Espero que gostem e comentem ;D
Capitulo 15: Um beijo de verdade!
- No três você abre a página, vamos lá: um, dois...
- Três! Abri!
Catarina e Érika estavam frente ao computador, compartilhando a mesma curiosidade após o jantar. A gerente convencera a jovem que seria menos torturante conferir, pelo menos, o gabarito do vestibular, ao invés de continuar sofrendo por antecipação como era perceptível que estava acontecendo. Logo, o tique nervoso e a expressão descontente de Catarina revelaram que os resultados realmente não seriam positivos.
- Não acertei nem metade... nem metade!
- Ei, mas você pode tentar de novo, não é?
- Posso, ano que vem... Vou perder mais um ano!
- No fim do ano não tem exame ANUFEP? Não tem interesse na federal?
- Não, quero prestar apenas pra UNIFORTE, longa história.
- Ah, mas sabe que eu acho que você amaria estudar na federal?
- Por que acha isso?
- Porque consigo te ver andando pelos corredores esverdeados, participando de congressos e debates, acariciando os gatinhos que moram no campus, liderando o sindicato estudantil e os programas de bolsa, grupos de estudo...
- Tudo isso? Não é pra tanto, não sou tão proativa como pensa. Além do mais, eu poderia fazer tudo isso na universidade particular.
- Mas não poderia me encontrar depois da última aula da manhã e almoçar comigo no restaurante universitário enquanto eu me queixo do meu trabalho de conclusão de curso. Além do mais, que eu saiba, a população de gatinhos abandonados querendo um carinho é nula lá na UNIFORTE!
- Nossa, acho que a parte dos gatinhos está me convencendo!
- Ah, é? Só os bichanos? Poxa!
-Tá me dizendo que vai voltar pro seu curso?
- Assim que eu puder. E seria incrível ser sua veterana...
- Então temos um acordo!
- Oi?
- Ano que vem presto para as duas, UNIFORTE e federal. Se eu passar você volta!
- Gostaria muito de fazer esse acordo contigo, mas não dá. Não posso me dar ao luxo de fazer previsões, planos a longo prazo. Mas sério, você deveria tentar sim, aquela universidade é a sua cara.
- E o que define a minha cara, afinal?
- Vocês têm muito dinheiro, mas a sua cara é não querer usá-lo pra conseguir seus próprios êxitos. A sua cara é um lugar onde não precise de grana pra entrar, nem pra continuar, onde as pessoas não te julgam por isso também. Tem mais, mas tenho medo de ser piegas, ou egocêntrica...
- Diga, por favor...
- Lá eu fui muito, muito feliz. Ver alguém que eu gosto indo pra lá me dá a sensação de que a pessoa sentirá o mesmo.
- Você gosta mesmo de mim?
- Tô gostando. Muito.
- Eu também, de você...
- Isso é bom...
Érika abriu um pequeno sorriso, apoiando as mãos nos ombros de Catarina, que estava sentada na cadeira da escrivaninha. Rapidamente, a filha de Rodolfo apoiou o queixo na mão esquerda da mais velha, enquanto entrelaçava os dedos da outra mão aos seus. Para Catarina, aquele carinho era algo novo, lhe dava uma sensação indescritível, uma vontade de nunca mais sair dali, de congelar o tempo. Fechou os olhos, sentindo o Good Girl invadir suas narinas. Ela queria mais, queria um beijo de Érika, queria beijá-la assim que se virasse daquela cadeira! Um beijo de verdade, de língua, com as mãos em volta da cintura, do pescoço, do corpo todo. Soltou-se do carinho, altamente envergonhada:
- Valeu pelo apoio, eu... é... eu...
- Tá bem? Nossa, como está vermelha! Será alergia a alguma coisa?
- Alergia, sim! Talvez! Vou ao banheiro, lavar o rosto! Agora!
- Espera, eu te ajudo! Ei, você não me disse o que houve ainda!
- O que houve quando? A... agora?
- Com o seu lábio! Esse corte...
- Bolada!
- Como?
- Levei uma bolada! Bem lembrado, deve ter irritado, deixa que vou sozinha ao banheiro!
-Eii! Ah, já foi! Ahahah, que coisa! O que tem a ver o corte com a irritação na pele?
Já no outro cômodo, Catarina estava quase a ponto de chorar. Vontade de beijar outra mulher. Não entendia, nunca sentiu isso. Os beijinhos que trocara até então foram nos primos, de brincadeira, além de outros dois garotos, um no sétimo ano e outro no oitavo, ainda no fundamental. No ensino médio, via Audrey de rolo com alguns colegas, principalmente nas festas de aniversário ou nas organizadas pela escola, mas ela nunca se interessava por nenhum.
Odiava as brincadeiras de Richardson, principalmente quando dava em cima dela e inventava aquelas histórias de vestiário, mas ele não contava como ser humano para ela. Tentou lembrar se teve algum interesse em qualquer garoto desde o início do médio, não conseguiu. Seu pensamento estava uma bagunça: "Será que eu sou lésbica? Mas eu também não me interessei por nenhuma garota... merd*! Por que tinha que ser justo a Érika? Podia ser por uma colega de sala, do curso de inglês, por uma professora, até! A amante do meu pai... não pode ser, porr*!"
Não poderia ficar se escondendo no banheiro sempre que algo acontecesse, mas era a fuga mais rápida que conseguia imaginar. Se saísse chorando dali, não saberia dizer se conseguiria inventar alguma desculpa para a solícita visitante. Esperou um tempo até que as emoções apaziguassem, lavou o rosto e conferiu se as mãos trêmulas seriam perceptíveis. O corte no lábio inchara bastante e começou a latejar de dor pelo contato com a toalha de rosto, mas sentia-se controlada o suficiente para sair. A tranquilidade só durou alguns minutos, pois logo sentiu a espinha gelar, havia esquecido o celular perto do computador e já estava no horário de Débora entrar em contato. Se Érika percebesse ou visualizasse o nome "mãe" na tela, não daria para prever o que aconteceria.
- Você está bem? Demorou tanto no banheiro e saiu tão afobada!
- Tô bem, não se preocupa!
- Isso tá inchado, hein? Dói?
- Está doendo um pouquinho...
- Você limpou direito? Tomou algum remédio pra aliviar a dor?
- Na enfermaria da escola.
- Então já faz muito tempo, me deixe cuidar desse corte. Vocês têm uma farmacinha aqui?
- Na área de serviço, um armário em cima da máquina de lavar. Deve ter um antisséptico, algumas pomadas e o analgésico que sou acostumada a tomar... mas deixe que eu...
- Vou lá buscar, relaxe!
- Como se eu pudesse... - Disse Catarina ao ver Érika saindo do quarto. Aproveitou o momento sozinha para despistar a mãe, alegando cansaço e falta de disposição para uma chamada de vídeo. Débora respondeu prontamente, confessando estarem igualmente cansados, ela e Rodolfo. Com um dos problemas resolvido, Cate voltou sua preocupação para o alvo de seu desconforto. Tinha medo de sentir vontade de beijá-la de novo, ou de acontecer outro "acidente" molhado como naquela manhã. Tentou se ocupar, desligando o computador, fechando a página do gabarito fracassado. De repente, o fiasco do vestibular passou a ser uma questão muito pequena, frente aos sentimentos conflituosos que começava a alimentar por Érika.
Abriu a bolsa da escola para conferir o material do dia seguinte e a provável matéria que teria perdido por causa da bolada na quadra e acabou encontrando o cupom misterioso que achara em cima da mesinha da enfermaria. A sorveteira não era muito distante dali, poderia chamar Érika, talvez num local público as coisas melhorassem.
- Aqui, trouxe o antisséptico, a pomada e o analgésico. Fique parada pra eu desinfectar esse corte.
- Espera, olha aqui. Você conhece essa sorveteria? Ganhei este cupom de desconto de lá, quer ir agora?
- Conheço! É uma das pioneiras em sorvete vegano, e é bem gostoso, por sinal, parece o comum! Que golpe baixo, sabe que amo sorvete!
- Pois é, deixa pra limpar quando a gente voltar, não adianta fazer agora...
- Certo, mas acho bom você tomar o analgésico, pelo menos, o que acha?
- Claro, só que você esqueceu da água!
- Putz! Que cabeça, vou... Ah, meu celular está tocando, perdão...
- Atende, eu vou tomar o remédio e saímos na sequência!
- Tá, um minuto. Alô?
Triunfante pela sua ideia, Catarina agradecia mentalmente pelo cupom salvador. Se foi obra de Audrey, ela nem imaginava o quanto havia sido útil. Terminava de beber o último gole de água quando Érika chegou, parecendo abalada.
- Nossa, o que rolou? Você está pálida!
- Cate, desculpa, eu preciso ir agora.
- O que aconteceu?
- Nada, eu só tenho que ir, urgente!
- Érika, tá na cara que algo aconteceu! A gente ia sair e você desceu dessa forma, branca como um papel, apressada. Me conta, por favor.
- Foi o meu pai. Ele passou mal. Preciso ir ao hospital! Depois a gente conversa!
- Não posso deixar você ir assim... Vou contigo!
- O quê? Não! O clima é pesado, não quero que você...
- Por favor, me deixe ir! Por favor!
- Cate, mas...
- Por favor! Não quero te deixar só, você também não quis me deixar aqui sozinha. Pega o carro do meu pai e vamos.
- O carro do Rodolfo? Tá maluca? Se eu bater com esse carro, nunca...
- Prefere perder tempo esperando carro de aplicativo? Eu confio em você!
- Catarina... O que estou fazendo, meu Deus? Vamos!
Partiram, corações mais unidos do que nunca, infelizmente não pelos motivos que Cate esperava.
Fim do capítulo
Sim, o título deste capítulo foi pra brincar um pouquinho kkkkkk
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]