Capitulo 97
Recomeço – Capítulo 97
Era o período da tarde. Nino e Nina, em meio a sons de conversas e gargalhadas, andavam tranquilamente por uma praça pouco movimentada.
— Então quer dizer que sua mãe vem mesmo? — Raquel indagou enquanto tentava conter o riso. Sabia o quanto eram desastrosos os encontros da amiga com a mãe. Dona Lúcia, mãe de Norma, sempre reclamava de como a filha levava a vida.
— Você a convidou. Acho que ela não quis fazer essa desfeita. Não sei como, mas ela gosta de você — Norma comentou enquanto andava ao lado de Laura.
— Bom, acho que é porque dou ouvidos ao que ela diz. Já Norma sempre sai de perto quando dona Lúcia começa a fofocar sobre a vida das conhecidas. Dona Lúcia gosta de atenção.
— Norma está com medo da mãe dela não nos aceitar, mas se ela se dá bem com Raquel... bom... com a gente pode haver essa possibilidade também. — Laura segurou uma das mãos de Norma. Queria mostrar a amada que sempre estaria ao seu lado.
— Bom... eu não sei. — Raquel ficou pensativa. — A mãe de Norma parece que já criou uma fanfic sobre como terá que ser o futuro da filha.
— Isso é complicado quando os pais começam a planejar algo para os filhos. Bom... Acho que os filhos que tem que pensar sobre quais caminhos traçar e não os pais — Sófia entrou na conversa. — Se a mãe de Norma planeja algo, quer dizer que não quer deixar a filha fazer as suas próprias escolhas.
— O que incomoda em minha mãe é isso. Já tenho mais de 30 anos e ela ainda acha que pode controlar a minha vida... continua tentando me arranjar casamento — Norma comentou e revirou os seus olhos. — Ela quer que eu seja como minhas primas. Viver em função dos maridos. Por isso nem apareço por lá. Prezo por minha liberdade.
As meninas riram.
— Engraçado você estar passando por isso, Norma. Logo você, a mais equilibrada da turma. — Sófia olhou para Norma e sorriu.
— Bom, eu queria, mas não tenho uma vida perfeita. Gostaria de dizer a todos que a minha família não quer se intrometer em minha vida, mas não posso.
— Mas e quando ela chegar, vocês vão se comportar como? — Raquel ficou curiosa, pois Norma e Laura já moravam juntas.
— Eu quero esclarecer tudo logo. A verdade é sempre o melhor caminho. E não quero ficar fingindo que Laura não é importante para mim. Eu amo esta mulher. — Norma olhou para sua amada. — Não quero ficar negando o que sinto para o mundo. Quero poder viver em paz, Raquel, e sei que ficar fingindo o que não sou não me deixará bem.
— Então quer dizer que vão falar a verdade logo? — Sófia perguntou surpresa. Não havia passado por sua cabeça que Norma fosse assim tão decidida. Como ela, a ruiva também havia passado maior parte de sua vida acreditando ser hétero, contudo, parecia não ter nenhum receio de dizer as pessoas que estava tendo um relacionamento com uma mulher.
— Não, Sófia — Norma respondeu com certeza. — Eu não quero que minha mãe ou ninguém duvide do que sinto por Laura. — Olhou para a mulher que estava lhe olhando toda boba. — Se é a verdade, não tem por que eu ficar omitindo isso. Quero que minha mãe entenda que eu tenho a minha própria vida. E que não posso viver o que ela planejou para mim. Estou à procura de minha felicidade e essa não está em minha cidadezinha pacata, mas ao lado desta mulher que eu amo — disse e percebeu que os olhos de Laura estavam marejando. — Não acredito nisto!
— Laura! — Raquel olhou para a médica e começou a gargalhar. Sófia fez o mesmo.
— Ah... Vocês não entendem. É muito bom namorar esta mulher. Norma é incrível. — Laura limpou a lágrima solitária que estava escorrendo pelo seu rosto. — Acho que estou na TPM. — Forçou um sorriso e sentiu os braços de Norma envolvendo o seu corpo.
— Eu te amo muito, minha doutora! — Norma disse ao olhar nos olhos de Laura. Um clima de romance começou a tomar conta do ambiente e Nino latiu chamando a atenção das quatro mulheres, pois elas haviam parado. — Você tem que ser mais paciente, senhor Nino.
— Não tiro a razão dele, amor. Viemos aqui para eles andarem e não para a gente namorar. Também te amo. — Laura deu um selinho rápido nos lábios de Norma.
Mesmo com a reclamação de Nino, Norma e Laura voltaram a fazer declarações a outra. Raquel e Sófia que observavam a cena achava muito fofo como as duas amigas estavam bem. Qualquer pessoa que as observassem de longe notaria o amor no olhar das duas mulheres.
— Então precisam arrumar muita coisa para o casamento ainda? — Laura indagou quando voltaram a caminhar. — Qualquer coisa, eu ajudo vocês no meu dia de folga da clínica.
— Ah... vamos querer, Laura. Precisamos ir à casa de praia ver a parte da ornamentação com a equipe que vai arrumar o local. Tenho medo deles não darem conta e sobrar algo para o dia da festa. — Sófia demonstrou a sua preocupação.
— Acho que vai dar tudo certo, Sófia. Você está preocupada, o que é normal, mas tudo vai sair como você desejam e vocês serão oficialmente casadas – Norma comentou.
— E vocês, já pensam em uma data? – Raquel perguntou ao outro casal.
— Ainda não! Mas decidimos deixar passar o casamento de vocês. Acho que temos assuntos pendentes... – Norma se referiu a sua mãe. Não ficaria em paz enquanto não contasse a verdade a Mãe.
— Hum... Dona Lúcia vai aceitar. No começo, ela pode ficar sentida por você não seguir nada que ela planejou, mas vai entender. A sua mãe te ama, Norma. Ela vai perceber que Laura e você se amam como todo mundo que vê vocês duas juntas. – Raquel quis tranquilizar a amiga.
— Obrigada, Raquel, você é uma ótima amiga. – Norma até se emocionou ao notar que tinha pessoas maravilhosas do seu lado.
Após passearem, Raquel e Sófia voltaram com Nino e Nina a casa. Ficaram surpresa com a cena que presenciaram. Os pais de Raquel estavam conversando animadamente com Geraldo e Margarida.
— Mamãe? Papai? O que estão fazendo aqui? Vocês... Vocês não falaram que iriam nos visitar. – Raquel surpreendeu-se com a cena que viu.
— Filha, sentimos a sua falta. – Rogério se levantou do sofá. – Faz alguns dias que não nos vimos e... seu casamento já é na próxima semana. Queríamos saber o que poderíamos fazer por vocês.
— Sei que não somos os melhores pais do mundo... Bom... Não sou a melhor mãe do mundo, já fiz muita coisa que te magoou, mas imagino que eu tenha que estar ao seu lado em um momento desses. Pode contar comigo! – Rita disse e Raquel olhou para Sófia, pois não sabia como agir diante do que a mãe dissera.
— Eu... eu não sei o que dizer a vocês – Raquel disse um pouco sem jeito.
— Não precisa dizer nada, filha. Só queremos que você aceite a nossa ajuda. – Rogério começou a se aproximar de Raquel. – Eu quero muito poder fazer parte desse momento que é tão importante para você – falou de uma forma amável.
— Pai... – Raquel se emocionou, pois amava muito aquele homem que estava ali. – Claro que vocês podem, né, amor? – Olhou para Sófia que estava ao seu lado tentando entender o que acontecia, mas feliz por tudo estar bem.
— Claro! Precisamos de pessoas para ajudar mesmo. – Sófia sorriu, demonstrando que a visita era bem-vinda. – Já que estão aqui, não querem jantar conosco?
— Ah... Não queremos atrapalhar vocês. Vocês estão com visitas, precisam dar atenção a elas – Rita disse um pouco sem jeito. Pretendia voltar logo para casa.
— Não nos incomodamos de dividir com vocês a atenção das meninas – Geraldo disse após olhar brevemente a sua esposa.
— Então vamos aceitar. Será que pode nos contar durante o jantar como estão os preparativos para o casamento? – Rita perguntou toda animada. O que mais queria era voltar a ter um espaço na vida da filha.
— Claro, podemos sim! – Raquel respondeu e achou interessante como tudo havia mudado. Voltou àquela cidade tentando um recomeço, contudo, deu-se conta de que o recomeço começara quando não existia mais nenhum assunto pendente em sua vida. Não foi fácil o percurso até ali. Sofrera muito. Contudo estava grata por tudo ter ficado bem no final.
_*_
Era quarta-feira. Os preparativos para o casamento de Raquel e Sófia estavam adiantados. O clima do momento começara a ser sentido. Alguns corações ansiosos não conseguiam parar de pensar em como seria a cerimônia, contudo se alegravam por um sonho estar prestes a ser realizado.
Todos estavam bem, felizes com a vida que levavam. Porém havia um casal que ainda tinha que resolver um problema.
—Então este é o seu novo endereço, filha? Por que está morando aí? Você tem seu próprio apartamento – Dona Lúcia começou a falar sem parar do outro lado da linha.
— Mãe, quando a senhora chegar, eu falo sobre isso. Por enquanto, apenas mostre o endereço ao taxista. – Norma já estava começando a perceber que não seria nada bom ter a sua mãe ali.
— Tá, mas preparei uma surpresa para você?
— Surpresa? – Começou a pressentir que dali não poderia vir algo bom.
— Sim, mas quando chegar aí, eu te apresento.
— Como assim apresento, mãe?
— Até mais! – A senhora desligou ignorando totalmente a pergunta da filha.
Após perceber que sua mãe havia desligado em sua cara, Norma ficou olhando para o celular totalmente perplexa.
— Aconteceu algo, amor? Minha sogra já chegou? – Laura surgiu na sala e abraçou a ruiva por trás. – Por que seu corpo está tenso?
— Minha mãe disse que está preparando uma surpresa para mim.
— Hum... – Beijou o pescoço de Norma para ver de a amada relaxava. – Bom... Surpresas costumam ser algo bom.
— Mas se tratando de minha mãe, não é algo bom, amor. Ela falou sobre apresentar. Isso não me faz pensar em algo bom.
— Realmente não é. – Laura começou a ficar preocupada também, mesmo sem conhecer a sogra que tinha. – Será que ela quer te arranjar um casamento?
— Bom... espero que não! Eu disse que minha mãe é complicada, você não quis acreditar. Achou que eu estava exagerando... – Norma reclamou.
— Tá, eu errei. Não precisa fazer biquinho. – Laura fez com que Norma virasse o seu corpo. – Vou estar do seu lado independente de qualquer coisa. Não importa o que sua mãe pensa ou faça. O que importa para mim é o que você quer. E eu sei que você quer é estar comigo.
— Sim, amor, é estar com você. Eu te amo muito. – Envolveu o pescoço da médica com seus braços. – A última coisa que eu quero é ficar sem você.
— Você não vai ficar sem mim, minha vida.
— Espero que não, pois minha vida não teria sentido sem você. – Aproximou os seus lábios no de Laura. – Você é uma mulher incrível. Tenho muita sorte por ter você – disse e começou a beijar a amada devagar. Sentiu vontade de tornar aquelas carícias mais ousadas, contudo a campainha as interrompeu.
— Acho que ela chegou, amor – Laura comentou e percebeu que o olhar de Norma ficou desanimado. – Vai dar tudo certo. Lembra, eu estou com você. Vou te ajudar nisso!
— Está bem! – Norma segurou brevemente a mão de sua amada e depois foi recepcionar a sua mãe.
Quando abriu o portão de sua casa, deparou-se com uma senhora ruiva e baixa que parecia estar falando a todo momento com um homem que estava ao seu lado.
— Filha, ainda bem que atendeu. Estava dizendo ao Antoni que já estou cansada. – A senhora começou a reparar na casa atrás da filha. — Por que você esta morando em um bairro tão nobre? Não me diga que deu o golpe do baú em um velho rico?
— Mãe! – Norma repreendeu, pois já não estava gostando da forma como a mãe falava.
— Só queria saber! E você anda tão distante. Nem convidou para entrarmos. Não falou com o Antoni... ele está aqui somente por você. – A senhora começou a alterar o tom de voz e Norma respirou profundamente.
— Acho que seria melhor acalmarmos os nossos ânimos. Chegamos de viagem... nos reencontramos. Era para estarmos felizes. – O homem alto, moreno, musculoso e com uma barba bem feita tentou acalmar as duas mulheres.
Antoni é sobrinho de Lorenzo, padrasto de Norma. Estava visitando os tios quando dona Lúcia teve a infeliz ideia de trazê-lo ao casamento de Raquel. Ele não queria ir, contudo, Lorenzo o convenceu, já que alguém precisava acompanhar a esposa.
— Então... Você mora aqui com quem? – Dona Lúcia perguntou ao entrar na residência.
Como Laura queria deixar a amada à vontade, resolveu ir a cozinha ajudar a empregada com o jantar. Então Norma recepcionou a mãe sozinha.
— Moro com Laura, mãe, daqui a pouco você irá conhecê-la – Norma disse calmamente sem ter receio das milhares de perguntas que a mãe iria fazer.
— Laura? Essa eu não conheço. – Dona Lúcia estreitou o olhar.
— Bom... mas agora a senhora pode me conhecer. – Laura surgiu na sala chamando a atenção de todos. Ela ficou um pouco surpresa com a presença de um homem no local. – Eu sou a Laura. Moro com sua filha.
— Por que moram juntas, Norma? – Dona Lúcia perguntou e começou a achar estranho o fato de Norma nunca ter comentado com ela sobre Laura.
— Mãe, será que podemos conversar após vocês descansarem? Acho que Antoni já está querendo descansar. – Norma reparou que o primo havia sentado no sofá e começado a cochilar.
— Realmente! Mas quero continuar essa conversa depois.
— Claro, conversaremos! Vou levar vocês até o quarto. – Norma olhou para Laura. – A... Laura... – Percebeu que seria difícil fingir algo. – Você pode ficar aguardando. Eu levo os dois.
— Está bem! – Laura se sentou no sofá e começou a encarar o belo homem que estava no outro sofá. Poderia sentir ciúmes dessa visita inesperada, contudo ela confiava em Norma e no amor que existia entre as duas.
Fim do capítulo
Olá,
O que acharam deste capítulo?
Espero que tenham gostado.
Falta pouco para a história acabar :(
Beijinhos^^
Van
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Anny Grazielly
Em: 24/01/2021
Rapazzzzzz... essa mae de Norma eh osso... kkkkkk
eee, que momento legal entre a familia de Sof e Raquel...
NovaAqui
Em: 13/01/2021
Essa mãe da Norma vai dar trabalho kkkk e ainda trouxe um contra peso? Vai apanhar da Laura esse cueca
E os pais de Raquel querendo estar presente. .. que fofo
Abraços fraternos procês aí
Resposta do autor:
Olá,
É capaz do Antoni apanhar mesmo. Laura não quer ninguém mexendo com Norma.
A mãe de Raquel está querendo recuparar o tempo perdido.
Muito obrigada pelo seu comentário.^^
Beijinhos^^
Van
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