Olá, minha gente. Estão gostando das postagens diárias? Espero que sim.
Avisa que a festa de aniversário da Cate promete, o quê? Só lendo pra saber.
Capitulo 33: Saudade
A festa de aniversário de Catarina ia de vento em poupa noite adentro. Os convidados se conheciam de festas passadas e da escola, o que ajudava a manter o clima íntimo entre eles, mesmo com toda a sofisticação de uma celebração ofertada pelos Barone. Para Catarina, entretanto, muitos ali não passavam de rostos conhecidos apenas de vista, ou nem isso. Após a descida da aniversariante, todos cantaram novamente "parabéns pra você'', desta vez de forma "oficial" e com direito a bolo, cujo primeiro pedaço foi dado para Débora.
Raga perdeu as contas de quantos drinks havia tomado. Audrey conversava ao pé do ouvido com algum ex-colega de turma, enquanto Victor passava pela mesa de buffet, devorando com satisfação mais um canapé. Débora observava o homem de longe, sorrindo ao vê-lo tão à vontade em sua casa, algo antes inimaginável por ela. Ele, por sua vez, sentia os olhares dela seguindo-o desde que chegara, mas não reunia coragem o suficiente para ir até onde estava e iniciar qualquer conversa que seja.
Enquanto isso, Catarina procurava por Raga pela casa inteira, sem sucesso. Passou pelos quartos, pelos banheiros, pela cozinha, sala de estar, pelo escritório de Rodolfo (que ainda estava intacto mesmo com a separação), voltou ao próprio quarto, nem sinal da garota. Retornou ao salão de jantar, onde estava concentrada a festa. Sob protestos do rapaz que conversava com Audrey, interrompeu sem dó o flerte da amiga:
- Cate, nem te conto! O gatinho estava me lembrando de uma outra festa que está acontecendo, pra gente celebrar de verdade seus dezoito anos, longe dos adultos! Não é demais? Vamos, vamos?
- Que outra festa, tá maluca?
- Festa dos calouros da federal, boas-vindas e despedida das férias! Eu já ouvi falar dessas festas quando fui fazer a matrícula, elas são um verdadeiro arraso, que me diz? Você já fez a média aqui com sua mãe, já partiu o bolo e tudo! Acho que ela não vai se importar, ela tá ocupada...
- Talvez role, mas antes eu queria achar Raga, você a viu por aí? Desde que desci não a encontro, estou procurando há um tempão!
- Vi nada, estava conversando com o Sérgio esse tempo todo!
- Nossa, minha mãe chamou todos os alunos dos terceiros anos? Nem conheço esse Sérgio aí!
- De todos não, tem mais gente do terceiro D, da minha turma e da sua. Eu falei pra ela ter cuidado em não chamar certas pessoas também, acha que eu deixaria?
- Valeu! Ei, mais tarde nos falamos sobre a tal festa, preciso achar a Raga!
- Boa sorte, a coitada deve ter se perdido nesta casa enorme!
Do outro lado do salão, Débora diminuiu a distância que a separava de Victor, segurando duas taças de vinho branco:
- Não vou beber as duas taças.
- Obrigado.
- Não precisa ser tão formal, Victor.
- Não temos mais a idade das nossas filhas, nem a proximidade delas, Débora.
- Se não quer proximidade, então o que está fazendo aqui? Poderia simplesmente ter ignorado o convite. A Audrey já veio outros anos sozinha.
- Este ano não quis deixá-la vir sozinha, mas posso ir embora se você quiser. Ou tenho que aceitar o vinho para poder ficar?
- Você pode ficar o tempo que desejar, mas gostaria que deixasse as mágoas do passado da porta para fora! As meninas são amigas, não merecem essa rivalidade entre nós.
- Não há mágoas, lhe garanto. Porém, não posso evitar a cautela nesses casos, é de mim.
- Nesses casos? Quais?
- Você sabe muito bem.
- Tem razão, eu sei sim. Victor, bem, é... sabe...
- Você sempre foi péssima em dar e pedir desculpas, não foi, Débora?
- Péssima, eu só fujo o tempo inteiro... é o que sei fazer de melhor: fugir.
- Está tudo bem, não se force. O acaso reuniu a gente, mas isso não significa que tenhamos que ser próximos, sejamos cordiais, certo?
- D... Desculpe mesmo assim... Deveríamos ter conversado, sabe?
- Vinte anos atrás, sim. Mas agora, se o seu marido estivesse aqui, estaria me oferecendo essa taça de vinho?
- Não, não estaria...
- Então, se me dá licença, eu...
- Você diz que não há mágoas, mas suas atitudes provam o contrário!
- É, você está correta, pelo visto ainda tenho mágoas. E o que me magoa é acabar de ter a certeza de que nem amigos poderíamos ser se Rodolfo estivesse.
- Acontece que ele não está mais aqui. Não estará nunca mais. E eu não sou nem a mesma pessoa que era há três meses, quem dirá há 20 anos. Eu... eu tenho coisas... coisas que gostaria de conversar com você, hoje. Você seria capaz de viver o presente, seria?
Victor cruzou os braços, sem perder a concentração nas palavras ditas por Débora. Aquele era o pedido de desculpas mais desengonçado que ele recebera em sua vida. Algo no olhar e no tom de voz da mulher afirmava que era tão esfarrapado quanto sincero. Descruzou os braços, baixando enfim a guarda:
- Bordô. Não gosto de vinho branco.
- Vou providenciar! - Débora sorriu por dentro da taça cristalina que terminava de sorver.
****
Cansada de procurar, Catarina escorou-se num dos postes de luz fixados na entrada do jardim e tirou da bolsa o celular. Abriu a câmera e tentou se distrair do aborrecimento que estava sentindo, tirando fotos das tulipas que decoravam o espaço. Durante a busca por um ângulo mais panorâmico, ia se afastando da entrada, até chegar num ponto mais distante e escuro, rodeado por arbustos de dama-da-noite, lugar que ela detestava ir sozinha, por conta das histórias assombrosas contadas por Rodolfo nas noites de halloween, principalmente. Ia voltando para o salão principal, mas um conhecido vapor subiu no ar, vindo de trás da copa de um dos pés de ipê plantados pelo jardineiro anos atrás, a pedido de Débora.
Estava muito escuro naquela parte frondosa do jardim, porém, à medida que Cate se aproximava, era perceptível que o vapor também se alastrava, frequente e abundante, como se duas pessoas estivessem o soltando.
As suspeitas da aniversariante revelaram-se verdadeiras quando ela chegou ao destino. Raga, deitada no colo de outra garota, a qual acabava de soltar uma vaporada com todo gosto. Nenhuma das duas pareceu assustada quando Catarina enfim perguntou:
- Bia, do terceiro D?
- Oi, aniversariante! Meus parabéns, bela festa, como todos os anos! - A garota de fato não estava abalada em ter sido encontrada num momento como aquele.
- Cate!? É a Cate! - Raga mal abria os olhos, tamanha era sua embriaguez.
- Cara, você tá bêbada... vem, vamos sair daqui e lavar esse rosto...
- Ei, deixa comigo! A gente só tá dando um tempo aqui, já, já a festa começa de verdade! - Bia não demonstrava sinais de embriaguez.
- Você não tá pensando em levar a Raga, nesse estado, pra festa dos calouros, né?
- Eu quero ir! - Raga tentou ficar de pé, mas tombou e caiu em cima dos pés de Catarina.
- É, deixa a garota ir, sua careta. Aliás, vem com a gente, boba!
- Vamos, meu amor! Ela é meu amor, sabia, Bia? Ahahaha, "Sabia, Bia", que zoeira... Ah, mas a gente não tem nada sério, né, meu amor?
- É, não temos...
- Uau, mas não sabia nem que vocês ficavam! Essa Raga, "as caladinhas são as piores"! Vamos para a festa as três, que tal?
- Ela não está em condições nem de ficar em pé, garota, quanto mais ir a alguma festa contigo! Anda, me ajude a levá-la até meu quarto, entramos pelos fundos!
- Me solta! Eu não tô bêbada! Quero ir pra festa... com a Bia... ela sim vai me...
- Ela vai o quê? Vamos, termine...
- Eu vou dar tudo que você não consegue, virgenzinha...
Catarina olhou para as duas sem acreditar que Raga contara da sua intimidade para Beatriz. Envergonhada, mas estranhamente calma, deixou a bêbada encostada na árvore, sentada. Saiu logo após a ação, não sem antes dizer:
- Divirtam-se na festa.
- Espera aí, Cate, você tá pensando errado, a gente não quis... - Bia parou com as gracinhas e, vendo como as coisas estavam se encaminhando, tentou evitar a saída abrupta de Catarina, mas esta corria, deixando a casa para trás.
Cate correu até os pulmões precisarem de ar novamente, sem a mínima vontade de voltar para a própria festa de aniversário, que se convertera em um show de horrores há poucos minutos. Não ousou pensar muito no que acabara de ver e não digeriu a raiva a ponto de se tornar despreocupada, por isso digitou rapidamente antes de qualquer arrependimento: "Audy, cuida da Raga esta noite, por favor. Ela está na parte não iluminada do jardim, perto dos ipês. Depois te explico. Chinchila."
Sentou no meio-fio, sem entender por que nem chorar conseguia. Acabara de testemunhar algo muito inesperado, mas só um sentimento, até então desconhecido, lhe consumia. Passou os dedos pelas continhas da pulseira furta-cor, materializando o que sentia. Não era raiva, nem dor, nem decepção. Era saudade. Era saudade quando deixou a cidade no mês anterior, mas sua verdadeira vontade era ficar, passar por um certo bairro e tomar sorvete casualmente, quando acordava às vezes no meio da noite, vestida com a camiseta do Tame Impala que fez de pijama "acidentalmente", quando conversava sobre sonhos, quando escrevia as legendas para as belas fotos que tirou nas férias. Era saudade ressentida, escondida entre os beijos adocicados de Raga, entre os toques e entre as pausas providenciais quando estava perto de se entregar ao calor do momento. Não se importou com o valor exorbitante do carro no aplicativo, por causa do horário e da distância. Era saudade e precisava acabar com ela.
Fim do capítulo
Ragafãs? Vcs estão aí? kkkkkkk
Comentar este capítulo:
Naty24
Em: 29/01/2021
Elas perderam muito tempo entre a indecisão e o medo de que tudo ñ passou de ilusão. Agora é arriscar para ser finalmente feliz ao lado de quem deveria ter estado nos braços desde o início
Triste constatar que a história está no seu trajeto final e merecido ./
Resposta do autor:
Sim, estamos em reta final :((
Mas ainda restam umas coisinhas para acontecer de relevantes
E outra: planos de voltar com outra história um dia desses, tomara!
Obrigada pelos comentários, abraço!
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