Capitulo 47 - Meus dias sem você
Capítulo 47 – Meus dias sem você
Pov Lia
Na noite do término, Lia se trancou no seu quarto durante o resto da noite e chorou até pegar no sono. Não conseguia aceitar que o seu amor terminara tudo entre as duas. O pior de tudo era o vazio que sentiu depois. O que ela faria sem Liz? Como conseguiria viver sem metade de seu coração? Como iria conseguir superar aquela dor imensa da perda? O que faria?
Acordou às cinco da manhã com uma leve dor de cabeça. Com certeza, devido ao choro da noite anterior. Bastou abrir os olhos para que a realidade não demorasse a atingir seus pensamentos. Liz terminara com ela de vez, e terminara de uma forma totalmente revoltante e do nada. Definitivamente a irritadinha não estava preparada para um desfecho tão doloroso.
Ao sentar-se na cama, se sentiu vazia. Era um sentimento tão estranho. Uma agonia se instalou em seu peito de forma permanente. Apesar de estar puta de raiva e extremamente magoada, ainda assim, no fundo de seu ser, desejava tentar conversar com sua rockeira novamente para tentar reaver toda a situação. Talvez as duas apenas estivessem alteradas com todos os acontecimentos.
Era difícil para Lia assumir que Liz terminara tudo de maneira tão fria. Apenas não conseguia processar e não tinha caído a ficha de que não teria mais aquele beijo gostoso, nem o cheiro, ou a compreensão mútua e nem o sex* gostoso dela para si. Ainda estava com as roupas da noite anterior e um mal-estar terrível. Ressaca de tristeza era mil vezes pior do que bebida.
Imediatamente procurou pelo seu celular que estava jogado na mesa de cabeceira e viu que tinha uma notificação de mensagem. Era ela. Seu coração era um traidor, pois assim que viu o lindo nome, começou a disparar de alegria, anseio e esperança.
Clicou na conversa e pediu internamente que fosse uma mensagem de arrependimento, porém...
Liz: “Lia, eu não quis mais insistir, pois vi que você ficou muito transtornada. Espero que depois, com a cabeça mais fria, você consiga ver o meu lado e que entenda a minha atitude. O que eu sinto por você nunca vai mudar. Torço para que um dia você consiga acreditar em mim quando eu disse que fiz tudo apenas pelo seu bem.
Eu quero que você tenha todas as oportunidades e experiências por conta própria. Não quero interferir. Somos novas ainda, temos muitas coisas pela frente, mas acima de tudo, quero que seja independente. Sei que um dia vamos no reencontrar. ”
A irritadinha terminou de ler a mensagem com lágrimas nos olhos e uma dor dilacerante no peito, era como se o ar quisesse faltar. Novamente lá estava ela, com aquele bolo entalado na garganta. Caiu sobre a cama sem qualquer esforço e com as lágrimas manchando sua face novamente, sem falar nos soluços incontidos. Nem mesmo se deu ao trabalho de responde-la.
Lia não lembrava a última vez que havia chorado tanto assim, talvez quando era criança ainda. Nem mesmo quando elas terminaram da primeira vez havia sido tão doloroso. Quando o choro cessou depois de um longo tempo, Lia sentiu seu corpo mole, como se estivesse com febre. Nada do que estava acontecendo era certo. Como seus planos poderiam mudar de uma hora para a outra?
Da cama, avistou sua mala num canto do quarto. Já havia começado a arrumar as roupas a fim de mudar para o apartamento dela. Aquilo apenas a fez sentir-se como uma verdadeira e completa idiota. Não entendia mesmo como Liz havia sido capaz de agir com tamanha frieza e não sabia mais o que pensar sobre o assunto.
Cansada de ficar deitada no quarto, resolveu descer um pouco e foi diretamente para o deck. Sentou-se sobre o sofá e ficou apreciando o clima frio e gostoso da manhã. As nuvens estavam meio nubladas apesar do sol que se mostrava glorioso. Ela abraçou as próprias pernas e recostou a cabeça nos joelhos.
Ouviu quando a porta de vidro se abriu e ao olhar para o lado, deu de cara com a mãe. Institivamente a raiva tomou conta de seu peito. Se não fosse pela intromissão dos pais, tinha certeza que ainda estariam juntas. O que deu mais raiva, foi o olhar preocupado e de pena que ela lhe lançou.
— Vocês estão felizes agora? — atacou com ironia e já ficou em posição de ataque. — Conseguiram o que queriam.
— Oh, minha filha! — a mãe respondeu com pesar. — Sinto muito por vocês duas.
— Sente? — seus olhos ficaram turvos de lágrimas. — Então por que vocês se metem tanto na minha vida?
— Lia — com paciência Nádia sentou-se ao lado dela e lhe fitou. — Não vou mentir que quando o Pedro contou sobre o intercâmbio eu e o seu pai ficamos muito bravos pela sua irresponsabilidade, ainda mais depois do que você nos disse sobre ir morar junto da Liz. Eu não concordei com isso nem um segundo. Nós dois só queremos o melhor para você, mas eu não desejei que Liz terminasse tudo.
— As coisas que o pai disse a ela... — começou a se exaltar.
— Eu não sabia que ele tinha feito isso. O Pedro me contou ontem à noite — percebendo sua guarda baixa, Nádia se aproximou mais um pouco e segurou em sua mão. — Eu tive uma conversa séria com o seu pai já, também acho que ele agiu de forma errada, mas...
— Mas o quê? — Lia não acreditava que sua mãe estivesse ao menos um pouco do seu lado.
— Não sei, Lia — a mãe respondeu insegura. — Vocês duas pareciam tão apaixonadas e envolvidas. Eu não esperava que a Liz fosse fazer isso.
— Mas ela fez! — rebateu tristemente.
— E aquela história de que vocês iam morar juntas era verdade? — Nádia parecia um tanto quanto curiosa com o assunto. — Ou você disse aquilo só para nos deixar com raiva?
Lia pensou por um tempo no que responder. Se sentia uma verdadeira imbecil por ter deixado sua ingenuidade ter chegado tão longe, mas a pior sensação em tudo ali, era se sentir enganada. Como Liz conseguira ser tão apaixonante e carinhosa e dias depois lhe despachar com tanta facilidade? Teve vontade de recomeçar o choro, mas se segurou.
— Eu só falei aquilo para irritar vocês.
— Você está com os olhos todos inchados — Nádia passou a mão por sua face e lhe deu um sorrisinho de compreensão. — Deve ter passado a noite chorando.
Lia não negou, apenas concordou e baixou a cabeça.
— Mãe, eu não quero mais falar nisso, por favor! — voltou a recostar a cabeça sobre as pernas e fechou os olhos.
— Eu vou preparar um chá para você.
A irritadinha se sentia mais leve de ter conversado com a mãe. Era confortador senti-la preocupada de verdade com seu bem-estar. No final das contas, ela foi quem mais respeitou o seu relacionamento com Liz. Já o seu pai, seria custo conseguir perdoá-lo.
Algum tempo depois, Nádia voltou lhe entregando o chá e um remédio para dor de cabeça. A mãe conseguiu desarmá-la e quando deu por si, já estava deitada com a cabeça em seu colo enquanto ela lhe afagava os cabelos. Ao menos naquele momento, conseguiu ter um pouco de paz e acabou cochilando pouco tempo depois.
Quando finalmente acordou, resolveu ir tomar um banho e esbarrou com Pedro na cozinha. Deliberadamente, Lia ignorou-o e passou direto. Parecia que estava fazendo tudo no automático naquele dia. Apenas sentia torpor e vazio. Não sabia bem o que fazer. Lia passou um bom tempo embaixo do chuveiro e junto com as gotas de água, suas lágrimas desceram mais uma vez.
Jogou-se sobre a cama e colocou sua lista de MPB para tocar. Passou muito tempo mexendo no celular e releu a mensagem de Liz. A cada vez, sentia ainda mais ódio de tudo o que havia acontecido na noite anterior.
Já passava das dez da manhã quando o seu celular tocou. O coração da irritadinha bateu acelerado por milésimos de segundos até que viu o nome de Vanessa no visor. Por um curto momento, pensou que fosse Liz. Definitivamente, não estava nada a fim de falar com a ruiva naquele momento, já sabia o que ela ia dizer e não estava minimamente interessada em falar qualquer coisa sobre intercâmbio.
Lia estava com vontade de falar e desabafar somente com uma pessoa, e era Cris. Seu coração apertou de saudades da amiga, já fazia um tempinho que as duas não se falavam. Sem mais delongas, pegou o celular e discou o número dela. Cris não demorou muito tempo para atender a ligação.
— Hey, irritadinha! — a amiga já atendeu o telefone com aquele seu alto astral de costume. Ao menos uma das duas estava aparentemente feliz. — Finalmente lembrou de mim.
— Own, Cris! — Lia respondeu fragilizada. Teve vontade de chorar só em ouvir a voz dela. — Amiga, estou precisando tanto de você.
— O que aconteceu? — o tom de voz dela ficou sério de repente.
— A Liz terminou comigo! — confessou em um fiapo de voz.
— O quê? — Cris perguntou pasma. Lia conseguia até imaginar a cara de espanto e a boca dela aberta em choque. — Mas como assim? O que foi que aconteceu?
Lia suspirou pesado, mas não conseguiu falar nada. Lágrimas começaram a rolar por sua face e sua garganta ficou embargada com os sentimentos mais uma vez.
— Desculpe, Cris. Eu não consigo falar agora — sussurrou entre lágrimas.
— Calma, amiga! — Cris agora parecia preocupada, mas logo voltou a falar em tom decidido. — Ah, quer saber de uma coisa?! Eu vou até aí passar uns dias com você. Posso?
Ouvir aquela frase foi uma alegria no meio de tanta tristeza. Ali naquele fim de mundo, Lia estava se sentindo completamente sozinha. Nem mesmo com Pedro podia se consolar já que ainda estava remoendo a raiva por ele.
— Claro que pode, Cris. Deve! Não precisava nem perguntar — respondeu finalmente soltando um sorrisinho feliz. — Não vou te atrapalhar?
— Você que nem deveria me perguntar isso — disse em tom de repreensão. — Sabe que me importo demais com você, não sabe? Você é que nem uma irmã para mim, irritadinha.
Lia sentiu um leve abalo no estômago. Fora Liz, Cris era a única pessoa que lhe chamava de irritadinha e imediatamente pensou em como seria difícil nunca mais ouvir a voz da rockeira a chamá-la assim.
— Obrigada mesmo, Cris. Não sabe como estou precisando desabafar com alguém.
Ela limpou os traços de lágrimas da face e pigarreou, tentando se livrar da voz de choro.
— Não precisa me agradecer, amiga! Eu vou me organizar aqui e te aviso quando eu estiver indo, ok?
— Ok. Te espero!
Lia já sentia melhor depois da ligação e ficou já na expectativa de passar uns dias mais amenos com a amiga ao seu lado. Cris tinha o estranho poder de lhe acalmar, era uma das poucas que conseguia tal feito.
O resto do dia, Lia ficou trancada no quarto, apenas escutando músicas para a sua fossa. Em determinado momento, tocou Oceano, do Djavan, e acompanhou toda a música comendo uma barra de chocolates. Precisava daquilo. Vez ou outra ela não conseguia se controlar e ficava relendo a mensagem que Liz lhe enviara e olhando todas as fotos fofas que tinha com ela. Tinha que admitir que não estava nada bem.
Tinha vontade de enviar umas coisas bem desaforadas para ela e foi isso mesmo que fez quando não conseguiu mais se controlar.
Lia: “Acha que vai se redimir com essa mensagem? Se queria terminar, deveria ter sido honesta e não ficar inventando desculpas. Você sabe muito bem que a distância não ia dar certo e agora quer me despachar para não assumir a responsabilidade de ter me iludido tanto.
Você não passa de uma covarde. Ninguém nunca me fez sentir tanto feito uma idiota que nem você. Maldito o dia que eu deixei você se aproximar de mim!
Sabe o que é pior? Eu estava mesmo disposta a largar tudo por você. A largar tudo por uma coisa que eu pensava que fosse real, mas não era. Durante todo esse tempo eu tive minhas inseguranças e agora você provou que eu estava certa. Não sei o que você queria provar ficando com uma garota nerd e sem graça que nem eu, mas não demorou para que mostrasse sua verdadeira natureza.
Você sempre vai ser uma pessoa covarde que foge das coisas sérias. Eu espero que você tenha uma boa vida. Nunca mais fale comigo! ”
As palavras simplesmente vieram com força total, assim como os sentimentos aflorados. Raiva, angústia, insegurança, tristeza... tudo. Com o sangue ainda fervendo, começou aquele ritual de ódio e vingança.
Na mesma hora bloqueou-a no whats, depois em todas as redes sociais e por fim, foi até a galeria, excluindo toda e qualquer foto com Liz ou que lhe lembrasse ela. No final, sentiu-se destemida por uns três segundos e logo depois, começou a chorar feito criança. Se Liz iria lhe responder alguma coisa, nunca iria saber. Agora sim aquele era mesmo o fim.
Ninguém se atrevia a chegar perto dela, a não ser Nádia. Por sorte, Lia mal estava vendo o pai, ele parecia estar lhe dando tempo e não forçando a barra. Já era ruim o suficiente ter sido largada e ainda mais ter que ver a satisfação dele por todo o mal que havia causado. Lia não o perdoaria fácil mesmo.
Já passava das quatro da tarde quando Cris avisou que já estava chegando na rodoviária. Sem nem ao menos pedir a permissão do pai, pegou as chaves e saiu no carro dele para ir busca-la. Quando lá chegou, encontrou a loira já à sua espera e olhando para os lados. Ela tinha uma mochila e uma mala aos seus pés. As duas correram para um abraço forte e caloroso.
— Agora estou aqui com você, Lia — Cris consolou-a por vários segundos, enquanto seus olhos já se enchiam de lágrimas mais uma vez.
— Obrigada por ter vindo! — agradeceu com a voz trêmula, mas tentou se controlar. Não queria chegar em casa com cara de choro novamente.
As duas colocaram as bagagens de Cris na parte de trás e partiram para sua casa. Pedro, como sempre, estava deitado no sofá, assistindo TV e ele sorriu aliviado quando viu Cris passar pela porta. Os dois se cumprimentaram amigavelmente, mas Lia apenas ignorou-o. após instalar a amiga no quarto, sem perda de tempo a loira puxou-a para a cama a fim de terem logo a terrível conversa.
Lia contou tudo. Que havia escondido de todo mundo a sua conversa com Vanessa e que sabia da existência da lista, mas que havia negligenciado a informação por não querer se afastar de Liz e do desenrolar da conversa com o irmão, que havia traído sua confiança ao contar para os pais e Liz o que havia acontecido. Contextualizou ainda tudo o que a ex-namorada também estava passando com a própria família. Por último, contou em detalhes sobre o término e sobre o modo frio que Liz a tratara.
— Amiga, eu nem sei o que dizer — Cris segurou em suas mãos de maneira firme. O olhar dela estava cheio de entendimento e pesar. — Eu imagino que você deve estar arrasada.
— Eu não sei como ela foi capaz de fazer isso! — confessou limpando as lágrimas. Já estava farta e cansada de chorar, mas era apenas o terceiro dia, sabia que teria ainda uma longa e agonizante jornada à sua frente. — Eu estava fazendo tudo por nós duas.
A amiga apenas calou-se com pesar. Lia percebia que ela queria falar algo, mas refreou-se. Porém, incentivou-a. Queria a opinião sincera dela.
— Lia, eu sei como é difícil terminar um namoro, ainda mais quando assim, o primeiro amor da nossa vida. Sei que parece que o mundo vai acabar e que o coração dói como se não pudesse mais suportar, mas... te garanto que com o tempo tudo passa.
A irritadinha não falou nada e nem esboçou nenhuma reação. Queria mesmo ouvir o que ela tinha a dizer, então ficou quieta à espera do que viria a seguir.
— Desculpe dizer isso, pode ser só uma impressão minha, mas...
— O quê?
— Eu não consigo duvidar dos sentimentos da Liz. Desculpe, mas é a minha opinião. — acrescentou, quando viu-a arregalar os olhos. — Lia, é bem óbvio para mim que ela fez isso para forçar você a ir para o intercâmbio. Tenho certeza que foi isso. Eu sei que a Liz é louca por você.
Lia ficou sem saber o que fazer perante àquilo. Cris havia tirado essa conclusão tão rápido que até lhe espantou. Será que havia desistido tão fácil assim da relação? Não devia ter aceitado o término, mas também não era mulher de correr atrás de seu ninguém, nem mesmo de Liz.
— Você fala com tanta certeza — respondeu mais para si mesma. Queria ter toda a confiança da Cris.
— É mais fácil para quem vê de fora — A loira pôs a mão em seu braço e deu um aperto solidário. — Eu acho que ela só fez isso para você aceitar a vaga e realmente, amiga, desculpe dizer isso, mas seria burrice sua perder essa chance.
Foi impossível não fechar a cara. Irritada como era, estresse era a sua marca em momentos tensos. Ficou calada por vários minutos. Cris apenas a observava com apreensão, mas não voltou a falar mais nada. Não podia descontar sua raiva e frustração na amiga, que viera de longe para lhe dar apoio.
— Desculpe, Cris! — expressou por fim com um longo suspiro. — Talvez você esteja certa e eu não estou conseguindo pensar racionalmente quando o assunto é a Liz. Meu coração parece que vai explodir de tanta dor...
Seus olhos se encheram de lágrimas, anunciando um choro incontido e Cris abraçou-a.
— Eu te entendo. Nenhum término é fácil. Principalmente quando é o primeiro amor.
A loira sustentou-a daquela forma por longos minutos até senti-la mais calma.
— Ela disse que ia a Londres comigo caso eu passasse, mas foi antes de todo o acidente acontecer com a tia dela. Também a porcaria daquela coordenação veio me informar sobre essa vaga muito em cima da hora. Sinceramente eu não tenho cabeça para pensar em toda essa burocracia agora. Eu nem estou mais com ânimo de fazer esse intercâmbio.
— É normal você estar assim agora. Não pense que foi a primeira e nem a última mulher do mundo em ter o coração partido. Nunca é fácil, mas você não pode deixar seus sonhos de lado por causa de uma pessoa. Agora mesmo é que você precisa deles.
Lia apenas assentiu. Sabia que o que Cris falava era o certo, porém, não fazia sumir a sensação de vazio eterno dentro de si.
— Você tem razão.
— Escuta, você não está nessa sozinha. Eu vou te ajudar a conseguir tudo o que precisa. Você tem até quando para dar uma resposta?
— Até o fim do mês.
Cris arregalou os olhos em surpresa e inspirou fortemente.
— Falta uma semana, Lia. Você tem que decidir logo.
— Eu sei! — coçou a testa com nervosismo.
— A Vanessa pode te ajudar. Você me contou q ue ela passou, não foi?
— Foi sim, ela conseguiu de primeira. Na verdade, ela já tinha me contado que eu poderia estar nessa lista de espera, mas eu nem fui atrás de saber.
— Está vendo?! Tudo conspira para que você vá.
Pensando mais fora da caixinha, Lia sabia que todos tinham razão. Seria insano perder a oportunidade, mas por que não estava nenhum pouco animada? No fundo só conseguia pensar em Liz e sentir raiva por se importar tanto com ela mesmo com toda a dor que a mesma lhe causara. Não sabia nem mais o que pensar sobre. Talvez ela estivesse mesmo certa de que aquele tempo era necessário para as duas.
— Vou ligar para Vanessa, contando a novidade.
Cris abriu um sorriso e bateu palmas orgulhosamente. Lia apenas sorriu do jeito dela enquanto fazia a ligação. Colocou o telefone no viva-voz. Depois de alguns poucos toques, a ruiva lhe atendeu.
— Oi — a ruiva já lhe atendeu com toda a simpatia.
— Oi, Vanessa! Você está podendo falar agora?
— Claro que sim. Aconteceu alguma coisa?
— É sobre a lista de espera que você mencionou naquele dia. Eles me ligaram dizendo que eu consegui a vaga.
— É sério? — conseguiu ouvir o tom de surpresa e alegria na voz dela. — Lia, mas essa é a melhor notícia do ano. Eu sabia que você ia conseguir. Me conta, você já deu a confirmação?
— Ainda não.
— O que você está esperando? Tem muita coisa ainda para organizar.
— Eu sei! — Lia teve vontade de revirar os olhos. Todos falavam com ela, como se fosse uma menina que não sabia de nada. — Por isso eu estou ligando. Será que pode me ajudar?
— Mas vai ser um prazer te ajudar. Pode contar comigo!
Lia podia ouvir e sentir o quanto Vanessa estava sorridente do outro lado da linha e até que a empolgação dela lhe deu um ânimo.
— Bem, com certeza, eu estarei indo aí na cidade por esses dias e a gente se encontra pessoalmente.
— Ótimo! Você me avisa que a gente se encontra.
— Ok. Obrigada!
— Não precisa me agradecer, Lia.
As duas se despediram e Cris apenas ficou encarando-a com ar de presunção.
— O que foi? — Lia perguntou já desconfiada do olhar da amiga.
— Ela ficou bem animada com a notícia, não é?
— Cris, para! Essa é a última coisa que eu poderia estar pensando agora — A irritadinha balançou a cabeça em desaprovação às palavras da amiga.
— Eu sei, mas sabendo que ela já foi a fim de você, imagino o que ela pode fazer quando souber que está separada da Liz.
— Eu não quero nem pensar nisso! Sinceramente eu nem sei se conseguiria me envolver com outra pessoa na minha vida! — concluiu tristemente, pois era assim que se sentia.
— Eu sei como está se sentindo. Estou dizendo isso apenas para que tenha cuidado com ela.
— A Vanessa é só uma amiga, Cris — respondeu já irritada. — Não quero mais falar nesse assunto.
— Desculpe! — A loira respondeu, fazendo sinal como se selasse os lábios.
O próximo passo agora era conversar com os pais sobre sua decisão. Estava totalmente sem jeito de ir falar com o pai sobre isso. Não queria dirigir a palavra a ele tão cedo, por isso, passou o restante da tarde se preparando para a conversa.
Com Cris ali com ela, até conseguia se distrair um pouco da dor que sentia. Por vários momentos, teve de se refrear para não desbloquear Liz de seus contatos. Seu coração era um traidor em não querer ficar longe dela. A dor da rejeição ainda era muito presente. Apesar das palavras de Cris, tinha suas dúvidas. Tinha certeza que Liz a traíra ou estava já querendo pular a cerca. O simples pensamento fazia seu coração pulsar de dor. Queria conseguir mandar em seus pensamentos, mas era impossível.
Seus pais finalmente chegaram do trabalho e pela primeira vez em dias, ela desceu, com Cris ao seu lado, para jantar junto com eles. Nádia sorriu ao vê-la chegar de mansinho na cozinha junto com a amiga.
— Eu não sabia que teríamos convidados hoje — A mãe foi até Cris e abraçou-a. — Como você está, Cristiane?
Lia estranhou, era difícil ver alguém chamar a amiga pelo nome todo.
— Estou bem, dona Nádia! Lia me convidou para passar uns dias aqui, está tudo bem?
— Claro que está bem — Nádia aproximou-se dela e sussurrou, olhando de esgueira para Lia. — Para ser sincera, ainda bem que você veio.
— Não podia deixar de vir.
Naquele momento, Pedro e Horácio entraram no cômodo e logo uma certa tensão tomou conta do lugar. Lia lhe lançou um olhar rápido e viu que o pai parecia um pouco surpreso. Foi ajudar a mãe a preparar a mesa enquanto o irmão e o pai cumprimentavam Cris. A janta foi feita em silêncio, salvo apenas pelos pais, perguntando à amiga sobre como andavam as coisas com a família dela.
— Eu preciso conversar com vocês! — A irritadinha disse séria.
— Finalmente voltou a conversar com a gente — Horácio respondeu com ironia.
— Não começa, Horácio — Nádia ralhou. — Por favor!
Lia respirou fundo e declarou de vez:
— E se eu me decidir ir para Londres... — viu como o pai parou de jantar e a olhou de forma séria. — Vocês vão me ajudar?
— Mas é claro que nós vamos ajudar, Liana! — Horário respondeu firme, porém tinha um sorrisinho. — Era isso que eu estava esperando de você. Nunca me decepciona.
— Depois do que o senhor fez, não é? Arruinou meu relacionamento com Liz! — cuspiu de uma vez por todas. A expressão de contentamento na face do pai, lhe tirou do sério. Podia sentir os olhares dos outros neles.
— Se foi para o teu bem, faria tudo novamente! — o pai respondeu alto e em tom de desafio. — Você não consegue pensar racionalmente quando o assunto é aquela garota.
— Aquela garota é o amor da minha vida! — Lia disse de maneira rude e já à beira das lágrimas. — Está satisfeito? Não me admira que ela tenha desistido!
E dizendo isso, saiu da mesa sem mais nem menos. Não iria dar o gosto de chorar na frente deles.
***
Pov Liz
Liz voltou para a cidade já no outro dia. Temia ficar perto de Lia e sair correndo atrás dela a qualquer momento, arrependida por sua decisão. Tudo estava sendo muito doloroso, mas infelizmente era preciso. Sabia que a irritadinha não iria desistir da ideia de ficar ao seu lado custe o que custasse, já conhecia a sua teimosia típica.
Assim que chegou no apartamento que dividia com Vivi, viu as várias coisas de Lia e Cris por ali e seu peito apertou. Aquela dor era mais forte do que qualquer outra que já havia sentido. Não sabia o que faria sem Lia em sua vida, pois ela era como um farol, sempre lhe guiando para o caminho certo quando se sentia perdida.
Por sorte, Vivi estava no apartamento e logo veio ao seu encontro.
— Hey! — A morena abraçou-a com tal zelo que permitiu-se chorar em seu ombro. — O que está acontecendo, hein?
— Eu terminei com a Lia — sua voz não passou de um sussurro dolorido.
— O quê?! — A amiga afastou-se um pouco e olhou-a a fim de descobrir se o que ela falava era verdade. Sua expressão era confusa. — Por que fez isso, Liz?
A rockeira suspirou e desabou sobre o sofá, repousando a cabeça sobre as mãos.
— Tem tanta coisa rolando agora, Vivi, você sabe. Já te contei tudo. Eu só fiz o que era melhor para ela, só isso!
— Estou assustada com tudo o que está acontecendo com você — sentou-se ao seu lado. — A morena apenas suspirou ao seu lado e lhe deu um aperto de compreensão no ombro. — Entendo porque você terminou com a Lia, mas não posso mentir que estou preocupada com você agora. Quer dizer, ela que sempre consegue te acalmar...
— Você acha que eu já não me perguntei o que vou fazer sem ela? — Liz indagou com tristeza. — Mas é egoísmo fazer ela perder essa oportunidade.
— Você deveria ter sido sincera. Deveria ter deixado Lia escolher...
— Eu sei que ela não iria — cortou-a. Conhecia a namorada melhor do que ninguém. Aliás, ex-namorada. — A Lia é teimosa para porr*!
— É, eu já percebi isso, mas... o que você vai fazer agora?
Era uma boa indagação. Já fazia dias que vinha se perguntando a mesma coisa e não conseguia vislumbrar nenhuma fresta de luz que lhe iluminasse as ideias de por onde deveria ao menos começar. Como poderia estar envolvida em algo daquele tipo? Precisava se abrir para a tia, talvez ela soubesse o que fazer. Assim que voltasse, aquilo seria a primeira coisa que faria.
— Eu não sei, Vivi. Vou conversar com a tia Luísa. Ela deve saber o que fazer.
— Você não pode ficar nisso sozinha, é muito peso!
— Eu sei, é só que ela já está tão sobrecarregada com tantas coisas...
— Eu entendo, mas infelizmente isso é algo muito sério para você tomar as rédeas sozinhas.
Liz marcou a sua volta no jatinho para o dia seguinte e resolveu ir para o quarto dar um cochilo. Mal havia dormido durante a noite, pois seus pensamentos tristes não lhe deram o mínimo de trégua. A única coisa que queria era uma bebida forte para desligar e foi isso que fez. Por sorte encontrou uma garrafa de vodka na geladeira e não demorou a tomar tudo o mais rápido que possível. Precisava apagar por algumas horas.
Acordou com uma dor de cabeça daquelas à noite. Viu pela janela que já estava escuro e com muito cuidado decidiu ir à procura de um remédio. Ao voltar para o cômodo, verificou que havia uma mensagem de Lia em seu celular. Sem demoras, abriu e leu-a com anseio, mas também com muita expectativa, porém, foi como levar um soco no estômago as coisas que ela lhe falara.
Doía pensar que ela a achava uma escrota quando na verdade só estava pensando na sua segurança e bem-estar. Estava mesmo reconsiderando em contar toda a verdade e deixá-la decidir o que queria fazer, mas se algo acontecesse a ela, jamais se perdoaria. Era a única coisa que ainda a mantinha decidida e de cabeça erguida para enfrentar o que viesse pela frente.
Não muito tempo depois, percebeu que a foto dela havia sumido e se deu conta de que Lia havia lhe bloqueado nas mensagens. Seu coração disparou feito louco e seu peito apertou de dor. Como conseguiria aguentar a ira dela?
Tentou ligar seu número, mas nada. A ligação nem ao menos completava. Com certeza a irritadinha havia bloqueado seu número nas ligações também. Sabia que isso poderia acontecer, mas o desespero não deixou de ser menor por isso. Bêbada e ainda com dor de cabeça, recomeçou a chorar, sentindo todo o peso que carregava pelos ombros. Por quanto tempo teria que sofrer ainda em sua vida?
Precisava sair dali e pegar ar fresco, já estava sufocada com tantas coisas dentro de si. Greg, seu guarda-costas, como sempre, foi com ela, dirigindo. Ainda bem, pois não tinha condições de fazer aquilo no momento. Eles dirigiram a esmo pela cidade até que resolveu ligar para Jack, já fazia tempo que não falava com ele.
— Olha só! Quem é viva sempre aparece! — O amigo saudou-a com seu bom-humor parceiro.
— Onde você está agora? — perguntou ela sem rodeios.
— Estou aqui na casa de uns amigos com o Felipe. Estamos fazendo um churrasco, por quê?
Liz suspirou. Queria se distrair e talvez fosse bom tentar espairecer um pouco.
— Vocês vão tocar aí?
— Nós trouxemos o violão. Eu não canto que nem você, mas como é só para amigos...
— Ah, entendi!
— Liz, você está bem? Onde está agora? — percebeu como o tom dele ficou mais sério.
— Eu estou aqui na cidade. Onde você está exatamente?
— Aqui próximo ao Bang’s, na casa de um amigo.
— Será que eu posso ficar aí com vocês? — perguntou incerta. Não queria ser uma metida e ainda estava alta pela bebida.
— Mas é claro que pode. Vai ser uma honra você aqui.
— Manda sua localização, chego já por aí.
— Ok.
Logo ela ajustou o endereço no GPS e em pouco mais de quinze minutos, já estava estacionando em frente à uma grande casa perto da avenida principal. Pediu que Greg a esperasse lá fora. Não queria que ninguém suspeitasse de nada.
Jack já estava lá fora à sua espera e veio abraçá-la com um sorriso nos lábios.
— Saudades de você, sua louca! — Ele saudou-a ternamente. — Como você está?
— Não muito bem, mas eu preciso me distrair um pouco.
— Claro! — ele concordou e olhou por sob sua cabeça à procura de algo. — Lia não veio com você?
Aquela fisgada acertou em cheio o seu estômago, então apenas balançou negativamente a cabeça. O amigo, vendo-a hesitante, logo presumiu:
— Vocês brigaram?
— Eu não quero falar nisso, agora, por favor!
— Caramba! — O amigo exclamou em tom de pesar, as tratou logo de mudar o assunto. — Ok, vamos entrar. A turma está louca para te conhecer.
Eles caminharam através da enorme casa e foram até a área da piscina. O pessoal estava no deque, podia sentir o cheiro de carne assada de longe e também avistou muita bebida sobre as mesas. Não demorou para que uma rodinha de curiosos se formassem à sua volta. Mesmo com o peso de tudo, Liz agiu com sua simpatia de sempre, cumprimentando a todos e sendo amável.
O que ela queria era só beber e cantar para se esquecer de quem era. Rapidamente, tomou conta do microfone ao lado de Jack enquanto Felipe os acompanhava no violão. Como sempre, começaram com um pop rock nacional animado que todos acompanhavam. Era libertador aquilo. Fazia tempo que não cantava assim para uma roda de amigos e sentiu-se saudosa.
Liz evitou cantar qualquer música meio romântica ou que lhe lembrasse Lia. Entre canções e muita bebida, a noite passou de forma rápida. Haviam muitas garotas lhe olhando de longe, algumas ainda dentro da piscina, mas apenas ignorou-as. Eles cantaram sem trégua e quando percebeu já passava das duas da manhã.
Como era seu plano, bebeu bastante até ficar muito louca. Quando deu por si, já estava dentro da piscina junto com os outros e depois daquilo, não se lembrava de mais nada.
Acordou novamente com uma dor de cabeça forte e quando conseguiu enxergar melhor, viu que estava deitada no sofá do apartamento de Jack. Logo seus olhos se arregalaram quando percebeu que não se lembrava de muita coisa da noite passada e ficou imaginando as besteiras que poderia ter feito.
Levantou-se rápido do sofá, mas ouviu a voz de Jack ao longe.
— Vai com calma! Você bebeu demais noite passada — ele respondeu lhe entregando uma xícara de café. — Como você está?
— Com uma dor de cabeça forte.
— Não é para menos!
— Eu não lembro de nada. Eu fiz alguma coisa errada?
O amigo a olhou seriamente e desatou a rir.
— O que seria errado? Você tirar a roupa e tomar banho de calcinha e sutiã na piscina ou aquelas meninas se atirando em cima de você?
— Puta que pariu! — fechou os olhos e pôs o café de lado.
— Calma! Você não traiu a Lia se é o que quer saber.
— Ufa! — exclamou se sentido um pouco aliviada.
— Você queria apenas se divertir. É claro que você ficou flertando com elas, mas quando as duas chegaram perto você ficou se afastando, dizendo que era casada. Daí eu resolvi vir embora com você.
— Nem sei como agradecer, Jack! Não acredito que fiz isso!
O amigo apenas sorriu, mas logo ficou sério.
— Quer dizer que você anda com um motorista agora?
— Coisa da tia Luísa — respondeu para disfarçar.
— Vou pegar um remédio para você.
— Obrigada!
Liz estava enrolada em um grande cobertor e quando checou, viu que usava apenas calcinha e sutiã, mas também não se fez de rogada, já ficara naquela situação várias vezes com Jack, ele sempre a ajudava quando era preciso e confiava muito no amigo. Suas roupas estavam próximo na mesa de centro e sem demora, vestiu-se. Quando olhou no relógio, viu que já passava das dez e seu voo chegaria às onze. Precisava de apressar.
O amigo voltou com o remédio e Liz tomou-o com pressa.
— Jack! Obrigada pela noite passada e por cuidar de mim como sempre. Eu precisava mesmo me distrair.
— Não precisa agradecer. Eu estava com muitas saudades de fazer essas loucuras com você do meu lado.
Foi inevitável não sorrir com aquilo. Ela e Jack já haviam passado por um bocado de aventuras juntos e admitia que sentia falta do amigo, assim como de toda a banda.
— Também senti falta. Infelizmente eu já tenho que ir. Você manda um alô para os meninos, por mim?
— Claro, falo sim! Mas me diz o que aconteceu. Estou preocupado com você.
Ainda era doloroso dizer as palavras, mas infelizmente era a dura realidade.
— Lia e eu terminamos!
— Fala sério! — Ele exclamou descrente. — E eu achando que vocês já estavam a um passo de casar.
— Aconteceram umas coisas aí... está muito recente.
— Entendi! Não vou nem perguntar como você ‘tá. Julgando por ontem, já sei.
— Pois é — sorriu sem humor e os dois se abraçaram. — A gente se vê qualquer dia, meu amigo!
— A gente se vê!
Liz voltou para o apartamento onde Vivi a esperava com preocupação.
— Onde você se meteu? Estava preocupada. Não me atendeu. Eu saí para comprar nossa janta e quando voltei nem sinal de você.
— Eu estava com o Jack! — respondeu com a consciência pesada. — Desculpe Vivi. Foi uma noite intensa.
— Espero que não tenha feito nenhuma besteira!
— Acho que não. Eu precisava apenas me distrair.
— Eu sei como é sua diversão e isso me assusta! — exclamou seriamente.
— Não aconteceu nada demais. Eu apenas cantei com eles e bebi além da conta.
— Você precisa parar de sempre descontar na bebida — repreendeu-a de forma responsável.
— Eu sei, mas é difícil...
— Pelo menos você está bem! — disse a amiga mais afável e parecendo aliviada.
— Na verdade eu preciso ir! O jatinho está vindo me pegar no aeroporto.
— Quer que eu te leve? — Vivi perguntou solicita.
— Não quero te atrapalhar. Melhor eu pegar só um táxi mesmo...
— Não me atrapalha, amiga!
— Ok, então. Agradeço!
As duas foram conversando no banco de trás enquanto Gerg dirigia. Nem sabia se o pobre coitado havia se alimentado direito desde a noite passada, mas ele parecia disposto. Ele já devia estar acostumado com essas coisas.
Assim que chegaram, o jatinho já a esperava. Antes que Liz pudesse ir, Vivi puxou-a para um abraço.
— Não vai carregar esse peso todo sozinha, ok?
Liz assentiu e sorriu ternamente. Vivi sempre se preocupava consigo. Era a irmã que nunca tivera.
— Eu vou ter cuidado, não se preocupe!
Com um último aceno, Liz finalmente foi para o jatinho. Sabia que daquele momento em diante as coisas seriam muito tensas e precisava se preparar para o pior.
***
Liz dormiu durante quase todo o voo. Assim que chegou até o condomínio, passou direto para o seu quarto a fim de tomar um bom banho. Sabia que estava com uma expressão medonha, mas precisava se recompor. Era sábado, mas a tia não estava em casa. Silvia lhe informara que ela havia saído com Artur cedo da manhã.
Assim que vestiu-se, a governanta veio lhe trazer remédios e disse que o almoço já estava servido. Em outros tempos, Liz se recusaria a comer, mas já aprendera a tentar se alimentar melhor desde sua convivência com Lia. Sabia que não poderia fraquejar, precisava se cuidar melhor. Quando desceu, os primos já estavam à mesa e pareciam muito sérios. Os três se cumprimentaram.
— Aconteceu alguma coisa? — Liz perguntou perante o semblante de preocupação dos dois.
— O Flávio passou mal há alguns dias e está no hospital. Os filhos dele estão fazendo a maior confusão, dizendo que é tudo culpa da mãe — Vitória explicou, parecendo aflita.
O coração de Liz disparou no peito. Não acreditava que os meninos haviam feito aquilo. Conversara com Fernando alguns dias atrás e pensava que tinha entrado em algum acordo, mas não. Precisava conversar com eles o mais rápido possível, porém, tentou disfarçar o medo na frente dos primos.
— É, eu soube mesmo que ele passou mal. O que os meninos fizeram?
— Vieram aqui tirar satisfações com a mamãe. Ela ficou tão nervosa — Tomás respondeu indignado. — Eu já estou puto com essa situação toda.
— O que eles disseram? — Precisava saber se eles haviam colocado seu nome no meio de tudo.
— Só isso. Ficaram dizendo que ela havia causado um ataque de pânico no pai. Como se a culpa fosse dela. Por sorte o Artur estava aqui. Hoje a polícia pediu para ela ir depor sem falta, pois estão fazendo uma investigação séria sobre o caso.
Liz suspirou e seu peito apertou. Sabia que tão cedo não teriam sossego e cada dia que passava, as coisas ficariam mais perigosas caso suas suspeitas fossem verdade. Precisava se abrir com eles o quanto antes. Aquilo a fez quase se esquecer de Lia por alguns minutos.
Terminada a tensa refeição, voltou para seu quarto e deitou-se um pouco. Quando pegou em seu telefone, há muito esquecido, observou que haviam várias ligações perdidas de um número que não conhecia. Na mesma hora, resolveu retornar.
— Alô! — A voz de um homem atendeu-a. Liz não reconheceu imediatamente quem falava.
— Quem fala? — quis saber.
— É o Fabrício, Liz!
— Eu vi as ligações agora. O que aconteceu? — perguntou preocupada.
— Papai pediu para te falar uma coisa.
— Fabrício, antes de mais nada eu preciso perguntar — mudou de assunto rapidamente e falou em tom sério. — Que porr* vocês vieram fazer aqui na casa da tia? Vocês sabem muito bem que ela não tem culpa de nada...
— Nós só ficamos nervosos. O papai teve mais um ataque e ficou muito mal.
A rockeira recostou a face na mão, sem acreditar no que acontecia. Tudo a estava preocupando além da conta. Suspirou pesadamente e continuou:
— Como ele está agora?
— Se recuperando. Melhorou um pouco de ontem para hoje.
— Notícias boas, ainda bem! — Liz ficou aliviada ao saber. — O que ele quer me dizer?
— Ele pediu para você não falar das suas suspeitas para ninguém ainda. Nem mesmo para Luísa, é só o que ele diz o tempo todo. Você falou alguma coisa para ela?
— Não, não falei nada ainda.
— Ainda bem. Eu vou dizer isso para ele.
— Ok — Liz suspirou. — Escuta Fabrício, eu quero descobrir a verdade de quem está por trás disso, mas precisamos ter calma. Eu quero ajudar e vocês precisam me prometer que não vão fazer nada contra a minha tia. Ela está tão perdida quanto nós nisso tudo. Me prometa!
— Só estamos nos defendendo Liz, só isso! — o primo respondeu na defensiva.
— Não vai adiantar de nada. Primeiro de tudo: Flávio precisa se recuperar. Enquanto isso só nós vamos esperar para fazer qualquer coisa. Ele não pode ficar mais nervoso do que já está.
— Eu sei. Eu vou falar com o Fernando. Vamos aguentar a barra o quanto for possível.
— Eu também vou aguentar por aqui, daí quando ele estiver melhor podemos pensar no que fazer.
— Ele disse que vai te dizendo qualquer coisa, mas que por enquanto ficasse na sua.
— Tudo bem!
— E só por via das dúvidas é melhor você arranjar outro número que não seja no seu nome.
Liz arregalou os olhos e o medo lhe acertou em cheio. Aquilo era demais para processar, mas até que eles poderiam ter razão. Nada mais fazia sentido mesmo.
— Eu vou ver o que posso fazer!
— A gente te arranja um, qualquer coisa.
— Ok, pode ser!
— Vamos mantendo contato, então!
— Tudo bem.
Liz desligou o telefone, mas aquela ligação só a deixou ainda mais sem saber o que fazer. Logo quando decidira contar tudo para a tia, Flávio pediu para manter segredo. Será que deveria fazer isso ou estava sendo ingênua? Não sabia mesmo o que fazer. Pelo sim ou pelo não, iria esperar a melhora do tio para saber como prosseguir.
Durante a tarde, tratou de tentar descansar um pouco, mas seus pensamentos lhe atormentavam, agora também a respeito de Lia. Ainda estava com o contato bloqueado e nas redes sociais também, então apenas a frustração tomou conta do seu ser. Já estava sentindo ainda mais saudades dela se é que era possível. A vontade de falar com ela e contar tudo era forte, mas precisava se manter decidida.
Depois de conseguir dar um cochilo rápido, resolveu vestir para espairecer um pouco e de quebra, quando ia descendo as escadas, viu que a tia já havia chegado e ela estava cercada por Artur e os filhos. Luísa sorriu assim que seu olhar cruzou com o de Liz.
— Já voltou, querida!
— Sim. Foi um assunto rápido que fui resolver — respondeu tristemente e ela pareceu perceber que havia algo errado.
— Você vai sair?
— Vou só dar uma volta para espairecer.
— Quando você voltar a gente conversa, ok?
— Ok.
Liz cumprimentou a todos e se despediu. Precisava mesmo sair da casa e tomar um ar. Decidiu ir até um bar gay muito comentado na cidade. Queria apenas ver pessoas diferentes e beber um pouco. O lugar era bem animado e organizado, ao melhor estilo barzinho que conseguiu encontrar. Para combinar bem com a sua atual situação só estava tocando música de “sofrência” no ambiente e ouvir todas aquelas letras, mexeu com seu âmago.
Bebeu cerveja acompanhada de batatas fritas e ficou por um longo tempo tentando ver algo das redes sociais de Lia. Em um momento de fraqueza digitou uma mensagem para Pedro, apenas para se certificar de que ela estava bem.
Liz: “Boa noite, Pedro. Desculpe estar falando aqui, mas por favor, só me diz como a Lia está. Ela me mandou uma mensagem bem desaforada ontem e depois me bloqueou em todas as redes sociais. ”
Algumas garotas passaram lhe olhando e algumas outras ainda deram em cima dela, mas com simpatia dispensou a todas. Antes que ficasse muito bêbada, resolveu voltar para casa. Já era quase onze da noite. Ao verificar o celular, viu que Pedro havia lhe respondido.
Pedro: “Ela está se virando na medida do possível, mas sim, está bem. Ela ainda não está falando comigo, mas a Cris está aqui em casa, pelo menos isso. Tenho uma boa notícia para dar, finalmente ela falou sobre o intercâmbio e parece que estar reconsiderando. “
Assim que chegou, foi para o quarto da tia e bateu de leve. Ouviu a voz dela do outro lado da porta, autorizando sua entrada. Quando ela entrou, a tia fazia alguns exercícios de fisioterapia e parou ao vê-la.
— Oi, minha menina rebelde. Você está bem?
— Não muito — disse com sinceridade.
A tia franziu o cenho e sentou-se na cama, chamando-a para se juntar a ela. Meio sem jeito, Liz sentou ao seu lado sobre os suaves lençóis de seda dela e fitou as próprias mãos. O quarto tinha um cheiro leve e refrescante de lavanda.
— Você bebeu? — Luísa perguntou retórica.
— Só um pouco. Precisava me distrair.
— O que aconteceu, hein? — A tia insistiu e pegou em sua mão. — Pensei que ia voltar radiante da viagem. Sempre melhora quando fica com a Lia.
— Dessa vez não! — sussurrou sorumbática. Haviam tantas coisas para desabafar com a tia, mas que infelizmente ainda não podia.
— Vocês brigaram? — perguntou ela amavelmente.
— Terminamos! — respondeu depois de alguns longos minutos.
Quando olhou para tia, reparou que ela tinha uma expressão de surpresa estampada na face.
— Como assim, Liz? Terminaram?! Mas por quê?
Liz deu um longo suspiro e seus olhos se encheram de lágrimas. Era tudo doloroso demais. Um bolo se formou em sua garganta. De repente estar ali com a tia havia lhe deixado ainda mais sensível. Sem mais perguntas, Luísa acolheu-a em um abraço e quando se deu conta, já estava deitada no colo dela, chorando feito uma criança.
A rockeira passou um longo tempo naquele acalento materno. Nunca havia pensado na tia como uma substituta da mãe, mas em certas ocasiões era isso mesmo que Luísa se tornava e não podia ser mais grata por ter se aproximado dela novamente.
— Não é um bom momento para nós duas agora – explicou de forma simplória. Tinha medo de entregar o segredo se entrasse em muitos detalhes. — Eu tenho outras coisas para fazer e ela também.
— Estou chocada com essa notícia. Realmente não esperava por essa! — A tia continuou a lhe fazer carinho nos cabelos. — Isso tem algo a ver com os pais dela?
— Não, felizmente não!
— Por isso você pareceu tão arrasada. Mas e quanto a Lia? Como ela está com tudo isso?
— Ela está puta comigo — disse mais para si mesma, apenas atestando o que já sabia.
— Término não é fácil para ninguém.
— Eu não quero falar disso, por favor! — pediu fragilizada e a tia a respeitou.
As duas ficaram em um silencio confortável. Luísa não deixou de fazer cafuné em sua cabeça o que a ajudou a relaxar mais um pouco. Lembrou-se então sobre o tio e sobre o depoimento que ela havia dado a polícia pela tarde.
— Mas e quanto ao depoimento... como foi? — perguntou e ficou atenta à resposta.
— Bem, eu contei tudo o que aconteceu desde o momento em que acordei do acidente e lembrei que meus freios não estavam funcionando. Daí disse que com o resultado da perícia fui à procura do detetive para saber mais sobre isso.
Liz ficou pensando sobre isso por algum tempo. Aquela investigação havia sido muito estranha, tinha que admitir.
— Tia, se a senhora sabia que tinha sido vítima de um atentado, então por que não levou isso para a polícia diretamente?
— Eu considerei isso primeiramente, mas eles não me deram muito crédito e disseram que na perícia técnica não havia indícios de que alguém havia mexido nos freios, mas eu tinha certeza que tinha algo de errado — Luísa contou vagarosamente como se visse um filme repassando em sua mente. — Foi quando eu resolvi contar para o Artur e ele me deu a ideia de procurar o investigador.
— Então foi o Artur que contratou esse investigador?
— Foi ele sim. Por quê?
— Por nada! É que eu ainda não consigo acreditar que Flávio tenha mesmo feito isso. É insano!
— Eu também estou mal desde então, mas as provas contra ele são incontestáveis. O problema é que só agora a droga da polícia se obrigou a investigar, porque os advogados do Flávio estão exigindo.
— Mas e quanto ao ataque que ele teve? Sabe como ele está agora?
Luísa suspirou pesadamente e Liz percebeu que ela parecia muito triste.
— Ele parece que está se recuperando, mas os meninos vieram aqui me acusar. Eles têm certeza de que o pai é inocente.
A rockeira apenas ouviu tudo calada. Queria contar tudo o que pensava, mas teve receio. Decidiu que ia esperar por novas notícias do tio.
— Ainda não acredito que eles fizeram isso! — retrucou indignada. — Eu só quero que tudo isso termine logo, o mais rápido possível.
— Eu também, minha menina.
Luísa lhe deu um sorriso terno e continuou a mimá-la. Não demorou para que Liz adormecesse ali mesmo no colo dela.
***
Pov Lia
Lia se fazia de forte na frente de todos, mas por dentro estava destruída. À medida que os dias se passavam, sua dor não diminuía, muito pelo contrário, apenas aumentava a saudade constante dela e o desespero por não tê-la mais e isso estava sendo demais para suportar. Por isso mesmo seria melhor ir para Londres, tentar fugir de sua dor e começar uma nova fase em sua vida que a fizesse se esquecer de tudo.
No fundo, o que mais queria, era que Liz voltasse atrás e lhe procurasse. Nada no mundo lhe faria mais feliz e era justamente por isso que ficava revoltada. O coração era um idiota mesmo. Sabia que estava sendo uma verdadeira imbecil por ainda considerar tanto uma pessoa que lhe machucou tanto e não podia negar, estava se sentindo muito mal.
Os dias passaram dolorosamente para a irritadinha. Na segunda-feira, dia 28 de Junho, finalmente decidiu ligar para a universidade e aceitar a vaga, mas não tinha a mínima ideia de como conseguiria dar conta em resolver tantas coisas em pouco tempo. Com Cris ao seu lado naqueles dias, a amiga lhe aconselhou bastante e por fim, chegou à conclusão de que não perderia a oportunidade por causa de ninguém e nem mesmo pelo seu próprio orgulho.
No dia seguinte, resolveu ir na universidade para começar todo o processo burocrático para a viagem e de quebra, ela e Pedro, marcaram também a prova prática para a carteira de motorista, aproveitaria para resolver tudo de uma só vez.
Cris disse que poderiam dormir no apartamento de Alberto já que não conseguiriam resolver tudo em um só dia. Aquilo fez Lia lembrar das incontáveis vezes em que ficava apenas no apartamento de Liz quando precisava, um lugar que considerava quase um segundo lar. Eram dias e mais dias de soco no estômago. Cada memória era mais dolorida do que a outra.
No primeiro dia, foram logo fazer a prova prática. Tanto ela quanto Pedro cumpriram o teste com excelência e passaram de primeira. Agora era só esperar que a provisória chegasse. Pela tarde, foi se encontrar sozinha com Vanessa, que a aguardava super empolgada e contente.
— Hey! — a ruiva lhe cumprimentou com um abraço apertado e um sorriso terno. — Tenho boas notícias para te dar. Me informei sobre a família que vai me receber e eles tem um quarto disponível ainda, isso não é ótimo?
— Nossa! Isso é incrível mesmo. Obrigada pelo apoio — Lia sorriu agradecida.
As duas fizeram seus pedidos e Vanessa logo puxou assunto:
— Fiquei feliz quando você me ligou semana passada dizendo que tinha conseguido. Eu não me conformava de ir sem você, Lia.
A irritadinha apenas sorriu e acenou com a cabeça.
— Eu vou na universidade amanhã para dar início ao processo e assinar o contrato — respondeu sem muito ânimo e a ruiva percebeu.
— Desculpe me intrometer, mas você está bem? Parece abatida. Até te achei mais magra.
Lia não soube o que responder de imediato. Se sentia estranha em anunciar seu término com Liz, mas também não tinha por quê seguir com isso.
— É... eu a Liz terminamos e não está sendo nada fácil...
— O quê? — Vanessa exclamou chocada e levou a mão à boca. — Não acredito nisso. Poxa, que barra você deve estar passando. Sinto muito saber disso!
— Tudo bem, estou me virando. Ao menos tenho o intercâmbio para preencher os pensamentos agora — disse se sentindo incomodada. Todo mundo reagiu com muito espanto com a notícia e nem poderia culpá-los. Nem mesmo havia conseguido superar ainda.
— Sim... — Vanessa concordou e lhe deu um singelo aperto de mão. — Olha, só quero que saiba que estou aqui para te ajudar no que for preciso, tudo bem?
— Obrigada! — agradeceu com sinceridade.
A tarde com a amiga foi proveitosa. Ela lhe contou tudo sobre os documentos necessários para o curso e também fizeram várias pesquisas sobre lugares para conhecerem em Londres. Lia até conseguiu se distrair com tantos assuntos. Vanessa era o tipo de pessoa muito comunicativa que puxava muito assunto e se sentiu grata por isso. Estava sendo cada vez mais difícil desligar seus pensamentos desde... enfim!
Pela noite, estava se sentindo totalmente esgotada, era assim que ficava com o menor dos esforços. Antes de dormir, deitada no sofá da sala de Alberto, Lia se sentia muito tentada a desbloquear o contato de Liz e ver sua rede social, mas relutou teimosamente o quanto pôde. Já passava da meia-noite e nada do sono chegar.
Sem mais resistir, desbloqueou-a no instagram, mas não havia nada de novo postado, então ficou apenas vendo algumas fotos e os antigos vídeos dela tocando violão. Ficar vendo aquelas fotos, inclusive das duas juntas, foram a receita perfeita para fazê-la chorar e no escuro do cômodo, chorou em silêncio como sempre fazia. Parecia que o ar ia lhe faltar e seu peito partir no meio, era desesperador...
***
Lia e Vanessa estavam sentadas junto de Cris e Pedro em uma das grandes mesas do refeitório da universidade. Os quatro analisavam as papeladas espalhadas ali, tudo referente ao intercâmbio.
— Parece assustador, mas vai dar certo, Lia — Vanessa disse enérgica. — É só começar por partes, o mais importante você já conseguiu, o resto é só detalhe e burocracia.
Lia se sentia totalmente perdida e sem ânimo no meio de tanto contrato e lista de coisas a serem feitas. Era como se tudo estivesse acontecendo com outra pessoa e apenas observasse de longe, parecia estar fazendo tudo no automático naqueles dias. Algo dentro de si, ainda duvidava sobre a viagem, era estranho de explicar, tinha vontade de gritar para ver se a dor em seu peito se acabava.
Agora já havia oficialmente aceitado a vaga e assinado o contrato, aos poucos estava caindo em si de que tudo era real e precisava focar apenas nisso. A correria seria intensa nas próximas semanas, disso estava certa. Ao menos tinha aqueles três ao seu lado e sabia que nenhum deles lhe deixaria na mão.
Agora era voltar para casa e ter uma conversa sérias com os pais, ainda havia um longo caminho pela frente...
***
Fim do capítulo
N/A: Olá leitoras queridas... passando rapidinho para postar o novo capítulo de presente para vocês. Feliz natal e espero que gostem. S2 S2 S2
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