Carmen
Carmen
* * *
. . .
--Eu a amo, Mãe. Ela também me ama.. do jeito dela, mas ama. Estavamos nos.. "conhecendo". Não sabia que tinhamos parentesco, muito menos tão próx.. --Fui interrompida pelo Médico.
Segundo ele, a operação foi um sucesso, sem complicações, nenhum órgão atingido, apesar de algumas "peculiaridades". A cirurgia foi incrivelmente rápida pela gravidade (dois tiros) e poderíamos ir para casa descansar.
--Vocês podem ir, eu vou ficar! -- Exclamei após Doutor Sérgio sair.
--Eu fico também. - Falou Nina. Ela parecia totalmente esgotada.
--Nina! Vai e descansa, pois noite passada não estava nada bem, lembra? Dorme bem e de manhã volta. Mari precisa dormir em um lugar melhor também, não acha? - Consegui convencê-la.
--Eu vou também, Filha. Sou uma senhora afinal... né. Depois conversamos! --Nos despedimos e minha Mãe as levou para meu apartamento.
''4:46'' marcava o relógio, só então lembrei do Leo e Breno. Como já estava muito tarde só mandei uma mensagem. Acordei com uma enfermeira sorrindente me chamando às 08:03. Me informou que se eu desejasse, poderia ir ver Raíra (a distância) e claro que eu quis, né. Rita (a enfermeira) me guiou até a UTI.. acho. (Só para observação pós cirúrgica), Yaya ressonava e só pediu para não tocar na paciente.
Me aproximei com o coração parecendo que ia saltar para fora do peito. Acariciei aquele rosto agora meio pálido, mas calmo. Pele macia.. Não resisti, acabei me selando nossos lábios. Infelizmente o Dr. Sérgio chegou na hora errada e pediu para eu me retirar.
Rita me informou onde ficava a lanchonete, mas eu não estava com nem um pouco de fome. Eram 9:05 quando liguei para casa, elas tinham acabado de acordar e logo estariam aqui. Liguei para Leo/Breno que já estavam a caminho. Eles são assim quando algo acontece não conseguem se manter distantes, mesmo Breno sendo "Meio" chato.
Tentei pensar em tudo, menos nos últimos acontecimentos ou eu iria enlouquecer.. mais.
***
Leo havia feito um acordo com alguns amigos seguranças confiáveis, chegaram 15 minutos depois dos meninos. Eram quatro, todos ficariam "a paisana", dois no hospital, outro no andar do meu apartamento e um ficaria nos seguindo a distância, eeste trabalhava com equipamento de segurança, espalhou câmeras pelo prédio e arredores de onde morávamos.
Era 9:47 quando Nina e minha Mãe chegaram.
--Onde está Mari? - Perguntei confusa.
--Contratei uma Babá.. - Falou minha Mãe sorrindo. --Carmen.
--Que Carmen? - Leo/Breno e eu perguntamos espantados.
--A Carmen 'Mo', sua prima e vizinha. Vocês são super amigas. Lembram? --Falou minha Mãe.
--Mas ela estava viajando quando perguntei na recepção, assim que voltei. Nem atendia o celular.
--Aaaahh.. A louca da Carmen! - Falou Leo.
--Deixaram ela com uma criança de verdade? --Indagou Breno sorridente.
--Agora vocês me deixaram preocupada! - Nina exclamou arregalando os olhos.
--Não se preocupe, minha querida. Carmen é meio 'não maternal', mas é muito responsável. - Falou Dona Yasmin a acalmando.
--Quando ela chegou? --Perguntei.
--Cerca de 5:30. Foi chegando do nada e te xingando bastante. Quase morri de susto. -Contou Nina. Ela tinha grandes olheiras, no entanto continuava com um sorrisão no rosto. Tenho certeza que não dormiu. - Contamos um resumão da história toda e ela aceitou olhar Mari a pedido de Dona Yasmin, mas você vai ter que retribuir esse favor. Apenas você, segundo Carmen.
Carmen tem a personalidade bem forte. Tente ligar para ela, mas só dava caixa postal. Ela deve ter escutado o recado que deixei, se espantado e voltou me xingando o caminho inteiro.
--E como Raíra está? Teve mais informações? - Indagou Dona Yasmin.
--Está fora de perigo, mas continua em observação na UTI. Só poderá receber visitas quando for para o quarto. Acho que só por causa de um pequeno incidente. --Falei com cara de anjo. (Tentei, né)
--Que incidente? - Perguntaram em coro.
--Bom.. eu.. a beijei.. o médico viu e me colocou para fora.
--Micaella, ela é sua irmã! - Repreendeu-me Breno.
--É que.. --Suspirei. --É muito estranho! Não consigo acreditar.. muito menos resistir a ela. - Leo veio me abraçar. Pairou um silêncio horrível no ambiente por quase dez minutos.
--Quem vai comigo até a padaria? - Disse Mamãe para quebrar o silêncio. Nina e Breno se prontificaram, Leo permaneceu comigo.
--Ai, amiga.. Nem dá pra acreditar.
--Que foi, Leo?
--Tudo isso, ué. - Falou fazendo gestos.
--Isso o que, Leo? Toda essa história? Realm..
--Também. Mas me referia a essa sua cara amassada, abatida, essas suas olheiras, esses olhos vermelhos, cabelo despenteado, roupa amarrotada. Nunca te vi tão.. destruida, né, Gatã. Aff! - Disse fazendo muitos gestos afetados, acabei rindo.
--Credo, Leo. Alivia vai. - Ele riu.
--Deveria ir pra casa, tomar um banho e se arrumar bem. Assim quando a sua Deusa Índigena acordar ficar de queixo caído, mas por admiração/desejo e não por susto. - Sabia que ele tinha certa razão. Conversamos rindo até os outros chegarem, peguei um pão de queijo antes de seguir os conselhos de Leo.
***
Sai pelos fundos do hospital, pois era mais prático. Chegando na rua do condominio, vi alguns jornalistas na entrada (por essa eu não esperava. Pensei que Frank abafaria o caso todo), como eles não conhecem o carro do Leo entrei sem ter problemas. Subi rezando para que Carmen não tivesse largado Mari brincando sozinha e colocado fogo em tudo. Adentrei pela sala e tive uma surpresa.
Meu apartamento estava limpíssimo, arrumado e nem sinal das duas. Fui em cada canto e nada. Comecei a entrar em pânico. --''Onde será que a doida da minha prima levou a Mari?'' Imaginei. Então, ouvi risos abafados vindo do meu quarto e fui até lá.
Carmen estava com uma saia risca de giz e uma camisa perolada por dentro, deitada de bruços no chão, descalça e brincando de boneca com a Mari. Uma cena raríssima (Inacreditável) posso dizer.
--Se alguém me contasse que te viu assim, eu jamais acreditaria! - Falei dando um susto nelas que estavam tri concentradas.
--Acabei agindo sem pensar. E Mari é uma criança.. Digamos que 'surportável'. - Falou se levantando e vindo em minha direção.
--Deveria agir mais assim.. --Sorri pulando nela. -- Que saudades de ti, Guria. - Falei no meio do abraço.
--Eu também estava morrendo de saudades. Mas achei que nunca mais te veria..
--Nem me fale, Car. Por onde andou? --Falei quando nos soltamos.
--Viajei para NYC logo após seu enterro. Pretendia me mudar para lá, voltar a cursar medicina e vender meu apartamento daqui.
--Sabia que não conseguiria viver aqui sem mim. - Brinquei. Carmen me mostrou a língua. --Bom dia, Mari! Essa bruxa te tratou muito mal? --Provoquei mais um pouco, ela riu.
--Não, tia Mika! Ela é legal, mas não gosta que chame de tia, então chamo de Caca. Aaah.. Bom dia! - Falou sorrindo.
--Essa Caca é meio chatinha para essas coisas mesmo, Mari! Um dia ela se ajeita. Já tomou café? - Mari assentiu, me dando um abraço e pedindo para ver tv, deixei e lá foi a pequena guria toda saltitante.
Ficou um silêncio entre nós, Carmen me olhava com uma expressão que eu conheço bem.
--Pergunta logo e para de fazer essa cara! - "Ordenei".
--Fiquei sabendo o que aconteceu. Bom, um breve resumo na verdade. Tia Yasmin e a mãe da Mariane me contaram algumas poucas coisas..
--E.. - Fiz um gesto para ela prosseguir.
--.. está apaixonada por uma selvagem que se diz sua irmã.. mas, já até deram umas coladas no velcro. --Fechei a cara. --Nossa hein, Mih, nem sua irmã você perdoa! - Carmen falou séria e depois caiu na gargalhada. Sabia que ela me daria o troco pela provocação.
--Em primeiro lugar Raíra não é uma selvagem! --Esbravejei irritada. --E em segundo, ficamos sim e não foi nada além de beijos. In..Felizmente. --Expliquei mais calma. --E terceiro que.. nem imaginava que somos irmãs. - Falei com uma mistura de raiva e tristeza por lembrar de Yaya como irmã e do modo que Carmen se referiu a ela.
--Me desculpa, Mih! Mas você sabe, tenho que destilar um pouco do meu veneno. Nunca vi seus olhos tão tristinhos assim! Pelo jeito essa não é só mais uma namorada, né?
--Eu a Amo de verdade, Car. Me apaixonei na primeira vez que a vi, ouvi.. Não pude evitar, ela é perfeita demais.. pra mim. Mas até nisso meu pai interferiu, mesmo nem imaginando que aconteceria.. nem imagina.
--Sabe que não acredito nessas bobagens de "amor a primeira vista", "não mandamos no coração", etc, etc, etc.. Isso jamais aconteceria se fosse comigo. No entanto, você sempre teve suas paixonites, mas nunca esse brilho no olhar quando falava de alguém nem nunca disse que amava assim, admito. Mas, Mih, vocês nem foram criadas juntas nem sabiam dessa história maluca. Vai ser feliz! --Falou despojada.
Tudo que Carmen falou é de fato verdade. Ela é uma bela ruiva, olhos cor de avelã, pouco mais velha que eu, bem mais alta que eu (1,75). Tem um estilo elegante, geralmente, tirando quando quer irritar a mãe dela. Tem a personalidade forte, muito forte. Se diz "hétero modernista", mas eu discordo do "hétero". Tem muitos "poréns" nessa história. Ela nunca se apaixonou nem ficou com alguém por mais de 5 meses, já fez estragos em muitos corações.
--Tenho esperanças que um dia tu vai se apaixonar, cas..
--Não me rogue pragas, Micaella! --Me cortou irritada. --Agora vai tomar um banho para tirar essa cara inchada e passar uma maquiagem para esconder essas olheiras. Vou ir trocar de roupa.. --Saiu irritada.
Adoro o jeito da Carmen e do Leo, são sempre sinceros comigo, às vezes até demais. Somos melhores amigas desde de pequenas. Já fizemos muita bobagem juntas, mas fica para outra história.
Fui tomar um banho e me arrumar para ir ver minha Índia. Mas como será que ela vai me tratar depois disso tudo? E se Raíra não falar mais comigo? Ou quiser voltar e reconstruir a casa dela na mata? Não quero que Yaya me trate como irmã nem como amiga.. nem desconhecida.. Não a quero só como amiga, muito menos como minha irmãzinha mais nova.
Terminei o banho, coloquei uma calça jeans básica, camiseta, casaquinho, saltinho básico e uma maquiagem leve. Deixei a juba solta.
Fui pra cozinha onde Carmen e Mari me esperavam, já arrumadas também. Carmen estava com calça jeans skinny rasgada, regata branca com estampa de caveira, uma camisa xadrez vermelha e allstar da mesma cor. Com os longos cabelos vermelhos soltos e um óculos escuro tipo aviador.
--Tu parece uma adolescente desse jeito. Parece gêmea da Ale ao invés do Juninho. - Provoquei. Alejandra Rosalina e Fernando Esteban Junior (Juninho) eram irmãos (gêmeos) mais novos de Carmen.
--Não enche meu saco, Micaella. Até porque eu não tenho um. Nem fale mal do meu look "rebel". E mais.. fico linda e gostosa com qualquer roupa. - Disse rindo.
--Admiro sua humildade. Tu é linda mesmo, Car. Não vou falar mal desse teu estilo até porque sua mãe já faz isso. Quando ela chega?
--Nem me fale, Mih. O voô dela chega em menos de duas horas, vou buscá-la mais tarde.. --Me olhou divertida. --Ela sempre arruma um jeito de criticar algo. E tu sabe que adoro provocar, né? --Tia Yngrid (irmã mais velha da minha mãe) sempre me criticava também, ainda mais pela minha sexualidade e cabelo "desarrumado" (como ela chama cabelo cacheado. --Já espero ouvir o "não pode se vestir assim, Carmen! Já tem 30 anos, filha de alguém tão importante como seu pai e blá, bl..
--...vamos ver minha Dinda que tá dodói ou não? - Interrompeu uma ansiosa Mari. --Caca, sabia que a Tia Mika beijou a minha Dinda.. na boca. - Falou com uma expressão divertida. Gargalhamos.
. . .
Fim do capítulo
Continua...
O que acharam de Carmen?
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