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Contradictio por Katherine

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Palavras: 10625
Acessos: 1125   |  Postado em: 19/08/2020

"Mare insanguinato"

Contradictio

“Mare insanguinato”

 

***

Ausência total de luz. Ausência total de movimentos. Ausência total de sentimentos. Apenas, ausência...

Defina-o como vácuo, vago, lacunas, inexistência, hiatos ou, bem... É escuro, muito escuro.

Imagina-se que as profundezas dos mares seja o lugar menos conhecido dos humanos; não há luz, nem fotossínteses, só uma grande “borrão” e uma pressão atmosférica capaz de esmagar os órgãos vitais, como um simples limão, prestes a converter-se em uma singular limonada.  Todavia, existe outro lugar, tão escuro e esmagador quanto à desconhecida profundeza dos oceanos; á esse lugar dá-se o nome de “Mente”.

A Mente humana...

Não se sabe onde ela esta localizada, muito menos o emaranhado de segredos detidos nela e por ela, mas se há um fato conhecido a seu respeito é que “lá” é um lugar perigoso para estar sozinho. Certamente, não sejamos hipócritas, de todas as partes que constituem o “ser” a mente é a “comandante”, “Ela é quem você é”. Sim, há as partes boas e maravilhosas que caracterizam e enobrecem a raça humana, todavia há também as que reduzem a “raça pensante” ao pior e o que mais odioso pode haver no mundo. Entretanto, o fato que causa-nos assombro e a todos ao longo da “história sapiens” é o “desconhecido” trancafiado á mente.

Sendo assim: a Mente é um lugar perigoso para se estar e muito pior para se estar sozinho!

 

Emanuella acabava de se dar conta disso, o pavor de estar “acorrentada” á sua própria cabeça roubava o ar de seus pulmões.

A voz do desconhecido, ao qual ela conhecia muito bem, buzinava em alto e bom tom, com a pressão esmagadora da consciência, na escuridão de seu “mar interior”. Ela lutava com bravura para fugir, “nadava” com todas as forças que conseguia agrupar – desde o menor ao músculo mais robusto em seu corpo – contudo, ela não saiu do lugar.

Fleches de um pesadelo sangrento perambulavam os recantos do hiato na consciência da jovem mulher. Havia gritos, muita dor e lamuria, havia um rogo, olhos obscuros imploravam-lhe por misericórdia, todavia não houve clemência ou perdão para eles. O rubro fétido, metálico escorreu pelo chão deixava seu ardor natural nas narinas infladas, até se transformar em uma poça densa e viscosa que ia crescendo pelo piso de madeira ao ponto de engolir todo o marrom, convertendo-se em um oceano acusador. O líquido carmesim, finalmente, encontrou uma barreira e quando os olhos atentos perceberam que a “barreira”- seus próprios pés - estava sendo completamente devastado e engolido pela maré carmesim, o desespero gritou em seu peito, ela tentou dar passos afoitos para traz, no intento de fugir, contudo era muito tarde para remorsos, cantou a voz maquiavélica.

Tocada pelo pavor opressor, os olhos continuaram sua auto-inspeção, passando pelo jeans esfarrapado, camisa desgastada e maculada, até que por fim eles encontraram o que jamais buscara e foi terrível... Os azuis escuros tremeram, assim como as pálpebras e cílios longos, havia sangue lá, em suas mãos, havia sangue.

 O contraste assombroso, entre a pele naturalmente pálida e o vermelho vivo, impossibilitava a tarefa de negação.

 

“Era uma assassina!”

 

Rostos e mais rostos transitavam diante das orbes azuis, castigando a existência da mulher, todos que um dia foram vivos, mas que, graças á Katherine Emanuella Castiel, foram reduzido á memórias. Tiago, Augustos, Gonzáles e todos os outros, ao qual, diretamente ou indiretamente, morreram por escolhas ligadas á ex- policial.

 

- Pa-para, por favor... – implorou ela, levando as mãos ás orelhas, tentando interpretar os sussurros que pareciam gritar á ponto de estourar-lhe os tímpanos – P-por favor, para! – novamente ela rogou, mesmo que os soluços doloridos tentassem barrá-la.

 

 “Ele havia implorado, ele implorou, mas você estava dolorida demais para dar clemência, não foi, Emanuella?!”

 

Os murmúrios invadiam a escuridão como um enxame de abelhas, levando a tortura até a pobre mulher.

 

“Uma dúzia, talvez, ou até mais corpos se estendiam como um mar sangrento pelo ambiente – outrora tão aconchegante e elegante – totalmente devastado. As possas de sangue se misturavam uma á outra e a densidade das partículas do liquido viscoso eram quebradas apenas quando os saltos do coturno interrompiam o seu fluxo.

Os passos eram pesados, cansados... Aterrorizantes.

Eles não carregavam remorso ou culpa tudo que eles traziam consigo era a determinação e a sede pela dor.

Na verdade, tudo que ela desejava era fazer a dor parar. Contraditório, não?!

Katherine não simpatizou ou se quer voltou à face para o murmúrio de socorro que vinha de um dos homens. Quase sem vida, arrastando-se para longe da morte, implorando em desespero por piedade, mas ela apenas mirou na cabeça, entre os olhos – mais fatal impossível – e os azuis, quase prateados (cortantes como o frio) acompanhou o corpo, agora sem vida, tombar para traz uma última vez.

 

- Traidores não merecem perdão! – foi tudo o que disse, ates de seguir em seu propósito.”

 

 

“Você é como ele, uma fodida assassina!”

 

- Não, não... – os dentes brancos batiam um no outro, enquanto a mulher dizia em completo desespero – Eu não sou como ELE!!! – gritou com força.

 

“Fará com elas o mesmo que ele fez a você, Katherine, por que você é como ele. Vocês destroem tudo que tocam, tudo que um dia amaram!”

 

- Não, não, não, não... - repetiu incansavelmente, tentando proporcionar um pouco de calma aos batimentos acelerados do seu coração.

 

 “Sim, Katherine! Ele fez com a sua mãe e você fará como Iara... Ele destruiu Merida, você não fará diferente com sua família. Você tornou-se o monstro que tanto desprezou!”

 

“Entre a penumbra e as distorções sombrias do cômodo, o cano prateado do revolver reluzia aos nós dos dedos esbranquiçados, mas totalmente flagelados pelos estigmas da batalha que travara e perdera. O os olhos escuros e sem vida, carregavam a grandeza do lado vencedor e hoje, quem vencera a guerra foi o a veracidade e devastação, o ódio e a mágoa. Com dois disparos - sim ela havia mentido para ele, eram duas balas na “roleta russa” que decidiria sua sorte – o corpo pesado, marcado pelas marcas da vida sombra que escolhera para si, jazia tombado ao chão, sem qualquer resquício de vida. Ele se quer tivera tempo de sentir a vida se esvaindo, ele não teve tempo para temer.”

 

 

“Você é como ele!”

 

A acusação rodopiava a escuridão como um looping infinito e cruel, sem trégua, sem compaixão. A verdade era dolorosa demais para a jovem.

 

“Aceite Kath, aceite e não sofra mais...”

 

– Eu não sou como ele! – insistia a jovem, mesmo atormentada

 

-Kath...

 

“- Você é igualzinha a ele! – gargalhou o homem – É tão desumana e podre quanto ele, Manuzita...”

 

- Não... – o rouco parecia estrangular as cordas vocais ao sair com tremenda potencia e força.

 

- Kath? - a voz continua a chamá-la, mas agora essa se originava de fora, bem distante de onde ela estava.

 

Um pequeno feixe de luz pareceu arrastar a mulher para longe da escuridão e Emanuella deixou-se levar.

 

- Kath?! –chamou-a com voz doce outra vez, agora mais firme e real – Meu amor, está tudo bem. Foi só um pesadelo! – a loira explicou quando os azuis tempestivos encontraram-na cheios de confusão. – Isso... – incentiva ao notar o trabalho que a de cabelos platinados fazia para carregar mais ar aos pulmões – Respira! – sussurrou calmamente, afagando as costas de musculatura rija.

 

- C-como... – Emanuella ainda atordoada.

 

- Você chegou ontem de madrugada e estava em choque, então Merida pediu para me trazerem para cá o mais rápido possível! – Iara esclarece agora que a mulher estava mais calma, contudo o afago cálido á pele pálida, exposta assim por conta do tope ao qual a outra vestia, continua como um calmante á Castiel.

 

- E-Eu... – Suspirou embargada, movendo-se com certa dificuldade sobe os lençóis de linho. Apenas agora Emanuella deu-se conta que estava no quarto que vinha chamando de seu nos últimos meses – Sinto muito! – murmurou, esfregando os azuis escuros irritadiços com a luz do sol que ultrapassava as cortinas da janela.

 

- Tudo bem, meu anjo... – um sorriso singelo iluminou a face dourada e bem desenhada, revelando duas pequenas covinhas ás bochechas da loira. Para Manu era a visão do paraíso, como se um anjo resolvesse sorrir para uma miserável mulher feita ela – Estou feliz que esteja bem, isso é tudo que importa agora! – Completou Iara, passeando as pontas dos dedos quentes no rosto enrijecido e maculado. Os verdes, atentos á cada ponto de tensão dos músculos da face, a cada novo arranhão ou hematoma, assistiram com estranheza uma lágrima solitária escapar aos azuis, agora cerrados na intenção de experiênciar melhor a caricia morna.

 

- Eu realmente não te mereço... – sussurrou Kath, desprendendo total atenção á doce presença adiante.

 

- Por que diz isso, meu amor? - Indagou, não contendo o crescente sorriso confuso. Era afável aos ouvidos a tal confissão que o rouco da esposa carregava á ela.

 

O silencio durou alguns minutos, tempo suficiente para Emanuella apreciar a sensação de paz que os verdes, tracejados por pequenos pontilhados de mel, causavam em si. O estômago vazio revirou, mas não era fome, era uma reação natural, provocada por aquele sorriso gracioso e intenso que somente Iara Muller era capaz de dar.

 

“Deus, como a amava!” – suspirou Kath com dificuldade, apalpando a mão que repousava ao rosto com a sua.

 

“Um ser tão belo e amável, tão diferente de mim...” – divagava ela, cativa pelo brilho que o sol provocava aos verdes tornando-os límpidos – “Não era digna de tal mulher!” – beijou-lhe os nós dos dedos longos.

 

 

- Eu fiz muita coisa ruim, Iara... – murmurou para ela, enquanto Muller tratava de resgatar a lágrima quente de sua face pálida com a ponta do dedo – E, por algumas dessas, eu ao menos consigo me arrepender! – confessa tomada pela angustia.

 

- Isso não muda quem você é para mim, Kath! – Muller diz sincera, mas a de olhos azuis pareceu duvidar. Não necessariamente da sinceridade nas palavras da esposa, mas ela se julgava em demasia e o fato de não poder perdoar a si mesma, corroborava com a sua crença de que ninguém jamais poderia perdoá-la também.

 

– Talvez haja coisas que sejam impossíveis de superar, querida! – lamentou desolada e sem qualquer esperança, sem tirar os azuis dos verdes em momento algum - Eu descobri quem matou seu pai e irmão... – confessou baixinho, já que estavam próximas o suficiente para entenderem os sussurros uma da outra

 

- Quem? – indagou-a sentindo os olhos começarem a arder.

 

Katherine chegou a conclusão de que aquilo precisava ser dito, elas haviam prometido não mentir mais e serem sinceras, mesmo que essa sinceridade mudasse tudo, era algo que precisava fazer.

 

- F-foi meu pai! – cerrou os olhos esperando a dinamite explodir, bem diante de seu rosto, mas a resposta não veio.

 

Surpresos, os azuis escuros voltaram a mirar a loira. As lágrimas estavam lá – “Outra vez elas estavam lá!”- mas os verdes eram limpos, sinceros, sem mágoas ou remorso e isso fez a culpa no peito de Emanuella pesar um pouco mais.

 

- Nada muda! – Iara suspirou quente contra a pele pálida e voltou a mover os dedos contra ela.

 

- Eu atirei em uma garota... – soltou de uma vez, sabendo que a vergonha roubaria sua coragem, caso demorassem um pouco mais – Ela tinha quatorze anos e estava esperando um bebê de sete meses... – engoliu o bolo doloroso em sua garganta, desviando os azuis, envergonhada, das feições de choque estampados no rosto dourado da loira. Emanuella não poderia dizer que estava surpresa, quando as mãos quentes travaram no ar, afastando-se sutilmente de si, contudo isso não fez seu coração doer menos – Ele teria a idade da nossa filha, talvez alguns meses mais! – completa.

 

- Isso... – Resfolegou, Iara, buscando ar - Quando? – quis saber, com uma ruga entre as sobrancelhas.

 

- Alguns dias depois que você partiu... – revelou cabisbaixa – E-Eu havia passado a madrugada e o dia em claro, então recebi uma convocação do batalhão e fui. Estava escuro e eu não estava preparada para aquela missão, não aquele dia... – engoliu mais uma vez e seguiu – Eu acabei em um beco, atrás de uma das traficantes armadas e foi ai que eu falhei... – a boca moveu-se algumas vezes, mas as palavras nunca saem – E-eu disparei... – os soluços mínimos se intensificavam á medida que s palavras escorregavam para longe dos lábios avermelhados, assim como o choro copioso – Foram preciso dois segundo para eu perceber que não era um fuzil, muito menos a suspeita, era apenas guarda-chuva e uma menina... – negou, comprimindo o maxilar com força – Era a porr* de uma garota e um guarda-chuva! – rosnou Emanuella, externando toda a raiva que sentia de si.

 

Iara estava surpresa, portanto sua reação era compreensível, certamente era uma história desconhecida para ela, mas ver a dor nas esferas escuras lhe remeteu ao fato de que sua reação fora mal interpretada pela esposa – Emanuella achava que ela sentia repulsa e que aquele olhar escondia um julgamento ferrenho diante de seu infeliz erro.

 

- Todos cometeram erros e infelizmente alguns pesam mais e são mais doloroso de se carregar. Isso não muda a mulher que é para mim ou para nossa filha... – Iara apressou-se em dizer, para a confusão de Manu – Não me importa o que você fez, Kath, tudo que importa á mim é o “por que” fez! – esclarece – Nos duas fizemos coisas das quais não nos orgulhamos, meu amor, cometemos e cometeremos muitos outros erros, mas eu sei o que me levou á eles e seja lá o que tenha feito á cinco anos atrás ou ontem, não muda quem você é para mim, desde que seus motivos sejam legítimos! – confessou a loira, mirando-a com intensa verdade.

 

- Confiaria em mim e em meus julgamentos á esse ponto? – Manu, compreendendo a grandiosidade na resposta da esposa.

 

- Eu confiei em você desde o momento em que te entreguei meu coração, Castiel... – sussurrou a confidencia, aproximando o rosto ainda mais que antes do da outra e retomou a caricia leve no mento alongado – E continuarei confiando, enquanto enxergar a verdade nesses azuis escuros que eu tanto amo! – soprou á ela, convicta em sua decisão.

 

Sem mais delongas, a maior enfiou os dedos entre os fios loiros de Iara, encurtando os espaços entre os corpos, até não restar nada entre elas, nem mesmo para a respiração quente uma da outra que agora se misturava uníssonas aos lábios ansiosos e apaixonados. Os movimentos lentos e doces se tornaram cada vez mais cadenciados e urgentes e Iara moveu o corpo ainda mais acima do tronco rijo da esposa, buscando maior contato. Emanuella recebeu-a de bom grado, na verdade ela esteve ansiosa por isso desde que os azuis encontraram os verdes da doutora quando acordou – Sendo verossímil, ela sempre estaria ansiosa para isso - todavia tudo que fazemos na vida tem um preço e a conta para a sua mais nova “jornada assassina” veio cobra-lhe seu débito.

 

- Auh... – reclamou a de cabelos platinados, sentindo uma enorme dor despontar nas costelas e separou os lábios dos da loira por instinto.

 

- Oh meu deus, Kath... – Iara afastando-se – Perdoe-me, eu esqueci que está ferida! – desculpou-se tomada pela preocupação e culpa por deixar-se guiar pelo envolvente beijo. O tremor dos ombros largos da maior, assim como o arranhar do rouco contra garganta chamou a atenção dos verdes, que detiveram sua pequena inspeção afobada ao troco desnudo da outra– Por que está sorrindo, Katherine Emanuella? – indagou-a em um princípio de nervosismo.

 

- Nada... – continuou a sorri-lhe de forma encantada, mesmo que o sacolejar do corpo intensificasse o incômodo – É que... – deteve-se arranhando a garganta e suspirou, cravando as duas orbes azuis á mulher – Eu só me dei conta, mais uma vez, do quanto eu te amo, doutora! – acariciou o rosto dourado, tocando a bochecha corada com extrema gentileza – Amoré mio... – sussurrou lhe, aproximando-se para outro beijo, mas dessa vez era calmo, languido e cheio de amor e carinho.

 

Ficaram assim por alguns minutos, todavia Lazzari recordou-se, infelizmente para a platinada, o motivo de ter ido até o quarto da esposa.

 

- B-bem... – começou Iara, tratando de fugir dos lábios maliciosos da outra, que agora encaixava um enorme “bico” á carranca manhosa – Precisamos descer para o desjejum, estão todos á nossa espera! - sorriu matreira para a postura ranzinza adotada por Castiel ao ser afastado dos beijos.

 

- Você pode ser meu desjejum, doutora... – sugeriu em tom sensual, inclinando a ponta dos lábios em um sorriso fatal e logo tratou de aperta ainda mais os braços ao redor da cintura fina de Iara.

 

- N-não faça assim... – murmurou os lábios rosados, perdidos no carinho recheado de malicia no pescoço e orelha – Para, Kath... – sentenciou com mais firmeza, mesmo que os verdes denotassem contrariedade a sua determinação – Tem alguém que gostaria muito de vê-la! – dessa vez as palavras detiveram os gracejos da maior – Vamos... – levanto-se puxando Katherine pela mão atada á sua.

 

- Tá! – concorda com um resmungo, revirando os olhos em orbita, ato esse que causou uma nova gargalhada divertida na menor.

 

[...]

 

A mesa estava á posto, decorada com a maior variedade de alimentos possíveis, uma agradável mistura de cheiros e sabores. O clima essa manhã parecia mais leve e ameno, apesar do frio que fazia do lado de fora. As mulheres conversavam e riam como se não houvesse maiores preocupações, todas estavam em harmonia.

 

Com passos mancos e os dedos entrelaçados ao da esposa, Emanuella ganhou o espaço da sala de jantar, em um primeiro momento não foram notadas, todas estavam confortavelmente entretidas uma com as outras.

Os azuis se detraíram alguns segundo com as chamas que crepitavam na lareira, mas não por mais que isso, já que o grito infantil – tão conhecido dela- ressoou pelo ambiente, logo o corpinho disparou por de traz da enorme mesa e Emanuella acompanhou o topo da cabeça negra, até que a filha ganhou seu campo de visão e correu para abraçá-la.

 

- Mammaaaa – Sorriu satisfeita, quando alcançou as mães.

 

- Bom dia, bolinho! – Katherine retribui o enorme sorriso da filha e abaixou-se, mesmo com dificuldade, para tomar tomá-la nos braço – Como ela está cheirosa, gente... – brincou, fungando no pescoço pequeno e a gargalhada da criança encheu o seu peito - E pesada também! – ponderou com uma careta, ao sentir as costelas reclamarem outra vez.

 

- Ei, baby girl... – Iara, entendendo a situação – Vem aqui no colo da mamãe um pouquinho, a mamma ainda está dodói! – disse a menina que a obedeceu prontamente.

 

- Eu quero ficar forte “igal” você, Mamma, por isso tenho que comer bastante bolo de chocolate... A vó Lucy quem disse! – defendeu-se a pequena entusiasmada.

 

- A vó Lucy disse isso? – indagou Kath de senhor franzido.

 

- Não... – negou Angel com um sorriso sapeca – Ela disse muita “verdiuras” e “lagumes”! – “corrigiu-se, causando uma onda de gargalhada coletiva.

 

- Diga a vó Lucy que ela tem toda a razão, bolinho! – pontua Emanuella e despensa um beijo carinhoso ao topo da cabecinha da filha.

 

- Por que não diz você mesma á “Vó Lucy”? – a tom ameno e tão conhecido, causou um sobre salto á jovem Emanuella – Diga você mesma, minha filha! – um sorriso enorme iluminou o rosto pincelado por uma constelação de sardas, ao passo que uma trilha desenhava-se rapidamente.

 

- Mãe? – Os azuis, agora fixados na outra, indagam confusos – O que...

 

- Não ouse perguntar a sua mãe o que ela faz aqui, depois de ela passar os últimos meses lamentando sua morte, Katherine Emanuella Castiel! – repreendeu-a com severidade, aproximando-se da filha á passos calmos – Venha... – quedou-se abrindo os braços e um mínimo sorriso, causando certa confusão á Kath que espera ressentimento da parte por parte da mãe – Venha dar um abraço nessa velha mulher que quase morreu sem sua presença aqui! – “ordenou” e Emanuella não tardou em acatar-lhe. – Oh, deus... Eu senti tanto sua falta, meu anjo! – sussurrou lhe emocionada, apertando a filha ainda mais no abraço saudoso.

 

- Eu também... – devolveu Manu, tocada pelo calor e carinho da mãe – Eu sinto por não ter ido vê-la antes, mas eu não podia e...

 

- Shii...- repreende-a outra vez – Eu sei! – murmurou mirando os azuis profundamente e foi exatamente ali que Katherine compreendeu que Luciana sofrera tanto ou mais que ela, todos esses anos, todas as histórias não contadas, estava tudo lá, bem diante dos seus olhos, estampados á face da mulher.

 

- Estou aqui agora... – Katherine diz simples, colocando nas entrelinhas da pequena oração tudo o que seu coração queria gritar, mas não poderia.

 

Agora que tudo havia se estabelecido e todos os seus nervos haviam se acalmado, Kath circundou o ambiente com os olhos, encontrando a irmã, sua prima e Iara em um lado da mesa, assim como a filha ao colo da loira. No outro extremo do “retângulo” estava uma distante e cabisbaixa Diana, depois Angeline Lazzari – “Ok, isso era um surpresa!” - a mulher anotou mentalmente que deveria indagar Iara sobre a situação que se desenrolava entre ambas mais tarde - e o por último, lugar ocupado por Lucy anteriormente.

 

- Onde está Merida? – Castiel deixou escapar, percebendo a ausência da mulher á mesa, isso causou o cessar dos murmúrios da conversa paralela entre as mulheres.

 

- Ela está enfiada no escritório, desde que... – Mel iniciou, mas deteve-se – Acho que deveria falar com ela... Seja lá o que tenha feito, deixou-a muito nervosa! – alertou a irmã.

 

“Bem vindo á realidade outra vez, Manu!” – sussurrou maléfica a voz da sua impiedosa consciência, arrastando-a mais uma vez para o lugar que não queria estar.

 

 

 

**Quarenta e oito horas antes...**

 

 

Os uivos do vento gelado serviam de companhia única á ela naquela noite. O quarto estava á meia luz, a famosa penumbra se espalhava com devastaste maestria, graças ao fraco cintilar do abajur, revelando assim a solitude sufocante que a afogava. Olhos turvos, pincelados por pequenas gotículas transparentes, em absoluto, nada triviais, ameaçavam abalar a fortaleza que era aquela mulher.

Não era como se não sentisse a própria dor, no entanto, ela aprendera a ser forte, como uma muralha, independentemente das adversidades, mantinha-se firme e inabalável. Seu pai lhe ensinara isso e ela ensinara á seus filhos.

Ah, sim. Seus filhos...

Sua descendência reduzia-se, agora, a um homem confuso, sem valores éticos e morais – “Idênticos ao pai”- a observação trucidou-lhe a alma.

Ele poderia não ter herdado os marcantes e tradicionais “olhos azuis”, selvagens, perturbadores de seu pai, contudo a índole ilibada... Bem, certamente essa aprendera muito bem.

 

Os olhos claros, tracejados por pequenos flocos de mel, correram mais uma vez ao pequeno retrato á suas mãos finas e sardentas.

 

“O retrato das memórias que nunca tiveram!” – irônico e trágico.

 

A família Salvatore Castiel... Uma doce piada, sem qualquer humor. Uma perfeita fachada que se mantinha firme e constante, mesmo depois de tantos anos.

 

O aperto comprimiu os pulmões frágeis da débil ruiva, quando duas esferas intensas, cheias de uma selvageria juvenil– puro e bruto instinto, julgou com um sorriso mínimo sob os lábios finos – e contrapondo-se a isso, igualmente doce e singela, sorriram para ela.

 

“Katherine Emanuella Castiel”

 

Esse era o nome dela. O fruto da traição mais cruel que um dia sofrera, mas que converteu os seus dias mais sombrios em dias de pura alegria e gratidão, o amor mais profundo que conheceu. O amor que uma mãe partilha apenas com seu filho.

“Bem, de fato, ela não nascera de si, mas era sua e ponto!”

 

A primeira vez que seus olhos encontraram o minúsculo “ser”, envolto em uma pequena manta verde claro – lembrava-se como se fosse hoje - ela soube... Era uma dádiva de deus para clarear sua vida cinzenta e não importava de quem ou como ela chegara ali, Katherine (Nome de sua finada avó, que a criara junto á se pai) era sua filha.

 

Contudo seu pequeno oceano se foi e deixou para trás, tão precocemente, uma marca irreparável em seu coração.

As divagações a prendia de tal modo, que ela até se esquecera de o porquê estar presa á aquela cama, esquecera-se de tudo e focava sua atenção á seus lamentos.

 

“A vida não é, realmente, o que parece!” – sorriu em densa amargura, ironizando sua própria e patética existência.

 

- Você tem fé? – a voz aveludada, cheia de firmeza, mas controvertida pela delicada gentileza, causou sobre salto a mulher encolhida á extremidade da enorme cama. A ruiva não tardou em reconhecer a figura que se esgueirava facilmente á penumbra do quarto, contudo não pode respondê-la, já que a garganta pareceu travar.  – Seria lindo se existe um ser supremo, olhando por nós á todo momento, não acha? – retórica, prossegue – O acaso é uma verdadeira merd*, às vezes! – arremata em seu humor negro, habitual e singular.

 

- Caso não acreditasse, já teria enlouquecido, não acha?! – exclama, agora retomando a capacidade de articular uma oração.

 

- De fato... – apesar da escuridão predominante, a ruiva poderia jurar ter visto um sorriso jocoso clarear a noite - Poder agarrar-se a uma esperança, a um subterfúgio, quando tudo que servia para basear sua vida se destronca e, como areia nas dunas do deserto árido e seco, é levado pelo implacável vento da vida! – divaga em sua filosofia, mesmo diante da interrogação estampada na face salpicada de sardas (belíssimas sardas, observou, acanhada, a interlocutora) - O desespero de não ter onde firmar os pés é tão sofrível como a eminente chance de para de não poder mais respirar e ser completamente engolido por uma onde tempestiva á alto mar, senhora Salvatore, não há como escapar, não se pode enganar o próprio cérebro quando sua consciência entende que é o fim da linha! – o cintilar dos saltos ricocheteando contra o piso cessaram, assim que alcançou a pequena poltrona adiante da cama que embalava a ruiva, finalmente, revelando á grandeza do clarão oriundo da lua, as aterrorizantes avelãs, fincadas á mulher que agarrava o pequeno pingente de cruz com a mão livre do porta-retratos.

 

- O fim... – negou com um movimento sutil – O fim de quê, minha cara? – perguntou Lucy, sem expor qualquer intimidação em seu tom firme - De uma era? De uma vida?  Ou de um sonho? – sorriu amarga – Quando se perde o que mais se estima, perde-se também parte de si mesmo. Perde-se tudo, até mesmo a fé! – sentencia serena, todavia o revolver das entranhas escapava-lhe pelas janelas da sua alma e refletia-se como um espelho aos olhos escurecidos cravados nos seus, cor de mel – O que quer aqui, Martinelli, não acha que já me tirou o suficiente por uma única vida?

 

O silencio era acusador para a outra ponta daquele emaranhado de linhas e histórias que nunca se cruzaram, propriamente dito, todavia ligava a ambas as mulheres á um destino indiscutivelmente aterrorizante.

 

- Eu não sei... – a sinceridade saltou dos lábios avermelhados e fartos, como uma bala resvalou com grande surpresa á ruiva. Uma verdadeira incógnita, uma peça sem coerência, julgou a italiana intrigada som a própria atitude. – Ao contrário da senhora, eu não tenho nem mesmo á deus para recorrer... – continua – É por isso que eu estou aqui!

 

- Acaso não tens um pouco de escrúpulos? – A ruiva reverberou em completo ultraje – Você matou minha filha, mandou atirar nela, na mulher cujo nas veias corria seu próprio sangue... – Cuspia, arqueando o corpo magro na direção da Italiana - Não se envergonhas de vir até minha casa, importunar o luto da esposa de seu amante? – a guerra silenciosa era travada entre as avelãs e os cor de mel – Vá embora e não ouse dirigir as palavras a mim, nunca mais! – completa e ar ameaçador e Merida até sorriria para a bela carranca amedrontadora da ruiva, mas seu coração estava tomado de preocupação para se encantar pelo mar de sardas na pele clara como leite.

 

- Eu não matei a nossa filha... – “Nossa?!” aquilo soava tão estranho quanto absurdo, mas era um fato e Merida jamais deslegitimaria a maternidade da outra sobre a Castiel mais jovem, afinal era a verdade. – Seu marido que o fez e se quer saber... – continuou, sem tentar soar delicada ou reconfortante agora – Fez-lo horrivelmente mal, já que a bambina (criança) sobreviveu! – um arquear das sobrancelhas negras entoou uma leve pitada de ironia e orgulho ao discurso.

 

- O-o que dizes? – agora a voz fraquejou e um soluço escapou do fundo da garganta.

 

- Nossa filha... – retomou Martinelli com um sorriso ameno – Ela está viva e apesar de tudo que passou, continua teimosa como uma mula! – o sorriso largo iluminou ainda mais a face sardenta que resplandecia com as pequenas fileiras de lágrimas.

 

- Onde ela está? – apressou-se em indagar, saltando da cama para a direção da morena sentada - E-eu que-ro vê-la... – soluçou, atropelando as palavras – Eu-eu preciso...

 

- É justamente por isso que estou aqui, senhora Salvatore... – a tristeza pintou o rosto fino, mas enaltecido por uma rigidez aristocrata e agora, mais perto, Lucy reconhecia as semelhanças com o da própria filha – Faz uma semana que não tenho se quer sinal da bambina e se estou aqui e por que meus recursos, que não são poucos, foram driblados por Emanuella e... – ah, como doei á Merida ter de admitir o que estava prestes a dizer – Você a conhece bem melhor do que eu, acho que só você poderia saber onde ela está se escondendo!

 

- Por que eu te ajudaria? – desafiou-a, afastando-se para acompanhar o inicio da tempestade que se formava no céu – Se ela se escondeu de ti é por que não quer ser encontrada!

 

- Quando ele descobrir que Emanuella vive, virá atrás dela outra vez... – revelou direta, levantando-se e caminhou, com a assistência de algo que se assemelhava a uma bengala, á passos mancos, até para a alguns centímetros das costas da outra – Por favor, senhora Salvatore... – rogou, externando todo seu cansaço e era extremamente difícil para Merida se abrir tanto para uma “desconhecida”, mas para o inferno com seu orgulho, era por Emanuella, era por sua filha – Eu não posso perdê-la outra vez...

 

Com um suspiro mortal a madeixas ruivas acompanharam a cabeça quando esta tombou em direção ao vidro gelado.

Isso lhe doeria, mas ela não poderia.

Castiel, seu esposo, a mataria assim que ela cruzasse os portões da mansão em direção á esquina, ou pior, segui-la-ia e encontraria a filha e acabaria com as duas.

“É isso que ela faz como o que não pode controlar...” – gritou a consciência.

 

- E não posso... – balbuciou baixinho, abraçando tronco com os braços – Perdoe-me, mas eu não posso! – repetiu derrotada.

 

Tomada pela impaciência, Merida, em um movimento furtivo, agarrou os braços finos em um aperto duro, girando-a para ficar frente á frente consigo, mas quando a mulher urrou de dor – não pelo aperto, pois ele não fora tão bruto, mas sim pelo local em que os dedos tocaram – a morena compreendera a situação.

 

- Maledetto Verme (verme maldito)! – rosnou a Capo, tomada pelo furor, afastando-se imediatamente do aperto indelicado.

 

Luciana permaneceu imóvel, sem coragem de mirar a mulher nos olhos e tomada pelas indignas lágrimas, manteve a cabeça baixa.

 

– Desde quando? – murmurou a morena, extravasando sua inquietação com os dedos entre os fios longos e castanhos.

 

- Desde que não é viável que a “primeira dama” se liberte do monstro que é o idolatrado e excelentíssimo presidente Castiel... – revelou, envergonhada enquanto esfregava delicadamente o antebraço esquerdo.

 

 - Eu sinto muito... – sussurrou Merida, encurtando a distância física entre os corpos – Eu posso ajudá-la, senhora Salvatore... – delicadamente e quase que automaticamente, as mãos foram para o edema arroxeado, tão destoante, que maculava a pele clara, e em um afago surpreendentemente delicado, a italiana seguiu – Deixe-me tirá-la daqui e prometo que isso jamais se repetirá!

 

- Prometa que minha filha estará á salvo e eu ajudarei! – condicionou Lucina, esperando a verdade que encontrou nas avelãs escurecidas.

 

- Con La mia vita (Com a minha vida)... – jurou.

 

 

***

 

Iara caminhava incansavelmente de um lado á outro na sala de sua casa.

Graças aos céus Angeline havia pegado no sono, apesar de estar meio melancólica por ficar a semana toda sem ter contato com a sua “mamma” – a pequena nutria um apego inexplicável pela maior – a criança conseguira dormir, finalmente.

Agora, cá estava a loira, tomada pelo solavanco do angustiante aperto contra o peito.

 

“Onde você está, Kath?” – sua mente insistia em indagar, como se pudesse ser ouvida.

 

Apesar do ultimo ano conturbado, Emanuella era uma mulher responsável, ela nunca sumiria por tanto tempo sem avisar, não agora, depois de tudo. Ela não as abandoaria, certo?!

 

“Ou abandonaria?” - Obvio que não.

 

E isso era triste, pois o sumiço da esposa era oriundo de uma premissa preocupante e que causava incessantes calafrios á doutora Muller.

 

O ruído teso campainha invade a jovem mulher, causando um pequeno sobressalto aos nervos da loira, que já estavam à “flor da pele”.

Com esperança de que fosse Emanuella, Iara praticamente correu para o Hal de entrada, alcançando a porta antes mesmo dos empregados. Os dedos afoitos trancafiaram a maçaneta, enquanto girava-a com certa afobação e os verdes atentos, estavam preparados para o mínimo sinal da esposa. A porta de marfim foi escancarada com ansiedade e pressa, mas o que os verdes encontraram ali, retirou o chão de sobe os pés da mulher.

 

A figura de estatura mediana, cabelos tão loiros quanto os seus, olhos verdes, salpicados por mel, e uma face marcada por algumas rugas, que não se lembrava de quando estiveram ali, apresentou-se como uma doce assombração á Muller.

 

- Olá, filha! – Bem, ela ensaiou um belo discurso o caminho todo. Sem faltar com a verdade, ela preparou esse discurso durante mais de duas décadas, contudo, agora, diante dos verdes assustados e confusos, todas as palavras fugiram da sua mente.

 

O ar era raro para os pulmões, ela julgou que talvez estivesse acometida de uma vertigem ou estaria prestes a ter uma sincope dado ao fato de que o oxigênio jamais chegara ao celebro naquele momento. A loira se postou petrificada diante da face que jamais poderia esquecer.

 

 

***

 

 

A escuridão melancólica, esparramada pelo céu como denso tapete negro, varria toda a extensa cidade e engolia-a em toda sua apatia languida que, hora ou outra, entrava em disputa ferrenha pelo “protagonismo”, junto ao clarão estrondoso dos raios e relâmpagos - Ao que consta, até a natureza resolvera entrar em perfeita desordem aquela noite.

Todavia, a euforia histérica não se limitava apenas aos eventos climáticos, dentro do grande palacete, a disputa por quem teria a “ultima palavra” aumentara, juntamente aos decibéis elevados das vozes entrelaçadas uma a outra pela impaciência.

 

- S-senhora, foi a senhora mesma que disse para obedecermos a ela! – ousou dizer o homem, mesmo que os olhos semicerrados denunciassem que a sua coragem foi tão passageira quando o clarão cinzento que iluminou a enorme sala.

 

- Eu também disse para não deixá-las sozinha, por um minuto se quer! – rosnou aturdida, enquanto suas mãos enrolavam-se firmes ao colarinho dele.

 

Na verdade aquilo só servia para extravasar a tensão que corria como louca nas veias da mulher.

 

- Perdoe-me Senhora Martinelli, mas ela estava na posição de Capo... – observou racional, mas seu temor o impedia de mirar as avelãs faiscantes – E nós obedecemos e respeitamos as ordens do Capo, não importa quais sejam elas! – sentenciou, demonstrando fidelidade e apenas por esse motivo a morena resolveu largá-lo.

 

- Apenas por isso não arrancarei seus olhos e mãos agora, soldado... – Martinelli esclarece, endireitando o tronco em posição ereta - Mas se minha filha não voltar, farei com que sofra a pior dor da sua vida antes de matá-lo! – alertou-o sádica, cravando o olhar gélido ao assombrado do jovem.

 

- Certamente, senhora! – concordo com um aceno e partiu para longe, tão rápido quanto poderia.

 

Os olhos salpicados por pequenos cristais de caramelo acompanharam com certo espanto, quando o “guarda-costas” de sua filha fugira pela porta. A verdade é que Merida Martinelli era tão devastadoramente assombrosa que Luciana não soube dizer se fora prudente o tê-la seguido até ali.

 

A italiana parecia uma besta enjaulada, entretanto a ruiva conseguia entender o sentimento que a corroia, trazendo á tona algumas facetas de da brutalidade da Capo. – Claro, talvez tivesse caído em uma armadilha... “libertou-se do lobo para cair nas garras de um leão faminto e impiedoso, belo ato!”.

 

- Bastardo... – Murmura a Martinelli, nauseada!

 

- Não precisava ameaçá-lo, Merida... – Essa foi Diana d’Angelis, embora ainda desconfortável com a surpreendente “visitante”–... Melannie e a agente Salvatore estão trabalhando para encontrá-la sem que ninguém precise se ferir no processo! – tentou amansar os ânimos á flor da pela.

 

- Saiba que és tão culpada quanto esse bastardo incompetente... - as avelãs conectaram-se aos azuis consternados – Deveria ter me dito assim que ela entrou em contato com você! – cuspiu, afastando-se da “irmã” – Mas a doutora Salvatore está aqui, justamente para concertar a sua irresponsabilidade e a incompetência desses Cazzos (merd*s)! – murmurou entoando seu profundo descontentamento.

 

- Eu concordo com Merida... – Melannie se manifestou, sentada á mesa no canto do cômodo, enquanto digitava com extrema rapidez e precisão – Deveria ter nos comunicado, Mamma! – conclui em um suspiro resignado – E a ajuda da Senhora Castiel será de extrema valia!

 

- Para que as duas estivessem sumidas agora? – Indagou a de olhos azuis, demonstrando sua completa desaprovação – Você e Emanuella são tão imprudentes separadas que juntas seria um desastre, Melannie! – rosnou para a filha e os azuis não se intimidaram diante das avelãs afiadas da filha.

 

- A senhora d’Angelis tem razão, Melannie... – A Salvatore mais jovem, escorada á cabeceira da cadeira ocupada pela jovem italiana, defende – Sua irmã pode ser inconseqüente em alguns momentos... – pontua sugestivamente.

 

- Que merd* quer dizer isto? – a morena protesta, tomada por uma fúria Inexplicável – Está chamando minha irmã de louca, é isso mesmo?! – afastou a cadeira de forma abrupta, quase derrubando a uiva no processo.

 

- Só estou dizendo que é mais seguro para você estar aqui, d’Angelis! – esclareceu á July, ao notar que fora mal interpretada. Sua preocupação era genuína.

 

- Que seja... –A Capo rola os olhos angustiados em intenso enfado e impaciência – Eu vou agora mesmo até o endereço que a Senhora Salvatore indicou... – foi caminhando pela sala, mesmo que com a assistência da muleta, até encontrar sua arma sobre a pequena mesa de centro - E você... – apontou a filha – Continue o que está fazendo, caso o palpite da “primeira dama” esteja incorreto! – ordenou e já ia para a porta, sem deixar espaço para réplicas.

 

- Você não deve ir até lá sozinha, Merida, pode ser uma armadilha! – Protestou a de olhos azuis com urgência, não se importando em nada com o tom de insinuação em detrimento as intenções da ruiva naquele “plano” – Pode ser uma armadilha dele, Martinelli... – travou a marcha da menor.

 

-Agora tem medo dele, Diana? – franziu o cenho, quando sentiu a irmã deter seus passos com um aperto ao antebraço – Mas foi você mesma quem entregou as minhas filhas para ele, lembra-se?!– provocou em um rosnado cadenciado, e quando as orbes azuis quase escaparam da face pálida e o pavor afundou os peito de d’Angelis, Merida, condenou-se pelo equivoco.

 

“Melannie...” – droga.

 

 Ela estava logo ali.

Não era assim que gostaria de contar á filha que tudo naquela história era uma farsa, aquilo a magoaria como o inferno e destruiria a imagem e admiração que Melannie tinha pela mãe adotiva, mas agora era tarde – condenava-se Merida - certamente ela ouvira e, ao julgar pelas lágrimas que começavam a despencar das avelãs estáticas na figura de Diana, a mais baixa estava certa. Um mix de decepção e profundo desprezo encontraram uma angustiante d’Angelis, implorando silenciosamente por perdão.

 

- Diz que não é verdade... – rogou Melannie, ferida e inteiramente quebrada. Nem Diana ou se quer Merida, poderiam dizer algo diante da dor nos olhos da filha. – Diz!!! – comandou em um grito, quando não obteve resposta.

 

- Mel, e-eu...

 

Um novo estrondo, seguido de um gélido clarão, cortou-as, puxando a atenção de todos á porta do Hal de entrada.

 

A silhueta perturbadora da figura adiante estava em perfeita harmonia ao tom rebuscado pela negritude que ofuscavam as estrelas.

 

Os cabelos curtos colavam-se á pele gelada, encobrindo a contorcida e dolorida face que, como se sentisse o mundo pesando sobre o pescoço, prostrava-se sem cerimônias á “desgraça” vigente.

Uma gotícula transparente – ela não sabia ao certo se eram as gostas da chuva o as próprias lágrimas – correu com graça e lentidão mórbida pela bochecha avermelhada, pois o frio lá fora era cortante - encontrando o nariz fino e arrebitado, até sumir na escuridão das roupas encharcadas e pesadas.

Os ombros caiam ao lado corpo, como quem entregou os pontos, subindo e descendo languidamente, cansados, sobrecarregados. Um passo á frente, esse que parecia estar atrelado á puro chumbo, pesado como o próprio inferno, e a figura caminhou para a luz, revelando-se ás mulheres.

 

- Kath? – Lucy, com a voz tremelicando, foi a primeira a reconhecer a mulher coberta por sangue seco e passos vacilantes.

 

Uma reação normal ao ser humano, ou qualquer outro animal capaz de decodificar sons, seria guiar instintivamente sua atenção a origem do estimulo, todavia, Emanuella estava longe de ser um ser humano normal naquele momento. Nada muito concreto ou relativamente humano pulsava em si, na verdade, ela parecia mais um animal transtornado, acuado e completamente despedaçado.

 

“– Minha filha, o que foi? – a voz doce da ruiva soou tomada pelo espanto diante das feições de assombro da pequena garota – Katherine, o que lhe aconteceu filha? Está assustando a mamãe, meu anjo! – angustiou-se, quando os azuis escuros se afastaram do chão para mirá-la nos olhos – Deus, Emanuella, quem fez isso? – disparou em nervos e assustada com a enorme mancha roxa na bochecha pálida da filha.

A pequena Emanuella não respondeu, ela estava assustada de mais para tal, mas quem pode julgá-la... Não é saudável á uma criança de dez anos levar uma surra do irmão mais velho e ter o pai como espectador mudo na platéia.

 

- E-eu juro que não fiz nada des-sa vez, mamãe... – a voz infantil veio entrecortada por soluços frágeis – E-eu só queria estava brincando com minha colega mais um pouquinho, antes do jantar... – continua com as duas esferas azuis cheias de lágrimas, que faziam o estomago da ruiva revirar – E-eu juro...

 

- Eu acredito, meu anjo... – sussurrou, agarrando a filha em abraço protetor – Eu acredito em você! – afirmou Luciana mais uma vez, engolindo a dolorosa sensação de aperto que sufocava a garganta.

 

Aquela foi a primeira vez que a ruiva assistia a dor, tão claramente, estampado no rosto pequenino da filha e infelizmente não fora a última.”

 

 

Talvez Kath não se lembrasse do episódio de infância – O cérebro costuma apagar o que nos causa dor, pois isso é uma forma á qual ele encontra de seguir em frente, diante e fatos que se tornam pesadas de mais para encarar – Mas Lucy recordava-se com clareza. Ela recordava-se de como experimentou o mesmo medo, que agora, outra vez, assombravam as azuis escuras da sua cria, quando fora tirar satisfações com Pedro e ele agiu com tamanha selvageria e brutalidade, dizendo que Emanuella precisava de rédeas, caso contrário “seria como a puta que lhe gerara” – palavras do próprio homem.

 

A ruiva assistiu imóvel – não tinha coragem ou forças para ir de encontro à filha e recebê-la em seus braços protetores, como sempre fizera nas outras vezes - ao corpo mecânico, continuar suas passadas manquejantes e, quando ele achou ser o momento, quedou-se alinhado á Martinelli.

 

Não precisou a filha desviar os olhos do chão, ou erguesse a cabeça para olhá-la, uma mãe sempre sabe... Merida sabia, por deus, como ela sabia.

Ela daria sua vida para a filha nunca enxergar o mundo da forma ela havia descoberto ser. Merida mesma, enquanto jovem, teria pagado qualquer quantia para não saber a verdade.

A sensação de ser odiada, desprezada e enganada é dura, machuca. Todavia, a sensação de ser odiada, desprezada e enganada por alguém por quem se tem amor e consideração, alguém que, bem ou mal, passou a vida dizendo que te amava... Bom, deveras, é infinitamente pior. E infelizmente Merida Martinelli conhecia intimamente a maldita sensação que atravessava a filha como uma faca afiada de dois gumes. 

 

Castiel esteve em total inércia na última semana, se quer sentiu culpa enquanto sua adaga atravessava as gargantas de todos os homens de Gonzáles e quando enfim encontrou a confirmação que tanto desejara não existir, ela não teve o prazer de saborear a bala correndo do cano de sua arma e traspassando a cabeça do maldito traidor.

Tão lento quanto uma “tartaruga veloz”, os azuis escuros – agora claros como cristais - subiram do coturno, maculado pelo terror de seus atos, encontrando as castanhas avelãs, tão odiados por si um dia, mas que agora refletiam como um espelho toda a sua dor. Emanuella queria dizer, ela precisava dizer o quanto estava quebrada e que não lhe restava mais ninguém em quem pudesse se abrigar, um colo seguro... Uma mãe.

 

- F-foi e-le... – balbuciou o rouco mínimo, quebrado por pequenos soluços.

 

- Mi dispiace (sinto muito)... - O amargo aperto, embargou-lhe a glote e tudo que Merida poderia fazer era engoli-la - la mia bambina (Minha criança)!

 

- Kath, você está bem? – empurrando as frustrações e pesos das revelações recentes ao obscuro inconsciente, Melannie, emparelhou-se á matriarca, inundada pela preocupação diante da catatonia e palidez da irmã.

 

- A gente te-em de-de... – atipicamente o rouco gagueja, enquanto as duas esferas azuis colam as avelãs idênticas ás de Martinelli, parecia que Katherine não conseguiria focar em nada além das duas, seria pedir muito á ela naquele momento – Ir-r atrás dele, Mel... – continua com urgência e os dedos finos foram para o bolso posterior do jeans molhado -  E-Ele ta-ta  aqui, Mel... – indicou, expondo um pedaço de papel amassado, que balançava em frenesi, embalados pelo tremelique dos músculos de Katherine – E-le va-vai tentar de no-novo e eu-eu não posso deixá-lo tirar vocês de mim outra vez, e-eu não posso, Mel! - explica chorosa, expondo todo seu terror á irmã.

 

- Tudo bem, sorella (irmã)... – transtornada pela força que empurrava seu peito para o fundo da caixa torácica, Melannie tomou-lhe o papel que lhe foi ofertado – Prometo que iremos, mas preciso que você deixe que olhe essas feridas e então amanhã iremos! – ponderou á gêmea tocando a ponta dos dedos na contusão sobre o supercílio de outra, com extrema gentileza, como se o simples toque pudesse transferir ou, ao menos, amenizar a angústia que saltava da gêmea.

 

- Não, Mel, temos que ir agora... – confronta. O suor frio compactava o desespero da jovem – Mamma (Mãe)... – os azuis complacentes conectaram-se às avelãs, desta vez os da matriarca, e os ânimos estavam tão desolados que Merida mal pode sentir a alegria de tê-la nominando-a de tal modo – Temos que impedi-lo agora... – havia medo, a mais velha podia enxergar nos olhos da filha, uma criança acuada, apavorada – D-diga a ela, mamma (mãe)! – implorou, tentando afastar-se para Melannie.

 

- Emanuella... – chamou a atenção da mulher que divagava entre a irmã e a mãe – Kath?! – imputou maior energia dessa vez, quando os lábios arroxeados continuaram a bater um no outro carregando pequenos balbucios protestantes - Olhe para mim... – Merida, apanhando as lápides firmes do rosto fino - Guarda tua madre (Olhe para a sua mãe)! – tonificou com mais brandura e só então os azuis focaram na mais velha – Vá com sua Sorella (irmã), la mia bambina (Minha criança), eu resolverei tudo. Prometo! – completou solene.

 

Por alguma razão, o tom cadenciado e as orbes brilhantes e seguras á sua fizeram com que Castiel acreditasse nas palavras e, paulatinamente, a respiração exacerbada e ofegante foi se tranqüilizando.

 

- Andiamo (Vamos) “maninha”... – os dedos gentis de Melannie enroscam-se ao braço tencionado da outra – Tutto andrà bene, hã (Tudo ficará bem)!? – sussurrou enternecida, enquanto carregava o corpo rijo da outra pelas escadas.

 

- Ligue para a doutora! – ordenou Martinelli á um dos seguranças, estacionados quase que invisíveis ao pé da escadaria, antes de trocar um olhar desolado com Luciana e seguir, meio incerta, na direção das filhas.

 

 

***

 

 

-Eu matei todos eles... – o rouco esganado sussurrou para a morena – Ele implorou... E-ele... – uma lágrima solitária pincelou a face pálida.

 

- Risolviamolo, Sorella (vamos concertar, irmã)! - Melannie, mesmo sabendo que suas palavras seriam incapazes de mudar algo.

 

- Ele tinha razão, mel... Nós somos iguais! – sussurrou fraco, com os olhos perdidos nas paredes e corredores que levavam ao quarto da de cabelos Platinados, e d’Angelis não poderia estar mais confusa com as palavras da irmã.

 

 

***

 

- Você não é real... – balbuciou Iara, com os verdes estancados á figura – Não é real, você n-não... – continua repetindo, como se o mantra pudesse arrastá-la novamente á realidade.

 

- Você tornou-se uma bela mulher, querida! – Angeline sorriu maravilhada, com os verdes tocados pela emoção por estar diante de sua filha, depois de tantos anos.

 

- C- como? – caso não estivesse perto o suficiente, a mais velha jamais compreenderia sopro que escapava, sem qualquer controle, dos lábios rosados de Iara Muller – Eu... Você estava morta! – continua tomada pelo choque do reencontro.

 

Os verdes da matriarca deslocaram da filha por alguns instantes e foi então que, como se fosse hunamente possível, seu coração galopou ainda mais forte...

 

- Mamãe, eu não consigo dormir... – a voz rouca e infantil preencheu o Hal de entrada, assim que a cabecinha, cheia de fios negos embaralhados um ao outro, despontou as costas da loira – Mamãe? – chamou Manu, desta vez carregando Muller de volta a realidade.

 

- Sim, meu anjo... – pigarreou, recompondo-se – Venha cá! – disse Iara, tomando o corpinho, enroupada em um pijama felpudo, no colo.

 

- Quem é, mamãe? – Manu, mesmo sonolento, indagou quando os azuis escuros notaram a senhora á porta.

 

- B-bem... – o tom doce embargou, pois não sabia bem como nominal o “elefante branco” estacionado no meio da sala, ou melhor, a figura estática com os olhos fixos á ambas.

 

- Os olhinhos dela estão vazando, mamãe! – observou Manu de modo infantil e deitou a cabeça nos ombros da mãe, coçando os olinhos com os punhos em seguida.

 

A gargalhada doce e cheia de alegria preencheu mais uma vez o silencio nas paredes da mansão. Iara conhecia aquela doce gargalhada, na verdade ela embalara os melhores momentos de sua infância.

 

- Ela é tão linda, minha filha! - Angeline diz, com um sorriso largo cheio de carinho para mãe e filha – Chamo-me Angeline, pequena! – voltou-se para a neta, tocando a pontinha do nariz pequeno e arrebitado – E o nome dessa linda principessa (princesa)? – indagou de forma doce.

 

- Angeline Emanuella Muller Castiel! – disse a pequena cheia de gracejos para o lado da, até então, estranha mulher – É igual ao da minha outra Mamma e da minha vovó que tá no céu! – Manu, cheia de orgulho, relata.

 

As esferas da maior, surpresas, foram para os verdes logo lado, sem saber o que dizer, ela simplesmente sorriu. Sorriu cheia de alegria e orgulho, mesmo que a reação de Iara não estivesse sendo tão receptiva, apenas o fato de ter sua filha e netas diante de si, depois de tanto tempo, faziam seu peito borbulhar em felicidade e gratidão.

 

Angeline Lazzari preparava-se para justificar-se para o olhar acusador e confuso de Iara sobre si, mas foram interrompidas pelo celular da mais velha.

 

-Sim? – não tardou em responder, assim que levou o aparelho á orelha - Ferida? – Indagou e os verdes receosos focaram Iara que no mesmo instante soube que algo estava errado – Certo, chego em alguns minutos! – confirmou, desligando o celular – É a Castiel... – explico á loira de cenho franzido – Precisamos ir, agora!

 

***

 

- Como ela está? – A voz da morena veio do corredor, assim que Melannie cerrou a porta do quarto de onde acabara de sair.

 

- Destruída! – soltou cabisbaixa e sem qualquer animo.

 

- Ela só precisa de um pouco de descanso e alguns curativos! – tentando um otimismo forçado, Merida diz com um suspiro sôfrego.

 

- Na atual situação, todos nós precisamos... – balbuciou sem vontade ou coragem para encarar a mãe.

 

Encará-la agora exigiria em demasia da jovem d’Angelis e ela não se sentia emocionalmente pronta para tal, havia passado todos os vinte e nove anos da sua vida odiando a Capo, sentindo-se rejeita e humilhada, mas agora tudo o que sentia era desconhecimento, como se tudo que achava conhecer sobre si fosse um emaranhado de mentiras e intrigas.

 

- Sinto muito, minha filha... – as avelãs da jovem arregalaram-se para a figura e ela encontrou mais do que gostaria. Martinelli olhava-a com doçura e carinho, o olhar que Mel sempre quis receber de sua mãe, contudo, até então, não passava de uma doce ilusão de criança – Sinto que você e sua sorella (irmã) tenham que passar por isso e espero que um dia possam me perdoar por trazê-las ao caos que é a minha vid...

 

Merida não teve tempo para terminar, pois sentiu o corpo magro da menina arremessar-se contra o seu e apertar-se contra si com força, como se a vida da filha dependesse de tal ato. Surpresa, pela reação furtiva, a Capo permaneceu rígida por alguns segundo, todavia logo os braços longos da matriarca ganharam vontade própria e postaram-se ao redor da filha, embalando-a como um bebê em seu peito.

 

Melannie não se importou com o quanto estava se expondo, não importava, ela apenas chorou tudo o que guardou para si todos esses anos. Chorou por si, por Merida e também por Diana, afinal estava sentindo-se traída pela mulher.

 

- Piangi, amore mio (Chore, meu amor)... – disse baixinho no ouvido da filha, enquanto sentia as próprias lágrimas correrem livre pela face - Sbarazzati di tutto (livre-se de tudo)! – completou a Capo, acarinhando os dedos longos pelas madeixas longas de Mel.

 

 

***



A tensão pairava sobre o ambiente, tornando o silencio a única opção para as mulheres. A advogada não havia se afastado da janela desde que a tempestade passara, seu coração estava apertado e a culpa que sentia só fazia corroborar para intensificar seu pesar – Emanuella não parecia nem um pouco bem e a quantidade de sangue espalhada pela jaqueta de couro roubava qualquer resquício de paz da ruiva. Por outro lado, jazia Juliana, ao canto do sofá, não muito melhor que Lucy, roia as unhas em preocupação. Diana, por sua vez, precisou sair ás pressas para resolver uma questão de extrema urgência, mas garantiu que voltaria o quanto antes.

 

A matriarca Castiel estava prestes a invadir os corredores do palacete em busca da filha quando os ruídos dos passos se aproximando de forma apressada roubaram sua atenção.

 

- Vovó!!! – Exclamou a voz infantil, correndo como bala para a ruiva, assim que os azuis arregalados e alegres encontram a mulher.

 

- Olá, "pestinha"... – A ruiva não poderia deixar de sorrir e apertar a criança em seus braços – Que surpresa adorável!

 

- E onde está sua mãe? – Ia perguntando, mas sua resposta veio com o vulto da loira passando da porta para a escadaria em questão de segundo, sem ao menos dar-se ao trabalho de cumprimentá-las.

 

- Ela ta com muita saudade da mamma, vovó Lucy... – disse Manu, acomodando-se ao colo confortável da ruiva – Eu também “to”, mais a mamãe disse que e “pla” eu esperar um pouquinho! – completa como um biquinho vermelho nos lábios, conforme ia pronunciando as palavras, tomando todo cuidado para não errar.

 

- Ah sim... – concordou a mais velha – Sua mãe está certa! – sorriu para a pequena, que não deixou de mostrar sua contrariedade ás ordens da mãe.

 

- Boa noite á todas! – A loira disse, assim que entrou na sala e, caso não fosse trágico, seria cômico o par de olhos espantados sobre si – Não, não é uma brincadeira... – apressou-se em dizer quando a Lucy moveu os lábios no vácuo e não houve som – Fico feliz em revê-la, minha amiga! – sorriu sincera e seguiu por onde Iara passara á alguns minutos.

 

- Os olhos dela são como os da mamãe, vó Lucy! – Manu compartilhou sua percepção de forma infantil – E eles vazam... – Sussurrou, como um segredo, próximo ao ouvido da ruiva, ainda embasbacada com o que seus olhos acabavam de presenciar, mas a “pérola” que escapou dos lábios pequenos foi capaz de resgatar uma sonora gargalhada das mulheres – Oi tia July! – cumprimentou sapeca.

 

** Agora **

 

 

 Dois toques á porta invadiram o escritório e um suspiro impaciente resvala por entre os lábios rubros da Capo, quando sua resposta não veio, a porta se abre e logo em seguida um novo ruído confirmou que ela havia sido fechada.

 

- Já lhe disse que esse lugar pertence a você e sua irmã, não tem que pedir permissão para entrar! – as costas relaxadas não enganaram a jovem estática, diante da mesa. Emanuella passou a entender o que o tom cadenciado e firme utilizado pela mãe significava... Merida estava irritada e demasiadamente contrariada.

 

- Eu sei! – exclamou simples.

 

- Assim como sabia que não deveria ter feito o que fez, ontem? – Indagou cheia de ironia, ainda sem olhar na direção da filha. As gotas da fina chuva escorrendo á janela de vidro parecia-lhe mais interessantes.

 

- Eu sinto muito por seus homens, Capo! – devolveu no mesmo tom, e por mais que não quisesse admitir, Kath esperava uma postura diferente por parte da mulher depois de tudo o que havia se passado, todavia a rigidez no tom de Merida, e a forma com a qual ela apertava o ápice da muleta, revelavam a jovem de olhos azuis toda sua irritabilidade.

 

A fala sarcástica da filha comprometeu o pouco da calma que ainda restara á senhora Martinelli e isso ficou bem evidente quando as avelãs encontraram os azuis escuros pela primeira vez naquele dia.

 

  - Acha que estou brava por ter matado meia dúzia de bastardos traidores, Emanuella? – Vociferou a Capo e um estrondoso rugido oco, causado pelos punhos da Italiana contra a madeira, complementou o reverberar do tom empertigado. Castiel não pode sustentar o olhar flamejante da mãe sobre si – Você poderia ter arrastado sua irmã e sua família para a mira de um assassino psicopata, tudo por que resolveu agir por conta própria e fazer justiça com as próprias mãos. Ou pior, Emanuella, você poderia ter...  – A Capo se quer conseguia concluir tal pensamento, o medo de perder a filha outra vez lhe trancava a garganta – Eu não quero que passe pelo mesmo que eu, Emanuella... – suspirou desolada, mas logo retomou a postura rígida – Como vou confiar a vida da sua irmã e de todos esses homens sob meu comando á você se na primeira oportunidade que tem, corre como louca em direção a imprudência, sem pesar nas conseqüências? - indagou e os azuis se voltaram para ela, mesmo cheios de vergonha, todavia manteve-se em silencio. - Eu estou morrendo, minha filha... – confessou com franqueza, sentindo as lágrimas iniciarem o seu fluxo – Preciso confiar que estará aqui para proteger o que restou da nossa família! – sentenciou firme, mesmo que seu corpo quisesse correr desesperado para longe da maldita realidade.

 

Ela sentia-se mais fraca do que nas outras vezes que tivera uma “recaída”, cada fibra de seu ser dizia á ela que o seu tempo estava quase no fim e a ironia da vida só acrescentava dor á mulher. Martinelli passou a vida ansiando pelo dia que teria sua família outra vez, o dia em que se veria livre de todas as mazelas e angustias do seu passado, o dia em que não precisaria mais preocupar-se com planos e estratagemas de vingança, mas talvez essa não fosse sua sina.

 

A mulher esteve tão absorta em suas questões que não percebeu que agora Emanuella rodeava a mesa e parara ao lado do corpo cansado, inclinado sobre a mesa em total rendição.

 

- Troveremo un modo, mamma (Vamos dar um jeito, mãe)! – Katherine assegurou, mirando as avelãs com tamanha verdade e força, que Merida não pode retrucá-la. Tomada por um minto de alegria por ter sua filha junto a si- agora consciente do amor que sentia por ela - misturada á tristeza eminente pelo que deixaria para traz, Martinelli deixou-se ser abraçada - Lo prometto...

 

-Ele virá atrás do que é dele... – murmurou Merida, recompondo-se minimamente, ainda desfrutando do abraço terno que recebia da filha.

 

- Seja lá o que for, deixe que ele venha buscar! – Emanuella praticamente rosnou e os azuis cristalinos ganharam uma névoa obscura.

 

- Chegou o momento de te contar uma história... – Merida, afastado o abraço da filha.

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 33 - "Mare insanguinato":
HelOliveira
HelOliveira

Em: 22/08/2020

Cada dessa história fico mais encanta, ela é maravilhosa e sempre surpreende com um fato novo...é incrível...

Senti um clima entre a Meriva e a Lucy....será que existe a cura uma chance de vida, para que ela encontrem paz e amor uma na outra.

Kath tem quantas vidas...sempre fico com o coração batendo diferente..

Parabéns e até o próximo

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Rain
Rain

Em: 21/08/2020

Caramba essa história tá muito show, é um acontecimento atrás do outro, tá bom demais. Também acho que rolou um clima entre a Mérida e a Lucy, espero que a Merida saia dessa e fique com a Lucy, elas merecem serem felizes depois do inferno que passaram na mão daquele homem.

 Sério, cada capitulo imagino que a Kath tá quase perto de se tornar o Frankenstein toda costurada. Rsrs

 Até o próximo!

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patty-321
patty-321

Em: 20/08/2020

Gente e muito estória intrincada,mas sou apaixonada. Mais una vez a kath quase morre, tive raiva da Mérida e no fim ela não é monstro. Até agora não entendi porque Diana fez o q fez. E à Lucy? Muito sofrimento na mão do psicopata. 

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kasvattaja Forty-Nine
kasvattaja Forty-Nine

Em: 20/08/2020

Olá! Tudo bem?

 

A sua escrita é perfeita e a sua história, então, nem se fala. Perfeita, muito perfeita, mas tensa, muito tensa. Queremos um pouco de luzes, brisas, amores nessa história. Que tal?

 

É isso!

 

Post Scriptum:

 

Retrato

 

Eu não tinha este rosto de hoje,

Assim calmo, assim triste, assim magro,

Nem estes olhos tão vazios,

Nem o lábio amargo.

 

Eu não tinha estas mãos sem força,

Tão paradas e frias e mortas;

Eu não tinha este coração

Que nem se mostra.

 

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

— Em que espelho ficou perdida

a minha face?

 

Cecília Meireles

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NayGomez
NayGomez

Em: 20/08/2020

Mano sou só eu mais acho que rolou um clima entre a Merida e a Lucy kkkkkkk. Nao mata a Merida pf ela precisa sobreviver pra ser feliz pq essa mulher fou Judiada a Historia toda pra no fim Morrer isso seria injusto. Diana a Maior culpada da Historia se fazendo de vítima kkkkk. 

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