Se o tempo permitir, amanhã tem mais. Grata pelas leituras! No próximo capítulo, emoções fortes pra nossa protagonista, Deus é mais! kkkkk
Capitulo 14: Cupom de desconto
Catarina sentiu um cheiro bom emanando de um lugar desconhecido. Não ousava abrir os olhos ainda, porém sentia que já era dia. Havia dormido muito mal, cheia de tensão, mas agora uma sensação de paz a invadia. Talvez estivesse meio adormecida, pois só foi notar que sua barriga estava pesada ao se preparar para levantar. Era o braço de Érika.
Abriu os olhos e identificou de onde vinha o cheiro gostoso, eram os cabelos dela, espalhados displicentemente pelos travesseiros. Seus rostos estavam muito próximos, Érika deveria se mexer bastante durante a noite para estar naquela posição. O lençol estava no chão e a blusa que ela usava não cobria a parte de baixo de seu corpo, porém aquela mesma peça cobria boa parte das coxas de Cate.
O descuido de Érika, totalmente descoberta do lençol, revelou algo que Catarina nunca tinha reparado em outra mulher, nem quando ela e Audrey se trocavam juntas, nem mesmo no vestiário da escola. Não sabia para onde deveria olhar, enrubesceu na hora. Foi aí que aconteceu mais uma novidade no turbilhão que estava sua vida ultimamente. Esqueceu como se respira, suou, e finalmente sentiu algo molhado entre as pernas, vindo de sua parte íntima. Pensou ter feito xixi nas calças e o desespero bateu forte. Temendo acordar Érika, retirou o braço de cima da barriga, pegou o lençol caído, cobriu-a e correu ao banheiro, desejando que o cômodo a salvasse do vexame. A constatação que seguiu assustou a adolescente:
- Isso é muito pegajoso pra ser xixi... Ai, não... Será que eu... Puta merd*!
Do banheiro ouviu um celular vibrando, não poderia ser o seu, ela o havia desligado para não correr o risco de a visita dar de cara com uma chamada de vídeo de sua mãe, mais viva do que nunca. Colou o ouvido à porta, percebendo o leve ranger da cama sinalizar que Érika havia acordado e atendia uma ligação:
- Bom dia, amor. Tô sim, tudo certo. Viajou, né? Tem dia pra voltar? Entendo. Não, não se preocupa com isso, tô ótima! Te ligo depois então, beijo!
Primeiro, sentiu confusão, depois nojo de si mesma. Do outro lado da porta, estava a realidade, nua e crua, e ela ali, brincando de ser amiga. Não se sentia muito diferente do pai. Não estaria fazendo a mesma coisa que ele? Enganando Érika e Débora ao mesmo tempo? E ainda por cima não fazia ideia do que significam aquelas sensações, se eram culpa, inveja, ciúmes, vislumbre ou...
- Catarina? Está no banheiro?
- Aham.
- Vou te esperar para te dar tchau, mas preciso correr ou chegarei muito tarde no meu trabalho! Eu deveria ter acordado mais cedo, esqueci a distância!
- Puxa, não precisa me esperar então! Corra! - Alívio imediato.
- Faço questão! Ei, acho que dá tempo tomarmos café, pelo menos...
- As mulheres que nos ajudam só chegam daqui meia hora.
- Eu faço!
- Você vai se atrasar!
- É, tem razão...
- Pode se trocar no outro banheiro enquanto uso este, já saio para nos despedirmos!
- Certo!
Quando saiu do banheiro, Catarina encontrou Érika já pronta para deixar a casa. Notou que ela deixou a blusa que usara para dormir dobrada em cima da cama.
- Quer que eu lave a blusa para te devolver depois?
- Não!!! - Gritou, sem querer - Quer dizer... não se preocupa com isso.
- Ahahah, tá bom, você quem sabe. Ei, gostei muito de ter passado esse tempo com você, obrigada por ter me convidado! Espero não ter sido muito intrometida...
- Você... não foi...
- Olha, vou te contar um segredo. Fazia tempo que não me sentia tão bem perto de outra pessoa, eu sei... é doido, não é? É só que... pareceu tão natural pra mim dormir aqui, te fazer companhia... Mas você parece incomodada de certo modo, me desculpa não ter percebido antes? Foi tudo muito rápido pra você?
- Foi no tempo que eu permiti... eu... também gostei muito de ter você aqui.
- Vou embora super feliz agora! Nem imagina o quanto! Quem sabe outro dia podemos ir ao....
- Dorme aqui hoje de novo... - Cate não sincronizava mais seus pensamentos com suas atitudes.
- Eu adoraria!
Érika saiu, levando Milk e um pouco de Catarina pela gigantesca porta de madeira do sobrado. Agora, bastava que a adolescente percebesse o óbvio.
***
Na escola, Audrey caminhava de um lado a outro em volta dos banquinhos da cantina, balançando a cabeça negativamente entre os passos:
- Você tem meleca na cabeça? Ficar curiosa pra conhecer mais a Érika eu entendo, mas pensei que era pra você ganhar mais confiança e mandar a real pra ela de uma vez. Ao invés disso vocês estão ficando amigas, e o tempo está passando sem que fale nada, entendi certo?
- Aquela mulher carrega um peso enorme em suas costas. Eu só não quero aumentá-lo.
- E pra isso você a convida para dormir na sua casa pela segunda noite consecutiva. Palmas!
- Você poderia vir também...
- Quê? Tô fora! Eu não sei guardar segredo, ela iria sair de lá sabendo que sua mãe ressuscitou, graças a Deus, e está neste exato momento passeando por Fernando de Noronha!
- É absurdo o que estou fazendo, eu sei. Não estou me entendendo mais, desde o dia em que a visitei tem acontecido essas coisas estranhas comigo. Hoje de manhã, por exemplo, saí do banheiro convicta em dar um perdido nela, não vê-la mais até o senhor Rodolfo voltar dessa viagem estapafúrdia e não ter mais como fugir. Quando vi, estava chamando para que dormisse comigo de novo...
- Dormisse contigo? Ela dormiu no seu quarto? Ué, a tua casa tem uns três quartos de hóspedes...
- Ela não quis me deixar sozinha no meu quarto...
- Quanto mais você fala mais esquisito fica, ela é praticamente uma desconhecida, Cate!
- Pois parece que nos conhecemos há décadas.
- Cate, eu acho que você está...
- Ei, meninas! Vamos jogar queimada contra a sua turma, Audrey! Vai começar agora, querem jogar? - Lá estava Pedro Henrique com uma bola ressecada nas mãos.
- Pedrinho, eu sou péssima em queimada, poxa!
- É só pra brincar, Catarina! Não vale nenhum troféu, vem!
- É, vamos, Cate! Pode ser que uma bolada bem dada regule seus miolos de vez! - Audrey estava implacável.
Apesar de não ser nenhum campeonato, a arquibancada estava cheia de outros alunos que esperavam para assistir à partida. Num canto, meio desinteressada, sempre comendo algo suspeito, Raga aparecia como alguém fora daquele contexto. Ninguém ousava tentar chegar perto dela.
A desagradável surpresa foi encontrar Richardson parado no meio da quadra com uma bola de futebol abaixo do pé direito:
- Podem ir voltando, hoje é dia de futebol!
- É? E cadê o resto do time, idiota?
- Tão vindo aí, Avril! Agora saiam antes que eu depene o anãozinho aqui!
- Vocês têm o campo disponível, Richardson, você só quer infernizar a gente!
- Mas hoje queremos jogar futsal! Os moleques do primeiro estão com o campo!
- Não pode fazer isso! Na tabela de horários não tem futsal pra hoje! É queimada ou basquete! - Catarina conferia a tabela em seu celular.
- Quero ver quem vai me tirar daqui eu e o time, chega mais rapaziada!
- Eu vou! Quer ganhar uma suspensão? A quadra é pra queimada hoje e o pessoal do terceiro B solicitou primeiro. - A coordenadora pareceu chegar por teletransporte.
- Ah, merd*! Quem chamou a Elizete? Vai se ver comigo depois, tá ouvindo? X9!
- Com quem ele está falando? - Audrey fez a pergunta que todos queriam.
- Com as vozes da cabeça atormentada dele. Vamos começar? Acho que preciso daquela bolada na cabeça pra regular minhas ideias!
Catarina era realmente terrível em esportes, além de ser a primeira eliminada, levou uma bolada tão forte que rachou a parte superior do lábio. Ia continuar na partida, mas o corte sangrava bastante, aos cinco minutos de jogo resolveu parar e ir até a enfermaria, insistindo que estava bem, para que Audrey e Pedro Henrique terminassem o jogo e não se preocupassem tanto.
O intervalo já estava acabando, mas a enfermeira recomendou que Cate descansasse um pouco antes de voltar para as últimas aulas. O remédio que tomara deu sono e ela acabou cochilando. Acordou já na hora de ir para casa, teria que pegar as anotações de Audrey, elas tinham muitas aulas em comum naquele dia, mesmo sendo de turmas diferentes. Ia saindo quando viu um bilhete em cima da mesinha próxima à sua cama, juntamente a um cupom de desconto de uma sorveteria.
Acho que com esse corte você vai ter trabalho para comer alimentos sólidos, vai precisar tomar sorvete mais do que imagina. Fica bem.
- Quem deixou isso aqui? Deve ter sido a Audy! Uau, 50 por cento de desconto, valeu!
Notou também que trouxeram sua bolsa até a enfermaria, logo aprontou-se e foi ao bicicletário, à noite encontraria Érika novamente e precisava chegar em casa para o ritual de espera e ansiedade que já se formava em seu peito.
Fim do capítulo
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