Recomeço – Capitulo 94

Após se despedirem de todos, Raquel e Sófia começaram a andar em direção a saída. Rogério as acompanhou até o carro.

— Filha, estou muito feliz por ter vindo. Estava com muita saudade de você, minha filha. – Rogério disse emocionado. Sabia que tinha uma parcela de culpa pelo que ocorreu, mas amava Raquel. Amava muito sua filha. Sofria muito com a distância entre os dois.

Sófia e Raquel se entreolharam, trocando um olhar cúmplice.

A engenharia se aproximou de Rogério e segurou uma das mãos do senhor.

— Pai, também senti sua falta. Acho que no calor do momento, eu não tive noção do quanto doeria ficar longe do senhor que escutou a minha versão dos fatos com relação a Sófia e me deu muito apoio. Sinto muito por ter havido essa distância entre nós, no entanto, podemos mudar isso. Que tal um dia ir tomar um café conosco? – perguntou e olhou para sua amada que sorria de uma forma animada.

— Oh, eu irei adorar, minha filha. —Rogério deixou que algumas lágrimas escapassem por entre os seus olhos. – Gostei da novidade do casamento. E fiquei muito feliz pelo convite.

— Acho que precisamos dar os primeiros passos para um recomeço. Então superar as nossas diferenças seria o início disso. – Sófia entrou na conversa. Raquel lhe olhou de uma forma amável.

— Você tem razão, Sofia. – Segurou uma das mãos da loira e começou a encarar o casal a sua frente. As duas mulheres pareciam radiantes. Qualquer um que visse de longe notaria o quanto as duas se amava. – Fico feliz por vocês estarem bem. Estão muito bem juntas. De longe dá para notar a cumplicidade que há entre vocês.

Com o comentário do senhor, o casal sorriu. As duas estavam muito bem juntas. Aprendiam bastante com a outra. A relação não era perfeita. Havia momentos de desentendimentos, mas com uma boa conversa conseguiam se acertar

— Ainda bem que ainda estão aqui. – Rita disse ao se aproximar com Sheila. Havia se ausentado para tomar alguns de seus remédios. – Obrigada pela presença de vocês. Será que podemos repetir o momento?

— Claro, é só marcar. – Raquel forçou um sorriso. Ainda estava tentando se acostumar com a presença e a simpatia da mãe.

— Filha, eu gostei muito da presença de vocês aqui. Não sabe o quanto me doeu pensar que poderia ter perdido a única coisa que realmente importava, a união de nossa família. Isso ainda está em processo, mas terei paciência.

Rita sentiu um dos braços do marido envolvendo a sua cintura. Os dois estava se entendendo bastante após Rita começar a ver a vida além do seu próprio umbigo.

— Bom... mesmo querendo não podemos apagar o que houve, mas podemos ser pessoas melhores. A gente não espera que vocês ignorem tudo que houve, pois deve ter sido algo que marcou dentro de vocês – o senhor disse.

— Sim, marcou, mas vou tentar me esquecer do que me fez mal. Remoer dores não faz bem. – Raquel segurou uma das mãos de Sófia. – Acho que agora precisamos ir.

— Voltem sempre que quiser – Rita disse sincera.

— Está bem!

Após se despedirem, o casal entrou no carro e começaram a dirigir em direção a casa das amigas.

— Você ficou bem com este encontro? – Sófia indagou ao notar sua amada pensativa.

Raquel forçou um sorriso e segurou uma das mãos da loira por alguns instantes.

— Por incrível que pareça sim. Me sinto mais aliviada. Como se eu tivesse tirado um peso de minhas costas. – Deu uma pausa. – Sentia tanta falta de meu pai. Do jeito amoroso dele.

— E sua mãe?

Sófia queria saber o que a amada estava pensando com relação a Rita.

A senhora havia mudado muito nos últimos dias, isso era algo que ainda deixavam elas com um certo receio.

— Resolvi dar mais uma oportunidade, amor. Eu sei que ela não vai ter facilmente 100% de mim, do meu afeto como filha. As lembranças ainda me incomodam, mas resolvi tentar.

— Não é necessário você agir como se ela sempre tivesse sido a melhor mãe do mundo, pois ela não foi. Porém você pode ter uma proximidade se caso quiser, se isso lhe fizer bem.

— Eu te amo tanto – Raquel disse ao estacionar o carro em frente a um portão. – Você é uma mulher incrível, Sófia. Sempre esteve ao meu lado. Nos bons e maus momentos.

Sofia pegou uma das mãos de Raquel e colocou entre as suas.

— Eu também te amo. Quem ama, vai estar com o outro sempre. Independente de ser um dia ensolarado ou chuvoso. E você também sempre está comigo, só estou retribuindo. – Deu uma pausa. – Estou feliz por você ter ido a casa de seus pais hoje e ter resolvido alguns assuntos pendentes. Acho que agora você vai poder viver mais em paz.

Raquel forçou um sorriso.

— Sim, estou mais em paz. – Entrelaçou os seus dedos aos de Sófia. – Vamos?

— Claro!

Desceram do carro e deram as mãos enquanto aguardavam o portão ser aberto.

Como estava demorando um pouco para serem atendidas, o casal trocou um selinho e vários sorrisos apaixonados.

— Tem certeza que vocês estavam na casa dos seus pais, Raquel? – Norma perguntou ao abrir o portão. – Vi pelo monitor vocês com cara de apaixonadas. Tiveram um encontro e deixaram as crianças aqui? – a ruiva brincou.

— E só após encontros que podemos nos olhar com muito amor? – a loira desafiou e todas gargalharam.

— Entrem! – Norma pediu.

Enquanto a ruiva fechava o portão, o casal notou algo novo no dedo anelar da amiga.

— Não me diga que esse anel é o que estou pensando? – Raquel perguntou e viu que a amiga sorriu um pouco sem jeito. – Norma... – Gargalhou e a loira a acompanhou.

— É só a gente sair que vocês já aparecem com uma novidade – Sófia comentou.

— Ah... bom... aconteceu! – Norma estava envergonhada, pois já havia até feito discurso dizendo que não casaria por agora.

— Queremos saber como foi. Precisam nos contar os detalhes – Sófia disse enquanto caminhavam para o fundo da casa.

— Laura fez uma surpresa... Nino ajudou.

— Como assim Nino ajudou? – Raquel perguntou e viu Nino todo entrosado com Laura. A verdade é que Nino se entregava a qualquer um que lhe fizesse carinho.

— Querida, Nino aqui é esperto. Só falei um pouquinho com ele. Entendeu rapidinho – Laura respondeu e Nino ficou todo convencido, parecia entender tudo o que as mulheres diziam.

Nina surgiu e abraçou Sófia. Ela era mais desconfiada. Era boazinha, mas não era conquistada com poucos carinhos.

— Oi, minha linda! – Sófia se abaixou e fez um carinho em Nina. – Eles se comportaram? – perguntou, pois sabia que aquela turma era da pesada.

Norma e Laura riram, pois teve um momento em que Nino saiu correndo com um chinelo na boca e as duas tiveram que correr atrás. Tiveram medo de Nino engolir algo e ter que ir parar no veterinário.

— Não, não deram trabalho. Somos ótimas tias. Eles se comportam conosco.  – Norma disse e Raquel olhou para Nino desconfiada, pois seu peludo não podia ver um chinelo dando bandeira.

— Quem mordeu aquele chinelo? – Raquel apontou para um chinelo todo mordido que estava em cima de uma espreguiçadeira.

— Eu – Laura respondeu e as mulheres caíram na gargalhada. – Ah... Raquel, não tinha como ficarmos com os dois e não acontecer nadinha.

— Sabemos disso, por isso estranhamos não ter nenhuma reclamação – Sófia comentou.

— Nino é muito danado. Não pode ver um chinelo – Norma falou e Nino começou a latir. Ele não estava gostando da forma como estavam falando dele. – Vocês não sabem o quanto tivemos que correr e Nina ainda ajudou ele.

As quatro mulheres gargalharam até as barrigas começarem a doer.

— Mas diga... – Raquel deu uma pausa para recuperar o fôlego, pois não conseguia parar de rir ao imaginar as amigas correndo atrás dos peludos. – E essa história de pedido de casamento. Queremos saber como foi?

— Venha, acho melhor todo mundo se sentar – Norma chamou as amigas para sentarem à mesa. – Quer falar como você pensou em tudo, amor? – Olhou para Laura que não parava de lhe olhar. A médica nem conseguia disfarçar o quanto era apaixonada pela ruiva.

— Bom... Nas últimas semanas, a minha relação com Norma deu grandes passos... pulamos etapas rapidamente Norma evitava falar sobre casamento por conta disso, mas depois que ela veio pra cá a nossa relação está ficando cada vez mais maravilhosa. Não há dúvidas de que o nosso destino é ficarmos juntas. – Deu uma pausa e percebeu que as mulheres lhe ouviam atentamente. – Aproveitei o momento hoje e decidi fazer o pedido. Amarrei uma cordinha a caixinha de aliança e pedi para Nino entregar a Norma. Não imaginava que ele fosse tão esperto, Raquel.

— Além de danado, Nino é muito inteligente. – Raquel alisou Nino que estava ao lado de sua cadeira.

— E você aceitou, Norma, mesmo brigando conosco dizendo que não queria casamento por agora – Sófia brincou e as outras mulheres gargalharam.

— Ah... Sófia, uma coisa é falar... Quando a gente é pedida em casamento é outra coisa. E eu tenho certeza que quero isso. Laura é a mulher de minha vida. Desejo dividir os meus dias ao seu lado.

Norma segurou uma das mãos de Laura por cima da mesa e olhou nos olhos da médica com intensidade.

— E vocês, como foi o almoço na casa dos pais de Raquel? – Norma indagou.

Sófia e Raquel se entreolharam.

— Bom, melhor do que imaginávamos. – Raquel respondeu.

— Então quer dizer que todos fizeram as pazes? – Laura resolver entrar na conversa.

— Seria tipo isso. Bom... há algumas feridas que ainda não foram curadas, mas resolvemos parar de machucá-las. Vamos deixar o tempo passar agora. Quem sabe podemos ter uma relação melhor no futuro com minha família – Raquel respondeu. – Só quero viver em paz e sem nenhum assunto pendente.

— Essa aproximação quer dizer que você não quer mais conflitos, mas também quer dizer que você não espera ter uma relação com sua família parecendo que nada ocorreu. Seria isso, minha amiga?

— Sim, Norma! Só quero poder seguir com minha vida e não pensar nos assuntos que ainda tenho que resolver com minha família.

— Mas, Raquel, e sua mãe? Bom... do jeito que a vi na clínica, ela não é uma pessoa fácil de lidar. Como está sendo esta aproximação? – Laura indagou.

— Digamos que ela parece ser outra pessoa agora. Talvez tenha aprendido com os erros dela, reconhecido que não foi uma boa mãe.

— Às vezes, é difícil acreditar na mudança de Rita, mas não posso dizer que não é real – Norma confessou.

— Eu te entendo, Norma, também tive dúvidas, mas resolvi dar uma oportunidade. Sei que não posso viver fingindo que nada de ruim ocorreu no passado, mas posso tentar ter uma boa relação com ela. Bom... querendo ou não, ela é minha mãe. Se ela está disposta a tratar bem Sófia e eu, eu não vou impedir. Porém se ela tiver outras intenções, eu vou deixar de mão. Se ela não é uma boa pessoa, eu não tenho culpa disso. – Raquel sentiu uma das mãos de Sófia segurando a sua. – Eu tenho ao meu lado pessoas maravilhosas, não preciso ficar mendigando o afeto de ninguém.

Nino latiu, fazendo sua dona olhar para ele.

— Cachorros maravilhosos também, né, garotão? – Alisou a cabeça de Nino.

— Bom, se está tudo resolvido, aceitam jantar conosco? – Norma convidou e sorriu para sua amada. – Um jantar para comemorar o noivado.

Todas as mulheres riram.

— Estão vendo, ela amou ser pedida em casamento. Deveria ter feito isso antes. – Laura brincou.

— Se tivesse feito antes, eu teria me assustado e fugido – Norma alertado.

— Ou ter ficado e gostado da ideia. – Sófia piscou.

— Bom... acho que você tem razão, Sófia. Seria muito difícil dizer não a Laura. – Olhou para a médica e sorriu. Amava muito aquela mulher que rapidamente havia ganhado espaço em sua vida.

Fim do capítulo