Dona Yasmin
Dona Yasmin
* * *
. . .
Os paramédicos chegaram pouco antes da polícia. Nina pegou Mari e seguiu para o hospital com Raíra.
O restante de nós, precisou ir prestar depoimento na delegacia (Foram 2 longas horas). Frank foi preso, embora eu não achasse que ele iria ficar por muito tempo. Nos encontramos em um dos corredores, ele estava algemado sendo levado por dois policiais.
--Aquela minha filhinha gostosa vai morrer.. igual a mãe.. --Sorria apenas mexendo os lábios para eu entender.
Nunca senti tanto asco de alguém como daquele homem. Eu não conseguia entender como ele poderia ser tão frio, ainda mais com quem tinha o mesmo sangue.
Refleti um pouco nas últimas palavras dele, e já ia correr para o hospital quando Leo me parou, me entregando as chaves do carro e o celular dele.
--Nós mantenha informados, ok? - Falou Breno me dando um beijo na testa. Leo me deu um abraço e pediu para eu dirigir com cuidado.
* * * *
Assim que entrei no carro me veio a cabeça um número (meu número antigo), disquei com uma angústia. Um sorriso logo veio ao ouvir aquela voz.
''--Leo? Me diz que está com ela. Vocês me deixam no esc..'
''--Oi, Mãe.. Sou eu.. ''
Depois dela ter me xingado muito e feito todo um drama especial, demonstrou toda emoção que sentia. Meu antigo número havia ficado com ela, antes mesmo do casamento. Resumi de forma breve a história, ela só disse que me encontraria no hospital.
* * * *
Assim que estacionei, a vi de longe me esperando próxima a entrada.
--Como a senhora chegou aqui tão rápido? -- A assustei.
--Estava indo ver minha filha ingrata. - Falou me abraçando bem apertado. --Como é ótimo ter a certeza que foi tudo mentira, filha. --Se emocionou.
--Liguei para o seu número antigo diversas vezes, Mamãe. Minha cabeça ainda está voltando.. E pensei que nessa altura já saber..
--E eu pensei que se fosse verdade, minha filha teria me ligado ou teria ido até em casa para me contar em primeira mão. - Falou fechando a cara enquanto entrávamos abraçadas no hospital.
--Me perdoa, Dona Yas.. min.. - De repente tive um insight. Lembrei do endereço que achei familiar na "Caixa de segredos da Raíra".
Sim, era o endereço da minha mãe. Então, a Dona Yasmin da qual a mãe da Raíra citava tanto é a minha mãe. (Ai, que confusão! Chega minha cabeça doía).
--Muito bom te ter de volta, filha. -- Falou me olhando com ternura. --Temos muito o que conversar!
--Temos mesmo, Mamãe. Muita coisa..
* * * *
Yaya estava na sala de cirurgia. Nina estava sentada na sala de espera com Mari no colo.
--Nina, essa é A Dona Yasmin.. - Frisei bem para Nina entender. - Minha mãe. -- Ela arregalou os olhos a cumprimentando formalmente.
--Informaram alguma coisa? - Perguntei ansiosa.
Havia tentado não pensar sobre os tiros.. até ali.
--Será uma cirurgia arriscada, Mika. Só uma bala entrou e saiu sem muitos danos, mas a outra estilhaçou, atingiu um órgão, deu hemorragia interna e um pedaço está alojado bem próximo a coluna. - Falou Nina não conseguindo segurar algumas lágrimas. E eu? Bah! Não podia perdê-la.
--Raíra é muito forte, vai sair dessa rápidinho! - Falou minha mãe tentando nos acalmar. Rezamos juntas por ela e conversamos para distrair.
--Como a senhora conheceu Tia Araci? - Perguntou Nina.
--Longa história, minha querida! --Falou querendo mudar logo de assunto.
--Não temos nenhum plano de sair daqui, no momento. - Falei olhando em seus olhos.
--Ok, ok! --Suspirou. --Bom, tudo começou há muitos anos quando Frank começou a "viajar a negócios" com mais frequência. Eu sabia bem os tipos de negócios que eram, mas fingiamos que nada acontecia. Porém, eu tinha um.. 'informante'' em sua gangue, e foi através deste que descobri algumas coisas sobre Frank, ele é do tipo que faz tráfico com tudo. -- Fez uma pausa para limpar a garganta.
-- Tráfico com.. tudo.. --Nina repetiu como um sussurro relembrando de algo.
--Ele e um capanga se aproximavam de aldeias como se fossem ambientalistas perdidos. No entanto, se comunicavam com o resto da gangue. Contava como funcionava a rotina interna, se as espécimes de animais e/ou plantas, ao redor. Tudo funcionava bem, mas em uma das aldeias algo deu muito errado. Frank parou de se comunicar com a gangue, depois apareceu com uma bela e inocente índia. Todos disseram que ele a iludiu com sonhos de uma vida melhor na cidade, a seduziu se dizendo apaixonado. O Cacique e uma.. tipo "feiticeira", acho..
--Xamã. - Completou Nina.
--"Sentiram" que Araci havia engravidado. A Xamã contou que era de Frank e ambos foram castigados. Cortaram o clit*ris de Araci e o escroto de Frank, logo após, foram expulsos do lugar. Segundo o informante, os índios se tornaram agressivos, Frank estava apavorado e encerrou esse tipo de operação. Após algumas semanas, voltou para casa como se nada tivesse acontecido. Eu perguntei o motivo da demora e ele disse apenas que, aconteceu um imprevisto, mas que estava tudo sob controle. -- Parou o relato. --Estão muito quietas.
--Sempre quis saber o que Frank queria por lá. Tráfico então.. --Falou Nina relembrando.
--Eu já tinha ouvido algumas conversas deles sobre tráfico. Sempre pensei que fosse 'apenas' drogas. Até animais... Bom, a senhora não contou como conheceu a Dona Araci, só enrolou na verdade.
--Calma, Dona Micaella! Tenho que contar desde o começo. Posso? --Assenti sorrindo.
--Contratei um detetive para ficar de olho na tal índia, ver como ela se arranjaria fora da aldeia. Ela era guerreira, logo conseguiu um emprego e um cantinho pra ficar na cidade. Fez de tudo para descobrir mais sobre o homem que a engravidou e sumiu. Depois de alguns meses ela conseguiu o nome completo dele, pediu a uma colega da igreja para pesquisar mais sobre aquele nome e conseguiu o endereço. Araci mandou uma carta, dizendo que o amava e pedindo pra ele voltar. Vi essa carta antes de Frank, que me disse que tinha negócios em Manaus novamente, pensei até que ele fosse ajudar, mas.. a espancou. Araci ficou internada por um tempo e quase perdeu a criança.
Frank mandou ela esquecer que haviam se conhecido, senão seria pior. Deu certa quantia em dinheiro a ela e voltou para casa. Assim que ele voltou falei que eu precisava viajar, ele nem quis saber, estava diferente. Inquieto.
Fui auxiliar Araci que ficou espantada ao saber quem eu era. Entreguei a ela alguns documentos e fotos contra Frank, falei o quão poderoso ele era e, na época nem tinha esse cargo político que tem hoje. Ela dizia que só queria tirar o que ele mais gostava, assim como ele tentou fazer com ela. Seu olhar era puro rancor ao falar de Frank. Apesar de estar com pouco tempo de gravidez e o pai sendo quem era, Araci já amava demais aquela bebê, dizia que foi a única coisa boa que restou.
--Acho que não existe alguém pior do que Frank. --Murmurei. --E como assim? 'Única coisa boa que restou' - Perguntei.
--Acredito que seja porque Tia Araci tinha uma vida.. digamos que perfeita na aldeia. Era casada com um bom homem, tinha um bom filho. Parecia que amava viver na aldeia. E ele 'tirou' tudo isso dela, mas deu Yaya, mesmo sem querer.
--E tentou tirar também. - Completou minha mãe.
--Vocês se tornaram amigas desde então? - Perguntou Nina.
--Sim, grandes amigas com o passar do tempo. Comecei a viajar para lá com frequência, acompanhei a gravidez e o nascimento. Me encantei por Raíra, aquela índiazinha bem gordinha, adorava exibir suas covinhas com um sorrisão.
--Yaya era bem assim mesmo. Puxou quase tudo para Tia Araci.
--Ela vai ficar bem, não vai? Não posso perdê-la! Quero tê-la ao meu lado, mesmo não sendo como mulher. - Falei angustiada.
--Como Mulher? Como assim, Micaella? - Indagou minha mãe confusa.
. . .
Fim do capítulo
Continua..
Obs: Adicionei o capítulo 17 - "Declaração" (havia pulado, desculpa), após "Professora". Minha amiga "B." me mostrou o erro, muito obrigada!
*Tenho revisado.. e o espírito (ruim) de Shonda ronda(va) em mim* rsrs
Espero que estejam gostando. Obrigada por acompanhar!
Abraços
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 07/10/2020
Olá! Tudo bem?
Homens como Frank — e mulheres também, há muitas por ai usando máscaras e precisando só de um segundo para tirá-la e se exporem — existem aos montes, sempre na espreita para mostrarem sua verdadeira face. É uma pena que tenhamos que conviver em uma sociedade repleta de parasitas como ele.
É isso!
Post Scriptum:
''A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota.''
Jean-Paul Sartre
Resposta do autor:
Olá!
Infelizmente o mundo está repleto de pessoas assim. Mas tenho esperanças de melhoras.
Agradeço pelo comentário. Espero que esteja gostando.
Abs
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