Os dias foram passando e Carla não dava indícios que iria acordar, seu coma era profundo. Maria Liz todo dia estava no hospital e tinha dias que dormia lá. Não se cansava de conversar, cantar ou acariciar o rosto de Carla. Além disso, sempre mandava mensagens para Melissa e Andressa, tudo indicava que aos poucos Mel estava se adaptando ao novo país.

   Magno a cada dia se sentia mais culpado pelo acidente, a ponto de esquecer sua magoa criada por Amanda. Não conversava com a filha, mas também não havia tocado no assunto dela ir embora. Barbara tentava de todas as formas ajudar o marido, mas estava difícil. Magno tentou ir ao hospital algumas vezes, mas Barbara o convencia do contrário, ir ao hospital só iria piorar sua culpa.

***

- Nem sei como agradecer vocês, é muito importante para mim – Amanda estava feliz em ver os amigos ali na sua primeira ultra.

- Estou animado, é um prazer – Gabriel falou e levou uma olhada de Brenda. – Que?

- Nada, só estou surpresa com tanta empolgação, você mal conhece ela.

- Ciúmes Brenda? – Gabriel provocou.

- Me erra garoto.

- Vocês dois juntos são engraçados – Amanda sorria da cena. – Alguma notícia da Melissa? Não tem um dia em que eu não me sinta culpada por tudo.

- Não vamos falar disso – Brenda cortou.

- Pode entrar Amanda – A recepcionista falou para a sorte de todos.

- Ainda não iremos conseguir ver o sex* do bebê, mas ao que parece tudo está muito bem – A médica falou enquanto conduzia a consulta. – Parabéns Amanda e ao papai aí. – Olhou para Gabriel.

- Não doutora, ele é apenas um amigo. – Falou sem jeito. A médica ficou sem graça, mas soube sair perfeitamente da situação. Depois de alguns minutos os três saíram do consultório.

- Tá tudo bem? Ficou calada o tempo todo. – Amanda preocupada perguntou para Brenda.

- Não é nada, seu bebê vai ser lindo.

- Meninas, preciso ir, daqui a pouco tenho que ir trabalhar. – Gabriel falou se despedindo.

- Espera...- Amanda pegou em seu braço. – Desculpa pelo que a médica falou e muito obrigada por tudo, sei que me ajudou quando mais precisei e sei que aceitou eu e o bebê ficarmos na sua casa. Nem sei como agradecer. Você é incrível – Amanda falou sincera

- Não precisa agradecer Amanda, tenho certeza que vamos ser bons amigos. Nós três, apesar de tudo que aconteceu, um novo futuro nos espera. Agora tenho mesmo que ir, beijo meninas – Falou e saiu quase correndo.

- Te deixo em casa – Brenda olhou para Amanda.

***

- Senhora Maria, tem um homem insistente na recepção querendo falar com a senhora. – Uma das enfermeiras entrou no quarto dando o aviso. Não demorou muito para Liz ir até a recepção.

- O que faz aqui? – Liz falou vendo o rosto abatido de Magno que havia praticamente escapado das vistas de Barbara para poder estar ali.

- Preciso saber como ela está, a culpa está me matando. – Falava com sofrimento.

- Olha – Liz falou séria – Eu pensei muito e não adianta gastar minhas energias te culpando. Viva sua vida. – Foi direta.

- Não é fácil assim, posso ver ela?

- Ela está em coma – Disse por fim e Magno não sabia o que dizer, pensava que a mulher estava acordada e se recuperando. – Mas eu vou deixar você ver ela, espero que eu não me arrependa disso e para falar a verdade nem sei o que me deu. – Magno se surpreendeu.

- Você é uma pessoa boa – Olhou com agradecimento para Liz.

   A visita foi praticamente relâmpago e Liz acompanhou tudo de perto, não entendeu quando Magno olhou para Carla com certo espanto e ficou surpresa quando o homem saiu praticamente correndo do quarto após agradecer mais uma vez.

***

   Os dias foram passando se transformando em anos. Carla continuava em coma e Liz continuava recusando assinar os documentos para desligamento dos aparelhos. Amanda havia dado à luz a um menino onde todos conheciam por Gael, o garotinho tinha quatro anos, mas parecia um senhor de 80 anos tamanha era sua esperteza. Os dois moravam com Gabriel e eram visitados constantemente por Amanda que era a madrinha do rapazinho junto com Gabriel que era padrinho.

Gabriel

   Eu já estava ficando louco, não sabia mais o que fazer. Sempre que eu tentava me declarar para Amanda, algo acontecia. Já estava a ponto de desistir e continuar como um bom amigo, mas sempre que eu via ela e Gael juntos algo em mim me fazia mudar de ideia e lá estava eu tentando de novo. Fazia um tempão que compartilhávamos tudo, e apesar dela não dar nenhum sinal de que poderia acontecer algo entre a gente, algo me dizia que poderia dar certo. Se estava sendo uma novela para me declarar, imagine para contar o resto... Eu iria chegar aos 90 anos nessa passada lenta.

- Não foi trabalhar hoje? – Amanda entrou em casa me vendo sentado no sofá, graças aos céus que ela não conseguia ver gotas de suor descendo pelo meu rosto, o nervosismo já tinha tomado conta de tudo.

- Me dei uma folga hoje – Sorri – Como foi deixar ele no primeiro dia? – Amanda a dias estava ansiosa pelo primeiro dia de aula do filho.

- Triste, sofrido, fiquei ao léu – Ela fez aquele drama que eu achava muito fofo. – Por falar em folga, Brenda não vai te encher por isso?

- Claro que não, somos sócios. – Sorri esperançoso, aquele era o momento certo. – Quer dançar? – Não sei de onde veio esse pedido idiota. Amanda ficou me olhando com uma cara de quem não estava entendendo nada. Me senti um imbecil.

- Por que não. – Ela respondeu e parece que eu relaxei todos os músculos do meu corpo. Por essa eu não esperava. Quase derrubei meu celular de tanto nervoso, mas consegui colocar uma música. Me aproximei colocando as minhas mãos na cintura dela e que mulher cheirosa meu Senhor.

All I want is nothing more

To hear you knocking at my door

'Cause if I could see your face once more

I could die as a happy man, I'm sure

When you said your last goodbye

I died a little bit inside

I lay in tears in bed all night

Alone, without you by my side

   Amanda colocou a cabeça em meu peito e parecia que o mundo poderia acabar ali que eu seria a pessoa mais feliz do mundo.

But if you loved me

Why did you leave me?

Take my body

Take my body

All I want is

And all I need is

To find somebody

I'll find somebody

- Você é tão linda – Falei baixinho e o olhar dela encarou o meu. Amanda tinha um sorriso lindo e ficava mais linda quando seu rosto ficava ruborizado.

- Fala sério, você não foi hoje para ficar aqui dançando? – Se tinha uma definição de banho de água fria, aquela cena era perfeita. Brenda tinha que aparecer e meu momento perfeito foi para bem longe de mim. Amanda se afastou sem graça.

- Precisava resolver umas coisas e essa mocinha aqui está abalada emocionalmente pelo primeiro dia de Gael na escola. – Fiz um drama, quem nunca?

- Aquele moleque safado vai se dar bem, pode ter certeza – Brenda olhou para Amanda que ficou toda derretida parecendo picolé no sol.

- Dá para agilizar minha filha, tenho coisas para fazer hoje. – Eu estava decepcionado.

- Calma anjinho. – Odiava quando Brenda me chamava daquele jeito. – Precisamos estar na empresa daqui a pouco, esqueceu nossa reunião?

- Saco de cocô de cavalo, esqueci, desculpa Amandita – Ela odiava aquele apelido.

- Simbora macho. – Falou impaciente. Fui me arrumar nas carreiras, depois nos despedimos de Amanda para sair quase que voando.

Brenda

- Desde quando você está arriado os quatro pneus por Amanda? – Percebi que peguei meu amigo de surpresa. Eu já estava sacando a tempos, mas não poderia perder aquela oportunidade. Me fiz de doida, o pobre engasgou e eu estava rindo muito por dentro.

- A única coisa que está arriada são minhas costas, tô cansado da corrida de ontem. – Que garoto esperto, mudou de assunto.

- Somos uma dupla perfeita, você entra nas competições e eu entro com a administração. Por falar nisso, temos um novo investidor, ele viu que sua popularidade está aumentando e quer colocar sua marca na Charlotte. – Eu sei, eu sei, era um nome lindo para nossa YZ 450. Com ela havíamos ganhado 2 campeonatos e estávamos nos preparando para o terceiro que com certeza seria vitória garantida.

- Você sabe que não entendo quase nada de administração, se esse investidor for bom para nossa empresa. Por mim tudo bem – Adorava aquele jeito fofo do meu amigo. Fazia anos que eu o convenci a pedir demissão do Rapadura para abrirmos uma oficina para motos, o negócio foi crescendo até que entramos nas competições onde Gabriel vinha ganhando todas, ou quase todas. Tínhamos uma equipe com o total de 5 funcionários. E não iria demorar muito para esse número crescer. Depois de alguns minutos de transito, conseguimos chegar na oficina.

- Pessoal, esse homem não é normal. Não para de falar um segundo. Parece que tem um rei na barriga. Podem entrar por favor e liberar o coitado do Marcelo. – Ava apareceu muito estressada falando para Brenda e Gabriel entrarem logo na sala de reuniões. Os amigos se entreolharam e foram em direção a sala.

   Ao entrar na sala de reuniões, Gabriel e Brenda viram o rosto de Marcelo ficar cada vez mais vermelho e aquilo não era timidez.

- Vejo que a postura de vocês não é muito apropriada. Chegar atrasado em uma reunião não indica coisas boas. – O homem se levantou com arrogância. Marcelo estava quase explodindo de tanta raiva, estava aguentando aquela criatura por quase meia hora.

- Pedimos desculpas, tivemos alguns imprevistos. Senhor? – Brenda estendeu sua mão.

- Fábio, dono de uma das melhores empresas de moda Off Road do país. – Brenda e Gabriel engoliram em seco, sabiam que a empresa Lance estava interessada, mas não esperavam que o dono em pessoa iria estar naquela reunião.

Fim do capítulo