Tô conseguindo manter uma constante de duas postagens por semana, é isso mesmo? Graças a vocês que leem e me apoiam, podem ter certeza. Sobre o capítulo: the drama is coming com muita força ;(
Capitulo 26: Desdobramentos cruéis
A maioria dos bairros nobres daquela cidade começava suas manhãs de domingo da mesma maneira e não era diferente nos arredores da casa de Catarina. Como um enorme condomínio fechado, as crianças da vizinhança brincavam no parquinho de uma simpática pracinha, enquanto seus respectivos pais faziam a despretensiosa caminhada matinal dos ricos, onde as maiores preocupações não eram as dívidas acumuladas ou o que iriam comer naquele dia, mas sim onde passariam as férias de fim de ano que estavam batendo à porta. Alguns outros exemplares da mesma classe social analisavam o cenário político das últimas eleições, sentados em banquinhos de concreto armado, jogando xadrez e satisfeitos pelo resultado da votação para presidente. A paleta de cores desse cenário, para muitos surreal, aparentava ter sido retirada de um panfleto evangélico que anunciava o paraíso, só faltavam ali os animais silvestres, as frutas frescas caídas das árvores e a figura de um Messias sorridente de mãos estendidas. Ao invés disso, tínhamos homens de meia-idade levando seus rottweilers para passear e espreitando de forma libidinosa as filhas adolescentes dos amigos.
Foi revirando os olhos que Audrey passou por todo o mar de hipocrisia que o bairro emanava e, finalmente, chegou ao sobrado 759, trazendo o eufórico Bruce que abanava o rabo durante todo o trajeto até ali. Nem tocou a campainha, Cate já a esperava próxima à porta com um semblante nada satisfatório.
Dados os cumprimentos iniciais, não perderam muito tempo e rapidamente se instalaram no quarto da mais nova. Cate até tentou puxar algum assunto de primeira que desviasse dos possíveis comentários pelos ch*pões no pescoço e busto que ela, derrotada pela discussão com a mãe no dia anterior, já desistira de esconder, mas foi em vão, Audrey deixou transparecer um sorriso triunfante em sua face antes de qualquer tentativa de esclarecimento:
- Caramba, não sabia que você tinha alergia a pernilongos, Catarina!
- Ridícula, sabia que seria a primeira coisa que repararia. Pergunta logo o que quer saber de verdade, vai...
- Acho que a pergunta que não quer calar é "quem", pois já tá na cara que foi no dia da festa lá na escola, na hora em que você sumiu!
- Melhor você sentar antes, vai levar um susto.
- Claro que não, o que mais me chocaria nesta vida? Eu já vi de tu...
- Foi a Raga.
- O QUÊ?
- Viu? Falei que era melhor sentar.
- Caralh*! Como? Que coisa mais improvável!!
- Eu fiquei com a Raga, foi isso que aconteceu.
- E você gost... que pergunta a minha, tá na cara que foi muito bom, safadinha! Me deu um perdido direitinho naquela noite, ahahaha!
- Ela é uma garota legal, não é nada disso que falam. É isso, além dos beijos e da pegação, pude perceber que ela é uma pessoa fantástica!
- Uooou, beijos e pegação e o que mais hein, hein?
- Nada mais, eu caguei tudo muito rápido...
- Não me diga que...
- É, isso mesmo que você está pensando. Bati o martelo naquela noite. Eu amo a Érika.
- Puta que pariu! Puta que pariu dez vezes! Esquece a miss perfeição, ela já destruiu as chances que você tinha! Se você diz que a Raga é uma menina bacana, se aparentemente ela te quer, por que continuar sofrendo, minha irmã?
- Talvez esses seus encontros de aplicativo de namoro ou esses seus rolos de fim de semana não te ensinaram o que é amar alguém de verdade, minha irmã.
- Catarina, meu Deus! Parece que você quer viver numa comédia romântica, você não pode amar alguém com essa intensidade sendo que mal a conhece também!
- Eu não tenho o poder de calcular o tempo do meu sentimento, não tenho domínio sobre meus pensamentos, sobre o efeito que tão somente o ato de lembrar dela causa no meu corpo todo. Como até o simples ato de me sentar nessa escrivaninha ou comer macarrão, ou ver uma pessoa tomando um sorvete agora parecem coisas tão nostálgicas. Sinto tanta falta daqueles dias que passamos juntas que sonho com ela todas as noites desde então. Mesmo eu beijando outra pessoa, era o sorriso dela que impregnava na minha mente, era o perfume dela que eu sentia no meu nariz, era a risada dela que ouvia. Por ela, eu briguei com a minha mãe ontem, pois não suportei que lhe atacasse, que lhe julgasse sem conhecer a pessoa que eu conheci. Audrey, nada será como antes na minha vida, tudo agora é um pós-Érika, e eu não consigo evitar, por mais doloroso que seja.
- Chega, eu vou vomitar, sério. Como a sua mãe está com essa história toda, afinal?
- Péssima, não lhe tiro a razão. Claro que não vou contar pra ela como me sinto em relação à Érika, mas eu queria tanto, tanto, tanto que ela culpasse a pessoa certa.
- Sem dúvida o que mais me irrita é teu pai sair praticamente ileso dessa situação. Já que é uma causa perdida essa tua paixão avassaladora pela Érika, só me resta mais um conselho pra ti.
- Qual seria?
- Cuidado com o seu pai, muito cuidado. Ele sempre está dando um jeito de sair pela tangente e, por mais que a Érika seja tão incrível como você descreve, ela ainda te rejeitou por conta do que sentia por ele, ou tô enganada?
- Sim, está certa.
- Então, minha amiga, pode ser questão de tempo até ele convencê-la a voltar, pois se você sabe como é ficar sem escolhas quando se ama alguém, deve imaginar que ela pode perdoá-lo pela mentira, em nome do amor inexplicável que sente por ele... e depois acabar sendo a sua... madrasta...
- Não sei o que faço se isso acontecer mesmo. Mas já pensei na hipótese, justamente por me sentir como ela. E continuo a amando mesmo assim.
- Ai, ai, cansei. Vamos ver um filme?
- Beleza, qual gênero?
-Terror, de preferência. Chega de drama e romance por hoje, né?
****
Duas semanas depois da volta de Rodolfo e Débora, o ex-casal só se falava por telefone e debatiam somente assuntos necessários. Não pronunciavam a palavra divórcio ainda, mas mesmo as pausas não calculadas que faziam quando se comunicavam denunciavam que o próximo passo para o fim estava próximo. Catarina rejeitou todas as tentativas de aproximação do pai, não saindo do quarto nem para cumprimentá-lo quando ele aproveitava a ausência de Débora para passar o tempo com Bruce. A jovem temia ouvir o que ela considerava óbvio, que Érika e ele haviam reatado o namoro e estavam até mesmo morando juntos.
A época de exames finais havia chegado na escola Professor Artur Gagnon e os alunos estavam empenhados em finalizar o ano letivo com aprovação em todas as matérias. O exame ANUFEP já havia sido realizado, portanto era só isso que faltava para os estudantes poderem curtir seu descanso antes do início da jornada acadêmica.
A escola se preparava para, após os exames finais, montar uma semana de formalidades para celebrar os aprovados nos principais vestibulares do país. Por isso, era estranho para Audrey, Pedro Henrique e Richardson darem de cara com a foto de Raga nos outdoors de entrada e saída da rua em que o colégio ficava. Para uma pessoa, entretanto, ver o nome "Raíssa Gama - primeiro lugar em engenharia civil pela UNIFORTE e segundo lugar geral em medicina veterinária pela Universidade Federal" não era nenhuma novidade.
Catarina e Raga estavam cada vez mais próximas. Não haviam mais se beijado como no dia da festa, mas agora podiam ser vistas na biblioteca, nos intervalos das aulas e saindo juntas rumo à pequena floresta que ficava por ali. Audrey apenas ria, de longe, pensando quando a amiga iria deixar a tensão sexual entre as duas aflorar de vez e se desprender daquele amor não correspondido que insistia existir no coração de Cate.
Por outro lado, Raga seguia paciente e encantada por Catarina. Não notou quando ficou tão próxima à garota de cabelos lisos e negros, a única que havia visto seu verdadeiro lado e que a compreendeu, deu força e ficou verdadeiramente feliz por seu êxito acadêmico, mesmo que a própria não tenha tido a mesma satisfação consigo mesma. Em meio à inveja que emanava, principalmente entre as pessoas de sua própria família, era em Catarina que enxergava simplicidade e uma felicidade genuinamente compartilhada.
Não estava escrito em lugar nenhum como Raga ficou exultante quando Cate aceitou ajudá-la a achar um lar para os gatinhos órfãos. Seguiam seus próprios passos com destino a um relacionamento que Raíssa não tinha pressa alguma em construir e delimitar, por hora, decidiu apenas curtir a presença da outra garota e deixar as coisas acontecerem naturalmente.
Longe das fascinações juvenis da Artur Gagnon, Érika, por sua vez, seguia focada somente em seu trabalho e no tratamento de seu pobre pai. O tratamento seguia avançando e a cirurgia para retirada do tumor era uma realidade. Com aquela cirurgia, a doença poderia atingir uma remissão significativa e toda a família respiraria aliviada pela primeira vez durante aquele tempo de batalha. Já estavam com os trâmites prontos, exames pré-operatórios em dia, só esperando a data da operação. Érika não estranhou a ausência de Rodolfo nos últimos tempos, certa de que o tapa e ameaça da denúncia por assédio o haviam afastado para sempre. Seguia concentrada fechando orçamentos quando o ícone de e-mail recebido a obrigou a parar o trabalho, o remetente era o plano de saúde que cobria o tratamento de seu pai:
Prezado beneficiário
Informamos que seu plano passará por um processo de migração em breve, devido às novas medidas internas e pouca abrangência nas redes hospitalares de nosso estado. Com essa migração, algumas especialidades deixarão de ser contempladas pelo seu plano atual (MediPlan). Entre em contato com a central de atendimento e confira as vantagens exclusivas do nosso novo plano, TotalPlan, e não deixe de cuidar da sua saúde e de quem você ama.
Assim que terminou de ler o e-mail, Érika se desesperou. Se o plano antigo deixasse de ser aceito pelo consultório do oncologista que tratava de Jorge, o tempo de espera para a cirurgia seria maior. Teriam que procurar um novo médico ou pagar o procedimento fora do convênio, particular. Ligou para a central e em minutos, teve a certeza de que as condições eram ainda piores: o plano reduziu o atendimento a pouquíssimas clínicas e a especialidade de oncologia não era mais coberta por ele, apenas pelo plano mais caro. Ainda tentou analisar as possibilidades com a atendente:
- Infelizmente a migração já vinha sendo realizada aos poucos, a senhora não recebeu os e-mails de advertência?
- Recebi, mas pensei que essa mudança seria apenas para o ano que vem, daria tempo ao menos de concluir a cirurgia do meu pai. Estávamos com tudo pronto, o doutor Sérgio estava prestes a marcar a data, agora como fazemos?
- Você terá que entrar em contato com a Onco Clínica diretamente, já que o MediPlan perderá abrangência a partir de sexta.
- Esta sexta-feira, mas já?
- Lamentamos, são políticas internas da empresa. A senhora não tem interesse no Totalplan? Entrará sem carência nenhuma.
- Agradeço a atenção, mas esse novo plano custa o meu salário quase todo, não tenho orçamento para ele.
- Pedimos desculpas pelo transtorno, senhora. Realmente é um processo necessário, o seu plano antigo já caiu em desuso. Algo mais que possamos ajudar?
- Nada mais. Obrigada.
A gerente cerrou o punho e bateu com força a mão em cima do balcão, assustando os funcionários e clientes que passavam. Estava inconformada com a ideia de que a falta de recursos financeiros tiraria a única esperança que cultivava em ver seu pai saudável novamente. O tempo e o dinheiro eram agora seus inimigos mortais. Não via mais nenhuma luz no fim do túnel.
Fim do capítulo
Drama, drama, drama, eu amo um drama e vocês? rsrrrs
Comentar este capítulo:
cris05
Em: 04/11/2020
Ai, ai...só espero que a Érika não se desespere com toda essa situação e acabe cedendo às investidas de Rodolfo.
Capítulo tenso hein, autora.
Resposta do autor:
Olá, acabei de postar o novo, acho que está mais tenso do que este.
Obrigada pelo comentário, bjss!
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malumoura
Em: 04/11/2020
A Audrey me representa 100% em relação ao meu casal fofo hahahahah ai gente tomara que a raguinha não sofra tanto com esse coraçãozinho que será partido em breve. Eu sabia que algo envolvendo o pai da Érika iria acarretar na aproximação do safado, com certeza a anta vai atrás dele, com razão dessa vez, não irei julgar. Sobre a comparação da situação em questão com os panfletos de uma certa religião eu dei gostosas gaitadas, ai ai
PS: mas gente raguinha passou em med. veterinária e em eng. civil? Mamãe morre de orgulho hauahahahah
Resposta do autor:
A Raga é um dos meus personagens preferidos desde que pensei neles, detalhe.
Acabei de postar o novo, ansiosa pra ver seu comentário sobre.
Obrigada pelo apoio, bjss!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 04/11/2020
Vixe misericórdia!
Resposta do autor:
Confia!
Obrigada pelos comentários, bjss!
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Naty24
Em: 04/11/2020
Pela minhas contas o próximo só sai sábado ou domingo Lastimável aguardar mas necessário
Resposta do autor:
Pois é, Naty, ando tão ocupada, mas consegui postar hoje! Ansiosa também pelo seu comentário, sempre muito bem-vindo e que me faz pensar no que escrevo. Grata, bjss!
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Naty24
Em: 04/11/2020
Drama é a base da vida infelizmente
Sobre Catarina + Raissa: vejo possiblidades futuras. Pq ñ? ;
Em contra partida tem a dona dos pensamentos da Cate, que por uma infeliz notificação seja ela casual ou intensional. Que pode ter o dedo do Rodolfinho de merda sim! Portanto que ela não volte com o dito cujo pra mim está + que ótimo. Tudo tem solução,só ñ a infelizmente para a morte
Resposta do autor:
Rodolfo é podre, acho que vou abrir uma sessão de comentários negativos pra ele, todo mundo o odeia e a tendência é piorar.
Obrigada pelos comentários, bjss!
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