Obrigada a quem não desistiu da história, aqui está o capítulo 32!
Amanhã tem mais!
Capitulo 32: O que foi deixado, o que há de vir
O reflexo da luz do sol, que insistia em bater na janela do quarto da pousada Vivares, deixava o cabelo de Catarina ainda mais vibrante e brilhoso, apesar de desgrenhado pela agitação de mãos que iam e vinham em todas as direções e pelo contato com o travesseiro. De olhos fechados, estava entregue aos beijos apaixonados de Raga, até sentir uma descompressão nos lábios e a umidade da língua dela deslizar por seu corpo, indo do pescoço até o pé da barriga. Estava só de sutiã e short, primeiro pelo calor insistente do verão, depois pela facilidade que o traje disponibilizava para aquele momento.
Cada vez que os lábios de Raga subiam e desciam em torno do corpo de Catarina, mais a urgência crescia em si mesma. Não aguentando mais o calor e o tesão absoluto, tirou a própria camisa que começara a grudar em suas costas. Catarina abriu os olhos, mas não teve outra reação a não ser encarar os seios da outra garota acima dela. Raga não se intimidou com a falta de atitude, e com a destreza que só a experiência traz, desprendeu a presilha do sutiã da outra. Voltaram a se beijar em fração de segundos, agora com os corpos seminus proporcionando um contato mais íntimo e suave entre os seios de ambas, livre de qualquer tecido que as atrapalhasse.
No próximo estágio, entretanto, residia o tabu de um mês daquela relação ainda indefinida. Quando Raga se preparava para tirar o short de Cate, sentiu novamente, pela vez de número incontável, suas mãos sendo seguradas e puxadas para cima. Saiu imediatamente de cima da outra garota, demonstrando uma expressão inegavelmente frustrada:
- Sério, Catarina? De novo?
- Desculpa. Não me sinto pronta...
- Você não confia em mim ainda? Depois de um mês desse clima todo?
- É que pra você é fácil falar, Raíssa! Você já tem experiência! Eu... não sei bem o que tô fazendo.... O que quero...
- E daí? Isso não quer dizer nada! Pois eu tenho certeza que quero você! Não posso dizer o contrário, pelo visto.
- Não fala assim, faz parecer que eu...
- Faz parecer não, é evidente! Você não quer trans*r comigo, fato. O que não faz sentido nenhum na minha cabeça, já que a gente passa o tempo todo nessa pegação, mas na hora final você foge!
- Eu sei que sex* é importante, mas só isso conta? Por que eu passei um mês maravilhoso do seu lado, que me valeu muito, mesmo sem a gente ter feito isso ou não!
- Não é só isso, é que às vezes sinto que a gente tá numa sintonia incrível, você se doa, me deixa à vontade, me dá liberdade... só que outras vezes... como agora, por exemplo... sinto que estou forçando as coisas, sinto que estou em cima de uma boneca a pilhas...
- Olha, eu não quero te deixar mal, de jeito nenhum. Eu gosto de você, só estou insegura comigo mesma! Vamos voltar pra casa e ver o que vai rolar quando a gente tiver que encarar a vida real...
- Isso aqui já é real demais pra mim, Catarina. Vou me vestir e aprontar as malas antes que a gente se atrase.
- Ei...
- Que foi?
- Me dá um beijo, vai. Não fica assim, por favor.
- Vou beijar não, depois a gente se atrasa e...
Catarina puxou Raga para um beijo que demorou mais do que o tempo das duas permitia. No terceiro toque do alarme, finalmente se desprenderam, não sem antes um último selinho e um pedido de desculpas:
- Foi mal, Cate, a última coisa que quero é te pressionar...
- Eu entendo seu lado, tá bom? Preciso só de mais um tempinho, prometo!
- Não tem necessidade de me prometer nada, já disse. Vamos nos aprontar?
- Ai, ai... o que espera a gente nessa volta, hein?
- Acho que muitas coisas boas! Por falar nisso, o que você quer fazer mais tarde?
- Certeza que minha mãe vai armar uma daquelas festas "surpresa" de aniversário que não são surpresa coisa nenhuma! Esteja preparada pra chegar e ter que passar a noite acordada lá em casa!
- Eu tenho que passar na minha casa antes, pode ser?
- Claro, tem problema eu aparecer junto?
- Não, somos só duas amigas viajando juntas, não é?
- Engraçadinha, você! Quero mais amizades assim, vem cá! - As garotas se agarraram uma na outra novamente, o alarme não estava mais programado.
*****
Débora atendeu à porta já arrumada para a festa que havia planejado durante a semana. Recepcionou pessoalmente os convidados que chegavam em grupos, trazendo presentes que variavam em tamanhos, preços, cores e intenções. Logo, o entorno do sobrado 759 estava repleto de carros estacionados e outros que apenas desembarcavam seus passageiros e seguiam viagem. Após abraçar a família que morava do outro lado da rua, deu uma leve ajeitada no vestido e no cabelo quando avistou descerem, de dentro de um FIAT prateado, Audrey, acompanhada de seu pai, Victor. Cumprimentou os dois com um abraço rápido e nervoso, mas manteve a postura de anfitriã impecável:
- Sejam bem-vindos, sintam-se em casa. Audrey, como está? Como foram as férias?
- Aproveitei até onde deu, mas senti falta da Cate, né? Ela ainda não chegou, tia? Aquela tratante não responde minhas mensagens desde ontem!
- Parece que ela e a amiga se atrasaram e tiveram que pegar outro ônibus, ela atendeu a minha ligação, mas não falou muito, o sinal estava péssimo!
- Mas será que conseguirá chegar a tempo para esta festa? - Victor olhava diretamente para Débora.
- Sim, e vai tomar um susto desta vez! Aposto que nem imagina! - Débora sustentou o olhar de Victor.
- Tia, ela sempre desconfia! - Audrey não segurou a risada, era óbvio para ela que Catarina a aquela altura já havia tomado conhecimento da festa.
- Mas escondi direitinho, ahahaha! Bem, fiquem à vontade, irei receber os outros convidados.
Victor nunca compareceu ao aniversário da amiga da filha antes, visto que não se sentia bem em ambientes luxuosos e pomposos demais. Por algum motivo, que o próprio não fez questão de definir, naquele ano optou por deixar o receio de lado e acompanhou Audrey sem deixar que a filha fizesse muitas perguntas sobre o assunto. Sabiamente, antes que ela começasse a insinuar o óbvio, ele se adiantou:
- Filha, e aquele rapazinho? Não o vejo há dias! Ele também não está por aqui!
- Ai, pai, não quero falar disso.
- Mas vocês estavam um grude! Não entendi nada!
- Pois é, eu também não... ele sabe que não acredito em namoro à distância também.
- Oh, então...
- Então ele, do nada, me aparece dizendo que ganhou uma bolsa para um intercâmbio no Canadá. Até a matrícula na faculdade trancou. Assim, que legal, torço muito por ele, mas custava me avisar antes?
- Ok, vamos fingir que eu não perguntei nada... quer suco?
- Suco, pai? Eu quero champanhe! É aniversário da minha melhor amiga, que não vejo há um mês! Champanhe, né?
- Champanhe, então! Mas não vá exagerar, mocinha! Vou bus...
- Espera, pai! Não vá em direção à porta, nem olhe agora...
Rodolfo maneou a cabeça para Débora e adentrou à casa com um voluptuoso embrulho que escondia parte de sua evidente magreza. Victor e Audrey assistiram à cena, colados em seus lugares e entreolhando-se com certa desconfiança. Não parecia o mesmo homem da festa de formatura, sem dúvidas.
Talvez por notar os olhares curiosos e os cochichos dos outros convidados, bem como a postura desconfortável de Débora diante de sua presença, Rodolfo se contentou em deixar o presente que trouxera junto ao montante de outros embrulhos, tomar uma taça de vinho e sair, sem sequer esperar a chegada da aniversariante.
Cerca de uma hora após a saída de Rodolfo, Débora pediu para que as luzes fossem apagadas e para que os convidados se escondessem atrás de onde desejassem e fizessem silêncio. A porta da casa se abriu vagarosamente, e antes de acenderem a luz novamente, os cânticos de parabéns entoaram a todo vapor.
Catarina jogou as malas no chão, sorriu e levou as mãos à boca, divertindo-se ao encenar uma surpresa que não existia. Ao seu lado, Raga observava, divertida, a concretização das suspeitas que Catarina havia levantado mais cedo na pousada. Débora se aproximou e tomou a filha num longo abraço apertado:
- Você não está nada surpresa, né?
- Mãe, já viu a frente da nossa casa? Obrigada, mesmo assim!
- Poxa, não tive como esconder os carros, mas na próxima você não me pega! Garota, você cortou o cabelo?
- Chega de franja, né, mãe? Uau, você está ótima! Paris, hein?
- Temos muito o que conversar, mas hoje não! Hoje minha filha faz 18 anos! Peça pra alguém levar as malas e se arrume, a festa aqui não tem hora para acabar! Mas antes, espere, não vai me apresentar sua amiga que te aturou por um mês inteiro?
- Claro! Essa pessoa fantástica aqui é a Rag... Raíssa!
- Prazer, senhora.
- Espera, espera, espera... sua carinha não me é estranha, vendo assim de perto! Certo que a cor do cabelo está bem diferente, mas você não é da família Bittencourt?
- Sim...
- Meu Deus, você é a filha do Eliel Bittencourt! Menina, te vi pequena! Como cresceu!
- Desculpa, eu não me lembro...
- Tudo bem, querida, faz muito tempo! Sinto muito pelo Eliel, aliás. Ele era um homem tão gentil e generoso!
- Sim, sinto muita falta dele também. Como se conheceram?
- Em um desses eventos sociais que angariam fundos para instituições de caridade, seu pai era figura carimbada neles. Como está Maria Júlia?
- Minha mãe está bem, falarei da senhora para ela depois.
- Diga que mandei lembranças e que ela está convidada para nos visitar! Ah, e por Deus, deixe de formalidades, pode me chamar de "você".
- Desculpe, é o costume. Lá em casa eles fazem questão de serem chamados assim.
- Bom, já que vocês estão tão tietes uma da outra, vou me trocar e já venho! - Catarina deixou Raga e Débora conversando, acenou para Audrey e alguns convidados que encontrou no caminho e subiu as escadas, prometendo voltar logo.
Em seu quarto, Cate tirou os tênis colegiais azuis e a calça jeans preta surrada e rasgada nos joelhos, seguindo a tradição que tinha em remover primeiro as peças de baixo ao se trocar. O cabelo mais curto sem dúvidas facilitaria na hora de compor o visual para a festa que lhe aguardava no andar de baixo. Não foi a roupa que usaria, no entanto, a sua principal preocupação ao ficar momentaneamente sozinha. Andou até o closet a passos lentos, mas certos de para onde se dirigiam. De lá, retirou a pulseira brilhante e cuidadosamente confeccionada que ganhara de Érika, numa época em que jamais imaginaria como as coisas terminariam. Prendeu a joia em seu pulso, pegou um vestido em malha lurex, curto e preto, devidamente decotado, uma sandália de salto fino, um colar estilo choker e retornou ao quarto.
A pulseira parecia destoar do vestido e demais acessórios caros que ela usaria naquela noite, mas não ousou tirá-la. Ao invés disso, sorria, absorta em lembranças que carregava carinhosamente consigo. Batidas na porta a trouxeram de volta:
- Cate? Posso entrar?
- Audy, nem precisa perguntar!
- Claro que eu perg... oh Deus, você ainda não se vestiu! - Abraçou a amiga, saudosa, porém impaciente. - Sua mãe está de um lado pro outro lá em baixo!
- E a Raga? Falou com ela?
- Falei, mas ela não parecia muito interessada em conversar comigo.
- Por que diz isso? Como ela agiu?
- Meio seca, sei lá. O jeito Raga lá da Gagnon de ser.
- Acho que ela está chateada comigo.
- Problemas no paraíso?
- Depende do que você considera um "paraíso". Eu diria que meu problema com ela tá mais pro lado do profano.
- Como assim? Vocês ainda não... conseguiram?
- Eu ainda não consegui.
- O que pega?
- Não sei te explicar, só sinto que não dá, nunca é o momento.
- Deixa eu ver seu braço um instante...
- O que isso... não... quer ver o quê?
- O "momento certo" está preso em seu braço, não é?
- Não tem nada a ver!
- Caramba...
- Eu ainda tenho carinho por ela, mas uma coisa não tem na...
- Catarina! Por Deus, você não se arrumou ainda?! - Débora bradava do lado de fora do quarto.
- Calma, mãe! Estou quase! Audy, depois conversamos sobre isso. Você também tem que me contar o que houve direitinho com o Pedro Henrique!
- Eu passo essa parte, pode ser? Podemos falar só sobre você?
- Não!
- Poxa, eu tentei. Vou te ajudar a se arrumar. Ah, tem uma coisa que não sei se devo te contar...
- Conta logo.
- Seu pai esteve aqui mais cedo, ele...
- Catarina! Vocês vão ficar fofocando aí dentro por mais quanto tempo? - Débora chamou novamente a atenção das garotas.
- Esquece, Audy. Não quero saber muito sobre ele também, então vamos terminar esse papo depois ou a minha mãe derruba essa porta!
As amigas concordaram e Audrey se dispôs a ajudar Catarina com a sandália e o cabelo, enquanto, na festa, Raga não fazia distinção das bebidas que tomava.
Fim do capítulo
Ai, ai...
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Naty24
Em: 27/01/2021
Achou que eu iria deixar de comentar autora? Kkkk
Até o desenrolar nada fácil das protagonistas da história
Terão que percorrer um longo caminho até os felizes para sempre
Fico feliz com sua volta
Resposta do autor:
Eita, minha amiga! Que bom que continua aqui, afinal foram dois meses de hiato, desta vez pensei que tinha esquecido da minha história de verdade, fico feliz em estar enganada!
O caminho está se encurtando, viu? Abraço!
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Naty24
Em: 27/01/2021
O que ñ foi deixado foi justamente o sentimento da adolescente pela gerente. Entendo o lado da Raga sobre o impace de Catarina,ela precisa enxergar que ainda ama a Érika e vice versa
Vejo barraco nesta festa surpresa
E tmb talvez uma aproximação da gerente novamente
Resposta do autor:
Será? Mas as personagens são tão quietinhas, imagina! kkkkkk
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