Helen Alves

Essa visita inesperada de Lívia ao meu consultório, me deixou com um fio de esperanças, contudo, alegria de pobre sempre dura pouco.

— O doutor Álvares pediu que eu viesse até aqui. Ele quer falar com você. – Lívia evitava olhar muito para mim. Será que ela estava desconfortável por conta da conversa da noite anterior?

— Lívia, sobre ontem. Perdão, eu não queria ter assustado você. – Talvez Débora tivesse razão, eu fui muito apressada. Deveria ter agido com calma. Esperado passar um tempo.

— Assustou um pouco. – Ela forçou um sorriso e pareceu pensar por alguns instantes. – Mas eu agi errado com você. Eu me sinto dá mesma forma, no entanto, Helen, eu já estou cansada de relacionamentos escondidos.

— Mas quem disse que seria escondido? – Aquilo tudo que ela me disse alegrou o meu coração. Tudo que sentia era recíproco.

Lívia balançou sua cabeça algumas vezes.

— As minhas antigas experiências me fizeram pensar isso. – Ela caminhou até mim com a intensão de passar pela porta. – Doutor Álvares está te aguardando.

— Certo, eu irei até ele. – Segurei um de seus braços e fiz ela olhar para mim. – Posso te levar em casa? Eu quero muito te mostrar que não irei te esconder. – Ficamos um tempo nos encarando. Meu coração bateu forte quando meus olhos fixaram nos lábios de Lívia.

— Pode – ela respondeu baixo e a soltei. Eu sei, poderia ter roubado um beijo, mas eu queria reduzir um pouco a velocidade, pois precisava ganhar a confiança de Lívia.

Após me recompor, eu fui falar com o doutor Álvares. Ao passar pela mesa de Lívia, eu a olhei nos olhos. Senti vontade de estar com ela, contudo teria que aguardar terminar o expediente.

— Helen, estava com saudade de você — doutor Álvares falou muito animado enquanto nos abraçávamos. Desde que comecei a trabalhar na clínica que temos uma boa relação. Ele sempre acreditou em mim e me deu muito apoio.

— Lívia disse que você queria conversar comigo – falei enquanto nos afastávamos. – Aconteceu algo?

— Não aconteceu nada, estava apenas querendo te ver. Como foram as férias? – Ele sentou em sua cadeira.

— Foram boas, poderiam ter durado mais. — Quis brincar com ele.

— Imagino, eu te trouxe aqui também para me ajudar com uma coisa.

— O quê?

— Estou querendo contratar um novo dentista, você sabe, Célia está se aposentando... Como confio em você e sei o quanto é uma excelente profissional. Quero sua ajuda nesta tarefa. — Ela apontou para cinco currículos que estavam sobre a mesa.

— Doutor Álvares, eu queria aproveitar esta oportunidade para falar sobre algo contigo. — Olhei para aqueles currículos e percebi que não havia ninguém como eu.

— Diga, você sabe que tem total liberdade comigo.

— Gostaria que o senhor desse oportunidade para alguém como eu. Eu sei, estas dentistas devem ser muito qualificadas, mas você não acha que tem muitas pessoas que fazem parte das minorias e que são muito bons também? — Dei uma pausa e percebi que ele parecia pensar. — Agradeço muito ao senhor pela oportunidade dada a mim, no entanto, notei que a única negra aqui sou eu. E isso não é por falta de gente qualificada.

Doutor Álvares recolheu os currículos que estavam a minha disposição.

— Perdão se fui inconveniente — eu disse.

— Não precisa pedir perdão, eu te entendi perfeitamente. — Deu uma pausa para colocar os currículos no envelope. — Estas cinco dentistas acabaram de se formar na faculdade. Vou combinar algo contigo, você procura dois novos dentistas. Pessoas como você era, sem condições de abrir a sua própria clínica. Se caso não achar, você me ajuda a escolher uma dessas. Elas são filhas de amigos meus, terão muitas oportunidades, eu sei disso.

— Obrigada, muito obrigada mesmo — falei e depois passamos a conversar sobre nossas vidas.

Quando encerrou o meu horário, eu me arrumei rapidamente para que eu pudesse me encontrar com Lívia. Para minha surpresa, ela parecia estar me aguardando em frente a clínica. Isso só podia ser um sinal.

Fim do capítulo