"Beatificado seja quem

Resistir à tentação

Pois uma vez que seja posto à prova

Receberá a coroa da vida"

 

~***~

 

Annabeth não aguentava mais aquilo, sentia um desconforto no peito. Quando aquilo terminaria? Com La Rue a beira da morte?! Ela jamais se daria por vencida, sabia disso, ela lembrava muito bem como fora a sua disputa com Mark pela liderança do chalé e outro fator de grande importância para a morena era à presença do Olimpiano, preferiria sair morta a se render. Uma lágrima solitária correu pelo seu rosto antes que pudesse contê-la e caiu em seu pulso, uma sensação morna e incomum se instaurou no local. Ainda sustentava uma delicada pulseira que se esquecera de retirar quando trocara a túnica cerimonial por suas vestes comuns de acampamento, era feita por uma espécie diferente de couro e no lugar de pingentes havia pequenas pétalas cor de rosa.

 

Foi Silena Beauregard quem lhe presenteara com aquela pulseira pela manhã, quando voluntariamente se dispôs a lhe ajudar com os preparativos para a cerimônia. "Um presente de Afrodite" lembrou-se do comentário da morena de olhos azuis ao colocar o item em seu pulso logo após lhe ajudar a se vestir.

 

O cheiro forte de rosas preencheu os seus sentidos, mas parecia ser a única pessoa ali que conseguia notar a fragrância e ser atingida pelos seus efeitos. Sentia seu corpo relaxado, a pressão no peito havia sumido e seus olhos pesaram, mesmo que ela tentasse se manter acordada.

 

"Não resista..."

 

Uma voz calma ressoava em sua cabeça, sentia seu corpo ainda mais entorpecido que antes, não tentou resistir, não mais.

 

~***~

 

"Abra os seus olhos, filha de Athena"

 

A voz desconhecida e feminina chegara aos seus ouvidos, era a primeira vez que a escutava, mas estaria se enganando se por algum acaso negasse que reconhecia aquele local quando atendeu ao chamado.

 

Abriu os olhos devagar, estava deitada em um gramado curto e ao seu lado havia uma garota muito bonita, pele bronzeada, traços judeus, cabelos cor de chocolate que lhe caíam até a cintura como uma bela moldura, seu olhar era doce como seu sorriso. Não sabia quem era aquela mulher, mas de alguma forma sentia que podia confiar nela.

 

-Quem é você? - perguntou ainda zonza devido o perfume das rosas e tudo o que lhe levara até aquele lugar.

 

O que era aquilo afinal... O passado? Uma realidade paralela? Deixara de ser um simples pesadelo há muito tempo e ela era uma semideusa, nada era as mil maravilhas quando se tratava dos filhos dos Olimpianos.

 

-Apenas uma amiga. - respondeu a morena de forma simples enquanto as duas levantavam do local onde Annabeth despertara.

 

A desconhecida dera alguns passos aleatórios, os olhos vagando por aquele fragmento de lembrança de forma um tanto nostálgica. Chase estava logo atrás, porém após se recuperar do torpor acompanhou-a.

 

Não tinha dúvidas quando de onde estava, entretanto desta vez era diferente, ela não estava vivenciando a cena de seu pesadelo, estava ali como uma expectadora. Já estivera naquele local outras vezes, contudo nunca conseguia ver com clareza o que acontecia ou sequer escutava a discussão que se seguia ao seu redor, o estado de pânico em que se encontrava era sempre sufocante demais para poder se libertar... Mas agora, agora era diferente... Ela estava em pé acompanhando todos os detalhes de uma cena que lhe atormentava até mesmo como uma simples observadora.

 

-Porque me trouxe aqui? - perguntou um tanto confusa, a ansiedade, o receio e a curiosidade crescendo em seu peito de forma desordenada.

 

-Em nenhum momento eu disse que lhe trouxera até aqui. - as duas seguiram para o que seria o ponto de partida daquela lembrança.

 

Estavam em pé logo atrás de uma garotinha de no máximo sete anos, a mesma encontrava-se encolhida no chão abraçada ao próprio corpo, tremendo dos pés a cabeça e próximo a ela havia um rapaz forte e alto - ambos com vestes gregas antigas e muito bonitas, sua acompanhante também se trajava com as mesmas vestimentas - Annabeth a princípio não conseguia focalizar seu rosto por mais que se esforçasse, mas ele parecia se divertir demasiadamente com a cena que antagonizava.

 

Uma sombra gigantesca de uma aranha projetada na parede de mármore parecia manter a garotinha presa naquele local com suas teias invisíveis... Ela havia sentido a mesma sensação de pânico, pois já estivera no lugar da criança, tremeu mesmo sabendo que não era real, que não teria como ela se machucar, a raiva também crescia em seu peito, a vontade de revidar, mesmo sabendo que não era possível.

 

-A grandiosa filha de Athena é patética! - comenta ele de forma desdenhosa após uma breve gargalhada. - semideuses são sempre tão ridículos e frágeis.

 

A sombra da aranha começou a se contorcer como se estivesse sentindo muita dor ao ser torturada, o rapaz de cabelos negros até os ombros moveu os dedos como se tentasse se certificar de que estava tudo normal e em seu controle, porém as teias que supostamente mantinham a garotinha presa se desfizeram e as pernas da aranha se contorceram ao ponto de lhe transformar em uma massa disforme... A sombra aos poucos foi se remodelando sem o seu controle e ganhou uma forma humana na parede.

 

A figura masculina que até então parecia sorrir de sua brincadeira desmedida revirou os olhos entediado, sabia que ali sua diversão teria um fim. Annabeth pode notar que alguém se deslocava a partir daquela sombra na parede, possuía a mesma estatura que o carrasco da jovem filha da deusa Athena, mas aparentava ser mais alta devido o elmo corintiano com o penacho vermelho sangue... Não conseguia ver seu rosto devido o estilo do elmo, mas sabia que era uma garota, o cabelo escuro estava trançado e por cima do ombro, o corpo era curvilíneo e a musculatura bem desenhada e desenvolvida, trajava uma proteção simples em couro para os seios, o saiote vermelho com os detalhes das tiras em couro, carregava uma espada de curto alcance na cintura.

 

-O que Ares vai dizer quando souber que anda perdendo tempo com crianças? - a voz feminina possuía certa calma, mas também notas de dureza. - não deveria estar treinando?

 

Pela primeira vez Chase conseguiu ver o rosto de quem estava a torturar a garota, era moreno, maxilar forte, cabelos negros levemente encaracolados o que tinha de bonito balanceava com o brilho cruel em seus olhos. O mais velho crispou os lábios ao escutar o nome do Olimpiano, os olhos negros e brilhantes por um momento se rendendo ao terror, o sorriso presunçoso que sempre sustentava sumindo aos poucos... Aquela intrometida não poderia simplesmente achar que tinha o direito de lhe provocar dessa forma e ficaria sem uma resposta a altura.

 

-Meu pai já tem seu capacho de estimação, eu sou um deus, não preciso me meter em assuntos de meros mortais. - frisou bem em qual patamar se encontrava. - prefiro aproveitar e desfrutar de minha imortalidade.

 

-Ele não mudou nada. - comentou de forma muito baixa a morena ao lado de Annabeth, tinha um sorriso mínimo nos lábios convidativos, apesar de fazer um sinal reprovador com a cabeça para tal atitude.

 

-Você o conhece? - por um momento a filha de Athena deixou a cena de lado, mesmo que pela primeira vez estivesse entendendo o que realmente acontecera ali.

 

-Ah sim... - respondeu a garota fazendo um leve movimento com as sobrancelhas, como se conhecesse até bem demais a figura a frente delas. - ele é meu irmão gêmeo.

 

Chase se pôs a pensar rapidamente naquele curto período antes que acabasse perdendo algo importante, se aquele ser repugnante e insuportável era irmão daquela garota que aparentava ser bela e amigável isso indicava que ela também era uma deusa.

 

-Você é Harmonia... - constatou a loira levemente surpresa com a presença. - filha de Ares e Afrodite.

 

-Não nega o sangue olimpiano em suas veias. - o sorriso amplo e belo surgiu nos lábios da morena como forma de confirmação.

 

A desconhecida até então não fez questão de sequer olhar para o rapaz ao passar do seu lado enquanto caminhou de forma vagarosa até a garotinha. Apoiou-se sob um dos joelhos, a menina tremeu ainda mais quando sentiu o toque em seu corpo, seus olhos estavam vazios e amedrontados, a guerreira travou a mandíbula nesse momento e respirou fundo, tentando se concentrar... Essa seria a parte mais difícil. 

 

-Mantenha-se calma, preciso lhe tirar dessa ilusão... Concentre-se na minha voz. - sussurrou apenas para que a menina lhe ouvisse. - não torne as coisas mais difíceis para mim.

 

-Como você é hipócrita... - o tom de voz usado pelo moreno se tornara levemente mais sugestivo, como a de uma serpente venenosa pronta para dar o bote. - vai me dizer que não se sente tentada? Que vê-la nesse estado não te dá alguma satisfação?!

 

As mãos frias tocaram os ombros da guerreira, sabia que ela se encontrava em um estado um tanto quanto "delicado", em outras circunstâncias seria difícil ou quase impossível submetê-la a sua sugestão, mas agora... O sorriso voltou a brincar no rosto do jovem deus, gostava de brincadeiras perigosas. 

 

-Você é um covarde desprezível... - a voz estava falha, tentava agora a muito custo resistir a infame brincadeira, porém seus dedos já tremiam ao sentir a pulsação ainda desregulada da pequena semideusa.

 

-Continue a mentir, diga que não sente vontade de provar uma gota... - continuou, o sorriso de satisfação ainda maior e mais malévolo. - sabe que essa garota vai ser um problema, mais cedo ou mais tarde.

 

-Deimos, pare de atormentá-la. - a ordem fez o rapaz novamente rolar os olhos e jogar os braços para cima, dando-se por vencido. - seus joguinhos bobos podem ter terríveis consequências algum dia.

 

Annabeth forçou um pouco a vista, tudo que estava fora de um raio de dois metros era extremamente confuso, mas aquela voz ela reconheceria em qualquer lugar, era Quíron, o centauro aproximava-se em um rápido galope. 

 

-O que está acontecendo aqui? - mais alguém se fez presente, o coração da jovem semideusa disparou.

 

A pergunta veio simples e direta, a voz era calma e levemente pausada, mas a loira conhecia aquele tom de voz, era o mesmo que usava quando estava muito irritada e ela reconheceria aquela figura que surgira do corredor escuro em qualquer lugar... Cabelos negros, vestido branco elegante e fluído, olhos cinzentos como nuvens de chuva, porém possuíam um brilho feroz, era sua mãe, Athena.

 

Deimos como o bom covarde inconsequente que era sumiu no instante seguinte em uma névoa ao estalar os dedos, ele já teria problemas o suficiente se realmente fosse relatada a sua brincadeira ao pai Ares, mas mexer com uma das deusas não estava exatamente em sua lista de atividades diária, principalmente quando se tratava da favorita de Zeus.

 

-O que você está fazendo com a minha filha? - a deusa perguntou uma segunda vez, dando bastante ênfase ao você e parecia não muito paciente em perguntar uma terceira vez.

 

-Minha senhora... - Quíron tentou se adiantar para mediar à situação ante a sua protegida. Sabia bem que seja lá o que tivesse acontecido naquele curto espaço de tempo, Deimos deveria ser o culpado por qualquer ato contra a primogênita da deusa da sabedoria.

 

Porém a guerreira ergueu a mão livre e fez um sinal de que não precisava se pronunciar em seu lugar, ela tinha boca e língua para sua própria defesa e assim o faria. Ela era completamente responsável pelos seus atos.

 

-Deimos a estava atormentado... - ela estalou o polegar e o indicador ao lado da orelha da criança propagando um som mais alto do que normalmente faria. - Apenas quebrei seu encantamento e apaguei a memória que ele havia implantado para controlá-la a partir do medo que possui de aranhas.

 

A garotinha parou de tremer e adormeceu quase que instantaneamente. Annabeth piscou algumas vezes, só agora notara que a garotinha... Era ela?!

 

A guerreira retirou o elmo, mesmo com a criança ainda ali apoiada em seu ombro como se fosse o local mais seguro a se permanecer - mesmo que sua mãe achasse completamente o contrário - alguns fios castanhos escuros caíram de forma desalinhada no rosto, Annabeth prendeu o ar, apesar dos traços mais maduros ela sabia quem era... Os olhos se fixaram nos seus, mesmo que ela tivesse a noção de que a outra não pudesse lhe ver de verdade, era Clarisse, mas seus olhos estavam diferentes, eram vermelhos como sangue.

 

-Eu jamais lhe faria algum mal.

 

Reforçou de forma séria, sabia que a fala era direcionada a deusa, mas porque a loira tinha a sensação de que estava se reportando a ela?

 

Seja lá quem fosse aquela garota, pegou a pequena semideusa nos braços analisando a feição bela e tranquila com estranha devoção, antes de se virar para entregar-lhe a deusa que a estudava sempre com os olhos cinzentos duros e astutos.

 

 

~***~

 

Annabeth despertou no instante seguinte, queria ter tido a oportunidade de verbalizar as diversas perguntas que rondavam a sua mente, mas tudo o que lhe restou foram às dúvidas que não seriam sanadas. Seu corpo ainda estava levemente entorpecido e o cheiro de rosas presente como um calmante, mesmo que ainda fosse a única ao redor a notar o que acontecia. Estava zonza, mas tentou a todo custo respirar e se conter para não desmaiar ou vomitar, sua visão periférica indicava que tudo parecia exatamente como há um segundo, pois nem mesmo a filha de Zeus que segurara sua mão em poucos instantes antes daquela estranha visão parecia preocupada ou incomodada com algo.

 

Os olhos cinzentos se voltaram para a pulseira que Silena lhe dera, mas o couro se fragmentara aos poucos e as pequenas pétalas se transformaram em pó, penetrando em seu pulso, sentiu novamente o calor na região e um laço prata quase translúcido se formando ao seu redor.

 

-Não, não pode ser... - negou contendo certo pânico no fio de voz que possuía.

 

Ela acompanhou a extensão do fio que se formou aos poucos, estava se trançando a outro, seus olhos seguiram o trajeto até encontrar os olhos quase pálidos de Clarisse, a garota lhe olhava de uma forma diferente, como se também conseguisse ver aquele fio entre as duas. Assim que a ponta tocou o pulso da filha de Ares à ligação sumiu aos seus olhos, assim como o cheiro de rosas, o tempo parecia ter estabelecido sua normalidade, os olhos de Clarisse voltaram à tonalidade verde de sempre.

 

-Annabeth... Annabeth... - era a voz de Thalia, a morena lhe acariciava as costas brevemente. - está se sentindo bem?

 

A campista tentou confirmar, mas sentia-se ainda mais zonza, o coração pulsando de forma violenta enquanto sua cabeça dava voltas e voltas em algo que ela julgara ter deixado alguns anos no passado, como pudera ser tão tola?! A primeira linha da profecia ressoava em sua cabeça como um agouro.

"O fio atado não terás como desfazer"

 

Ártemis levantou o braço logo em seguida, e fez um sinal positivo, Zoe que já arfava parou o braço no meio do movimento apoiando as mãos nas pernas em seguida, o chicote ainda com resquícios de sangue da garota a sua frente e La Rue mais uma vez retirou forças de onde não possuía para manter-se apoiada em um dos joelhos.

 

As cordas presas aos seus punhos magicamente soltaram-se da mesma forma que se ataram no início do ritual - isso só aconteceria com a sua desistência ou com a conclusão - Mark se aproximou logo em seguida apoiando o corpo da garota com o seu. Os garotos de Ares finalmente podendo explodir em gritos contidos pelo dia inteiro de tensão e se socar à vontade naquele momento.

 

-Você conseguiu. - concluiu de forma baixa, tomando cuidado para que não lhe machucasse ainda mais.

 

-Obrigada. - agradeceu dando um sorriso fraco contra o ombro do irmão, piscou os olhos algumas vezes tentando se manter acordada, ela tentou focar na arquibancada, algumas pessoas se aproximavam, mas ela sabia que iria apagar a qualquer momento. - não vai ficar sentimental agora vai?! - tentou brincar enquanto sorriam de forma cúmplice.

 

Olhou para o lado esquerdo antes que sua visão ficasse completamente nublada, Ártemis, Ares e Quíron se aproximavam, mas direcionou a atenção ao seu pai. Liberou-se do apoio de Mark e com muito esforço ficou em pé sozinha para recebê-los.

 

-Parabéns, Clarisse. - a voz da deusa era sincera e orgulhosa. - honrou seus antepassados com coragem, força e sacrifício. Não esperaria menos de você, semideusa.

 

-Quem lhe entregou isso? - perguntou o deus de forma extremamente baixa se aproximando de forma perigosa assim que a irmã concluira suas felicitações. 

 

-É tudo o que tem a me dizer? - Clarisse continuou a sustentar o olhar, sabia sobre o que ele estava perguntando, sabia também que não deveria criar quaisquer expectativas quando se tratava de seu pai, já deveria achar muito ele estar ali em corpo presente por quase toda a cerimônia, mas não deixava de se sentir incomodada.

 

-Você não merece usá-lo. - disse entre dentes, a mão tremia segurando no máximo a vontade de arrancá-lo do pescoço da garota que o encarava daquela forma petulante de sempre.

 

-Quem me entregou deve pensar ao contrário. - rebateu Clarisse com um sorrisinho que carregava um misto de sentimentos complexos demais.

 

-Ares... - Ártemis chamou-lhe a atenção de forma comedida assim que o deus ergueu a mão, sabia que ali não era o momento, muito menos o local para discutirem sobre certos assuntos.

 

Também jamais seria conivente com a violência desmedida, por mais delicado que fosse o assunto, a jovem deusa jamais deixaria que a garota já tão machucada ainda tivesse que lidar com o humor descontrolado do pai.

 

O deus da guerra levantou uma das sobrancelhas e olhou para a menor como se fosse algum tipo de piada justo ela estar lhe dando uma advertência, porém se deu por vencido, outros campistas estavam se aproximando e pelos deuses ele não suportava adolescentes, em especial o pivete filho de Poseidon com quem ainda acertaria as contas.

 

-Parabéns, garota! - forçou-se a dizer mesmo que a contragosto, a expressão menos severa que antes.

 

Clarisse já estava acostumada a ser tratada daquela forma, a maioria dos filhos de Ares passava o decorrer da vida sem sequer saber como era o rosto do pai, quiçá o seu tom de voz. Aquilo era o máximo que teria do Olimpiano, pelo menos ele não lhe dirigira qualquer piadinha infame sobre como a deusa estaria lhe favorecendo por ser mulher ou qualquer coisa do tipo.

 

Sua visão ficou turva novamente, desta vez não conseguiu mais sustentar o corpo, alguém lhe segurou antes que caísse e mesmo não tendo forças sequer para manter as pálpebras abertas, sabia que era Annabeth.

 

-Você está bem? - perguntou com um fio de voz.

 

A loira lhe segurou da melhor maneira que pôde; o cheiro de carne e sangue lhe invadindo os sentidos, teve que se esforçar para não sentir aquele aperto no peito novamente, não tinha coragem de olhar para as costas da garota. Como depois de passar por tudo aquilo Clarisse ainda lhe perguntava se "ela" estava bem?

 

-Mantenha-a nessa posição. - pediu a jovem deusa levando as duas mãos às costas da conselheira do chalé 5.

 

Annabeth confirmou com a cabeça enquanto Ártemis fechava os vários ferimentos em aberto com o sua magia de cura, Clarisse tentou conter um gemido com o processo, mas desmaiou com a dor, a deusa continuou até restar apenas algumas finas cicatrizes esbranquiçadas.

 

-Eu a levarei até a Casa Grande, uma boa noite de repouso lhe fará bem. - disse o centauro estendendo os braços na direção de Annabeth e pegando a semideusa de seus braços como se fosse uma boneca.

 

Quíron lhe sorriu de forma mínima, como fazia diversas vezes quando estava aflita, era a forma velada de lhe informar que estava tudo bem com La Rue daquele momento em diante. Chase fez um breve sinal com a cabeça, como se concordasse com aquilo, sabia que ao lado do sábio centauro a filha de Ares estaria bem e segura. 

 

-Tudo em seu devido tempo, irmão. - Ártemis tocou levemente o braço do mais alto assim que Ares pensou em contestar a decisão do diretor de atividades. - creio que sua presença no Olimpo seja mais imprescindível no momento.  

 

Se havia algo que o deus da guerra odiava era esperar e mais ainda era receber ordens disfarçadas como aquela, travou o maxilar, sua presença já não era mais necessária naquele local, porém antes de partir encontrou um par de olhos cinzentos sérios e desafiadores, como se estivesse ali pronta para enfrentá-lo caso fosse preciso. Ele ofereceu seu melhor sorriso de desprezo à filha de Athena e sustentou o olhar antes de partir.

 

Fim do capítulo