Recomeço – Capítulo 70

Fazia alguns minutos que Ricardo e Rita estavam conversando. Rogério que estava sentado um uma poltrona lendo um jornal, não conseguia entender como sua esposa era seletiva.

Fazia alguns dias que Rita havia voltado para casa. Estava sob os cuidados de uma enfermeira.

— Ahhh... meu filho, você está muito magro. Não está sendo bem cuidado.... por que não fica aqui em casa? – Rita comentou enquanto analisava o seu primogênito.

— Mamãe, eu estou bem – Ricardo respondeu ao segurar uma das mãos da senhora – A senhora está bem mesmo?

— Claro, filho, estou ao lado das pessoas que eu amo. Não poderia estar melhor – disse, demonstrando estar muito feliz por ter Ricardo consigo.

Rogério que de soslaio observava aquela cena, revirou os seus olhos. Amava Rita, mas não podia concordar com todas as atitudes dela.

— E Sófia? – Rita indagou chamando a atenção de todos para si – Vocês se amam. Precisam lutar por esse amor.

— Amor, acredito que já conversamos sobre esse assunto – Rogério resolveu se meter naquela conversa. Desde que Rita saiu da clínica, ignorava o fato de Sófia estar com Raquel e não querer mais nada com Ricardo.

O senhor até chegou a achar que era algum tipo de sequelas por conta do acidente, contudo, era desprezo mesmo pela a existência da filha mais nova.

— Mãe, não nos amamos... estou seguindo minha vida. Conhecendo outras pessoas – Ricardo disse calmo.

— Espero que não esteja se relacionando com outra Paola. Você é um homem maravilhoso meu filho. Merece uma mulher a sua altura.

Ricardo olhou brevemente para seu pai. Querendo pedir uma ajuda para sair daquela situação.

— Acho que meu filho sabe bem com quem deve ser relacionar, amor – Rogério falou calmo, enquanto se dirigia para onde a esposa estava sentada.

Rita ao escutar aquilo, estreitou o seu olhar.

— Eu sei o que é melhor para meu filho – Rita começou a ficar nervosa.

— Mãe, por favor, acalme-se – Ricardo pediu.

— Como me acalmar? Você estão me tratando com desprezo... acham que estou errada. Vocês preferiam a minha morte. Eu sei disso.

— Rita, você está se escutando? Pelo amor de Deus, como pode pensar isso de nós? – Rogério indagou.

— Mas se é verdade... vocês nunca acham que estou certa – Rita começou a fazer drama.

— Mãe... – Ricardo tentou falar, mas foi interrompido.

— Não falem nada, por favor, minha cabeça está doendo. Isso é vocês com essas provocações – Rita provocou.

— Acusações?

— Filho, saia, eu vou conversar um pouco com sua mãe – Rogério disse calmo. Percebeu que não podia mais adiar, precisava ter uma conversa séria com sua esposa.

Após Ricardo sair, Rogério se sentou na cama.

Rita olhou para ele com cara de poucos amigos.

— Precisava pedir para nosso filho sair dessa forma?

— Sim... precisamos conversar, Rita.

— O quê? – Rita não ficou contente com o tom de voz de seu marido.

— Eu não toquei nesse assunto por causa de sua saúde, mas não posso esperar mais...

— Espero que você não toque no assunto que estou pensando – começou a se irritar.

— Sim, é esse assunto mesmo. Você está sendo injusta com nossa filha – falou firme.

— Eu não sei do que está falando – Cruzou os seus braços – Eu não tenho filha.

— Você está ouvindo a barbaridade que está dizendo, Rita? Ela é nossa filha... Ela pode ter cometido os erros dela, mas isso não a faz menos filha que Ricardo... ele errou e você tá aí passando a mão na cabeça.

— Ele não errou... pare... ele não teve culpa... eu tive culpa... você teve culpa por ter trazido ela de volta. Ela está destruindo nossa família... agora está colocando você contra mim – Rita disse já toda exaltada.

— Não quero que você fique nervosa. Quero que pense... nesse tempo que você esteve no hospital, ela esteve lá... aguardou notícias... chorou... esteve presente sempre. No final, você a tratou com desprezo. Você se sente bem por saber disso? – Começou a analisar as feições de sua esposa – Será que seu coração virou uma pedra, Rita? Não sente amor de mãe por sua filha?

— Ela não é... – Rita tentou falar.

— Ela é, Rita – Rogério corrigiu – Ela é e sempre será. Nada que você faça vai mudar isso. Exatamente nada... ela vai continuar sendo sua filha... tendo seu sangue. Ou agora vai dizer que a pessoa que tem os seus olhos não é sua filha?

Rita ficou em silêncio. As palavras de seu marido começaram a pesar.

— Ela poderia estar aqui agora te fazendo companhia, mas você prefere continuar alimentando algo sem fundamento. Não queria dizer isso, mas eu desconheço essa mulher que está nessa cama. Eu não me casei com essa mulher fria.

— Rogério... – Disse surpresa.

— Bom... – levantou da cama e percebeu os olhos de sua mulher começando a marejar – Sinto dizer isso, mas mesmo te amando, Rita, eu não vou mais aturar esses seus comportamentos.

— O que quer dizer com isso? – Rita não conseguia acreditar que seu marido iria falar de separação depois de tantos anos de casamento e de tudo que construíram juntos.

— Isso mesmo que você está ouvindo. Eu vou embora se você não parar com esse seu comportamento – deu uma pausa – Já deixei você tempo demais tomando conta das situações. Dizendo o que deve ou não ser feito... viu, Ricardo se tornou um homem que coloca suas vontades acima de tudo e todos. Ele quase te matou, Rita, não consegue pensar nisso?

— Duvido você sair de nossa casa – Rita disse firme. Rogério era bom demais para fazer algo assim, deixa-la.

— Continue assim que você verá – Saiu do quarto e deixou Rita muito pensativa.

— Será que ele está dizendo a verdade? – pensou.

_*_

Era de manhã, Raquel acordou sentindo o peso do corpo de Sófia sobre o seu. Sorriu como nos outros dias por ver sua noiva assim, quase tomando conta de todo espaço da cama.

Sua felicidade ainda não estava sendo completa, pois sempre tinha que lidar com o sentimento de rejeição, mas já estava se acostumando e conformando. Sua mãe não iria mudar, tinha quase certeza disso.

— O que está pensando? – Sófia perguntou ainda sentindo dificuldade para manter os olhos abertos.

Raquel sorriu, era maravilhoso presenciar aquela cena todas as manhãs.

— No quanto é maravilhoso acordar todos os dias ao seu lado – tocou a face de Sófia com a pontas de seus dedos, fez uma leve carícia.

Sófia sorriu, aquecendo o coração de Raquel com esse ato.

— Bom... acho que não é só você que sente isso – a loira comentou – o que você vai fazer hoje, amor?

— Eu vou escolher alguns móveis que ainda faltam – Acariciou os fios loiros – Posso te pedir algo?

— Claro... o quê?

— Eu não quero ir na empresa. Não me sinto confortável. Será que você pode pegar as minhas coisas?

— Amor, aquele lugar também é seu.

— Onde não sou bem-vinda não é meu – disse calmamente, tentando esconder o quanto ficava mexida com a situação.

— Farei isso – Acomodou melhor sobre o corpo de Raquel e apoiou as mãos sobre o colchão – Precisamos passear com as crianças hoje. Nina já está começando a pegar minhas roupas – As duas riram.

— Deve estar aprendendo com Nino – As duas riram.

— Imagino que sim – As duas se olharam nos olhos de forma intensa – Eu te amo tanto.

— Eu também te amo muito – segurou a cintura de Sófia com suas mãos – mas será que não estamos atrasadas?

— Ah... – Sófia jogou o seu corpo para o outro lado do colchão e pegou o celular que estava sobre a cômoda – Quase 7 horas... muito atrasadas – as duas riram e ficaram se encarando em silêncio. Aquele olhar queria dizer tanta coisa, palavra nenhuma no mundo era capaz de definir o quanto estavam bem juntas.

Passando um pouquinho das oito horas, Sófia chegou a construtora e notou vários olhares sob si. Ela estranhou esse comportamento das pessoas, mas logo se deu conta de que todos já poderiam estar sabendo de seu relacionamento com Raquel.

— Eu sabia que isso iria acontecer – Eleonora chegou até Sófia com um caminhar apressado.

— O quê, Eleonora? – tentou fingir que não suspeitava de nada.

— Todos já estão sabendo que você está com Raquel. Logo dona Rita saberá e aqui vai se tornar um caos – disse baixo.

Sófia balançou sua cabeça negativamente algumas vezes.

— Ela já sabe.

— Sabe? – A senhora ficou surpresa.

— Sim, todos que deveriam saber estão sabendo – Entrou no elevador e Eleonora ficou parada, perplexa com a novidade. Achava que se Rita e Rogério estivessem sabendo, era para a construtora estar de cabeça para baixo.

Após chegar no andar que trabalhava, Sófia teve que escutar uma conversa desagradável.

— Aquela mulherzinha faz de tudo para subir na vida... primeiro foi Ricardo... agora Raquel... daqui a pouco tá pegando o senhor Rogério – Duas funcionárias estavam conversando no corredor.

— Espero que vocês não morram envenenadas com o próprio veneno – Sófia comunicou ao passar por aquelas mulheres.

Quando as funcionárias viram Sófia passando arregalaram os olhos, passaram a ficar com medo de serem demitidas por isso.

Não era novidade para ninguém na construtora que muitas das funcionárias tinham inveja de Sófia por ter conquistado o coração de Ricardo e receber alguns privilégios.

Depois do momento desagradável, a primeira coisa que Sófia fez foi ir para a sala de sua amiga.

— Eu não suporto essas mulheres – disse ao entrar na sala de Amanda, sem bater.

— O que houve? – Amanda indagou preocupada.

— Todos já estão sabendo do meu envolvimento com Raquel. Agora ficam inventando histórias.

— Era de se esperar, minha amiga, já falavam de você sem motivo – Amanda estava sentada em sua cadeira e mantinha suas mãos sobre a barriga. Antes de sua amiga entrar sem avisar, ela estava conversando com o bebê em sua barriga.

— Você está bem? Desculpa, eu cheguei muito nervosa... esquecido do meu afilhado ou afilhada – O sorriso de Sófia passou a ser largo.

— Estamos muito bem – olhou para sua barriga toda encantada – Só estou tendo que me acostumar com os enjoos... está sendo complicado.  Tem momentos que acho que vou enjoar até do Tiago.

— Imagino!

— Conte-me as novidades. Depois do acidente com Rita. Nunca mais conversamos sobre a gente.

— Nenhuma – Sentou em uma cadeira – Estou maravilhosamente bem com Raquel – disse toda apaixonada.

— Bom... isso não precisa nem contar, está escrito em seus olhos— riram – Ela não vai mesmo voltar para a construtora?

— Não, ela não se sente bem aqui... bom... entendo essa escolha dela... ahh... lembrei de algo – Com a confusão, Sófia havia se esquecido do que Raquel tinha lhe pedido.

— O que foi? – Amanda não entendeu o que estava acontecendo.

— Preciso pegar as coisas de Raquel na sala dela— Levantou de onde estava sentada e correu até a porta – Depois conversamos mais.

— Depois apareça para tomarmos um café juntas – Amanda gritou antes de perder sua amiga de vista.

Após sair da sala de Amanda, Sófia começou a andar de forma apressada até a sala de Raquel. Ao fazer isso, ela acabou se esbarrando em um corpo feminino.

— Desculpa, eu sou muito desastrada – Sófia se abaixou para pegar a bolsa da desconhecida que ela havia derrubado com o impacto.

— Tudo bem, acidentes acontecem – a voz feminina pronunciou de forma educada.

Sófia levantou o rosto e se deparou com uma morena muito bonita. Aquela mulher tinha uma beleza que beirava a perfeição.

Houve um momento de silêncio e troca de olhares.

A mulher morena alargou o sorriso ao notar que aquele rosto era familiar. Havia rondado muito bem o terreno, pois desejava reconquistar de volta o seu espaço.

— Eu nunca te vi por aqui antes – Sófia entregou a bolsa a sua dona. Enquanto fazia isso, ela não conseguiu desviar o seu olhar da bela morena e começou a sentir uma sensação estranha lhe invadindo. A aparição daquela mulher passou significar ameaça — Desculpe perguntar, mas qual é o seu nome?

— Paola, prazer te conhecer, Sófia – Paola estendeu a sua mão em direção a Sófia e sorriu ao notar a loira totalmente sem reação.

Fim do capítulo