e retirou alguns frios de lá. Na mesa havia pão, bolo e um suco também.
- Vou preparar um sanduíche pra você.
- Estou sem fome.
- Mesmo assim, você precisa comer. - preparou um lanche pra mim e realmente me obrigou a comer metade.
Depois de alguns minutos em silêncio, Rosana se aproximou de onde eu estava e se sentou na cadeira ao meu lado.
- Eu gostaria que você me contasse como se envolveu com ela Liz.
- Acho que você já sabe de tudo. - dei de ombros - Ela deve ter te contado. Vi quando você a seguiu ontem na festa.
- Sim, mas eu queria saber a sua versão. Quero ouvir seu lado da história.
Então eu comecei a contar tudo pra ela, desde a primeira vez que encontrei Verônica, até nosso último encontro. Ela me escutou em silêncio, em momento algum ousou me interromper. Vanessa também estava presente na conversa, segurando minha mão o tempo todo, me dizendo através do seu olhar que estava comigo.
- E foi isso. - suspirei - Eu só não quero ouvir seus julgamentos Rosana. Acho que eu já estou sendo punida o suficiente pela vida.
- Não sou nenhuma juíza pra te julgar Liz. O fato de eu não concordar com suas atitudes, não me dá o direito de te apontar o dedo. - percebi seus olhos marejados - Mas não posso negar que estou chateada por você não ter me contado nada. Pensei que éramos um trio, unidas. Mas somente Vanessa sabia do que se passava com você. Eu fiquei alheia a tudo.
- Ei - segurei suas mãos - Eu sinto muito não ter te dito nada. Isso não quer dizer que você seja menos minha amiga. Eu só não quis envolver mais pessoas nessa loucura toda.
Ela se manteve em silêncio. Passei meus olhos pela cozinha e de repente me dei conta de que esse silêncio em um sábado de manhã, não era comum. Franzi o cenho.
- Cadê as meninas?
Percebi minhas amigas se olharem e imediatamente eu tive a certeza de que algo havia acontecido.
- Cadê as minhas filhas?
- Se acalma Liz - Vanessa pegou um copo com água pra mim e me entregou.
- Eu não quero água Vanessa. Só quero saber cadê minha filhas.
Rosana me olhou receosa antes de falar:
- O Pedro as levou embora.
- O quê? Como assim as levou embora?
- Ontem a noite elas se assustaram quando você começou a quebrar tudo no seu quarto. Elas ligaram pro Pedro que em seguida, nos ligou.
- É - Vanessa se aproxima - Quando eu e Rosana chegamos aqui, as meninas já estavam de malas prontas. Pedro havia contado toda a verdade pra elas. Não pudemos fazer nada.
- Por que não me chamaram?
- Vimos que você estava dormindo. Não quisemos te acordar.
- Não quiseram me acordar. - repeti - Estamos falando das minhas filhas, não de um receita que deu errado.
Passei as mãos pelo meu rosto, atordoada com essa notícia.
- Ele disse que não contaria nada - falei pra mim mesma, porém, sei que minhas amigas escutaram.
- Sinto muito. Ele contou e nada do que dissemos a elas adiantou.
- Elas me odeiam? - Rosana segurou minha mão e me puxou pra um abraço. Me agarrei a ela como se minha vida dependesse disso e comecei a chorar. Vanessa também se juntou ao nosso abraço. No final de tudo, só elas haviam me restado. Eu havia conseguido perder tudo e todos que realmente me importavam na vida.
Depois de chorar no ombro delas por um tempo, pedi licença pra ir até o banheiro. Entrei em meu quarto e peguei mais um comprido na minha bolsa. Eu precisava me acalmar. Depois, abri meu closet, arrastei alguns cabides para um canto e fiquei de cara com nosso pequeno cofre. Digitei a senha e peguei a última coisa que pensei que usaria na vida. Enrolei em um lenço e o coloquei em minha bolsa. Eu daria um jeito nessa bagunça toda de um jeito ou de outro. Mas não aceitaria aguentar sozinha as consequências de um erro que foi cometido por duas pessoas.
Fim do capítulo
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