No outro dia, acordei bem atrasada para o trabalho, pois não ouvi o despertador tocar.

Arrumei-me rapidamente e sai de casa.

Antes que eu pudesse alcançar as escadas, esbarrei em um corpo menor. Quase caímos no chão.

— Aí, meu Deus. Desculpa. – Mesmo estando preocupada com a moça, eu tentei manter distância. Confesso que escuto tanto que devemos manter distância que não posso mais ver ninguém perto de mim.

— Tudo bem. Acontece! – ela disse toda gentil e me permiti reparar nela. A moça era muito bonita. Negra, usava tranças no cabelo, tinha uma tatuagem de um gato no ombro.

Fiquei um pouco perdida olhando para ela, pois era uma mulher interessante e nunca havia visto antes.

“Com certeza é a namorada de algum dos meninos”, pensei.

— Algum problema? – ela perguntou enquanto me encarava.

— Ah... nenhum. – Olhei rapidamente para a tela de meu celular e me dei conta de que precisava ir para o trabalho. – Preciso ir. Desculpa qualquer coisa – gritei já correndo em direção as escadas.

Quando peguei o ônibus, eu aproveitei o momento para dizer aos meus amigos o que havia acontecido. Era sempre assim, via algo interessante e contava para os outros.

Abri o aplicativo do Whatsapp e ignorei totalmente a mensagem de Caio da noite anterior. A última coisa que eu queria era saber da tal Amanda. Sim, eu continuava implicando.

“Gente, eu me esbarrei em uma gata no corredor do prédio. Estava indo para as escadas. Alguém sabe quem é?”

“Tem como você descrever ela, pois para você estar comentando deve ser gata mesmo.” Fernando mandou.

“Ahh... ela é negra. Usa tranças. E tem um gato tatuado em um dos ombros. Se vocês saberem quem é, me falem. Gente, preciso conhecer essa deusa.” Mandei e comecei a olhar para ver se o ônibus estava chegando em meu ponto.

Olhei para a tela do meu celular e vi o grupo de meus amigos com muitas mensagens. Até estranhei isso, pois eles não costumam conversar muito logo cedo.

Deixei para olhar as mensagens na hora de almoço, já que estava atrasada para o trabalho.

A hora do almoço chegou, porém como me sentia muito cansada, ignorei totalmente o meu celular, pois havia mensagens demais no grupo.

Aquele dia foi puxado para mim, pois por conta da pandemia muita gente estava começando a comprar os presentes para o Natal antes que fechassem tudo que não era essencial na cidade, já que, depois das eleições, os casos haviam aumentado.

Cheguei em casa no mesmo horário do dia anterior e fiz o que sempre fazia: coloquei o tênis e a mochila ao lado da porta.

Após tomar banho e higienizar o meu celular, sentei-me no sofá para ler com calma as mensagens.

Como havia ignorado as mensagens de Caio no dia anterior, eu resolvi começar por ele.

“Esta aqui é a Amanda. Veja se você gosta dela. Aposto que vai se apaixonar.”

Passei o meu dedo para a foto e fiquei surpresa ao me dar conta de que a moça do corredor e Amanda eram a mesma pessoa. Sim, comecei a entender o porquê de ter muitas mensagens no grupo. Eu elogiei a Amanda no grupo com ela lá. Pronto agora dei motivos para meus amigos rirem de mim durante meses.

Olhei as outras mensagens de Caio.

“NÃO ACREDITO NO QUE VOCÊ FEZ KKKK.”

“Cara, a moça que você viu no corredor é a Amanda.”

“Não queria estar em sua pele. Os meninos não vão esquecer disso facilmente.”

Após ler as mensagens de Caio e ter ficado um tempo sem ação, pois estava com vergonha. Eu resolvi mandar uma mensagem Caio.

“Eu não sabia!”

“Se tivesse visto a foto que mandei e parado de implicância com a Amanda, você não teria passado esta vergonha.”

“Eu sei, Caio. Droga!”

“Bora, vamos jogar. No jogo, eu duvido os meninos te pirraçarem.”

Mesmo achando que era algo impossível os meus amigos não me pirraçarem, eu confiei em Caio.

Quando entrei na sala, o personagem de Amanda estava com o nome de Deusa. Revirei os meus olhos ao ver. Essa moça sabia me irritar, depois os outros vinha falando que eu estava implicando.

Como na noite anterior, ela ganhou varias partidas como sendo impostora. Resolvi não levar isso para o lado pessoal. Bom... era só um jogo, eu estava tentando colocar isso na minha cabeça, porém depois comecei a implicar com ela no final do jogo.

Fernando começou a falar que eu estava assim porque a Amanda não me deu ousadia. No final, mandei todo mundo tomar naquele lugar e Amanda me chamou de esquentada.

Fui dormir estressada. Eu não queria falar com mais ninguém. Desliguei o meu celular e decidi que no dia seguinte, eu não iria ligar.

Tentaria passar o meu dia de folga de boa. Sem ninguém enchendo a minha paciência. Não queria saber dos meus amigos, de Caio e muito menos de Amanda.

No domingo, eu acordei muito de boa. Como já era um vício fiz menção de pegar o celular, porém não concluí o ato. Queria realmente ficar longe de todos.

Após tomar o café, eu resolvi que iria começar a enfeitar a minha casa para o Natal. Eu iria passá-lo sozinha, porém queria sentir a sensação de que dias melhores iriam vir.

Sai para a rua. Comprei uma pequena árvore de Natal em uma loja e alguns outros enfeites. Ao chegar em casa, tudo que achava que dava para higienizar, eu passei álcool.

Quando arrumei tudo, já passava das duas da tarde. Após um banho, eu deitei no sofá me sentindo totalmente exausta.

Sem eu esperar, ouvi batidas na porta e um cartão de Natal passou por debaixo da porta.

— Oxe – disse, pois receber um cartão de Natal não era esperado por mim naquele momento.

Caminhei até o cartão. Ao pegá-lo, eu abri.

“Acho que podemos começar algo de um jeito certo. Como acho que você ainda não recebeu nenhum cartão. Decidi te mandar o seu primeiro como um pedido desculpas, pois mesmo não sendo muito religiosa, acho que esta data não é um momento para desunião.

Amanda”

Li o que estava escrito e fiquei sem saber o que fazer.

Abri a porta do apartamento na tentativa de ainda encontrar Amanda, porém o corredor estava vazio.

— Será que foi ela mesmo quem mandou? — perguntei-me, pois os meus amigos costumavam pegar muitas peças nos outros.

Quando já estava com as mãos lavadas, peguei o meu celular e mandei uma mensagem para Caio.

“Você me mandou algum cartão?”, perguntei e a resposta dele foi imediata.

“Oxe, que cartão, menina? Sei de cartão nenhum!”

“Recebi um cartão no nome de Amanda. Um pedido de desculpas.”

“Foi ela então. Tá vendo, sua declaração no grupo deu resultado.kkkk”

“Pare com isso. Quero nem mais lembrar desta vergonha que passei.”

“Mande mensagem para ela. Deixe esta implicância de lado. A Amanda é uma gata e você fica perdendo a oportunidade.”

“Eu não. E não tenho oportunidade nenhuma para perder.”

“Você é muito cabeça dura. Ahh... vou fazer uma coisa para você mudar de ideia.”

“O quê?” Realmente não fazia ideia do que o meu amigo iria aprontar.

“Aqui é o link do instagram dela. Veja, ela é uma pessoa incrível e você fica de implicância.”

Caio me mandou o link e nem pensei muito para clicar. Quando me deparei com as primeiras fotos, eu senti o meu coração bater até mais forte. Amanda é uma mulher realmente linda.

Havia algumas fotos de biquíni, isso fez o meu íntimo ficar um pouco inquieto.

Para justificar a presença de um gato tatuado nela, Amanda tinha uma gata preta chamada Valquíria. Achei estranho um gato com este nome. Sei lá, já imaginou o bicho sumir e você ficar por aí chamando: Valquíria, e alguém perguntar se é uma criança e você falar que é gata. Confesso que não sou muito fã de bichos, mas a Valquíria é muito bonita.

“Gostou, né?”, essa notificação surgiu sobrepondo a página do instagram.

“O fato dela ser muito bonita não quer dizer nada", respondi.

“Realmente, mas ela não é somente bonita”

“Não vou mandar mensagem para ela se você quer saber.”

“Sei... Ah.... mudando de assunto, este ano podíamos fazer um amigo secreto. Dificilmente ficamos reunidos no natal e mesmo sendo um momento difícil, podíamos comemorar de alguma forma. O que acha?”

“Acho uma boa ideia, mas você sabe que a gente não pode se encontrar. O Tadeu faz parte do grupo de risco e a Vanessa cuida da mãe que tem problemas de saúde.”

“Eu sei, mas existe a internet. Podemos fazer algo por vídeo chamada... Eu vou bolar algo. Quando eu ver isso, eu te conto.”

Após me despedir de Caio, eu fui comer algo, porém meus pensamentos estavam voltados para as fotos que vi no instagram de Amanda. Ela é muito linda. Nem se parece comigo que só tem simpatia ou nem isso.

Na noite daquele domingo, eu liguei para os meus pais. Senti muita saudade de casa ao vê-los, porém queria continuar lutando por meu sonho de independência. Eles perguntaram qual havia sido o resultado do teste que havia feito. Igual aos anteriores, deu negativo.

Chegando a hora de dormir, eu peguei o meu celular e comecei a stalkear o perfil de Amanda. Ela recebia muitos comentários de meninas, isso me fez sentir um ciúme bobo.

Não sei se foi um momento de empolgação meu, mas comecei a curtir todas as fotos de Amanda que eu via. Não pensei muito, apenas fiz, sem me importar com as possíveis consequências.

Fim do capítulo