Recomeço – Capítulo 88

Dia seguinte

Rita estava sentada à mesa com Sheila. As duas conversavam sobre assuntos aleatórios.

— Amanhã, podíamos fazer um passeio pelo parque, Rita — Sheila comentou, pois achava que a senhora precisava se distrair um pouco, já que, após a última conversa com Raquel, a senhora andava muito desanimada.

— Eu não sei. Não tenho o costume de ir a esses lugares. — Rita começou a prestar a atenção na conversa que o marido estava tendo na sala de visitas. — Com quem será que ele está conversando? — perguntou-se, pois o marido falava de uma forma muito animada. Sentiu uma leve inquietação tomando conta de si. Será que Rogério estava tendo caso com alguém? Pois não era comum ele atender uma ligação daquela forma.

Começou a ouvir passos atrás de si. Rogério se aproximava. Queria perguntar com quem ele conversava, mas temeu receber alguma resposta desagradável.

— Hoje de manhã, teremos duas visitas. — Rogério surgiu com um sorriso que fez Rita ficar confusa. — Querida, Ricardo irá nos visitar. — Beijou a testa da esposa.

— Era com ele que você estava conversando? — perguntou e notou que Sheila sorria ao seu lado.

— Claro, meu bem. — Sentou-se à mesa. — Estava prestando a atenção em minha conversa? — perguntou em meio a risos e notou a face de Rita ficar um pouco avermelhada demonstrando que a senhora estava envergonhada.

— Depois de não ter se importado conosco durante meses, Ricardo descobriu agora que tem família? — Resolveu mudar de assunto.

Rogério ficou um pouco pensativo, sabia que Rita ficara muito chateada com o sumiço do filho.

— Querida, ele teve seus motivos. Não podemos culpá-lo. Temos que estar felizes por nosso filho retornar ao lar. — Rogério lembrou-se de Raquel ao falar aquelas palavras. Doía pensar em como havia sido a última conversa com a caçula.

Rita abaixou a cabeça. Seu esposo tinha razão.

— Rogério tem razão, Rita. O distanciamento de seu filho deve ter sido algo que ele achou necessário. Se ele está retornando quer dizer que ele já resolveu o que estava pendente dentro dele — Sheila disse.

— Bom... vocês têm razão, mas... que é a segunda visita? — Questionou e lembrou-se de Raquel. Desejava muito que fosse a filha, porém era quem ela menos esperava.

— Hum... ele está vindo com Paola. Gostaria que você a tratasse bem — Rogério comunicou.

— Tudo bem, porém esta situação ainda não é muito confortável para mim. Ainda mais, depois de tudo que aquela mulher nos fez passar.

— Meu bem, acredito que não temos o direito de julgar ninguém. Também cometemos erros. Estamos aprendendo com eles. Não julgarei Paola, pois erros maiores nós cometemos.

Rita abaixou o seu campo de visão após a fala do marido. Ele tinha razão, eles não poderiam julgar ninguém, pois também não haviam sido corretos com a própria filha.

Sem esperar, Rita sentiu uma mão quente tocar um de seus ombros. Era Sheila...

— Não vou apontar seus erros. Acredito que ainda dê tempo de corrigi-los. Você tem que começar a ver o mundo e as situações de outra forma, Rita, se seu filho está feliz com Paola. Você também tem que se sentir da mesma forma ou tentar entender que não é você quem sabe o que é melhor para seu filho, mas sim ele mesmo.

— Irei recebê-la, mas não sei se conseguirei agir da forma como vocês desejam. Passei muitos anos odiando aquela mulher, não posso fingir que nada ocorreu. Não serei falsa — comunicou.

— Não será necessário falsidade, meu bem. Quero que você seja você mesma. — Rogério tocou uma das mãos da esposa de uma forma gentil.

Após meia hora de aguardando na sala a chegada de Ricardo, Rita ouviu a campainha sendo tocada.

— Eu vou atender. — A senhora foi até a porta. Quando abriu, deparou-se com o filho que já não parecia o mesmo que havia visto há alguns meses. Ao seu lado, estava Paola com o olhar um pouco tímido. Nem se igualava mais àquela mulher autoconfiante que frequentava aquele ambiente parecendo ser superior a tudo e a todos.

— Mamãe! — Ricardo puxou a senhora para os seus braços. Estava muito feliz por rever a mãe.

— Filho, como pôde fazer isto conosco? — Rita perguntou, enquanto apertava o filho ainda mais em seus braços.

— Eu tive os meus motivos. Eu tive. — Ricardo se afastou um pouco para ver como a mãe estava. Ao olhar para os cabelos com os fios brancos, notou algumas falhas. Um nó se formou em sua garganta. — A senhora está bem?

— Estou, meu filho — respondeu e começou a encarar Paola. — Olá, Paola!

— Olá, Rita. — Paola estendeu a sua mão para um cumprimento e logo sentiu um toque macio. — Eu sei que não sou bem-vinda a esta casa, contudo Ricardo insistiu.

— Oh, querida, já deixamos os problemas do passado lá. Acredito que agora é o momento de recomeçarmos... termos novas atitudes. — Rogério chegou se posicionando atrás da esposa. — Bom... o que acham de entrar?

— Ah... Claro, papai. — Ricardo segurou firme na mão da namorada e entrou naquele local que não trazia boas lembranças.

Quando notou isso, Paola disse baixinho: tá tudo bem.

— Então, quando vocês começaram a namorar? — Rogério indagou após todos se sentarem nos sofás daquela grande sala.

— Ontem, papai, quando sai da clínica. Percebi que eu precisava dar uma segunda chance para mim. Além do mais, Paola e eu estávamos nos dando muito bem. Já resolvemos nossas pendências.

Ricardo segurou uma das mãos da amada e olhou nos olhos de Paola.

— Por que ir a uma clínica, meu filho? Você sempre teve a nós. Não precisava buscar ajuda em um outro lugar. — Rita resolveu se pronunciar.

Ricardo sorriu. Sabia que sua mãe lhe faria aquela pergunta.

— Sim, mãe, eu sempre tive vocês e isso fez com que eu não assumisse os meus erros, pois vocês sempre acobertavam. — Deu uma pausa. — Eu necessitava de um tempo para mim. Antes de sumir, eu estava achado que poderia resolver os meus problemas com a bebida. — Abaixou o seu campo de visão.

— Mas isso tudo passou — Paola disse com um tom amável.

— E você, Paola, depois de tudo que ocorreu resolveu retornar. — Rita fixou o seu olhar na bela morena.

— Meu bem, não vamos começar uma discussão. — Rogério tocou uma das mãos da esposa e a olhou nos olhos.

— Tudo bem, Rogério, entendo sua esposa. Depois de que ocorreu no passado, ela tem motivos para ficar preocupada... Retornei, pois quero corrigir os meus erros. Em todos esses anos, não teve um dia sequer que eu não pensei em tudo que perdi por conta de uma atitude impensada minha.

— Às vezes, dá para pensar que você voltou porque não está mais com o mesmo conforto de antes. Sei muito bem que sua família não está bem financeiramente — falou Rita.

A senhora sentia que Paola estava sendo sincera, porém tinha alguns assuntos que não poderiam deixar para depois.

— Mãe! — Ricardo não gostou nem um pouco do rumo daquela conversa.

— Eu não voltei por conta disso, Rita. Confesso que já liguei muito para dinheiro, mas agora mudei meus pensamentos.

— O que fez você mudar de pensamentos? — inquiriu Rita.

— A solidão! — Paola comentou e notou o olhar da senhora mudar. — Do que vale o dinheiro se não temos ao nosso lado que amamos? Minha família passou por dificuldades financeiras, mas agora se reergueu com o trabalho de meu irmão e meu. Não preciso do dinheiro de vocês, entretanto eu quero poder viver com seu filho sem insinuações desagradáveis.

Paola terminou a sua fala e notou que Rita estava cabisbaixa.

“Liguei para coisas sem importância e te perdi”, pensou Rita.

_*_

Era noite, Raquel e Sófia estavam no sofá escolhendo as flores para a cerimônia na praia.

— Amor, o que acha de nossos convidados estarem com roupas claras? – Sófia direcionou o seu olhar para Raquel que estava ao seu lado segurando o notebook no colo.

— Ótima ideia, vida. Acho que é bom deixarmos isso logo claro com os convidados — disse e Sófia assentiu com a cabeça.

Raquel segurou uma das mãos Sófia.

— Está muito nervosa para o nosso dia?

— Nem um pouco — Sófia respondeu toda confiante.

— Não?! — Raquel ficou surpresa com a novidade.

— Não, pois estou tão certa do que quero que nem estou dando espaço para nervosismo.

Sófia começou a acariciar a mão da engenheira que estava segura a sua. Olhou novamente para os olhos da amada e sentiu algo dentro dela esquentar;

— Isso é bom! — Raquel abaixou o seu campo de visão, pois toda vez que olhava para a loira sentia vontade de beijá-la.

Neste clima de romance entre as duas, a campainha começou a tocar e elas se entreolharam, pois não estavam esperando ninguém.

— Vou ver quem é — Sófia se levantou.

Ao abrir a porta, a loira teve uma surpresa, porque quem estava ali era a última pessoa que ela estava esperando.

— Será que posso passar à noite aqui? — Amanda indagou um pouco sem jeito.

— Claro que sim, minha amiga! — Sófia deu passagem para que a outra pudesse entrar.

— Eu sei que vocês estão estranhando a minha visita, mas é que Tiago teve que levar o pai dele ao hospital e ele achou melhor não me deixar sozinha — disse enquanto reparava nos dois cachorros que dormiam tranquilamente no canto da sala.

— O que houve? — Raquel indagou com certa preocupação.

— A pressão subiu. Ele não estava tomando os remédios corretamente.

— Tiago vivia dizendo que o pai dele era teimoso — Sófia comentou. — Tiago fez certo em te trazer. Você não podia ficar em casa sozinha nestas condições.

— Desculpa atrapalhar vocês. Vim até sem avisar — Amanda disse um pouco constrangida.

— Ah... Amanda, não precisa disso. Somos amigas! — Raquel desocupou o sofá para que Amanda pudesse se sentar. — Quer alguma coisa?

— Uma água se não for muito — Amanda se sentou ao lado da loira.

— Estava com saudade de vocês — Sófia sorriu ao pensar no bebê. — Vai ficar tudo bem com o seu sogro. — Segurou uma das mãos de Amanda para dar conforto.

— Muito obrigada, Sófia, você sempre foi uma ótima amiga. — Forçou um sorriso e se lembrou de algo. — Ricardo foi, hoje, à empresa. Está muito mudado. Você se lembra que falei que ele estava sumido.

— Ele disse onde estava, Amanda? — Raquel indagou ao chegar à sala com um copo de água.

— Não, não disse e ninguém sabe dizer.

— Bom... por algum motivo, ele deve ter sumido. — Raquel deu de ombros tentando fingir que aquele assunto não a interessava.

— Ele estava acompanhado de uma mulher morena — Amanda disse ao se lembrar desse fato.

— Imagino que seja Paola. — Raquel entregou o copo a Amanda que agradeceu e começou a tomar o líquido transparente.

Um silêncio começou a tomar conta do ambiente.

Sófia pensava no quanto estava aliviada por Paola não ter se metido em seu relacionamento, já Raquel tentava entender o porquê de não conseguir esquecer a sua família mesmo depois de tudo que aconteceu.

— Vocês já convidaram a sua família para o casamento, Raquel? — Indagou chamando a atenção da engenheira.

— Sendo sincera, eu não havia pensado nisso — Raquel disse pensativa — Será que tenho que convidá-los — perguntou-se.

Fim do capítulo