Olá, todo mundo!
Capítulo essencial para entender o desenvolvimento da história a partir daqui.
Capitulo 27: Sem saÃda?
- E se a gente vendesse o carro? Não conseguiríamos boa parte do dinheiro para pagar o novo plano? - A mãe de Érika traçava possibilidades para solucionar o novo empecilho que surgira na família, mas a filha já havia pensando as mesmas coisas. Não iriam conseguir o valor necessário para manter o contrato de fidelidade com a nova modalidade de plano, visto que o carro ainda estava financiado em 48 vezes. Jorge não participava da conversa, a notícia de que talvez não fosse operado com a urgência que necessitava o abalou de tal modo que ele precisou fazer uso de remédios para dormir. O relógio da sala marcava mais de meia-noite e, a cada passada do ponteiro, Érika sentia o sono esvair-se e as preocupações crescerem:
- Mesmo que a gente consiga pegar um bom preço no carro, o que eu acho difícil por conta do financiamento, como vamos fazer depois? Teremos que passar um ano, pelo menos, pagando o valor cheio do novo plano. Iríamos ficar sem carro e ainda mais endividados. Já pensei nisso, talvez eu devesse pedir um empréstimo ao banco...
- Outro? Ainda estamos pagando o primeiro, aquele que fizemos para adaptar o quarto, comprar os remédios e a cadeira de rodas. Meu Deus, minha filha, estamos num beco sem saída!
- Calma, mãe! Não vamos nos desesperar, isso só vai deixá-lo mais triste. Meu coração já está partido demais por vê-lo tão decepcionado com essa notícia terrível. Vamos pensar em alguma coisa!
- Me sinto tão impotente! Estou assistindo o definhar do meu marido há um ano, e agora que temos uma esperança de cura, a falta de dinheiro nos tira!
- Me sinto igual, mas não podemos fraquejar na frente dele... vou tentar outro empréstimo com o banco, vender esse carro e...
- Érika, por que você não conta a nossa situação para o Rodolfo? Ele com certeza nos ajudaria! Você pode pedir esse empréstimo a ele ao invés do banco! É isso! Ele não negaria!
- Isso não. Primeiro, não estamos mais juntos, segundo, nem se estivéssemos casados eu teria essa audácia de pedir dinheiro a ele! Esquece essa possibilidade!
- Mas minha filha, o banco vai negar seu novo empréstimo, certamente. Além do mais, o próprio Rodolfo se dispôs a nos ajudar com o que precisarmos, aposto que esse dinheiro não é nada para ele! Talvez até consigamos fazer a cirurgia sem o convênio, pagando um valor só de uma vez! Faça as pazes com ele e engula o orgulho, é pelo seu pai!
- Deve haver outra saída, mãe, e eu irei encontrá-la! Não se trata de orgulho, simplesmente. Tem outros fatores, depois que resolvermos esse problema posso te explicar.
- Não temos tempo para achar suas outras saídas. Vou lá ficar com o seu pai agora.
- Mãe, entenda...
- Boa noite!
Érika passou a mão pelos cabelos castanhos levemente ondulados nas pontas em seu corte bem trabalhado. Pedir ajuda financeira a Rodolfo parecia uma ideia tão suja e absurda como enfi*r a mão na privada depois de usá-la. A mesma mão que acariciava o peitoral do quarentão após o sex* e agora o estapeava em um restaurante qualquer de esquina.
Acima do orgulho estava o perigo que aquela relação viria a se tornar com o tempo. Rodolfo não era o mesmo homem que a cortejara na oficina, o viúvo sofrido que criava a filha adolescente sozinho. Ele era manipulador, ardiloso e egoísta, capaz de colocar o seu próprio prazer e satisfação à frente de qualquer princípio ético e moral, um verdadeiro lobo em pele de cordeiro. Se não fosse por Catarina, certamente ele iria levar aquela mentira adiante com maestria, pelo tempo que julgasse necessário e sem levantar desconfiança alguma.
Érika fazia um chá na cozinha, pensando justamente em Catarina, no que ela estaria fazendo naquele momento, se estava bem ou não. A última vez que se falaram foi em novembro e desde então nenhuma das duas se procurou novamente. Enquanto colocava o líquido na xícara e mexia o saquinho, pegou o celular e abriu o aplicativo de mensagens instantâneas na conversa que tiveram. Riu das figurinhas usadas por Cate quando elas falavam sobre um seriado antigo que não passava mais na TV e nem era facilmente encontrado na internet, que parecia mais um delírio coletivo que ambas compartilhavam. Subindo mais a conversa para uma data mais antiga, achou uma foto enviada diretamente da estante de Cate, com novos livros de romances adolescentes, recém-comprados de alguma loja online.
Continuando a sessão de lembranças, abriu as redes sociais da garota e passou a contemplar suas fotos e frases. Era a primeira vez, desde que se adicionaram, que Érika observava criteriosamente o perfil de Catarina. Notou que seus textos eram de autoria própria e muito bem escritos, e pensou "como ela não me contou que escreve tão bem?". Ao passar as fotos, admirou-se pelo brilho que os cabelos dela irradiavam quando expostos ao sol. Longos cabelos negros, contrastantes com a palidez de sua pele, como uma junção dos dois contos de fadas preferidos da gerente, Rapunzel e Branca de Neve. Foi mais uma semana de cão para Érika, encurralada por problemas de difícil solução, porém, apesar de todo o sofrimento, naquele momento particular se pegava sorrindo mais uma vez, uma mão no queixo e a outra segurando o aparelho celular, o chá de camomila esfriando no canto da mesa.
No quarto ao lado, a mãe de Érika não dividia a mesma sensação calmante da filha. Também pegou o celular, digitando nervosamente um SMS para aquele que julgava ser o salvador da situação, o nervosismo fez com que nem se importasse com o horário da mensagem, enfim, o tempo corria sem esperar ninguém.
****
Aquaman acabava de estrear e Catarina estava um poço de empolgação para assistir. Era sábado e ela havia combinado de ir ao cinema do shopping com Audrey, Pedro Henrique e Raga. Claro, o plano também consistia em deixar os dois amigos sozinhos o máximo de tempo possível, afinal o ano estava acabando e Pedrinho ainda não havia confessado seus sentimentos por Audrey.
Débora passava menos tempo em casa do que antes. Além das aulas de pilates ela havia se matriculado em dança do ventre, ioga e forró, o que soava claramente como uma fuga às obrigações de empresária, que continuavam majoritariamente com Rodolfo, mesmo com a separação.
Mas também havia outro papel que Débora estava deixando de lado, o de mãe. Catarina ficava bastante tempo sozinha em seu quarto, os diálogos entre elas cada dia mais escassos. Não havia guerra, nem discussões acaloradas sobre a traição de Rodolfo e sobre Érika, em contrapartida, não havia também palavras de afeto ou conversas sinceras após o café da manhã.
Após terminar de se aprontar, Catarina desceu as escadas mantendo a empolgação pelo filme e tentando esquecer a relação fria que sua mãe lhe estava impondo e ela estava aceitando sem muita relutância. Como era de se esperar, Débora havia saído mais uma vez, então a adolescente não precisaria dar satisfações para alguém sobre seu passeio com os amigos. Até a porta abrir e Rodolfo passar por ela.
Pai e filha se entreolharam sem emoção, mas o homem ainda se deu ao trabalho de puxar assunto:
- Vai sair?
- Tá parecendo?
- Mocinha, te fiz uma simples pergunta, dá para me responder sem essa sua rajada de ironia?
- Não queria nem estar falando com você, pra começar.
- Mas deveria, porque apesar dos pesares ainda sou seu pai!
- Não te conheço mais, meu senhor. Perdoe.
- Não vai me perdoar nunca? Já assumi o que fiz, chega!
- As consequências do que você fez não me deixam te perdoar. E se não me der tempo e espaço, pior.
- Mas até sua mãe já baixou a guarda comigo, por que você continua assim, bebê? Veja, eu ainda gerencio os negócios, enquanto nem em casa ela fica, pelo visto...
- Já pedi que não me chamasse mais assim. Jura que você não sabe por que ela não fica mais em casa?
- Deve ser por que ela está ocupada com as coisas que gosta, você sabe, o pilates e os almoços com as outras dondocas amigas dela. Débora nunca iria abrir mão disso pra trabalhar que nem eu...
- Não é possível, senhor Rodolfo, que você não faça mais nenhum esforço pra esconder sua prepotência! Ela não fica aqui porque não quer sofrer por você! Esta casa deve ser uma câmara de tortura pra ela, cada cômodo uma lembrança sua. Lembranças de dezenove anos e meio de casamento!
- Por que está me chamando assim, de senhor Rodolfo? Não vou deixar de ser seu pai nunca, Catarina! Outra coisa, eu conheço melhor sua mãe do que você, sei do que estou falando!
- Não sabe, não, seu mentiroso. Me dá licença, essa conversa está sugando meu bom humor.
- Você ainda vai se arrepender tanto de me tratar assim. "Honrai pai e mãe", tá na bíblia!
- Não dá pra honrar um pai que não honra a esposa e a filha que tem. O Bruce está lá no quintal. Faça sua visita e me deixe ir, por favor.
- É... filhos... basta um erro para esquecer tudo que fizemos de bom durante a vida... me dê licença você, preciso atender esta ligação.
- Disponha...
Catarina até quis sair assim que Rodolfo sumiu de seu caminho, mas a deixa da última frase atiçou sua curiosidade. O coração estava aos pulos, pois pressentiu que aquela ligação poderia ser de Érika. Por mais doloroso que fosse, necessitava saber se estavam juntos, não controlou os próprios impulsos, deu meia-volta e se escondeu atrás de uma escultura barroca que Débora comprara em um leilão português, a fim de ouvir melhor a conversa. Seus instintos estavam 50 % corretos:
- Sim, vi sua mensagem hoje de manhã, iria responder assim que terminasse de passear com meu cachorro. Como está a Érika? Deve estar arrasada, coitadinha... Quer dizer que o plano não vai mais cobrir a cirurgia do Jorge, é isso? De quanto precisam? Fique tranquila, verei o que posso fazer! Não, não precisa, calma! Irei sim, pode deixar. Tchau!
Atrás da escultura, Catarina tremia sem parar. Saiu sem fazer barulho e sem ser vista por Rodolfo. Érika estava sofrendo, e aquilo a matava por dentro. Perdera a empolgação pelo Aquaman instantaneamente.
****
Érika voltou do trabalho em estado quase vegetativo. Passara a noite em claro, remoendo a injustiça que a vida lhe lançara e procurando saídas num labirinto sem fim. De dia, tinha que lidar com a carga pesada de trabalho que o fim de ano trazia, além de desviar de cantadas grosseiras vindas de novos clientes, que usavam e abusavam de clichês machistas, resguardados por uma masculinidade tóxica e nociva, atitude esta muito comum em ambientes antes dominados por homens.
Desceu do ônibus e já na esquina avistou o C300 estacionado próximo à entrada de sua casa. O sangue lhe subiu à cabeça e esqueceu o cansaço, transformando os passos em corrida. Abriu a porta furiosamente e olhou em direção ao sofá da compacta residência. Ignorando os últimos acontecimentos, Rodolfo a recebeu com um cínico sorriso nos lábios:
- Oi, amor. Sua mãe foi só fazer umas comprinhas para o jantar. Não vai me dar um beijo de boas-vindas?
-- Não é possível que eu tenha que desenhar que não te quero por perto...
-- Se eu fosse você, esqueceria o rancor e sentaria aqui perto de mim. Meu amor por você é tão grande que esqueci até o tabefe que me deu, sabia?
-- Vai embora!
- Você não quer isso, além do mais, sou convidado de honra esta noite. Vá tirar esse uniforme da FP e me encontre aqui pra gente jantar com seu pai e com sua querida mãezinha. Precisamos conversar, não é mesmo? Ou você prefere matar o seu pai por conta desse orgulho bobo? Não demora, meu amor. Ah, que saudades suas!
Fim do capítulo
Tá tenso, mas confiem em mim, tá bom? Bjss
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Naty24
Em: 08/11/2020
Raga, meu anjo!. Arregaçe suas mangas para o duelo pela conquista do coração da Catarina kkkkkkkk........
Xena/Raga+Érika irão lutar até as últimas pela doce,amável,fofinha Gabriele/Cate háhaahjajajajaja
Resposta do autor:
kkkkkk boa, que os jogos comecem!
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Naty24
Em: 08/11/2020
Minha tese ñ estava exatamente louca. Ufa!!!! Rsrsrs.... pegar a dinâmica de cada personagem foi legal,inclusive o mais odiado quarentão trambiqueiro Rodolfo, na pele de um manipulador emocional narcisista de berço. Érika caiu infelizmente de paraquedas no seu caminho. Tava tudo no script desde a primeira linha escrita aqui! Onde cada um traça sua própria biografia de vida. Vejo dor em forma de espinhos dilacerantes cravejando 2 corações sendo usados de marionetes pelo tirano
This life is a game
And love is the name
Os desejos humanos são infindáveis.
São como a sede de um homem que bebe água salgada,não se satisfaz e a sua sede apenas aumenta.
BUDA
Resposta do autor:
Kkkkkk bem, você lançou muitas teses, a maioria dando certinho com o que ia acontecer realmente, como eu digo, excelente visão da história.
Muitoooo obrigada! E continuo esperando que a história lhe agrade cada vez mais. Bjss!
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 08/11/2020
Olá! Tudo bem?
Sinto nadar contra a corrente, mas Erika está colhendo o que plantou, independente da canalhice do outro.
É isso!
Post Scriptum:
''Você não consegue escolher como você vai morrer ou quando. Você consegue apenas decidir como você vai viver. Agora.''
Joan Baez
Resposta do autor:
Olá, seja bem-vinda, nunca vi um comentário seu por aqui, fico feliz!
É sempre bom ter outras visões desta história, agradeço demais seu comentário. Abraço!
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malumoura
Em: 08/11/2020
Aff que ódio da Érika sorrindo pra foto do amorzinho da raguinha hahahaha não tinha outra criatura pra tu olhar foto não, Érika? Ódios eternos. A Débora dançando forró eu imaginei e dei uma gaitada. Ai fiquei triste que Catarina nem pensou por um segundo e já quis ir atrás da donzela em perigo, que mel foi esse? Hahahaha eu amo raguinha, espero que essa anta olhe minha predileta e pare de correr atrás da outra. Agora falando sério, o Rodolfo é um babaca, né? Falei que esse ridículo iria atrás da Érika justamente por conta da situação do pai. Acho que ela vai aceitar, ele não vai se separar da Débora, pelo menos não oficialmente, e acredito que a situação vai ficar mais ou menos parecida com o que era antes, a diferença é que todos conhecem a verdadeira face de Rodolfo. Vamos aguardar.
PS: amei saber que Raga é uma das suas preferidas, porque ela é a minha (ninguem percebeu, né?!).
Resposta do autor:
E aí, minha querida Raga fã número um, kkkkk
Se bem que, ás vezes, sinto uma quedinha sua pela Érika também, não negue kkkkk
Obrigada por comentar, abraço e até a próxima!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 07/11/2020
Nossa!
Resposta do autor:
Sempre sucinta e direta ao ponto, hein, Marta? kkkkkk
Obrigada por comentar, abraço!
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cris05
Em: 07/11/2020
Caraca autora, quase entrei pelo celular pra bater nesse Rodolfo! Que raiva!
Eu espero, sinceramente, que Érika encontre uma saída.
Beijos
Resposta do autor:
Pode bater nele que eu acho é pouco, ele foi feito pra ser odiado mesmo kkkkk
Obrigada por comentar, bjss!
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